segunda-feira, novembro 28, 2011

É preciso celebrar as vitórias contra a corrupção - ALBERTO CARLOS ALMEIDA



REVISTA ÉPOCA


Para avançar no combate a alguma mazela, é sempre necessário criticá-la. Não menos necessário, porém, é reconhecer tudo o que já foi feito e o que já se conquistou. A ausência desse reconhecimento reproduz o mecanismo do mito de Sísifo: somos capazes de levar a pedra morro acima, até o pico; todavia, ao final de nosso esforço, a pedra rola ladeira abaixo, e temos de começar tudo outra vez. Devemos, não resta a menor dúvida, criticar a corrupção e aquilo que, nestes últimos tempos, vem sendo chamado de “malfeito”. Mas precisamos também reconhecer todos os avanços no combate a ambos. O leitor desavisado poderá ficar indignado e se perguntar: mas que avanços? Ora, não é por milagre que uma presidente demite ministros investigados pela Justiça e denunciados pela mídia. Investigação e denúncias sempre aconteceram, mas é a primeira vez que temos a sensação de que a combinação de ambas resulta na queda rápida de ministros. Alguma coisa vem mudando no Brasil.
Todos se lembram de Orestes Quércia. Eleito Senador por São Paulo ainda muito jovem, ele tinha imagem de dinâmico. Tornou-se governador também muito jovem e era, naquela ocasião, considerado favorito a se tornar presidente. Quércia foi candidato à Presidência e amargou um desempenho pífio na eleição de 1994. Aquele que algum dia foi uma grande promessa da política brasileira fora abatido por sucessivos escândalos de corrupção.
Paulo Maluf teve destino semelhante. Ficou muito distante a época em que Maluf conseguia ser eleito prefeito de São Paulo. Sempre que disputava uma eleição majoritária e ia para o segundo turno, era derrotado. Depois, nem sequer ia para o segundo turno e, em seguida, não tinha mais condição política de ser candidato a prefeito. Restou a ele, além de um mandado de prisão internacional que o impede de pisar em solo americano, um prêmio de consolação: ser um entre 513 deputados federais. Maluf, assim como Quércia, foi abatido pelos inúmeros escândalos de corrupção. Ambos foram devidamente punidos pelo eleitorado. Destino semelhante tiveram mais recentemente o ex-ministro dos Transportes, o ex-ministro do Turismo, o ex-ministro do Esporte e o ex-ministro da Casa Civil, deste governo e do passado. Todos, como Quércia e Maluf, exerciam sua carreira política, muitos em trajetória ascendente – e foram vitimados por investigações e sua divulgação pela mídia.
Poucos sabem, mas nada menos de 274 prefeitos eleitos em 2008 foram cassados como resultado de investigações de Tribunais Regionais Eleitorais, Tribunais de Contas ou mesmo da Justiça comum. É preciso fazer justiça com nossa Justiça: as instituições de controle têm atuado de maneira cada vez mais eficaz. Falta muito ainda para colocar um político comprovadamente corrupto atrás das grades. Mas já avançamos nessa direção. Esse dia está chegando.
Um grande avanço foi a aprovação, contra a vontade de muitos políticos e de acordo com a demanda da sociedade brasileira – algo que comprova a força de nossa democracia –, da Lei da Ficha Limpa. Plenamente aplicada a partir da eleição municipal de 2012, ela impede que políticos condenados em alguma instância jurídica colegiada disputem eleições. Isso diz respeito tanto à Justiça comum quanto aos Tribunais de Contas.
A Lei da Ficha Limpa tem uma aprovação social tão avassaladora que será aplicada, em alguns Estados e municípios, não apenas para cargos eleitorais, mas também para cargos de confiança e até mesmo como critério de veto para a carreira de servidor público. É bem possível que, dentro de alguns anos, todos os Estados e municípios brasileiros já a tenham adotado com tal finalidade. Há vários outros exemplos de como avançamos no combate à corrupção. Inúmeros prefeitos de capitais, governadores e ex-governadores vêm sendo condenados em seu Estado, seja por crime eleitoral, seja por mau uso de recursos públicos. Antes da Lei da Ficha Limpa, a CNBB tomou a iniciativa de propor e aprovar a Lei da Compra de Votos, que propiciou várias dessas condenações. Mais do que isso, a carreira de vários políticos cujas histórias não chegam à mídia também tem sido abatida por investigações e escândalos de corrupção.
Tais conquistas não são deste ou daquele governo. São conquistas da sociedade brasileira, em permanente interação com o sistema político. Não há mágica em processos sociais. A política britânica era extremamente corrupta no século XIX. A prefeitura de Nova York tinha conexões com a Máfia até a segunda metade do século XX. A política de Chicago, uma das regiões mais desenvolvidas dos Estados Unidos, sempre foi marcada por uma corrupção avassaladora, conhecida pelo eufemismo “máquina política”.
O combate à corrupção é resultado de um processo social complexo, em que interagem a sociedade (que precisa de níveis mais elevados de escolarização para realmente se opor à corrupção) e as instituições jurídicas de controle e punição. É um processo difícil e penoso, mas também não conhece retrocesso. Todos aqueles que estão empenhados em organizar e realizar as marchas contra a corrupção devem ir além, fazendo uma aliança explícita tanto com o sistema jurídico, reconhecendo e divulgando os avanços e as conquistas, quanto com a mídia, exigindo que ela continue a denunciar, mas que também informe leitores, ouvintes e telespectadores sobre o que já foi alcançado. Se isso não for feito, o movimento corre o risco de perder seu ímpeto, uma vez que seus participantes ficarão com a sensação de que nada melhorou e de que, portanto, são inúteis. É preciso ir às ruas. Mas também é preciso institucionalizar a demanda por menos corrupção. Isso é feito por dentro das instituições de controle. É imperiosa a necessidade de divulgar os feitos obtidos e afirmar que muito se alcançou no combate à corrupção. Não existe somente “malfeito”, existe também o “benfeito” no combate à corrupção. Se ele for reconhecido, divulgado e apoiado, avançaremos mais rápido.

Banco Central desenvolvimentista - MAÍLSON DA NÓBREGA


REVISTA VEJA

O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) desistiu de projeto que conseguira aprovar na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado que atribuiria ao Banco Central (BC) a tarefa de “promover o pleno emprego da economia”.

Mesmo assim, vale apontar a inocuidade da proposta e seus inconvenientes, pois muitos continuarão a defendê-la sob o equívoco de que o BC se preocupa apenas com a inflação. Daí a ideia de imitar aqui o Federal Reserve (Fed) americano, que tem o duplo mandato de “promover os objetivos de máximo emprego, e de preços estáveis e taxas de juros moderadas de longo prazo”.

O projeto arquivado dissertava sobre o óbvio. Qualquer banco central mira a inflação e o desenvolvimento. Esse duplo objetivo integra sua missão mundo afora, com ou sem lei específica. Preserva-se, todavia, a centralidade da inflação no exercício de sua função, que é promover a estabilidade de preços e do sistema financeiro, pré-requisitos essenciais ao desenvolvimento sustentado.

Os bancos centrais agem atentos a um “balanço de riscos”. De modo geral, se há risco para a inflação, a taxa de juros sobe. Se o risco for para o crescimento, assegurada a estabilidade, a taxa de juros cai. Se por algum motivo a inflação sobe demais, a preocupação com o crescimento econômico justifica um tempo maior – geralmente dois anos – para trazê-la de volta à meta, suavizando-se os respectivos efeitos sobre a atividade econômica.

As funções atuais dos bancos centrais são fruto de longo aprendizado, desde quando nasceram os primeiros: o Banco da Suécia (1668), o Banco da Inglaterra (1694) e o Banco da França (1800). Seu começo centrou-se nas finanças públicas. A criação do Banco do Brasil (1808) foi inspirada nessas experiências. Sua missão inicial era suprir moeda divisionária para apoiar o comércio do Rio de Janeiro. Depois, o BB passou a exercer funções de banco central, inibindo o surgimento do BC, que aconteceria somente em 1964.

No século XIX, o Banco da Inglaterra – que era uma instituição privada até 1946 – tornou-se emprestador de última instância para o sistema bancário. Baseado em ideia de Walter Bagehor, o editor da revista The Economist, o banco fornecia liquidez ilimitada, a custos punitivos, para bancos solventes cujos depositantes corressem para sacar seus depósitos. Essa viria a ser a razão básica da criação do Fed (1913).

Durante o padrão-ouro, o controle da inflação decorria do processo de emissão e recolhimento de moeda, que dependia do estoque do metal. Quando este baixava, a contração monetária podia causar elevadas perdas de renda e de emprego. Com o tempo e o fortalecimento dos sindicatos, isso ficou insustentável. O rígido padrão-ouro foi abandonado nos anos 30. A responsabilidade passou para as mãos do banco central. Daí a necessidade de sua autonomia operacional, que virou norma legal nos países ricos e na maioria dos emergentes. O objetivo é impedir o uso político-eleitoral do banco para promover irresponsavelmente o crescimento, à custa de mais inflação.

A ideia de estabelecer o duplo mandato para o Fed apareceu em 1945 com o projeto de uma Lei do Pleno Emprego. O projeto foi inquinado de socialista, diante de seu amplo intervencionismo. A grande justificativa era o retorno dos que haviam lutado na II Guerra, o que poderia elevar o desemprego. O receio se provou improcedente. Aprovou-se afinal a Lei de Emprego (1946) sem os seus excessos. O duplo mandato se tornou explícito em 1977.

O Fed informa habitualmente o Congresso e a opinião pública sobre o cumprimento do duplo mandato, quase sempre enfatizando sua autonomia. É o que se vê no didático discurso de 2007 proferido por Frederic Mishkin, então diretor da instituição. O Fed não sobrepõe o objetivo do crescimento ao da estabilidade.

A rigor, a explicitação em lei do duplo mandato do BC nada mudaria. Poderia, no entanto, estimular pressões políticas para que o banco promovesse a expansão insustentável da economia e reacendesse a fogueira da inflação. Bem fez o senador Lindbergh em desistir, mas é preciso ficar atento a propostas semelhantes.

