sábado, abril 23, 2011

LUIZA NAGIB ELUF - Ninguém pode gostar da burca ou do niqab


Ninguém pode gostar da burca ou do niqab
LUIZA NAGIB ELUF
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/04/11

É evidente que não se pode fazer qualquer barbaridade em nome da religião. Já tivemos casos, no Brasil, em que seguidores de determinadas crenças, em seus rituais macabros, sacrificaram crianças.
Os autores dessas atrocidades não escaparam da aplicação da lei penal alegando direito de manifestação religiosa. O Brasil, assim como a França, é um Estado laico, ou seja, permite que todas as religiões se expressem e, ao mesmo tempo, não abraça nenhuma delas como crença oficial.
É claro que o exemplo citado é aberrante, mas é justamente por isso que o escolhi: torna claro que a liberdade religiosa só vai até onde começam os direitos da cidadania, bem como as leis estabelecidas para vigorar em determinado território. Não existe direito absoluto.
A proibição do uso da burca e do niqab, na França, é correta e não fere o princípio do Estado laico. Primeiro, porque, conforme as leis francesas, a humilhação ou a escravização da mulher não é permitida.
Segundo, porque o Alcorão não determina o uso do véu. O que é dito no livro sagrado do islã é uma recomendação para que os fiéis se vistam modestamente, nada além.
Portanto, a cobertura total e completa do corpo da mulher (e só da mulher, os homens podem se vestir sem as mesmas restrições) resulta de imposição cultural, e não exatamente religiosa. Tanto que nem todas as muçulmanas usam o véu integral e nem por isso deixam de praticar suas crenças.
Em terceiro lugar, é preciso lembrar que as regras mais elementares de segurança pública recomendam que as pessoas não cubram suas faces e não se ponham mascaradas ao frequentar espaços de uso comum. Parte da comunidade muçulmana na França sentiu-se cerceada pela proibição do véu integral, mas a reação não foi unânime.
O imã Taj Hargey, da Congregação Islâmica de Oxford, na Inglaterra, em entrevista à imprensa, declarou que muitos pensadores islâmicos ao redor do mundo deram boas-vindas às determinações restritivas ao véu na França, pois a mencionada indumentária é atentatória aos direitos femininos.
Por outro lado, quando algumas mulheres árabes se posicionam publicamente a favor da burca ou do niqab (os dois tipos de véu que cobrem o rosto, bem como todo o corpo e até as mãos), essas declarações demonstram a total falta de percepção da realidade e de sua própria condição. São pessoas que foram condicionadas a esse uso durante toda a existência e começaram a acreditar que são felizes assim.
No entanto, é óbvio que permanecer sufocada dentro de uma vestimenta, perdendo a própria identidade, anulando-se enquanto ser humano, submetendo-se totalmente ao poder do homem e aceitando a desigualdade como uma situação bem-vinda demonstra que essas mulheres foram destruídas no âmago do seu ser e assumiram a "servidão voluntária". Ninguém pode gostar da burca ou do niqab.
As sociedades ocidentais passaram por séculos de debates sobre os direitos da cidadania, o combate ao poder absolutista e, mais recentemente, sobre a conscientização dos oprimidos, explicada por Marx.
Toda a história da esquerda política trata da tomada de consciência das dominações toleradas e aceitas e do combate para libertar suas vítimas. A religião, de fato, é um fundamento para a dominação difícil de ser superado, porque se trata de discutir com Deus. Por essa razão, o governo francês precisou intervir para estender a cidadania feminina a toda a população.
A reação às medidas tomadas deve ser favorável, e não de indignação. É de se lembrar o ditado: "Em Roma, faça como os romanos".

MIRIAM LEITÃO - A volta do México


A volta do México 
MIRIAM LEITÃO 

O GLOBO - 23/04/11

O economista mexicano chama-se Brasil. Brasil Alberto Acosta Peña. Ele está otimista em relação à economia do seu país acreditando que a recuperação continua. O México no ano passado cresceu 5,5% e deve crescer 5% este ano, mas parte disso é recuperação depois da queda de 2009. O país enfrenta dois problemas graves decorrentes da longa fronteira com os Estados Unidos.

Ter três mil quilômetros de fronteira com a maior economia do mundo acaba provocando uma excessiva dependência econômica. Além disso, é por lá que passa a droga que vai para o mercado americano. Alguns pontos da fronteira com o México, como Ciudad Juárez, hoje viraram símbolo de violência.

Numa recente viagem feita ao país, a repórter Valéria Maniero recolheu impressões sobre um país que tem essa contradição insanável: por ser tão próximo da maior economia do planeta, tem saltos quando ela cresce; por ser tão próximo, despenca quando os Estados Unidos têm crise.

O jornalista Carlos Mota, colunista de negócios do jornal Milênio Diário, lembra que mais de 80% de tudo o que o México exporta vão para os Estados Unidos. Por isso a economia foi tão afetada pela crise americana, chegando a cair 6,1% em 2009.

- As exportações de manufaturas estão de volta, assim como as de produtos primários. Mas o país tem buscado diversificar seus mercados fazendo acordos comerciais. Vai aprofundar um tratado com a Colômbia, fechar um com o Peru e começar a negociação de outro com o Brasil.

Professor de política comercial da PUC-Rio, Carlos Frederico Coelho conta que o México fez nos últimos anos 44 acordos comerciais, ao contrário do Brasil, que ficou preso no Mercosul. O problema é que o México virou refém desse dilema: quanto mais abre, mais exporta para os Estados Unidos, confirmando a dependência excessiva do mercado americano.

A relação comercial entre Brasil e México está claramente subdimensionada. Poderia ser mais intensa. No primeiro trimestre do ano, o comércio bilateral foi de menos de US$2 bilhões. Entre os dias 13 e 15 de junho haverá uma missão brasileira no México. Eles estiveram aqui uma semana antes do carnaval. Mas segundo o professor brasileiro, há mais interesse de empresários brasileiros do que de mexicanos no acordo. Eles temem a competição do nosso agronegócio, muito mais eficiente do que o deles. O professor acha que os mexicanos enfrentam uma "fadiga do livre comércio" e querem mais política industrial.

Mesmo em crise, o comércio internacional parece vigoroso para os padrões brasileiros. A corrente de comércio chega a meio trilhão de dólares. Em 2010, o México exportou US$298,4 bilhões e importou US$301,4 bilhões, segundo o Instituto Nacional de Geografia e Estatística.

- Os bens manufaturados representam 82,4% do total, petróleo e derivados de petróleo, 14%, e bens agropecuários, 2,8% - diz Brasil.

