quinta-feira, março 31, 2011

HÉLIO SCHWARTSMAN

Combatendo metáforas

HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SÃO PAULO ONLINE

Muitas vezes assino embaixo do que a procuradora Luiza Nagib Eluf escreve. O artigo"Não há democracia com burca" publicado LEIA AQUI no último domingo, é uma exceção. Até concordo com algumas das teses centrais da autora. Como ela, acho que democracia e direitos humanos devem vir no mesmo pacote e, como ela, não menosprezo o risco de as "revoluções democráticas" árabes darem lugar, senão a regimes teocráticos, a Estados com pendores mais fortemente religiosos do que eu gostaria. Mas receio que ela esteja combatendo metáforas em vez de problemas reais e que ela avance o sinal quando proclama uma incompatibilidade essencial entre democracia e burca. O mundo é em geral um lugar mais complexo do que desejam nossos cérebros, projetados para levar a preguiça mental ao paroxismo.
Para começar, um par de correções. A burca é praticamente inexistente no Egito e nos demais países que agora enfrentam ondas de revoltas populares. Esse traje, que cobre a mulher da cabeça aos pés deixando apenas um pequeno espaço para os olhos, ocorre principalmente no Afeganistão e em algumas áreas do Paquistão e precede o advento do islã em pelo menos 400 anos. O que o alcorão (livro sagrado do islamismo) determina é que tanto as mulheres como os homens se vistam com modéstia. Na sura 24:30-31, o texto é um pouco mais explícito e manda que elas usem "khumar" (echarpes) sobre os seios. Na 35:58-59, sugere que vistam "jalabib" (mantos) quando saírem, a fim de que não sejam incomodadas. É a partir dessas passagens e de alguns "ahadith" (narrativas, a coleção de ditos e feitos do profeta), que não trazem instruções de moda mais detalhadas, que diferentes escolas de interpretação islâmica e diferentes tradições culturais desenvolveram várias modalidades de "hijab" (véu), "niqab" (máscara), "chador" (manto).
Observação parecida vale para a mutilação genital a que Nagib faz referência no artigo. Essa é uma prática comum no norte da África e que nada tem a ver com o islamismo. Ela é, com graus variáveis de empenho, combatida pela maioria dos governos locais e boa parte das autoridades religiosas. Ninguém precisa me convencer de que a religião responde por um monte de coisas erradas, mas não é a única vilã do planeta. Não precisamos atribuir-lhe pecados que não são seus.
Voltando à discussão principal, admitamos, como requer o princípio de caridade, que Nagib tenha usado burca como metáfora para toda essa profusão de véus. Embora o islamismo tenha surgido no século 7º como uma religião prafrentex, que reconhecia às mulheres direitos que lhes eram negados por outras fés, como o divórcio, ele parou no tempo e representa hoje uma força que, de modo geral, as oprime. Um bom indicador disso está na própria ideia de que elas não podem se mostrar descobertas a outros.
A situação, entretanto, é mais complicada do parece à primeira vista. A partir do mesmo substrato religioso, a Arábia Saudita proíbe as mulheres até de dirigir carros e viajar desacompanhadas enquanto o também arquiconservador Paquistão se conta entre as primeiras nações a ter sido governada por uma mulher --Benazir Bhutto, nos anos 80. Note-se que fenômeno semelhante também ocorre no Ocidente, onde a mesma matriz cristã produziu tanto uma Irlanda, onde o aborto é ilegal, como uma Holanda, onde quase tudo é permitido.
No caso específico do véu, a variabilidade também é a regra. Tanto na Arábia Saudita como no Irã ele é exigido por lei, e ambos os países são ditaduras teocráticas. Ainda assim, a situação das mulheres no Irã, onde elas têm acesso a empregos e universidades, é incomensuravelmente melhor. Já na Turquia e na Tunísia (pré-revolucionária), em nome da laicidade do Estado, os "hujub" são proibidos em universidades e prédios públicos.
Acabo de voltar da Turquia, onde a polêmica do véu é das mais candentes e permite explorar os vários aspectos da questão. Nominalmente secular, o Estado turco moderno vinha até os anos 2000 sendo dirigido por uma elite que sempre viu os religiosos com grande desconfiança. A partir dos anos 80, à medida que mais e mais mulheres que se cobriam passaram a entrar na universidade, a vestimenta foi sendo progressivamente banida. No início da década, contudo, o AKP, partido conservador islâmico, venceu as eleições e estabeleceu um governo. Entre as reformas que pretendeu introduzir, estava uma lei que permitia às mulheres entrar nas escolas vestidas com o véu, se assim desejassem. Rapidamente, a corte constitucional do país, que, como o Exército, é dominada pela elite secularista, declarou que o diploma contrariava o princípio da laicidade e a norma proposta jamais pôde vigorar.
A controvérsia, contudo, continua. Hoje, até mesmo alguns setores do feminismo secular apoiam a reivindicação das religiosas de ter o direito de escolha. Uma coisa é a mulher afegã que veste a burca porque seus parentes a obrigam e outra muito diferente é a aluna de pós-graduação turca que se embrulha num "hijab" porque deseja, mais ou menos da mesma maneira que muitas ocidentais ostentam um crucifixo. Se nos fosse dado fazer uma espécie de censo na totalidade do mundo islâmico, acho que encontraríamos mais casos de véu imposto por vontades alheias do que por decisão soberana. Mas essa não é uma questão censitária. O fato de haver mesmo que um pequeno punhado de mulheres dispostas a seguir as tradições religiosas sem imposições externas (ou, pelo menos, sem mais imposições externas do que aquelas normalmente estabelecidas pela cultura) já justifica seu direito de fazê-lo. "Abusus non tollit usum" (o abuso não tolhe o uso).
Lamentavelmente, porém, o véu se tornou mais uma trincheira nas guerras culturais. Enquanto boa parte dos países ocidentais e alguns Estados de maioria muçulmana seculares se apressam em bani-lo, governos islâmicos o vão impondo ou pelo menos encorajando (como é o caso do Hamas, na Palestina). De minha parte, até aprecio uma batalhazinha cultural. Elas costumam oferecer boas oportunidades de reflexão e debate. Eu, por exemplo, defendo com ardor a retirada de símbolos religiosos que o Estado coloque em espaços públicos, como é o caso dos crucifixos em nossos tribunais. Mas eu paro no poder público. Não creio que seja legítimo forçar um cidadão a abrir mão de utilizar adereços religiosos. Trata-se, afinal, da mais mais elementar das liberdades civis, que é a de possuir uma individualidade e exprimi-la pacificamente.
No fundo, o que está em jogo aqui é se o Estado tem prevalência sobre o indivíduo ou vice-versa. Sem prejuízo de algumas obrigações tributárias e normas de boa convivência devidas por cidadãos, acredito que o Estado contemporâneo existe para servir ao indivíduo e não o contrário. Como a maioria dos analistas, ignoro as razões de fundo que deflagraram a onda de rebeliões no Oriente Médio, mas não me surpreenderia ao descobrir que a descoberta de uma noção de individualidade mais ou menos como a colocada pelo Ocidente está entre elas.