A Fundação Sarney é nossa - GUILHERME FIUZA



REVISTA ÉPOCA
O Supremo Tribunal Federal recebeu uma ação contra a estatização da Fundação José Sarney. Não vai dar em nada. Se o próprio Sarney já foi estatizado, nada mais natural que sua Fundação siga o mesmo caminho.
A estatização de José Sarney ocorreu em 2009, quando se descobriu que ele usava o Senado como propriedade particular, através de atos secretos. O Brasil soube, o Brasil viu, o Brasil aprovou. Um estrangeiro desavisado perguntaria: como assim? Ele não perdeu o mandato? Seria constrangedor demais responder que ele não perdeu nem a presidência do Senado. Melhor explicar que Sarney se tornou estatal.
Se o Brasil sancionou as manobras privadas de José Sarney no poder público – fazendo do Senado uma extensão de sua casa, em prol dos parentes e amigos –, ficou combinado que entre a pessoa do Senador e o Estado brasileiro não há fronteira (nem divisória, nem cortina japonesa). Sarney é público. Por isso, nada lhe aconteceu também quando usou o helicóptero da polícia do Maranhão para ir descansar em sua ilha particular. Se o passageiro era estatal, o descanso também era.
Agora, o PPS quer questionar a estatização da Fundação José Sarney, transformada em Fundação Memória Republicana. O que deu no partido de Roberto Freire? Só pode ser inveja. Que mal pode haver em transferir ao contribuinte a conta da ONG umbilical de Sarney, que o ajuda na função social de eternizar a si mesmo em vida? O que o PPS tem contra a socialização das despesas da família Sarney, em prol da memória republicana?
O STF haverá de rechaçar esse ato impatriótico da oposição. Até porque já há jurisprudência clara sobre a matéria: no caso Agaciel Maia (ex-operador dos atos secretos), o Brasil decidiu, de uma vez por todas, que aquilo que é do Estado é de Sarney, e não se fala mais nisso. Se assim não fosse, como poderia a Fundação José Sarney ter recebido dinheiro da Petrobras a fundo perdido, em convênios de fachada?
Na ocasião, a Controladoria-Geral da União afirmou que houve desvio de verbas da estatal, mas estava enganada. A CGU não entende nada de patrimônio público. O que sai dos cofres da Petrobras para os cofres de Sarney não é desvio, é linha reta. Se a Petrobras é estatal, Sarney também é. Portanto, está tudo em casa. E se papai decidiu pegar uns vales pré-sal para Roseana e os meninos, isso é assunto deles.
O certo é que as crianças justificam amplamente o investimento. Roseana, governando o Estado que ganhou do pai, sancionou a lei que estatiza a Fundação Sarney. Uma joia de filha. Fernando amordaçou o jornal que insistia em se meter nos negócios da família – e que chegara ao cúmulo da deselegância ao bisbilhotar telefonemas dos Sarneys com o compadre Agaciel. Fernando acabou com a baderna, usando suas relações quase sanguíneas com o Poder Judiciário. Um filho estatal, a cara do pai.
O povo brasileiro deve estar orgulhoso de bancar toda essa memória republicana, que o Estado do Maranhão poderá preservar com os recursos que recebe da União. E os brasileiros não podem deixar de agradecer, mais uma vez, a Lula e Dilma. Graças a esses dois líderes progressistas, o símbolo da modernidade democrática que é José Sarney foi ressuscitado e anabolizado com os poderes mágicos da mitologia esquerdista. O enclave PT-Sarney é a consagração do paradigma da solidariedade: o Estado entregue aos companheiros, aos amigos e aos amigos dos amigos.
Bem que Lula e Dilma poderiam pedir a Sarney um cantinho na Fundação Memória Republicana para o companheiro Carlos Lupi. Esse exemplo de salvação da máquina pública, tirando o Ministério do Trabalho da vala comum dos interesses nacionais e trazendo-o para o aconchego do partido, com a devida drenagem de recursos para o projeto político que sustenta a companheira presidenta, não pode cair no esquecimento. A resistência de Dilma, Lula e Lupi aos ataques da imprensa burguesa – provavelmente invejosa por não ser ONG e ter de prestar conta de tudo – é um capítulo histórico da solidariedade republicana.
E, se não for pedir demais ao nobre Senador estatizado, será que dava para reservar uma portinha de armário na Fundação para os movimentos anticorrupção? A bondade deles para com o companheiro Lupi não pode ser esquecida jamais.

Caro amigo paraense - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO



REVISTA VEJA


No dia 11 de dezembro, você votará sim ou não à partição do Pará em três unidades. A proposta é que toda a metade oeste do atual estado se transforme no estado do Tapajós e a parte sudeste no de Carajás, continuando com o nome de Pará a região onde fica Belém e um pouco mais. Essa história de criação de novos estados, como você bem sabe, é controvertida. Chovem argumentos por todo lado, todos altamente especulativos e por isso altamente discutíveis. O que escapa à controvérsia é que se trata de ótimo negócio para os políticos, dada a orgia de novas instituições a criar, de novos cargos a preencher e de dinheiro a gastar. Tudo isso você sabe. O objetivo destas mal traçadas é falar de um personagem que depois de muitas peripécias, Brasil afora, agora apartou por aí, metido na campanha do plebiscito. O nome dele é Duda Mendonça. Gentilmente ele ofereceu seus serviços à causa separatista, ele que, se não vive no estado, pelo menos tem bois que vivem, na fazenda de sua propriedade no território candidato a virar Carajás. Oferta aceita, e ei-lo no comando da campanha do sim.

Todo mundo o conhece. Sabe de seus triunfos eleitorais, como mago do marketing, bem como do lado menos aprazível de réu no processo do mensalão. Já o que ele andou aprontando em eleições de São Paulo o amigo paraense não deve saber. Permita um breve relato. Na eleição de 1996 para a prefeitura de São Paulo, Duda Mendonça fez o marketing do candidato Celso Pitta. Quatro anos antes ele fizera o do mentor de Pitta, Paulo Maluf. Pitta era um político desconhecido. O marqueteiro julgou que a campanha necessitava de alguma pirotecnia. Saiu-se então com um trem voador, um mágico bólido que, suspenso em vias elevadas, catapultaria a cidade para um serviço de transporte até então só acessível à família Jetson. Nas animações para a propaganda na TV, ficou uma beleza. Para transformá-lo em realidade o custo seria assombroso, a logística complicada, a utilidade discutível, mas e daí? Importava ganhar a eleição. Celso Pitta ganhou.

E agora? Se ganhou embalado pelo trem, impunha-se fazê-lo. O novo prefeito começou a plantar vigorosos pilotis, altos, de 15 metros, ao longo do rio mais central da cidade, o Tamanduateí. Sobre eles seria construída a via ao longo da qual correria a engenhoca. Algumas centenas de milhões de reais foram investidos na obra, e ficou-se nisso. Pitta não passou dos pilotis iniciais. Lá ficaram eles, abobalhados e inúteis – um pressuposto de obra de engenharia tornado ruína no nascedouro. A sucessora de Pitta, Marta Suplicy, pensou no que fazer daquilo, pensou, pensou, e nada fez. O sucessor de Marta, José Serra, chegou a cogitar em destruir os pilotis. Depois pensou melhor, e resolveu aproveitar pelo menos os já existentes. A obra foi inaugurada, já na administração Gilberto Kassab, não mais como via de trens, mas como simples corredor suspenso de ônibus.

O amigo paraense não precisa conhecer todos os detalhes do sinistro episódio. A intenção é alertá-lo sobre o alcance que pode atingir uma marquetagem irresponsável – e a palavra “irresponsável” vai aqui no sentido puro de qualificar um agente que não responde por seus atos. O marqueteiro não foi eleito. Não tem função pública. Portanto, não lhe cabe responder por um ato da administração pública. E no entanto teve origem no capricho de um marqueteiro toda a sucessão de decisões e indecisões que resultou num corredor de ônibus suspenso: ao qual só se tem acesso subindo penosas escadas, desarticulado do geral do sistema de transportes urbanos, desestruturador da paisagem e na contramão do melhor urbanismo – que desaconselha as vias aéreas pelas cicatrizes que impingem às cidades e pela deterioração que produzem no entorno.

Duda Mendonça já foi de Paulo Maluf a Lula. Se um marqueteiro deve manter a coerência política, é algo que escapa a este missivista. É curioso, em todo caso, lembrar que nos anos 1980 ele esteve à frente da campanha que se opunha a um projeto de divisão do estado da Bahia. Um texto por ele composto, e que era lido por Maria Bethânia na TV, afirmava que dividir a Bahia era como separar o Jorge do Amado, o Dorival do Caymmi, o Rui do Barbosa, o Gilberto do Gil. Já separar a Fafá do Belém, o Paulo Henrique do Ganso, o Billy do Blanco e o Jayme do Ovalle, isso pode. Em São Paulo, ao arriscar-se no urbanismo, Duda Mendonça deixou sua marca indelével no ônibus pendurado à beira do rio. Agora se aventura na engenharia política e calca a mão pesada no mapa do Brasil. Leve isso em conta, amigo paraense.

Ele pegou mais do que podia - REVISTA VEJA


REVISTA VEJA

Uma fortuna inexplicável de 60 milhões de reais e uma amante sul-mato-grossense derrubam conselheiro do Tribunal de Contas de São Paulo, afastado do cargo em decisão inédita da Justiça

Laura Diniz

Até 2007, o ex-deputado estadual Eduardo Bittencourt Carvalho levava um vidão. Indicado em 1990 conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) de São Paulo pelo ex-governador Orestes Quércia, ele tinha emprego vitalício, um salário gordo e muito poder. Os conselheiros dos TCEs são responsáveis por fiscalizar a aplicação do dinheiro público e a lisura dos contratos do Executivo, e, nessa condição, podem embargar obras, suspender licitações e reprovar prestações de contas dos políticos, entre outras coisas. Na esfera familiar, não era diferente. Bittencourt tinha um casamento sólido, um respeitável círculo de amigos, um patrimônio invejável e uma prole volumosa. Era um exemplo de cidadão. Quatro anos depois, tudo isso ruiu. Hoje, se a vida do conselheiro serve de exemplo para alguma coisa, é para mostrar que tudo o que está ruim pode piorar.

Os problemas de Bittencourt começaram quando a imprensa revelou que ele empregava os cinco filhos como funcionários de seu gabinete no TCE. Dias depois, um ex-assessor procurou o Ministério Público para contar que os filhos do conselheiro recebiam sem trabalhar. Ruy Imparato, o acusador, trabalhava com Bittencourt desde quando ele era deputado, na década de 80. Durante boa parte desse tempo, relatou ao Ministério Público, em vez de atuar no gabinete, trabalhava na casa do chefe, fazendo pequenos serviços. Disse ainda que ficava com apenas 30% do seu salário – o resto ia para o bolso de Bittencourt. Por fim, Imparato (que foi demitido depois de se recusar a continuar entregando parte do salário ao patrão) revelou ao MP que, no Tribunal de Contas, Bittencourt recebia propina em dinheiro vivo para aprovar contratos irregulares entre prefeituras e empreiteiras. As denúncias provocaram a abertura de um inquérito.

No mesmo período, a vida pessoal do conselheiro mergulhou nas trevas. Sua mulher descobriu que ele tinha uma amante. Com um salário de 17 000 reais, Jackeline Paula Soares, 35 anos mais nova que Bittencourt, havia sido nomeada assessora técnica do TCE, embora de seu currículo constassem apenas alguns ensaios sensuais para revistas e sites da internet. Trazida de Mato Grosso do Sul, ela foi instalada em um apartamento no caro bairro dos Jardins. O conselheiro cobriu-a de presentes, entre os quais joias e um carro. Sua mulher pediu o divórcio.

Mas a ruína de Bittencourt estava apenas começando. No processo de separação, ele ofereceu à mulher uma pensão mensal equivalente a um quarto do seu salário bruto como conselheiro, 4000 reais. Ela se enfureceu e mandou registrar nos autos que “a família Bittencourt faz parte da elite paulista e se encontra, certamente, entre as mais abastadas da capital”. Acrescentou que só as suas despesas pessoais eram da ordem de 50 000 reais por mês. O ex-marido, portanto, estava sendo sovina, já que tinha muito mais dinheiro do que declarava.

