quinta-feira, abril 09, 2009

ELIANE CANTANHÊDE

Jatos e jatinhos

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/04/09

DUBAI - O Brasil tem cerca de 190 milhões de habitantes, um litoral extraordinário, a Amazônia, o Pantanal, rios, cachoeiras, montanhas e um clima invejável o ano inteiro. Mas só atraiu 5 milhões de turistas estrangeiros em 2008.
Já o pequeno, e em certa medida "fake", Dubai, com 1,4 milhão de habitantes, recebeu 10 milhões de turistas de todas as regiões do mundo no ano passado e, com eles, dólares e euros. Teve até de importar mão-de-obra especializada, inclusive competentes jovens brasileiros.
O que Dubai tem que o Brasil não tem? Essa é fácil. Tem decisão política, infraestrutura, planejamento. E não tem sujeira nem violência. O fato de ser uma faixa habitada entre os encantos do deserto e o mar muito azul, com calor todo o ano, ajuda, claro. Mas não chega a ser realmente decisivo. Mais do que as condições naturais, em que jamais poderia competir com o Brasil, pesam as decisões governamentais que tanto faltam no nosso país.
De um lado, o xeque Mohammed al Maktoum preserva a identidade e os direitos básicos dos cidadãos; de outro, investe tudo no turismo e corta impostos. Para começo de conversa, Dubai tem a sua própria companhia aérea, a Emirates, privada, com rotas para todos os continentes. Depois, ele atraiu com terrenos e incentivos as grandes redes hoteleiras do mundo, e os hotéis são fantásticos, para todos os gostos e bolsos. O marketing é a alma do negócio. E do país.
O petróleo, hoje, só responde por 3% a 5% do PIB, contra 20% do turismo. O xeque pode ser o símbolo do passado, com seu regime, seus trajes e suas manias, mas é bem mais moderno do que os políticos brasileiros, em muitos sentidos. No Brasil, os políticos querem jatinhos só para eles próprios voarem por aí.
Em Dubai, o xeque tem lá os seus jatos, mas garante as condições para que os jatos privados (como os recursos, públicos ou não) levem turistas, desenvolvimento e bem-estar para a população. Resultado: não se vê um pobre na rua.

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