domingo, setembro 30, 2012

SENHORA DE IPANEMA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 30/09


Helô Pinheiro lança biografia nos 50 anos da canção que a fez famosa


"Você tá bem para quem acabou de fazer 50 anos", diz a fã ao vê-la passar no doce balanço da passarela, em um bufê no Recife, há dez dias, quando mostrava a coleção Helô Pinheiro by Amarras.

Parceira da grife para "jovem senhora", Helô ri do engano contido no elogio. "Fiz 67 anos", corrige. "Garota de Ipanema", a canção, é que veio ao mundo há cinco décadas, em agosto de 1962.

A vida da carioca do subúrbio que se mudou para Ipanema aos seis anos confunde-se com a criação de Tom Jobim e de Vinicius de Moraes. Tanto que a musa escolheu a efeméride para lançar, anteontem, a biografia "A Eterna Garota de Ipanema" (Aleph, 128 págs., R$ 36).

Conta o que é ser a tradução viva do maior sucesso da Bossa Nova. "Como Vinicius e Tom não estão mais aqui, sou o ímã da história. Adoro o assédio. Sou homenageada aonde quer que vá", relata à repórter Eliane Trindade. A canção é a segunda mais gravada do mundo, atrás de "Yesterday", dos Beatles.

Helô relata situações bizarras mundo afora. De concurso de miss no interior a tietagem em shopping de Miami. "As pessoas me agarram, se ajoelham. Já chegaram a rasgar minha blusa. Um pianista americano, ao me ver, molhou a calça. De emoção."

A visão de Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, no esplendor dos 17 anos, provocava ebulições no bar Veloso, reduto boêmio carioca nos anos 1960. "Eu era filha de militar, virgem. Eles queriam fazer de mim uma Leila Diniz. Mas era recatada, boba." O pai foi censor do "Pasquim". E Vinicius levou três anos para revelar quem era a "coisa mais linda e cheia de graça". Depois, a musa e o poetinha viraram amigos.

A moça do corpo dourado disse não a Jobim. "Se não estivesse apaixonada, teria pegado o Tom", brinca. Está casada há 46 anos com o engenheiro Fernando Pinheiro. "Queria dar porrada quando soube que os dois estavam 'abiscoitando' minha namorada. Tratei de me casar logo", diverte-se ele hoje.

Tom foi padrinho do casamento na Candelária, em 1966. Vinicius estava no Festival de Cannes. Encontrou o casal na Europa, onde ela curtiu a fama além-fronteiras. Helô declinou convite para chá com a rainha da Inglaterra, mas aceitou outros. "Era hotel e jantares de graça. O dinheiro rendeu. Um mês de viagem viraram três."

Reportagens de revistas e de jornais cobrem uma das paredes do apartamento em um condomínio, em SP, onde estão desde 1975. As fotos mostram Helô morena. Há décadas, pintou o cabelo de loura. As medidas são quase as mesmas: 1,7 m, 58 kg. "Encolhi 2 cm e engordei 2 kg. É a velhice. Não tive coragem de fazer plástica no rosto. Mas tô precisando dar uma puxadinha no pescoço."

Usa botox e colocou silicone. "Um cirurgião se ofereceu para me operar." Helô hoje apresenta os programas "De Cara com a Maturidade", na Band, e "Ser Mulher", da Fox.

O retoque veio depois de posar nua em 1987. A empresa do sogro faliu, e o marido estava desempregado. "Passei muita dificuldade. A fama nunca correspondeu na parte financeira. A 'Playboy' veio com um caminhão de dinheiro." O cachê foi o equivalente hoje a R$ 400 mil.

"Tava quarentona, rodada, quatro filhos. Fiquei relutante pelas crianças. Será que vão achar que a mãe é prostituta?" Em 2003, fez outro nu, aos 58 anos, ao lado da filha Ticiane, hoje mulher do publicitário Roberto Justus, que assina o prefácio do livro da sogra. "O ensaio ficou lindíssimo, com um cavalo branco", diz Helô, que admite: "Usaram mais fotos da Tici. Nas minhas iam ter que fazer muito mais Photoshop".

Com igual sinceridade, ela revela paixões, às quais o casamento sobreviveu. "Toda relação tem entressafras." No livro, lamenta ter perdido a chance de viver um romance com Roberto Carlos.

Um momento "por que tudo é tão triste?" foi a briga judicial com os herdeiros dos compositores, quando registrou a marca Garota de Ipanema e abriu uma loja. "Disseram que não queriam o nome deles no meio de roupas cafonas." Deu no "New York Times". Fizeram acordo.

A canção, que teve de Frank Sinatra a Amy Winehouse como intérprete, segue onipresente na vida de Helô: é o toque do celular da Senhora de Ipanema.

confissões de Helô
PÁGINAS 11 E 12
-Estou apaixonado por você.
Fiquei atordoada ao ouvir as palavras... Elas ecoam em mim até hoje... Tom [Jobim] era 17 anos mais velho do que eu, casado e tinha dois filhos! Além disso, eu estava namorando firme, e só de ouvir aquele homem maravilhoso se declarar, senti que traía Fernando.
-Mas, Tom, você é casado... e eu sou virgem.

PÁGINAS 75 E 76
Surgiu um clima entre nós. Eu era fã de Roberto [Carlos]... Na despedida, quando ia dar um beijo no seu rosto, ágil, ele me beijou na boca. Delirei!
Encerrado o show, Roberto beijou uma flor e a jogou para mim... Quando entramos, perguntei: Guardou minha foto?
Respondeu: Não. Joguei pela janela do avião.
Só então percebi a mancada ao levar meu marido ao show.

João Grilo era feliz e não sabia - GAUDÊNCIO TORQUATO


O Estado de S.Paulo - 30/09


"Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré! A vaca mansa dá leite, a braba dá quando quer. A mansa dá sossegada, a braba levanta o pé. Já fui barco, fui navio, mas hoje sou escaler. Já fui menino, fui homem, só me falta ser mulher." O astuto João Grilo podia recitar versos destrambelhados, fazer traquinagens com o grande amigo Chicó e arrematar impressões com a maior inocência, como a que fez para Manuel, o Leão de Judá, o filho de David, o Jesus negro que pontifica na peça O Auto da Compadecida: "O senhor é Jesus? (...) Aquele a quem chamavam Cristo? (...) Não é lhe faltando o respeito não, mas eu pensava que o senhor era muito menos queimado". Grilo jamais podia adivinhar que suas lorotas poderiam, um dia, em vez de gostosas gargalhadas, causar sérios dissabores. A ele e ao pai que o gerou: o teatrólogo, o advogado, o cancioneiro, o romancista da Academia Brasileira de Letras, o genial paraibano Ariano Suassuna.

Falta pouco para o grupo que se autointitula defensor do conceito "politicamente correto" jogar o autor de A Pedra do Reino na masmorra da censura, para fazer companhia a um dos mais influentes escritores brasileiros, Monteiro Lobato. Como se sabe, este autor foi execrado por comparar Tia Anastácia, personagem de Caçadas de Pedrinho, a uma "macaca de carvão" e, mais recentemente, porque seu conto Negrinha teria conteúdo racista, na visão de uma entidade de advocacia racial e ambiental. Ora, estudiosos consideram o conto um libelo contra a discriminação.

A polêmica sobre o uso do lexema negro na literatura se expande na esteira do debate sobre direitos humanos e combate às variadas formas de discriminação. Acontece que as lutas pela igualdade têm jogado na vala comum da discriminação manifestações de todo tipo, mesmo as que retratam um ciclo histórico. É o caso da obra de Monteiro Lobato, que nasceu seis anos antes da abolição da escravatura e vivenciou, até na fase de escritor, a segregação de escravos. Não há como imaginar personagens que tanto encantaram crianças e adultos - Emília, Pedrinho, Saci-Pererê, Visconde de Sabugosa, Tia Anastácia - adotando, ao final do século 19, a expressão que as patrulhas acham corretas. Quem quiser associar Lobato à discriminação certamente vai forçar a barra para encontrar o ato de ofício, como se diz nestes tempos de julgamento do mensalão. É uma questão de interpretação.

Ele retratava um tempo em que a negritude era apresentada de maneira pejorativa. Censurar a expressão de uma época é apagar costumes, queimar tradições. Contextualizar para os alunos de hoje, por meio de anexos e notas explicativas, obras literárias do passado é passar recibo de ignorância. Sinal de barbárie cultural. Para que servem professores? Não são eles que ensinam, interpretam e analisam as condições dos ciclos históricos?

Veja-se esta frase do padre Anchieta sobre os índios: "Para esse gênero de gente, não há melhor pregação do que espada e vara de ferro". Isso tira seu mérito de catequizador? Não sem razão Joaquim Nabuco, o abolicionista, se indignava com os sacerdotes que possuíam escravos: "Nenhum padre nunca tentou impedir um leilão de escravos, nem condenou o regime religioso das senzalas". Que tapume se pode se colocar nas páginas de O Mulato (1881), de Aluísio Azevedo, onde se lê: "Se você viesse a ter netos, queria que eles apanhassem palmatoadas de um professor mais negro que esta batina?". E como apagar trechos de Histórias e Sonhos, de Lima Barreto, que registra: "Não julguei que fosse negro. Parecia até branco e não fazia feitiços. Contudo todo o povo das redondezas teimava em chamá-lo feiticeiro". Barreto é o mesmo que escreveu Clara dos Anjos (1922), libelo contra o preconceito que conta a história de uma mulata traída e sofrida por causa da cor. Quanta estultice prendê-lo nos grilhões da discriminação.

