por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa -
Publicado no blog do Noblat
18.1.2008
MEDO DE IDÉIAS
Mr. Unger viajou para a Amazônia. Foi falar sobre suas idéias para aquela região. Ministro do Futuro, começou com uma obra que Julio César aprovaria: aquedutos que transportarão água para o Nordeste. César também aprovaria a aculturação dos índios: Mr. Unger quer vê-los bilíngües. Não explicou qual a segunda língua que tem em mente: espanhol, para facilitar a vida dos vizinhos? Inglês, para facilitar a vida do próprio Mr. Unger? São várias as sugestões desse filósofo que nos caiu de pára-quedas, desse novo Visconde de Sabugosa.
O que, porém, mais me interessou em sua explanação foi quando disse que o brasileiro precisa perder medo das idéias.
Desculpe corrigi-lo, Mr. Unger. Medo é pouco. Andamos é com pavor das idéias que nos são lançadas de quando em quando. O senhor, morando em Cambridge, Massachussets, talvez não tivesse sentido na pele todo o fragor dessas idéias.
Vamos lá, aleatoriamente, sem ordem alguma, uns poucos exemplos de idéias novas e salvadoras: Plano Verão, Plano Cruzado, Plano Collor, vários cortes de zeros em nossa pobre moeda, mudança da Capital Federal, Transamazônica, Ferrovia Norte-Sul, Estado da Guanabara, fusão do Estado da Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro, criação de novos estados com 3 senadores cada, suplentes de senadores, CPMF para salvar a Saúde Pública... São muitas mais, Mr. Unger, mas não estou nem com paciência, nem com vontade, de me lembrar com detalhes de tudo pelo que já passamos.
E o senhor vem nos falar que precisamos aprender a aceitar novas idéias? Por exemplo: a transposição do rio São Francisco. O senhor assinaria um documento atestando que essa idéia de seu colega Geddel é a melhor idéia para resolver o secular problema da seca no Nordeste? Ou melhor, o senhor garante aos seus filhos, olhando-os nos olhos, que essa é a única solução?
Outra idéia que foi lançada ao ar para ver se cola: a “Casa do Trabalhador”, instituição governamental que se instalaria em cidades onde há grande número de emigrados brasileiros. Seria um local de acolhimento, para que se reunissem, ouvissem um sambinha, comessem uma boa feijoada, matassem a saudade da terrinha. Não é propriamente uma idéia nova. Os portugueses e italianos construíram e mantiveram aqui casas do gênero, para que os imigrantes dessas nacionalidades gozassem da companhia uns dos outros. Mas detalhe interessante: o dinheiro que as construiu e manteve não saiu de seus governos, nem do nosso. Mas seu colega, ‘seu’ Lupi, teve uma idéia melhor: a Viúva paga tudo.
Há idéias ainda mais extravagantes: o número de ministérios que ‘seu Lula’ criou. Aí dou a mão à palmatória: em matéria de criatividade, haja nomes engraçados. A começar pelo seu, Mr. Unger, se me permite, e passando pelo tal que existe para aprovar as ações de outro. Tem um ministério para os Direitos Humanos e outro para as Mulheres. Francamente, Mr.Unger, chegar aos 70 anos para descobrir que Mulher não é Humana, doeu...
E nossa política exterior? Não está uma maravilha? Cada idéia melhor que a outra. Todas novinhas em folha, cada uma resultando melhor que a anterior. Cada vez que enviam o assessor especial para a América Latina visitar um vizinho, meu coração bate mais forte. Cada viagem, uma lambada.
Não, Mr. Unger, xingue-nos de tudo que quiser, só não diga que temos que perder o medo de idéias novas. Absolutamente errado. Temos é que cultivar pavor dessa praga: idéias saídas das cacholas dos nossos políticos.
Do seu Ministério, Mr. Unger, o que se espera é que ele se dedique à Educação. Sei que há um ministério para isso, assim como outro para a Cultura. Sei disso. Mas o que precisamos, Mr. Unger, é de Educação e Cultura em seu sentido primeiro: INSTRUÇÃO. É de alguém com sua bagagem cultural e sua visão de futuro que bata na seguinte tecla dia e noite: creches e escolas fundamentais, aos montes, uma em cada aldeia, em cada vila, em cada bairro, por esse país a fora.
Mr. Unger, acredite, essa é a idéia mais revolucionária que o senhor, homem do futuro, pode pregar em nosso país.
Por tudo que lhe é mais sagrado, abandone idéias estrambóticas. Comunique ao Presidente Lula que seu Ministério do Futuro só pensa em uma coisa: escolas para nossas crianças. O futuro, Mr. Unger, depende sim de uma idéia do passado. Não é propriamente dos aquedutos romanos. Mas de creches para cuidar e guardar nossas criancinhas e de salas de aula para os maiores, onde se pratique a leitura em voz alta, a cópia, o ditado e a redação. Nada mais moderno no Brasil, Mr. Unger. After all, in God we trust!
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