Um microvestido rosa-choque que deixava entrever a calcinha parou uma universidade paulista na quinta-feira dia 22 de outubro. A excitação causada por uma estudante de turismo de 20 anos, ao subir a rampa, incendiou o campus: cerca de 700 alunos e alunas ficaram histéricos a ponto de o coordenador do curso pedir a Geise que fosse embora, com um jaleco branco cobrindo seu corpo. A PM a escoltou e usou spray de pimenta para afastar a multidão ensandecida que a xingava de “p...”, “p...”.
As imagens, gravadas por celulares dos alunos, foram parar no YouTube na quarta-feira dia 28. O vídeo provoca constrangimento pela violência e pela hipocrisia. A turba ignara de universitários é a mesma que baba ao dar chibatadas em adúlteras nos estádios em países muçulmanos fundamentalistas.
A estudante pivô das cenas dantescas, incompatíveis com uma universidade que deveria ser um centro de tolerância, se apresenta no Orkut como “Michele” ou “Loirão”. Mora com os pais, um irmão e duas irmãs em Diadema, na Grande São Paulo. Estuda à noite. Está no 1o ano. No dia do tumulto, chegou à Universidade Bandeirante, campus de São Bernardo, depois de uma hora de ônibus. O pai, supervisor de serviços, paga a faculdade: R$ 310 por mês. A mãe é dona de casa.
Dias depois do tumulto, começou a circular na faculdade um rumor forte. Segundo colegas, a estudante, nas horas vagas, trabalharia como prostituta ou atriz pornô. Seria uma das estrelas conhecida como Babalu Brasileirinha, bissexual e bilíngue, disponível 24 horas por dia. A “Michelle” do site (mesmo nome divulgado pela estudante em seu blog pessoal) tem 1,69 metro de altura, 58 quilos, 90 centímetros de busto e 96 centímetros de quadris. Ela anuncia seus serviços em siglas inglesas intraduzíveis numa revista familiar de notícias.
Acessei o site e assisti aos vídeos. Eles são hard. Os olhos, o nariz e a boca se parecem muito com os da estudante. Mas pode ser uma sósia. A história de que a estudante seria prostituta foi encampada em comentários na internet recebidos por epoca.com.br. Uma assessora da faculdade comentou comigo ao telefone que “tudo isso está parecendo uma promoção pessoal”. Se estiverem difamando Geise, ela terá sofrido um duplo ataque.
Mesmo que fosse de fato uma atriz pornô, isso não serviria de atenuante para os atos de covardia e preconceito ocorridos na Uniban. Seus colegas disseram que ela não vestia trajes apropriados para uma universidade. Hoje, é impossível definir “traje apropriado” para universitários. Na PUC – universidade católica – do Rio de Janeiro, moças andam de shortinho, microssaia, top com ou sem sutiã, rapazes desfilam de bermuda, camisa regata, sandálias havaianas. Tem muito corpo de fora nas universidades e isso nunca foi motivo para ataques de ódio.
Sabe-se que garotas de programa estão “infiltradas” em diversos estabelecimentos acima de qualquer suspeita. O que determina a explosão de intolerância? A grife do vestuário? A cor? Rosa-choque é brega? Os alunos disseram que a moça rebolava. É proibido rebolar?
Digamos que Geise fosse ousada demais. Se a loura com maquiagem de noite e unhas vermelhas chocasse seus colegas pela aparência, uma reclamação formal na diretoria pedindo discrição talvez fosse suficiente. Mesmo assim, muito estranha num país que cultua a nudez e se diz liberal.
Inaceitável foi o motim moralista que fez a faculdade parecer o presídio do Carandiru. Em catarse coletiva, centenas de jovens brandindo celulares urravam nas rampas, pulavam muros, gargalhavam, jogavam papel higiênico no pátio central. Sem a PM, Geise corria risco de ser linchada fisicamente.
Os agressores – que espalham que a estudante seria atriz pornô – devem ser os mesmos que visitam sites adultos e se valem dos serviços de prostitutas. Só não as querem jamais sentadas na carteira ao lado.
A estudante ficará traumatizada? Ou célebre e rica? Geise pode ganhar indenização, escrever um livro, posar para aPlayboy e inspirar um filme. Esta é a vida como ela é.
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