Nessa toada, passamos por Bernardo Guimarães. Em sua Escrava Isaura (1875) há trechos que hoje estariam no índex das proibições: "Não era melhor que tivesse nascido bruta e disforme como a mais vil das negras (...)?". Aportamos na Bahia de Jorge Amado. Em Capitães de Areia descreve João Grande: "Negro de 13 anos, forte e o mais alto de todos. Tinha pouca inteligência, mas era temido e bondoso". Pelo andar da carruagem, os patrulheiros de plantão não se convencem nem mesmo com a beleza poética do canto de Castro Alves. Enxergariam palavras politicamente incorretas do tipo: "E quando a negra insônia te devora" ou "corre nas veias negras desse mármore não sei que sangue vil de messalina". Imaginem se descobrirem o jesuíta André João Antonil, autor de Cultura e Opulência do Brasil (1711), fazendo esta consideração: "Os mulatos e as mulatas são fonte de todos os vícios do Brasil".

Pode-se atribuir ao celebrado Fernando Pessoa a pecha de machista? Eis o que pensava: "O espírito feminino é mutilado e inferior; o verdadeiro pecado original, ingênito nos homens, é nascer de mulher". É possível enxergar Shakespeare acorrentado nos porões da censura? Pois em Otelo se lê que Brabâncio deixara a filha livre para escolher o marido que mais lhe agradasse, mas descobriu que, em vez de um homem da classe senatorial, a donzela escolhera um mouro para se casar. Decidiu, então, procurar Otelo (o mouro) para matá-lo. O roteiro cabe na enciclopédia dos patrulheiros.

Pergunta de pé de texto: por que a tentativa de mudar a História? Simples. O entendimento dessa turma é que chegou a hora do acerto final. Urge refazer a História do passado com os verbos (e as verbas) do presente. Garantir que o ontem não existiu. Eis aí a pontinha da Revolução Cultural que bu(r)rocratas tentam engendrar desde 2004, quando criaram uma cartilha com 96 expressões que consideraram politicamente incorretas. Os "inventores" da nova cultura poderiam até tentar mudar o Código de Hamurabi, escrito por volta de 1700 a. C. Vão esbarrar numa montanha de preconceitos.

A raiz do problema - DORA KRAMER


 O Estado de S.Paulo - 30/09


A ministra Cármen Lúcia, na sessão de quinta-feira, não levou três minutos para traduzir em concisas e precisas palavras a essência do que se passa há quase dois meses no Supremo Tribunal Federal. Disse tudo e mais um pouco.

"Meu voto não é absolutamente de desesperança na política. É a crença nela e na necessidade de que todos nós, agentes públicos, nos conduzamos com mais rigor no cumprimento das leis", declarou ela, logo após condenar um lote de réus por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Em suma, o exame do processo do mensalão e mesmo as condenações não desqualificam a política. Antes mostram a importância de se qualificar o seu exercício. Seja pela melhoria dos métodos adotados, pela participação atenta do eleitorado ou pela conduta correta dos eleitos como representantes.

Na condição de presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Cármen Lúcia deu um recado que vai muito além do julgamento de uma ação penal. Alcança a raiz do problema quando aborda o modo de funcionamento do presidencialismo sob a ótica da necessidade de sustentação política no Congresso.

"Um governo que não tenha maioria parlamentar tende a não se sustentar. Ele cai ou, se não cai, pode fazer pouca coisa", disse a ministra, em resumo exato da razão pela qual as coalizões partidárias são indispensáveis a qualquer governo.

A lição veio aprendida pelos políticos de governos anteriores ao golpe de 1964, cujos fracassos deveram-se em boa medida a confrontos com o Parlamento.

Fernando Collor talvez não tivesse tido o mandato interrompido há 20 anos se contasse com apoio no Congresso e sustentação na sociedade. Como tinha o PT quando conseguiu dar a volta por cima na época em que o mensalão era só um escândalo e ainda não havia se transformado em processo judicial.

Na realidade, o caso de Collor não se enquadra no padrão das coalizões governamentais firmadas da redemocratização para cá. O sistema ali era de arrecadação de dinheiro mediante extorsão para abastecer um esquema "caseiro" de enriquecimento ilícito.

O modelo que se iniciou na Nova República sob a égide do fisiologismo e foi sendo deformado até resultar no mensalão é diferente: loteia o Estado entre partidos. Mas, como o faz sem critério programático nem qualquer exigência de obediência a normas de conduta, acaba dando margem a toda sorte de ilicitudes em nome da "governabilidade".

O que vai dizendo agora o Supremo Tribunal Federal?

Não é a negação ou a desqualificação da política nem a expressão do desconhecimento por parte dos ministros sobre suas regras. O que o STF diz é que há o limite da legalidade.

Afirma e confirma que não se pode governar por atalhos ao custo da lei porque da transgressão é que nasce o risco ao Estado de direito.

Um balizamento de peso. Quem ataca o Supremo ganharia mais se não perdesse tempo com bobagem e pensasse sobre isso.

Qual é a música?

De um modo geral, as pessoas têm algum apreço pelo que fazem ou dizem. O ex-presidente Lula não. Diz uma coisa num dia, fala o oposto no seguinte e ainda olha o mundo de cima, cheio de razão.

Verdade que só faz isso porque é bem-sucedido. Tem quem goste - e não é pouca gente - de ser levado assim, a cada hora para um lado: é mais fácil ser conduzido que conduzir-se pelo próprio pensamento.

Antes o mensalão era uma "farsa" a cujo desmonte ele iria se dedicar assim que deixasse a Presidência. Agora, o julgamento é "motivo de orgulho", prova inequívoca da firmeza do governo do PT no combate à corrupção.

Faltou o ex-presidente acrescentar a edição de um novo manual de conduta para seus empedernidos correligionários que insistem em comparar o Supremo a um tribunal de exceção.

Sem orientação precisa, o pessoal se perde nos argumentos e não sabe se é para atacar ou defender.

A nobre irmandade - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

O Estado de S.Paulo - 30/09


Tese: o clima frio favoreceu o crescimento de civilizações mais avançadas porque os habitantes de climas frios passavam mais tempo contemplando o fogo. Os povos de climas quentes tinham menos necessidade de fogo para aquecê-los, por isso foram privados das divagações que vêm com a contemplação do fogo e são menos filosóficos e mais superficiais. Nos climas frios, de tanto olhar as chamas qualquer pessoa acabaria desenvolvendo, se não escatologias ou sistemas ontológicos completos, pelo menos teorias.

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Os povos de clima quente têm a experiência direta do sol na cabeça, os de clima frio experimentavam o sol armazenado na madeira, portanto o sol intermediado, reciclado pelo tempo. O fogo armazenado é o sol de segunda mão, quase uma versão literária. Olhar para o sol transformado em fogo domesticado leva a abstrações e ponderações, olhar para o sol original leva à cegueira. Mas tanto o sol vivo no céu quanto o sol ressuscitado no fogo podem destruir o cérebro, um fritando-o e outro levando-o para tão longe que ele quase se eteriza. Não há Einsteins em regiões tropicais, mas também não há muitos cientistas loucos. Abstrações e ponderações em overdose também podem ser fatais. Contemplar muito o fogo também enlouquece.

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A combustão da madeira, sendo consumida pelo fogo do sol que absorveu a vida toda, é uma metáfora para a existência: você também é consumido pela que lhe dá energia - mais ou menos rapidamente, dependendo de ser graveto ou nó de pinho. Se envelhecer é ir ficando cada vez mais grave, só atingiremos nossa verdadeira seriedade depois de mortos, quando nos juntaremos aos fósseis. Também levaremos energia aprisionada para baixo da terra e seremos como o carvão, o petróleo e os restos degradados de tudo que já viveu, integrados na capa explosiva do planeta - o que pode ser mais sério?

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Toda matéria orgânica, da jabuticaba ao papa, almeja isso, essa respeitabilidade subterrânea, essa dignidade de mineral depois da frivolidade efêmera da vida. Do barro viemos e ao barro voltaremos, mas agora em outra categoria, depois da nossa temporada ao sol: a de combustível. Entendo quem prefira a cremação (que é quando a nossa identificação com lenha fica mais completa) mas eu quero tudo a que tenho direito depois de morto. Decomposição, gazes - enfim, minha iniciação na nobre irmandade dos inflamáveis.

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Olhar o fogo devia inflamar a imaginação de quem o contemplava, no tempo das cavernas, e via nele fantasmas e presságios. O fogo era, de certa forma, a televisão da pré-história - com uma programação muito melhor.

Perigo subterrâneo - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 30/09


Prevendo uso eleitoral da greve do metrô, marcada para quinta-feira, Geraldo Alckmin recorrerá preventivamente à Justiça do Trabalho para assegurar o funcionamento pleno do sistema nos horários de pico. Tucanos temem que Celso Russomanno e Fernando Haddad usem eventual paralisação dos trens, que afetaria quatro milhões de passageiros, para ilustrar o "apagão dos transportes" na capital, trazendo prejuízo à candidatura de José Serra a três dias do primeiro turno.

Meritocracia O governo paulista informou ao sindicato que não cederá à pressão para pagamento da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) dos metroviários de forma igualitária, como pleiteia a categoria. Alega que não mudará as regras da bonificação, que incluem metas de desempenho.

Filme velho Aliados de Alckmin classificam o movimento de "chantagista". "É uma mobilização claramente política", diz um secretário, lembrando do colapso gerado pela greve de maio último, que parou São Paulo.

Flash Antes de fechar a participação de Dilma Rousseff no comício de Haddad amanhã, João Santana e ela avaliaram a presença da presidente em São Paulo na quinta-feira. Desistiram porque seria impossível usar as imagens na TV, já que é o último dia do horário eleitoral.

