Pré-sal: quem fura quer fundos
FOLHA DE SÃO PAULO - 09/08/09
LULA ESTÁ com pressa de fechar a nova Lei do Petróleo. Para evitar discussão maior. Porque pretende fazer logo licitações, a fim de que o governo fature algum das empresas vencedoras. Está apressado porque quer a campanha do pré-sal na rua. Mas a quantidade de ideias novas e mal explicadas que vaza sobre o pré-sal sugere que a definição do projeto está longe do fim.
A ideia mais recente, exposta pela ministra Dilma Rousseff ao jornal "Valor", é fazer da Agência Nacional do Petróleo furadora experimental de poços. O objetivo seria o de mapear o potencial dos campos do pré-sal. Envolvidos na discussão dizem que a exótica possibilidade surgiu como solução de disputa política, de cessão de um naco de poder à ANP.
A primeira dificuldade da ideia é técnica e gerencial. Para fazer um ou "uns quatro furos", como diz Dilma, é preciso um "operador", o gerente do furo. Isto é, alguém que contrate equipes e equipamentos de sondagem, perfuração, avaliação geofísica etc. do poço em questão.
É o que faz uma petroleira responsável pela operação de "furar poço", para si própria ou para um consórcio de empresas. Em suma: é preciso criar tal equipe de gerência ou contratar uma petroleira, uma operadora.
Criar um equipe dessas não é nada simples: significa, grosso modo, criar uma equipe técnica semelhante à de uma petroleira. Contratar uma petroleira tampouco é fácil. Como são caros e escassos as equipes técnicas e os equipamentos necessários à exploração, uma empresa vai preferir reunir tais recursos para furar poços e faturar com o petróleo, não apenas para ser paga pela empreitada do furo, que pouco rende.
O que deve acontecer é a ANP contratar a Petrobras, que a isso seria "obrigada" pelo governo. A segunda dificuldade é a quantidade de furos necessária para fazer avaliação relevante das imensas áreas do pré sal. "Uns quatro furos" pode ser a quantidade de perfurações necessárias para definir as qualidades de apenas um bloco do pré-sal. Para que as prospecções da ANP tenham alguma relevância, seria preciso fazer dezenas de furos.
Isso custa caro, mas não só. Seria, de novo, preciso dedicar dezenas de equipes e conjuntos de equipamentos escassos para apenas fazer pesquisa. A ministra estima que os furos experimentais da ANP custariam cerca de R$ 250 milhões cada. Mas os custos variam e, mesmo em casos recentes de furos no pré-sal, fala-se no valor de US$ 200 milhões (R$ 365 milhões) por furo -um deles, pelo menos, no seco, sem petróleo.
Por falar em operadoras e escassez, fazer da Petrobras a operadora única dos blocos do pré-sal também não é simples. A empresa tem equipes e meios para quantos "furos"? Esse é um argumento de empresas privadas, que se opõem à mudança do modelo. Mas não só delas.
Outro problema da presença obrigatória da Petrobras em todos os blocos do pré-sal pode advir do caso de uma empresa privada ganhar uma licitação em termos desfavoráveis, aponta outro executivo de empresa privada. Num caso limite, uma petroleira pode ganhar oferecendo uma fatia grande demais de petróleo ao governo, tornando o negócio economicamente desinteressante. A Petrobras vai ser obrigada a se associar a tal empresa? Como vai ser?
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