LUIZA NAGIB ELUF

Não há democracia com burca 
LUIZA NAGIB ELUF
FOLHA DE SÃO PAULO - 31/03/11

As mulheres não são felizes exercendo o papel que lhes foi reservado pelos conservadores; essa argumentação deve ser vigorosamente rejeitada

Assistimos à derrubada da ditadura egípcia e aos movimentos revolucionários na Líbia, Iêmen, Bahrein e em outros países do Oriente, onde as populações clamam por democracia; o restante do mundo assiste ao desenrolar dos fatos formulando as mais variadas análises.
Deposto Hosni Mubarak, uma junta militar promete conduzir o Egito às eleições. As liberdades democráticas são a principal reivindicação do mundo árabe.
Antes de qualquer análise, porém, é preciso lembrar que estamos falando de uma região que concentra maioria esmagadora de seguidores do islamismo. Nesse contexto, é impossível prever qual a influência dos cânones religiosos na reestruturação que está por vir.
Embora muitos argumentem que alguns dos países em transformação têm tradição de Estado laico, como o Egito, as imagens internacionais evidenciam a forte presença religiosa entre os sublevados, fazendo crer que o potencial de crescimento da Irmandade Muçulmana não deve ser subestimado.
As maiores vítimas da repressão, as mulheres, gritam através da burca que lhes cobre o corpo, o rosto, a boca. Amordaçadas, apenas com os olhos descobertos, elas querem participar e tentam se fazer ouvir.
O que é uma mulher no islã? Sobre isso, os articulistas brasileiros pouco têm falado.
Alguns estudiosos do Oriente Médio, chamados a escrever para jornais ou para opinar na TV, simplesmente desconsideram o problema das mulheres. Não as enxergam. Falam em futuro promissor, em democracia, mas esquecem os direitos humanos que a antecedem.
Acharão normal que, passada a revolução e atingido o objetivo de derrubar ditadores, as mulheres voltem para casa e se recolham ao cárcere domiciliar? A condição de mais da metade da população não faz parte da história que certos intelectuais pretendem contar.
Nem se diga que as mulheres são felizes exercendo o papel que lhes foi reservado pelos conservadores, que elas não precisam de mais nada além de obedecer aos maridos e ter filhos, que usam o véu espontaneamente e que precisam dos homens para se sentir protegidas. Enfim, que tudo se justifica pela tradição cultural.
Não há dúvida de que essa argumentação obscurantista deve ser vigorosamente rejeitada, pois os direitos humanos são universais, não importando a região do mundo de que se trate. Definitivamente, mulheres não conseguem ser felizes na condição análoga à de escrava.
A mulher no islã não tem direitos sexuais. Muitas são submetidas à mutilação genital. Tampouco tem direitos patrimoniais, intelectuais ou mesmo de livre locomoção. Não podem dirigir veículo. Não podem mostrar os cabelos, não podem usar roupas que realcem as formas do corpo e são obrigadas a cobrir-se da cabeça aos pés para sair às ruas.
A revolução "democrática", seja no Egito, seja na Líbia ou em qualquer outro país majoritariamente islâmico, corre o risco de não contemplar a mulher, deixando de assegurar a igualdade de direitos. E não pode haver democracia com burca.
LUIZA NAGIB ELUF é procuradora de Justiça do Ministério Público de São Paulo. Foi secretária nacional dos Direitos da Cidadania no governo FHC e subprefeita da Lapa na gestão Serra/Kassab. É autora de "A Paixão no Banco dos Réus" e de "Matar ou Morrer - O Caso Euclides da Cunha", entre outros.

TUTTY VASQUES

Gosto de festa
TUTTY VASQUES
O Estado de S.Paulo - 31/03/11

O maior público do futebol brasileiro em 2011 não foi ao estádio pra ver seu time jogar. Isso quer dizer o seguinte: "apresentação de jogador" pode virar, em breve, a modalidade esportiva mais popular do País. Os 45 mil são-paulinos que lotaram o Morumbi para receber Luís Fabiano vão passar o fim de semana gozando a reuniãozinha no CT que o Corinthians faz hoje à tarde para apresentar o Imperador Adriano.

Tem torcedor do Flamengo que, embora em menor número (20 mil pessoas) na recepção a Ronaldinho Gaúcho, considera a festa de janeiro, na Gávea, a mais calorosa apresentação de jogador do ano. A grande vantagem desse tipo de evento de massa em relação ao futebol propriamente dito é que ninguém volta derrotado para casa!

O torcedor comparece, canta, homenageia seus ídolos, xinga adversários ausentes, vê gols no telão e celebridades ao vivo, se diverte a valer e vai embora com a sensação de que o seu time é o melhor do mundo, ainda que nem sempre esteja lá muito bem das pernas em dias de jogo.

Não à toa, o presidente Andrés Sanches, do Corinthians, de vez em quando ameaça trazer Ronaldo de volta. O Fenômeno não faria feio na sua reapresentação à Fiel. Ou não, né?!

Mal comparando

"RACISTA É O BOLSONARO!"

Tiririca, comentando a condenação por racismo de sua música Veja os cabelos dela.

Que venha o 15º!

Falta ainda aparecer um noivo! O 15º casamento de Gretchen promete, até pelo número redondo da efeméride, render mais notícia que a atual separação da cantora e dançarina, após três meses de vida a dois com seu 14º marido. Matrículas abertas!

Duas medidas

A jornalista Miriam Leitão tem se queixado nos bastidores do telejornal Bom Dia Brasil (TV Globo): "Por que ninguém fala nada do cabelo da Carla Vilhena?" Cá pra nós, faz sentido!

Preço doido

O álcool já está custando quase o preço da cerveja! Ou seja, o motorista que beber e dirigir vai acabar batendo no vermelho da conta bancária.

Hoje não!

Jair Bolsonaro podia, ao menos neste 31 de março, não render homenagens ao aniversário do golpe militar de 1964. Combinado, deputado?

Escudo antiaéreo

Antes que a popularidade de Nicolas Sarkozy literalmente despenque sobre sua cabeça, a segurança do presidente francês comprou dez guarda-chuvas blindados para protegê-lo da ira popular em seu país. Ele merece!

Luto oficial

O vice Michel Temer não aproveitou praticamente nada do exercício da Presidência. Terá nova chance de ser feliz no cargo entre os dias 11 e 15 de abril, durante viagem de Dilma Rousseff à China.

Basta!

Com o fim do Big Brother Brasil 11, está encerrada a temporada de dizer as últimas sobre o Pedro Bial. E não se fala mais nisso, ok?

