sexta-feira, outubro 10, 2014

Dilma se estarrece com divulgação de depoimentos! E quanto ao conteúdo? - JOSIAS DE SOUZA

JOSIAS DE SOUZA AQUI

Dilma Rousseff considerou “estarrecedora” a divulgação dos depoimentos prestados à Justiça por Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef. Achou estranho sobretudo porque o país está “no meio da campanha eleitoral”. Chamou de “golpe“. Espantosa época a nossa. Dois delatores revelam que a Petrobras tornou-se uma espécie de caverna de Ali-Babá. E a presidente da República se estarrece com a divulgação, não com o teor do que foi divulgado. É como se o inaceitável tivesse adquirido uma doce, persuasiva, admirável naturalidade.

“Sei que essas informações estão ainda sob sigilo”, disse Dilma. Erro. O que corre em segredo são os acordos de delação que resultaram em acusações contra a nata da política nacional. Os depoimentos que estarreceram a presidente foram tomados em processo aberto. No início de cada oitiva, o juiz Sérgio Moro teve o cuidado de pedir aos depoentes que se abstivessem de mencionar os nomes de autoridades e congressistas detentores de prerrogativa de foro. “Isso vai vir a público no momento adequado, segundo as decisões do Supremo Tribunal Federal”, esclareceu o magistrado.

“Eu pedi essas informações”, recordou Dilma. “Então, eu acho muito estranho e estarrecedor que no meio da campanha eleitoral façam esse tipo de divulgação.'' Novo equívoco. O que Dilma requereu à Procuradoria e ao STF foram os depoimentos prestados em segredo por Paulo Roberto Costa. Não obteve cópia porque a lei que regula as delações premiadas proíbe. O acesso foi negado também à CPI e à própria Petrobras.

Para Dilma, “é muito importante que a gente não deixe uma coisa [a investigação dos petroroubos] se misturar com a outra [a campanha eleitoral]. Que não se use isso de forma leviana em momentos eleitorais, porque nós não temos acesso a todas as informações.'' Hummmm!

Dias atrás, a Polícia Federal adiou um depoimento de Lula sobre acusações feitas por Marcos Valério para não interferir na campanha eleitoral. Decerto a presidente não deseja que o Judiciário entre em recesso branco por conta da eleição. Resta lamentar que ela, ao admitir-se desinformada, acabe repetindo, com outras palavras, o bordão do “eu não sabia.” Se há alguém que deveria saber o que se passa na Petrobras, essa pessoa é a inquilina do Planalto.

Em seu depoimento, Paulo Roberto disse que há corrupção também na Transpetro, subsidiária naval da Petrobras. Declarou ter recebido R$ 500 mil em verbas sujas das mãos do próprio presidente da companhia, o ex-senador Sérgio Machado, afilhado político de um senador notório: Renan Calheiros. Dilma foi instada a comentar.

“Nós vamos investigar todas as pessoas”, disse ela. “Porque tem uma premissa nisso tudo: em toda campanha eleitoral há denúncias, que não se comprovam e assim que acaba a eleição ninguém se responsabiliza por ela. Não se pode cometer injustiças.” Beleza. E daí?

“O que estamos fazendo é conversar com o servidor da Petrobras [Sergio Machado]. Quem está fazendo isso é ministro Edison Lobão [apadrinhado pelo companheiro José Sarney], no sentido de esclarecer o que há e o que não há. Ninguém pode em sã consciência acabar com o direito de defesa.''

Para quem diz ter “tolerância zero com a corrupção”, Dilma revela-se bastante tolerante no caso do afilhado de Renan, um senador que é autor de patrióticas nomeações. Sérgio Machado está na Transpetro desde o início do primeiro reinado de Lula. Afora a menção desonrosa do delator Paulo Roberto, tornou-se personagem de uma ação por improbidade que o Ministério Público Federal acaba de ajuizar. Machado diz ser honesto. A Constituição lhe concede o direito à dúvida. Mas Dilma já dispõe de elementos para, no mínimo, afastá-lo temporariamente até que os pratos fiquem limpos.

Os delatores informaram à Justiça que, além do PP e do PMDB, quem mais morde propinas na Petrobras é o PT. Mencionaram como operador da legenda o diretor Financeiro João Vaccari Neto. E Dilma: “Se o PT errou, enquanto pessoas do partido erraram, elas têm de ser punidas. Se alguém errou tem que pagar.'' Cômodo, muito cômodo. Mas o contribuinte agradeceria se a presidente tivesse livrado as diretorias da Petrobras das indicações partidárias, inclusive petistas.

O diabo é que Dilma parece considerar natural o que é inaceitável. No mês passado, em sabatina do IG e da Rede TV!, ela deixou claro que não cogita alterar o modelo de preenchimento dos cargos de direção nas estatais. Declarou que continuaria “mantendo o critério para escolher os melhores para o meu governo''. Afirmou que Paulo Roberto Costa era servidor de carreira da Petrobras. Lorota. Virou outra coisa no instante em que ficou devendo sua nomeação à turma do PP.

Desgraçadamente, o governo sempre tratou a ocupação política das estatais com hedionda normalidade. Recorde-se, por oportuno, uma entrevista concedida ao programa Roda Viva, em fevereiro de 2012, pelo então presidente da Petrobras, o petista José Sérgio Gabrielli. A certa altura, Cláudio Weber Abramo, da Transparência Brasil, questionou-o sobre o fenômeno da “ingerência política”.

Abramo recordou que PT controlava quatro diretorias da Petrobras, o PMDB mandava em uma e o PP desmandava em outra. Lembrou também que, na subsidiária BR Distribuidora, até Fernando Collor havia enfiado um apadrinhado em posto de direção.

Vale a pena ouvir a resposta de Gabrielli: “…Uma empresa dessa complexidade, com o tamanho da Petrobras, com o sucesso que a Petrobras tem, não pode ser gerida não profissionalmente. E o que é uma empresa gerida profissionalmente? Ela tem processos que são definidos regularmente para as decisões. Não há decisões individuais na Petrobras.”

Gabrielli prosseguiu: “Todas as decisões passam por comitês, todas as decisões passam por processos, há regras definidas, critérios definidos para as decisões, há mecanismos de avaliação e cheque de diferentes áreas para analizar cada projeto, cada projeto passa por dezenas de disciplinas…”. Cotejadas com os depoimentos prestados pelos delatores da Lava Jato, as declarações do ex-mandachuva da Petrobras soam como piada. Regras! Ora, que regras?

O senhor nega que existem diretores indicados por partidos na Petrobras?, perguntou-se a Gabrielli. “Não, não nego”, ele respondeu. “Mas não é esse o problema.” Heimmm?!? “Eles têm a obrigação de seguir os procedimentos. Existe disciplina na Petrobras!”

Gabrielli ouviu uma pergunta óbvia: se é assim, por que os políticos querem as diretorias da Petrobras? E ele: “Nós estamos numa democracia, meus senhores e minhas senhoras. Numa democracia em que os partidos são legítimos, em que os partidos representam o interesse do povo brasileiro. Ou vocês querem negar o direito dos partidos?”

Democracia partidária na Petrobras? “Vocês querem negar o direito dos partidos. A democracia exige partidos. Muito mais importante ter partidos do que não ter, do que ter uma ditadura.” Alguém lembrou a Gabrielli que ele presidia uma estatal de capital aberto, com ações na Bolsa. Outro entrevistador repetiu que havia gente indicada por Collor na companhia.

“O senhor Collor de Mello é senador eleito”, justificou-se Gabrielli. “Eu discordo da política dele, mas esse é outro problema. Ele é legitimamente eleito.” Sobreveio uma derradeira pergunta: Qual é o interesse dos partidos na Petrobras?

Gabrielli soou assim: “Os partidos participam da gestão do Estado. Isso é parte da prática democrática. Isso é parte da democracia. Os partidos são legítimos. Nós podemos discordar. Eu discordo. Você sabe que eu sou um homem de partido. Eu discordo de alguns partidos, mas é legitima a existência dos partidos. Querer que não existam partidos é autoritarismo. Pode ser um déspota esclarecido, mas é um déspota.”

Nomeado sob Lula, Gabrielli só foi substituído por Dilma em 2012, segundo ano de sua gestão. Foi substituído por Graça Foster sob elogios pelos serviços prestados. Agora responda rápido: um governo que mantém no comando da maior estatal do país um personagem com raciocínio tão precário pode reclamar do seu destino?

- Serviço: a entrevista de Gabrielli ao Roda Viva está disponível aqui. O pedaço referente à ocupação política da Petrobras começa aos 21m45s.

Era uma vez o Brasil - CARLOS EDUARDO SOARES GONÇALVES

VALOR ECONÔMICO - 10/10


Era uma vez um país que finalmente dava continuidade a certo conjunto de políticas macroeconômicas de qualidade e ensaiava os primeiros passos numa agenda mais profunda de incremento da produtividade dos setores privado e público. Esse país, terra da deleitável jabuticaba, 20 anos atrás: controlou a grande inflação com um sistema de taxas fixas de câmbio que tem lá seus problemas, mas é implacável caçador de inflações altas e resistentes; abriu-se para o comércio exterior numa velocidade estonteante (o que não é ideal, mas tenta fazer essas coisas aos poucos para ver se você consegue); privatizou suas ineficientes empresas públicas sugadoras de escassos recursos orçamentários. Começava a normalização do ambiente econômico.

