domingo, julho 12, 2009

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Drimtims

O GLOBO - 12/07/09

Os drimtims não costumam dar certo. Times de sonho geralmente só funcionam mesmo em sonho. Um exemplo famoso disto foi o time de basquete dos Estados Unidos que disputou as primeiras Olimpíadas em que permitiram a participação de jogadores profissionais. Uma seleção dos melhores jogadores em atividade na liga de basquete profissional dos Estados Unidos era a definição de um drimtim. Acho até que foi com eles que nasceu a expressão. Na teoria, os americanos não teriam adversários nas Olimpíadas. Só deixariam de vencer todos os seus jogos com diferença de trinta pontos ou mais por distração ou piedade. E o drimtim americano não ganhou o ouro do basquete naquelas Olimpíadas. Ninguém sabe o que aconteceu. Na teoria o time era imbatível. Mas, como já se disse, teoria não pega rebote.


O Real Madrid teve mais de um drimtim na sua história. O último que formou também ficou na teoria. Não foi exatamente um fracasso, mas nunca jogou como nos sonhos da sua torcida. Porque a promessa do drimtim é a perfeição, uma superioridade tão grande que quase torna o jogo supérfluo: o time já ganha na escalação. No cara ou coroa o adversário já está perdendo de três a zero. Teoricamente, o novo drimtim do Real Madri estaria dispensado de disputar qualquer campeonato, seria proclamado campeão de tudo só pelo seu poder de compra. Com a torcida gritando, além do nome dos jogadores favoritos – “Kaká! Kaká!”, “Cristiano Ronaldo! Cristiano Ronaldo!” – “Tesoureiro! Tesoureiro!”

Por que os drimtims raramente cumprem sua promessa? Talvez porque junto com jogadores que se equivalem na qualidade os clubes também comprem egos que se parecem, e se chocam. Ou então porque a expectativa é sempre maior do que a realidade, por melhor que esta seja.


ALA ESQUERDA

O Internacional tinha um ponteiro-esquerdo excepcional, o Chinezinho. Isto na época em que existiam ponteiros. Chinezinho depois foi para o Palmeiras e acabou na Itália, onde, acho eu, vive até hoje. Mas quando ainda estava no Inter, trouxeram para jogar ao seu lado nada menos do que o meia-esquerda da seleção uruguaia campeã do mundo em 50, Julio Perez. E então nos convencemos do seguinte: teríamos a melhor ala esquerda do mundo. Uma convicção que não sobreviveu ao primeiro jogo do uruguaio. Tinham comprado o nome Julio Perez, esquecidos que a glória do homem estava longe e ele não tinha mais idade para jogar nem futebol de veteranos. Mas por um breve e cintilante momento, tivemos uma ala esquerda de sonho.

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