MAÍLSON DA NÓBREGA E FELIPE SALTO

O passado impregna a política fiscal
 MAÍLSON DA NÓBREGA  E  FELIPE SALTO
VALOR ECONÔMICO - 31/03/11

Ao afirmar que um novo aporte do Tesouro ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a concessão de crédito não é contraditório com a decisão de cortar gastos, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ressuscitou uma visão dos anos 1950 e 1960, segundo a qual "crédito à produção não é inflacionário". Para ele, o financiamento do BNDES vai ampliar o investimento e, assim, a oferta. A seu ver, isso é diferente de gastos do orçamento.
No passado, professar essa visão era uma forma de se opor a medidas de contenção do crédito do Banco do Brasil (BB), que então exercia funções de banco central. O BB podia expandir seus empréstimos sem necessidade de captar recursos no mercado, pois detinha na prática o poder de emitir moeda. Suas operações expandiam a demanda e geravam pressões inflacionárias.
Os defensores da tese argumentavam que o financiamento do BB expandia a produção. Quando os empréstimos fossem pagos, a moeda seria recolhida. Acontece que o crédito gerava demanda antes de a produção se expandir, pois os recursos serviam para pagar salários e adquirir bens e serviços. Se a tese fosse correta, não haveria país pobre. Bastaria emitir dinheiro para financiar a produção.
Uma das inspirações da reforma bancária de 1964, que criou o Banco Central, foi a de estabelecer mecanismos de controle da expansão dos empréstimos do BB. Suas operações deveriam conter-se em limites previstos no orçamento monetário. Ocorre que o suprimento de recursos ao BB continuou o mesmo de antes, agora via BC. O relacionamento entre o BB e o BC se fazia por meio da "conta de movimento".
Na época, a restauração da capacidade do Tesouro de emitir dívida pública tornou possível neutralizar as emissões de moeda. Quando os empréstimos do BB excediam a captação de recursos, a "conta de movimento" supria a diferença, automaticamente. O BC buscava recolher as emissões mediante expansão da dívida pública, cuja expansão era autorizada pelo Conselho Monetário e não pelo Congresso.
A dívida pública crescia não para financiar um déficit no orçamento da União, mas para apoiar a expansão dos empréstimos do BB. Esquema semelhante se aplicava ao BC, que financiava a agricultura, a agroindústria e as exportações via repasses e refinanciamentos a instituições financeiras.
As distorções desse arranjo estão na origem do quadro hiperinflacionário dos anos 1980 e 1990. Reformas concebidas entre 1983 e 1984 e implementadas a partir de 1986 puseram fim ao atraso institucional. A "conta de movimento" foi extinta, o BC perdeu as funções de fomento e se criou a Secretaria do Tesouro Nacional. O orçamento monetário foi abolido. No ano 2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal coroou esse processo.
Se a tese fosse correta, não haveria país pobre. Bastaria emitir dinheiro para financiar a produção
A Fazenda restabeleceu o antigo esquema, minando a previsibilidade, a transparência e a credibilidade das finanças públicas federais. Primeiro, passou a emitir dívida pública para o BNDES efetuar empréstimos subsidiados e não para financiar um déficit orçamentário. Nada transita pelo orçamento, exceto os subsídios do Programa de Sustentação de Investimentos (PSI). É a pura recriação da "conta de movimento".
Ao declarar que os empréstimos do BNDES vão gerar oferta, o ministro assume um equivocado conceito que se pensava enterrado. Parece que ele precisava de uma explicação para o aporte de mais R$ 55 bilhões ao BNDES, logo em seguida ao anúncio do corte de R$ 50 bilhões no orçamento. Confiante na sua explicação e apoiado nas declarações recentes da presidente, que foram na mesma direção, ele assegurou mais R$ 5 bilhões ao banco.
Ao contrário, os empréstimos do BNDES têm impacto relevante na demanda agregada, exatamente igual ao de outros desembolsos do Tesouro, como os do Bolsa Família. A diferença está na aplicação dos recursos e nos efeitos de médio e longo prazo. No caso dos empréstimos do BNDES, os recursos beneficiam grupos que recebem os subsídios. No do Bolsa Família, os recursos amparam segmentos menos favorecidos da sociedade (com sucesso evidente nos últimos anos).
É verdade que os investimentos financiados pelo BNDES podem expandir efetivamente a produção e elevar a oferta de forma significativa, mas isso deveria sempre ser ponderado por seus respectivos custos e, principalmente, levando em conta o impacto fiscal e os efeitos sobre a demanda, que são imediatos.
A continuidade do suprimento ao BNDES com recursos do Tesouro resulta na expansão do endividamento bruto, que será impactado pelo crescimento de mais de 1,5% do PIB (R$ 60 bilhões) na dívida mobiliária.
O Ministério da Fazenda constituiu, no passado, o centro de resistência às pressões para expandir o crédito subsidiado por instituições financeiras oficiais, mediante emissão de moeda ou expansão da dívida pública. Nele nasceram, nos anos 1980, os estudos que permitiram importante avanço institucional das finanças públicas.
É lamentável constatar que a pasta tenha se tornado o oposto, assumindo visões antiquadas, e a liderança de medidas que nos levam de volta a situações que pareciam fazer parte apenas de um mau pedaço de nossa história.

Mailson da Nóbrega economista e ex-ministro da Fazenda, é sócio da Tendências Consultoria.

Felipe Salto economista pela FGV-EESP e mestrando em Administração Pública e Governo pela FGV-EAESP, é analista da Tendências.

ENTREVISTA - GUSTAVO LOYOLA

''BC está mais tranquilo que o mercado''
Entrevista - Gustavo Loyola
O Estado de S. Paulo - 31/03/2011

Fernando Dantas

Gustavo Loyola, sócio da Consultoria Tendências e ex-presidente do Banco Central (BC), acha que o Relatório de Inflação, divulgado ontem (ver página B1), indica que o BC está tomando riscos maiores com a inflação. Para ele, o BC aposta que uma série de hipóteses favoráveis se tornarão realidade.

O que o sr. achou do Relatório de Inflação?

Foi bem "dovish" (expressão derivada de "pombo" em inglês, indicando menos intolerância ao risco inflacionário). O tom é que o BC está muito confiante em que as medidas até aqui adotadas vão fazer con que a inflação convirja para a meta em 2012. Em 2011, não se discute mais a meta de 4,5%, está descartado. O Carlos Hamilton (diretor de Política Econômica do BC) declarou que os BCs têm de fazer com que essa convergência, na presença de choques de oferta, não seja muito rápida, pois isso imporia um custo muito grande. O que me chamou mais a atenção foi o BC com menos sentido de urgência em relação à inflação, mais tranquilo que a média do mercado.

Por que ele está assim?

Porque acredita que as medidas até aqui adotadas - as fiscais, as chamadas macroprudenciais (aumento de compulsórios e de exigência de capital mínimo nos bancos), e mais o aumento dos juros - são suficientes para fazer a convergência desejada da inflação em 2012.

Qual a implicação disso?

Traduzindo para as ações de curto prazo do Copom, significa uma alta menor da Selic (taxa básica de juros). A minha expectativa era que o BC fizesse mais duas altas de meio ponto porcentual na Selic, mas agora, com essa ata, acho que não é de descartar a hipótese de mais uma só de meio. O sinal que o BC deu parece ser o de que o aumento de juros será o mínimo possível daqui para a frente.

Que outros aspectos importante o sr. viu no relatório?

A confirmação da ideia de que as expectativas de inflação hoje não têm para o BC a importância que tiveram durante muito tempo, desde o início do regime de metas. O BC está de certa forma minimizando o papel das expectativas, o que me parece meio heterodoxo do ponto de vista do regime, que pressupõe que as expectativas têm um papel importante na convergência da inflação. E o arcabouço pressupõe que o BC tem um papel ativo na coordenação dessas expectativas. Desde o ano passado, o BC parece ter um julgamento pouco favorável sobre o processo de formação de expectativas, considerando que ele é basicamente influenciado pela inflação contemporânea, com pouco poder preditivo. Acho que essa também foi uma mudança que esse relatório sedimenta.