“Os ganhos do senhor Eduardo não se resumem aos valores por ele percebidos como Conselheiro do Tribunal de Contas de São Paulo (R$ 16 045,10) e deputado aposentado (R$ 3 786,78)”, registrou. Diante da ofensiva da ex-mulher, Bittencourt tentou um contra-ataque na tentativa de diminuir o prejuízo. Fez juntar ao processo fotos tiradas por um investigador particular, ainda durante o casamento, que mostram a mulher com um amante em Miami. De nada adiantou. Ela saiu do casamento com 5 milhões de reais em dinheiro, um apartamento no Guarujá e quatro outros imóveis em São Paulo.

Com uma cópia do processo de divórcio em mãos, o Ministério Público vasculhou as contas de Bittencourt no Brasil e no exterior e descobriu que, ao longo das duas décadas em que permaneceu como conselheiro no tribunal, ele amealhou cerca de 60 milhões de reais, parte dos quais trafegou por anos numa offshore das Ilhas Virgens Britânicas e em contas no Lloyds Bank dos Estados Unidos.

Na semana passada, a pedido do procurador-geral de Justiça Fernando Grella, Bittencourt foi afastado do cargo de conselheiro do TCE e teve todos os seus bens e contas bancárias bloqueados pela juíza Márcia Bosch. Ele também é alvo de um inquérito no Superior Tribunal de Justiça que apura enriquecimento ilícito. Investigado, com a fortuna congelada, sem cargo e separado da mulher, está também rompido com uma de suas filhas, que, a exemplo do ex-assessor, procurou o Ministério Público para acusá-la de ter patrimônio incompatível com o rendimento. Jackeline, a amante que ele presenteou com carro, joias e o apartamento nos Jardins, também está com os bens e as contas bloqueados. Por enquanto, os dois continuam juntos. Mas como tudo o que está ruim pode piorar...

Pré - sal, ciência, tecnologia e educação - SERGIO MASCARENHAS



O ESTADÃO - 28/11/11Enquanto governadores, deputados e senadores brasileiros se engalfinham num cabo de guerra político pela partilha federativa dos recursos a serem gerados com a exploração do petróleo da cama da pré- sal, vai passando quase despercebida e mais uma vez negligenciada a oportunidade histórica de o País garantir o uso desses recursos para dar um salto inédito e há muito necessário nas áreas de ciência, tecnologia e educação.
Se não bastasse atentar para a dívida humana e social que representa o atraso brasileiro nos indicadores de desempenho educacional e nos rankings internacionais de pesquisa e desenvolvimento, vale notar que nenhum país poderá ter um real desenvolvimento, neste século, sem um programa robusto de impulso à inovação que passe,também, pela inclusão intelectual das novas gerações.
Um verdadeiro plano de desenvolvimento da ciência, tecnologia e educação no Brasil não poderá ser feito só com protocolos de intenções, redução da burocracia e fomento pontual a programas e instituições de excelência. Nosso problema não é a falta de instrumentos, é de recursos. Numa palavra, é preciso destinar mais dinheiro, muito mais dinheiro, para que o País possa irrigar essa cadeia de capital humano que começa nas creches, passa pelo ensino fundamental e médio até chegar nas universidades, programas de pós - graduação e centros de inovação associados a empresas capazes de aplicar tecnologias inovadoras na geração de riqueza.
A própria competência para explorar o petróleo do pré-sal e os serviços dele derivados, com autonomia e inteligência, em médio e longo prazos, depende da constante renovação e evolução dessa cadeia intelectual. Nunca o País precisou tanto de engenheiros, geólogos, físicos, químicos, cientistas da computação,matemáticos,entre tantos outros profissionais cujo talento e formação se empregam em todas as etapas de geração e aplicação do conhecimento.
E não basta dar a esses futuros profissionais um diploma de nível superior. Será preciso, sim, investir na qualidade dessa formação, de modo que sejam dadas as condições para que possam inovar, gerar novas técnicas, processos e produtos intelectualmente apropriáveis e sustentar uma continuada e acirrada competição tecnológica com seus colegas norte-americanos, europeus e asiáticos.
Nas últimas décadas, os ciclos de produção e aplicação do conhecimentos e encurtaram, levando a uma convergência temporal entre ciência e tecnologia. Enquanto foram necessários 40 anos desde o estabelecimento das leis da eletricidade e magnetismo até o funcionamento do motor elétrico, a tecnologia mais recente da luz laser, por exemplo,já encontrou utilidade no mesmo ano de seu invento.
Cada vez mais, produtos, processos e serviços tecnológicos têm vida curta, pressionados por um novo ciclo de inovação dentro de uma economia globalizada e com competitividade acelerada.
Vale então perguntar: em que, exatamente, o Brasil tem se mostrado inovador? Até hoje, não temos um único Prêmio Nobel, nem científico nem literário. Se quisermos comparar, basta lembrar que a Universidade Rockefeller, de Nova York, sozinha,já recebeu 26 deles, e o mais recente na área da medicina. O fato é que nossos jovens nunca foram de vida mente educados para uma cultura baseada em ciência e tecnologia.
Basta olhar em torno. Campos de pelada há em todo lugar, do centro às periferias. Carnaval fora de época, quase todo fim de semana. Já museus de ciência, planetários e bibliotecas são raros, e parecem cada vez menos procurados, assim como a própria carreira de professor, como mostrou estudo recente da Fundação Carlos Chagas.
Para mudar isso,ciência e tecnologia precisam impregnar o sistema educacional. Nossa inovação deveria começar pelos métodos e processos de ensino. Ainda estamos longe da "escola parque" sonhada por Anísio Teixeira. Nossos redutos de educação ainda respiram um ar cartorial, com estruturas engessadas, onde a tecnologia é mal - empregada e crescemos impulsos ao bullying e à violência.
Nesse ambiente, os professores vivem uma espécie de síndrome de quatro medos: o medo do aluno o medo do seu próprio desamparo pedagógico, o medo do conhecimento avassalador que jorra pela internet e o medo do futuro de sua carreira, desprezada não só pelo Estado, mas também pelos sistemas privados, com salários irrisórios e cargas didáticas intensas.
Mas não estamos perdidos. Há diversos bons exemplos de como virar esse jogo espalhados pelo Brasil.Um deles é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),que aproximou a ciência e tecnologia do agronegócio nacional.
Ainda falta popularizar a banda larga, informatizar escolas, disseminar o uso de computadores pessoais, criar centenas de museus e centros de ciência, promover o uso cívico das redes sociais e a produção de conteúdos educativos por agências multimídia, entre outras propostas que tive a oportunidade de apresentar durante a 4.ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, em 2010, em Brasília.
Agora, nossas esperanças repousam na angustiada solicitação da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) para que parte dos recursos do petróleo do pré - sal seja destinada, em lei, para esses urgentes investimentos em ciência, tecnologia e inovação, formando o alicerce do desenvolvimento futuro do País. A meta deve ser, no mínimo, duplicar o volume de recursos investidos ao ano nessas áreas.
Esse, sim, seria um verdadeiro salto de desenvolvimento do Brasil.

FÍSICO, PRESIDENTE HONORÁRIO DA SBPC, MEMBRO TITULAR DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS, É PROFESSOR EMÉRITO DO INSTITUTO DE FÍSICA DE SÃO CARLOS, DA USP

GOSTOSA


Os truques de Chávez - EDITORIAL O ESTADÃO



O Estado de S. Paulo - 28/11/2011


O governo do caudilho Hugo Chávez - que além de autoritário é desastrado - resolveu jogar a culpa pela inflação que devasta a economia da Venezuela, já chegando a 27,7% em 12 meses até outubro, segundo analistas independentes, sobre os ombros dos fabricantes de 20 produtos básicos de consumo, congelando seus preços a partir de 2012. Entre esses produtos estão alimentos diversos e artigos como pasta de dentes, água mineral e detergentes, em sua maioria importados. Quanto aos produtos fabricados na Venezuela, os seus fabricantes passarão por uma auditoria para "evitar a especulação" e "dar aos produtos o preço justo", como anunciou Hugo Chávez. Se porventura o caudilho venezuelano fosse capaz de aprender o que quer que seja, saberia que congelamento de preços não funciona em lugar nenhum, nem em economias de livre mercado nem em economias centralmente planejadas. É o que mostra sobejamente a experiência histórica, e é o que se constatará no proclamado "socialismo do século 21".

A medida é mais uma evidência do desastre a que Chávez levou a economia da Venezuela, que mal vem se recuperando em 2011 de dois anos seguidos de recessão (queda do PIB de 3,3% em 2009 e de 1,4% em 2010).

Nos últimos anos, a inflação naquele país tem ficado sempre acima de 25% e, com o congelamento, os índices oficiais de preços poderão ser manipulados à maneira argentina - ou seja, para que o governo possa exibir o resultado mais conveniente, do ponto de vista eleitoral. Mas o expediente só aumentará o descompasso existente entre a inflação oficial (22,7% no período anual até outubro, segundo o Banco Central de Venezuela) e a medida por fontes independentes.

Em nome do que ainda resta do setor privado na Venezuela, o presidente da entidade empresarial Fedecámaras, Jorge Botti, depois de ponderar que "a estabilidade dos preços não pode ser obtida com controle, mas com políticas econômicas assertivas", disse que a entidade estuda a possibilidade de entrar com ações judiciais contra o decreto de congelamento, que se baseia em uma lei de 2003. Como Chávez tem poderes excepcionais e comanda o Judiciário, essas ações não terão mais que um efeito simbólico.

Quase toda a economia venezuelana - indo de instituições financeiras a estabelecimentos de varejo - já está sob o controle do governo. E é previsível que, depois da auditoria prevista em empresas que terão seus preços congelados, o governo decida também estatizá-las. O resultado dessa aventura já é conhecido pelos venezuelanos e somente se agravará no futuro: o desabastecimento, seguido de prósperas atividades de câmbio negro dos produtos constantes da tabela de preços congelados, a ser divulgada dentro de um mês.

Segundo Karlin Granadillo, diretora da Superintendência Nacional de Custos e Preços Justos (Sundecap) - a Sunab local -, "há uma disparidade importante de preços na Venezuela em comparação com o exterior", o que seria evidência de "uma carga especulativa muito forte". Mas não foi divulgada qual é a taxa de câmbio nem o índice de inflação tomados para esse cálculo, para não falar do volume da oferta em relação à demanda. E o desabastecimento já é grave, obrigando os consumidores a enfrentar filas para comprar produtos em falta, como azeite e açúcar.

Em sua auditoria de custos, a Sundecap não levará em conta custos indiretos, como os decorrentes das incertezas jurídicas e econômico-financeiras geradas pela socialização progressiva dos meios de produção, nem as ineficiências dos setores já estatizados e que se projetam sobre o conjunto da economia nacional.

Como de hábito, Hugo Chávez tentará mascarar as consequências perversas de sua incapacidade gerencial. Não se afasta, por exemplo, a possibilidade de o governo subsidiar os produtos básicos de consumo ou de valorizar o bolívar fuerte em relação ao dólar para baratear os importados. Em ambos os casos, isso afetaria o déficit orçamentário, que já chega a 5,1% do PIB.

O fato é que o congelamento é um embuste. O caudilho acredita que, mantendo os preços artificialmente congelados por algum tempo, será mais fácil ganhar as eleições presidenciais de dezembro de 2012.

