terça-feira, julho 28, 2015

O Proibidão do Porto - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

O GIGANTE SE CONTORCE TODO PARA NÃO VER QUE O PETROLÃO É PARTE DE UM PROCESSO DE PILHAGEM

O gigante está sambando. Num ataque crônico de sonambulismo, ele vem requebrando freneticamente -em formidáveis acrobacias para manter Dilma Rousseff no Planalto. A cada novo petardo da Lava Jato expondo a indústria de corrupção montada pelo PT no topo da República, o gigante mostra seu poder de esquiva, No melhor estilo Ronaldinho Gaúcho, ele olha sempre para o lado em que a bola do petrolão não está. E acaba de contrair um doloroso torcicolo, em sua guinada para não ver a literatura explosiva dos bilhetes de Marcelo Odebrecht na cadeia.

O Brasil já mostrara toda a sua ginga ao virar a cara, numa pirueta radical, para o encontro secreto de Dilma com Lewandowski em Portugal. A presidente da República e o presidente do Supremo Tribunal Federal, irmãos de credo, reúem-se às escondidas fora da capital portuguesa, no momento em que o maior escândalo de corrupção da história do país (envolvendo o governo dela) tem seu destino nas mãos da instância judiciária máxima (presidida por ele). Normal. No que o encontro vazou, a dupla explicou tudo: a reunião foi para discutir o reajuste dos servidores da Justiça.

Perfeitamente compreensível. Não há outra forma de discutir salário de funcionários públicos a não ser cruzando o Oceano Atlântico para um cafezinho clandestino. No Brasil, é mais fácil uma aberração dessas virar rap — o Proibidão do Porto — do que acordar a platéia para os riscos que rondam a Operação Lava Jato. Como os brasileiros se cansaram de ver no mensalão - ou pelo visto não se cansaram —, esse gato se esconde com o rabo de fora.

A inabalável posição de Lewandowski pró-mensaleiros, em harmonia com a inabalável lealdade de Dilma aos companheiros apanhados em situação de roubo, é a sinfonia que se repete no petrolão. Entre as cenas que se seguiram ao Proibidão do Porto está o cerco ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha - personagem venenoso que fustiga o governo. Surgiram oportunamente indícios, embalados por declarações providenciais do procurador Janot - um homem providencial - empurrando Cunha para o STF de Lewandowski. O presidente da Câmara respondeu que não vé problema em ser investigado no Supremo, desde que Dilma seja também.

É esse tipo de comentário que faz o gigante rebolar. Como assim, investigar Dilma? Por que investigar a presidenta mulher, mãe, avó e que até tem um cachorro? Que foi perseguida pela ditadura? (Embora hoje não se saiba ao certo quem persegue quem.) De sua cela, Marcelo Odebrecht mandou a resposta: porque ela recebeu dinheiro sujo do petrolão diretamente de uma conta na Suíça para sua campanha presidencial. Que tal? Essa informação foi captada pela Polícia Federal de um celular do empreiteiro preso, em forma cifrada, mas bastante clara. Como já vinha se desenhando com clareza nas delações premiadas, praticamente todas apontando para financiamento de Dilma e do PT com propinas do petrolão, através do ex-tesoureiro Vaccari.

Por uma enorme coincidência, a empreiteira é a mesma em favor da qual Lula é suspeito de fazer tráfico internacional de influência, conforme investigação em curso no Ministério Público. O instituto Lula diz que vários ex-presidentes viajam para defender interesses das empresas de seus países. Resta saber se algum deles recebe cachês estratosféricos das empresas que defendem ou se viaja com uma bolsa BNDES a tiracolo para fazer brotar instantaneamente qualquer obra em qualquer lugar.

O gigante se contorce inteiro para não ver que o petrolão, como o mensalão, é parte de um processo de pilhagem - aí incluídas outras táticas parasitárias como as pedaladas fiscais, tudo a serviço da transfusão de dinheiro público para um grupo político bonzinho se eternizar no poder. O Brasil está comendo o pão que o diabo amassou, mergulhando numa recessão que não segue o panorama mundial, nem continental - e ouve numa boa o companheiro Ricardo Lewandowski declarar, após o Proibidão do Porto, que a derrocada econômica nacional é decorrente da crise de 2008 nos Estados Unidos...

