FOLHA DE SÃO PAULO - 03/06/09
SÃO PAULO - Quando você começa a achar que não há nada mais a ser descoberto na face da Terra (fisicamente, digo), eis que um imenso Airbus fica 36 horas, pouco mais, pouco menos, completamente sumido, como se tivesse caído na ilha de "Lost".
Foi só ontem à tarde que o ministro Nelson Jobim (Defesa) informou não haver dúvidas de que os destroços localizados pertencem ao avião da Air France.
Ainda assim, eu, leigo absoluto, jamais poderia supor que a rota aérea que uso com razoável regularidade -e exatamente pela Air France, nos últimos anos- e que é das mais movimentadas do mundo pudesse ter um tipo de buraco negro ou um ponto cego em que desapareça um baita avião.
OK, dirão os especialistas, o avião afundou no mar. Mas parece coisa realmente de "Lost" ficar sabendo que nenhum sinal exterior boiou durante as primeiras 36 horas de frenética busca.
Ainda mais que vivemos já há um punhado de anos a era da tecnologia, da tecnologia da informação, das comunicações, da globalização -tudo tendente a deixar tudo muito exposto desde os primeiros momentos ou no mínimo a partir do instante em que amanheceu na área em que ontem se comprovou a existência dos destroços.
Não estou tecendo alguma teoria conspiratória envolvendo terrestres ou extraterrestres. Só estou dizendo que, pela primeira vez na vida, a ideia de voar me causa algum (pequeno) desconforto, ainda mais que tenho reserva em um voo Air France para dentro de 20 dias, praticamente na mesma rota (o voo sai de São Paulo, não do Rio).
Não adianta me contar que voar é mais seguro que andar de carro. Já sei. Já sei também que ninguém morre de véspera, a não ser o peru (assim mesmo no Natal, que não cai ainda). Meu medo não é de morrer.
É de ficar perdido, morto ou vivo, e sem poder escrever.
SÃO PAULO - Quando você começa a achar que não há nada mais a ser descoberto na face da Terra (fisicamente, digo), eis que um imenso Airbus fica 36 horas, pouco mais, pouco menos, completamente sumido, como se tivesse caído na ilha de "Lost".
Foi só ontem à tarde que o ministro Nelson Jobim (Defesa) informou não haver dúvidas de que os destroços localizados pertencem ao avião da Air France.
Ainda assim, eu, leigo absoluto, jamais poderia supor que a rota aérea que uso com razoável regularidade -e exatamente pela Air France, nos últimos anos- e que é das mais movimentadas do mundo pudesse ter um tipo de buraco negro ou um ponto cego em que desapareça um baita avião.
OK, dirão os especialistas, o avião afundou no mar. Mas parece coisa realmente de "Lost" ficar sabendo que nenhum sinal exterior boiou durante as primeiras 36 horas de frenética busca.
Ainda mais que vivemos já há um punhado de anos a era da tecnologia, da tecnologia da informação, das comunicações, da globalização -tudo tendente a deixar tudo muito exposto desde os primeiros momentos ou no mínimo a partir do instante em que amanheceu na área em que ontem se comprovou a existência dos destroços.
Não estou tecendo alguma teoria conspiratória envolvendo terrestres ou extraterrestres. Só estou dizendo que, pela primeira vez na vida, a ideia de voar me causa algum (pequeno) desconforto, ainda mais que tenho reserva em um voo Air France para dentro de 20 dias, praticamente na mesma rota (o voo sai de São Paulo, não do Rio).
Não adianta me contar que voar é mais seguro que andar de carro. Já sei. Já sei também que ninguém morre de véspera, a não ser o peru (assim mesmo no Natal, que não cai ainda). Meu medo não é de morrer.
É de ficar perdido, morto ou vivo, e sem poder escrever.
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