Esse mesmo país, depois de uma crise internacional de amplas proporções nos fins dos anos 1990, que foi sofrida mas forçou mudanças necessárias e para melhor, sofisticou ainda mais seu arcabouço econômico: passou a permitir a livre flutuação da moeda e adotou rigor nas contas públicas e na condução da política monetária, respectivamente, criando a Lei de Responsabilidade Fiscal e copiando o bem-sucedido sistema de metas de inflação, que já havia sido implementado algures. Esse país, enfim, depois dos solavancos da virada do século, parecia pronto para a segunda etapa da agenda do desenvolvimento sustentado - uma agenda de natureza mais microeconômica e institucional. Mesmo com alterações na política. Mudou o comandante, saiu o sociólogo e entrou o companheiro, mas o companheiro sentado finalmente na cadeira mais alta, para surpresa de muitos e felicidade geral da nação, manteve o timão na direção correta. Um sabor de esquerda europeia no ar. Mas, passado o seu tempo, o companheiro tinha que dar a vaga para outra pessoa e aí, de repente, a criatura do próprio companheiro, democraticamente alçada ao posto de comandante-em-chefe, resolveu - como compreender isso? - jogar tudo por terra, dar fragorosos passos atrás, retroceder a décadas remotíssimas, nas quais o andar da carruagem se pautava pela lógica de uma desabrida marcha forçada - e fracassada. Nem o companheiro entendeu, creio eu, mas já era tarde. Era uma vez o Brasil.

Em 2009 houve uma imponente crise vinda lá de fora, dos países centrais, e houve, conseguintemente, uma reação dos líderes nacionais, ávidos por acionar as alavancas à disposição, de modo a conter os efeitos nocivos da irresponsabilidade dos ricos estrangeiros. Era preciso transformar uma tsunami vinda do Norte em marolinha dos calmos mares do Sul. E reduzir juros, superávit primário e aumentar o crédito público, ali, naquele momento, deu certo, até porque o terreno estava melhor preparado para isso, abundante em reservas internacionais, aplainado de dívidas grandes e de tenebrosa indexação. Foi um sucesso, efetivamente. Palmas!

Mas, ó humanos incorrigíveis, o sucesso acendeu a fagulha da húbris, e os deuses começaram a ficar insatisfeitos. Aconselhamentos foram ventilados por gente de bem: era preciso refrear aquele impulso tremendo nas políticas fiscal, monetária e para-fiscal. Aquilo geraria inflação e má alocação de capital entre os setores da economia. Esses apelos ao razoável, porém, encontraram ouvidos moucos, de mercador, de mercadores de eleições mais precisamente. Dionísio, em algum lugar aqui na Terra, mastigava jabuticabas e incitava a farra a continuar: o país empanturrava-se em gastos altos e juros baixos e crédito farto e subsidiado. A turma no poder queria - como é natural, reconheçamos sem hipocrisias - seguir no poder, e para isso era preciso meter o pé na tábua. Mas, claro, quem acelera demais uma hora tem que frear. Fosse só isso...

O problema é que a coisa não ficou só no expansionismo eleitoral. Fosse assim, a natural e típica reversão à sensatez no pós-pleito conteria os danos sobre a economia, a afobação em incentivar a demanda refluiria, as coisas voltariam gradativamente aos eixos. E no primeiro semestre de 2011 parecia efetivamente que essa era a rota. Mas não, tratava-se de ajuste passageiro e a contragosto, pois a nova líder, uma senhora de português faltoso, tinha efetivamente outra visão de mundo, uma visão trópico-jabuticabal sobre o funcionamento da economia, um conjunto de ideias compartilhadas por um número ínfimo de arautos num mundo de não sei quantos milhões de economistas. Então, desde o segundo semestre de 2011, o exotismo na política econômica floresceu com vigor inaudito, como se, a exemplo da jabuticaba, houvesse uma política econômica válida apenas para o "do Oiapoque ao Chuí" presente, ainda que tenha experimentado comprovado fracasso alhures e aqui mesmo em outros tempos.

Consistia nisso, tentando resumir: reduzir forçosamente a taxa de juros para ver no que daria, uma promessa de campanha (que esquecia, claro, da feliz existência de uma relação entre juros na canetada baixos e inflação elevada); aumentar gastos e cortar impostos, atitudes que, em conjunto, desafiam as leis mais elementares da aritmética fiscal (por favor, não tentem reproduzir esse tipo de experimento na sua casa, pode ser muito perigoso); intervir pesadamente na taxa de câmbio sem critério bem definido, sendo uma hora para incentivar a indústria nacional (que, curiosamente, não se sentiu nada incentivada, a julgar pelos dados), outra hora para controlar a inflação galopante; fechar a economia ao comércio internacional e solapar sua eficiência com medidas como a tal "necessidade de conteúdo nacional", que premia a incompetência e onera os competentes; erigir um faraônico sistema de subsídios para os mais ricos - sim, você leu corretamente, para os mais ricos - via crédito barateado para um grupo seleto de empresários carinhosamente apelidados pelos críticos como amigos do rei (da rainha?). E cosi via...

Deu no quê essa tal de nova matriz?

Deu nisso: inflação superior a 6%, ou seja, bem acima da meta estipulada, que é 4,5% para os desavisados; déficits externos grandes, da ordem de há muito não vistos, de 4% do PIB; queda da produtividade e dos investimentos a taxas apavorantes; rebaixamento do crescimento potencial, de cerca de 3,5% para a casa dos magérrimos 1,5%.

Aí vocês podem dizer (e estão desculpados de antemão pela inocência): mas depois de tanta miséria de resultados, eles reconheceram, ainda que a voz baixinha, os erros crassos? Desculpe informar que não, que não reconheceram. E aguente firme, prezado leitor, tenha nervos de aço, pois aviso aos navegantes que há uma chance de tudo isso se repetir, como naquele filme da marmota, por todos os dias dos próximos quatro anos.

7 a 1 diz alguma coisa pra você? A piada de mau gosto entre os economistas é que, na hipótese de continuidade desse conjunto de políticas econômicas é bom se acostumar com a ideia de inflação na casa dos 7% e crescimento na casa do 1%.

O governo, claro, e seus defensores, dizem que não é nada disso. Que a desaceleração tem que ver com uma economia mundial em dificuldades. Mas como pode ser essa a explicação se outras economias emergentes estão indo muito bem, obrigado? Ok, demos um injustificável benefício da dúvida, aceitemos que foi a desaceleração mundial que nos legou esse crescimento médio de menos de 2%. Sendo essa a história, porém, por que, enquanto a inflação lá fora está mais para perto de 2%, a nossa situa-se acima de 6%? Não estamos sofrendo de um mal de desaceleração generalizado? Ué, mas isso implica inflação perto de zero...contudo a nossa é de mais de 6%. Ué mesmo.

Não foi o cenário internacional, meus prezados, foram os erros na política econômica. Era uma vez um país cujo futuro, escorregadio, teimava em não chegar. Era uma vez o Brasil.


Mentira tem perna curta - MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE

FOLHA DE SP - 10/10


O PT diz que o Brasil quebrou três vezes na era FHC. O país quebrou nos anos 1980, na década anterior. O PT comete estelionato eleitoral ao mentir


Há quem ache que mentira repetida à exaustão torna-se verdade absoluta. Há quem subestime a capacidade de reflexão das pessoas repetindo refrões mentirosos como "o Brasil quebrou três vezes durante a época em que o PSDB esteve no poder", nos anos 90. Prefiro outro dito popular, o que diz que mentira em cima de mentira corre, corre, mas não chega a lugar algum com suas pernas desavantajadas. Igual ao Brasil de Dilma Rousseff.

O Brasil verdadeiro sabe pensar por si. Nos anos 1990, o país fez o Plano Real, que levou a inflação de mais de inacreditáveis 900% ao ano para um dígito.

Nos anos 1990, o Brasil instituiu os programas sociais que, junto da estabilização macroeconômica, começaram a tirar milhões de pessoas da miséria, trabalho árduo e longo, continuado pelo PT. O mesmo PT, que inicialmente se opunha e que não via mérito nesses programas, chamava-os de "esmola", como se algo de degradante fossem. Mentira tem perna curta, como eles próprios reconheceram, tacitamente, anos mais tarde.

E a história de o país ter quebrado três vezes? Bem, o Brasil, de fato, quebrou. Mas foi nos anos 1980, uma década antes do que acusa hoje o PT. E não foi só o Brasil. Quebraram também o México, a Argentina e o Uruguai. Foram anos difíceis para os países da América Latina nessa fase em que os regimes militares na região estrebuchavam e a democracia desabrochava.

Quando o Brasil pôde, finalmente, sair da situação de moratória que o impedia de ter acesso aos financiamentos do exterior? Foi nos anos 90, na época de Fernando Henrique Cardoso, o mesmo que o PT insinua ser fantasma do passado.

Foi árduo o trabalho de acabar com a inflação e criar as bases para que a classe média conseguisse se reerguer depois da catástrofe dos anos 1980 e que, assim, fosse ampliada com a inclusão social que melhoraria a vida de milhões de brasileiros. Quando o PT se refere ao país que "quebrou três vezes" fala, na verdade, dos empréstimos do Fundo Monetário Internacional que facilitaram a empreitada.

Primeiramente, em 1998-1999, quando houve a crise da transição para o regime de câmbio flutuante. Depois, em 2001, ano complicado, quando a Argentina quebrou, e quebrou de verdade. Teve de declarar aos quatro ventos e aos seus credores que não tinha mais dinheiro para saldar as suas dívidas.

Ficou sem pagar a dívida durante boa parte do início dos anos 2000. Será que o PT confunde o Brasil com a Argentina? Por fim, em 2002, o Brasil recorreu ao FMI para financiar a chegada de quem? De Luiz Inácio Lula da Silva. O então presidente Lula ficou com 80% dos recursos negociados com o FMI pela equipe econômica de Fernando Henrique Cardoso. Mal-agradecidos os petistas? O leitor que os julgue.