Claro que ninguém perguntou nada ao presidente do STF sobre a conjuntura econômica. Mas não precisa, porque eles estão ensaiadinhos e são desinibidos. A ópera-bufa não tem hora para acabar, enquanto a platéia estiver dormindo.


ELA BATEU EM RETIRADA - REVISTA VEJA


Advogada de metade dos delatores da Lava-Jato, Beatriz Catta Preta abandona clientes e deixa subitamente o país — ao menos um amigo diz que ela recebeu ameaças
REPORTAGEM: Mariana Barros e Laryssa Borges

Mudar-se para Miami sempre esteve nos planos da advogada Beatriz Catta Preta. Há um ano ela abriu um escritório de consultoria na cidade americana, para onde viaja frequentemente com o marido e o casal de filhos — queria, inclusive, que o menino frequentasse uma escola bilíngue em São Paulo para se preparar para a mudança. Mas a ideia era ir para lá em "dois ou três anos", como chegou a dizer a um conhecido, e não bater em retirada como ela fez na semana passada. Há duas semanas, a advogada que negociou a delação premiada de nove dos dezoito réus confessos da Lava-Jato fechou o seu escritório em São Paulo, dispensou recepcionista e secretárias e parou de atender o celular. Na segunda-feira 20, enviou um e-mail a todos os seus clientes anunciando que não mais faria a defesa deles, Ato contínuo, deixou o Brasil.

Nada indicava que isso ocorreria. Catta Preta, como é conhecida, estava com a carteira de clientes abarrotada. Mesmo aos mais antigos, não tinha dado nenhuma pista de que pretendia mudar de país. "Só soube quando recebi o e-mail, nem imaginava", disse o operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro, que está com ela desde 2003. Algo de muito grave fez com que Catta Preta decidisse sair de cena — e há indícios de que ela estava apavorada quando o fez. Em maio, por razões desconhecidas, deixou de mandar o filho à escola e pediu à direção o trancamento da matrícula. Em junho, foi a vez de tirar também a menina mais nova da escolinha que frequentava. Um advogado próximo de Catta Preta afirmou a VEJA que ouviu de um amigo comum aos dois que ela vinha recebendo ameaças e que, por isso, teria saído "fugida" do país.

No último dia 9 de julho, a advogada havia recebido uma ordem de convocação para depor na CPI da Petrobras com o objetivo de "explicar a origem dos recursos dos pagamentos de seus clientes". O requerimento de convocação foi assinado pelo deputado Celso Pansera, integrante do PMDB fluminense e acusado pelo doleiro Alberto Youssef de tê-lo ameaçado por ordem do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de quem seria "pau-mandado".

Uma semana depois da convocação de Catta Preta, um de seus clientes, o ex-executivo da Toyo Setal Julio Camargo, afirmou em depoimento ao juiz Sergio Moro que Cunha tinha pedido 5 milhões de dólares de propina. Camargo não havia citado o nome de Cunha em seu depoimento anterior. A coincidência das datas suscitou especulações de que a convocação da advogada à CPI pudesse ser uma retaliação de Cunha pela inclusão de seu nome — que, ele já saberia, estava por vir — no depoimento de Camargo. O ex-diretor da Toyo Setal também foi convocado à CPI pelo mesmo deputado Pansera.

A súbita decisão de Catta Preta de abandonar seus clientes, a Lava-Jato e o Brasil adicionou mais um toque de mistério a uma carreira construída à margem do território habitado pelos grandes criminalistas brasileiros. Descrita por colegas como reservada e de poucas palavras, ela se formou na Unip e fundou a própria banca em 2002, quando deixou o escritório do ex-procurador da República e desembargador federal Pedro Rotta, morto em 2011. Foi ele quem lhe abriu as portas para o mundo de clientes endinheirados: doleiros, empresários e banqueiros. Em 2006, já em carreira-solo, ela fechou seu primeiro caso de delação de grande repercussão. Os clientes eram dois doleiros pegos na Operação Farol da Colina, da Polícia Federal, os sócios Richard A. de Mol Van Otterloo e Raul Henrique Srour. Desde então, firmou outros acordos importantes, mas o estrelato veio no ano passado, quando negociou a primeira de todas as delações premiadas da Lava-Jato, e até então a mais bombástica de todas, a do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Em outubro, quando ele foi para casa de tornozeleira eletrônica, ela deixou o caso.

