O ESTADO DE SÃO PAULO - 17/10/09
Barack Obama avança lentamente com seu projeto de reforma do sistema de saúde. Em compensação, no caso do Afeganistão, outro compromisso de campanha, ele patina. E não sabe o que fazer. Em oito meses, em vez de melhorar, a situação só piorou. Uma triste ironia : o Prêmio Nobel da Paz tropeça exatamente numa guerra, a afegã.
Prova do fracasso é o fato de que Obama não consegue convencer seus aliados a enviar mais tropas para o Afeganistão. A França, sempre tão pronta a ajudar os EUA na época de Bush, hoje se faz de surda. Por mais que Obama insista com seus amigos, eles estão com a cabeça em outro lugar. Somente a Grã-Bretanha, que se apega à relação "especial" com Washington, respondeu ao pedido. Gordon Brown prometeu enviar soldados britânicos para apoiar os 62 mil soldados americanos que estão na frente de combate. Quantos? Quinhentos.
É uma miséria e, mesmo assim, o premiê britânico hesitou muito. Em setembro, Brown tinha dito que iniciaria a retirada das tropas britânicas (9 mil homens). Contudo, Obama insistiu e ele aceitou enviar esses 500 soldados.
Obama vacila. Ele não pode pôr fim à guerra contra o Taleban porque fez dessa guerra peça-chave de suas promessas. Sabe que é ali - ou melhor, no conjunto perigoso formado por Paquistão e Afeganistão - que seu futuro está em jogo.
Mas o que ele pode fazer? Deve aumentar mais seu contingente? Como utilizar essas forças? Deve suspender os ataques de aviões não tripulados, que massacram às cegas civis inocentes no Afeganistão e, sobretudo, no Paquistão? Para um Premio Nobel, tudo isso é muito desagradável.
Nos escritórios da Casa Branca afluem pareceres de peritos, relatórios, conselhos quase sempre críticos. Em recente edição do semanário The Nation, William R. Polk, que integra o governo americano desde a época de Lyndon Johnson, suplicou a Obama que veja as coisas como são de fato. "Nossas chances de derrotar o Taleban são ínfimas. Os afegãos nos consideram da mesma maneira que consideravam os soviéticos, como estrangeiros, invasores e antimuçulmanos. Alguns segmentos da população têm saudade do tempo em que o Taleban assegurava a ordem no país. Quanto mais intensificarmos a luta, mais os atos de terrorismo se multiplicarão."
Polk se lembra da Guerra do Vietnã. Ele teme que o fracasso no Afeganistão provoque efeitos devastadores em toda a sociedade americana e lance por terra as esperanças que os EUA e o mundo depositaram em Obama.
"A guerra no Afeganistão terá um alto custo para a economia americana. Essa campanha militar poderá abortar os projetos de Obama no âmbito da política interna da mesma maneira que o Vietnã destruiu o plano da Grande Sociedade de Johnson."
Obama está numa encruzilhada. Põe fim à expedição afegã, cumpre sua promessa e demolindo toda a estrutura de sua diplomacia? Ou, ao contrário, amplia o número de soldados? Ambas as soluções são detestáveis. Podemos compreender que ele vacile, mas esse é sempre o papel de um "senhor da guerra". Ele quer ser um "senhor da paz". Será que, por isso, ele tem mais direito de vacilar?
*Gilles Lapouge é correspondente em Paris
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