Eis que a perna curta da mentira se cansa, os músculos se desgastam, as cabeças de milhões e milhões de brasileiros que têm de acalentá-la todos os dias ficam cada vez mais indignadas com a desfaçatez de pessoas que fazem troça da inteligência alheia. Da inteligência e do bolso do contribuinte. A mentira, afinal, é estelionato eleitoral.

A estrela desce - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 10/10


De nada valeram os esforços do governo em conluio com os partidos de sua base aliada para impedir que as CPIs da Petrobras investigassem se funcionava mesmo na maior estatal brasileira uma “organização criminosa” como apontou a Polícia Federal.

Pior, o bloqueio desesperado da tropa de choque só fez indicar que havia razão para tanto temor. A fumaça apareceu quando o ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa fez os primeiros depoimentos de seu acordo de delação premiada e dele transpiraram alguns trechos com a citação de partidos e políticos que teriam sido beneficiados por propinas, “sobras” de contratos da Petrobras com grandes empreiteiras.

O governo saiu-se com a alegação de que não havia provas nem credibilidade no material publicado na imprensa. Pelo sim, pelo não, a presidente Dilma Rousseff alegou que se irregularidades tivessem ocorrido ela não ficara sabendo, mas, para todos os efeitos, garantiu, estavam todas sanadas.

O marqueteiro João Santana introduziu na campanha o tema corrupção – até então fora da cena – e Dilma passou a defender a tese de que os escândalos decorriam do combate férreo que seu governo dava aos “malfeitos”. Chegou a substituir-se à Constituição, dizendo que a PF e o Ministério Público atuavam com independência graças às ordens dela.

Faltando duas semanas para o fim do primeiro turno, o Planalto enviou para o Congresso um pacote de medidas anticorrupção com cinco propostas, três das quais repetiam outras já em tramitação.

Nem bem começou a campanha para o segundo turno e já se vê que, por debaixo daquela fumaça dos depoimentos de Costa ainda em segredo de Justiça, havia muito fogo. A ele na delação premiada juntou-se o doleiro Alberto Youssef. Ambos por medo de terem o destino de Marcos Valério, dos integrantes dos chamados núcleo financeiro e publicitário do processo do mensalão que vão ficar na cadeia enquanto os políticos estão indo para casa.

Agora já começam a aparecer evidências. Os áudios dos depoimentos de Costa e Youssef dizendo que repassavam as propinas ao PT, PP e PMDB. Eles apontaram ainda o tesoureiro do PT, João Vaccari, como o intermediário do partido. A ex-contadora do doleiro, Meire Poza, afirmou à CPI que o PT deu dinheiro a um dos réus do mensalão (Enivaldo Quadrado, dono da corretora Bônus-Banval) para pagar a multa imposta pelo Supremo Tribunal Federal.

O PT evidentemente reage afirmando que é alvo de calúnias. Deverá – se já não o fez – acrescentar que são eleitoreiras. O problema com essa versão é que Costa, Youssef e Meire só têm chance de se beneficiar daquilo que afirmam se puderem provar. Note-se que o ex-diretor da Petrobrás já foi autorizado pela Justiça a sair da cadeia. E se o foi é porque o material por ele fornecido foi considerado útil para o desvendamento das autorias e da materialidade dos crimes.

O doleiro já descumpriu uma vez um acordo desse tipo. Reincidiu e agora, escaldado, dificilmente vai tentar driblar o Ministério Público e muito menos o juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal no Paraná. Ou se conduz conforme a regra, que implica confissão da verdade, ou fica na prisão queiram os advogados ou não, até porque a assinatura do acordo implicou a dispensa de habeas corpus.

Na realidade o efeito eleitoral dessas denúncias é o menor dos problemas. Se com isso tudo a maioria ainda decidir que a presidente deve ter mais um mandato, está decidido. A discussão independe do período eleitoral. Ainda que tudo isso viesse a público no ano passado e Dilma dissesse que não sabia de nada, a questão seria a mesma: o partido do governo cuja antiga cúpula foi condenada por corrupção, pego de novo em traficâncias de natureza semelhante tendo apenas mudado de endereço.


Reacionários em pânico - REINALDO AZEVEDO

FOLHA DE SP - 10/10


O PT está desesperado. É crescente o número de pessoas que não querem mais salvadores da pátria


Li dia desses o texto de um sujeito isento como um táxi, segundo quem só mesmo o "preconceito anti-PT" poderia explicar a surra histórica que o partido levou em São Paulo. Para registro: o tucano Geraldo Alckmin venceu a eleição em 644 das 645 cidades do Estado e, na capital, ficou em primeiro lugar em 54 das 58 zonas eleitorais. Aécio Neves superou seus adversários em 88% dos municípios paulistas. José Serra, depois de sepultado por setores da imprensa paulistana, bateu Eduardo Suplicy na disputa pelo Senado por quase o dobro dos votos. Marilena Chaui, uma petista filósofa, jamais uma filósofa petista, diria que isso é culpa da classe média, que ela odeia. Entendo. Há miseráveis de menos em São Paulo para os anseios revolucionários de tal senhora. Toc, toc, toc.

Preconceito por quê? O PT, por acaso, advoga alguma causa excepcional, que vá contra, sei lá, o obscurantismo do senso comum, ou se coloca na vanguarda de lutas civilistas que desorganizam o status quo? Se há um partido que encarna os piores vícios da ordem no que esta tem de mais nefasta, de mais reacionária e de mais autoritária, este partido, hoje, é o PT.

Prestem atenção! Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef mal começaram a falar. A depender do rumo que as coisas tomem e do resultado das urnas, o país voltará a flertar, no próximo quadriênio, com o impeachment, somando, então, a crise política a uma economia combalida. Pergunto: o fedor que emana da Petrobras deriva dos anseios reformistas que o PT chegou a alimentar um dia? Ora...

É preciso assaltar os cofres públicos para conceder Bolsa Família? É preciso usar de forma escancaradamente ilegal os Correios para implementar o ProUni? É preciso transformar a gestão pública na casa-da-mãe-Dilma (como Lula, o pai, já a chamou) para financiar o Minha Casa, Minha Vida? Pouco importa o juízo que se faça sobre esses programas, a resposta, obviamente, é "não". A matemática elementar nos diz que, com menos roubalheira, sobraria mais dinheiro para os pobres.

O PT nunca foi revolucionário e, por óbvio, nem mais reformista chega a ser. Conserva, no entanto, o modo da esquerda autoritária, que é distinto, sim, do da direita autoritária. Para esta, povo é mesmo o vulgo e deve ser mantido longe dos assuntos relevantes da República porque não passa de um amontoado de ignorâncias e paixões destruidoras --no "Júlio César", de Shakespeare, sua versão primitiva é Cássio. A outra se organiza para pôr a seu favor o ódio, o rancor e o ressentimento, tornando o povo refém das migalhas que distribui. É César. Sim, leitores, como pulsões originais, os dois autoritarismos já estavam no drama de Shakespeare. Estão inscritos na nossa memória. No Brasil de 1950, o dramaturgo escreveria a mesma peça com Carlos Lacerda e Getúlio Vargas. Haveria um pouco mais de chanchada, é claro!

O PT está desesperado. Milhões de pessoas são, sim, ainda cativas de seu assistencialismo chantagista e do arranca-rabo de classes que promove. Mas é crescente o número de pessoas que já não aceitam --como é mesmo, Getúlio?-- ser escravas de ninguém. Também não querem mais salvadores da pátria. Só exigem que governantes sejam escravos da lei. E Marilena odeia isso.


Média com a patroa - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 10/10

Mantega, se alguém esqueceu, é um ministro da área econômica do governo. Espera-se dele maior preocupação com a repercussão de suas palavras lá fora


Todo e qualquer governo tem o direito, para não dizer o dever, de decidir quais são as suas prioridades. Muitas vezes, as decisões causam estranheza na turma da arquibancada. O que não significa que a plateia tenha sempre razão.

Vejamos um exemplo destes dias. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, decidiu, ou, melhor dizendo, obedeceu a uma ordem de sua patroa, dona Dilma, e anunciou que não iria a uma reunião do Fundo Monetário Internacional, nos Estados Unidos. O motivo foi a necessidade, na opinião da presidente, de cuidar de um problema doméstico, pelo visto, considerado prioritário pela presidente: falar mal do PSDB. Foi incumbido de informar ao respeitável público local que, caso a oposição venha a chegar ao poder, será um desastre para o país.

Segundo Mantega, uma vitória da oposição comandada pelo tucano Aécio Neves significará nada menos do que recessão, desemprego e cortes em programas sociais. Deve-se reconhecer que não há novidade alguma nesse tipo de ataque quando se aproxima uma guerra eleitoral.

Por outro lado, uma coisa é a linguagem usada por partidos em disputa pelo poder. E outra, bem diferente, é o que afirma — durante uma campanha eleitoral — um ministro da área técnica do governo. O que ele afirma é ouvido lá fora, e pode ser de mau proveito para os interesses permanentes do Brasil, seja qual for o partido que esteja no poder.

Mantega, se alguém esqueceu, é um ministro da área econômica do governo. Espera-se dele maior preocupação com a repercussão de suas palavras lá fora, onde estão nossos parceiros e rivais, e não tanto no eleitorado local.

O ministro da Fazenda, no entanto, achou mais importante — certamente a pedido da sua chefe — fazer gazeta e não ir a Washington. E ficou por aqui, fazendo média com a patroa.

A iluminação pelas urnas - FERNANDO GABEIRA

O ESTADO DE S.PAULO - 10/10


Pesquisas, análises, previsões, fizemos de tudo para entender o futuro. Mas ele nos escapou, inúmeras vezes, ao longo do caminho. Nunca tivemos uma dose tão cavalar do imprevisível como nesta disputa de 2014.

Alguns jornalistas chamaram o processo de montanha-russa. As emoções foram tantas que, às vezes, essas bruscas oscilações acabaram por ofuscar o conteúdo.

