segunda-feira, setembro 13, 2010

ANCELMO GÓIS

VEJA QUE LEGAL
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 13/09/10


 Eduardo Paes promete dobrar o tamanho da Quinta da Boa Vista, o mais popular parque do Rio. A prefeitura comprou do Exército um terreno vizinho e até 2016 transformará toda aquela área em um parque gigante de 600 mil metros quadrados. Mas, já para a Copa de 14, o prefeito promete entregar à população esta passarela (foto) ligando o estádio do Maracanã, palco do jogo final, à Quinta. Os dois equipamentos urbanos, por causa da linha de trem que passa no meio, parecem distantes um do outro. Mas não. São apenas 300 metros. Entre técnicos da prefeitura, a obra ganhou o apelido de “praçarela” pelo formato e os pisos projetados pelo escritório de Burle Marx. Alô, Eduardo Paes: não esqueça da Mangueira na hora de revitalizar o entorno do Maracanã. O lugar anda abandonado como, por exemplo, aquele prédio feioso e pichado do IBGE 

Viva Andrucha! 

“Lope”, dirigido por Andrucha Waddington, já é a quinta maior bilheteria na Espanha de 2010 e ganhou elogios da “Variety”. O filme, que tem no elenco Selton Mello e Sônia Braga, aborda a juventude do dramaturgo espanhol Félix Lope de Vega. 

Magoou 

O almirante Veiga Cabral, presidente do Clube Naval, não se conforma com Dilma Rousseff não ter respondido ao convite para participar de uma reunião com militares das três armas: — Queríamos ouvir sua opinião sobre as Forças Armadas. 

Nossa intenção não era fazer nada hostil. 

Serra já esteve com os militares, e Marina ficou de marcar uma data. 

Outra da caserna 

O TRF-Rio autorizou um militar a fazer a barba somente a cada três dias. 

Ele tem vitiligo, doença que causa manchas brancas na pele, e, segundo o laudo do serviço médico do próprio Exército, o ato de barbear-se “é fator desencadeante da discromia”. 

Lulismo no poder 

A Editora Record lança dia 28, na Academia Brasileira de Letras, o livro do jornalista Merval Pereira “O lulismo no poder”. 

A mala do padre 

Ontem, na missa das 9h, o padre Marcos, da Igreja dos Santos Anjos, no Leblon, contou aos fiéis que vai ao Encontro com o Papa Bento XVI, dia 25, no Vaticano. E aproveitou: — Vou viajar com poucos euros e não tenho a preocupação de guardar esse dinheirinho em mala. Não devo nada à Receita. 

Foi aplaudido por 150 fiéis. 

É que... 

Semana passada o padre Abílio Ferreira, 77 anos, espécie de tesoureiro da Igreja do Rio, foi preso ao tentar embarcar para Lisboa portando 53 mil euros sem declarar à Receita. 

Tragédia da Piedade 

O “História dos campeonatos cariocas de futebol 1906/2010”, escrito por Roberto Assaf e Clóvis Martins, a ser lançado hoje, conta a história de Dinorah de Assis, campeão pelo Botafogo, que, em 1909, ficou hemiplégico atingido por uma bala na nuca. 

Foi assim... 

O autor do disparo foi Euclydes da Cunha. O alvo era, na verdade, o irmão do atleta, Dilermando, que mantinha um romance com a mulher do grande autor de “Os sertões”. 

Cinema gaúcho 

O filme “Netto e o domador de cavalos”, dirigido por Tabajara Ruas, estreia esta semana em Porto Alegre. No elenco, Werner Schünemann e Tarcísio Filho. 

O longa junta na história Antônio de Souza Netto, o líder abolicionista na Guerra dos Farrapos, Lanceiros Negros e a lenda do Negrinho do Pastoreio, de Simões Lopes Neto. A produção é de José Antônio Severo e Lígia Walper. 

ZONA FRANCA 

Zeca Fonseca lança hoje, às 20h, “Pandemonium”, da editora Faces, no Teatro Municipal de Niterói. 

Joaquim Ferreira dos Santos fala sobre o ofício do biógrafo na ABL, amanhã. 

A FGV homenageia quarta Oscar Niemeyer, autor dos projetos para expansão da Fundação em Botafogo, que começará em breve. 

Geraldo Tadeu Monteiro faz palestra sobre ética nas pesquisas eleitorais em seminário, amanhã, no Creci. 