Quem olha os indicadores do México se espanta com o bom número do desemprego. Afinal, o Brasil está num bom momento, mas tem 6,5% de desemprego. Lá, o dado de março ficou em 5,09%. O que o economista mexicano conta é que a informalidade é muito alta. Problema que conhecemos bem.

- Cerca de 14 milhões de pessoas não contam com emprego formal.

Ele fala de outro fenômeno que os especialistas brasileiros também já detectaram por aqui: os jovens "ni ni", que nem estudam, nem trabalham. No Brasil, o fenômeno é chamado de jovens "nem nem". Segundo o economista, há sete milhões de mexicanos "desiludidos da vida capitalista e sem oportunidades".

O perigo é eles se sentirem atraídos pelo tráfico de drogas que com seus cartéis poderosos dividiu o país e se enfrenta na fronteira com o Exército em batalhas que deixam milhares de mortos. Se o México tiver sucesso nessa guerra, haverá um aumento da escalada que já existe hoje na América Central: o deslocamento da guerra das drogas para países como Guatemala, Nicarágua, Honduras. Segundo reportagem de capa da revista "The Economist", o crime organizado está se movendo do México para os países menores da América Central que, desde o fim das guerrilhas de esquerda, foram esquecidos pelos Estados Unidos. E a revista lembra com seu olhar de mercado: "São os consumidores americanos que estão financiando as gangs das drogas e, em larga medida, são os vendedores americanos de armas que as estão armando".

Voltando ao mercado de trabalho no México, o jornalista Carlos Mota, do Milênio Diário, não mostrou muita confiança no indicador de desemprego porque quem trabalha mesmo que seja uma hora por semana entra como pessoa com emprego na estatística. Ele reclama, ao mesmo tempo, do excesso de rigidez das leis trabalhistas que tornam caro demitir e contratar empregado, fortalecendo a informalidade. Nisso, de novo, o México se parece com o Brasil. Ele pareceu diferente quando Valéria conversou com uma manicure de Acapulco que contou que só tem uma semana de férias remuneradas por ano. Ela achou um espanto haver um mês inteiro no Brasil.

Durante muitos anos, Brasil e México disputaram o lugar de maior economia da América Latina. A recessão de 2009 e a violência provocada pela guerra das drogas fizeram o México ser visto como país em pleno retrocesso. Mas agora, a economia está em plena recuperação, ainda que assombrada por um fantasma que anda também nos rondando: a inflação. Lá tem diretamente a ver com os preços do petróleo.

O nome do economista entrevistado aqui não é Brasil por coincidência. A mãe dele, fanática por futebol, fez uma homenagem ao país vencedor da Copa de 70. O filho, hoje do Centro de Investigação e Docência Econômica do México, nasceu no dia da final, na vitória do Brasil sobre a Itália. 

RANIER BRAGON - De onde menos se espera


De onde menos se espera
RANIER BRAGON

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/04/11

BRASÍLIA - O Congresso talvez seja a mais simbólica inspiração para o chavão de que o Brasil só "engrena" após o Carnaval ou a Semana Santa. Particularidades atuais, porém, têm levado entendidos a prever sobrevida ao terrível ciclo de tédio que paira sobre os tapetes verdes e azuis de Câmara e Senado.
Governo de continuidade soa calmaria. E Dilma Rousseff, choramingam até os petistas, tem se esquivado de participar do atacado e varejo das negociações legislativas.
A situação desola grande parte da classe política, habitual dependente do ecoar dos trompetes do Planalto para saber em que direção marchar. Mesmo assim, a infantaria de Dilma projeta-se ainda maior com o PSD, aquele que não será de esquerda, centro ou direita, desde que governista.
Essa geleia chapa-branca favorece a previsibilidade. Não há no horizonte ameaça de CPI que de fato cause rugas ao Palácio. O ritmo de projetos aprovados pelo plenário da Câmara também anda cadenciado: 25, contra 33 de Lula-2003. Ou seja, uma sem-gracice sem fim.
Isso talvez contribua para a certa dispersão flagrada pelo humorístico-jornalístico "CQC", a quem alguns deputados não souberam dizer quem é a onipresente figura do noticiário que comanda a Líbia.
Mas prognósticos de longo marasmo no Congresso costumam engordar o sindicato dos maus profetas. Dilma terá mais cedo ou mais tarde que soprar o seu clarim. A oposição mirrou, não morreu, e a história mostra que a panela de pressão de interesses do Legislativo é sensibilíssima a coisas como recusas a cargos e verbas. Sem falar na sempre azeitada usina de escândalos, alimentada em boa parte pela autogenerosidade na aplicação de um orçamento próprio da ordem de R$ 7,6 bilhões, maior do que o de Estados como Sergipe.
Daria para concluir com aquela história de que tudo pode acontecer, inclusive nada, mas acho que mais de dois clichês por texto deve ferir alguma lei federal.

MERVAL PEREIRA - Infidelidades


Infidelidades
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 23/04/11

Mais uma vez, caberá ao Judiciário decidir uma questão eminentemente política e eleitoral que está mexendo com o mundo político: a legalidade da criação do PSD, o partido que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, está formando com políticos originários de vários partidos.

O PPS - um dos que estão sendo afetados com a perda de filiados - entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal questionando resolução do TSE que reconhece a hipótese de criação de novo partido como justa causa para que qualquer político abandone a legenda pela qual foi eleito, sem o risco de perder o mandato.

A Adin do PPS foi distribuída ao ministro Joaquim Barbosa, a quem cabe decidir, nos próximos dias, sobre o pedido liminar de suspensão imediata do inciso daquela resolução do TSE que trata do assunto específico.

O tema é de tal relevância para o quadro partidário que pode ser considerado de "especial significado para a ordem social e a segurança jurídica", permitindo até que o ministro Joaquim Barbosa, em vez de decidir monocraticamente, leve o pedido liminar ao julgamento do Pleno do Supremo.

O partido do prefeito Kassab transformou-se, na prática, na janela do troca-troca de partido que até o momento não foi aberta pela reforma política que está sendo debatida no Congresso. O Senado não abriu essa chance aos que querem mudar de legenda.

A Adin anti-PSD elaborada pelos advogados Renato Galuppo e Fabrício de Alencastro Gaertner argumenta que, quando o STF decidiu que os mandatos eletivos pertencem aos partidos e não aos seus ocupantes, em 2007, definiu que o TSE regulamentaria a questão, mas não lhe deu "um cheque em branco" para legislar sobre as hipóteses de justa causa para que os mandatários possam se desligar de suas legendas de origem.