Marqueteiros, campanhas de desconstrução, tudo isso, para mim, foi apenas uma cortina de fumaça. Sem me arriscar a previsões, perplexo com os sobressaltos da campanha, eu a via, no entanto, com uma simplicidade meio tosca: a luta cristalina entre oposição e um governo amplamente rejeitado.

Esse era o fio da meada. Em termos numéricos, a oposição é maioria. Mas quem, dentre os desafiantes, poderia encarnar esse sentimento?

Não sei em que momento preciso, mas creio que Aécio Neves decidiu, no final da campanha, encarnar essa rejeição ao PT e a um governo que assalta a Petrobrás, entre outros bens públicos. Marina Silva não conseguiu, ou talvez nem tenha aspirado a assumir esse papel de "nós contra eles e vamos lá." Além dos vínculos emocionais com um passado no PT, a sua disposição de governar com os bons dos dois lados talvez não fosse a melhor ideia para o momento, embora inatacável de um ponto de vista abstrato.

Apesar das emoções, algumas escolhas racionais estavam em jogo. Uma delas, na economia. Não basta derrotar o governo, é preciso ter projeto e equipe que possam combinar o crescimento econômico e a política social.

Momento importante para a escolha foi o último debate entre os candidatos. No debate anterior, a intervenção de Levy Fidelix acabou roubando a cena, com o agora famoso "aparelho excretor". Compreendo a reação à frase de Levy. Eu o conheci cobrindo um dia de sua campanha e creio que um caminho pedagógico talvez fosse melhor. Mostrar que as pessoas não são uma soma de aparelhos, senão estaríamos sendo vendidos na Casas Bahia.

Dizem que quem sai na frente no segundo turno termina na frente. É mais uma tentativa de controlar o futuro. Como se os candidatos não tivessem diante de si toda uma nova etapa, com idênticos tempos de televisão e debates cara a cara.

Visto superficialmente, o mapa eleitoral do Brasil contrapõe o Nordeste a São Paulo. Parece que estão em jogo, num polo, a amplitude da político social e, no outro, a impaciência com a estagnação. A tarefa de cada candidato é unir esses polos da forma mais convincente.

Indo um pouco mais longe, lembrando-me das constantes viagens às metrópoles nordestinas Recife, Fortaleza e Salvador, creio que há nelas um fator comum a todas as capitais: a consciência de que a corrupção drena os recursos do País e zomba da pessoa que trabalha duro para sobreviver.

No momento, o escândalo na Petrobrás está em curso. Um ex-diretor da empresa já firmou acordo de delação premiada. Depois dele veio Alberto Youssef, o doleiro, que promete entregar todos os documentos das operações de suborno. É uma trama secundária que envolve estas eleições, prometendo sempre influenciar o enredo principal. É o que numa história os americanos chamam de pay back, deixar alguma coisa no ar, seguir com a narrativa e explicar depois, ligando os fatos.

Estamos todos esperando o pay back do escândalo da Petrobrás. Enquanto isso, o segundo turno vai seguindo o seu curso. E pela dimensão do problema, quando se esgotar o processo eleitoral, o escândalo da estatal petroleira ainda estará sendo discutido.

No Rio de Janeiro, 2 milhões de eleitores foram às urnas e votaram nulo ou em branco. Isso se deve, parcialmente, a uma atmosfera política local desoladora. Mas os números foram grandes também em São Paulo. Considerável parcela dos brasileiros rejeita a escolha eleitoral: 38 milhões ficaram de fora, votando em branco, nulo ou faltando às urnas. Isso significa que, apesar de todas as peripécias emocionais, um problema de fundo ainda persiste: o descrédito no processo político.

Neste momento, o País precisa de um governo que, mantendo as conquistas sociais, retome investimentos, saiba gastar. E não considere a gratidão de uma parte do povo como um habeas corpus para saquear o Estado e financiar o partido dominante e seus aliados.

Não sei o que seria desta campanha sem um grande desastre e a montanha-russa em que se transformou, conforme descreveu o jornal El País. Mas à medida que os fatos se decantam, a grande encruzilhada econômica aparece e há uma chance de se debater o tema com mais clareza no segundo turno.

Vamos para um segundo turno. Se isso fosse teatro, diria que no segundo ato há uma crescente revelação dos personagens. No teatro, às vezes, é no segundo ato que as pessoas se revelam, o terceiro apenas lida com seus desdobramentos.

Como nessa peça enredos e subenredos se entrelaçam e se entrechocam, o melhor é sair para o saguão do teatro, tomar um café, conversar com outros da plateia e não perder o foco do enredo: o fim de uma época.

Tenho a esperança, como o pai de Fernando Sabino, de que no fim tudo terminará bem. Se não terminar, é porque ainda não chegou o fim.

Nessa peça está sendo jogado um pouco do nosso futuro. Um pouco, de certa maneira, nossa vida continua depois das eleições, como a vida dos foliões continua depois do carnaval.

No começo da campanha, escrevi um artigo intitulado Rumo às grandes emoções. Não sabia do que estava falando, a realidade nos reservava mais: um primeiro turno eletrizante. As pesquisas foram de surpresa em surpresa e a realidade, uma surpresa maior.

Um candidato chamado Sartori, no Rio Grande do Sul, tinha 29% na boca de urna e terminou com 42%. Se tiramos um r do Sartori, ficamos com Satori, um termo budista que significa iluminação. Com esse r a mais, as pesquisas foram tudo, menos iluminação.


Enxurrada de más notícias - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 10/10


BRASÍLIA - Há um empate técnico, mas Aécio abrir o segundo turno numericamente à frente de Dilma dá gás aos tucanos e aumenta a agonia dos petistas, em meio à enxurrada de más notícias. Não é só o PSDB que está ganhando corpo, é o PT que está perdendo discurso.

A campanha de Aécio não tem nenhum fato extraordinário nem pulo do gato, mas se beneficia de uma confluência assombrosa: os escândalos envolvendo o PT e o desmanche da economia nos anos Dilma.

Segundo o ex-diretor Paulo Roberto Costa, "dos 3% [de roubo na Petrobras], 2% era para atender o PT". O doleiro Youssef acrescenta: quem "operava a área de serviços" era João Vaccari, tesoureiro do partido.

A Petrobras, portanto, foi privatizada pelo governo Lula para o PT, o PMDB e o PP. Sugaram tanto que a companhia símbolo do país perdeu credibilidade, perdeu valor de mercado, afundou em escândalos. Quantos anos demorará para se recuperar e voltar a ser pública? Sabe-se lá.

Na economia: a semanas da eleição, a inflação estoura a meta, a previsão de crescimento continua despencando e o FMI constata que os erros são internos, não externos, como alega o governo. Tudo isso num contexto adverso: inflação alta, PIB baixo; juros lá em cima, indústria sofrendo; contas públicas bagunçadas, contas externas desfavoráveis.

Indiferente a tudo isso que vem desmoronando sobre a sua campanha, Dilma investe nos palanques do camarada Nordeste e troca o bordão "ricos contra pobres" por "elites contra nordestinos", enquanto ataca a política econômica e os dados sociais do governo Fernando Henrique.

Parece pouco para enfrentar os escândalos da Petrobras e os dados da economia, numa conjuntura desfavorável para Dilma e favorável para Aécio. Pelo sim, pelo não, o PT põe Dilma cara a cara com o inimigo e protege Lula do desastre atrás das trincheiras. Se Dilma cair, Lula poderá subir em 2018. Mas só se escapar dos estilhaços da Petrobras.


A arte do desencontro - NELSON MOTTA

O GLOBO - 10/10

Depois da redemocratização também decidi que jamais perderia um amigo por causa de política. Nem os que apoiaram Collor quando fiz campanha para Covas


Comecei no jornalismo em 1967, com 22 anos, sem diploma, como estagiário do “Jornal do Brasil”, onde trabalhei por um ano como repórter de arte e cultura, até ser chamado por Samuel Wainer para assinar uma coluna diária sobre juventude na “Ultima Hora”. Era muito poder para um jovem apaixonado por música, cinema e política, mas desde o início, por meu temperamento tolerante e contrariando o espírito jornalístico tradicional, decidi que nunca perderia um amigo para não perder uma notícia.

Deu certo, em quase 50 anos de jornalismo só fui ganhando amigos, e eles sempre me deram em primeira mão as melhores notícias… rsrs

Depois da redemocratização também decidi que jamais perderia um amigo por causa de política. Nem os que apoiaram Collor quando fiz campanha para Mário Covas. Acho que a vida é tecida por relações entre pessoas, indivíduos diferentes, e, como dizia Vinicius de Moraes, “é a arte do encontro — embora haja tanto desencontro pela vida”.

As próximas semanas serão de sangue, suor e lágrimas entre os candidatos e seus partidos, num vale-tudo no rádio, televisão, jornais e internet, que pode ter consequências desastrosas para vencedores e vencidos, rachando o país. Com essa ameaça, é preciso ser muito burro para chegar a romper amizades por paixão política — a mais nefasta de todas as paixões, que faz heróis de ontem vilões de amanhã, e do “nós” de hoje o “eles” de ontem.

A menos que alguém esteja defendendo um candidato ou partido em causa própria, porque depende deles — quando qualquer discussão é inútil — todas as outras são possíveis, desde que não se atribua ao outro falhas de caráter, intenções malignas ou interesses escusos por defender seu candidato. Isso não é política, é estupidez.

Pode até parecer ingenuidade, mas é só o óbvio ululante: se o PT reconhecesse as conquistas econômicas dos governos FH, e o PSDB o resultado de programas sociais petistas, e seguissem adiante, já seria uma grande economia de tempo (e de lama ) para começar a discutir o que realmente interessa: como crescer e distribuir renda, com melhores serviços públicos e menos impostos.

