EDITORIAL
FOLHA DE SÃO PAULO 18/04/09
HÁ ESCÂNDALOS inusitados e ridículos, como o episódio dos dólares flagrados na roupa íntima de um assessor petista. Há os propícios à reportagem fotográfica, como o do castelo de um deputado mineiro. Há escândalos de alta complexidade e envergadura; há também os que ao contrário, são de uma simplicidade pasmosa, como a farra das passagens aéreas no Congresso.
A Petrobras se especializou, ao que parece, numa modalidade própria de escândalo, em que o descaso com o patrimônio público, o aparelhamento partidário e a desfaçatez dos envolvidos se somam a outra característica, não muito frequente no mundo da negociata e da esperteza: uma patente falta de imaginação.
Nesta quinta-feira, a Folha noticiou que a Petrobras transferiu R$ 1,4 milhão a uma ONG para que esta organizasse festas de São João em 26 municípios baianos no ano passado. A ONG é dirigida pela vice-presidente do PT da Bahia, que também acumula os cargos de dirigente da CUT e assessora do líder da bancada petista na Assembleia Legislativa do Estado.
Esse caso de patrocínio "companheiro" reproduz sem alterações um escândalo que veio à tona em 2006. Naquele ano, noticiou-se que a Petrobras contratara, sem licitação, uma ONG encarregada de fazer serviços de treinamento de mão-de-obra. Da ONG participavam empresas que doaram R$ 2,5 milhões a políticos do PT, então em campanha eleitoral.
Mais que isso, a Petrobras destinou, naquela época, R$ 31 milhões para organizações não-governamentais que apoiavam a candidatura de Lula à reeleição.
Confrontado com aquelas revelações, o presidente da estatal,José Sérgio Gabrielli, investiu de modo destemperado contra a imprensa, acusando-a da prática de "jornalismo marrom".
O mesmo termo volta a ser empregado por Gabrielli, ao ser flagrado em reincidência. Num tom menos exaltado -a prática da vida pública tende a limar as arestas de personalidade dos administradores brasileiros-, o presidente da estatal saiu-se com o mesmo refrão.
"Peço desculpas porque posso soar agressivo", declarou, antes de considerar as reportagens "típicas do que antigamente se chamava de jornalismo marrom".
Seriam fruto, diz, de uma visão e de um comportamento jornalístico "que não condizem com o histórico da Folha".
Digamos que condizem, sim -pelo menos quando se consultam os arquivos de 2006, dando conta do uso desavergonhado de verbas da Petrobras na sustentação de ONGs vinculadas ao PT.
De "não-governamentais", entidades desse tipo só têm, na prática, o nome; aparelhadas pela militância petista, sobrevivem de patrocínios, supostamente destinados, por exemplo, a promover valores e tradições da cultura nacional. Festas juninas, com certeza. Apadrinhamento, paroquialismo, abuso de poder e negociatas, mais ainda.
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