O Colégio Marly Cury contratou a ONG Sustentarte para implementar o Projeto Escola Floresta, no qual alunos plantarão 1.500 mudas de Mata Atlântica em Niterói. 

Vigário Geral na tela 

O cineasta Milton Alencar Jr., de “Garrincha — estrela solitária”, está dirigindo um documentário sobre o massacre de Vigário Geral, ocorrido em agosto de 1993. A ideia do diretor é, em seguida, realizar um longa-metragem, ficcional, sobre a chacina. 

A favela foi invadida há 17 anos por um grupo de extermínio formado por uns cinquenta homens encapuzados que executaram 21 moradores. 

Cegonha 

Dudu Nobre, recém-separado de Adriana Bombom, vai ser papai novamente. 

Sua namorada, Priscila Grasso, está grávida. 

Indústria do esporte 

Executivos da Panasonic do Japão estiveram reunidos com a D+, empresa que fez o Fan Fest da Fifa, em Copacabana. 

Querem desenvolver uma unidade de telões no Brasil. 

Caso médico 

Paulo Niemeyer, o cirurgião que foi ferido por dobermanns, já voltou às atividades médicas. Legal! 

Quebra-ossos 

Sexta, Leandro Paixão Viegas, o Leandrinho Quebra-Ossos, acusado de pertencer à milícia Liga da Justiça, explicou ao juiz Fábio Uchoa, durante audiência na 1ª Vara Criminal do Rio, o seu apelido. 

Disse que trabalhava há 10 anos como tratador e montador de cavalos e que já sofreu várias fraturas por causa das quedas, o que o levou a pôr mais de 40 parafusos nos braços e nas pernas. Ah, bom! 

MARIA RITA e Rodrigo Pena, o ator que também é DJ, comprovam que o amor está no ar como mostra a sequência de fotos de Cristina Granato. O romance ficou público no Bailinho, durante a festa de inauguração do Espaço Acústico, no Centro do Rio. 

Que sejam felizes!

FARSA

MÔNICA BERGAMO

BELEZA EMOLDURADA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/09/10
 
A atriz Larissa Maciel, a Felícia da novela "Passione" (TV Globo), foi uma das artistas que posaram para o fotógrafo e maquiador Fernando Torquatto, que abre uma exposição de fotos nesta quinta-feira, no Via Parque Shopping, no Rio. A mostra pretende exibir tendências de moda que marcaram um período, como o smoking feminino criado pelo estilista Yves Saint Laurent, nos anos 60. Além de Maciel, outras nove celebridades foram retratadas, como Carolina Dieckmann, Taís Araujo e Fernanda Paes Leme. 

MINHA CASA, MINHA VIDA 

Eike Batista e o Turnberry, um dos grandes grupos imobiliários dos EUA, com investimentos especialmente em Miami, estão finalizando as negociações para parceria em empreendimentos imobiliários no Brasil. 

DETALHES 
Além de prédios comerciais e hotéis no porto do Rio e na Cidade X, empreendimento imobiliário para 250 mil pessoas que Batista pretende erguer no Rio, os americanos participariam de negócios em outros Estados do país. O brasileiro se encontrou em Miami há alguns dias com Jeffrey Soffer, que comanda o Turnberry. 

BONS AMIGOS 
Foi na base da paz e da amizade o rompimento daquele que formava o casal 20 dos meios jurídicos: Ellen Gracie, ministra do STF (Supremo Tribunal Federal), e o jornalista Roberto Dávila. O relacionamento durou dois anos e foi desfeito sem maiores turbulências. 

JÁ QUE ESTÁ AQUI 
Um pré-natal para os homens: o Ministério da Saúde vai orientar prefeituras e órgãos estaduais da saúde a convidarem maridos que acompanham gestantes no pré-natal a também fazerem exames médicos preventivos -em especial aqueles que rastreiam doenças sexualmente transmissíveis, que podem prejudicar as mães e também os bebês. 

MURO 
A ideia é tentar atrair os homens para exames num momento em que estão envolvidos com a criança que chegará e, portanto, mais preocupados com a própria saúde também. Estudos mostram que a população masculina resiste a procurar serviços de saúde. Atualmente, para cada oito consultas ginecológicas no SUS, acontece apenas uma urológica. 

