Nervos de aço
O GLOBO - 26/06/09
As boas notícias começam a voltar devagar ao setor siderúrgico, que tinha sido violentamente afetado pela crise. CSN e Gerdau religaram altos-fornos; o presidente da ArcelorMittal Tubarão acha que o pior passou. O setor de distribuição de aço acredita que em agosto os estoques podem estar normalizados no país. As ações das siderúrgicas subiram mais do que o Ibovespa.
Outro setor atingido em cheio foi o de máquinas e equipamentos, que, na segunda-feira, receberá seu pacote de ajuda. Eles pedem que o governo permita a devolução imediata de imposto pagos em PIS/Cofins e IPI. Hoje, a devolução é em 12 meses. De janeiro a maio, o setor teve queda de 30% no faturamento e cortou 18 mil vagas. O pior problema é que estão raras as encomendas para o ano que vem. Normalmente, elas acontecem com meses de antecedência porque certas máquinas são produzidas lentamente.
Mas quem conversa com esses dois setores, que viveram o olho do furacão na crise, ouve que a situação começa a melhorar. Numa reunião do setor siderúrgico em Nova York, a informação foi que os países ricos vão consumir menos aço por um bom tempo. A aposta é na demanda dos países emergentes.
No Brasil, houve melhora, mas não tanta que justifique a forte alta das ações. As empresas do setor estão entre as que apresentam melhor desempenho na bolsa este ano. Se o índice Ibovespa subiu 35% desde janeiro, as ações da CSN cresceram 60%; Usiminas, 51%; Gerdau, 35%. Para o presidente da ArcelorMittal Tubarão, Benjamin Baptista, isso é sinal que o mercado aposta que o pior já passou.
Uma parte da alta se deve ao fato de que essas são ações de alta liquidez, e outra, a uma boa notícia recente: os estoques de aço internacionais voltaram ao normal. Isso significa que a produção também poderá crescer.
- A normalização dos estoques no mundo é nossa melhor notícia. Ela significa que qualquer aumento de demanda será acompanhado por aumento de produção. Também quer dizer que a oferta maior de aço não terá impacto negativo sobre os preços - afirmou Baptista.
No auge da crise, em dezembro de 2008, a ociosidade do setor no mundo chegou a 50%. Baptista conta que a usina de Tubarão, em Vitória, já está operando com 87% da capacidade. Apenas o menor alto-forno está parado, para manutenção. Ele também conta que a demanda de aço do exterior, que havia sumido com a crise, agora volta a acontecer.
No Brasil, os estoques ainda estão elevados porque houve muita importação. A crise fez com que houvesse liquidação de aço mundo afora, e parte dessa produção veio parar no país. Isso justificou a alta da tarifa de importação de zero para 12% a 14%.
O presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, calcula que nossos estoques estarão normalizados no final de agosto. Mesmo assim, ele acha que as vendas internas fecharão o ano com queda entre 25% a 30% em relação a 2008:
- O pior já passou, mas ainda estamos longe de dizer que a situação é boa. Provavelmente fecharemos 2009 voltando seis anos em nível de produção. Já virou consenso o fato de que os países desenvolvidos não vão mais consumir aço como no período anterior à crise.
O presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Polo Lopes, também faz coro de que o pior já passou. Mas o momento ainda é de cautela e incertezas.
- No encontro em Nova York, havia duas visões. Uma mais pessimista, apostando em crescimento mais forte só a partir de 2011 e 2012. Outra, mais otimista, contando com melhora já a partir de 2010. Mas isso sinaliza consenso de que 2009 será ruim - disse.
O impacto direto é nos preços. O valor da bobina quente no mercado internacional, que é tido como referência, está menor hoje do que em dezembro de 2007. No auge da escalada da economia mundial, a tonelada bateu em US$1.100, em junho de 2008. Em dezembro, caiu para US$550. Agora, está em torno de US$450.
O setor de máquinas e equipamentos é o que mais sofre em épocas de incerteza. E os números não deixam mentir: o investimento caiu 14% no primeiro trimestre, e o segundo trimestre, mesmo com a melhora do PIB, não será de desempenho muito melhor que no começo do ano. O faturamento caiu 30%, e o setor teme ter que continuar demitindo.
O vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, disse que num cenário pessimista, esse número de vagas perdidas pode chegar a 50 mil. Pode ser um número só para forçar a devolução imediata dos impostos. Melhor é o segundo argumento:
- O empresário brasileiro sabe que precisa investir e que precisa renovar suas máquinas para enfrentar principalmente a concorrência dos chineses. Com isso, estamos esperançosos de que a devolução vai incentivar novas encomendas - explicou.
Por enquanto, quem ainda faz encomendas são indústrias de óleo e gás (quase tudo a Petrobras) e de alimentos, que sofreram menos com a crise. Mesmo que a medida seja anunciada, Veloso acredita que tudo o que ela vai conseguir fazer é reduzir a queda de 35% para 25% no faturamento do setor em 2009.
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