Voo de galinha ou de águia? - LUCIANA YEUNG

GAZETA DO POVO - PR - 10/10


Tudo indica que observamos mais um “voo de galinha” na história brasileira. O termo, cunhado por economistas, descreve o fenômeno do crescimento que não consegue se sustentar ao longo do tempo, minguando-se em poucos anos. Alguns “voos de galinha” foram observados no país: no fim dos anos 50 (Plano de Metas), durante os anos do “milagre econômico”, e aquele que se iniciou nos anos 2000.

Quais evidências nos fazem crer que este será um “voo de galinha” e não um voo de águia – que é constante, estável e longo? Primeiro, a evolução do PIB: desde 2004, com exceção de 2009 (crise dosubprime nos EUA), o Brasil crescia anualmente a taxas maiores do que 3%. Depois de atingir o pico em 2010, com uma taxa de 7,5%, houve uma mudança na tendência: nos três anos seguintes, as taxas foram de 2,7%, 0,9% e 2,3%, respectivamente. Neste ano, a economia entrou em recessão técnica, que é um conceito objetivo para medir a situação da economia quando passa dois trimestres em decrescimento: no primeiro trimestre, -0,2%; no segundo, -0,6%. As estimativas mais recentes indicam que o PIB de 2014 terá um minguado crescimento de cerca de 0,33%. Vale lembrar que as estimativas vêm sendo sucessivamente ajustadas para baixo desde o começo do ano, quando se estimava que se cresceria de 1,5% a 2%.

Um segundo sinal de que o voo será de galinha é o recente dado divulgado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE: a tão celebrada queda no desemprego parece ter chegado ao fim. Existem sinais de que voltará a aumentar. Somado a isso, ainda há um rol de dados negativos: a inflação em 12 meses acabou de estourar o teto da meta de 6,5%; o déficit na balança comercial atinge os piores níveis desde 1998, a dívida pública também baterá o recorde este ano etc.

Sem mais delongas com análises das possíveis causas desses resultados negativos, vamos nos perguntar: por que não temos mais resultados positivos? Ou resultados positivos que se sustentem por dez, 20, 30 anos? Por que não conseguimos ser uma Coreia do Sul? Ou por que a economia brasileira não consegue alcançar um voo de águia?

Tentar descobrir a receita para a prosperidade das nações é uma tarefa que tem ocupado os estudiosos desde a fundação da economia, com Adam Smith, em 1776. Não é verdade que ainda não se sabe nada a respeito. Muito já se sabe das variáveis que levam um país ao crescimento sustentável, e há inclusive fartas comprovações históricas disso. Vejamos:

Um fator é o investimento em capital físico, mais precisamente terra e capital: o Brasil é um país “abençoado por Deus”; poucos têm a disponibilidade de terras férteis e ocupáveis que se tem por aqui. Mas a quantidade de investimento em capital, bens de produção, tecnologia que propulsiona crescimento é um grande problema. Falta inovação e faltam investimentos de todos os tipos. E, para se ter investimentos, é preciso que haja poupança (os recursos economizados pelos poupadores que serão canalizados para os investidores). E sabemos, por diversas razões, que se poupa muito pouco no Brasil.

Também há a questão do aumento da produtividade: nenhum país do mundo acredita ser possível manter o crescimento baseado somente no aumento da quantidade de mão de obra, como aconteceu em vários séculos da história mundial. Hoje, para crescer, é preciso aumentar a quantidade produzida por trabalhador, ou seja, aumentar a produtividade. Parece simples, mas envolve pesquisa e desenvolvimento científico, assim como melhorar o capital humano, a educação e o treinamento dos trabalhadores. Não basta apenas colocar crianças nas escolas, é preciso ter certeza de que as escolas são realmente boas.

Por fim, instituições que propiciam o crescimento: garantir direitos de propriedade, respeitar contratos, garantir estabilidade política, combater todos os níveis de corrupção etc. não são apenas questões “políticas”. Trata-se da manutenção do ambiente propício ao investimento, crescimento e trabalho produtivo.

Se as lições já estão postas, por que o Brasil continua com seus voos de galinha? Acemoglu e Robinson, em seu fenomenal livro Why Nations Fail?, dão a resposta: muitas vezes, a receita para a prosperidade é bem conhecida, mas o crescimento econômico é um processo que gera “destruição criativa”: claramente haverá grupos de interesses que perderão seus benefícios ao longo do caminho.

O que será escolhido: a manutenção do voo de galinha ou um voo mais longo e estável, com a visão de longa distância que a águia tem? Isso não pode ser explicado pela economia.

Virada - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 10/10

A análise dos dados de Ibope e Datafolha. A vitória momentânea do candidato Aécio Neves, pela primeira vez nesta corrida presidencial, tem um simbolismo importante, mas uma vantagem tão pequena que ajuda os tucanos a manter os pés no chão. O governo, ao contrário, deve ter ficado aliviado, pois pesquisas de institutos menores indicavam uma diferença de até 10 pontos para Aécio.

Alguns números, no entanto, têm significados importantes neste momento: é a primeira vez que um candidato passa do segundo para o primeiro lugar em uma disputa presidencial, e Aécio conseguiu levar a maioria dos votos de Marina Silva. De uma derrota de 8 pontos no primeiro turno, o tucano agora vence por 2 pontos.

A levarmos em conta as pesquisas Ibope e Datafolha divulgadas ontem, as primeiras do segundo turno, a candidata derrotada Marina Silva perderá o momento se demorar muito a se decidir a apoiar o representante da oposição na eleição presidencial. Cerca de 80% dos seus eleitores já se decidiram por um dos dois candidatos que estão no segundo turno.

Marina está tentando vender caro seu apoio, fazendo exigências que aumentam a cada dia, e isso está dificultando um acordo programático. Ela se debate entre ficar neutra, como em 2010, e perder o lugar no jogo político tradicional que se desenrola; ou entrar no jogo com cacife para influir no próximo governo, caso o candidato oposicionista vença a eleição.

O candidato do PSDB, até o momento, está em vantagem no recolhimento de novos apoios, e com um detalhe interessante, que retira do PT um de seus trunfos: os partidos de esquerda, em sua maioria, escolheram ficar ao lado do PSDB. PSB, PPS e PV anunciaram o apoio, além dos setores "progressistas" do PMDB e do PDT.

Nem mesmo o PSOL ficou ao lado de Dilma. Da mesma maneira que a Rede sugeriu a seus seguidores o voto nulo, em branco, ou em Aécio, o PSOL sugeriu a mesma coisa, mas tendo como última opção a candidata do PT.

Os resultados das pesquisas mostram, no entanto, a presidente com dificuldades de aumentar sua votação. No primeiro turno, teve 41%, e hoje estaria com 44%. Ao contrário, o candidato do PSDB cresceu 13 pontos entre o primeiro e o segundo turnos.

O candidato tucano tem os melhores resultados na Região Sul, onde lidera por 61% a 33% dos votos totais. No Sudeste, ele também está à frente, mas com vantagem menor: 48% a 38%. Na divisão das pesquisas, as regiões Norte e CentroOeste estão juntas, e por isso há um empate técnico em 46% a 43%, mas Aécio consegue neutralizar a enorme vantagem de Dilma no Norte.

No Nordeste, a candidata do PT venceria por 59% a 32%, resultado que mantém a larga vantagem do PT na região, mas o candidato do PSDB conseguiu melhorar sua performance, que no primeiro turno foi abaixo de 20%.

Para melhorar seu índice na região dominada pelo PT, Aécio Neves deve viajar a Pernambuco para fazer campanha já em companhia do governador eleito, Paulo Câmara, e, sobretudo, receber o apoio da família Campos. A viúva Renata, que foi decisiva para que o PSB apoiasse o candidato do PSDB, deve ter um encontro com Aécio nos próximos dias, quando anunciará sua decisão. Só não fez antes porque esperava uma decisão de Marina, que acabou sendo adiada.

As pesquisas mostram que a candidata do PT é identificada como a mais preocupada com os mais pobres, o que lhe dá a hegemonia na Região Nordeste. Esse fato vai dar consistência à campanha petista, que vai se basear na luta dos pobres contra os ricos, do Sudeste contra o Nordeste, que deve exacerbar a disputa e pode provocar um ambiente corrosivo nesta reta final.

O PSDB terá a seu favor o ambiente negativo para o governo provocado pela revelação dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Youssef, que descreveram um ambiente de corrupção institucionalizada na maior estatal brasileira e a regra de ouro da coalizão que apoia o governo Dilma: obras superfaturadas para sustentar o PT e alguns partidos que indicavam diretores da Petrobras.

Uma vergonhosa repetição de falcatruas que já haviam sido denunciadas no escândalo do mensalão, com o tesoureiro que substituiu Delúbio Soares já envolvido em outras nebulosas transações.

O império do imobilismo - PEDRO LUIZ PASSOS

FOLHA DE SP - 10/10


O Brasil optou pelo isolamento da economia e agora paga um alto preço por essa escolha


Em entrevista à Folha, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, traça, em minha opinião, um retrato fiel do estado em que se encontra a política de comércio exterior brasileira: há uma ausência absoluta de visão do que o país almeja nas suas relações econômicas internacionais.

Vamos aos exemplos mais gritantes. Não fechamos ainda o acordo com a União Europeia, mas, segundo o ministro, podemos lavar as mãos. Afinal, a culpa não é nossa, já que, com os parceiros do Mercosul, fizemos o dever de casa, enquanto os europeus, não.

Por outro lado, um eventual acordo com os EUA não interessa, e ele demonstrou taxativamente sua oposição, ao indagar se "devemos nos submeter às regras americanas". E nada foi dito sobre o esfacelamento do Mercosul, que antes cumpria papel relevante na absorção de manufaturados brasileiros, uma função que não desempenha há anos, sem que tenhamos mexido uma palha para procurar alternativas.