O presidente do PPS, deputado federal Roberto Freire, define assim a questão: os políticos podem deixar seus partidos para criar outro, mas não podem levar consigo seus mandatos, já que estes pertencem ao partido pelos quais foram eleitos, por decisão do Supremo Tribunal Federal. Seus suplentes deveriam assumir o mandato.

O advogado Paulo Barreto, especialista em legislação eleitoral, apresenta dois argumentos que a medida do PPS não cogitou:

- Primeiro: a infidelidade partidária, grosso modo, pode ser comparada à infidelidade conjugal. No caso de o marido (ou a esposa) deixar a sociedade marital para constituir novo casamento, evidentemente ele (ou ela) não vai "carregar" todos os seus bens.

Absurdo, então, nessa linha de comparação, que o mandatário saia do "casamento" que o elegeu para construir outro "casamento" levando consigo o único bem existente: o mandato eletivo.

- Segundo: a criação de novo partido como justa causa para abandono da sigla de origem também precisa ser analisada sob o ponto de vista do conteúdo programático da nova legenda.

Se for uma nova agremiação de programa/proposta totalmente díspar, a infidelidade partidária será gritante: o sujeito foi eleito defendendo/representando o programa "X" e agora quer fundar um novo partido com o programa "Y".

Se for para fundar novo partido de programa similar, parecido ou não conflitante com o da sigla de origem, que nesta permaneça, pois nada justifica a mudança.

Por outro lado, a favor do PSD, há duas fortíssimas razões de ordem constitucional: o pluripartidarismo, no qual o nosso sistema político está fundado; e a liberdade de associação, que impede que alguém seja obrigado a se associar ou permanecer associado onde quer que seja, prevista na Constituição.

Outro dia, comentando na CBN os problemas de infraestrutura para a realização da Copa do Mundo de 2014, disse que não havia antecedentes de uma Copa ter sido cancelada por falta de condições do país-sede. Mas estava enganado.

O leitor-ouvinte Célio Silva Santos relembra que a 13ª edição da Copa do Mundo de Futebol, que aconteceu em 1986, foi cercada de dúvidas e apreensão.

A Colômbia passava por sérios problemas econômicos e sociais, e, em 29 de setembro de 1982, quatro anos depois de ter sido escolhida para sede, o presidente Belisario Betancur anunciou que não haveria mais patrocínio para a competição e que a Colômbia iria se preparar melhor para sediar a Copa de 1994.

Como a Copa do Mundo de 1986 seria realizada na América, em junho de 1983, o Comitê Executivo da Fifa escolheu o México, o primeiro país a sediar a Copa do Mundo duas vezes ? já o havia feito em 1970.

De acordo com os pesquisadores do Ipea, a média de prazo de obras de infraestrutura de transporte no país é de 80 meses após o fim da fase de projetos. As obras dos aeroportos de Manaus (AM), Fortaleza (CE), Brasília (DF), Guarulhos (SP), Salvador (BA), Campinas (SP) e Cuiabá (MT) em 2010 ainda estavam em fase de projeto e só ficarão prontas em 2017, caso os prazos médios de elaboração de projetos, licenciamentos etc. sejam iguais aos da média no país.

Já os de Confins (MG) e Porto Alegre (RS) estão com projetos básicos prontos, mas também correm o risco de não ficarem prontos a tempo da Copa.

O Brasil não tem problemas econômicos nem sociais para realizar a Copa. Tanto na política futebolística quanto na geopolítica internacional, o peso do Brasil é incomparavelmente maior do que o da Colômbia.

Mas, até o momento, muita politicagem e incompetência administrativa impedem que fiquemos tranquilos. E não se trata de "complexo de vira-lata".

MÔNICA BERGAMO - MARTELO CONTINENTAL


MARTELO CONTINENTAL
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/04/11


A OAB-SP instituiu um grupo de estudos para elaborar um CódigoPenal e um Código de Processo Penal para a Corte de Justiça do Mercosul, criada no final de 2010. A ideia é que haja normas para punir crimes de alcance transnacional, como tráfico de pessoas para exploração sexual, de drogas, órgãos e armas, além de lavagem de dinheiro. Os criminalistas Laertes de Macedo Torrens, Roberto Delmanto Júnior e Flávio Markman comandarão o grupo paulista.

MULHERES UNIDAS
A ativista iraniana Mina Ahadi, porta-voz do Comitê Internacional Contra o Apedrejamento de Mulheres, vem ao Brasil em maio. Ela foi convidada pelo Instituto Millenium e participará, no dia 3, do Fórum Democracia & Liberdade, na Faap.

PRISCILLA
A Secretaria da Justiça de SP vai disponibilizar quatro ônibus para levar militantes a Brasília para a Marcha Nacional contra a Homofobia, em 18 de maio. Dois veículos sairão da sede do órgão, na capital, e outros dois, de Campinas e Ribeirão Preto. Devem ir 176 integrantes dos fóruns LGBT do Estado.

MESA REDONDA
E a página da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência no Twitter já tem 15 mil seguidores. A ideia é transformá-la num fórum de debates sobre o tema, com artigos, por exemplo, como o de Marcelo Branco. Postado na semana passada, ele discutia a internet "na luta por direitos humanos no Brasil". O endereço é @DHumanos.

NO CADEIRÃO
Clientes da Brasserie Le Jazz, em Pinheiros, driblavam a fila de espera à noite, no fim da semana passada, comendo em cadeiras na calçada, com o prato apoiado no colo. "Não tá certo. Até servimos entradas assim, mas prato principal, de talher, comido em cadeira fica muito desconfortável", diz Gil Carvalhosa, sócio do bistrô.

GUERRA SANTA
A ex-ministra Marina Silva (PV-AC) seguirá em sua cruzada "pela democratização do PV", como afirma, ou contra a permanência de José Luiz Penna na presidência do partido. Até meados de maio, visitará correligionários na Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Paraná.

FRENÉTICO
O músico Frejat prepara novo CD.

Ele está em estúdio regravando a música "A Felicidade Bate à Sua Porta", de Gonzaguinha, sucesso na voz das Frenéticas.

AROMATIZADA
A especialista em chás Inés Berton, que já criou aromas para Dalai Lama, Lenny Kravitz, Sofia Coppola e Uma Thurman, vem ao Brasil.

A argentina conduzirá uma degustação de chás da Inti Zen no restaurante Dui, nos Jardins, no dia 5 de maio, para clientes da importadora Winebrands.