Mazelas - próprias e adquiridas por contágio - MARCELO DE PAIVA ABREU




O ESTADÃO - 28/11/11


A leitura das páginas econômicas dos jornais tem suscitado depressão similar à que tradicionalmente acompanha a leitura das páginas policiais ou das peripécias do último ministro corrupto em busca de explicações sobre viagens gratuitas em aviões particulares e multiplicações patrimoniais inusitadas.

O mundo econômico está em chamas. A Europa, em meio a uma crise paralisante que ilustra de forma contundente as dificuldades que cercam a ação coletiva.

A dupla de timoneiros conservadores, Merkel e Sarkozy, atolada em hesitações, tem tido total insucesso em interromper o contágio que vem afetando toda a periferia da zona do euro. A ponto de,agora, a contaminação afetar a avaliação que os mercados fazem da França e, até mesmo, da própria Alemanha. Dificilmente nas ruminações hegemônicas germânicas no passado terá sido a ventado o cenário atual no qual, em qualquer desenlace, o grosso da conta será pago por quem se senta à cabeceira. Não é bem a hegemonia imaginada por Bismarck ou pelo Terceiro Reich. É uma situação em que o melhor cenário será a Alemanha pagar a conta e, simultaneamente, assegurar o efetivo controle fiscal dos membros da zona do euro. E, ao mesmo tempo, lamentar-se quanto à sua imprevidência sobre a possibilidade de ocorrência da orgia fiscal mediterrânea e aos custos do exercício da liderança.

Não é que os críticos de "Merkozy" pela esquerda tenham qualquer ideia que se salve sobre como enfrentar a ameaça de derretimento do euro.

Embora os governos de esquerda estejam sendo sucessivamente massacrados nas urnas - bunga bunga à parte -, o clima dominante globalmente é de protesto ao estilo do "ocuppy Wall Street", versão edulcorada da"chienlit" gaullistade1968.Os analistas de esquerda não vão além de ideias realmente muito velhas. Boa ventura de Sousa Santos, alto sacerdote coimbrão da heterodoxia econômica, por exemplo,decreta,em jornais brasileiros, a morte da OMC e defende que "os lugares de consumo coincidam com os lugares de produção".

Terá saudades das pragmáticas do Conde de Ericeira, atrasando o relógio mais de três séculos...

Nos EUA, em contraponto, o impasse é de outra natureza: a rivalidade partidária paralisa a tomada de decisões sobre a adoção de políticas que facilitem a retomada do crescimento. Como pano de fundo, as primaveras árabes adquirem prematuros tons invernais.

Na vizinhança mais próxima do Brasil, a Argentina, a despeito da consagração nas urnas do neoperonismo recauchutado, mostra sinais de clara fadiga com sua combinação peculiar de subsídios generalizados, penalização de exportadores eficientes,falsificação de índices de preços e coação da imprensa independente.

O regozijo brasileiro como fato de estarmos evitando o atoleiro global deve ser muito comedido.

A recorrência da crise global num cenário de desgraças cumulativas poderá afetar de forma decisiva o desempenho econômico do Brasil, tanto diretamente quanto indiretamente, via seus efeitos sobre a economia chinesa, a atual locomotiva do crescimento brasileiro.

Especialmente quando o Brasil enfrenta uma coleção de dificuldades que lhe são específicas.

O Brasil tem fracassado na tentativa de elevara taxa de poupança para que seja possível pensar em crescer talvez de forma sustentadaa4,5% ao ano. A alternativa seria perpetuar a dependência de poupança externa e expor-se ao risco de choques externos. E há pelo menos duas agravantes relacionadas à insuficiência de poupança que têm impacto relevante sobre o custo dos investimentos.

O governo tem demonstrado singular inépcia na formulação e gestão dos grandes projetos de investimento, especialmente na área de infraestrutura. Além disso, a política comercial brasileira tem mostrado ser o pior lado da política econômica na gestão Rousseff, aumentando a proteção e criando parafernália regulatória quanto ao conteúdo nacional de equipamentos, especialmente na área de energia. Estão criados os incentivos para que se perpetue a produção de bens de capital a preços muito acima dos praticados no mercado mundial e se consolidem os habituais lobbies rentistas.

O governo brasileiro gasta muito e mal. O aumento persistente de gastos - nem sempre registrados adequadamente nas contas públicas - tem sido possibilitado pela expansão da carga tributária.

É difícil vislumbrar um cenário em que o governo controle os seus gastos e volte a gerar poupança pública significativa. E mais, a despeito de carga tributária típica de economia madura, os gastos estão indevidamente concentrados em despesas correntes injustificáveis e os serviços providos pelo governo são de baixa qualidade.

Embora, em alguns casos, como educação, esteja havendo lenta progressão rumo à decência, há ainda enorme complacência quanto ao atraso brasileiro em relação a muitos outros indicadores.

O atraso em relação a serviços como saneamento, saúde e justiça é imenso, e o nível de consciência coletiva sobre as inadequações, extremamente reduzido.

No caso do funcionamento da Justiça, por exemplo, a situação é particularmente grotesca, com a combinação de morosidade com prazos de prescrição generosos, resultando em garantia de impunidade.

Mesmo sem recorrência da crise global, há muito a corrigir.

Com crise global, o espaço para correções ficará muito limitado.

Vai ser ainda mais difícil que o gigante acorde de seu torpor. Mesmo com as promessas do pré-sal.

DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE, É PROFESSOR TITULAR NO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO

A crise segue... lá fora - PAULO GUEDES


O GLOBO - 28/11/11



É visível o agravamento da crise europeia. Estão bloqueadas as três rotas de fuga convencionais. Dinheiro farto como pratica o Federal Reserve americano, nem pensar, pois são os alemães que controlam o Banco Central Europeu. Desvalorizar moedas nacionais, não há como, pois não mais existem. E recorrer a uma expansão contracíclica de gastos públicos é impossível, pois a irresponsabilidade financeira da social-democracia europeia literalmente quebrou seus governos.

A piora do ambiente externo aumenta as incertezas quanto ao futuro desempenho da economia brasileira. Mas não somos uma folha ao vento da globalização. Temos um mercado interno de dimensões continentais, que sempre nos permitiu uma dinâmica própria de crescimento. Temos recursos naturais abundantes, do minério ao pré-sal; muita terra e água sobrando, que nos dão comida barata e energia limpa; uma demografia extraordinariamente favorável para as próximas três décadas; e o mundo nos oferece dinheiro barato e novas tecnologias acessíveis enquanto parou para conserto.

Uma importante questão é nossa vulnerabilidade à deterioração do macroambiente externo. Na dimensão financeira, em que medida a persistência da crise bancária europeia em torno da dívida soberana poderá atingir os canais de crédito para o Brasil, como ocorreu em 2008-2009? É fato que a rápida desalavancagem de bancos americanos e europeus e o colapso dos títulos de dívidas soberanas ameaçam seriamente as finanças ocidentais. Mas o Brasil já desalavancou seu sistema financeiro quando saiu do turbilhão inflacionário. E tivemos também de controlar os níveis de endividamento do setor público. Por isso têm resistido ao contágio os canais de crédito internacional ao Brasil. A menos que ocorra uma completa implosão do sistema financeiro europeu, devem permanecer moderados os efeitos da crise sobre a economia brasileira.

E quanto aos receios de queda dos preços de commodities pela desaceleração da China? A verdade é que o afundamento do preço do dólar se tornara um fator de desindustrialização. Uma queda moderada nos preços de matérias-primas - e o consequente aumento da taxa de câmbio - desagradaria aos turistas brasileiros, esfriando nossas compras de imóveis em Miami. Mas devolveria alguma competitividade às indústrias brasileiras de automóveis, aço, calçados, têxteis, móveis, manufaturados, turismo. A crise segue lá fora.

Ar mais respirável - GEORGE VIDOR


O GLOBO - 28/11/11



Em janeiro as refinarias da Petrobras começam a produzir o óleo diesel S50 para caminhões com nova geração de motores (euro5) que vão estrear no mercado apenas em março. Mesmo assim, cerca de três mil postos em todo o Brasil precisam estar preparados para atender a esses veículos, que somente poderão ser abastecidos com o S50, óleo diesel menos poluente, porém mais caro.

Caminhões com motores antigos não terão problemas se utilizarem o S50, mas não haverá ganho relevante na emissão de partículas poluentes, que diminuiria em menos de 10%. Já a combinação dos motores novos com o diesel S50 reduz a emissão em mais de 80%.

Em 2013, as refinarias da Petrobras produzirão também o S10, hoje o óleo diesel "mais limpo" do mercado.

Temporariamente, tanto uma parte do óleo, quanto da gasolina, virão do exterior. A Petrobras exportava 50 mil barris diários de gasolina e agora tem de importar cerca de 30 mil, porque o consumo do combustível tem crescido ao ritmo anual de 18% em decorrência da falta de etanol.

Quando as futuras refinarias entrarem em operação (a Abreu Lima, em Suape, está com 47% das obras concluídas, e o Comperj, 25%) é que essas importações deixarão de ocorrer.

A Chevron já havia perfurado 30 poços no Campo de Frade (Bacia de Campos). Os técnicos do setor não entendem como, em um poço que apenas injetaria água para pressionar a retirada de petróleo, a empresa pode ter cometido tamanho erro técnico, que resultou no vazamento. O desgaste de imagem que a empresa sofreu compensa a redução de custo que ela tentava obter com o método utilizado na perfuração do poço? Fica a lição para toda a indústria petrolífera que atua no país.

O ar ficará mais respirável também no conjunto da economia brasileira esta semana, após a muito provável redução da taxa de básica de juros pelo Copom em 0,5 ponto percentual.

O Brasil tem 46,6 milhões de pessoas assistidas por planos de saúde privados, ou seja, 24,4% da população, segundo o último levantamento da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O mais elevado índice de cobertura é o de Vitória (75%), seguido por São Paulo (59%), Rio (55,3%), Belo Horizonte (54,8%), Curitiba (42,4%), Porto Alegre (49,4%) e Florianópolis ( 49,1%).

Por estado, São Paulo (44,5%), Rio de Janeiro (37,4%) e Espírito Santo (31,4%) têm os mais elevados índices de cobertura por planos de saúde privados.

Nas regiões metropolitanas, a Grande São Paulo (53%), a Grande Vitória (46,9%), o Grande Rio e a Grande Belo Horizonte (ambas com 42%) estão no topo da lista.

No interior do país, os planos de saúde estão menos presentes, atendendo a 18,7% da população. Os mais elevados índices de cobertura estão no interior de São Paulo (39,1%), Espírito Santo (26,8%), Rio de Janeiro (25,7%), Santa Catarina ( 22,3%) e Minas Gerais (20,9%).

Tais índices e números não incluem os planos puramente odontológicos

Com a perspectiva de envelhecimento progressivo da população - a idade média dos brasileiros hoje é de 31 anos - a questão do atendimento à saúde está se tornando cada vez mais crucial.

Por isso, desde já, a ANS está estimulando as pessoas a se envolverem em programas de prevenção e vida saudável. As regras atuais da agência permitem que os participantes que comprovadamente façam essa prevenção obtenham descontos em suas mensalidades ou nas contrapartidas que estão obrigados a pagar em planos coletivos.

A ANS também está bem avançada nos estudos feitos juntamente com a Superintendência de Seguros Privados (Susep) para encontrar uma fórmula que estimule os jovens a aderir a planos de saúde. O objetivo é que as contribuições feitas, quando jovens, os beneficiem quando eles envelhecerem.