CANTORIA 
Os três filhos da candidata a senadora Marta Suplicy, João, André e Supla, fizeram uma música e gravaram um clipe para a campanha da mãe: "Vi minha mãe sair pra luta/ Vi minha mãe se distanciar/ Vi minha mãe sair do lar/ Para ao povo se dedicar". 

O CAFÉ E A CONTA 
Cinquenta personalidades da cultura almoçam hoje com Geraldo Alckmin, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, no restaurante La Casserole, no centro da cidade. Vão apresentar seus pleitos para o tucano. Na lista de convidados estão o cineasta Hector Babenco, a atriz Beatriz Segall e a produtora teatral Lulu Librandi. 

TRÊS POR QUATRO 
A escritora Fernanda Young abre na quarta sua exposição de fotos, na loja da Uma, nos Jardins. "Minha Estupidez" contará com cerca de 500 retratos, feitos a partir de 1993, da própria Young e de amigos, mas sem celebridades. "Não ando com gente famosa." 

"PORCO" LIVRE 
A ida de Mano Menezes para a seleção tirou um palmeirense próximo do técnico "da moita". Ele conta que, quando fechou com a CBF, o personal trainer que atende a família o abraçou e disse: "Agora eu posso voltar a torcer para o Palmeiras!". 

E VAI ROLAR A FESTA 
Romero Britto, artista plástico radicado em Miami, ganha festa de aniversário de 47 anos em outubro na casa de Lilibeth Monteiro de Carvalho, no Rio. No convite, em inglês, há dicas de hospedagem (Copacabana Palace, Caesar Park e Fasano) e diz que americanos precisam de visto no Brasil. Britto pede de presente doações para o hospital Pró-Criança Cardíaca. 

BALANÇO PAULISTA 
A São Paulo Companhia de Dança estreou na quinta duas novas coreografias: "Prélude à L'Après-Midi d'un Faune", de Marie Chouinard, e "Sechs Tänze", de Jirí Kylián. A curta temporada no teatro Alfa, que terminou ontem, contou também com a apresentação de "Theme and Variations". Entre os convidados da noite de estreia, o agropecuarista Jovelino Mineiro e a mulher, Carmo Sodré, e José Fernando Perez, ex-diretor da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SP). 

CURTO-CIRCUITO 
A pré-estreia do longa "Soberano - Seis Vezes São Paulo", de Carlos Nader e Mauricio Arruda, é hoje, às 21h30, no shopping Jardim Sul. Livre. 
Daniel Augusto Jr. inaugura a mostra "Corinthians, 100 Fotos", hoje, às 19h30, na galeria do Senac Lapa. 
Newton Lima (PT-SP) faz hoje jantar de arrecadação de fundos para sua candidatura a deputado federal, no Villa Tavola, com convites a R$ 500. 
O italiano Roberto Mazzetto abre hoje mostra de aquarelas na Pompeia, trazido pela artista Ivani Castilho. 

com DIÓGENES CAMPANHA, LEANDRO NOMURA e LÍGIA MESQUITA 

SENADOR JOSÉ AGRIPINO

CELSO MING

Rever sistema de metas 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 13/09/2010

A última ata do Copom reconheceu que a política monetária ganhou eficiência. Não precisa mais de doses maciças de juros para obter o efeito desejado; pode trabalhar com mais sutileza.


Em dez anos de funcionamento, o sistema de metas é sucesso. Nos últimos cinco anos, por exemplo, a inflação ficou dentro da meta e isso diz muita coisa. O Banco Central está conseguindo ancorar as expectativas dos "fazedores dos preços", o que sugere que o sistema está aí para ficar. Mas precisa de ajustes. Uma coisa era o contra-ataque à inflação de 9% há dez anos; e outra, quando a inflação está abaixo da metade disso. Há problemas a corrigir.

O primeiro deles é o de que trabalha com metas altas demais. Poucos países do mundo admitem uma inflação de até 6,5% ao ano (4,5% de centro de meta mais 2 pontos de estouro). Os bancos centrais dos países avançados calibram sua política para uma inflação de 2%.

No Brasil, a meta está submetida à camisa de força do ano-calendário, período em que podem concentrar-se turbulências. É por isso, também, que admite a zona de escape de dois pontos porcentuais ao ano, tanto para cima como para baixo. No entanto, se o período em que a meta a ser atingida fosse mais esticado, os formadores de preços e agentes de mercado poderiam trabalhar mais a longo prazo, o que aumentaria a previsibilidade do sistema. Dá para imaginar, por exemplo, os bons efeitos que produziria a decisão de que o Banco Central terá quatro anos para ajustar a política monetária de modo a atingir a meta de inflação de 3% em 12 meses.