ARTE DA MAGIA
O cônsul holandês em SP, Louis W.M. Piët, circulou pela abertura da mostra "O Mundo Mágico de Escher" no Centro Cultural Banco do Brasil. O diretor do CCBB, Marcelo Mendonça, e o curador da exposição, Pieter Tjabbes, brincaram em uma das obras do artista. A produtora Geno Riva e a curadora Denise Mattar foram ao evento.

CARREGANDO O PIANO
O artista plástico paulistano Eduardo Srur criou uma instalação feita com um piano de cabeça para baixo na parede de um novo clube de música em SP, o Tonk. A casa será inaugurada na quarta, ao lado do Instituto Tomie Ohtake. Srur é conhecido por suas intervenções na cidade, como as esculturas que fez imitando garrafas de plástico gigantes nas margens do rio Tietê, em 2008, e os touros de isopor que colocou em cima das vacas da Cow Parade, no ano passado, na avenida Paulista.

CURTO-CIRCUITO

A missa pascal da catedral da Sé, amanhã, terá música composta por Amaral Vieira e regida por Naomi Munakata. Às 17h.

Leonardo lança hoje o CD "Alucinação" com show no Credicard Hall, às 22h. 12 anos.

O coletivo de grafite SHN dá curso gratuito na galeria Choque Cultural. Hoje, às 15h

O Cine Ceará, que acontece de 8 a 15 de junho, terá uma seleção de 15 curtas-metragens do País Basco.

O restaurante La Mar celebra dois anos com menu do chef chileno Alex Dioces. Na segunda, às 20h30.

O fundo Insight Venture Partners comprou participação no site Hotel Urbano.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

DRAUZIO VARELLA - Redução de danos


Redução de danos 
DRAUZIO VARELLA

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/04/11

A questão da vida saudável desvia a medicina de sua função: aliviar o sofrimento humano 


OS BRASILEIROS engordam cada vez mais. Em 13 anos estarão tão obesos quanto os americanos de hoje. Em pouco mais de uma década a paisagem humana de nossas cidades será a mesma que choca os turistas quando levam os filhos à Disneylândia.
É paradoxal: de um lado, nunca fomos expostos a tanta informação de qualidade sobre a conveniência de adotar a assim chamada alimentação saudável, beber com moderação, praticar atividade física e não fumar; de outro, adotamos o estilo de vida oposto.
O fenômeno é mundial, poupa apenas os países muito pobres em que há falta de comida e de acesso ao conforto que a tecnologia proporciona.
Se toda a humanidade se comporta dessa maneira, sou forçado a questionar o papel da medicina no mundo moderno.
Há mais de 40 anos repito para meus pacientes que o corpo humano é uma máquina desenhada para o movimento, que a rotina sedentária e o excesso de calorias ingeridas apressam o envelhecimento e encurtam a duração da vida. Pareço o sacerdote no púlpito a insistir que os fiéis resistam às tentações da carne, diante da igreja surda.
A questão da vida saudável transforma o médico num defensor involuntário da moral e dos bons costumes e desvia a medicina de sua função primordial: aliviar o sofrimento humano. Explico o que quero dizer, caríssimo leitor.
Um homem me procura porque bebe demais. O que posso fazer para ajudá-lo? Aconselhá-lo a beber com moderação? Explicar que a bebida faz mal? Receitar os poucos medicamentos que a medicina desenvolveu para enfrentar de forma pífia uma tragédia pessoal dessa magnitude? Ou encaminhá-lo para os Alcoólicos Anônimos?
A experiência me ensinou a confiar mais nos Alcoólicos Anônimos, por uma razão simples: os resultados são melhores. Existe exemplo mais ilustrativo da incompetência médica do que curar menos do que um grupo de autoajuda?
Na cadeia, atendo mulheres que imploram tratamento para largar da cocaína. Chegam desesperadas, cheias de dívidas que lhes ameaçam a integridade física. O que a medicina tem para oferecer-lhes além de aconselhá-las a dizer não às drogas?
De que armas o médico dispõe para tratar as compulsões que infernizam aqueles que assaltam geladeiras na calada da noite, fumam, jogam, bebem, compram sem parar ou usam crack?
No início da epidemia de Aids, atendi um policial de 40 anos, pai de três filhos, que me pedia para encaminhá-lo a um cirurgião que o castrasse. Contou que não conseguia passar duas ou três semanas sem usar cocaína. Sob a ação da droga, invariavelmente ia atrás dos travestis que trabalham nas ruas, e acabava a noite nos hoteizinhos mais sórdidos da cidade. Nesses locais, já havia sido espancado e assaltado mais de uma vez.
Ingênuo como eu era na época, expliquei que a causa de sua desventura não era a sexualidade, mas a cocaína. Respondeu que estava cansado de saber, o problema é que não conseguia evitar as recaídas; se pelo menos a libido lhe desse trégua, seria possível reduzir os danos que a droga lhe causava.
Tentei inutilmente convencê-lo a desistir da ideia da castração, cirurgia de consequências irreversíveis, mas ele estava tão decidido que sugeri uma medida alternativa: tomar uma injeção de uma droga que bloqueia a produção de testosterona durante três meses, período que lhe daria mais tempo para reflexão.
Dois meses mais tarde, ele retornou, feliz com o resultado. Não havia abandonado a cocaína, mas estava livre da compulsão sexual.
O exemplo é didático. Não é papel do médico julgar comportamentos de acordo com seus critérios morais, nem é aceitável que a medicina atribua ao doente a culpa moral por ser portador da enfermidade que o aflige.
A ciência médica moderna deveria abandonar a ficção ridícula de transformar seres humanos preguiçosos, compulsivos, cheios de defeitos e vícios que prejudicam o organismo, em rebanhos de cidadãos bem comportados que passem a existência dedicados a cuidar da saúde acima de tudo, porque sempre haverá aqueles que acharão sem graça viver dessa maneira.
O que nos falta são tratamentos eficazes e recursos técnicos para reduzir os danos da obesidade, do sedentarismo, da dependência química e das compulsões autodestrutivas que nos atormentam. 

RENATA LO PRETE - PAINEL


Agenda humanitária
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/04/11

Prestes a reabrir escritório de representação no Brasil, a Anistia Internacional abraçará a causa dos grupos afetados pelas obras de infraestrutura para a Copa-2014 e a Olimpíada-2016. Aguardando reunião com Dilma Rousseff, o secretário-geral da entidade, Salil Shetty, ouvirá terça-feira no Rio um conselho popular recém-formado por moradores de áreas que estão sob risco de remoção na rota dos megaempreendimentos erguidos para os dois eventos.
A ideia do órgão é, amparado na nova política de defesa dos direitos humanos do Planalto, mediar a solução de conflitos para reduzir os impactos sociais e ambientais das obras nas regiões metropolitanas.