E quanto mais jovens contribuindo para os planos de saúde, maior é a possibilidade de se reduzir o valor médio das contribuições, considerada ainda muito alta no Brasil.

O grupo Porcão, que agora pertence a um fundo de investimento privado, tem metas bem ambiciosas. Espera se tornar a maior rede de churrascarias do mundo, a partir de um crescimento no próprio Brasil, impulsionado pelos megaeventos programados para o Rio. Em 2010, mesmo fechando uma de suas casas de grande movimento na Barra, para transferi-la de lugar, e sem fazer alarde, o grupo (que também é dono do Galeria Gourmet e do Garcia e Rodrigues) cresceu 18%. Agora chegou a hora de pôr o pé no acelerador. Para 2012 está programada a abertura de 20 novos restaurantes, pelo menos. O Porcão estará presente em todas as capitais onde haverá jogos da Copa do Mundo. Em shopping centers, abrirá filiais do Porcão Gourmet (substituto do Galeria Gourmet), mais voltadas para almoços executivos, com valor médio de R$60 por cliente. O Garcia e Rodrigues se dedicará ao que faz de melhor (pães, guloseimas, frios, café da manhã, lanches), reabrindo, primeiro no Leblon, e depois se estendendo a outros locais, inclusive com franquias. Mas o carro chefe do grupo - churrascarias com opções de saladas, peixes e comida japonesa - ficará sempre sob controle próprio, incorporando novidades (sobremesas do Garcia, vinhos produzidos sob encomenda, começando pelos do Alentejo, em Portugal). Essa nova fase começará com um réveillon na mais famosa das casas do grupo, o Rio"s, para mil clientes na parte interna do restaurante e mais mil na externa.

Curiosidades: a rede emprega 1.500 pessoas, procurando fidelizar churrasqueiros, cozinheiros, maîtres e passadores (os garçons que "passam" com os espetos servindo as carnes); no Porcão que substituirá o Garcia original no fim do Leblon haverá uma adega de dois andares; as carnes (150 toneladas por mês) representam 90% do custo da matéria-prima dos restaurantes; os clientes gastam, em média, R$150 no Porcão.

Um erro - ALON FEURWERKER



Correio Braziliense - 28/11/2011


Os ministros herdados pela nova presidente, ou alguns deles, vêm cometendo um erro de avaliação. O cenário da guerra com Luiz Inácio Lula da Silva era um, com Dilma Rousseff é outro



Há certa rotina quando aparecem acusações de corrupção contra políticos. Os adversários apressam-se para condenar, enquanto os aliados correm a acusar o que chamam de denuncismo.

Aliás, uma definição algo humorística para a dualidade é considerar que denuncismo são as denúncias lançadas contra nossos aliados enquanto denúncia é o denuncismo praticado contra nossos adversários.

Uma piada que merece ser levada completamente a sério.

É o teatro da política, com seus atores. Quando é contra adversários, uma revelação, uma palavra de ministério público, um relatório de tribunal de contas, um depoimento, tudo serve como prova definitiva.

Quando é contra aliados, exige-se o trânsito em julgado, a sentença da última instância, a presunção pétrea de inocência, o in dubio pro reo.

Quando é contra adversários, exalta-se a independência do Legislativo como esfera de fiscalização do Executivo. Quando é contra aliados, exerce-se a maioria parlamentar para trancar a porta às investigações.

Em nome da governabilidade. Para evitar a indesejável politização de algo que deveria correr apenas na esfera jurídica.

São scripts manjados, estão aí desde que o mundo é mundo.

Como equilibrar-se na gangorra? Não há solução simples. Os princípios jurídicos estritos não se aplicam à política.

Não dá para defender, como regra, manter no cargo o político acusado até que a instância judicial definitiva se pronuncie. E não dá para estabelecer que a qualquer acusação implique remover o acusado.

A verdade, como de hábito, costuma estar em algum ponto intermediário. Mas como localizar o ponto de equilíbrio na política? Infelizmente (ou felizmente, vai saber...) ele é definido pela relação de forças, pela disposição dos exércitos.

Disposição em ambas as acepções. Distribuição e vontade de combater. E, como em toda guerra, a vontade de lutar aumenta conforme a chance de vitória. E o contrário também vale.

Os ministros herdados pela nova presidente, ou alguns deles, vêm cometendo um erro de avaliação. O cenário da guerra com Luiz Inácio Lula da Silva era um, com Dilma Rousseff é outro.

Lula começou o governo centralizando poder, mas a crise desencadeada pelas acusações de Roberto Jefferson obrigou-o a acelerar a descentralização. E esta transformou-se em fonte de poder presidencial, pela blindagem propiciada.

Já Dilma precisaria buscar poder desfazendo o que Lula fizera. Para governar, retomar o controle do próprio governo, desfazendo feudos e dissolvendo bolsões de autonomia orçamentária.

Eis por que a relação de forças é desfavorável aos ministros que entram na linha de tiro.

Enquanto a periferia do governismo busca desvendar as conspirações e acusa quem aponta o dedo para os problemas chamados éticos, o governo propriamente dito, especialmente a presidente, surfa na onda.

De vez em quando precisa moderar o ritmo, para dar alguma satisfação ao público interno, mas nada além disso.

A aliança de Lula era com os partidos e contra um certo pedaço da opinião pública. Já Dilma cultiva as relações com os antigos adversários de Lula, para limitar o poder do entorno. Mas sem romper com o entorno.

O dilmismo deseja o melhor dos mundos. Manter o arco de alianças construído por Lula e neutralizar os focos de crítica. Daí que pareça governar sem oposição.

Aposta
O governo aposta no mercado interno para superar a pasmaceira decorrente das dificuldades econômicas europeias, que terão impacto global. Já vêm tendo.

A aposta é a de costume. Ampliar crédito, proteger setores econômicos, apoiar-se numa certa autarquização.

Faz sentido, desde que a linha inclua mecanismos para aumentar radicalmente a competitividade da economia brasileira, nossa capacidade de buscar mercados.

Pois um dia a crise vai passar e é preciso saber como vamos estar então. Se estaremos prontos a disputar com vantagem os espaços numa economia mundial relançada.

Pelo menos na indústria, o cenário está longe de ser animador.

Saquê no samba - MARCIA PELTIER



JORNAL DO COMMÉRCIO - 28/11/11



Com 100% de suas ações nas mãos dos japoneses do grupo Kirin desde o início de novembro, nem por isso o carnaval da Schincariol sofrerá modificações em fevereiro de 2012. Estão garantidas as verbas para os carnavais de Salvador e Pernambuco, além do camarote da Devassa na Sapucaí. Fica a dúvida: será a próxima musa loura e ousada da cervejaria uma sansei?

Carnaval chique

Quanto aos bailes produzidos pelo quarteto Alexandre Accioly, Ricardo Amaral, Bernardo Amaral e Luiz Calainho, também serão bancados pela cervejaria, mas não mais terão o naming rights da Devassa. Isso porque passarão a ter a chancela da Prefeitura e levarão o nome de Bailes do Rio. O local muda: deixam de acontecer nos Armazéns do Pier Mauá e se fixam no Jockey Club, na Gávea. Para alívio de quem temeu pelo patrimônio do clube, os salões tombados permanecerão fechados: as seis noites de folia serão realizadas numa tenda, no gramado, com cenografia de Abel Gomes. A Feijoada do Amaral está mais do que certa.

Sem ressentimentos 

A presidente Dilma Rousseff irá comparecer à cerimônia de posse do segundo mandato da presidente argentina Cristina Kirchner, dia 10 de dezembro. Cristina não veio à posse de Dilma, pois havia ficado viúva de Néstor em outubro do ano passado, e preferiu passar o Ano Novo com sua família.

Perseguição 

Chega ao Brasil Deus é Vermelho, do jornalista chinês Liao Yiwu, que reúne 18 entrevistas feitas entre 2002 e 2010 com cristãos chineses em busca da liberdade religiosa no país comunista. Um dos relatos é de uma freira de 100 anos que ainda luta para retomar o terreno da igreja confiscado pelo governo. Autor do poema Massacre, sobre o confronto na Praça da Paz Celestial, em 1989, Yiwu foi condenado a quatro anos de prisão pela obra. 

Fogos virtuais 


André Ramos e Bruno Chateaubriand desistiram de fazer o réveillon no Chopin, mas seus convidados continuarão a ter direito à visão dos fogos da orla carioca. Nos jardins da mansão da Gávea serão instalados telões de led, para que todos comemorem a passagem do ano comme il faut. A festança será para 500 convidados.

Consumo 
Quem está aterrissando no Rio esta semana é o número um da grife Puma no mundo, Franz Koch. Com apenas 32 anos, Koch tem planos ousados: quer transformar a empresa de sportlifestyle na mais desejável e sustentável do planeta. Ele irá se encontrar com o prefeito Eduardo Paes para analisar investimentos na cidade. Hoje, os brasileiros são um dos maiores responsáveis pelo crescimento do grupo, contabilizadas, inclusive, as compras feitas no exterior.

Ajuda direcionada 


Os doadores brasileiros da organização internacional ActionAid vão começar esta semana a apoiar, de forma regular, projetos sociais no Haiti, e não mais apenas em situações de emergência. A previsão é que 300 crianças haitianas sejam apadrinhadas neste primeiro momento. São todas moradoras da comunidade rural de Vallue, que teve a única escola destruída pelo terremoto de 2010.

Gordinha descolada 
Quem vai passar o Ano Novo no Rio é a cantora americana Shawnee Taylor, famosa no cenário pop/eletrônico com os hits Stronger e Live Your Life. Ela irá animar o réveillon Pink Elephant, que acontecerá na Ilha de Itanhangá, em Angra dos Reis. No dia seguinte, se apresenta na Pachá de Búzios. Vai aproveitar e gravar belas imagens da orla do Rio para usar em seu próximo videoclipe.

Seguindo a cartilha 

Pesquisa da Serasa Experian, a pedido da Fundação Nacional de Qualidade, apontou que empresas que utilizam modelos de excelência de gestão têm desempenho financeiro superior às demais do mercado. No setor de comércio, as empresas que adotam o método tiveram alta de 102% no faturamento, contra 75% de outras companhias. Já o endividamento entre as indústrias ficou em 37% naquelas que aderiram ao modelo, enquanto em outras organizações do segmento a taxa foi de 46%. A amostra analisou os demonstrativos financeiros de 202 empresas industriais, comerciais e de serviço, entre 2000 e 2010.

Livre Acesso

Em memória da juíza Patrícia Acioli, acontece hoje, às 9h30, na Confederação Nacional do Comércio, o seminário A criminalidade de matriz mafiosa, suas vítimas e a infiltração no Estado e na política. O evento é promovido pelo Centro de Integração Empresa-Escola, à frente Arnaldo Niskier, e o Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais, presidido pelo desembargador Walter Maierovitch.

Ricardo Brand é o novo presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais do Rio de Janeiro para o próximo biênio (2012-2013).

A Ambiente Eventos, de São Paulo, que assinou os camarotes vips da Porsche Cup, pré-evento do GP Brasil de Fórmula 1, vai repetir a dose nas edições 2012 e 2013 do torneio.

