REVISTA VEJA
O ano da parábola
"É assim que eu resumiria 2008: o ano parabólico.
Ou mais simplesmente: o ano de Galileu. Na primeira
metade, a gente subiu, subiu, subiu. Na segunda
metade, desceu, desceu, desceu"
Qual é o peso de Lula? É para realizar um teste. O mesmo teste que Galileu realizou com uma bola de bronze do tamanho de uma castanha. O teste de Galileu é de 1608. Quatrocentos anos depois, nos últimos momentos de 2008, sugiro reproduzi-lo em sua homenagem. Com Lula no lugar da bola de bronze.
O teste de Galileu permitiu-lhe estudar a trajetória dos projéteis. Uma bola de bronze corria por uma prancha inclinada, dotada de uma canaleta, posicionada na borda de uma mesa. Dependendo do ângulo de inclinação da prancha, a bola de bronze atingia uma determinada velocidade e era projetada mais perto ou mais longe, até se chocar contra o solo. Dessa maneira, Galileu demonstrou que a trajetória dos projéteis, ao contrário do que se dizia desde os tempos de Aristóteles, fazia uma parábola no ar, como ele ilustrou no seguinte desenho:
É assim que eu resumiria 2008: o ano parabólico. Ou mais simplesmente: o ano de Galileu. Na primeira metade, a gente subiu, subiu, subiu. Na segunda metade, desceu, desceu, desceu. Há 400 anos, no laboratório de Pádua, Galileu analisou o arco percorrido pela bola de bronze, que ascendia até tocar seu vértice e, a partir daí, empreendia uma trajetória descendente, estatelando-se no solo. Foi o que aconteceu em 2008, no Brasil e lá fora.
Para nós, a data mais marcante do ano foi 3 de julho. Nesse dia, a saca de soja, o litro de etanol e o barril de petróleo tocaram o topo da parábola, sendo negociados com seus valores máximos. Depois disso, eles só despencaram, indicando o que iria ocorrer na segunda metade do ano, com o completo esfarelamento da economia internacional. Alguém pode argumentar que o Brasil é muito mais do que suas sacas de soja. Eu pergunto: é mesmo? A saca de soja é o principal símbolo de nosso papel no mundo, como produtores de matérias-primas. É o que compartilhamos com os outros países, mais ou menos como aqueles 95% de DNA que os seres humanos compartilham com os chimpanzés. O Brasil é o chimpanzé do comércio mundial.
Se 2008 é o ano da parábola, a melhor maneira de festejá-lo é refazer o teste de Galileu.
1) Construir uma rampa de 30 metros de comprimento.
2) Erguê-la a 10 metros de altura.
3) Soltar Lula do alto da rampa.
4) Vê-lo rolar cada vez mais rápido.
5) Analisar a trajetória de sua queda, depois de ter sido arremessado da rampa.
6) Medir a distância percorrida no ar até o ponto de seu impacto no solo.
O fato de realizar o teste com Lula no lugar da bola de bronze tem um propósito: ele representa 95% do DNA nacional. E representa-os mais do que nunca, tendo batido, neste ano, todos os recordes de popularidade. Ou jogamos Lula do alto da rampa, ou jogamos uma saca de soja. Lula é melhor. Em particular, para aquela parte final do teste, quando a bola de bronze desce, desce, desce, até se chocar contra o solo.
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