Nenhuma palavra também foi proferida sobre a perda de espaço de nossos produtos nos mercados globais. E, pior, não houve qualquer aceno sobre ações no sentido de mudar esse cenário. Assistimos simultaneamente à derrocada das vendas de manufaturados e ao fim de um ciclo favorável de commodities que, em seus melhores momentos, acomodava as ineficiências de nossa política externa.

De acordo com a política econômica em curso, essas evidências não significam muita coisa e se o saldo do comércio exterior desabou de US$ 20 bilhões para praticamente zero, isto se deve --acredite se quiser-- ao fato de que o Brasil é uma "economia relativamente aberta", segundo o ministro.

A nosso ver, a economia brasileira é uma das mais fechadas do mundo. Contudo, nem mesmo as elevadas barreiras comerciais são capazes de proteger o setor produtivo, particularmente a indústria, devido à sua progressiva perda de competitividade. Reside aí a razão do colapso do superavit comercial.

Quais mensagens o governo transmite com essas posições? No plano das relações internacionais, o recado é claro: não há muito o que fazer, seja para resgatar o dinamismo do Mercosul, seja para desenvolver novos mercados através da aproximação com países representativos dos principais fluxos do comércio mundial. Nem mesmo são aventados acordos junto a economias emergentes.

É o império do imobilismo. Para o setor privado, esse quadro reforça a disposição de não investir para ampliar exportações, privilegiando o mercado interno. Isto reproduz e realimenta o isolamento ao qual estamos submetidos.

Na mesma entrevista, o ministro foi indagado pela jornalista Raquel Landim sobre minha convicção de que o Brasil necessita abrir sua economia para ser mais competitivo. Sua resposta: "Ele está equivocado. A visão dele é que a abertura comercial é um instrumento de política industrial".

Como não? Disputar mercados externos e importar bens e serviços são fatores que ampliam as escalas de produção, barateiam custos, permitem acesso a insumos e bens de capital de última geração e, talvez o mais importante, aumentam a competição, o que estimula o investimento em inovação e a busca por mais qualidade e produtividade.

De quebra, propiciam o surgimento de novos setores, novas empresas e novos empreendedores. Ou seja, tudo que o Brasil precisa para melhorar sua capacidade exportadora e retomar o crescimento. Na história, não há exemplos de processos de desenvolvimento que tenham prescindido de uma forte exposição externa de suas economias.

Tenho insistido que a maior inserção externa só trará bons resultados se for empreendida com muita responsabilidade e aliada a medidas que garantam um ambiente de negócios mais favorável, com a integração de políticas industriais e tecnológicas, além da remoção dos gargalos do custo Brasil.

Por fim, gostaria de fazer uma observação sobre o receio manifestado pelo ministro de que a mudança da política externa "seria um desastre" porque transformaria o setor industrial em "linha de montagem". Talvez não se tenha percebido, mas a perda de dinamismo e densidade da indústria no Brasil não é uma visão do futuro: ela já ocorreu e a ausência de conexão do país com as cadeias globais de produção é um dos seus principais determinantes.


Embate em torno da corrupção e da economia - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK

O GLOBO - 10/10

A candidata Dilma Rousseff não terá como evitar dois temas muito espinhosos na disputa do segundo turno


Era o que PT mais temia. O embate do segundo turno da eleição presidencial deverá ser travado em torno de dois temas espinhosos, que o Planalto vinha tentando evitar a todo custo: a corrupção e o desempenho da economia. No domingo, mal finda a apuração, o ex-presidente Lula foi o primeiro a reconhecer que essa será a temática dominante do segundo turno. Quanto a isso, o PT já não alimenta ilusões.

Nas denúncias de corrupção, o foco da oposição deverá estar centrado nas irregularidades que vêm aflorando na Petrobras. Os primeiros resultados das investigações em curso já causaram sérios danos ao projeto da reeleição. Mas o pior é que tudo indica que ainda há muito mais por aflorar, na esteira dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, feitos no quadro de um acordo de delação premiada.

Ao asseverar que, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, jamais tomou conhecimento de qualquer irregularidade, durante a longa permanência de Paulo Roberto Costa na diretoria da empresa, a presidente Dilma teve de incorrer em grande desgaste adicional da sua já erodida imagem de administradora competente e diligente, tão habilmente vendida ao eleitorado na campanha de 2010.

A apreensão do governo com os depoimentos de Paulo Roberto Costa aumentou muito, desde que o ministro Teori Zavascki os considerou suficientemente plausíveis e promissores para que fosse homologado o acordo de delação premiada oferecido ao ex-diretor da empresa. Especialmente importante para a homologação foi o fato de tais depoimentos mencionarem nada menos que 32 parlamentares potencialmente envolvidos, com direito a foro especial no Supremo Tribunal Federal. Na quarta-feira, Paulo Roberto Costa revelou que parte dos recursos desviados bancou gastos de campanha em 2010.

Há indagações básicas sobre o faraônico projeto da Refinaria Abreu e Lima que, dificilmente, poderão continuar sem resposta no segundo turno. Uma questão crucial, que precisa ser elucidada, é como exatamente a decisão de ir em frente com o projeto da refinaria foi imposta pelo Planalto à Petrobras, mesmo depois de ter seu corpo técnico alertado que o estudo de viabilidade econômico-financeira indicava que a decisão seria lesiva à empresa, como mostra matéria publicada no GLOBO em 23 de junho.

Dilma tem plena consciência de que está fadada a enfrentar sérias dificuldades no embate em torno das irregularidades que afloraram na Petrobras. Mas também sabe que o outro tema que deverá dominar o segundo turno tampouco lhe será fácil.

No embate sobre o desastroso desempenho da economia nos últimos quatro anos, Dilma entra de mãos vazias. Afora o desemprego ainda baixo, tem pouco ou nada a mostrar, como bem ilustram os dados deste final de mandato: taxa de juros mais alta do que no início do governo, preços de energia represados, inflação de 6,75%, bem acima do teto de tolerância da meta, resultado primário tendendo a zero, contas externas seriamente desequilibradas e economia estagnada.

Diante dessa penúria de resultados apresentáveis, o melhor que a campanha de Dilma conseguiu urdir foi uma mistificação e um truque. De um lado, a candidata insiste em atribuir o fiasco a um suposto agravamento da crise econômica mundial. De outro, tenta camuflar o desastre dos últimos quatro anos, diluindo-o nos oito anos do período Lula. A ideia é vender ao eleitor um pacote fechado de “12 anos de governo petista", ainda que, da perspectiva da condução da política macroeconômica, esse “três em um” encerre mandatos presidenciais muito distintos.

No primeiro mandato, Lula seguiu de perto a política que vinha sendo adotada por FH. No segundo, coadjuvado por Dilma Rousseff, embarcou na aventura charlatanesca da “nova matriz macroeconômica", cujos frutos amargos estão sendo agora colhidos nesse terceiro mandato. Não obstante todo o esforço de camuflagem do desastroso desempenho da economia dos últimos quatro anos, é na denúncia dessa colheita amarga que a oposição deverá centrar fogo no segundo turno.

Falhou - CELSO MING

O ESTADÃO - 10/10


O governo Dilma falhou na política econômica. Quem ainda vacila diante de uma conclusão assim tem apenas de conferir os resultados. Não os medidos pelos critérios do mercado financeiro, sempre suspeitos, como diria a presidente Dilma, mas pelos do próprio governo.

Entre os objetivos de todos estes anos estava o crescimento sustentável da atividade econômica em torno dos 3,0% ao ano. O que o governo está entregando é um avanço médio de apenas 1,6%. Nesse cálculo vai incluída a projeção de 2014 que não promete mais do que um crescimento de 0,3%, como acaba de apontar o Fundo Monetário Internacional (FMI).

A inflação na meta (de 4,5% a cada fim de ano) apresentou até agora um piso de 5,84% e o risco de estouro da meta de 6,5% neste ano – mesmo com o represamento do câmbio e dos preços administrados.
A cada começo de ano, o governo prometeu conseguir um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) de 2,1% a 3,1% do PIB, mas a única vez que entregou 3,1% foi em 2011 e, ainda assim, à custa dos truques contábeis conhecidos. Em 2014, as projeções indicam algo muito próximo de zero.

O investimento era para ser acelerado a partir do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas as Contas Nacionais apontaram todos estes anos para baixo. E não vamos colocar nesse balanço nem as incertezas no suprimento de energia elétrica, que paralisam a ampliação da atividade produtiva, nem a perda de competitividade da indústria.

Agora sobram essas desculpas inconsistentes sustentadas pela equipe econômica. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, por exemplo, sugere como recurso contra a erosão do poder aquisitivo do consumidor provocada pela inflação, não políticas de estabilização, mas a substituição da carne bovina por ovo e carne de frango. Que comam brioches.

Além de repisar que o crescimento raquítico do PIB se deve à crise externa, o ministro Guido Mantega aponta a desaceleração do crédito como explicação para a retração das vendas da indústria, como se a queda do crédito não fosse desejada pela política monetária do Banco Central ou, então, como se o Banco Central estivesse marcando gol contra.

O insatisfatório cacife eleitoral apresentado pela presidente Dilma no primeiro turno das eleições está diretamente relacionado às más escolhas de política econômica que desidrataram o orçamento do trabalhador. Desgastada pelos maus resultados, a equipe econômica do governo não exibe credibilidade para defesa do que está aí.

Não é o demitido Mantega nem o flexível Tombini que são designados para dar explicações, mas o agora licenciado ministro-chefe da Casa Civil, o economista Aloizio Mercadante, que Dilma manteve afastado das decisões econômicas nestes quatro anos. Ele vem com a revelação de que “um país não se reduz a uma moeda”, como se o contra-ataque à inflação fosse um objetivo pouco importante.