Fui claro? 

Para fazer de Gabriel Chalita o candidato do PMDB à prefeitura paulistana em 2012, Michel Temer ofereceu ao deputado federal, hoje no PSB, controle total sobre o diretório peemedebista da capital, que acaba de ganhar mais duas secretarias de Gilberto Kassab.

Mala e cuia 
Raimundo Colombo deve anunciar nesta semana que vai mesmo para o PSD. Junto com o governador catarinense irão Paulo Bornhausen, dez deputados, vários prefeitos e vereadores. Jorge Bornhausen deve ficar sem partido.

Sem barba 

Diante da incompatibilidade entre os Bornhausen e o PT, em torno do qual o PSD vai orbitar, um aliado da família faz uma distinção entre Lula e Dilma Rousseff, com quem daria para "conviver".

Cerrado 
Segue a briga entre aliados pelo segundo escalão. Para o comando da Sudeco -por ora só recriada por decreto- o PMDB indicou o ex-governador Iris Resende. Mas o PSB alardeia que o posto irá para Marcelo Dourado, ligado ao senador Rodrigo Rollemberg (DF).

Exigentes 1 

Difícil mesmo está acomodar José Maranhão e Hélio Costa, que encabeçam a lista de indicados do PMDB do Senado. Preterido para os bancos federais e chamado para a Embratur, Maranhão disse que a empresa atua mais no exterior, o que fugiria do seu "perfil".

Exigentes 2 
A situação do ex-ministro das Comunicações é ainda mais delicada. Foi apresentada a Hélio Costa uma lista de possíveis recolocações na máquina federal. E ele disse não a todas.

Removendo... 

O líder do governo no Senado, Romero Jucá, foi escalado para vencer as resistências de Fernando Collor (PTB-AL) e José Sarney (PMDB-AP) ao fim do sigilo eterno de documentos classificados ultrassecretos. Eles dizem, em privado, preferir a manutenção do segredo para alguns documentos.

...barreiras 
O aval de ambos é tido pelo Planalto como vital para a aprovação do projeto a tempo de ser sancionado no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de maio), como quer Dilma.

Conciliador 
O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) acompanhará "in loco" o funcionamento da tenda jurídica itinerante que será montada no próximo sábado na UPP da Cidade de Deus (RJ). Juízes e promotores orientarão os moradores a buscar conciliação em conflitos familiares e trabalhistas.

No papel 
Polêmica escolha de Geraldo Alckmin para a FDE, José Bernardo Ortiz reedita na entidade prática que adotara enquanto prefeito de Taubaté. Avesso a computadores, despacha com bilhetes cujas tonalidades oscilam conforme a urgência, para desespero dos assessores.

Custo SP 
Alckmin receberá de Paulo Skaf na segunda a pauta de pedidos da Fiesp para o governo paulista, centrada na desoneração.
com FABIO ZAMBELI e ANA FLOR

tiroteio


"O presidente da Câmara fechou o compromisso de votar, mesmo sem consenso. Quem perder pode tentar reverter no Senado, mas não podemos mais protelar."
DO LÍDER DO PMDB NA CÂMARA, HENRIQUE EDUARDO ALVES (RN), sobre a dificuldade de alinhavar os últimos acordos para a votação do Código Florestal.

contraponto

Quem dá mais?

Em leilão realizado em Laranjal Paulista, Geraldo Alckmin foi presenteado com um "tourinho", que doou para a Santa Casa. Um agricultor ganhou a incumbência de tratá-lo. Um ano depois, o governador, de volta à cidade, reconheceu o animal pronto para ser leiloado. Apelidado de "Geraldão", foi arrematado por R$ 8.500. O tucano comemorou:
-Minha cotação eu não sei como está. Mas a do "Geraldão" bateu o recorde. Foi a maior arracadação de um leilão da Santa Casa.

CELSO MING - Pro trabalhador, bacalhau


Pro trabalhador, bacalhau
CELSO MING

O ESTADO DE SÃO PAULO - 23/04/11

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, corre certo risco de se tornar conhecido como a rainha Maria Antonieta do governo Dilma.
Na última terça-feira, ele afirmou que há maneiras mais eficientes de combater a inflação. E deu um exemplo: os trabalhadores devem agir mais conscientemente e, em vez de carne, que ficou cara, devem consumir bacalhau.
Não consta que alguém tivesse avisado Maria Antonieta de que os brioches que ela recomendara para consumo dos seus súditos pouco antes da Revolução Francesa eram bem mais caros do que o pão que o povão também já não podia comprar.
Mas ainda há tempo para alguém avisar o ministro Lupi de que o quilo de bacalhau que ele está recomendando apenas episodicamente sai mais barato do que a carne consumida pelo trabalhador brasileiro.
Mas não é propriamente por essa recomendação que o ministro Lupi deve merecer reparo. Deve merecer pelo que ele pensa sobre a inflação e pela ordem de prioridade que seu contra-ataque deve receber do governo de que participa.
Lupi assim se expressou terça-feira: "A inflação não é esse diabo que muita gente fala. Temos de combater a inflação, mas sem sacrificar o crescimento". Assim, o ministro bombardeia a política de juros aplicada como terapia contra a inflação, porque, segundo ele, prejudica o emprego e o interesse do trabalhador.
Infelizmente, muita gente no Brasil pensa como o ministro Lupi e, por pensar assim, deve ter estranhado as frequentes declarações do ex-operário Lula da Silva, que em seu governo sempre julgou a inflação nefasta para a vida do trabalhador. Lula nunca desautorizou seus cães de guarda no Banco Central a atacá-la com a ferocidade dos juros.
Não há nos manuais da Economia Política a antinomia entre combate à inflação e garantia do crescimento econômico. Ou seja, não há sobre isso recomendação excludente, do tipo "ou se faz uma coisa ou se faz outra". Todos os estudos sobre o assunto mostram que a inflação pode, de início, dar a impressão de que estimula o consumo, mas sempre produz duas vítimas: a primeira é o salário do trabalhador e a outra é o próprio crescimento econômico. A escalada de preços derruba o investimento e também a saúde de qualquer economia.
Isso significa que uma das precondições (embora não suficiente) para a obtenção de um crescimento econômico sustentável é o controle da inflação. A ideia de que uma inflaçãozinha a mais não é o diabo e que pode ser tolerada, como pensa o ministro do Trabalho, tende a adiar o contra-ataque e esse adiamento torna as coisas bem mais difíceis depois, especialmente se a inflação engatar a terceira marcha.
Lupi parece até mesmo fora de sintonia com o discurso do governo de que participa. Como seu partido, o PDT, se posicionou contra o governo na questão do reajuste do salário mínimo (a proposta defendida pelo PDT era de um reajuste mais alto), a presidente Dilma Rousseff o ameaçou de demissão.
E a falta de sintonia continua. Desde seu pronunciamento de posse, a presidente Dilma vem repetindo que a prioridade de seu governo é o combate à inflação. Lupi pensa diferente.
CONFIRA
As cotações do ouro não param de subir. Este é o resultado da crescente perda de confiança na capacidade de o Tesouro americano honrar sua dívida. Reflete, também, a desvalorização do dólar ante as outras opções de aplicação: cada vez mais são necessários mais dólares para comprar o mesmo ativo.
O tamanho da alta
A onça-troy de ouro (31,1 gramas) subiu em dólares 5,7% em 2011 e bateu recorde depois de a Standard & Poor"s colocar a classificação dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos em "perspectiva negativa". 