Os jornalistas Monica Bernardes e Mauro Tertuliano autografam, hoje, a partir das 20h, o livro Sou feliz, acredite! na Livraria Cultura do Fashion Mall. O livro, finalista do prêmio Jabuti 2011 na categoria reportagem, conta a história de 13 pessoas que dão testemunhos de que é possível alcançar a felicidade a despeito de qualquer obstáculo.

Tem vernissage esta quarta, no Iate Clube, da última exposição do ano promovida pela curadora Daura Ramos, com telas de pequenos formatos dos artistas Angela d’Alincourt, Camões, Carlomagno e Roberto de Souza.

Em seu quinto ano, acontece até a próxima quinta-feira o Encontro de Cinema Negro Brasil, África e Caribe, com a curadoria de Zózimo Bulbul. Sua programação está sendo apresentada no Cine Odeon, no Centro Cultural da Justiça Federal e no Espaço Oi Futuro.

O pintor carioca Oscar Araripe lança esta semana, no Rio, seu Artbook. O livro é bilíngue e possui apresentação crítica de Alexei Bueno. O lançamento será em dose tripla na Livraria da Travessa: na filial do BarraShopping, quarta-feira; no Centro, quinta-feira; e em Ipanema, na sexta-feira.

GOSTOSA


Carros inseguros - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 28/11/11


Governo precisa induzir indústria a incorporar itens de segurança nos veículos brasileiros, mal cotados em ranking internacional


Tem faltado reciprocidade, para dizer o mínimo, na relação entre a indústria automobilística e o mercado consumidor brasileiro.
Vistos como estratégicos para o desenvolvimento econômico do país há pelo menos cinco décadas, objeto de privilégios e isenções fiscais concedidos pelo Estado, os fabricantes de veículos, em alguns aspectos, tratam os brasileiros como cidadãos de segunda classe.
É o que se depreende de pesquisa realizada pela organização NCAP (sigla em inglês para Programa de Avaliação de Carros Novos), que desde 1997 aplica testes de segurança em veículos europeus.
Segundo a entidade, os automóveis mais vendidos na América Latina, inclusive no Brasil, estão 20 anos atrasados em relação aos padrões de segurança vigentes nos países da Europa.
A falta de airbags e de cabines com estruturas adequadas, por exemplo, concede aos chamados modelos populares brasileiros a classificação de uma estrela, numa escala que vai de zero até cinco, cotação atingida pelos automóveis do mundo rico. "Uma estrela; isso quer dizer motorista morto", sintetizou David Ward, secretário-geral da organização.
De fato, o resultado é suficiente para levantar a suspeita, a ser comprovada, de que parte do crescente número de mortes nas ruas e estradas do país poderia ser evitada se equipamentos básicos de segurança fossem instalados em toda a frota nacional.
Segundo a NCAP, numa colisão de automóvel sem airbag ou freios antitravamento, em velocidade moderada (inferior a 70 km/h), há risco de morte para seus ocupantes, o que não aconteceria se o mesmo veículo estivesse equipado com tais mecanismos.
O secretário-geral da organização indica que a responsabilidade pelos problemas é, em grande medida, dos governos latino-americanos, que não exigem das montadoras testes de segurança adotados na Europa e nos EUA.
No caso brasileiro, há ainda um agravante. O excesso de benefícios concedidos às montadoras também é responsável pelo produto de segunda categoria, ao menos no item segurança, comercializado no país. Protegidos, por exemplo, pelo recente aumento de 30% do IPI para automóveis importados, os fabricantes locais se veem à vontade para cobrar preços mais elevados e ignorar avanços tecnológicos incorporados às unidades fabricadas em outros países.
Para baratear os modelos mais populares, um dos subterfúgios é abrir mão de itens de segurança, que possivelmente poderiam estar instalados no produto final caso houvesse um pouco mais de concorrência externa.
Compete ao governo, portanto, tomar as medidas cabíveis para induzir a indústria a mudar esse padrão de comportamento -por meio de normas técnicas, testes de segurança obrigatórios, contrapartidas para isenções e menos proteção.

De volta a 1937 - RUBENS RICUPERO


FOLHA DE SP - 28/11/11

A crise deve servir para retomar a preocupação com avanços reais de produtividade e eficiência


O desafortunado 2011 ficará na história como a repetição de 1937. Esse ano foi importante para muita gente, a começar por mim, que nele vim ao mundo. Para o mundo, marcou a recaída da recessão americana no momento em que se parecia estar saindo da Grande Depressão.
A partir de meados de 1937, a produção manufatureira despencou 37%. O desemprego saltou de 14% a 19%, embora sem chegar aos 25% de 1933. Só ao entrar na guerra, em 1941/42, os EUA recuperariam o nível de emprego.
Tal qual naquela época, a crise atual se assemelha a uma montanha-russa pontuada de altos e baixos que alternam confiança e desespero. É o que estamos vendo desde o agravamento do problema da Europa e da paralisia política junto à estagnação econômica nos EUA.
Para os americanos, o quadro político é hoje pior: radical polarização da sociedade e dos partidos, presidente que não passa de pálida figura comparado à personalidade de irradiante autoconfiança de Franklin D. Roosevelt.
No caso dos europeus, a semelhança se resume à modéstia dos talentos de Merkel, Sarkozy e Cameron, mais ou menos do mesmo nível de Chamberlain e Daladier.
A irredutível diferença é que 1937/38 foram os anos do Grande Terror em que Stálin assassinou 682 mil pessoas, da Noite de Cristal de Hitler antecipando o holocausto de 5,7 milhões de judeus, da inexorável marcha rumo à Segunda Guerra Mundial, durante a qual pereceram mais de 60 milhões de pessoas.
Felizmente, estamos longe desses extremos da ignomínia e da infâmia. Nada na reação dos indignados e de movimentos como o "Ocupe Wall Street", na perda de legitimidade e queda de governo após governo na Europa autoriza comparações com a sinistra ascensão do nazifascismo na década de 1930.
No entanto, um medo indefinido, um calado desespero, uma angústia do futuro começam a se infiltrar nas almas humildes das vítimas inocentes da cobiça dos fundamentalistas do mercado.
No Brasil, o período que evocamos foi de luzes e sombras. No passivo houve o levante dos comunistas, o ataque dos integralistas ao Catete, a implantação do Estado Novo, a moratória da dívida, a crueldade dos crimes da repressão descritos por Graciliano Ramos em "Memórias do Cárcere", esquecidos pelos admiradores do risonho Vargas da propaganda oficial.
Na economia, não existia para compensar a crise mundial algo parecido com a China de agora, aliás brutalmente agredida em 1937 pelo Japão. Apesar disso, a penúria de divisas por causa da moratória e a industrialização forçada da guerra neutralizaram os efeitos de fora.
O crescimento alimentava o debate da questão nacional, a esperança de que a indústria, defendida por Simonsen, permitisse superar a estrutura colonial, a vocação agrícola advogada por Gudin.
A lição desse tempo distante é clara. Os ganhos com commodities, mesmo o sonho-pesadelo do petróleo, não podem nos distrair do desafio essencial. A crise deve servir para retomar a preocupação com avanços reais de produtividade, competitividade e eficiência, com reformas que façam do Brasil uma nação verdadeiramente moderna e equitativa.

Sonho brasileiro - AÉCIO NEVES


FOLHA DE SP - 28/11/11

Dados do Ministério da Justiça indicam uma corrida de estrangeiros em busca de regularização de seu status de imigrantes no Brasil. Os números impressionam: 961 mil pessoas em 2010 e 1,466 milhão só nos primeiros seis meses de 2011 buscaram os guichês da Polícia Federal para obter legalmente o direito de construir sua vida, ou reconstruí-la, entre nossas fronteiras.
O número de brasileiros morando no exterior caiu à metade. Estão minguando as levas de compatriotas nossos sinceramente iludidos com as miragens do "American dream", e também de algum "European dream". Eram os filhos para quem a nossa pátria não estava sendo mãe gentil.
Hoje, os excluídos do passado buscam a possibilidade de um novo acolhimento.
Nas duas últimas décadas, a estabilidade econômica, o robustecimento do PIB, ainda que abaixo de nosso potencial, e a consequente abertura de novos horizontes de trabalho tiveram o condão de arrefecer a urgência do exílio forçado.
Ao se constatar, na frieza das estatísticas oficiais, que o Brasil vai readquirindo, 500 anos após o ciclo das descobertas, o endereço de um novo Eldorado, pergunto-me se o sonho dos estrangeiros inspira, como deveria, a alma e a consciência dos brasileiros.
É da natureza do sonho extrapolar as pequenas conquistas do cotidiano, ir além das benesses do consumo e do crediário, tão alardeadas pelos mercadores de ilusão do Planalto, deixar-se levar pela fantasia (desde que alicerçada na realidade) capaz de nos fazer dizer, com orgulho: "Eis aqui o meu lugar, o lugar da minha escolha, o lugar no qual o futuro será capaz de receber afetuosamente as gerações que irão me suceder".
Se o português, o norte-americano, o boliviano, o coreano aqui desembarcam a bordo da confiança de uma terra de promessas, o que falta ao Brasil para bafejar nossa juventude com a mesma primavera de esperança?
A janela para o sonho, a gente sabe, é a educação. Mas, para muitos de nossos jovens, a janela permanece fechada. Vejam o baixo nível de aprendizado, o alto grau de repetência e o abandono precoce dos estudos, os currículos esclerosados e as escolas pouco atraentes à verdadeira aventura que é o conhecimento.
E não é só isso. O programa Primeiro Emprego, uma das bandeiras da campanha do PT em 2002, ficou muito longe de apresentar os resultados prometidos. O ProJovem, anunciado com pompa e circunstância, seguiu o mesmo caminho e também fracassou.
A inquietude da juventude, no Brasil e no mundo, está clamando: queremos sonhar. A nós nos cabe a responsabilidade de abrir portas e responder: aqui vocês têm as condições para construir esse sonho. Esse é o seu lugar.

Em defesa dos ricos e famosos - LÚCIA GUIMARÃES


O Estado de S.Paulo - 28/11/11


Outro dia, eu caminhava à noite com um escritor e jornalista pela Nona Avenida. Apressamos o passo por causa da garoa, o que conferiu uma certa urgência à nossa conversa. Perguntei se ele havia assistido à longa entrevista de um certo empresário bilionário na semana anterior. Eu tinha gravado o programa. Queria assistir de novo para tentar desfazer - ou confirmar - a impressão causada pelo close-up de uma hora, uma situação que não pode ser roteirizada por relações públicas. Por mais insincera que uma figura famosa queira ser, uma hora de entrevista, mesmo nas mãos do puxa-saco de plantão naquela noite, há de revelar alguma verdade sobre sua visão de mundo. Ou, como foi o caso, o vácuo intelectual e moral exibido pelo personagem cuja empresa é onipresente no planeta.

Quando expressei minha opinião sobre a referida entrevista, em termos, digamos, bem mais enfáticos do que faço aqui, meu companheiro de caminhada, especulou: O que aconteceria conosco se a nossa conversa fosse transformada numa coluna? Boa pergunta. Não sei como anda a atividade no meu córtex cingulado anterior, a tal área do cérebro que os neurologistas afirmam regular nossos impulsos corajosos. Vou ali na esquina fazer uma tomografia e respondo na volta.