É olhar em torno e concluir que não há no governo gente mais qualificada para convencer o eleitor sobre as excelências da administração Dilma, créditos que sobram apenas nos discursos.

CONFIRA:

Saíram as primeiras previsões para a próxima safra, que ainda nem começou a ser plantada. Para a Conab, a produção deve ficar entre 194 e 201,6 milhões de toneladas. Em 2014, a Conab projeta 195,47 milhões de toneladas de grãos e o IBGE, 193,5 milhões.

É estrutural
Nesta quinta-feira, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, advertiu que os problemas econômicos da Europa não são cíclicos; são estruturais e exigem reformas de base. Do ponto de vista da política econômica do Brasil, significa que não dá para ficar esperando pela recuperação.

Confirma-se a ‘organização criminosa’ na Petrobras - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 10/10

Do mensalão, o escândalo guarda a semelhança do desvio de dinheiro público para financiar políticos. Mas, pela amplitude e cifras envolvidas, este caso deve ser maior



O termo “organização criminosa" foi usado formalmente a primeira vez, para designar um esquema de corrupção com o envolvimento de representantes do PT e legendas aliadas, pelo procurador-geral da República Antonio Fernando Souza, no texto da denúncia do mensalão ao Supremo Tribunal Federal. Sete anos depois, a denúncia seria confirmada por sentenças condenatórias no STF.

Há cinco meses, a expressão voltou a aparecer em documento oficial, desta vez num ofício do delegado da Polícia Federal Cairo Costa Duarte ao juiz federal do Paraná Sérgio Moro, do processo Lava-Jato, em que estão implicados o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Ao investigar a compra esquisita da refinaria de Pasadena e outras denúncias em torno da Petrobras, o delegado pediu ao juiz acesso a documentos obtidos pela Lava-Jato, para facilitar seu trabalho de levantamento de uma “organização criminosa” na estatal.

Pois trechos divulgados dos depoimentos de Paulo Roberto e Youssef, sob o regime de delação premiada, confirmam a existência da tal organização, eles próprios dois de seus elos-chave — Costa, arrecadador de propinas junto a empreiteiras; Youssef, branqueador do dinheiro, por meio de firmas fantasmas e operações fajutas.

Relata Costa que PT, PMDB e PP eram os beneficiários da enxurrada de dinheiro “por fora” gerada por comissões sobre contratos bilionários superfaturados. Quase todos assinados com empreiteiras envolvidas com o projeto da refinaria Abreu e Lima, orçada em US$ 1,8 bilhão e que sairá por dez vezes mais. Obra convenientemente administrada pela diretoria de Abastecimento da estatal, ocupada de 2004 a 2012 por Paulo Roberto. Segundo Youssef, Paulo Roberto Costa, funcionário de carreira da estatal, foi nomeado para o cargo depois de pressão dos partidos sobre o presidente Lula. Ele cedeu e o esquema foi montado.

Mas, diz Paulo Roberto, outras diretorias também atuavam no paralelo: a de Serviços, de Jorge Renato Duque, indicado pelo PT; Nestor Cerveró, já conhecido, e Jorge Zelada, da diretoria Internacional, e também José Eduardo Dutra, ex-presidente da empresa, ex-senador sergipano pelo PT. Até a subsidiária Transpetro, de Sérgio Machado, ligado ao PMDB, consta das denúncias. Também não falta nos depoimentos o indefectível João Vaccari Neto, tesoureiro do PT.

Pelas cifras envolvidas — apenas Costa tinha US$ 23 milhões seus na Suíça — e dimensão do esquema, o caso deve ser maior que o mensalão petista, de Marcos Valério, José Dirceu, entre outros.

“Paulinho”, como Lula chamava Paulo Roberto Costa, assumiu o cargo de diretor em 2004. Seis anos depois, “recursos não contabilizados” tirados da Petrobras já teriam financiado campanhas de petistas e aliados. Talvez, entre várias, a da própria Dilma. Aproximam-se emoções fortes.


O partido dos grotões - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 10/10

O resultado do primeiro turno da disputa presidencial mostrou que o PT colheu seus melhores resultados nas cidades cujos habitantes vivem em piores condições e que dependem, em sua maioria, do Bolsa Família. Em contraste, o partido sofreu importantes derrotas nas regiões mais desenvolvidas.

Trata-se de um padrão que confirma a mudança do perfil do PT - de partido que nasceu como representante do operariado urbano e da elite intelectual de esquerda, passou a ser uma legenda que obtém o grosso de seus dividendos políticos a partir de seu investimento em políticas assistencialistas nas áreas mais pobres do País.

"No semiárido brasileiro, que se estende por sete Estados, está o coração eleitoral do PT", constatou o jornal francês Le Monde. O diário ouviu moradores de Lajedo, cidade do interior de Pernambuco em que 70% dos habitantes são beneficiários do Bolsa Família. Um deles disse ao jornal que o candidato que questionar o Bolsa Família vai "tocar fogo no País", refletindo a campanha do medo que o PT usou para reeleger a presidente Dilma Rousseff.

A fidelidade desses eleitores ao PT, ao menos no plano federal, ficou clara: Dilma foi vitoriosa em oito dos nove Estados do Nordeste. Sua única derrota foi em Pernambuco, onde foi superada por Marina Silva (PSB) - apoiada pela família de Eduardo Campos, o popular governador pernambucano que se lançou à Presidência tendo Marina como vice e cuja morte em acidente aéreo comoveu especialmente seu Estado. Mesmo assim, Dilma obteve 44,2% dos votos válidos no Estado, contra 48,05% de Marina.

Nos demais Estados da região, Dilma exibiu um desempenho impressionante. Enquanto na votação nacional a presidente terminou o primeiro turno com 41,6% dos votos válidos, seu apoio no Nordeste beirou os 70% - casos do Maranhão e do Ceará. Conforme mostrou o Estadão Dados, a região que compreende Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte deu a Dilma 67,8% dos votos, um crescimento de quase três pontos porcentuais em relação à eleição de 2010. Outros Estados nordestinos importantes, como a Bahia e a Paraíba, deram-lhe em torno de 60% dos votos.

Um desempenho semelhante se observa nos Estados do Norte. No Pará, Dilma levou 53,2% dos votos, contra 47,9% nas eleições de 2010.

Levantamento feito pelo jornal O Globo ilustra bem o perfil desse voto maciço em Dilma. Nos municípios em que mais pessoas recebem o Bolsa Família, concentrados em especial no Norte e no Nordeste, 73,1% dos eleitores escolheram a presidente no primeiro turno.

Quando o parâmetro é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que utiliza indicadores sociais como saúde e educação, confirma-se que Dilma obtém melhores resultados em regiões menos favorecidas. Nos municípios com IDH baixo e muito baixo, a petista levou cerca de 70% dos votos.

À medida que a qualidade de vida melhora, a votação em Dilma diminui. Em municípios com IDH médio, a presidente ficou com 55,9% dos votos. O porcentual cai para 35,3% nas cidades com IDH alto e 25,2% nas com índice muito alto.

Assim, fica claro que o PT está cada vez mais dependente dos eleitores que recebem assistência do Estado nas regiões mais pobres do País. A formidável rede de benefícios montada pelos governos petistas desde 2003 transformou esses agradecidos beneficiários em apoiadores fiéis do PT.

No longo prazo, porém, tal política assistencialista só se sustenta se a economia for administrada de maneira competente - visando ao crescimento e à competitividade e gerando renda suficiente para ser distribuída - e se os que recebem o Bolsa Família tiverem chances efetivas de progredir, por meio de uma educação pública de qualidade e de uma assistência médica decente, tornando-se membros produtivos da sociedade. Como sob os governos petistas não acontece nem uma coisa nem outra, resta somente uma enorme clientela de eleitores pobres e desinformados que, dependentes dos caraminguás do Bolsa Família, formam a massa de votos de que se serve o PT a cada eleição.


Tiro pela culatra - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO- 10/10


Pressa do governo federal para fazer o leilão dos 700 MHz custou caro: a concorrência rendeu bem menos que o esperado


Com o orçamento apertado, incapaz de conseguir um superávit primário minimamente digno do nome, o governo federal insistiu em realizar ainda neste ano o leilão da frequência de 700 MHz para a telefonia 4G. O Tribunal de Contas da União até tentou colocar um freio no processo, mas não foi suficiente para atender o pedido das operadoras, que pretendiam adiar o leilão para o ano que vem: falou mais forte a necessidade de fazer caixa em Brasília – “Estou contando com os R$ 8 bilhões este ano”, tinha dito o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, tempos atrás, dando uma ideia da importância que os 700 MHz tinham para um governo que cada vez mais depende de receitas extraordinárias para fazer o dever de casa.

As operadoras de telefonia têm interesse nos 700 MHz: as antenas dessa frequência têm alcance maior que as de 2,5 GHz (frequência em que o 4G é oferecido hoje no Brasil), reduzindo custos de instalação e manutenção. Além disso, o sinal de 700 MHz funciona melhor em locais fechados que o de 2,5 GHz. Talvez por isso o governo imaginasse que conseguiria leiloar as frequências com o ágio esperado. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, garantia que as quatro grandes operadoras brasileiras estariam brigando pelos lotes; o presidente da Anatel, João Rezende, dizia em setembro que haveria até estrangeiros interessados no leilão.

Pois a pressa do governo teve resultados opostos às expectativas. O leilão ocorreu no fim de setembro e não foram apenas os estrangeiros que deixaram de lado a oportunidade: a Oi, uma das quatro grandes companhias que já operam no Brasil, também não participou, alegando justamente a possibilidade de que a frequência só estivesse liberada para o 4G a partir de 2019, ou seja, demoraria muito para a companhia reaver os pesados investimentos que teriam de ser feitos. No fim, dos seis lotes – três nacionais e três regionais – colocados em leilão, dois não tiveram interessados. O valor mínimo para cada lote nacional era de R$ 1,947 bilhão e, com três operadoras disputando três faixas, não foi difícil imaginar o resultado. Claro e TIM pagaram exatamente o lance mínimo pelos seus lotes; a Vivo/Telefónica arrematou o seu por R$ 1,948 bilhão. A Algar Telecom pagou apenas R$ 100 mil acima do lance mínimo pelo seu lote regional.

Resultado: o saldo foi de R$ 5,87 bilhões, bem menos que os R$ 8 bilhões esperados. Bom para as teles, que ainda terão de gastar com a “limpeza” da frequência – hoje ela é ocupada por canais de televisão analógica e digital, que terão de ser removidos (no caso dos analógicos) ou mudar de frequência (no caso dos digitais); as operadoras dividirão a conta de cerca de R$ 3,6 bilhões, que também inclui a compensação dos canais analógicos (obrigados a atualizar seu equipamento para entrar na era digital), além da compra de filtros e conversores para beneficiários do Bolsa Família e de antenas para casas onde o sinal sofrer interferência do 4G. No dia 30, Paulo Bernardo até falou em “sucesso”, mas também disse que “do ponto de vista do Tesouro, é negativo que a arrecadação tenha sido menor (...) do ponto de vista do Ministério das Comunicações, não vamos desenvolver o setor como queríamos”.

O acesso cada vez maior aos serviços de telefonia móvel por parte da população exige mais investimentos, e a ocupação da frequência de 700 MHz teria de vir, mais cedo ou mais tarde. Mas o governo não respeitou o timing dos investimentos das operadoras e de um processo complicado como é a migração da televisão analógica para a digital. Se tivesse alguma responsabilidade no campo fiscal, poderia ter trabalhado o tema com a prudência necessária; agora, paga o preço da pressa – e teles, emissoras de televisão e usuários correm o risco de ter de dividir essa fatura.

Empatados - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 10/10


Datafolha mostra eleitorado dividido entre Aécio e Dilma, um cenário que pode acirrar ânimos ou estimular uma saudável politização do país


Aécio Neves (PSDB) saiu na frente no segundo turno da disputa pelo Palácio do Planalto. Menos pelo resultado das pesquisas de intenção de voto, que registram pequena vantagem para o senador, e mais pelos apoios que granjeou nestes primeiros dias de campanha.

O resultado do Datafolha, é claro, dá ao tucano um novo ânimo para enfrentar a presidente Dilma Rousseff (PT). Tendo alcançado 51% das preferências no levantamento finalizado ontem (9), Aécio aparece numericamente à frente da petista (49%).

É pouco, sem dúvida, pois se trata de situação de empate técnico. É muito, porém, para quem terminou o dia 5 quase 8,5 milhões de votos atrás da adversária e calculava em ao menos 17 milhões o contingente de eleitores que precisaria conquistar nesta nova fase do pleito (na mesma conta, Dilma precisaria de cerca de 9 milhões).

Intenções são voláteis, contudo, e a trajetória de Marina Silva (PSB) está aí para demonstrá-lo. Tornam-se mais relevantes, por isso mesmo --e sobretudo numa competição tão parelha--, as alianças seladas em acréscimo às que vigoraram no primeiro turno.

Não se trata propriamente de buscar a transferência de sufrágios. Mesmo que Marina tome alguma decisão e a explicite, seus pouco mais de 22 milhões de votos não cairão de forma automática na urna de quem ela indicar.

Acordos são importantes por garantir ao candidato uma estrutura com a qual não se contava. Quanto a isso, Dilma não avançou quase nada, mas a máquina federal joga a seu favor. Aécio, por sua vez, recebeu respaldos estratégicos.

O PSB, por exemplo, partido que hospeda Marina, fechou com o tucano e pode ser decisivo em Pernambuco, onde a ex-ministra do Meio Ambiente teve 48% do eleitorado; Aécio não foi além de 6%.

Entre os nanicos que concorreram à Presidência, Pastor Everaldo (PSC) e Eduardo Jorge (PV) se inclinaram pelo tucano; juntos, tiveram 1,4 milhão de simpatizantes. Luciana Genro (PSOL), que ficou em quarto lugar, com 1,6 milhão de eleitores, limitou-se a desaconselhar o voto no PSDB.

Quanto mais equilibrada estiver a disputa em sua reta final, porém, menos provável será que se mantenham distantes aqueles que até aqui não se aproximaram de nenhum candidato.

Com o eleitorado dividido em duas partes iguais, o Brasil corre o risco de vivenciar cenas lamentáveis de agressividade ideológica e campanhas destrutivas --ou de saudável politização com "P" maiúsculo, como se pensava nem mais existir por aqui.

O rumo que o país tomará depende, em larga medida, do comportamento de Aécio Neves e Dilma Rousseff a partir de agora.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Sr. João Vaccari – a ligação era diretamente com ele”
Paulo Roberto Costa sobre o operador da corrupção na Petrobras: o tesoureiro do PT



CRESCE PRESSÃO PARA DEMITIR PRESIDENTE DA TRANSPETRO

As denúncias do ex-diretor Paulo Roberto Costa de que teria recebido, pessoalmente, uma propina de R$ 500 mil do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, aumentou a pressão por sua demissão do cargo para evitar mais desgastes ao governo. Dilma já tentou demitir Machado, mas acabou recuando para não gerar crise com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que o indicou para o cargo.

ONZE ANOS NO CARGO

Ex-senador, Sérgio Machado está na presidência da Transpetro desde o início do governo Lula. Foi nomeado em junho de 2003.

‘REPASSES’ DE PROPINA

No depoimento à Justiça, o ex-diretor Paulo Roberto Costa foi taxativo: “Na Transpetro, houve alguns casos de repasses para políticos, sim”.

ESTARRECIMENTO

Antônio Figueiredo Basto, advogado de Youssef, relata o clima no depoimento de Paulo Costa: “Não se ouvia uma mosca na sala...”.

DÉJÀ VU

Senadores do PMDB temem que, em chamas, Sérgio Machado incinere a reeleição de Renan Calheiros na presidência do Senado.

FOGO AMIGO

A cúpula do PT-Minas e da campanha do governador eleito Fernando Pimentel suspeitam que foi produto de “fogo amigo” a denúncia que levou a Polícia Federal a realizar abordagem no avião que resultou na prisão de três pessoas, inclusive o empresário Benedito Rodrigues, o “Bené”, e a apreensão de R$ 112 mil. Afinal, adversários do PT em Minas não se beneficiariam de um escândalo posterior à eleição.

VAI QUE É TUA

Pessoas ligadas ao PT sabiam a hora que Bené viajaria para Brasília. Fizeram imagens do seu embarque e avisaram a Polícia Federal.

NÃO MONITORAVA

Se a PF monitorasse Bené, que usava com frequência jato privado em BH, uma abordagem durante a campanha teria sido mais reveladora.

RESTOS

Os R$ 112 mil apreendidos com Bené são “troco”, considerando que sua gráfica produziu toneladas de impressos para o PT-MG.

FALTA GENTE NA CADEIA

A contundência dos depoimentos do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef à Justiça, sobre o esquema de corrupção que destinava dinheiro roubado ao PT, PMDB e PP, mostra que ainda falta meter muita gente graúda na cadeia.

PARTILHA DO AFANO

Segundo os depoimentos de ontem à Justiça, a quadrilha instalada na Petrobras entregou ao PT toda corrupção gerada pelas três principais diretorias da estatal: Exploração e Produção, Gás e Energia e Serviços.

FURANDO POÇO

Ao PMDB coube os negócios sujos prospectados na área Internacional da Petrobras. O PP ficou com a diretoria de Abastecimento, a que “fura poço”, na definição de Severino Cavalcante.

TUTTI BUONA GENTE

A diretoria de Gás e Energia da Petrobras era chefiada por um amigo do senador Delcídio Amaral (PT-MS), Nestor Cerveró, aquele que fez o Brasil pagar US$ 1,3 bilhão pela refinaria que valia US$ 42,5 milhões.

CONTA, CONTA

A gravação dos depoimentos dos delatores Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef deixa os brasileiros ainda mais ansiosos pelos nomes dos políticos picaretas que receberam o dinheiro roubado.

FELIZES DA VIDA

Foi barulhento o café da manhã, ontem, em Brasília, que reuniu o governador eleito de Pernambuco, Paulo Câmara, o senador eleito Fernando Bezerra Coelho, ambos do PSB. Eles gargalham à toa.

#FORAAMARAL

O PSB-PE negocia com o deputado Beto Albuquerque (RS) para lançar candidato pernambucano a presidente nacional da sigla contra Roberto Amaral, que ficou isolado na defesa de apoio a Dilma no 2º turno.

MAGOOU

Dirigentes do PSB acreditam que Marina Silva adiou apoio a Aécio Neves no 2º turno porque esperava ter sido consultada pelo partido antes da decisão. Ela queria ser a estrela.

PRISIONEIRO POLÍTICO

Com o detalhamento do assalto à Petrobras, Lula dirá agora que não só “não sabia de nada”, como também foi coagido.



PODER SEM PUDOR

TROFÉUS POLÍTICOS

Ex-senador, o pernambucano Ney Maranhão sempre guardou como autênticos troféus os jornais que publicaram sua foto, em 1969, ao ser preso pela ditadura militar, após ter cassado o seu mandato de deputado federal. Não o constrangia nem o detalhe de aparecer na foto vestido de presidiário:

- De jornal, eu admito tudo. Só não podem me chamar de corno, ladrão e frango. Senão, vão ter que engolir a página...