Mas isso não aparece explicitamente...

Sim, mas se deixa entrever. Há uma minimização sistemática do papel da expectativas. É verdade que o Carlos Hamilton, em algum momento da sua entrevista ontem, desmentiu o que eu disse, afirmando que as expectativas de mercado continuam importantes. Mas a ideia de que as expectativas estão descoladas da meta não traz ao BC aquela mesma necessidade de agir que trazia antes.

E quanto às medidas macroprudenciais?

O BC as incorporou definitivamente no seu modelo. E aí temos um problema, porque é muito difícil modelar quais são os efeitos dessas medidas sobre a inflação. É difícil firmar um consenso ou uma convergência em relação a isso.

O sr. acredita que a inflação volte ao centro da meta em 2012?

Nesse mundo não existem certezas, mas probabilidades. Me parece que o BC está menos avesso ao risco inflacionário. Ele parece estar apostando em algumas hipóteses que podem até se materializar, mas isso significa que está correndo mais riscos. Eles estão apostando que a atividade econômica está mais arrefecida, e, de fato, está, mas talvez não tanto quanto o BC acredita. Estão apostando que o preço das commodities tenha uma trajetória no mínimo de estabilidade daqui para a frente, o que seria favorável para a inflação. Eles estão esperando o efeito das medidas macroprudenciais sobre o crédito. Estão muito confiantes na política fiscal, em que o governo entregue o superávit prometido. Se todas essas hipóteses se materializarem, é evidente que a inflação cai e a convergência se realiza. Mas eu acho que o BC está se arriscando um pouco mais que no passado.

ANCELMO GÓIS

Unção dos enfermos
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 31/03/11

Terça-feira, 15 de março, José Alencar recebeu a unção dos enfermos, também chamada de último sacramento. A cerimônia foi celebrada por Frei Betto na casa do ex-vice, em São Paulo. Além da família, Lula estava presente.

Aliás...
Alencar participou, completamente lúcido.

Inca Alencar
Ganha força no governo a ideia do Inca passar a se chamar Instituto Nacional do Câncer José Alencar.

Realmente...

Com Alencar, câncer deixou de ser uma palavra feia. 

‘Honoris causa’
De Josué, filho de Alencar, insistindo para Lula só retornar ao Brasil depois de receber o título de doutor “honoris causa” da Universidade de Coimbra: — Meu pai ficaria feliz por você.

Segundo pai
Dilma contou que Alencar a “adotou”, quando ela chegou a Brasília, em 2003: — Foi meu segundo pai. 

Alencar na Saara 
As homenagens a José Alencar chegaram à Saara, o templo carioca do comércio popular. Ontem à tarde, o âncora da rádio do lugar fez emocionado discurso para o “grande brasileiro, exemplo para todos nós, que venceu 17 cirurgias, político honesto e trabalhador”.
Merece.

Vampiro no Rio
A americana Anne Rice, de 69 anos, vem à Bienal do Livro do Rio, em setembro próximo. Seu principal romance, “Entrevista com o vampiro”, transformou-se num filme de sucesso com Tom Cruise e Brad Pitt.

Serra distraído
Sorridente, em Brasília, José Serra chamou atenção do amigo senador tucano, Aloysio Nunes Ferreira: — O que aconteceu, que você
está tão simpático? Serra entrou na graça: — Isso acontece... sobretudo quando estou distraído. Ah, bom...

Céu é de verdade
Fenômeno editorial nos EUA, há semanas no topo da lista do “New York Times”, “O céu é de verdade”, de Todd Burpo e Lynn Vincent, repete o sucesso aqui. O livro, lançado pela Thomas Nelson Brasil, teve a tiragem inicial de 15 mil exemplares esgotada e já está com outros 15 mil quase prontos.

Ária
Djavan grava o DVD de seu novo disco “Ária”, no Palácio das Artes, em BH, dias 8 e 9 agora. A direção é da Samba Filmes. 

Déficit de leitos

Um estudo preliminar do Sindicato dos Hospitais Particulares do Rio (Sindhrio) mostra que a cidade tem 3,4 leitos por mil habitantes, quando a OMS sugere 4,5 (lpmh). No Rio, as redes privada e pública têm 241 hospitais, e a Zona Sul carioca é a região com maior número de leitos por mil habitantes: 5,4. 

Hospital enfermo 

Segunda à noite, durante uma hora e 15 minutos, faltou luz no Hospital Espanhol, no Rio. Naquele momento, estavam sendo realizadas três cirurgias, e ninguém sabia pôr em funcionamento o gerador reserva. 

Pelé verde e rosa

A Mangueira recebeu propostas de enredos patrocinados, que entraram nas cogitações da escola, junto com a homenagem ao Cacique de Ramos. São eles: os 100 anos de Luiz Gonzaga, o rei do baião; a cidade de São Paulo; e o centenário do Santos. Este último com a provável presença de Pelé na Sapucaí. 

PMs na Lapa
A Lapa ganhará equipe de PMs para vigiar o bairro durante 24 horas. De dia, os policiais vão usar bicicletas. 

Calma, gente!
Uma madame parou seu carrão, placa LOZ 8562, no meio da Praia do Flamengo, em frente ao Belmonte, ontem à noite. Um caminhão da Comlurb passou e, aparentemente sem alternativa, levou o retrovisor do carro. De dentro do bar, a grã-fina gritou: “Depois leva um tiro na cara e não sabe o motivo.”

JULIO VASCONCELLOS

Aprendizados de uma start-up
JULIO VASCONCELLOS 
FOLHA DE SÃO PAULO - 31/03/11

A cultura da empresa é tudo; sem ela, não temos motivação, não temos coesão, não temos nada


HOJE O Peixe Urbano completa um ano. 365 dias de uma start-up proporcionam um aprendizado muito acelerado, já que são equivalentes a mais de uma década de uma empresa já estabelecida. Nos intervalos das comemorações, tenho refletido muito sobre o último ano e tudo que aprendi, como empreendedor.
Hoje uma coisa está mais clara do que nunca: o sucesso da sua empresa é definido pelas pessoas que você atrai e a forma como você consegue motivá-las. Uma pessoa excelente vale mais do que cinco boas.
Pessoas excelentes atraem outras pessoas excelentes, que por sua vez sentem-se motivadas por trabalhar com elas. Já pessoas medianas tendem a se sentir ameaçadas por outros e contratam pessoas de performance inferior à delas.
Pessoas excelentes costumam estar sempre empregadas e sendo constantemente disputadas. Cabe a você vender sua visão e atraí-las para sua equipe. Caso seja possível, transforme-as em sócias.
No nosso caso, embora estejamos em um ritmo de contratação alucinante, nunca admitiríamos a contratação de uma pessoa mediana.
Basta uma única pessoa fraca na equipe para que a motivação caia, a energia baixe, o ritmo da equipe mude e o desempenho dos outros passe a ser comprometido.
Para cargos de liderança, mesmo quando estamos trabalhando com firmas de recrutamento que filtram com pente-fino os candidatos, costumamos entrevistar dezenas de pessoas para cada uma das vagas.
As melhores pessoas não são aquelas que são movidas apenas por dinheiro, mas sim aquelas que são motivadas, antes e acima de tudo, por desafios.
Elas sabem que, se superarem obstáculos cada vez maiores, o dinheiro virá naturalmente. Não reclamam do horário, de que acabou o café ou de que uma tarefa não está dentro do escopo do seu cargo. Aderem à visão da empresa, "vestem a camisa" e fazem as coisas acontecerem com segurança e agilidade.
No entanto, trazer pessoas excelentes é apenas metade do desafio, é preciso também mantê-las engajadas e motivadas. Acredito que o Peixe Urbano não teria sobrevivido ao primeiro ano se não fosse pelo trabalho extraordinário de pessoas extremamente dedicadas.
Qualquer empresa em franco crescimento vai chegar várias vezes ao seu limite, um ponto onde tudo está prestes a desmoronar. Cada vez que isso acontece, é o esforço hercúleo e inesperado de uma pessoa compromissada com a visão e o êxito da empresa que salva tudo.
A cultura da empresa é tudo. Sem ela, não temos motivação, não temos coesão, não temos nada.
Saiba que você é a personificação da cultura de sua empresa -não espere que sua equipe se comporte de determinada maneira se você não exibe esse comportamento. Os colaboradores de hoje demandam uma liderança ética, honesta e acessível. Os dias de empresas com "donos" distantes, com benefícios desiguais e atitudes superiores, acabaram.
Embora tenha convicção de que uma equipe extraordinária e uma cultura de sucesso sejam ingredientes indispensáveis para o sucesso de uma nova empresa, por vezes eles não são suficientes. Estar atuando em um mercado dinâmico, onde novas oportunidades estão proliferando em velocidade exponencial, também pode ser decisivo.
Tive a oportunidade de conversar sobre minha carreira, em diversos momentos diferentes, com Andy Grove, o "mítico" CEO da Intel.
Andy sempre me aconselhou a ir até onde a "ação estava acontecendo", pois, segundo ele, no meio de grandes tendências e mudanças no mercado, sempre encontraria as grandes oportunidades.
Estava seguindo esses conselhos quando decidi que voltaria a morar no Brasil, depois de cinco anos no Vale do Silício, para embarcar na onda da compra coletiva que lançamos por aqui. Não me arrependi.
Hoje vejo que a história de uma start-up é feita pela coleção de diversas histórias -histórias de pessoas agindo de forma extraordinária para concretizar uma visão que adotaram como sua.
Quando se está inserido "no meio da ação", são necessárias conquistas diárias para identificar e aproveitar oportunidades de alavancar o crescimento da empresa de maneira que sequer conseguíamos imaginar antes de elas aparecerem.

JULIO VASCONCELLOS, 30, economista, é fundador e presidente-executivo do site de compras coletivas Peixe Urbano.

CONTARDO CALLIGARIS

"Fazer" uma doença
CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SÃO PAULO - 31/03/11  

A desventura pode até ser terrível, mas console-se: se você for vítima ou culpado, você vai aparecer na foto


VÁRIOS LEITORES pediram que eu insistisse no mesmo tema da semana passada: por que a culpa é um de nossos jeitos preferidos para dar sentido ao mundo? Como é possível que, diante de uma desgraça, o fato de sentirmo-nos culpados constitua, para nós, uma espécie de conforto?
Todos conhecemos as expressões usuais pelas quais, por exemplo, Fulano ou Fulana podem eles mesmos admitir que "fizeram um câncer" -e não foi porque fumaram dois maços de cigarros por dia durante a vida inteira, nem porque, verão após verão, deitaram no sol para bronzear a pele, sem protetor algum. Nada disso: a expressão "fazer uma doença", em geral, indica outro tipo de responsabilidade. Mas vamos devagar.
Não é raro que a primeira reação de quem recebe um diagnóstico maligno consista em procurar uma intenção escusa da qual ele poderia ser a vítima. Envenenaram a água da cidade; o ar é repleto de resíduos daquela fábrica cuja chaminé solta fumaça a cada noite; há um dentista que tem consultório acima do meu, ninguém sabe quantos raios-x ele faz por dia, será que ele isolou sua sala do jeito certo ou será que a radiação chega até aqui?
Na mesma linha, Deus ou o diabo podem ser os mandantes de minha desgraça. Deus, porque ele quer colocar à prova minha fé, como ele já fez com Jó. O diabo, porque ele é príncipe aqui na terra e todo o mal vem dele.
Essas reações parecem ter o mesmo propósito dos delírios paranoicos: elas acusam um agente externo (Deus, o diabo ou os vizinhos) para que o mundo ganhe sentido, ou seja, no caso, para que o mal que se abate sobre a gente tenha uma explicação. "Adoeci porque alguém me quis mal": graças a essa crença, não sofro por acidente nem por acaso, mas sou vítima de uma vontade que me castiga ou me testa. O que se ganha com isso? Antes de responder, mais uma observação.
Em geral, quando temos intenções que preferimos esconder de nós mesmos, uma boa solução é atribui-las a outros. Portanto, não seria de todo estranho que a gente acusasse Deus e todo mundo por males que nós mesmos causamos.
Desse ponto de vista, reconhecer que nós somos os primeiros culpados de nossa desventura seria um progresso. Algo assim: até que, enfim, o cara se tocou, não foi Deus, não foi o demônio, nem a usina química no morro atrás da casa, foi ele mesmo que "fabricou" sua doença.
Geralmente, a explicação deste "fabricar sua doença" passa quer seja por uma poética do estouro (emoções contidas e silenciadas tiveram que se expressar e explodiram numa neoplasia), quer seja por uma poética da erosão (as mesmas emoções reprimidas foram atacando o corpo como a famosa gota que cava a pedra, não pela força, mas caindo repetidamente).
Tanto faz: o que me importa dizer é que entre acusar a Deus e todo mundo e acusar a nós mesmos não há progresso algum.
A posição de vítima (Deus, o diabo e os vizinhos me querem mal) e a posição de culpado (eu fabriquei minha doença porque meu inconsciente é meu verdadeiro inimigo), ambas são chamadas a "explicar" o mal que nos assola, porque, aparentemente, preferimos sofrer de um mal explicado a sofrer de um mal aleatório. Por que isso? Simples: tanto se eu for a vítima escolhida por Deus e pelo mundo quanto se eu for a vítima de mim mesmo, apesar de doente, eu me manterei nas luzes da ribalta.
Em suma, agimos e pensamos como se nosso sofrimento pudesse ser aliviado por uma compensação narcisista: a desventura é terrível, mas, ao menos, como vítima ou como culpado, sairei na foto. Não é uma consolação?
Talvez. Mas é uma consolação custosa, porque, nessa foto em que sou vítima ou culpado, a desventura é o que me define, o que me resume.
De fato, qualquer sofrimento seria um fardo mais leve se ele pudesse aparecer como quase sempre é: um mal sem sentido, que não faz parte de nenhum plano e não é fruto de nenhuma vontade escusa, nem da nossa.
Teste de boa saúde: estamos bem quando podemos ser atropelados sem ter que considerar que alguém tentou nos matar ou que nós mesmos nos jogamos nas rodas do caminhão, empurrados por impulsos inconfessáveis.
Um amigo querido morreu de um câncer que ele não fabricou e que não lhe foi imposto nem por Deus nem pelo diabo nem pelos vizinhos. Ele dizia: os males reais são suficientemente graves para que a gente não se esforce para lhes acrescentar mil sentidos imaginários.

