sexta-feira, junho 05, 2009

CLÓVIS ROSSI

A tortura do mistério

FOLHA DE SÃO PAULO - 05/06/09

SÃO PAULO - Se não são mesmo do Airbus da Air France os destroços até agora recolhidos, conforme as informações que a Aeronáutica divulgou no início da noite, o mundo estará diante do maior mistério da era contemporânea.
Repito, agora com mais força, o que escrevi dias atrás: é inacreditável que, após quatro dias, não haja rastro de um enorme aparelho que percorria uma rota que é a mais usada no mundo em voos intercontinentais, se excetuados voos de e para alguns países asiáticos.
Tudo o que a Aeronáutica pode dizer, agora, é que os destroços avistados são do avião, mas, como os efetivamente recolhidos não eram, contrariando a primeira versão, cabe tomar cuidado.
É verdade que o jornal espanhol "El País" descrevia ontem o fundo do mar naquela região como "Alpes subaquáticos", por suas características montanhosas. Mas era uma alusão às previsíveis dificuldades para localizar a caixa preta do avião, não o avião inteiro.
Perdão por outra repetição: na era da tecnologia, da tecnologia da informação, das comunicações, parece inacreditável que desapareçam completamente um imenso avião e todos os seus passageiros mais bagagens sem que um sinal qualquer deles venha à tona.
Para parentes e amigos das vítimas, trata-se de uma tortura inexcedível. Os passageiros não estão vivos nem mortos, mas desaparecidos, por mais que a hipótese de que haja sobreviventes se torne mais e mais remota.
Trata-se, como é óbvio, de território fértil para que prosperem as versões mais fantasiosas ou os "chutes" sobre as causas do desastre. Um tipo de avião que era tido, até domingo, como superseguro agora já está sob suspeita. Acaba sendo uma tortura também para quem tem voos programados pela rota do acidente e com equipamento igual. Mistério é tudo que não combina com voar.

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