Licença... Russomanno vai aproveitar o nascimento da filha para reduzir a agenda na última semana de campanha. O candidato reclama de cansaço e o seu QG acha que ele deve evitar desgaste.

... paternidade A mobilização do comitê também diminuirá. A ordem da coordenação é concentrar dinheiro e material impresso para a batalha do segundo turno.

Epílogo A Globo avisou os candidatos a prefeito que definirá terça-feira se realizará ou não o debate em São Paulo, previamente programado para quinta. A emissora aguarda decisão judicial sobre o pleito de Levy Fidélix (PRTB), excluído do evento.

Migração O ator que desde a semana passada defende Russomanno dos ataques dos adversários no horário eleitoral fazia a propaganda de Serra na campanha de 2004.

É guerra 1 Na reta final da campanha à prefeitura de São Paulo, o ministro Alexandre Padilha (Saúde) partiu para o ataque contra Serra. Padilha afirma que o tucano, que já foi ministro da Saúde, cometeu um equívoco ao dizer que a cidade não recebeu verba para combater o crack.

É guerra 2 "A obsessão do Serra pela Presidência da República é tão grande que toda hora ele ataca o governo federal'', dispara Padilha.

Ibope Na contramão de Padilha, Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) e Aloizio Mercadante (Educação), Guido Mantega (Fazenda) e Celso Amorim (Defesa) não receberam nenhum pedido para gravar vídeos de apoio a candidatos petistas.

Vai sobrar Ministros de Dilma estão preocupados com o "clima de turbulência'' que poderá se instalar no Congresso no ano que vem após as condenações de parlamentares no mensalão.

Tufão Deputados que devem ser cassados, como João Paulo Cunha (PT-SP) e Valdemar Costa Neto (PR-SP), têm grupos dentro das bancadas, e o Planalto teme enfrentar rebelião em matérias-chave.

Folhinha Candidatos do PT em várias cidades conferem o calendário na esperança de que o voto de Joaquim Barbosa seja longo o bastante para que o relator não profira uma eventual condenação da antiga cúpula do partido antes do primeiro turno.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
"Nós sempre soubemos que os juízes e os ministros não são divindades. Pena que eles só descobriram agora."

DO DEPUTADO FEDERAL MIRO TEIXEIRA (PDT-RJ), sobre os recorrentes desentendimentos entre membros do STF durante o julgamento do mensalão.

contraponto


Torcidas organizadas
Após participar de um talk-show em Belo Horizonte, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro foi abordado por estudantes de Direito que o reconheceram pela exposição no julgamento do mensalão e pediram para tirar fotos com ele. Kakay, como é conhecido, conversava com um a um, quando sobrou uma menina na fila.

Observando a cena, uma amiga da estudante indagou:

-Só falta você! Não vai tirar?

Ela respondeu, para surpresa geral:

-Eu não! Quero ser procuradora quando me formar e ele bateu muito no Roberto Gurgel...

A hora da saideira - JOÃO UBALDO RIBEIRO


O GLOBO - 30/09
Na semana passada, li um artigo do professor Marco Antonio Villa, que não conheço pessoalmente, mostrando, em última análise, como a era Lula está passando, ou até já passou quase inteiramente, o que talvez venha a ser sublinhado pelos resultados das eleições. Achei-o muito oportuno e necessário, porque mostra algo que muita gente, inclusive os políticos não comprometidos diretamente com o ex-presidente, já está observando há algum tempo, mas ainda não juntou todos os indícios, nem traçou o panorama completo.

O PT que nós conhecíamos, de princípios bem definidos e inabaláveis e de uma postura ética quase santimonial, constituindo uma identidade clara, acabou de desaparecer depois da primeira posse do ex-presidente. Hoje sua identidade é a mesma de qualquer dos outros partidos brasileiros, todos peças da mesma máquina pervertida, sem perfil ideológico ou programático, declamando objetivos vagos e fáceis, tais como "vamos cuidar da população carente", "investiremos em saneamento básico e saúde", "levaremos educação a todos os brasileiros" e outras banalidades genéricas, com as quais todo mundo concorda sem nem pensar. No terreno prático, a luta não é pelo bem público, nem para efetivamente mudar coisa alguma, mas para chegar ao poder pelo poder, não importando se com isso se incorre em traição a ideais antes apregoados com fervor e se celebram acordos interesseiros e indecentes.

A famosa governabilidade levou o PT, capitaneado por seu líder, a alianças, acordos e práticas veementemente condenadas e denunciadas por ele, antes de chegar ao poder. O "todo mundo faz" passou a ser explicação e justificativa para atos ilegítimos, ilegais ou indecorosos. O presidente, à testa de uma votação consagradora, não trouxe consigo a vontade de verdadeiramente realizar as reformas de que todos sabemos que o Brasil precisa - e o PT ostentava saber mais do que ninguém.

No entanto, cadê reforma tributária, reforma política, reforma administrativa, cadê as antigas reformas de base, enfim? O ex-presidente não foi levado ao poder por uma revolução, mas num contexto democrático e teria de vencer sérios obstáculos para a consecução dessas reformas.

Mas tais obstáculos sempre existem para quem pretende mudanças e, afinal, foi para isso que muitos de seus eleitores votaram nele.

O resultado logo se fez ver. Extinguiu-se a chama inovadora do PT, sobrou o lulismo. Mas que é o lulismo? A que corpo de ideias aderem aqueles que abraçam o lulismo? Que valores prezam, que pretendem para o país, que programa ou filosofia de governo abraçam, que bandeiras desfraldam além do Bolsa Família (de cujo crescimento em número de beneficiados os governantes petistas se gabam, quando o lógico seria que se envergonhassem, pois esse número devia diminuir e não aumentar, se bolsa família realmente resolvesse alguma coisa) e de outras ações pontuais e quase de improviso? É forçoso concluir que o lulismo não tem conteúdo, não é nada além do permanente empenho em manter o ex-presidente numa posição de poder e influência. O lulismo é Lula, o que ele fizer, o que quiser, o que preferir.

Isso não se sustenta, a não ser num regime totalitário ou de culto à personalidade semirreligioso. No momento em que o ex-presidente não for mais percebido como detentor de uma boa chave para posições de prestígio, seu abandono será crescente, pois nem mesmo implica renegar princípios ou ideais. Ele agora é político de um partido como qualquer outro e, se deixou alguma marca na vida política brasileira, esta terá sido, essencialmente, a tal "visão pragmática", que na verdade consiste em fazer praticamente qualquer negócio para se sustentar no poder e que ele levou a extremos, principalmente considerando as longínquas raízes éticas do PT. Para não falar nas consequências do mensalão, cujo desenrolar ainda pode revelar muitas surpresas.

O lulismo, não o hoje desfigurado petismo, tem reagido, é natural. Os muitos que ainda se beneficiam dele obviamente não querem abdicar do que conquistaram. Mas encontram dificuldades em admitir que sua motivação é essa, fica meio chato. E não vêm obtendo muito êxito em seus esforços, porque apoiar o lulismo significa não apoiar nada, a não ser o próprio Lula e seu projeto pessoal de continuar mandando e, juntamente com seu círculo de acólitos, fazendo o que estiver de acordo com esse projeto. Chegam mesmo à esquisita alegação de que há um golpe em andamento, como se alguém estivesse sugerindo a deposição da presidente Dilma. Que golpe? Um processo legítimo, conduzido dentro dos limites institucionais? Então foi golpe o impeachment de Collor e haverá golpe sempre que um governante for legitimamente cassado? Os alarmes de golpe, parecendo tirados de um jornal de trinta ou quarenta anos atrás, são um pseudoargumento patético e até suspeito, mesmo porque o ex-presidente não está ocupando nenhum cargo público.

É triste sair do poder, como se infere da resistência renhida, obstinada e muitas vezes melancólica que seus ocupantes opõem a deixar de exercê-lo. O poder político não é conferido por resultados de pesquisas de popularidade; deve-se, em nosso caso presente, aos resultados de eleições. O lulismo talvez acredite possuir alguma substância, mas os acontecimentos terminarão por evidenciar o oposto dessa presunção voluntarista. Trata-se apenas de um homem - e de um homem cujas prioridades parecem encerrar-se nele mesmo. Mas sua saída de cena não deverá ser levada a cabo com resignação.

Ele insistirá e talvez ainda o vejamos perder outra eleição em São Paulo. Não a do Haddad, que aparentemente já perdeu. Mas a dele mesmo, depois que o mundo der mais algumas voltas e ele quiser iniciar uma jornada de volta ao topo, com esse fito candidatando-se à prefeitura de São Paulo.

Lula está definhando? - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 30/09


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desistiu de ajudar os candidatos do PT em dificuldades no Nordeste e vai priorizar a campanha de Fernando Haddad em São Paulo. Oficialmente, os petistas dizem que não haveria tempo para cumprir toda a agenda prevista. Mas o que fica claro é que, para Lula, a eleição em diversas capitais nordestinas já está perdida, e agora ele tenta socorrer Haddad, o candidato que ele inventou, como último recurso para salvar sua reputação de kingmaker. Trata-se de um cenário constrangedor para quem já foi classificado como "deus", pela ministra da Cultura, Marta Suplicy.

Antes do início da atual campanha, a maioria dos petistas estava segura de que, uma vez recuperado do câncer, Lula subiria nos palanques Brasil afora e, com seu toque mágico, transformaria qualquer um em prefeito. Com essa pretensão, corroborada por astronômicos índices de popularidade, Lula atribuiu-se o direito de impor suas vontades ao PT e aos aliados, incluindo-se aí tirar candidatos do bolso do colete e forjar alianças que superam os limites da decência, como a que resultou no aperto de mão entre o petista e Paulo Maluf e na coligação, em Belo Horizonte, com o notório Newton Cardoso (PMDB).