NINA HORTA

Meu caso com os bolos 
NINA HORTA

FOLHA DE SÃO PAULO - 3103/11

O MEU último caso são os bolos de casamento. Quantas vezes já aconselhei a noivas indecisas que se esquecessem do bolo, ninguém comia mesmo... Hoje, teria dificuldade em dizer isso. E como fica o ritual, a tradição, a beleza, o momento?
E o que me motivou mesmo foi um site que minha cunhada mandou, de artistas plásticos boleiros. Daí ao pâtissier prendado foi um pulo.
E tenho três endereços de sites de bolos que por hoje chegam: tinyurl.com/4d5eaex (exige login no Facebook); tinyurl.com/4ltzxd7; tinyurl.com/6bzm9wq.
Comecei com o artista Will Cotton, americano fascinado por bolos como símbolo de beleza ou como comida mesmo. "Comida, comida, pode dar prazer, mas a diferença extraordinária do bolo é que ele só existe por prazer, não há uma só razão nutritiva para precisar comê-lo." Will Cotton faz e fala essas coisas com um sentido de transgressão, de gula. Nem toca no excesso de calorias, o motivo é tentação, mesmo e excesso.
Foi visitar o Ladurée, em Paris, para tentar fazer a pirâmide de macarons que eles exibem nas vitrines com frequência. Ficou como menino em loja de brinquedos. O chef Philippe Andrieu até comentou uns segredos da receita deles que Will Cotton desconhecia. Os macarons do Ladurée são assados em temperatura muito baixa e por mais tempo. E ele aquece o açúcar antes de juntá-lo às claras.
Will Cotton tinha entrado nessa empreitada porque queria construir em doces uma casa na floresta, de massa de bolo. Ele próprio fez 600 macarons que serviram para florir as árvores, ergueu as paredes com waffles. E o ponto mais importante era o centro do bolo, um lago de creme pâtissier bem mole com "îles flottantes" boiando nele (ovos nevados).
Foi em 96 que ele começou sua pintura inspirada em doces, balas, sorvetes e suspiros. Criou um universo de "João e Maria" e de "Alice no País das Maravilhas". As mulheres são sensuais, deitadas languidamente, esparramadas em nuvens de algodão doce. Muita inspiração, muita utopia na terra do leite e do mel.
O danado cobra (e vende) quadros de US$ 50 mil a US$ 250 mil, tudo feito de sorvetes e doces se derretendo, pirulitos se dobrando ao calor, gelatinas escorrendo sobre um branco leitoso de claras batidas em neve. Fotos de mulheres negras cobertas de suspiro com um "background" de bolas de sorvete. Cotton mora num tempo de infância melada, da tentação do consumo de doces, de um desejo do país de Cocanha.
Franco Mandinio Ruiz inventou os Couture Cakes -13 pinturas em tela que contam a história dos noivos. Mas, são telas em formato de bolo pirâmide, começando com as rodelas maiores e acabando com as menores, em camadas. Na verdade, cada fatia horizontal de tela é uma pintura sobre algum acontecimento na vida do casal. Depois do casamento, os noivos dependuram na parede, com certeza.
Adoraria falar de nossas boleiras mais famosas, mas são tantas e tão boas! Algumas estão lançando livros, outras fazendo blogs, outras inventando nos seus laboratórios e dando aula. Mas, não cabem em crônica, só em primeira página. Prometo que um dia vou exaltar todas, artistas escondidas atrás da glace fria e branca.

ILIMAR FRANCO

Xeque 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 31/03/11

A cúpula do PMDB teve uma conversa, na manhã de ontem, com o ministro Antonio Palocci (Casa Civil). Foram cobrar maior agilidade nas nomeações para os cargos de segundo escalão. Argumentaram que há desconforto e que a demora gera tensão nos aliados e insegurança administrativa. Palocci disse que as nomeações vão começar a sair e justificou que o governo tem três meses.

Acendeu a luz amarela
A aprovação, pela Comissão de Reforma Política do Senado, do voto em lista fechada de candidatos jogou uma ducha de água fria no
ímpeto reformista do Congresso. A maioria dos partidos, aliados e de oposição, avalia que o PT será o principal beneficiado do voto
em lista, na medida que nesse sistema prevalece o voto na legenda. O voto distrital, puro ou misto, defendido pelo PSDB, sequer foi a voto no Senado. E o “distritão” , defendido pelo PMDB, não sensibiliza o PSDB e o DEM. Por isso, líderes partidários, que sustentam a necessidade de uma reforma, estão pensando em dar meia-volta e deixar tudo como está.

"Parece até o mundo árabe. Os trabalhadores não aguentaram mais e partiram para um dia de fúria” — Ricardo Patah, presidente da UGT, sobre a onda de greves nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento

FORA DA ÓRBITA. A campanha dos auditores do TCU para eliminar os políticos do tribunal não foi bem recebida pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Ele enfatiza que a instituição “é um órgão auxiliar do Legislativo” e que a “Câmara não abre mão da sua prerrogativa de indicar os ministros do TCU”. A ação política da Auditar ocorre na gestão do presidente Benjamin Zymler, que é funcionário de carreira do tribunal.

Refazendo
O ministro Afonso Florence informou ao Fórum Nacional de Reforma Agrária que a presidente Dilma pediu à Embrapa para revisar estudo, feito no governo Lula, para atualizar os índices de produtividade para fins de reforma agrária.

Dança das cadeiras

Funcionário da CEF, Carlos Alberto Caser está cotado para substituir Guilherme Lacerda na presidência da Funcef. Ele exerce a função interinamente no ano passado e já foi diretor de Controladoria e de Benefícios do fundo de pensão.

Eles não se sentam à mesma mesa

O tucano José Serra está uma arara com o ex-consultor de marketing do PSDB Alberto Carlos de Almeida. Este escreveu artigo contestando texto de José Serra (“Cuidado com a contrarreforma”) em defesa do voto distrital. Nele, Almeida critica a linha da campanha presidencial de Serra (o confronte de biografias), mas o que mais irritou o tucano foram as frases: “A lógica não é
o forte de Serra” e “O artigo de Serra é falacioso”.

Rumo ao fracasso

Reação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sobre a aprovação, pela Comissão de Reforma Política do Senado, do voto em lista fechada para eleição de deputado: “E a Câmara aceitará o Senado decidir o seu destino dessa forma?”

No muro

Na comissão da reforma política do Senado, na decisão sobre o sistema de votação, os senadores tucanos Aécio Neves (MG), Aloysio Nunes Ferreira (SP) e Lúcia Vânia (GO) se abstiveram. O voto em lista fechada ganhou do distritão.


 HOMENAGEM. O ministro do STF Ayres Britto disse que o Banco Central deveria reduzir a taxa de juros em homenagem ao ex-vice-presidente José Alencar.
 A MINISTRA Izabella Teixeira (Meio Ambiente) tem jantar hoje com o arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta. Na pauta, Rio+20 e Código Florestal. 
● FRENTE Parlamentar da Cultura, presidida pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), será lançada quarta-feira na Câmara. O primeiro ato será realizar audiência pública sobre a lei de direitos autorais.