Mas a conversa sob a garoa não paulistana me ocorreu quando observei parte da reação ao desfile de celebridades depondo na comissão de inquérito britânica sobre a imprensa. A que foi instalada com pouca sinceridade pelo primeiro- ministro David Cameron, para investigar abusos dos tabloides sensacionalistas, depois do escândalo dos grampos telefônicos do agora defunto News of The World, de Rupert Murdoch.

Sienna Miller, gatésima. J.K. Rowling, pleeeease, ressuscita o Harry. Hugh Grant, então você fazia o papel de si mesmo em todos os filmes?

As celebridades são acusadas de hipocrisia porque sua vida profissional seria enriquecida pela cobertura incessante dos tabloides. Ao pedir que paparazzi sejam arrancados do parapeito de suas janelas, ao ter a audácia de tentar impedir que detetives contratados por redações grampeiem seus telefones, ao esperar que a lancheira de uma filha de 5 anos não volte para casa recheada com o bilhete de um repórter, esses milionários narcisistas e mimados estariam combatendo a liberdade de imprensa. Os intrépidos repórteres de tabloides seriam corajosos defensores da profissão.

Afinal, a invasão de sua privacidade faria parte de um pacto implícito. Do momento em que Sienna Miller se detém no tapete vermelho e sorri para os flashes, ela se torna uma exibicionista que abriu mão do direito de não ser seguida por câmeras ao exame ginecológico.

Essa cultura do vale-tudo na cobertura da celebridade já foi importada, sem nenhum protecionismo, pelo Brasil. A toda hora se ouve uma história como a do "jornalista" que tentou alugar o apartamento com vista para o quarto do bebê do casal de atores. Engana-se quem pensa que esta falta de civilidade não afeta todos. Não compreendo como tantos podem misturar seu desprezo pelos filmes de Hugh Grant com a suspensão dos direitos individuais de ator porque ele desfruta os privilégios trazidos pelo dinheiro e a fama. O próximo passo é pedir a Lady Gaga para abrir mão de votar porque ela faz sucesso demais? Quem quer viver numa sociedade que sanciona a perseguição ao bebê recém-nascido da previamente desconhecida Hong Tinglan, só porque o pai ausente da criança é Hugh Grant?

Se eu defender um sistema legal que tolera o grampo telefônico de gente famosa para satisfazer o trotskismo voyeurista promovido pelos tabloides, vou perder meu direito de protestar contra o grampo telefônico de um inocente que teve a má sorte de rezar numa mesquita frequentada por um suspeito de terrorismo.

É claro que ricos e famosos têm mais chances de escapar da lei ou de conseguir um cirurgião melhor do que eu. Sim, torço para não ser atropelada e entrar na sala de emergência no exato momento em que Hugh Grant chegar, com o dedo mindinho fraturado.

O desprezo pela cultura da celebridade, multiplicada de forma exponencial pela internet, não justifica promover um autoritarismo seletivo. Neste caso, defender os ricos e famosos é defender também despossuídos e anônimos.

Ninguém sabe, ninguém viu - EDITORIAL O ESTADÃO



O Estado de S. Paulo - 28/11/2011


No exato dia, em julho de 2010, em que seus técnicos apuravam fraudes de mais de R$ 4 bilhões na contabilização de carteiras de crédito cedidas pelo Banco Panamericano para outras instituições financeiras, o Banco Central (BC) aprovou oficialmente a venda, para a Caixa Econômica Federal, de 49% do capital social da instituição. O negócio, no valor total de R$ 739 milhões, fora decidido pela Caixa em novembro de 2009, mesmo tendo o Banco do Brasil se recusado, um ano antes, a adquirir as carteiras de crédito que o Panamericano lhe oferecera. Além disso, investigações da Polícia Federal (PF) revelavam graves indícios de fraudes, cometidas pelos então diretores do Panamericano, num montante, depois apurado, de quase R$ 80 milhões. Nada disso, no entanto, impediu que a Caixa concretizasse a compra. Só muito depois essa bilionária lambança seria considerada pelos compradores "uma grande surpresa".

Essa é a explicação - registrada em depoimento prestado à PF, em 21 de setembro, pelo vice-presidente de Finanças, Marcio Percival - que a diretoria da Caixa deve ter dado também ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. Este, questionado sobre o assunto por jornalistas, no último dia 10, tentou eximir-se de qualquer responsabilidade: "Pergunta para a Caixa. Isso é decisão da Caixa, não minha". Resumo da ópera: um dos bancos que compõem o aparato financeiro do Estado brasileiro decide comprar metade de uma instituição financeira notoriamente podre; o banco a quem cabe regular e fiscalizar o sistema financeiro nacional aprova a compra, apesar de seus próprios técnicos terem apurado a existência de um enorme rombo nas contas da instituição beneficiada pela transação. Mas nenhuma autoridade federal se dispõe a dar satisfações sobre a desastrada e desastrosa aplicação de um dinheiro que, afinal, é público. É uma situação tão insólita e surreal que só falta alguém alegar que tudo se resume a uma questão de boa-fé, já que a Caixa se anuncia como "o banco que acredita nas pessoas". Haja fé.

Todo esse imbróglio começou no final de 2008, quando a crise financeira internacional, provocada a partir da quebra do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers, espalhou o pânico no mundo das finanças. Na tentativa de se capitalizar, a direção do Banco Panamericano passou a oferecer sociedade a instituições mais sólidas ou a venda de algumas de suas carteiras de crédito. O primeiro alvo foi o Banco do Brasil, que ainda no fim de 2008 rechaçou o negócio. Paralelamente, o Panamericano negociava a venda de 49% de seu capital social para a Caixa, transação anunciada pelo banco oficial em fins de 2009. A chancela do Banco Central só foi dada em 19 de julho de 2010, quando a Caixa já tinha depositado na conta do Panamericano a primeira parcela do pagamento. A segunda e última foi quitada cinco dias depois da decisão do BC.

Ocorre que, além de o Banco do Brasil, mais de um ano antes, ter considerado as carteiras de crédito do Panamericano um mau negócio, já a partir de maio de 2010 o próprio Banco Central tinha levantado suspeitas sobre a existência de um rombo gigantesco nas contas do Panamericano. Conforme apurou a Polícia Federal, essas fraudes foram armadas pela diretoria do banco, uma verdadeira quadrilha que acabou demitida pelo controlador Silvio Santos. Durante as investigações a PF levantou e-mails trocados entre o então presidente do banco, Rafael Palladino, e Guilherme Stoliar, sobrinho e braço direito de Silvio Santos, nos quais o segundo relata conversa que tivera com o tio e patrão: "Disse que vocês estão trabalhando firme para vender parte do banco e que, provavelmente, teremos a ajuda dos "amigos" nessa venda". E acrescentou: "Disse a Silvio quem eram os "amigos" e ele ficou de boca aberta, como qualquer um ficaria".

Como resultado do escândalo, os 51% do capital social da empresa que ainda permaneciam em mãos do controlador foram transferidos, por decisão do governo, para o banco BTG Pactual.

Os golpistas que faturaram com as fraudes continuam por aí, lépidos e fagueiros, enquanto a Caixa, muito surpresa, ficou com o mico. Mais perplexos estão os contribuintes, que não entendem até hoje por que a Caixa fez esse negócio.

GOSTOSA


A saúde dos jornais - CARLOS ALBERTO DI FRANCO



O Estado de S. Paulo - 28/11/2011


Os pessimistas me aborrecem. Fazem, como dizia Oduvaldo Vianna Filho, "do medo de viver um espetáculo de coragem". Vivem de mal com a vida. Não olham para a frente. São homens e mulheres de retrovisor. À semelhança de Dom Quixote, vivem lutando contra moinhos de vento. Faltam-lhes equilíbrio, serenidade e bom senso.

O que é côncavo de um lado aparece convexo do outro. Depende só do nosso ângulo de visão. Como lembrou alguém, muitas vezes um defeito é apenas a sombra projetada por uma virtude. Os pessimistas padecem da síndrome das sombras. São incapazes de ver o outro lado: o da virtude.

Algumas críticas ao jornalismo, amargas e corrosivas, têm a garra do pessimismo ou a mordida do cinismo. Irritam-se, alguns, com a força da mídia e vislumbram interesses espúrios no sucesso empresarial.

O jornal, como qualquer negócio, não existe para perder dinheiro. A crítica procede de quem perdeu o trem da História ou, pior que isso, não sabe o que é enfrentar o batente. Ganhar dinheiro com informação não é um delito. Estou cansado de repetir. É um dever ético. O lucro legítimo decorre da credibilidade, da qualidade do produto. E a qualidade é o outro nome da ética.

A ética informativa não é um dique, mas um canal de irrigação. A paixão pela verdade, o respeito à dignidade humana, a luta contra o sensacionalismo, a defesa dos valores, enfim, representam uma atitude eminentemente afirmativa.

A ética, ao contrário do que gostariam os defensores de um moralismo piegas, não é um freio às justas aspirações de crescimento das empresas. Suas balizas, corretamente entendidas, são a mola propulsora das verdadeiras mudanças.

O jornalismo de escândalo, ancorado num provincianismo aético, é cada vez menos frequente. Recaídas ocasionais são objeto de críticas e discussões internas.

O jornalismo brasileiro, não obstante as suas deficiências, tem desempenhado um papel relevante. Ao lancetar os tumores da corrupção, cumpre um dever ético intransferível. A mídia, num país dominado por esquemas cartoriais, assume significativa parcela de responsabilidade. O Brasil, graças à varredura da imprensa, está mudando. Para melhor. Ministros caem como cartas de baralho. Reagem às denúncias com declarações do tipo "tudo não passa de armação da imprensa", "sou vítima de linchamento moral", "não sei", "não vi". A perseverança da mídia faz a força dos fatos acabar prevalecendo. E o governante vai para casa. Já é um grande avanço. Esperemos que chegue o dia em que o ônus político seja acompanhado da devolução do dinheiro público e da necessária punição criminal.

Os pessimistas, no entanto, não enxergam as mudanças positivas. Querem que as coisas mudem pela ação dos outros. Esquecem que a democracia não é compatível com a omissão rançosa. As críticas à imprensa, necessárias e pertinentes, são sempre bem-vindas. Espera-se, no entanto, que sejam construtivas e equilibradas.

Ouvi recentemente uma dessas críticas num seminário de mídia. Os jornais, dizia meu interlocutor, estão cada vez mais parecidos e sem graça. Concordo, embora parcialmente.

A "mcdonaldização" dos jornais é um risco que convém evitar. A crescente exploração do entretenimento em prejuízo da informação de qualidade tem frustrado inúmeros consumidores de jornais. O público da mídia impressa não se satisfaz com o hambúrguer jornalístico. Trata-se de uma fatia qualificada do mercado. Quer informação aprofundada, analítica, precisa e confiável.

É preciso investir na leveza formal. Sem dúvida. O recurso à infografia, o investimento em didatismo e a valorização da fotografia - o "arrevistamento" das primeiras páginas tem provocado reações de surpresa e aprovação - são, entre outras, algumas das alavancas do crescimento. Mas nada disso, nada mesmo, supera a qualidade do conteúdo. É aí que se trava a verdadeira batalha. Só um produto consistente tem a marca da permanência. Qualidade editorial e credibilidade são, em todo o mundo, a única fórmula para atrair novos leitores e anunciantes.