Outra mudança a introduzir é a própria medida de inflação. O conceito flat de custo de vida já não serve para definir o nível adequado dos juros num regime que começa a pedir pente-fino. No início deste ano, por exemplo, o Banco Central aumentou os juros em consequência da disparada da inflação, que foi produzida por um choque de oferta de alimentos provocado por excesso de chuvas. Não faz sentido aumentar os juros para combater uma alta de preços que nada tem a ver com o volume de dinheiro na economia. Isso significa que o Banco Central deveria trabalhar mais com o conceito de núcleo de inflação (core inflation), medição que ainda precisa melhorar no Brasil.

A terceira alteração tem características de reforma e já tem sido comentada. Por isso, basta mencioná-la. Trata-se da necessidade de rever a remuneração da caderneta de poupança, da Letra Financeira do Tesouro (LFT) e a atuação do BNDES, que tiram força da política monetária e são barreiras à queda dos juros no Brasil.

É preciso rever a composição do Copom. Hoje, com igualdade de votos, dele fazem parte todos os diretores do Banco Central, inclusive os de Administração e de Liquidações, cujas especialidades são o gerenciamento da máquina ou de massas falidas e não a definição do nível adequado de moeda da economia.

Quinto ponto: é necessário melhorar a comunicação. Nessa faixa, o Banco Central opera em três níveis. O primeiro são os canais institucionais: o relatório trimestral de inflação, os comunicados emitidos após a reunião do Copom e as atas do encontro; o segundo nível são entrevistas e reuniões informais; e o terceiro, entrevistas do presidente do Banco Central à imprensa.

Este não parece um mix apropriado, seja porque pode se tornar obsoleto (caso dos relatórios de inflação e das atas), seja porque cria ruídos como os provocados pelas reuniões com o chamado Grupo de Fátima. Em julho, por exemplo, o Copom teve de reduzir a dose dos juros, na contramão do que indicavam os textos oficiais. O presidente do Banco Central argumentou depois que, em entrevistas na TV, havia sinalizado a mudança. Ora, entrevistas na TV não podem ter o peso de um comunicado formal. A ideia aqui é de que todos os membros do Copom manifestem o que pensam, ainda que divirjam da maioria, que essas posições sejam registradas no site do Banco Central e seus votos sejam abertos.

Mas é preciso pontuar: nenhum aperfeiçoamento do sistema de metas funcionará se não forem preservadas a autoridade, a autonomia e a confiança na direção do Banco Central.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O carrinho dos ricos
Carlos Alberto Sardenberg 
O Estado de S.Paulo - 13/09/10


Passando o feriado em Key Biscayne, na região metropolitana de Miami, pego carona com um amigo que estava entusiasmado com o seu Smart car, o micro-carro produzido pela Daimler (Mercedes) na Alemanha e na França. Entusiasmo econômico e ideológico.


Começando pelo ideológico: o carrinho é percebido pelos seus donos como uma demonstração de temperança e estilo modesto, atitude mais condizente com uma economia pós-estouro da bolha de consumo. Conta meu amigo que, durante os tempos do excesso, sempre se admirava com a facilidade pela qual as pessoas compravam carros Mercedes, não o Smart, mas os grandões. Estava na cara - continua - que não podia dar certo aquela vida de ostentação e acima das possibilidades reais.

Daí o Smart - micro, para dois lugares, bagageiro pequeno, mas, de fato, surpreendentemente confortável para duas pessoas. O desenho aproveita bem o espaço, de modo que ele parece maior quando você está dentro do que vendo de fora. Ou seja, vale mais a sensação interna do que a exibição externa.
Daí para o entusiasmo econômico. Diz o amigo: "Você enche o tanque e esquece. Anda... anda... e, quando vai repor, nem se lembra quando completou da última vez."
E o preço? Sabem quanto? US$ 12 mil, assim: US$ 1.500 de entrada e 60 prestações mensais de US$ 220. No site do carro (www.smartusa.com) há uma oferta de leasing por US$ 179, válida até 30 de setembro.