Na ascensão da advogada, um personagem desempenhou papel fundamental: Carlos Eduardo Catta Preta Júnior, o marido, de quem herdou o sobrenome, é que trata das negociações com os clientes, estabelece o valor dos honorários e cuida das cobranças do escritório. Amigos dizem que ele tem grande influência sobre a mulher. Embora se declare oficialmente comerciante, Carlos Eduardo é conhecido como "doutor Carlos". O casal se conheceu em 2001, quando ele foi preso em Alphaville, na Grande São Paulo, com 50 000 dólares em notas falsas presas na cintura, dentro de um saco plástico. Em sua casa, agentes do Denarc, o departamento de combate ao tráfico de drogas, encontraram mais 350000 dólares falsos guardados no banheiro. Aos policiais, Carlos Eduardo contou que estava tentando vender as notas para se livrar do prejuízo que havia tomado ao vender a um indiano 17 quilos de esmeraldas retiradas de uma mina de pedras preciosas que arrendara na Bahia. Um amigo indicou-lhe o escritório de Pedro Rotta, onde trabalhava Beatriz Lessa da Fonseca, este o nome de solteira de Catta Preta. Ela o defendeu, conseguiu que respondesse ao processo em liberdade e tornou-se sua namorada. Em 2003, Carlos Eduardo foi condenado a três anos de prestação de serviços comunitários por crime de moeda falsa. Os dois se casaram, tiveram dois filhos e passaram a viajar com frequência para Miami. De acordo com amigos, é lá que estão agora. Sem previsão de retorno. O que teme Catta Preta?

Falta de compostura - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADÃO - 28/07

Maior responsável pela grave crise política, econômica, social e moral em que o País está mergulhado depois de mais de 12 anos de domínio petista, Luiz Inácio Lula da Silva tenta reagir à queda do pedestal em que se entronizou graças à conjugação de circunstâncias históricas alheias à sua vontade, com a habilidade e a falta de escrúpulos com que manejou um populismo irresponsável. Diante da revelação, da forma mais dolorosa possível para os brasileiros, de seu legado maldito e apavorado com a perspectiva cada vez mais próxima de ter de prestar contas à Justiça de seu envolvimento em acontecimentos que o beneficiaram e a toda sua família, Lula entrega-se ao destempero retórico.

Perdeu completamente a compostura.

Na sexta-feira passada, em discurso na posse da diretoria do Sindicato dos Bancários do ABC, em Santo André, Lula não teve o menor constrangimento em se colocar no papel de vítima de “nazistas” e de uma “elite perversa” que não aceita conquistas sociais. Numa tentativa canhestra de explicar a decepção em que se transformou o poste que escolheu para substituí-lo na Presidência, atribuiu o desastre ao machismo da elite: “Nunca tinha visto na vida pessoas que se diziam democráticas (sic) e não aceitaram uma eleição que elegeu uma mulher presidente da República”.

Com a popularidade em baixa, não seria agora que Lula se exporia diante do “povo”. Só fala a plateias selecionadas que não representem ameaça à sua megalomania. Diante de tal público, sente-se à vontade para derramar todo seu repertório de demagogo sacramentado. Parece não lhe ocorrer, no entanto, que o que ele imagina ser uma deferência especial sua a uma plateia selecionada significa, na verdade, um insulto aos cidadãos que, salvo a hipótese de se tratar de fanáticos irredimíveis, só estão ali porque Lula lhes atrai a curiosidade. E nada mais. Quanto aos áulicos, estes estão dispostos a aceitar e aplaudir qualquer barbaridade que profira, como essa de que a culpa pelo desastrado governo de Dilma é dos machistas que não aceitam o fato de ela ser presidente.

No cenário armado em Santo André, Lula lembrou seus dias de líder que fazia oposição a “tudo isso que está aí”: “Quero dizer para vocês que estou cansado de mentiras e safadezas; estou cansado de agressões à primeira mulher que hoje governa esse país; estou cansado com o tipo de perseguição e criminalização que tentam fazer à esquerda desse país. Parece os nazistas criminalizando o povo judeu e romanos criminalizando os cristãos”. Pois é. O homem, logo quem, está cansado de “mentiras e safadezas”. E ainda finge ser de esquerda, o que, definitivamente, é um dos poucos equívocos que não lhe podem ser imputados. A única coisa autêntica nessa arenga foram os erros de português.