DEMÉTRIO MAGNOLI

Valores e interesses
DEMÉTRIO MAGNOLI
O Estado de S.Paulo - 31/03/11

O Brasil absteve-se de apoiar a intervenção ocidental na Líbia por temer uma "mudança de narrativa" da revolução árabe, explicou o ministro do Exterior, Antônio Patriota. Os bombardeios aéreos da coalizão começaram na undécima hora, quando as forças de Muamar Kadafi atingiam as entradas de Benghazi, cidade de 1 milhão de habitantes. Tudo indicava que sem a intervenção a capital rebelde seria palco de uma tragédia humana. Os espectros recentes do genocídio de Ruanda, em 1994, e do massacre de Srebrenica, na antiga Iugoslávia, em 1995, cometidos sob o olhar aterrorizado, mas passivo, da comunidade internacional, desestimularam o veto da Rússia e da China à intervenção. A confortável (devo dizer hipócrita?) abstenção brasileira não encontra justificativa legítima na preocupação de Patriota. Mas há, de fato, uma "mudança de narrativa" - e ela se iniciou antes da reunião decisiva do Conselho de Segurança da ONU.

Kadafi mudou a narrativa. Na Tunísia e no Egito, os levantes populares provocaram cisões no núcleo do poder. Os exércitos separaram-se dos ditadores e, então, os regimes caíram. A Líbia, porém, é um Estado singular, que combina estruturas de poder clânico com instituições típicas do totalitarismo socialista, como os comitês revolucionários. Seu exército regular passou para o lado dos insurgentes, mas o poder armado efetivo encontra-se nas brigadas especiais, fiéis ao tirano. A contraofensiva de Kadafi provou que a insurreição popular poderia ser esmagada em sangue. A mensagem chegou à Arábia Saudita, que aproveitou o precedente líbio para, desafiando a posição de Barack Obama, enviar suas tropas ao Bahrein. A Síria de Bashar Assad também entendeu a "mudança de narrativa" como uma licença para matar manifestantes em praça pública. O ciclo da revolução árabe não se encerrou, mas ingressou numa nova etapa, amarga e perigosa.

A metáfora do "Muro de Berlim árabe" evidencia o sentido democrático da revolução que varre a África do Norte e o Oriente Médio. Bem ao contrário do que, imunes aos fatos, asseguram os arautos do "choque de civilizações", as sociedades árabes erguem-se pela liberdade, não em nome da promessa salvacionista do fundamentalismo islâmico. Mas o paralelo tem limites, pois a topografia política do mundo árabe não se parece em nada com a do antigo bloco soviético na Europa Oriental. Os países satélites da URSS apresentavam notável uniformidade de sistema político e obedeciam a um único centro de poder externo. Os países árabes exibem uma diversidade de sistemas políticos, que se estendem desde Repúblicas pró-ocidentais baseadas nos exércitos (Egito, Tunísia, Iêmen) até monarquias sunitas conservadoras (Arábia Saudita, Bahrein), passando por Repúblicas autoritárias de partido único (Síria) e por um "Estado de massas" (Líbia). Não estamos na Europa de 1989: a revolução em curso divide-se em cascatas singulares, cujas configurações refletem as particularidades nacionais.

As diferenças não param aí. A União Europeia serviu como bacia de captação para as sociedades da Europa Oriental que emergiam das ditaduras totalitárias. O espectro do nacionalismo autoritário rondou os países do antigo bloco soviético, mas foi conjurado pelo magnetismo do bloco de democracias ocidentais. A revolução fragmentária no mundo árabe, ao contrário, não conta com nenhuma sinalização na estrada. As sociedades que hoje se libertam dos tiranos carecem de tradições democráticas ou experiências pluralistas. Nas margens dos levantes populares, espreitam as correntes fundamentalistas e, em certos casos, as organizações jihadistas. Os árabes não estão condenados à tirania, como assegura o mantra dos entusiastas da Doutrina Bush. Contudo também não iniciaram uma marcha triunfal em direção à liberdade.

O sentido da revolução árabe será profundamente influenciado pelos atos do Ocidente. A França não sustentou o ditador tunisiano Ben Ali, seu antigo cliente, e os EUA, depois de alguma hesitação, explodiram a ponte que os ligava ao egípcio Mubarak. A resolução da ONU sobre a Líbia representa mais que uma iniciativa humanitária providencial: o massacre dos insurgentes de Benghazi ofereceria uma inigualável narrativa de martírio ao radicalismo islâmico e ao terror jihadista. Entretanto, cada gesto ocidental deixa entrever um conflito dilacerante entre valores e interesses.

"Para todos aqueles que se perguntam se o farol dos EUA ainda brilha com a mesma intensidade, (...) nós provamos (...) que a verdadeira força de nossa nação não emana da capacidade de nossas armas ou do tamanho de nossa riqueza, mas do poder persistente de nossos ideais: democracia, liberdade, oportunidade e inflexível esperança." A passagem do discurso da vitória de Obama, em novembro de 2008, inscreve-se na tradição wilsoniana que busca estabelecer uma identidade entre os valores e os interesses americanos. A Realpolitik, contudo, subsiste no Bahrein, porta de entrada da revolução árabe no cenário estratégico do "golfo do petróleo", onde tropas sauditas se encarregam do trabalho sujo de repressão sob o silêncio cúmplice do Ocidente.

No Iraque, em 2003, George Bush revestiu no celofane da defesa da liberdade uma ocupação militar definida por sua peculiar interpretação dos interesses geopolíticos americanos. Na Líbia, Obama sacrifica o interesse concreto da cooperação com Kadafi na "guerra ao terror" no altar dos valores pregados pelo Ocidente. Há uma lógica estratégica na aposta de risco na revolução árabe. O fracasso da Doutrina Bush revelou que o fundamentalismo e o jihadismo prosperam na estufa opressiva das tiranias. Por isso, na Tunísia, no Egito e na Líbia, os EUA e seus aliados escolheram um lado. Mas a opção ousada terá de se estender além da Síria, até o Bahrein e a Arábia Saudita, sob pena de se esfarelar na incoerência.

SOCIÓLOGO E DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP. E-MAIL: DEMETRIO

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Do coração
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 31/03/11

Acostumado a ver a morte passar por sua porta - se é que alguém se acostuma com isso algum dia - Paulo Hoff, oncologista que acompanhou José Alencar nesses 14 anos, estava arrasado ontem. "Perdi um amigo", resumiu o médico que, como outros da sua equipe, bem como da equipe do próprio Sírio-Libanês, está de luto.

Qual lição o senhor tira de ver alguém enfrentar esta doença com tanta coragem e transparência? "Primeiro, que independentemente de cargos, existem pessoas humildes, honestas, patriotas e humanas", pondera. E emendou: "Ele mostrou que o câncer não é um tabu e pode ser enfrentado. Isso tem que ser um exemplo".

Os familiares consideram que o senhor foi o responsável pela sobrevida do ex-vice, concorda? "Digo que é uma parceria. Ele tinha muita vontade de viver, e sem isso o tratamento não teria sucesso".

Ele se despediu de vocês? "Da maneira dele sim, sendo muito gentil e carinhoso", conta o médico, que nas últimas duas semanas ia regularmente à casa de Alencar. "Ele não vai deixar só saudades, mas também boas memórias", conclui.