GOSTOSA

WALTER CENEVIVA - Prisões e direito em visão pessimista


Prisões e direito em visão pessimista
WALTER CENEVIVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/04/11


A pena é fundamental no enfrentamento dos crimes, mas não se confunde com atos de vingança coletiva 

DISCUTIDA A QUESTÃO das prisões brasileiras, duas posições discordantes surgem, entre muitas outras, quando predomina, na avaliação da matéria, o ângulo do pagador de impostos, de cujo bolso sai a construção de cadeias e a manutenção dos encarcerados.
O assunto perturba a avaliação racional da sociedade. Tome-se, em contraposição, o simbolismo econômico-social do trabalhador comum. Enfrenta a jornada diária de trabalho, com seus encargos de família, mas ganha por mês menos que o custo mensal de manter cada prisioneiro pelo Estado.
Ao lado das questões jurídicas e científicas do penitenciarismo contemporâneo, crescem as da delinquência e do sistema punitivo, no cotejar com a avaliação dos crescentes encargos envolvidos.
A complexidade do combate ao crime, nos três poderes constitucionais, é grande. Vai da elaboração de leis e códigos à sua aplicação prática, com a constante busca de aprimoramento; da vigilância e fiscalização preventivas às investigações e à captura dos delinquentes.
Completa-se no julgamento final, na condenação ou na absolvição. Tudo tem custo para a administração pública e, portanto, para a cidadania. E os custos tendem a aumentar sempre mais.
Devemos ter consciência de que a questão econômica não é a mais importante. A pena é dado fundamental no enfrentamento da criminalidade, mas não se confunde com atos de vingança coletiva.
Compõe os elementos de garantia da sociedade, quando tenha aplicação rápida sem perda da qualidade. Os pedidos da população para o agravamento desmedido das punições não satisfazem o requisito da defesa da comunidade, cuja realização não tem sido assegurada pela administração.
Sabe-se que faltam prisões. O espaço disponível para recolhimento dos condenados é insuficiente. O ritmo da construção de novos presídios, mesmo lento, sai de nosso bolso, por meio de impostos e taxas cada vez mais altos.
Sendo certo que todos pagamos pelo enfrentamento da criminalidade, o assunto não é só dos governos, mas reclama que a comunidade conheça o problema, esteja atenta para o que vem sendo feito e daquilo a se fazer.
As prisões superlotadas de hoje são o oposto do desejável. Não diminuem o custo médio de cada criminoso recolhido. A violência e a promiscuidade estimulam mais delitos. O quadro se completa ao se saber, na teoria e na prática, que a avaliação social das comunidades brasileiras mostra grande descrença nos resultados obtidos pelos três poderes constitucionais.
Os desejáveis resultados não têm surgido. Desse modo, para discutir qual o melhor efeito concreto, com menor gasto operacional, seria bom que houvesse cadeias bem aparelhadas, seguras, aptas à classificação dos tipos de condenados, para sua distribuição ponderada, a ponto de impedir que autores de condutas mais graves, sob penas mais longas, se tornem mestres ou estimuladores de novos criminosos.
Se o Judiciário tivesse condições administrativas e humanas de ser menos lento, seria afastada a quase certeza de que apenas uns poucos são condenados e levados a cumprir condenações, raramente em prazo integral.
Ressalvado que o problema não é apenas brasileiro, a distância entre as providências necessárias e o mínimo exigido a curto prazo parece imensa.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Prefeitura 1
SONIA RACY
 O Estado de S.Paulo - 23/04/11

Gabriel Chalita sai do PSB e vai para o PMDB com a garantia de que será candidato à Prefeitura de São Paulo. O anuncio oficial deve sair em maio. A informação foi antecipada ontem pela coluna na Rádio Estadão ESPN depois de uma conversa com Michel Temer, em Comandatuba, antes da abertura do tradicional evento organizado por João Doria, do Lide.

Em café da manha light, certamente para manter a boa forma, o vice-presidente admitiu também a possibilidade de se costurar uma aliança com o PT nas eleições de 2012. Se isso andar, será mais uma perda para o PSDB, que não está bem das pernas.

Prefeitura 2

E Paulo Skaf? O vice-presidente explica que as negociações para trazê-lo para o partido envolvem candidatura para governador: "O foco do Skaf não é a Prefeitura e, sim, o Governo de São Paulo".

Prefeitura 3

Indagado, Eduardo Campos, presidente do PSB, se recusou a comentar a saída de Chalita do partido: "Só quando for oficial".

De fé
Pedro Novais, do Turismo, foi à Nossa Senhora Aparecida discutir viagens religiosas, semana passada. Com Dom Raymundo Damasceno Assis, esboçou estratégia para emplacar o turismo brasileiro na agência Opera Romana - a maior do seguimento no mundo.

Saiu com uma imagem da padroeira, presente do cardeal.

Peixe gordo
A diretoria do Santos comemora. Em comparação à gestão anterior, economizou mais de R$ 8 milhões em um ano, ajustando pagamento de serviços como limpeza, alimentação e segurança. Instituiu: os contratos devem ser cotados e licitados.

Facebuquê
André Skaf trabalha para lançar rede social de luxo e engajamento humanitário. Chamará "ueedo".