Embora seja hoje um rico e ativo membro do jet set internacional, Lula mantém a humildade: “Eles não suportam que um metalúrgico quase analfabeto tenha colocado mais gente na faculdade do que eles, não suportam que a gente não deixou privatizar o Banco do Brasil”. Defendeu as realizações sociais e econômicas que efetivamente promoveu em seu governo enquanto navegou nas águas de uma conjuntura internacional favorável e de uma política econômica interna pautada pelos princípios “liberais” herdados dos governos tucanos. Mas ignorou, é claro, que todas aquelas conquistas estão hoje comprometidas pela teimosia do governo Dilma em impor ao País uma “nova matriz econômica” estatista. E lamentou: “Eu, sinceramente, ando de saco cheio. Profundamente irritado. Pobre ir de avião começa a incomodar; fazer faculdade começa incomodar; tudo que é conquista social incomoda uma elite perversa”.

Para concluir, a manipulação desavergonhada dos números: “A inflação está 9%, com perspectiva de cair. Quando eu peguei esse país, a inflação estava a 12%, o desemprego a 12%”. Só esqueceu de mencionar que antes do Plano Real, em junho de 1994, a hiperinflação era de mais de 47% e que a meta do atual governo, de 4,5%, sempre esteve longe de ser cumprida.

Cada vez menos, Lula consegue reunir plateias dóceis para deitar falação. Muito pouca gente se engana com ele. Para a grande maioria dos brasileiros, Lula e tudo o que ele representa foram uma ilusão passageira.

Lula e seu discurso de ódio - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 28/07

O ex-presidente demoniza os críticos, que não passariam de ricos cruéis que não suportam ver um pobre ter um prato de comida

Tornou-se lugar comum, ao tratar do nível do debate político brasileiro, criticar a polarização, o radicalismo e a agressividade com que são tratados aqueles que têm opiniões discordantes. Das mídias sociais às tribunas do Poder Legislativo, usa-se e abusa-se de termos pejorativos como se bastasse, para sair vencedor de um debate, colar um rótulo no outro. O termo “discurso de ódio” virou muleta do governo e da blogosfera chapa-branca para patrulhar qualquer manifestação mais enfática de oposição, mas o exagero não quer dizer que o discurso de ódio não exista – ele está mais vivo que nunca. E um de seus grandes fomentadores, se não o maior deles, atende pelo nome de Luís Inácio Lula da Silva.

Na sexta-feira passada, na posse da nova diretoria do Sindicato dos Bancários do ABC, em Santo André (Grande São Paulo), o ex-presidente comparou os adversários do PT a nazistas. “Estou cansado com o tipo de perseguição e criminalização que tentam fazer à esquerda desse país. Parece os nazistas criminalizando o povo judeu e romanos criminalizando os cristãos”, afirmou, sem medo da analogia absurda que fazia, que chega a ser ofensiva a grupos que realmente foram vítimas de perseguição arbitrária e assassinato em massa. A comparação com o nazismo não é nova: Rui Falcão, presidente do partido, usou o mesmo recurso em janeiro de 2013 para criticar a imprensa e o Ministério Público.

O discurso aos bancários veio na sequência de outro, talvez ainda mais relevante por causa da plateia a que se destinou. Em junho, em Roma, na abertura de uma conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Lula criticou o “preconceito por parte da imprensa brasileira e de alguns setores privilegiados da sociedade” nos seguintes termos: “Eu nunca pensei que dar comida aos pobres causasse tanta indignação”, segundo os sites do PT e do Instituto Lula. O discurso dos “ricos incomodados com a ascensão social dos pobres” é característico do lulismo e também esteve presente no evento de Santo André, quando o ex-presidente repetiu que “pobre ir de avião começa a incomodar; fazer faculdade começa a incomodar; tudo que é conquista social incomoda uma elite perversa”. Mas acusar a “elite” de se indignar porque os outros têm o que comer eleva a demonização a um novo patamar.