Coração 2

Paulo Chap Chap, superintendente do Sírio, se impressionou com o altruísmo de Alencar durante o tratamento: "Ele pensava na família antes de pensar nele, mesmo que isto significasse sacrifício ou dor".

Companheirismo
O fim da luta de Alencar deixou toda a família abalada. Mas Dona Mariza, mais que todos. Pouco depois de o ex-vice morrer, ela se sentiu mal e foi levada para fora do quarto. E não voltou logo.

A maior parte dos visitantes que foram ao quarto foi recebida pelo filho Josué.

A favor
Criticada desde que retirou do site do MinC a licença do Creative Commons - permissão para visitantes do portal usufruir do conteúdo sem precisar pedir autorização ao próprio órgão ou ao criador-, Ana de Hollanda ganhou apoio externo: a do Conselho Internacional de Criadores de Música, em evento em Nairóbi, no Quênia.

A entidade acredita que a defesa dos diretos autorais e de gestão coletiva devem ser decididos pelos criadores. Sem intervenção governamental.

Pet stop
Animais ganham "estacionamento" próprio no Pátio Higienópolis. A ideia do Dog"s Parking é garantir que o cliente possa usar o shopping como quiser sem se preocupar com a segurança de seu pet.

Custa R$ 8 na primeira hora e R$ 2 para cada hora adicional.

No papelApós ter vendido 36 mil exemplares, a Sextante prepara nova edição de José Alencar - Amor à Vida. Com um posfácio.

A ser lançado no dia 11.

Humor de Alencar
Alckmin preferiu lembrar, ao levar condolências à família, cenas de bom humor do ex-vice.

Como esta: "Ele me dizia que eu era Álckmin (com acento no "a"), e o deputado mineiro era (José Maria) Alquimín (acento no "i"). E cobrava: Pois é, governador, paroxítona não ganha eleição...".

Aliás, às 6 horas da manhã de ontem, Alckmin estava no Sírio para acompanhar o corpo.

De peso
Guilherme Afif escolheu uma frase de peso para definir a partida do vice-presidente: "Hoje tombou um jacarandá!".

Tem de gostar

De Serra, sobre a cruzada comum, dele e de Alencar, contra os juros altos: "A gente sabe que é difícil derrubar juros. Mas primeiro tem mesmo é que gostar da ideia".

Ela, Bethânia
Maria Bethânia subiu ao palco da Faap, anteontem, para ler poemas, demonstrando nervosismo e apreensão. Pelo jeito, a artista estava se sentindo acuada diante da polêmica gerada pela entrada de seu projeto de criação de um blog de poesia no Minc. Apesar deste estar absolutamente dentro dos conformes.

Passou nervoso à toa. Foi super bem recebida, aplaudida, com direito até a bis.

Voz internética
A declaração de Jair Bolsonaro no CQC criou mobilização no Twitter e Facebook. Um aviso pede para cidadãos mandarem e-mails para o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar expressando indignação sobre os comentários considerados racistas e homofóbicos.

Eu passo
Rafinha Bastos, recentemente citado pelo New York Times como o tuiteiro mais influente do mundo, não quer competir com Lady Gaga e ampliar o número de seguidores: de 1,6 milhão para 9 milhões, como a cantora americana.

O humorista e apresentador do CQC é direto: "Não entrarei na briga com ela. Não estou a fim de desfilar por aí com um vestido de m... de camelo", disse à coluna.

Na frente

Costurado por Maria Helena Sobral, o livro Fernando Lemos - Percurso, sobre os 60 anos de carreira do artista português será lançado hoje pela BEI. Na Cultura da Paulista.

Eduardo Gaz fechou parceria com a sofisticada rede Aman. E convidou Fritz Zwahlen, chef suíço, para pilotar almoço de comemoração. Na próxima semana.

Liliana Harb Bollos autografa amanhã seu livro. No Ponto do Livro.

Jack Vartanian lança a coleção Bichos, inspirada em animais sexy e fatais. Hoje, na NK Store.

Patricia Golombek autografa Baixinha de Uma Figa, Não! na Livraria da Vila. Hoje.

Conrado Paulino lançou seu segundo CD: Wrong Way.

A coluna recebeu e-mail colocando à disposição um "especialista" para comentar a morte de Alencar: um professor de "relações integrais" de um certa faculdade integrada. Cruzes.

KENNETH MAXWELL

Guerra por escolha
KENNETH MAXWELL

FOLHA DE SÃO PAULO - 31/03/11

Muammar Gaddafi está no poder na Líbia há 42 anos, desde que derrubou o rei Idris, em 1969. O "líder fraterno" foi sempre considerado um homem excêntrico.
Malévolo, brutal e astuto, Gaddafi, em boa parte de seu domínio, foi encarado como pária pela comunidade internacional, como patrocinador do terrorismo e responsável pelo atentado contra o voo 103 da Pan Am, que explodiu sobre a Escócia em 1988, causando a morte de 243 passageiros e 16 tripulantes e de 11 pessoas em terra.
Gaddafi é autor do "Livro Verde" de seus pensamentos, publicado em 1975 e inspirado pelo "Livro Vermelho" de Mao Tse-tung. Ele apoiou Idi Amin, e mais recentemente Chávez.
Gaddafi define seus inimigos na Líbia como "baratas", o mesmo termo que os hutus usavam para descrever os tutsis ao massacrarem 800 mil deles em Ruanda, e que os nazistas usavam quanto aos judeus, 6 milhões dos quais eles exterminaram. Gaddafi não é boa pessoa. Isso é evidente.
Nesta semana, uma conferência internacional foi realizada em Londres para decidir o que fazer quanto a Gaddafi.
Entre os 35 países representados, não havia quaisquer enviados do governo líbio, embora membros da rebelião contra o coronel no leste do país estivessem na cidade.
Obama, de volta aos EUA após visitar a América do Sul, fez um discurso na National Defense University, em Washington, sobre o conflito líbio e disse que Gaddafi não poderia continuar no poder.
O problema com a coalizão liderada pelo Ocidente que se opõe a Gaddafi, na qual o Reino Unido e a França foram os mais ardorosos proponentes de uma intervenção militar, é que nem britânicos nem franceses têm históricos muito honrados em seu relacionamento com o regime líbio.
Tony Blair visitou Gaddafi em 2004, e há uma foto notória que o mostra trocando um abraço com ele. Nicolas Sarkozy foi à Líbia em 2007. Condoleezza Rice fez o mesmo em 2008, e se tornou a primeira secretária de Estado dos EUA a visitar a Líbia desde 1953.
A intervenção de Obama é atribuída às "amazonas guerreiras" de seu governo, lideradas por Hillary Clinton e formadas por Samantha Power, no Conselho de Segurança Nacional, e Susan Rice, embaixadora americana na ONU.
Diz-se que as três estão tentando corrigir erros do passado, quando os EUA deixaram de agir para impedir massacres durante a gestão Clinton.
Mas quando candidato, Obama atacou George W. Bush afirmando que, "sob a Constituição, o presidente não tem o poder de autorizar unilateralmente um ataque militar em uma situação que não envolva ameaça concreta ou imediata à nação". Até mesmo, poderia ter acrescentado, um ataque militar que tenha por alvo Gaddafi.