Diante dos tropeços do lulopetismo, no entanto, até "Newtão" viu-se à vontade para criticar o partido do ex-presidente, em entrevista a O Globo (28/9): "O Lula e o PT perderam o discurso, não têm mais aquela coisa do apelo do partido novo, da ética, da moral. O PT está sendo um parceiro pesado para carregar".

O caso mais emblemático dos problemas do PT é o do Recife, onde o senador Humberto Costa começou a campanha com cerca de 40% das intenções de voto e definhou até os 16%. Costa foi uma imposição de Lula, contrariando o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB - partido da base da presidente Dilma Rousseff. Como resposta, Campos lançou como candidato Geraldo Júlio, que logo ganhou o apoio de um dos maiores desafetos de Lula, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), cujas desavenças com Campos foram superadas em nome do objetivo comum de derrotar o PT.

Em carta aberta contra Humberto Costa, petistas pernambucanos criticaram a "política do personalismo" e advertiram: "O PT apequena-se perante a sociedade, utilizando práticas que sempre condenou e das quais foi vítima".

A turbulência não se limita ao Nordeste. Há também derrota à vista em Belo Horizonte, onde, segundo aliados peemedebistas, o petista Patrus Ananias - candidato indicado por Dilma e chancelado por Lula - está abandonado e há petistas trabalhando "por debaixo dos panos" em favor da candidatura à reeleição de Marcio Lacerda, do PSB, de olho nas eleições de 2014 para o governo do Estado.

Já em São Paulo, onde Lula pretende centrar seus esforços, a situação é ainda pior. A imposição de Haddad como candidato melindrou Marta Suplicy, que só entrou na campanha porque ganhou um Ministério vistoso no governo federal. Além disso, a aliança com Maluf causou uma ruidosa crise com a ex-prefeita e aliada Luiza Erundina (PSB). Ambas, Marta e Erundina, têm eleitores cativos na periferia de São Paulo, justamente onde Haddad está penando obter apoio.

O esfarelamento petista nas eleições municipais, resultante da mão pesada de Lula, é o efeito colateral do projeto de salvar a imagem do ex-presidente, ameaçada pelos efeitos históricos do julgamento do mensalão e pelo desmonte paulatino, por parte de Dilma, de seu legado de incompetência administrativa e de corrupção.

Embora empenhada em defender o que chamou de "herança bendita", a presidente mantém distância prudente da refrega eleitoral na qual seu criador está mergulhado e empresta seu peso aos candidatos lulistas de maneira apenas protocolar. Realista, ela acredita que, se Haddad chegar ao segundo turno, já terá sido uma vitória.

"O Lula está definhando", sentenciou Jarbas Vasconcelos. Pode ser um exagero, próprio da retórica de palanque. Mas parece cada vez mais evidente que, ao contrário do que se gabavam o ex-presidente e seus seguidores, Lula não é onipotente.

O mais grave dos riscos - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 30/09


O IBGE revelou uma notícia assustadora, mas não houve reação à altura. O Brasil tem um milhão quatrocentos e quinze mil crianças de 7 a 14 anos oficialmente analfabetas pelo registro da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad). E de 2009 a 2011 caiu - sim, é isso, caiu - o percentual de jovens de 15 a 17 anos na escola. Será que é assim que queremos vencer?

A vastidão da tragédia educacional brasileira não caberia nesta coluna, e arruinaria - querida leitora, caro leitor - este seu domingo. Por isso vamos pensar juntos apenas em alguns números. Fomos informados dias atrás pelo IBGE que em 2009 o Brasil tinha 85,2% de jovens de 15 a 17 anos na escola. O que equivale a dizer que 14,8% não estavam, e isso já era um absurdo suficiente. Mas em 2011, a Pnad descobriu que o número tinha piorado e agora só há 83,7%. Aumentou para 16,3% o total de jovens nessa faixa crítica que estão fora da escola.

Em qualquer país do mundo, que saiba a natureza do desafio presente, esses números seriam motivo para se fazer um escândalo, iniciar uma investigação, chamar as autoridades à responsabilidade. O ministro se desculparia, os educadores seriam entrevistados para saber como resolver o problema, os contribuintes exigiriam mais respeito com seus impostos, os pais se mobilizariam. Mas a notícia foi dada numa sopa de outros indicadores e sumiu por lá. Em alguns jornais foi destaque, em outros, nem isso.

Como assim que em 2012 o país fica sabendo que tem menos - e não mais - jovens onde eles deveriam estar? E mesmo assim não se assusta, não reage? Difícil saber o que é pior: se a notícia em si ou a falta de reação diante da notícia.

Os demógrafos já nos informaram que estão nascendo menos brasileiros, e que, por isso, a população vai parar de crescer. Os empresários estão dizendo que há um apagão de mão de obra, falta trabalhador qualificado. Nem que seja por uma mera questão econômica, de formação de trabalhadores, o país deveria exigir explicação das autoridades. Afinal, estamos jogando fora cérebros que serão necessários à economia.

Mas a educação, evidentemente, não é só para formação de trabalhadores, como se fossem peças de uma máquina. É a única estrada que leva as pessoas à realização do seu potencial, a única forma de realmente incluir o cidadão, a melhor maneira de fortalecer a democracia.

A taxa de analfabetismo no Brasil é considerada a partir de 15 anos. Com esse recorte etário, a taxa foi de 8,6% em 2011. Uma melhora em relação a 2009, quando era de 9,7%. Com mais de 15 anos temos 12,9 milhões de analfabetos.

Mas se formos considerar quem não está na conta - os de 7 a 14 anos - existem mais 1,4 milhão de analfabetos. O problema desse número é que ele derrota a ideia de que o analfabetismo é um problema herdado pelos erros passados do Brasil. De fato, ele é maior quanto mais alta for a idade. Mas esses dados mostram que o país está repetindo agora o mesmo desatino. Há analfabetos jovens, hoje. Meio milhão deles estão na área rural. Aliás a taxa de analfabetismo rural brasileiro é de 21%.

Eu queria não estragar o domingo de você que me lê. Então vamos concluir assim: ainda há tempo. Se o Brasil se apressar, pode correr atrás dos ainda analfabetos. Pode tentar trazer de volta os jovens que desistiram da escola. Alguns mais céticos dirão que não há mais tempo e o cérebro não educado na infância jamais terá de volta a habilidade necessária. São tantos os casos de superação. É quase tarde demais, mas ainda há tempo. Se o Brasil não se apressar esses jovens continuarão em seu desamparo.

Pressão por mudanças - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 30/09


O limiar do quarto trimestre do ano empurra o governo Dilma para alguma revisão do atual mix de política econômica.

Pelo menos desde meados de 2011, a decisão foi perseguir ao menos quatro objetivos simultâneos, cada vez mais incompatíveis entre si ou de avanço hoje impossibilitado.

Deveria garantir crescimento econômico, derrubar os juros, combater a inflação e desvalorizar o real (puxar para cima as cotações do dólar).

Qualquer estudante de economia sabe que são objetivos antagônicos, em virtude do Trilema de Mundell, que pode ser assim enunciado: numa economia aberta, a escolha de uma meta impõe restrições sobre as outras e impossibilita a obtenção simultânea do livre fluxo dos capitais; de cotações fixas no câmbio; e de uma política de juros adequada no combate à inflação.

Apesar disso, a equipe econômica entendeu que a crise externa e o sumiço da inflação global abriam espaço para avanços nas quatro frentes. Assim, os juros foram derrubados e o real, desvalorizado. O consumo interno foi estimulado com políticas anticíclicas - como redução de impostos, expansão do crédito e aumento de salário que deveriam impulsionar o consumo e, no rastro dele, a atividade econômica. Ao mesmo tempo, o combate à inflação passou a contar com a contribuição do achatamento dos preços dos combustíveis e, nas últimas semanas, com o anúncio da redução dos preços da energia elétrica.

Como foi lembrado na Coluna passada, a indústria não respondeu aos estímulos. Amarrada às bolas de ferro do custo Brasil e, nos últimos meses, nas da elevação do custo da mão de obra, não está dando conta da demanda. Pior que isso, não investe, aparentemente porque não vê firmeza nas regras do jogo: sente que, a qualquer momento, os estímulos tributários podem ser revogados e que os marcos regulatórios são vulneráveis a questionamentos na Justiça.

As maiores vitórias da política econômica foram a derrubada dos juros, a expansão do crédito a custos mais baixos para o tomador, o pleno emprego numa conjuntura de crise, o avanço do consumo e a desvalorização do real num sistema relativamente fixo de câmbio. Mas o crescimento desembocou na sucessão de pibinhos raquíticos, a indústria vai perdendo peso, o investimento não decola e a inflação ameaça sair dos trilhos. A equipe econômica parece conformada com uma inflação mais próxima ao teto da meta (mais próxima dos 6,5% ao ano) do que do centro da meta, de 4,5% ao ano. E, até o momento, pouco foi capaz de fazer para impulsionar o investimento.

O problema é que os juros básicos (Selic) não poderão cair muito mais do que já caíram, porque se aproximam do tamanho da inflação, o câmbio tem de ficar por aí mesmo (ao redor dos R$ 2 por dólar) e toda a execução da política econômica ficou mais rígida. Qualquer choque externo entorna as medidas. O dos alimentos ameaça elevar a inflação escada acima e mais emissões de moeda pelos grandes bancos centrais complicam a administração do câmbio.

O governo Dilma tem agora de empurrar o investimento, objetivo que exige estabilidade de regras do jogo - incompatíveis com o intervencionismo excessivo e com a escolha de preferidos que, a qualquer momento, podem não ser os mesmos. Talvez seja mais fácil e mais prático mudar as práticas do governo.

A realidade distorcida - JOÃO BOSCO RABELLO


O Estado de S.Paulo - 30/09



À medida que o julgamento do mensalão avança para a sua fase mais crítica - que envolve as personagens mais representativas do PT - o ex-presidente Lula joga todas as fichas na defesa do partido que estará identificado como o réu maior no processo a partir de agora. Os operadores menos notórios do esquema saem de cena condenados e abrem espaço a lideranças carismáticas que se confundem com a história da legenda.

Lula arrasta quase literalmente para a defesa da tese do mensalão como farsa, intelectuais alinhados com o PT, partidos da base aliada, lideranças como o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) - e, por fim, a presidente Dilma Roussef que vai a palanques onde o discurso é a defesa do maior caso de corrupção da história política brasileira, ao menos pela fartura documental que o comprova.

O ex-presidente se mostra decidido a desmentir fatos e distorcer a realidade desde que isso produza efeito agregador no eleitorado, já visivelmente menos refratário às confirmações sucessivas, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), da farsa como realidade. Sexta-feira, Lula superou Lula.

Disse ele que "no nosso governo" (dele e de Dilma?) não se culpa o vizinho por erros cometidos. Exatamente o oposto do que se vê e ouve há sete anos - que o mensalão é uma invenção da elite conservadora e da mídia golpista.

Fazem coro a Lula aliados em sua maioria com biografias comprometidas pelo mau exercício da política, mencionado pela ministra Carmem Lúcia ao aconselhar o eleitor a não tomar alguns por todos, referindo-se aos réus do... mensalão.

Da ópera 
ao Axé

Depois de gastar R$ 3 milhões com show do tenor italiano Plácido Domingo, para inaugurar o Centro de Eventos de Fortaleza, o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), foi impedido de nova extravagância: gastar R$ 600 mil com um show de Ivete Sangalo, na inauguração de um hospital em Sobral, sua base política e do irmão, Ciro Gomes. Um pedido de liminar do Ministério Público de Contas do Ceará, fez o governador desistir. Além do custo, Cid teria problemas com a Justiça Eleitoral, pois a festa seria, na verdade, um showmício pago pelo Estado em favor do candidato à reeleição para a prefeitura, Veveu Arruda, do PT.

O de sempre

Já em Lavras da Mangabeira (CE), o deputado federal, José Airton (PT-CE), promete um hospital de R$ 2 milhões. Seus trunfos: uma emenda parlamentar e o acesso que alardeia ter ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Detalhe: ele é um dos réus do escândalo da Máfia das Ambulâncias, de 2006, que ficaram conhecidos no País como "sanguessugas".

Homofobia

A ida de Marta Suplicy para o Ministério da Cultura deflagrou uma disputa tão renhida pela relatoria do projeto que criminaliza a homofobia, que o senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos já cogita avocar a função para si ou mesmo deixar que a comissão especial que elabora o novo Código Penal cuide do assunto. Disputam a função que era de Marta, a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) e o senador Magno Malta (PR-ES), evangélico e notório adversário da proposta. Também do PR, Antonio Carlos Rodrigues, suplente de Marta, é contra a criminalização.

Sabático

Finda a votação do Código Florestal, a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) se licencia do Senado, a partir de amanhã. Concilia campanha municipal e direção da CNA. Retorna para a eleição da Mesa Diretora em 2013.

Ueba! Voto no Negão Pega Nada! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 30/09


Ereções 2012! Grande dúvida: para onde migram o Levy Fidelix e o Eymael entre as eleições? Rarará!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Pensamento do dia: "Deus criou o mundo em seis dias, no sétimo foi interrompido pelo Galvão".

E hoje, Ronaldo Ronalducho Fofômeno emagrecendo no "Fantástico". Ops, Pançástico! Vão ter que usar uma balança de rodoviária pra pesar o Ronaldo! Largar o futebol é fácil, difícil é largar a lasanha.

O Ronaldo tem cara de quem assalta a geladeira pra comer aquele pavê de padaria de anteontem! Ronaldo tem que aprender: rico só come alface! Rarará!

Se ele perdesse só a barriga já tava bom: uns 85 quilos! E eu tô adorando o Ronalducho gordão nos comerciais de TV! Hilário! Parece o Bolinha, bem quadrinhos!

E atenção! Todos Para o Abrigo! Ereções 2012! Grande dúvida: para onde migram o Levy Fidelix e o Eymael entre as eleições? Acho que eles vão pra Tanzânia, se juntam às grandes migrações e só voltam de dois em dois anos!

E direto de São Vicente (SP): "Homem Picanha". No ano passado ele apareceu na TV dizendo que tinha um caso com um jogador corintiano. Só assim pra corintiano comer picanha. Rarará! Eu tenho um slogan pra ele: "Votem em mim! Eu comi um corintiano". Rarará!

E direto de Águas de Lindóia (SP): Cido Putão. Ueba. Liberô geral! Vai ter luz vermelha na porta da Câmara. Em vez do hino nacional, "Eu quero tchu, eu quero tcha".

E ontem eu conheci um eleitor do Levy Fidelix, cem rejeitores do Serra e 90 do Haddad. A eleição se divide em eleitores e rejeitores. "Eu sou rejeitor do Serra." "E você?" "Ah, eu sou rejeitor do Haddad."

E o Russomanno é o justiceiro de Pancake!

E já imaginou o estado daquelas poltronas velhas do Supremo? Com aqueles tiozinhos de capa preta suando o dia inteiro? Mofo com cê-cê! Pena pros mensaleiros: lavar aquelas cadeiras! Pior, cheirar! E o Joaquim Barbosa parece a minha sogra! Rarará!

E um amigo conheceu uma menina na internet, codinome Oncinhas. Aí ele foi conhecer pessoalmente. E de oncinha só tinha o bafo! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

A Galera Medonha! A Turma da Tarja Preta! Direto de Nossa Senhora do Socorro (SE): "Peidão". Nossa Senhora do Socorro, grito eu! Esse vai liberar o pum noturno. Já imaginou encontrar o Peidão no elevador?

Aliás, já imaginou uma carreata do Peidão?! Rarará! Prefiro mudar meu título pra São Gonçalo (RJ) e votar no "Negão Pega Nada". Voto de dó! Rarará!

A situação está ficando psicodélica. Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Enquanto isso, no Senado... - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 30/09


Brasília é o hábitat natural da elite da chamada classe política, representada pelos nobres parlamentares federais. Vivem ali muitos desses ilustres representantes do povo - pelo jeito, a maioria - numa espécie de mundo da fantasia que construíram para seu deleite, apartado da realidade cotidiana e frequentemente conflitante com o bem e o senso comuns. Vivem indiferentes ao fato de, do outro lado da Praça dos Três Poderes, o Judiciário dar inequívocas demonstrações de que o País está perdendo - se já não perdeu - a paciência com o comportamento ominoso e ultrajante dos maus homens públicos que se julgam no direito de inventar uma nova "ética" no trato da coisa pública. E cometem, sem o menor pudor, nova e escandalosa afronta à probidade, jogando a conta do abuso no colo do contribuinte.

Em resumo: a Mesa do Senado, presidida por José Sarney, decidiu que um calote no Fisco, calculado em R$ 11 milhões, aplicado pelos 84 senadores nos últimos cinco anos, será finalmente pago, mas com dinheiro público. O que, para começar, contraria o princípio de que a União (Fisco) não pode cobrar da própria União (Senado Federal).

A história pouco fica a dever, em descaramento, à do malfadado mensalão em julgamento pelo STF. A diferença estaria nas tecnicalidades da tipificação penal do desvio de recursos públicos para conchavos políticos e da canalização desses recursos diretamente para o bolso dos senadores. De acordo com cálculos feitos pelo jornal Correio Braziliense, que denunciou o golpe em março, cada senador da República embolsou com o calote cerca de R$ 13 mil por ano. Desde 2007, portanto, beneficiam-se indevidamente da nada desprezível poupança de cerca de R$ 65 mil cada um.

O Imposto de Renda (IR) devido pelos senadores refere-se aos chamados 14.º e 15.º salários a que faziam jus até o fim do ano passado, pagos a título de "verba indenizatória". E era exatamente pelo fato de alegadamente se enquadrar nessa categoria que a administração do Senado considerava essa verba "não tributável" e, por isso, nunca fez o desconto de IR na folha de pagamento dos senadores. E tudo continuaria assim, se a imprensa não cumprisse seu papel de fiscalizar a administração pública. Quando o jornal denunciou a escandalosa irregularidade, a Mesa do Senado, em nota oficial, alegou que os tais rendimentos adicionais não eram tributáveis "por terem caráter indenizatório". Mas esse argumento foi prontamente contestado pelo Fisco. Acuado, em maio o Senado desengavetou e aprovou um projeto acabando com a mamata, encaminhando-o à Câmara dos Deputados, onde dorme placidamente. No início de agosto, a Receita enviou intimações a cada um dos senadores, cobrando o que considera devido.

Os parlamentares, é claro, se revoltaram com a cobrança, alegando que os pagamentos não foram feitos devido a "erro administrativo" da Casa, que não procedeu aos descontos devidos. E passaram a pressionar a Mesa. Apesar de o senador José Sarney, na condição de presidente, ter dito a jornalistas que os senadores deveriam se entender individualmente com a Receita, na última terça-feira o vice-presidente Anibal Diniz (PT-AC) anunciou que, por decisão da Mesa, o Senado vai pagar o que é devido pelos parlamentares.

Diniz não fez segredo da razão pela qual a decisão foi tomada: "Na medida em que a ajuda de custo foi abolida, o Senado se acusou e a Receita começou a exigir o pagamento. Então, os senadores pressionaram a Mesa para não serem punidos". E acrescentou: "Ficou uma dúvida, mas não foi culpa dos senadores. A Mesa adota a posição de fazer o ressarcimento devido. A Casa reconhece que, se houve falha, ela própria vai fazer o pagamento".

Se houve ou não falha da administração do Senado é uma questão agora irrelevante. O IR é devido pelas pessoas físicas dos senadores, que se beneficiaram do não recolhimento dos valores devidos. Cabia a eles declarar os seus rendimentos e, sobre eles, pagar o imposto devido. A direção da Casa anunciou que ainda vai calcular exatamente o que seria devido ao Fisco e que vai recorrer à Justiça. Ou seja, pendurará a despesa na conta do contribuinte. Certamente, não é o mesmo vento que sopra em todos os cantos da Praça dos Três Poderes.

Dilma, na chuva - VALDO CRUZ


FOLHA DE S. PAULO - 30/09


BRASÍLIA - Quem está na chuva é para se molhar. Em outras palavras, não resta à presidente Dilma outra opção a essa altura do campeonato. Vai entrar de corpo, e não só de alma, na campanha do petista Fernando Haddad em São Paulo.

O fato é que, a uma semana do primeiro turno das eleições, Dilma se envolveu no pleito mais do que gostaria. Resultado: uma derrota petista no próximo domingo será debitada não só na conta do ex-presidente Lula mas na dela também.

O retrato do momento indica riscos de derrota aguda para seu partido. O PT pode perder a eleição nas principais capitais. É o caso de Belo Horizonte, campanha na qual ela interferiu e atuou diretamente.

Ali, se tudo seguir no rumo atual, será uma derrota pessoal dela. Revés que fortalece os planos de seu potencial adversário em 2014, o tucano Aécio Neves.

Além de reeleger o atual prefeito do PSB, Márcio Lacerda, o tucano planeja fazê-lo governador mineiro. Lance estratégico no seu xadrez presidencial.

Aécio sonha em atrair para sua campanha o governador Eduardo Campos (PSB-PE), principal líder do partido que pinta como um dos grandes vitoriosos da eleição. De preferência como seu vice. Seria uma chapa forte para 2014.

Daí que, para Dilma, eleger Fernando Haddad torna-se estratégico para compensar as demais derrotas do PT país afora. Ganhando em São Paulo, enfraquece os tucanos e abre espaço para eleger um petista governador do Estado.

As eleições municipais, contudo, são um ensaio para a presidencial. Têm influência, mas não decisiva. A chave de 2014 está nas mãos de Dilma: fazer a economia acelerar. Nos dois primeiros anos de mandato, não conseguiu. Se conseguir nos dois últimos, com inflação sob controle, esqueçam. Só uma tempestade internacional lhe tira a reeleição. Ainda mais com Lula chamuscado pelo mensalão.

Aniversário - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

O GLOBO - 30/09

Eu sabia que esse negócio de fazer aniversário todos os anos iria dar nisso: acabei envelhecendo. Às vezes me pego pensando no que vou ser quando crescer e me dou conta de como minhas opções diminuíram. Não tenho mais idade para ser nada. Só me animo quando vejo uma lista de prováveis candidatos a sucessor do papa. A idade média deles é 70. Ser papa é uma das poucas coisas a que eu ainda posso, realisticamente, aspirar. Mas minha única  credencial para o cargo é a idade. Não sou cardeal, não sou nem praticante. Devo ter deixado minha fé no bolso da fatiota azul, de calças curtas, com que fiz minha primeira comunhão. E a única coisa de que me lembro do evento, além da fatiota (e da gravata prateada!), não é a emoção de receber a hóstia e o rito eucarístico, são os doces que tinha em casa, depois. Acho que foi ali que fiz a minha opção preferencial pela perdição.

Invejo quem tem fé, mas não posso deixar de pensar que a minha religião particular, uma espécie de panteísmo urbano (devoção por pastéis e boas livrarias e a crença de que há um deus, sim: o deus do oboé, que além de ser um instrumento divino é o que afina todos os outros), é a única sensata, em meio ao que não deixa de ser – se bem examinada – uma crise mundial do monoteísmo.

Bons tempos em que, em vez de não ter mais idade, nós ainda não tínhamos idade. E sonhávamos com tudo o que viria, quando tivéssemos. Entrar em filme proibido até 14 anos. Beber e fumar. (O importante não era a bebida e o cigarro, era a pose que se fazia bebendo e fumando. Ficar adulto era adquirir a pose). Beijar como beijavam nos filmes – pelo menos nos proibidos até 14, já que nos proibidos até 18 ninguém sabia o que acontecia. Ficar acordado até mais tarde. Ganhar a chave da casa. Dirigir carro. Usar bigode.

Ainda não ter idade era ficar pinoteando no partidor, indócil, como um cavalo esperando a largada. Não ter mais idade é ficar com essa impressão que até um ato de revolta por tudo que não fizemos quando tínhamos idade e agora não dá mais, não seria, assim, apropriado para a nossa idade.

Chama-se vida essa lenta transformação da frase, de ainda não ter idade para não ter mais idade. Ou de poder ser, teoricamente, tudo o que se sonhasse, a poder ser, teoricamente, só papa. E por pouco tempo. 

Concursos transparentes - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 30/09

Qual a sua religião? Concorda com a decisão do Supremo Tribunal Federal em relação à interrupção da gravidez de fetos anencéfalos? Como é a sua família?


É difícil imaginar como, em uma República, perguntas como essas, de estrito caráter pessoal, poderiam contribuir para selecionar os melhores candidatos em um concurso para juiz. Porém, questionamentos dessa natureza são costumeiros nos exames realizados por diversos tribunais brasileiros.

Após serem habilitados em provas técnicas, os postulantes ao cargo de magistrado são habitualmente submetidos a uma audiência reservada, na qual enfrentam questões subjetivas e pessoais. Só então são aprovados -ou não.

A partir de agora, essa tradição inconveniente terá de ser abandonada. O Conselho Nacional de Justiça, ao analisar recursos de candidatos reprovados no último certame do Tribunal de Justiça de São Paulo, considerou que as entrevistas secretas são ilegais.

O ministro Carlos Ayres Britto, presidente do Supremo Tribunal Federal e do CNJ, reafirmou que concursos públicos devem primar pela imparcialidade dos julgadores e pela objetividade dos critérios.

Suponha-se, por liberalidade, que tais entrevistas não servissem para compor a nota dos candidatos, como alega o TJ-SP. Ainda assim, seria o caso de perguntar, afinal, por que elas são feitas.

Alguns desembargadores defenderam as audiências como meio de conhecer o perfil dos postulantes e saber se eles, para além da capacidade técnica, têm traços condizentes com a figura de um juiz. O objetivo seria evitar que na carreira ingressassem pessoas claramente parciais, por exemplo.

Não é necessária muita malícia, todavia, para imaginar que as audiências reservadas dão margem a decisões arbitrárias.

Nem é preciso comprovar que candidatos tenham, de fato, sido barrados com base no preconceito -moral, religioso, político- dos examinadores. A simples possibilidade de que isso aconteça é razão suficiente para, em nome da transparência, banir tais entrevistas secretas, como receitou o CNJ.

Deve-se saudar que aos poucos, embora não sem resistência, o Judiciário esteja abandonando maneirismos arcaicos e abrindo as janelas para arejar a instituição.

Consumo evitou PIB menor - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 30/09


O relatório do Banco Central divulgado quinta-feira projeta crescimento de apenas 1,6% este ano, mais próximo da previsão do mercado. A leitura atenta do documento revela que o resultado só não foi pior devido ao consumo interno que, diz o BC, deve crescer ainda mais neste trimestre e no próximo ano, razão pela qual sinaliza um PIB de 3,3% nos próximos doze meses. O banco prevê forte crescimento da demanda interna, algo em torno de 4,2%, bem acima dos 2,5% nos últimos doze meses. É uma previsão "consistente, com as perspectivas relacionadas à trajetória do mercado de trabalho e do crédito", diz o relatório.

Ou seja, não se confirmou a perspectiva de que o consumo interno já havia chegado ao seu limite e não se podia mais contar com ele para sustentar o crescimento.

Dados confirmam. E é esse cenário que se confirma a partir da leitura dos indicadores da Boa Vista, empresa que administra o Serviço Central de Proteção ao Crédito(SCPC), que fez também pesquisa sobre mitos e verdades do mercado de crédito, divulgada no mesmo dia do relatório do BC. São 1.300 entrevistas pessoais feitas em todo o país.

A Boa Vista trabalha com 350 milhões de informações sobre transações realizadas por consumidores e mais 42 milhões sobre empresas.

O presidente da Boa Vista, Dorival Dourado, diz que os dados mostram que o consumidor está cauteloso. Essa postura não significa que o consumo das famílias esteja parado, muito pelo contrário. Tanto é que as vendas do varejo, na estimativa da Boa Vista, devem ter crescimento próximo dos 7% em 2012.

Pior já passou. Dois indicadores importantes levantados pela Boa Vista em agosto dão pistas de que a fase de maior incerteza que surgiu no meio do ano, passou: estabilidade no registro de inadimplência e a alta de 2% na recuperação do crédito.