A consequência desse tipo de discurso é clara. Quem adota práticas nazistas, ou quem acha absurdo que os pobres tenham o que comer, só pode ser um demônio, e com demônios não há conversa; há apenas o enfrentamento e, se possível, a aniquilação. Demônios não têm direitos, precisam ser caçados, “apanhar nas ruas e nas urnas”, como disse uma vez José Dirceu. É assim que Lula enxerga todos aqueles que se opõem ao projeto de poder petista. Isso poupa o ex-presidente de um trabalho ingrato: o de argumentar contra aqueles que criticam a maneira como o partido conduz a economia, o de defender o intervencionismo estatal contra os que desejam um ambiente de negócios mais amigável ao empreendedor, o de explicar o enorme carinho do governo por ditadores latino-americanos e africanos, o de defender os crimes cometidos por líderes do PT em benefício do partido, como o mensalão. Os adversários do lulopetismo criticam seu ideário e suas práticas, como convém ao debate democrático. Mas é muito mais fácil criar uma lenda negra em que os críticos são, na verdade, ricos cruéis que não suportam ver um pobre ter um prato de comida.

E, se depender dessa retórica, o ódio a esse tipo de monstro que quer ver o pobre morrer de fome chegaria até a ser justificado – basta lembrar o que disse, em 2007, Matilde Ribeiro, então ministra da Igualdade Racial, que em entrevista à BBC Brasil considerava “natural” a “reação de um negro de não querer conviver com um branco”. Embora Matilde afirmasse logo em seguida que não estava incitando discriminação, seguiu adiante com a demonização, afirmando que “quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou”, anulando os indivíduos reais e transformando-os apenas em membros de uma classe “opressora” ou “oprimida”.

Assim, os adversários políticos, em vez de serem simplesmente os defensores de uma ideologia diversa, que se enfrentam no campo das ideias, se tornam verdadeiros inimigos do povo, ou da pátria – uma imagem que evoca a retórica dos piores totalitarismos. É isso que Lula vem pregando, e com isso ele desagrega a sociedade. Não é disso que o país precisa. Que os petistas capazes e preparados para entrar no debate respeitando seus interlocutores, usando argumentos e não rótulos, possam tomar a dianteira na cena pública e derrotar o discurso de ódio.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

GOVERNO TENTA SE REAPROXIMAR DE EDUARDO CUNHA

O Palácio do Planalto tenta desesperadamente restabelecer “diálogo” com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), que anunciou publicamente o seu rompimento com o governo Dilma e o PT. O problema é que Cunha lidera de fato a Câmara e a conduz para as decisões que considera acertadas, inclusive em votações que podem custar o mandato de Dilma, como rejeição das contas e impeachment.

JOGANDO A TOALHA

Destacado para a missão, o vice-presidente Michel Temer já jogou a toalha. Até ensaiou conversa, mas Eduardo Cunha o desestimulou.

LENHA NA FOGUEIRA

Dilma quer Renan Calheiros como “bombeiro” junto a Eduardo Cunha, mas o presidente do Senado é mais inclinado a jogar lenha na fogueira.

PREÇO DA INEXPERIÊNCIA

Eduardo Cunha não aceita intermediários e Dilma não percebeu isso. Se ela quer restabelecer pontes, terá de reconstruí-las pessoalmente.

CARTA NA MANGA

Dilma considera recorrer a uma amiga, jornalista Cláudia Cruz, para tentar se reaproximar de Eduardo Cunha, o apaixonado marido dela.

DEPUTADOS DO PSDB VETARAM O PAPO COM LULA

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ouviu a bancada tucana na Câmara dos Deputados para recusar encontro com Lula. Deputados não estão dispostos a amenizar o combate ao governo Dilma. Pelo contrário, o pedido de Lula, recebido com sinal de fraqueza, será usado para estimular a população a comparecer às manifestações de 16 de agosto. FHC já avisou que o momento não é para aproximações.

CALMA LÁ

Os tucanos avaliaram que um encontro das cúpulas partidárias soaria como “conspiração” contra a repulsa da população a Dilma e ao PT.

PEDIDO TARDIO

“Um aproximação deveria ter vindo em momento de crise econômica e não política”, avalia o líder do PSDB em exercício, Nilson Leitão (MT).

LIDE COM ROLLEMBERG

O Grupo Lide, de empresários, liderado no DF pelo ex-senador Paulo Octavio, almoça hoje (28) com o governador Rodrigo Rollemberg.

FLERTE EXPLOSIVO

O Planalto monitora, apavorado, os pedidos de reunião de Eduardo Cunha com o governador paulista Geraldo Alckmin e outros líderes tucanos. Avaliam que nada de bom pode sair desses conchavos.

PANELAÇO

Boa parte do PT não aceitou muito bem a ideia de Dilma aparecer no programa da sigla que vai ao ar dias antes dos protestos de agosto. O temor é que a aparição provoque panelaço e estimule os protestos.

