Um dia de 1986, aportei em Fortaleza, etapa de um périplo pelos dez principais Estados para acompanhar as eleições estaduais. A sensação da temporada chamava-se Tasso Jereissati, jovem empresário, dito "moderno", que entrara na política (no PMDB, então) para enfrentar os coronéis, essa praga "imexível" da política tapuia (e não apenas no Nordeste). Pedi para acompanhar um comício do candidato no interior. Prometeram-me uma carona. De fato, na manhã seguinte, um carro de reportagem apareceu à porta do hotel. Era da principal organização jornalística do Ceará, hegemônica no papel, no rádio e na TV. Perguntei à repórter que viera me apanhar: "Vocês são do jornal ou da campanha?" A moça não titubeou: "Dos dois". Conto essa historinha porque, no microdetalhe, ela é reveladora de porque é falsa a teoria, assumida até por gente pela qual tenho o maior respeito, de que o jornalismo perdeu capacidade de influenciar a política. Não perdeu porque nunca teve, se estamos falando da mídia impressa. Não há espaço, aqui e agora, nem para listar os motivos. Quem poderia de fato influenciar seriam rádio e TV. Mas como, se, a exemplo do que testemunhei ao vivo e a cores no Ceará, jornal, rádio, TV e comitê de campanha eram uma e a mesma coisa? Nada mudou de 1986 para cá, como dá prova a concessão de uma rádio à família do senador Renan Calheiros no município de Água Branca, interior de Alagoas. Para o eleitorado da família, a fonte de informação é a rádio da própria família, o que se repete em incontáveis casos de outros "coronéis", do Amapá ao Rio Grande do Sul. O que significa dizer que os problemas do Senado, da Câmara, da política não se esgotam naqueles prédios de Brasília. Estão no ar, em todo o país. |
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