Vida, vida
Ferreira Goulart conseguiu. O MinC aprovou captação de R$ 1,3 milhão para a adaptação teatral de Homem Como Invenção de Si Mesmo.

Poeira
Pietro, neto de Emerson Fittipaldi, ganhou patrocínio da Moura. O piloto de stock car, de 14 anos, seguirá em campeonatos da Nascar nos EUA.


Direto de Comandatuba
A grande ausência do tradicional seminário anual de João Doria, realizado na Ilha de Comandatuba, foi Dilma Rousseff, esperada com ansiedade pelos quase 700 participantes do evento fechado, no Hotel Transamérica. Capa da revista do Lide, a presidente alegou cansaço extremo. Não se recuperou do jet lag da China. Mas prometeu a Doria que receberá, pessoalmente, o Prêmio Personalidade do Ano, em almoço a ser organizado entre maio e junho, em São Paulo. "Jantei com ela na quarta e ela me pareceu cansada, estava sem dormir direito há quase três dias", justificou Michel Temer, seu vice, à coluna.

A desistência da presidente, entretanto, acabou sendo acompanhada pela de outros ministros confirmados e agendados, como Aloizio Mercadante, Fernando Pimentel e Miriam Belchior. Só José Eduardo Cardozo confirmou e apareceu para a abertura. E Fernando Haddad era esperado para ontem, no fim da tarde.

O fato gerou comentários sobre um possível boicote ao evento por parte do Governo Federal. Afinal, Doria apoiou tanto Serra quanto Geraldo Alckmin - este último, presente no evento. O governador paulista, porém, chegou atrasado ontem para a abertura do seminário. Teve que aguardar pacientemente um intervalo nos discursos para ser chamado à mesa das autoridades. Alckmin deve ter se esquecido do rigor de Doria com horários. O anfitrião não abriu exceção para o governador.

Este perfeccionismo perseguido pelo dirigente do Lide é sua marca registrada. E quem aposta contra, erra. Na quinta-feira, em Congonhas, antes da partida das três aeronaves fretadas da TAM para levar os convidados do evento à Bahia, todos recebiam um brinde da Trousseau. Ao que um certo empresário observou: "Nossa, o João, finalmente pisou na bola. Não pensou que teremos que carregar isto até lá". Errou. O "pacote" continha um travesseiro para maior conforto durante o voo.

E diante de imprevistos normais em um acontecimento deste porte, a organização só não conseguiu, mesmo, foi tapar o buraco aberto pela falta de Dilma.

CESAR MAIA - Três propostas eleitorais


Três propostas eleitorais
CESAR MAIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/04/11


Segue o debate, e o impasse, sobre a reforma eleitoral.
Seria melhor deter-se sobre o processo eleitoral em si, fazendo uma análise comparada com os demais países.
Três questões se destacam.
A primeira questão é sobre o debate na televisão. Em nenhum país, e em especial nas democracias maduras, o debate pode ser feito na semana da eleição -menos ainda na antevéspera.
Nos EUA e na Europa, o último debate ocorre duas semanas antes. Vários estudos nos EUA mostram que o impacto da coreografia dos debates na TV se dilui em até quatro dias.
O debate deve aprofundar as questões políticas, e não se propor a pegadinhas, a gracinhas e a agressões, ou a dar vantagens aos televisivos.
Com um prazo maior, efeitos desse tipo se diluem e o eleitor volta a decidir sobre as questões da campanha.
A segunda é sobre as pesquisas. Alguns países exigem currículo dos institutos, evitando que criações pré-eleitorais divulguem seus resultados. A grande imprensa faz sua seleção, mas não é geral. E publicidade paga não se nega.
Outro aspecto é o prazo limite de publicação de pesquisas. Alguns países exageram estabelecendo limites amplos.
Mas -por outro lado- a divulgação na véspera e no dia da eleição, é um exagero, sempre reforçado pelas manchetes.
A terceira questão é a mais grave de todas. A compra de votos, a cada ano, se torna mais escandalosa no Brasil. É feita por meio de um eufemismo: "cabos eleitorais".
Milhares são contratados por 90 dias, depois por mais 60 dias, por mais 30 dias e finalmente exponenciados nos últimos três dias.
A legislação, ingenuamente, proíbe a boca de urna, mas permite as bandeiras e outras alegorias até no domingo.
Em 2010, levantamentos em diversos locais do Rio confirmaram que os pagamentos são feitos de forma ascendente, desde três meses antes, até os últimos três dias, quando valem 20% do salário mínimo ou mais. E que 90% dos "cabos eleitorais" vão votar no candidato que os contrata.
Um candidato a deputado bem patrocinado, põe nos últimos três dias 40 mil "cabos eleitorais" pelo Estado. Estima-se que o gasto oculto com "cabos eleitorais" seja maior que todos os gastos de campanha declarados, dos majoritários e dos proporcionais.
Em vários países, aplica-se a lei do silencio a partir da sexta-feira anterior à eleição, no domingo. Isso vale para todo tipo de manifestação, sejam panfletos, colinhas, bandeiras ou carros de som.
Esses três dias são chamados de dias de reflexão, para que o eleitor, depois de ter recebido todas as informações e impulsos na campanha, possa tomar a sua decisão sem pressões e sem dinheiro. Corrigir essas três questões vale uma reforma eleitoral. E é questão apenas de vontade.

FERNANDO DE BARROS E SILVA - Pelada em praça pública


Pelada em praça pública
FERNANDO DE BARROS E SILVA

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/04/11

SÃO PAULO - Roupa suja se lava em casa. Sim, mas a oposição já não tem roupa, está pelada no meio da rua, exibindo a sua crise em praça pública. Perdeu, literalmente, a vergonha de mostrar seus vexames.
A nudez é tanto do DEM quanto do PSDB. Anteontem, no jornal "O Globo", o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) desafiava: "Que os coveiros fracassados sigam o caminho adesista e de traição. As urnas darão a resposta!". Referia-se ao tesoureiro do partido, Saulo Queiróz, de saída para o PSD de Gilberto Kassab, e ia além: "O Saulo é um cão fila do Jorge Bornhausen, que está agindo nos bastidores para minar o partido". O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, deve trocar o DEM pelo PSD.
No "Painel" da Folha de ontem, o senador tucano Aloysio Nunes dizia o seguinte: "Stalin bania os inimigos para se manter no poder. O PSDB agora extermina seus amigos para se manter na oposição". Atacava o grupo alckmista, acusado de segregar vereadores simpáticos a Serra-Kassab, seis dos quais debandaram do ninho piando alto contra a turma do governador.
O PSD pode ter sido o deflagrador imediato dessa crise, mas o partido de ocasião do prefeito é muito mais um sintoma da fragilidade da oposição do que a sua causa.
É irônico que essas cenas de desinteligência explícita venham logo na sequência do artigo em que FHC se esforçava para dar um sentido programático, estratégico e coletivo à ação do PSDB.
A palavra de ordem mostra-se impotente e vazia diante do clima de "cada um por si" que toma conta dos tucanos, do DEM, dos dissidentes, da oposição. Kassab virou líder do Partido Salve-se quem Puder.
A fusão dos cacos do PSDB com o que restou do DEM entrou na roda de conversas. Mas, por ora, as reações contrárias de lado a lado à formação desse novo-velho partido parecem mais fortes.
O movimento da oposição não é mesmo de fusão nem de união, mas de dissolução, de esfarelamento.

