Autossuficiente da Silva
Estado de São Paulo 11/01/09
O desapreço do presidente Luiz Inácio da Silva pela leitura já estava devidamente registrado na galeria dos chefes da nação brasileira desde a comparação do ato de ler ao esforço de uma caminhada em esteira mecânica, ressaltado o caráter desconfortável da atividade física e, por consequência, do exercício mental.
Corria o mês de abril de 2004 quando o presidente abriu mais uma edição da Bienal Internacional do Livro, em São Paulo, a tese:
“A leitura, para a criança, é o mesmo que uma esteira para uma pessoa da nossa idade. Muita gente até coloca uma esteira no quarto, muitas vezes até coloca na beira da cama, pensando: amanhã vou levantar e vou começar a andar na esteira. Mas todo dia se levanta com uma preguiça desgramada e vai ficando para o dia seguinte. Isso é como o livro para uma criança que não adquiriu no tempo certo o gosto pela leitura.”
Na edição em bancas da revista Piauí, Lula discorre sobre sua particular ojeriza por notícias. Revela ao jornalista Mário Sérgio Conti algo mais que uma “preguiça desgramada” de ler.
Demonstra aversão ao contato com qualquer tipo de crítica. Elas lhe fazem mal ao estômago, acentuam seu “problema de azia”. Daí o caráter profilático da distância ainda maior que mantém entre sua pessoa e escritos em geral nos fins de semana.
Não apenas adota a receita, como a recomenda “a qualquer presidente”. Afastem-se da imprensa e aproveitem o ensejo para ficar longe dos políticos também, aconselha.
A menos que se precise de um ou de outros para divulgar suas palavras e corroborar seus atos. Na versão integral da reportagem/entrevista da Piauí, Lula se diz surpreso com o fato de seu ex-ministro José Dirceu ter aceitado a companhia de uma profissional de imprensa - da mesma revista - durante uma semana.
Na visão dele, Dirceu se “desnudou” diante da jornalista de forma absolutamente imprudente. O que o presidente da República não tenha notado talvez é que se exibiu igualmente desnudo para Conti. Que transmitiu aos leitores algo até então escondido sob o manto da autossuficiência.
O presidente Luiz Inácio da Silva não tem opinião própria. Não forma juízo a partir do cotejo entre informações, diferentes interpretações dos fatos, óticas diversificadas, lógicas variadas.
O presidente Luiz Inácio da Silva disse à imprensa que só sabe o que lhe dizem. “Um homem que conversa com o tanto de pessoas que eu converso por dia deve ter uns 30 jornais na cabeça todo santo dia”, diz ele.
Diria bem melhor, de forma gramaticalmente mais compreensível no português pátrio (não culto, elaborado, elitizado, apenas o idioma pátrio, usado na linguagem acessível do noticiário), se não fizesse como as crianças que por alguma circunstância não adquiriram o gosto pela leitura desde cedo e depois, na idade adulta, tomaram horror a esteiras.
Lendo, escreve-se, fala-se e se pensa melhor. Mais não seja por reflexo, treino.
Mas o presidente, referido na oralidade, prefere que lhe digam resumidamente o que vai pelo Brasil e o mundo. Escolhe terceirizar sua capacidade de percepção e análise, deixar na mão dos outros aquilo que certamente, com sua celebrada sagacidade e intuição, faria com muito mais eficácia. Tirando disso prazer e proveito inenarráveis.
Só experimentado por quem de vez em quando fecha a boca, apura os ouvidos, aguça a visão e, de posse da inteireza de suas aptidões, traça paralelos entre o que pensa o “outro” - entidade essencial no exercício da convivência e no combate aos excessos da autossuficiência, do isolamento - e chega às próprias conclusões.
Não é o caminho mais curto, mas é a maneira mais segura de ao menos se manter alguma coerência na vida, bem como algum compromisso com a palavra dita.
Natureza
Corria o mês de abril de 2004 quando o presidente abriu mais uma edição da Bienal Internacional do Livro, em São Paulo, a tese:
“A leitura, para a criança, é o mesmo que uma esteira para uma pessoa da nossa idade. Muita gente até coloca uma esteira no quarto, muitas vezes até coloca na beira da cama, pensando: amanhã vou levantar e vou começar a andar na esteira. Mas todo dia se levanta com uma preguiça desgramada e vai ficando para o dia seguinte. Isso é como o livro para uma criança que não adquiriu no tempo certo o gosto pela leitura.”
Na edição em bancas da revista Piauí, Lula discorre sobre sua particular ojeriza por notícias. Revela ao jornalista Mário Sérgio Conti algo mais que uma “preguiça desgramada” de ler.
Demonstra aversão ao contato com qualquer tipo de crítica. Elas lhe fazem mal ao estômago, acentuam seu “problema de azia”. Daí o caráter profilático da distância ainda maior que mantém entre sua pessoa e escritos em geral nos fins de semana.
Não apenas adota a receita, como a recomenda “a qualquer presidente”. Afastem-se da imprensa e aproveitem o ensejo para ficar longe dos políticos também, aconselha.
A menos que se precise de um ou de outros para divulgar suas palavras e corroborar seus atos. Na versão integral da reportagem/entrevista da Piauí, Lula se diz surpreso com o fato de seu ex-ministro José Dirceu ter aceitado a companhia de uma profissional de imprensa - da mesma revista - durante uma semana.
Na visão dele, Dirceu se “desnudou” diante da jornalista de forma absolutamente imprudente. O que o presidente da República não tenha notado talvez é que se exibiu igualmente desnudo para Conti. Que transmitiu aos leitores algo até então escondido sob o manto da autossuficiência.
O presidente Luiz Inácio da Silva não tem opinião própria. Não forma juízo a partir do cotejo entre informações, diferentes interpretações dos fatos, óticas diversificadas, lógicas variadas.
O presidente Luiz Inácio da Silva disse à imprensa que só sabe o que lhe dizem. “Um homem que conversa com o tanto de pessoas que eu converso por dia deve ter uns 30 jornais na cabeça todo santo dia”, diz ele.
Diria bem melhor, de forma gramaticalmente mais compreensível no português pátrio (não culto, elaborado, elitizado, apenas o idioma pátrio, usado na linguagem acessível do noticiário), se não fizesse como as crianças que por alguma circunstância não adquiriram o gosto pela leitura desde cedo e depois, na idade adulta, tomaram horror a esteiras.
Lendo, escreve-se, fala-se e se pensa melhor. Mais não seja por reflexo, treino.
Mas o presidente, referido na oralidade, prefere que lhe digam resumidamente o que vai pelo Brasil e o mundo. Escolhe terceirizar sua capacidade de percepção e análise, deixar na mão dos outros aquilo que certamente, com sua celebrada sagacidade e intuição, faria com muito mais eficácia. Tirando disso prazer e proveito inenarráveis.
Só experimentado por quem de vez em quando fecha a boca, apura os ouvidos, aguça a visão e, de posse da inteireza de suas aptidões, traça paralelos entre o que pensa o “outro” - entidade essencial no exercício da convivência e no combate aos excessos da autossuficiência, do isolamento - e chega às próprias conclusões.
Não é o caminho mais curto, mas é a maneira mais segura de ao menos se manter alguma coerência na vida, bem como algum compromisso com a palavra dita.
Natureza
Resumo da ópera governo-PMDB nas preliminares das eleições para as presidências da Câmara e do Senado, sob a ótica de um político governista que já foi ministro: “O Palácio do Planalto fica imobilizado, no aguardo de que 2010 o PMDB faça diferente de 2008 e se alie preferencialmente ao PT. Alimenta o crocodilo na esperança de ser devorado por último.”
Fora de foco
Noves fora, da manifestação do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, qualificando como “terrorismo de Estado” os ataques de Israel em Gaza, sobra apenas o ridículo da cena.
Se a posição brasileira não influi na organização da ordem geral daquele drama milenar, a declaração de um auxiliar presidencial, em faixa paralela à política do Itamaraty, tampouco contribui para o Brasil se postar da maneira adequada a um país que é líder regional e abriga em boa convivência imensas comunidades de ascendência árabes e judaica.
Constatação óbvia e por isso mais eloquente a inconveniência.
Fora de foco
Noves fora, da manifestação do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, qualificando como “terrorismo de Estado” os ataques de Israel em Gaza, sobra apenas o ridículo da cena.
Se a posição brasileira não influi na organização da ordem geral daquele drama milenar, a declaração de um auxiliar presidencial, em faixa paralela à política do Itamaraty, tampouco contribui para o Brasil se postar da maneira adequada a um país que é líder regional e abriga em boa convivência imensas comunidades de ascendência árabes e judaica.
Constatação óbvia e por isso mais eloquente a inconveniência.
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