O jornal The New York Times sabe disso como nenhum outro. Ao visitar a fabulosa casa nova da "velha dama cinzenta", em Times Square, ouvi, mais uma vez, a receita do sucesso: "Produzir jornalismo de qualidade e matérias sérias de maneira mais atraente". Qualidade e bom humor. É isso.

Outro detalhe: os jornalistas precisam escrever para os leitores. É preciso superar a mentalidade de gueto, que transforma o jornalismo num exercício de arrogância. Cadernos culturais dialogam com eles mesmos. O leitor é considerado um estorvo ou um chato.

O jornal precisa moldar o seu conceito de informação, ajustando-o às necessidades do público a que se dirige. Outro detalhe importante, sobretudo em épocas de envelhecimento demográfico: a tipologia empregada pelos jornais tem de levar em conta os problemas visuais dos seus consumidores. Falando claramente: os jornais precisam trabalhar com letras grandes.

Apostar em boas pautas - não muitas, mas relevantes - é outra saída. É melhor cobrir magnificamente alguns temas do que atirar em todas as direções. O leitor pede, em todas as pesquisas, reportagem. Quando jornalistas, entrincheirados e hipnotizados pelas telas dos computadores, não saem à luta, as redações convertem-se em centros de informação pasteurizada.

O lugar do repórter é na rua, garimpando a informação, prestando serviço ao leitor e contando boas histórias. Elas existem. Estão em cada esquina das nossas cidades. É só procurar.

O jornalismo moderno, mais do que qualquer outra atividade humana, reclama rigor, curiosidade, ética e paixão. É isso que faz a diferença.

Sadômasô sustentável - LUIZ FELIPE PONDÉ


FOLHA DE SP - 28/11/11


  Prostituta não é uma profissão, mas uma vocação, um arquétipo, como a "grande mãe"  

O tédio é um dos maiores infernos humanos. Como diz a personagem mais legal do filme "Late Bloomers", com William Hurt e Isabella Rossellini, a bisavó pirada da família: "Se você é criança e não aprende a lidar com o tédio, quando cresce fica idiota".
Uma das piores formas de tédio é a estrutura sexual perversa. Ou, como alguns dizem por aí, "sadômasô" (o que antigamente era chamado de "sadomasoquista", no tempo em que era feio ser sadomasoquista). Não vou entrar em debates intermináveis sobre o que a "perversão" é, vou dizer claramente o que quero dizer com esta palavra e por que a perversão sempre me parece entediante.
Recentemente, na sua versão "sustentável", ela deixa ainda mais claro como é um cachorro desdentado. Você não sabe o que é um "sadômasô" sustentável?
Perversos, "descendentes" do chato Marquês de Sade, supervalorizado na filosofia, se acham o máximo porque pensam que realizam as fantasias que os neuróticos sonham e não têm coragem de realizar.
Enganam-se eles. A vida sexual do perverso é que é chata: queimar e ser queimado, bater e apanhar, ser amarrado e amarrar, máscaras de coro, caras que se vestem de colegiais e mulheres de bombeiro, gente que acha o pé da mulher seu melhor órgão sexual... "boring". Elas têm coisa muito melhor...
O Eros do sexo é o pecado, a vergonha, a culpa, a impossibilidade. A proibição, o medo. A vergonha é tão importante quanto imaginar a mulher por baixo da saia justa ao invés de vê-la de forma obviamente nua.
Quem não sabe disso não entende nada de orgasmo. Quem diz coisas como "É proibido proibir" é bobo e devia continuar fazendo suas festas em bufês infantis.
A palavra "sustentável" hoje em dia é como "ética", "Cabala", não quer dizer nada. É como escrever na porta de uma padaria "sob nova direção" só para atrair clientes. Propaganda provinciana.
No sentido que uso aqui, "sustentável" quer dizer "do bem", "inócuo", "corretinho". Por exemplo, temos até serial killersustentável, o Dexter, da série homônima, serial "killer" que só mata serial killers. Limpinho como um "crente" da classe C.
Prefiro Jack, o estripador, que estripava prostitutas porque estas encarnam a mais antiga das vocações femininas e, por isso mesmo, uma das suas maiores delícias. Prostituta não é uma profissão, mas uma vocação, um arquétipo, como a "grande mãe".
O coitado do Sade ficaria horrorizado com o que fizeram de sua "Filosofia da Alcova", um livro para formar libertinos contra o sistema opressor no século 18. Você já reparou como todo mundo que quer nos libertar da opressão moral acaba ficando monótono e datado?
O que para Sade deveria ser uma transgressão terrível virou um jantar inteligente para gente que recicla lixo e, depois de tomar um "vinho em conta", goza chupando pés femininos. Em alguns anos, teremos pedófilos que também reciclam lixo e são budistas de butique.
Os "sadômasôs sustentáveis" dizem que você pode ser um deles e ser uma pessoa que não joga lixo na rua, que vota conscientemente, que é contra a indústria farmacêutica e ajuda velhinhas cegas a atravessar a rua.
De repente, até vão para encontros em salas escuras com sua "dominatrix" brincar de "escravos" depois da reunião de pais e mestres na escolinha do filho, que, é claro, não é um problemático como o filho do casal de neuróticos.
Logo serão capazes de dizer que gostar de ser espancado, queimado, mijado na boca e humilhado é harmônico com Jesus.
Os culpados por terem feito da filosofia do Sade um cachorro desdentado foram a moçadinha do "vamos desreprimir o sexo" ou do "gostar que mijem na sua cara também é cultura". Um modo "digno" de protestar.
Em matéria de protesto, ainda prefiro Lutero, Calvino e os pirados da Nova Inglaterra.
A personagem feminina do livro "A Letra Escarlate", de Nathaniel Hawthorne, autor americano do século 19 (o filme baseado no livro, com Demi Moore, é ruim porque faz dela uma feminista injustiçada, ainda mais "boring" do que Sade...), é um hino ao erotismo na mulher. Toda culpada, toda condenada, toda humilhada, toda possuída.

Caminho de volta - MÔNICA BERGAMO



FOLHA DE SP - 28/11/11
A presidente Dilma Rousseff assina nesta semana decreto para incentivar as exportações de manufaturados. Os empresários brasileiros terão direito a devolução, em espécie, de até 3% do valor total comercializado com outros países.

VOLTA 2
A iniciativa, batizada de Reintegra, faz parte da política industrial lançada por Dilma e pelo ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento. Mas ainda não havia sido regulamentada. Pretende incentivar a exportação de manufaturados, hoje menor que a de produtos básicos. O déficit da balança comercial de industrializados deve fechar em cerca de US$ 80 bilhões neste ano.

PERCENTUAL
A Justiça autorizou o administrador da massa falida do Banco Santos, Vânio Aguiar, a receber R$ 5 milhões de remuneração. O valor corresponde a 0,5% do recuperado após a falência da instituição. Do total serão descontados R$ 2,5 milhões que ele já recebeu no cargo (salário de R$ 30 mil). E R$ 1 milhão só será liberado quando o processo de falência acabar.

PIVÔ
Gisele Bündchen desfilará em pleno corredor do shopping Iguatemi, na quinta de manhã. Ela lançará sua terceira coleção para a rede C&A e apresentará as peças com outras 15 modelos no espaço em frente à loja.

ELIS VIVE
Uma gravação inédita de Elis Regina da música "Comigo É Assim", sobra do disco "Elis Como e Porque" (1969), foi encontrada nos arquivos da gravadora Universal. A canção estará no álbum de raridades da caixa "Elis nos Anos 60", que será lançada em janeiro de 2012, com 12 CDs da cantora.

NEGRO GATO
A ONG Adote um Gatinho lança a campanha "Gato preto dá sorte", para combater o preconceito que os felinos da cor sofrem. A instituição fará bazar no dia 4, no clube Piratininga, onde lançará produtos com o tema.

MÉDICOS VIAJANTES
Os Médicos sem Fronteiras ganharão um livro no Brasil, em 2012, durante as comemorações de seus 40 anos. Oito escritores, incluindo Mario Vargas Llosa e a brasileira Eliane Brum, viajaram a regiões atendidas pela entidade e fizeram relatos ficcionais e de não ficção para a obra da editora Leya.

QUERO VER NA COPA
Passageiros do voo TAM JJ 3928 da ponte aérea SP-RJ da última sexta-feira esperaram cerca de 40 minutos pelas bagagens -ou o equivalente a quase a duração do voo inteiro.

QUERO VER NA COPA 2
Quando os clientes ensaiavam uma revolta, as malas foram vistas rodando sozinhas e se empilhando no chão, em esteira em outra ala do aeroporto. Não havia nenhum funcionário da empresa ou da Infraero à vista.

NO CLUBE DO BOLINHA
Maria Paula lançou o livro "Liberdade Crônica", no fim da semana, na Cavalera, loja de Alberto Hiar, nos Jardins. O ator Sérgio Marone e o dentista Fábio Bibancos passaram por lá. A atriz e apresentadora conta que dias antes havia estado na loja maçônica Grande Oriente do Brasil. "Fiquei feliz porque o grão-mestre [da entidade] me convidou pra sentar à mesa e falar do livro. A maçonaria é muito fechada [só entra homem]. Foi um momento histórico."

PATRÃO NOTA 10
O Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças entregou o Troféu Equilibrista de executivo do ano, no fim da semana. O CEO da AmBev, João Castro Neves, e a presidente do Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, foram homenageados. A executiva Olga Monroy e a publicitária Patricia Viotti conferiram a cerimônia na Casa Fasano, no Itaim Bibi.

AVENTURA PARA TODOS
A Embratur lança amanhã um programa de turismo de aventura acessível para pessoas com deficiência.

O objetivo é promover a cidade de Socorro (SP), que já possui diversos roteiros adaptados. Entre as atrações oferecidas estão passeios a cavalo para paraplégicos e tetraplégicos (com selas especiais) e arvorismo e escalada com ajuda de guias para deficientes visuais, auditivos e intelectuais.

SEM BOI NA LINHA
A Justiça não acatou a exceção de suspeição pedida pelo Ministério Público contra o síndico da massa falida do Grupo Boi Gordo, Jácomo Andreucci Filho.

Não considerou que o fato de ele já ter sido representado em um processo pelo advogado da Boi Gordo, Carlos Casseb, signifique que atuassem em conjunto ou fossem amigos, o que comprometeria sua atuação. A Promotoria pretende recorrer.

CURTO-CIRCUITO
A Câmara Portuguesa de Comércio realiza almoço hoje com Luciano Coutinho, presidente do BNDES.

O documentário "Porta a Porta", de Marcelo Brennand, entra em cartaz no Rio e em SP, no Arteplex, na sexta. Livre.

A Dan Galeria participa pela primeira vez da feira Art Basel Miami Beach.

Christina Montenegro lança o livro "Homem Ainda Não Existe", hoje, na Mercearia São Pedro. 19h.

O Prêmio Saúde será entregue amanhã no Memorial da América Latina.

Emerson Fittipaldi lança linha de óculos Evoke no Museu da Casa Brasileira.

Giba Gomes criou gravuras em metal com a cara de jogadores como Pelé e Garrincha. Os trabalhos serão presenteados pela Mowa Sports na feira SoccerEx.

Martinho Rolfsen inaugura clínica médica em SP.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY