sexta-feira, dezembro 13, 2013

Olhai por nós - RENATO FERRAZ

CORREIO BRAZILIENSE - 13/12
Em época de Natal, o mundo se divide em Jesus, Cristo, Messias e outros: o das festas, o do consumo, o que não existe, o da solidariedade, o dos remorsos anuais... Eu, como cristão orgulhoso, rogo sempre ao politizado, revolucionário e contestador que deverá estar retratado no livro que lerei no recesso trabalhista de fim de ano: Zelota - a vida e a época de Jesus de Nazaré. A obra foi escrita por um muçulmano, o iraniano-americano Reza Aslan, e (espero) mostra o Jesus histórico, judeu, da Palestina bissecular, menos "pacífico" do que Nelson Mandela. É o Jesus que ameaçava a ordem estabelecida, nacionalista, que não temia os poderosos de plantão - no caso, os romanos. E não, não é ironia: lembrei-me Dele diante de tantos fatos absurdos vistos esta semana no Brasil. Perdoem-me Ratzinger e outros católicos conservadores, mas o Jesus que precisamos agora é de um que empunhe a espada da indignação...
Acho, amigos leitores, que nem Ele conseguiria entender a disparatada intenção de alguns deputados federais de perdoar o calote de R$ 4 bilhões dado no povo brasileiro pelos clubes de futebol (débitos com o INSS, o Imposto de Renda, o mau uso da grana das loterias, a sonegação). O homem de Nazaré ficaria abismado, certamente, com a reação dos governantes diante do que acontece nos estádios e com a consequente reação cínica e descarada das autoridades - que, pateticamente, voltaram a se reunir ontem para "tomar providências" para que "fatos lamentáveis" como os ocorridos na semana passada "não mais aconteçam".

O filho d"Ele certamente ficaria horrorizado ao ouvir o prefeito do Rio de Janeiro sugerir, deslavadamente, aos moradores - que costumam passar a data mais linda do ano literalmente na lama - para ficarem em casa por conta das chuvas.

Se pudesse, J.C. chicotearia os cínicos e desavergonhados parlamentares que chantageiam publicamente o Executivo por verbas públicas - as tais emendas parlamentares - que servem, muitas vezes, para recompensar financiadores de campanhas eleitorais. Fora, vendilhões - diria o mais famoso peregrino da história.

Por isso, Cristo, peço-lhe que não os perdoe: eles sabem, sim, o que fazem.

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