GOSTOSA

RUY CASTRO - O destino do matador


O destino do matador
RUY CASTRO

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/04/11

RIO DE JANEIRO - Na sua ilusão de controlar o universo, Wellington Menezes de Oliveira, o assassino de Realengo, fez exigências em carta que deixou antes de chacinar as crianças e se matar. Decretou que seu corpo não poderia ser tocado por "impuros", como classificou os adúlteros e os fornicadores; que, para seu sepultamento, deveriam banhá-lo, secá-lo e envolvê-lo, despido, num lençol branco; que desejava ser enterrado ao lado de sua mãe, no cemitério do Murundu; e que orassem por ele.
Se isto mitiga o desejo de revanche daqueles que, se pudessem, tê-lo-iam linchado, os últimos desejos de Wellington foram ontem contrariados em toda linha. Ninguém reclamou seu corpo, nem mesmo sua família. Foi sepultado numa cova rasa e sem lápide, nu, sem lençol, e em outro cemitério, o do Caju. Seu caixão não teve cortejo -foi acompanhado por um burocrático funcionário da Santa Casa de Misericórdia. E, em vez de oração, gerou apenas um frio laudo assinado pelo diretor do Instituto Médico Legal.
Mas o pior, para Wellington, já havia acontecido antes, no mesmo dia da chacina. Levado para o IML, ele foi autopsiado. Mãos sob o seu ponto de vista "impuras" devem tê-lo tocado de todo jeito -não se supõe que a equipe de médicos e estagiários seja composta de virgens como ele; bem provável que, nela, houvesse um ou outro adúltero; e, certamente, a maioria deve fornicar segundo a média, uma ou duas vezes por semana.
Mais terrível ainda pode ter sido a própria autópsia, em que seu abdômen foi aberto de alto a baixo, num só corte, como se ele fosse um frango. Depois de, sem muito carinho, extirparem suas entranhas para análise, devem tê-lo costurado às pressas, com um ziguezague de longos pontos "à la diable", antes de mandá-lo para a geladeira.
Ao ditar ordens sobre seu destino, Wellington esqueceu-se de combinar com a posteridade.

CLAUDIO HUMBERTO


"(O PSDB) não tem um perfil
ideológico definido"

Ex-presidente Lula, voltando a provocar o partido dos tucanos e suas contradições

'Puxados' milionários e suspeitos
A Infraero, estatal de infraestrutura aeroportuária, reduziu o ritmo de obras, durante o ano de 2010, para se concentrar em uma alternativa que a oposição no Congresso considera suspeita: a instalação de "puxadinhos" em aeroportos que na verdade necessitam de reforma. Os contratos são milionários para instalações provisórias, galpões de gosto duvidoso, feitos de material sintético, que custam R$ 5,7 milhões.

Jeitinho

Já foram instalados "puxadinhos", que a Infraero chama de "módulos operacionais", nos aeroportos de Brasília e Florianópolis.

Mais quatro

Outros quatro aeroportos estão ganhando "puxadinhos" milionários em lugar de ampliação: Guarulhos, Campinas, Goiânia e Vitória.

Mais do mesmo

Sedes da Copa, Porto Alegre e Cuiabá não verão reformas: a Infraero informa que seus aeroportos ganharão apenas "puxadinhos".

Promessas

A Infraero informou que há obras em andamento e que estarão concluídas para "atender a demanda gerada pela Copa de 2014". Anrã.

Põe na conta

O Brasil vai doar, anualmente, US$ 20 milhões à Aliança Global para vacinas e imunização. Contra a dengue, por exemplo, ainda não temos.


Nacionalismo

O Partido da Ecologia Nacional terá o nº 51, talvez uma homenagem dos verdes à nossa cachaça, produto genuinamente brasileiro.


Paz à força

O Brasil, que se absteve na ONU contra o "uso da força" na Líbia, fornece, além de minas antipessoal, as bombas de cacho (fragmentação), banidas por 93 países. Kadafi negou que as usasse contra os rebeldes.

Dedicação

Há algo diferente no policiamento de Brasília. No posto policial da 302, no Sudoeste, os próprios PMs compraram um celular e distribuíram o número nas redondezas, explicando que é para descongestionar o 190.

Marimbondo

O senador José Sarney é o preferido atual das denúncias de escândalos das revistas semanais. Chama-se a isto: antibiografia. Ele parece não acusar o golpes. Está acostumado.

Tiro no pé

Desandou a revitalização da antiga linha férrea Conakry Kankan, na Guiné (África), inaugurada por Lula no segundo evento internacional pós-presidência, em fevereiro. O presidente Alpha Condé se desentendeu com a subcontratada da Vale e outros quiproquós.

Maior aperto

O aeroporto dos Guararapes, ou Gilberto Freyre, do Recife, afronta o mestre: na quarta (20), as filas dos banheiros femininos serpenteavam no desembarque doméstico. Parecia rodoviária do interior.

Vale promessa

Sob pressão do senador Ivo Cassol (PP), o ministro Luiz Sérgio disse que Dilma vai sancionar o projeto que autoriza a transposição dos servidores públicos do governo de Rondônia para a União. Um presente aos cofres públicos federais de R$ 20 milhões por mês. 

PODER SEM PUDOR

Severino, o imbatível
Severino Cavalcanti era presidente da Câmara e foi informado dos nomes que eram finalistas na votação para batizar o jumento que se tornara mascote de um programa da MTV chamado "Rockgol": Severino e Juvenal. O deputado não perdeu a esportiva:
- Nem essa eleição eu perco.
Acertou: os internautas da MTV deram ao jegue o seu nome.