#VEMPRARUA

Cresce o apoio ao protesto nacional contra o governo Dilma, marcado para 16 de agosto. No fim de semana, adeptos do movimento desfilavam em Brasília com um caixão representando a morte do PT.

SAÍDA É REGULAMENTAR

Para não se indispor com taxistas e nem com a população, que exige o exercício do direito de escolher o Uber, grandes cidades mundo afora regulamentam o serviço eventual de motorista particular. Na Cidade do México, o pessoal do Uber paga ao município 1,5% sobre cada corrida.

FALTOU O ‘MATADOR’

Craque em campo e senador muito atuante, Romário (PSB-RJ) não conseguiu driblar a denúncia de suposta conta não-declarada de R$ 7,5 milhões na Suíça. Reclamou da notícia, mas não foi matador.

APARECEU

O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, que anda evitando viagens internacionais, passou o fim de semana na companhia de uma paniquete no condomínio Saint Tropez, no Rio de Janeiro.

MÃO ABERTA

O secretário de Saúde do DF, Fábio Gondim, não distingue brotoeja de catapora, mas se valoriza: diz que trocou uma suplência de deputado federal pelo cargo. Não é nada, não é nada, não é nada mesmo.

PÁTRIA EDUCADORA?

No país da Pátria Educadora, o município de Itaitinga (CE) realiza concurso para professores de Educação Básica, com salário distante do piso nacional (R$ 974,80) e para pedreiros (R$ 1.019,14 mensais).

PERGUNTA NA PAPUDA

Vaca de R$ 2,2 milhões declarada em mensagens cifradas de Marcelo Odebrecht também tem direito a tossir ou só a mugir mesmo?



PODER SEM PUDOR

O CANIL QUE FOI SEM NUNCA TER SIDO

Antes de a presidente Dilma Rousseff mandar construir um canil para seu cão labrador "Nego", nos jardins do Palácio Alvorada, somente um outro governo viu algo parecido. Durante visita a Portugal antes da posse, no início dos anos 1960, o casal Eloá e Jânio Quadros ganhou uma cadela, e logo após se mudar para o Alvorada a primeira-dama mandou erguer um canil. Jânio somente soube da história certo dia, logo cedo. "Não quero ver o menor resquício disto quando voltar do trabalho!", ordenou. E o canil sumiu, como ainda se lembra, com detalhes, o arquiteto Carlos Magalhães, que era do Departamento de Obras Complementares da Novacap, que construiu e demoliu o canil com rapidez meteórica.

segunda-feira, julho 27, 2015

Iluminismo na merda? - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 27/07

Um cidadão consciente deve sempre olhar dentro do vaso sanitário para saber quem é em profundidade.

Sinto dizer ao meu leitor, mas esta coluna de hoje, talvez, venha a feder um pouco. Coisas desse nosso mundo contemporâneo. Sinto muito. Impossível evitar.

Vivemos num mundo ridículo, como costumo dizer, que em 500 anos será esquecido. Não teremos mais do que um pequeno parágrafo nos tratados de história. Nós, cheios de nossas frescuras, mimimis, direito a isso e àquilo, enfim, uns mimados.

No futuro, nossos descendentes olharão para nós com a mesma condescendência com que olhamos para a moçada que cultua a chuva. E não terão nenhuma paciência para nossas frescuras.

Mas, antes de irmos à matéria indigesta de hoje, preciso fazer um reparo filosófico. O que é o Iluminismo? O Iluminismo é um movimento filosófico do século 18 que, em uma das suas faces mais conhecidas, o utilitarismo, foi marcado pela obsessão da melhoria da condição de vida informada pela ciência e pela técnica.

Um derivado direto dessa obsessão é a ideia de que, se as pessoas forem “bem informadas”, a vida delas ganhará em “qualidade”. Essa ideia tomou conta de tudo, da TV aos encontros motivacionais do mundo corporativo.

Aqueles mesmos que visam fazer as pessoas acharem que está tudo lindo se um guru em gestão disser que está tudo lindo. Emociona-me quando ouço alguém falar que não está interessado em melhorar minha qualidade de vida. Das novelas aos jornais, tudo um bando de gente chata pregando o bem.

Dito isso, voltemos ao fedor. Para isso, vou contar um fato que me aconteceu poucos dias atrás. Estava eu, minha família e alguns amigos tomando café da manhã numa padoca no interior de São Paulo. Infelizmente, na padoca, uma TV estridente mostrava um “programa de qualidade de vida”. E qual era o conteúdo “científico” desse programa? Antes, um detalhe.