Mais ainda, recorda Dourado, há três meses a Boa Vista vem registrando desaceleração da inadimplência e, em 2012, o crescimento das renegociações de dívidas deve superar o crescimento dos novos registros de inadimplentes. "A situação é considerada sustentável se for mantido esse quadro até o fim de dezembro". Esse contexto contribui para a manutenção do consumo.

Por quê? O presidente da Boa Vista aponta algumas razões já conhecidas, como juro consideravelmente menor, prazo mais amplo, salário maior. Mas há dois fatores importantes: a inflação não aumentou e, acima de tudo, o consumidor parece confiar na manutenção do emprego.

Somados esses fatores e o anúncio do governo de que adotará mais estímulos para produção, emprego e renda ainda este ano, poderiam explicar por que, apesar de já ter contraído dívidas anteriormente, as famílias pretendem continuar aumentando o consumo de alimentos de bens duráveis e agora lazer.

Mas isso, acrescenta Dourado à coluna, só deve ser sentido a partir deste mês de outubro em diante, quando as medidas do governo, que aumentaram a confiança do consumidor, se intensificaram. Ele espera mais e tudo indica que mais medidas virão.

Poderíamos até dizer que, em termos de reação da demanda interna, do consumidor, que o ano econômico acabou em setembro. Foi mais curto, mas as pesquisas da Boa Vista, assim como o aumento em agosto de 3,9% das vendas dos supermercados (em julho tinha sido apenas 1,7%,) confirmam essa tendência de maior consumo das famílias.

Endividamento. Para Flávio Calife, economista da Boa Vista, o endividamento das famílias não está pesando muito no ânimo para consumir. A fatia do crédito vem crescendo, atualmente é mais alto, superior a 50% do PIB, mas as pessoas estão destinando parte da nova renda para pagar dívida antiga e realizam novas operações com juros menores e prazos maiores.

Calife lembra também que o nível de endividamento ainda não justifica excessiva preocupação, mas que o comprometimento da renda já está em 22% (índice formado por amortização da dívida, responsável por 14%, e juros, com 8%) e merece atenção. Outro dado do BC destacado pelo economista foi a revisão da projeção de crescimento do crédito este ano, de 15% para 16%, o que mostra um certo reaquecimento dos empréstimos.

Prestação, aluguel. Neste quadro, Calife inclui o estímulo provocado pela substituição do aluguel pelas aquisições da habitação, no programa Minha Casa, Minha Vida. As pessoas substituem o pagamento do aluguel por prestações com valor declinante. Isso implica maior demanda por outros itens.

Pode melhorar. Com base nessas pesquisas, projeções do BC e em sondagem da Confederação Nacional da Indústria, a coluna pode concluir que a economia só volta a crescer nos próximos meses via expansão do consumo e demanda. Consultados esta semana pela CNI, cerca de 50% dos empresários disseram que preveem aumento das vendas nos próximos meses, mas não investimentos. O ideal num modelo sustentável é ter ambos ao mesmo tempo, mas enquanto o investimento não vem, é continuar contando com o mercado interno que já representa 60% do PIB. E tudo indica que há espaço para mais.

CLAUDIO HUMBERTO


“Se Aécio quer ser presidente, estude um pouquinho”
Fernando Haddad (PT) provocando o senador tucano Aécio Neves (MG)


SUSPEITA DE PERDER PRAZO DE PROPÓSITO

O advogado-geral da União, Luiz Adams, solicitou ao Ministério do Planejamento o aumento de cargos de advogado da União a serem preenchidos por concurso em 2013. Mas cometeu um erro imperdoável para um advogado: perdeu o prazo. Ele fez o pedido em 16 de agosto, quando a Lei Orçamentária já estava fechada. Sindicatos do pessoal da AGU acham que Adams o fez de propósito, para proteger “janelados”.

APADRINHADOS

O aumento de cargos seria para substituir dezenas de não concursados que ainda atuam na AGU.

AGU APARELHADA

Sindicalistas acham ainda que a estratégia seria aparelhar a AGU com quadros partidários, controlando o combate à corrupção no governo.

PÊNDULO HISTÓRICO

Para Luiza Erundina (PSB), o eleitorado paulistano alterna, “como um pêndulo”, progressistas e conservadores, o que favorece Haddad.

NO LUCRO

O PDT avalia que poderá levar três prefeituras já no primeiro turno: Macapá, Natal e Porto Alegre, única capital já governada pelo partido.

PERNAMBUCANO PODE SUBSTITUIR AYRES BRITTO

Com a aposentadoria no início de novembro do atual presidente Carlos Ayres Britto, nascido em Propriá (SE), já não haverá nordestino no Supremo Tribunal Federal. Também por isso, um dos cotados para sua vaga é o jurista pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho, que integra a Comissão da Verdade. É o momento: ele atinge em maio a idade-limite de 65 anos para ser indicado.

SECOU

Em Maceió, amigos aconselham o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) a desembarcar da raquítica candidatura de Ronaldo Lessa (PDT).

PERDEU

Em Salvador, pouca gente bota fé na eleição de ACM Neto (DEM), que perdeu a liderança nas pesquisas para Nelson Pellegrino (PT).

CHUMBO GROSSO

No Recife, Daniel Coelho (PSDB) virou alvo de Geraldo Julio (PSB), que o acusa de falsificar notas da verba de gabinete quando vereador.

LULA QUE AGUARDE

Com o PT em baixa e o PSDB em queda, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), espera que seu candidato Geraldo Julio ganhe ainda no primeiro turno.

NOVA GERAÇÃO

Amigos comuns de Eduardo Campos e do senador Aécio Neves (PSDB-MG) tentam articular chapa dos dois para disputar a sucessão de Dilma. O vice seria o mineiro.

DISPENSADOS DO VOTO

Com domicílios eleitorais em Brasília, onde não haverá eleição, os ministros Cármen Lúcia, Carlos Ayres Britto, Marco Aurélio e Gilmar Mendes não vão votar no dia 7.

CHEIOS DE GÁS 

A Agência Nacional do Petróleo confirmou o que os leitores da coluna já sabiam há uma semana: Dilma autorizou para maio de 2013 leilões para exploração de 147 campos de gás no Nordeste, sendo 24 na Bacia do Parnaíba, treze dos quais no Piauí, e onze no Maranhão. 

MENSALEIRO COM O PSOL

Uma dupla insólita formou-se na disputa pela Prefeitura de Belém (PA): o ex-deputado Paulo Rocha (PT), réu do mensalão, trabalha com Aldenor Junior, que já foi preso por corrupção, por baixo dos panos, arrecadando fundos para a campanha de Edmilson Rodrigues (PSOL).

SUPER BONDER

Um bolinho de aniversário para o nepotismo: o diretor do Departamento de Registro Clemeson José Pinheiro da Silva e o filho, Leonardo Morais de Araújo Pinheiro, comemoram quase um ano no Ministério da Pesca.

PSD SE DIVIDE EM MINAS

Apesar de o PSD apoiar a reeleição do prefeito Márcio Lacerda (PSB), ala do partido tem participado ativamente da campanha de Patrus Ananias (PT), em Belo Horizonte. Para o deputado Diego Andrade (PSD), a comissão provisória do partido “não representa a maioria”.

OLHA O NÍVEL

A música brega, ou música “pimba”, faz sucesso em Portugal, no rastro do Brasil. Um dos sucessos de Quim Barreiros canta: “Ai, Maria, deixa cheirar teu bacalhau, deixa eu ir à cozinha pra cheirar teu bacalhau”.

PERGUNTA NO ALAMBIQUE

Quando será lançada a “Mensalão”, a nova cachaça dos brasileiros? 

PODER SEM PUDOR

O POVO NÃO PERDOA

Em 1986, Miguel Arraes voltaria ao governo de Pernambuco derrotando um jovem político, José Múcio Monteiro. Arraes vivia pedindo votos para o malufista Antônio Farias e o ex-padre Mansueto de Lavor, candidato ao Senado. O adversário Roberto Magalhães, ex-governador, bem que ajudava Arraes. Em Quipapá, a mulher do prefeito, dono dos votos da região, recebeu feliz o ex-governador:

- Dr. Roberto, passei a noite preparando uma buchada para o senhor!

- Pois fez muito mal, minha senhora. Não como isso. A senhora espere o dr. Arraes passar aqui com sua corja de comunistas e ofereça a eles.

Arraes, Farias e Mansueto venceram em Quipapá. E em todo o Estado.

sábado, setembro 29, 2012

Sobrou para o Villa - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 29/09

A gravadora Capitol Records, na aba do sucesso da trilogia "Tons de cinza” de E. L. James, lançou um disco com as peças que teriam inspirado a autora a escrever os livros safadinhos. O CD ocupa o primeiro lugar entre os clássicos da Billboard americana.
Entre os compositores, o religioso Bach com "Jesus, alegria dos homens” e o nosso Villa-Lobos com uma das "Bachianas Brasileiras”

Mas...
Como diria o nosso querido crítico de música Luiz Paulo Horta, o velho Villa, com todo o respeito, não teria nada contra isso.

Aliás...
A tiragem inicial do último livro da trilogia, "Cinquenta tons de liberdade’^ a ser lançado no dia 8 de novembro pela Intrínseca, vai ser de 600 mil exemplares.

A revanche

Marta Suplicy veio ao Rio quinta e se reuniu no Fasano com um grupo de músicos que andou fazendo oposição a Ana de Hollanda.
O encontro foi costurado pela deputada Jandira Feghali.

Dilma no frio
Em pleno inverno europeu, Dilma vai à Rússia em dezembro.

Meio ambiente

A embaixadora Mariangela Rebuá será a próxima subsecretária-geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Itamaraty.
Substitui o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, que vai para a ONU.

Viva Tom
Tom Jobim será o homenageado do Prêmio da Música Brasileira, que tem a Vale como parceira.

DUAS VERSÕES DA MESMA OBRAUma polêmica promete esquentar o circuito brasileiro de artes. Veja as fotos ao lado da mesma obra de Bispo do Rosário, um dos maiores artistas contemporâneos do país. A primeira foi tirada em 2006, na reserva técnica do Museu Bispo do Rosário. A segunda foto, com muitas intervenções, como a inclusão do rosto de uma criança na moldura, está exposta na Bienal de São Paulo. Frederico Morais, crítico de arte e responsável pela primeira catalogação e exposição internacional do sergipano, afirma que quem cuida atualmente da obra do Bispo (no caso, o curador Wilson Lázaro) está misturando a matéria bruta que era usada pelo artista com o que é a obra de arte dele: “O Bispo dava uma organização ao material que recolhia.

Hoje, não há mais critério. Tudo pode ser obra do Bispo.” A psicanalista e estudiosa da obra do Bispo do Rosário, Flávia Corpas,dizque “nãoé possível haver duas versões distintas da mesma obra”: “O artista não deixou qualquer tipo de instrução quanto à montagem de seus objetos que autorize uma modificação dos mesmos. Cada obra de Bispo deve ser exibida respeitando a montagem que tinha quando o artista faleceu, em 1989. As fotos revelam que a obra está sofrendo manipulações. A exposta na bienal é organizada, conferindo um outro sentido” •

O fim do mundo
Começam segunda agora as gravações da próxima temporada de "Casseta e Planeta Vai Fundo’,’ que reestreia dia 2 de novembro.
O tema do último episódio, que vai ao ar dia 21 de dezembro, será... o fim do mundo.

Jorge ‘fake’
É falso o perfil no Twitter em nome do ator e diretor Jorge Fernando, que já conta com mais de 78 mil seguidores.
A farsa foi descoberta pela irmã e empresária do diretor, Maria Rabelo, que faz campanha pelas redes sociais desmascarando o impostor.

Segue...
Ontem, o perfil falso apareceu dizendo que era um "fã-clube de Jorge’, apesar de falar como o próprio.
Aproveita-se do fato de Jorge Fernando não dar a mínima para as mídias sociais.

Cegonha
A atriz Amandha Lee está grávida de seu segundo filho.
Ela é casada com Nalbert, o ex-capitão da nossa seleção de vôlei.

Não são quadrilhas - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 29/09


Decidido no STF o principal das condenações, no que se refere aos políticos do PP, do PTB, do PL e do PMDB, alguns casos isolados --e questões teóricas-- ficaram ainda para decidir nesse item da acusação.

Tudo começou quando Joaquim Barbosa tomou a palavra no começo da tarde de quinta-feira, contrapondo-se a algumas absolvições concedidas por Ricardo Lewandowski no dia anterior.

Teve sucesso. A ideia de que Pedro Henry, deputado do PP, e Emerson Palmieri, secretário do PTB, tiveram pouca participação pessoal no escândalo tinha sido defendida por Lewandowski, mas Barbosa tratou de relembrar alguns pontos.

Junto com outros membros do PP, Pedro Henry solicitou ajuda financeira a Delúbio Soares, conforme depoimentos de outras testemunhas.

Já Emerson Palmieri participou, como representante do PTB, da viagem de Marcos Valério e seu sócio Rogério Tolentino (apresentados como "representantes do PT") a Portugal. Lá procuraram apoio de empresários para financiamento político. Difícil acreditar que fossem apenas turísticos os seus interesses nessa companhia.

Tanto Pedro Henry como Emerson Palmieri estão a um voto da condenação, dependendo do que for decidido na segunda-feira.

*

De todos os ministros do STF, o que menos dá impressão de firmeza é Luiz Fux.

Não são apenas as trocas de nomes, que ocorrem com todos os ministros, conforme as horas avançam.

Fux vai além. Parece acreditar que Emerson Palmieri era deputado; cita documentos que desiste logo em seguida de encontrar, no meio dos papéis. Resolveu, "para não partidarizar o julgamento", omitir o nome de siglas como PP, PTB ou PT. O resultado é atordoante.

Do ponto de vista teórico, as coisas também são confusas com Fux. Condenou o peemedebista José Borba, que recebeu recursos diretamente de Simone Vasconcelos, a corruptora, por lavagem de dinheiro.

Segundo sua teoria, quando o corrupto está reintegrando dinheiro ilícito no sistema financeiro legal, faz lavagem. Nesse raciocínio, todo ladrão de banco, quando gasta o que roubou, deveria ser condenado por lavagem também.

Em alguns casos (Palmieri, Jef-ferson, Pedro Henry), são cinco as condenações por lavagem, e o desempate (ou não) será na segunda-feira.

*

Há outro ponto doutrinário em discussão, desta vez favorável à defesa. Rosa Weber e Cármen Lúcia, contrariando até mesmo Lewandowski, absolveram vários réus do crime de formação de quadrilha.

Uma coisa, disseram, é um grupo se reunir para daí por diante se dedicar a atos criminosos. Mesmo que não cometam crime nenhum, podem ser condenados por formação de quadrilha.

Outra coisa é pessoas se associarem apenas em função do crime que, eventualmente, quiseram cometer. São coautores, mas não se estabeleceram no mundo como grupo autônomo, destinado a cometer quaisquer delitos que lhes pareçam interessantes.

Até segunda ordem, este não seria o caso de siglas como PP, PTB ou PL.

O BUNKER DO RÉU JOSÉ DIRCEU - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém

O GLOBO - 29/09


Daqui para frente, entra em cena a verdadeira razão de ser do mensalão: José Dirceu de Oliveira e Silva. Fui conhecer a sua casa de campo, em Vinhedo (SP). É, como diria o colunista Ancelmo Gois, um condomínio de bacanas, de moradores ilustres, entre eles o presidente do PT, Rui Falcão, que, graças a Deus, não estava por lá: Rui detesta jornalista e a possante churrasqueira da casa, presente do empresário Bassi, o das carnes bem cortadas, poderia sugerir e des pertar os instintos mais selvagens do dirigente petista. Ao contrário do que descrevem coleguinhas maldosos, não é tão de mau gosto assim. Tudo bem que chame a atenção, logo na entrada, um enorme símbolo do Corinthians, dando a impressão que estamos entrando na sede campestre do belo Country Club, o de Nova Iguaçu. Lote normal para o tipo de moradia. Jardins exuberantes e sustentáveis — a horta abastece a dispensa da Joana, a cozinheira que acompanha o Zé há quase 20 anos, coitada!

Cardápio
Na outra parte da residência, um modesto galinheiro. Chama a atenção, também, a predominância das galinhas-d’angola, a ave de origem africana que tem o maior número de codinomes, que variam de acordo com as regiões: capote, faraona, cocar e guiná, entre outros. Os frangos e galos são mais conhecidos pelos sons onomatopeicos que produzem: “estou-fraco!”, “estou-fraco!”, “estou-fraco!”. Esse é o coral que deve dar bom dia ao Zé Dirceu, todas as manhãs. E que faz a alegria dos visitantes ávidos para saborear uma carne de ave diferente: todo capote que grita essa palavra de ordem cai, inevitavelmente na panela da dona Joana e vai para a mesa de jantar.

Amigo
Como Zé deixou com a Dilma o labrador “Nego”, agora, embaixo da sua rede, na varanda, mora o vira-lata “Neguinho”.

Obra-prima dos Zés 
O périplo pela casa continua, até chegarmos à sala de jantar Na parede central, um quadro assinado em seis grandes letras: S-A-R-N-E-Y.
Para um leigo como eu, e amigo do artista, de todas as suas criações culturais e políticas, esse quadro é a obra- prima de Sarney, até pela liberdade de interpretação visual que ela permite ao espectador: de perto, você não tem dúvida de que se trata de um belo peixe do Amazonas, um tambaqui, talvez; de longe, a imagem é emocionante: parece um exuberante tuiú do meu amado pantanal, em posição de voo.
Depois dessa tempestade visual, viria certamente a bonança. E o colírio veio com o nome de Joana, a bela filha de José Dirceu com a portuguesa Ângela Saragossa. Não há como ignorá-la. A altura, beleza e postura de modelo ofuscam qualquer interesse jornalístico pela figura do pai.

Apagão
Está aceso o alerta vermelho no Palácio do Planalto! A MP da energia mais barata, um dos programas sociais de maior alcance da Dilma corre o risco de se inviabilizar. Trabalha contra o benefício no Congresso o poderoso deputado Eduardo Cunha. A serviço das empresas de energia.

Câmera na mão e...
Por falar na figura, foi o deputado Eduardo Cunha que dirigiu as filmagens no palácio do Jaburu para o programa de tv do candidato Chalita.

Leleco
Lula está se empenhando pela eleição de Haddad mais do que fez para a de Dilma. O ex-presidente está conclamando políticos, intelectuais e artistas da sua convivência. Só não chamou o Tufão, por causa do mau momento pelo qual está passando.

Na pressão
Quem conhece a Dilma sabe que ela está subindo contrariada no palanque de Haddad. Não porque não torça pela vitória do candidato. Muito pelo contrário. Ela seria até mais favorecida do que o Lula, se o PT vencer as eleições na principal capital brasileira. É simplesmente porque a Dilma sofre de uma doença rara na política brasileira recente, que a faz inclusive diferente dos partidos. Constrangimento.

O beijo no asfalto
Realmente, Serra é um ser único na política brasileira. O eleitor só o esta rejeitando por medo de ele ficar pouco tempo no cargo de prefeito. E, como candidato mais rejeitado do país, é o único beijado na boca por eleitora.