Já aqui, no Brasil, é carro de rico. Sabem por quanto sai o modelo 2010? Nada menos que R$ 65 mil, ou cerca de US$ 37 mil (com câmbio de R$ 1,75 por dólar). Está certo que o real está valorizado, mas, para que o preço equivalente aqui fosse de US$ 12 mil, a moeda americana deveria estar valendo R$ 5,40 - cotação claramente impensável. Ou seja, há mais fatores além do câmbio nessas comparações.

Agora, tomando pelo lado social, quem compra um carrinho desses no Brasil (de apenas dois lugares, sem bagageiro e 1.0), podendo, com o mesmo dinheiro, adquirir um Corolla 1.8, por exemplo, é uma pessoa de recursos bem acima da média. Certamente está no grupo dos mais ricos. E por que compra? Por gostar muito do carrinho, por ideologia, por consciência de sustentabilidade. Ou, como diz um vendedor de automóveis consultado por nós: agrada ao público jovem, tem design diferenciado, destaca-se no trânsito, agrada a muitas mulheres, a estrelinha Mercedes dá uma força e, acreditem, estaciona-se com muita facilidade.

Na propaganda do carro, nos EUA e na Europa, de fato se fala dessa facilidade de dirigir e estacionar nas cidades congestionadas. Mas, gente, por R$ 65 mil? Não é luxo, não?

E não é o único caso em que um produto mais ou menos barato nos EUA se transforma, aqui, em consumo suntuoso, ofertado a preços enormes nos shoppings de classe. Acontece com marcas de roupas e tênis, por exemplo.

Por quê? Será por uma decisão de marketing - elevar o preço para jogá-la numa faixa superior de consumo? Ou, ao contrário, será porque o custo Brasil encarece tanto o produto que só se consegue vendê-lo nessa faixa mais rica?

Apostaria mais na segunda hipótese, para a maior parte dos casos. Pois esse custo Brasil é cada vez mais evidente. Por exemplo: o "sales tax" (imposto sobre o consumo) em Miami, cobrada sobre um iPad, é de apenas 7%. Aqui, só de ICMS, é quatro vezes maior. No Smart, por exemplo, o imposto de importação no Brasil é quase cinco vezes maior do que nos EUA.

Emprego nos EUA. A questão mais importante nos EUA é emprego. Mesmo com o início da recuperação, a taxa de desemprego permanece em torno dos 10%, o que é mais do que o dobro em situação normal.

Uma explicação está na falta de confiança das companhias. Estas só vão voltar a contratar de verdade quando acreditarem que a recuperação é consistente. Além disso, há outro fato: na primeira onda de recuperação, as companhias americanas exibiram elevada produtividade. Ou seja, aumentaram a produção empregando menos gente.

As empresas investiram em novos computadores e sistemas de informática. E isso não é apenas conjuntural, mas uma tendência de longo prazo. Pode estar ocorrendo uma onda de mudança estrutural no mercado de trabalho.

Lojas e supermercados estão automatizados. Você compara, paga e vai embora sem contato com funcionários humanos. Mas há trabalho humano por trás, como os de definição, instalação e operação dos softwares que comandam todo o processo. Esse é um trabalho de maior nível - e melhores salários - que ficaria nos Estados Unidos.

O problema é a transição, complicada, ainda mais neste momento, pela circunstância da crise.

FHC. Tempos interessantes: praticamente tudo o que acontece de bom no País hoje tem origem no real e no governo FHC. Mas ele só aparece na campanha para ser atacado.

Lula disse na sexta-feira, por exemplo, que FHC não se preocupou com a educação porque ele, o intelectual, já tinha estudado. Mas foi no governo FHC que se conseguiu a marca de colocar todas as crianças na escola - e isso, a educação formal, mesmo com ensino insuficiente, é causa da melhoria de emprego e renda.

Celebra-se o avanço do crédito imobiliário, mas isso só foi possível com a estabilidade macroeconômica, assentada no tripé superávit primário das contas públicas, metas de inflação com Banco Central independente e câmbio flutuante. A expansão do crédito em geral decorre da estabilidade.

E viram o que saiu na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)? O rendimento real médio do trabalho tem subido nestes últimos anos do governo Lula, mas ainda está abaixo do nível verificado entre 1995 e 1998, quando a renda dos mais pobres sofria o impacto positivo da fortíssima desinflação.

Mas, como se dizia, fazer sucesso no Brasil dá galho.