Tenho um amigo bem esquisito que há anos diz que um dia esses caras de qualidade de vida iriam querer nos ensinar a “fazer cocô de forma saudável”. Normalmente, consideraríamos essa fala um simples delírio de um cara esquisito. Mas eis que ele acertou em cheio. Foi profético e com isso nos ensina uma nova máxima sobre o mundo contemporâneo: aposte no ridículo e você será um profeta do século 21.

Bem, finalmente, o fato. Ainda suspeito que talvez eu tenha entendido mal o que vou contar. Um delírio, talvez? Pode ser. Recomendo a dúvida cética diante do que vou narrar.

O programa de qualidade de vida era um programa que parecia entrevistar pessoas que falavam de seus hábitos de banheiro. Dito de forma direta: formas saudáveis de fazer cocô. Sim, meu caro. Sim, minha cara. Tape o nariz. Ou talvez não. Afinal, sendo tudo natural, a merda é tão natural como um beijo na boca.

Assim pensam os novos naturalistas da saúde total. Se para alguns maníacos “eu sou o que eu como”, por que não “eu sou o que eu cago?”.

Na telinha, depois de cenas de pessoas no local em questão, falando sobre seus hábitos fecais, assim como quem conta viagens para a Disney, um especialista mostrava pequenos montinhos de massinhas que simulavam tipos de fezes. Claro, tudo cientificamente fundamentado. Fezes X isso, fezes Y aquilo. Terei eu entendido errado?

Como se tratava de um programa de TV, só podemos imaginar que a produção não viajou na maionese e esse tipo de informação vai bem com o café da manhã das pessoas. Afinal, tudo é natural, não?

Logo, um cidadão consciente, que vota bem e recicla lixo, que respeita o meio ambiente e usa transporte público, deve também saber fazer cocô de um jeito saudável. E mais: deve sempre olhar para dentro do vaso sanitário para saber quem ele é em profundidade.

Imagino sites especializados em tipos de cocô fazendo de nós cidadãos bem informados acerca de nossas fezes. Isso é mais do que simples consciência social. Isso deve ajudar você a não ter hemorroidas e a gastar menos com saúde e também a fazer o Estado gastar menos com você.

Imagino um mundo com campanhas a favor da “merda consciente”. Fotos no Instagram? Como não pensar que meus queridos românticos acertaram em cheio, quando pressentiam que o Iluminismo ia dar em merda?


As habilidades de Dilma - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S. PAULO - 27/07

É preciso acabar de uma vez por todas com a lenda segundo a qual a presidente Dilma Rousseff enfrenta imensas dificuldades políticas porque não é afeita ao varejo das negociações com o Congresso e porque ela tampouco se anima a se expor aos eleitores em busca de popularidade. O desastre de sua presidência não resulta dessas características, e sim de sua incontestável incapacidade de diagnosticar os problemas do País e de ministrar-lhes os remédios adequados. A esta altura, a maioria absoluta dos brasileiros, de todas as classes sociais, já se deu conta de que o problema de Dilma não é sua reclusão ou sua ojeriza aos políticos, mas simplesmente sua incompetência. Prometeram-lhes uma “gerentona” e lhes entregaram uma estagiária.

Portanto, tende a ser inútil a mais nova ofensiva de comunicação planejada pela assessoria da presidente com o objetivo de reverter o mau humor do País em relação ao governo petista. Inútil porque, enquanto se tenta mostrar uma Dilma mais “humana”, que é o que pretendem os marqueteiros do Planalto, conforme revelado em recente reportagem do Estado, os problemas concretos que resultam de sua má gestão continuarão a assombrar os brasileiros na vida real, especialmente o desemprego, a queda da renda e a inflação.

A mudança na comunicação de Dilma é tratada como questão de urgência urgentíssima, pois a pressão sobre a presidente é intensa. Estão programadas para o dia 16 de agosto manifestações que, a julgar pela pronunciada queda de popularidade da presidente, devem ter grande afluência e visibilidade. Além disso, crescem as suspeitas de que as falcatruas constatadas pela Operação Lava Jato podem ter ajudado a irrigar as campanhas eleitorais petistas, inclusive a de Dilma. E há também a percepção de que a irresponsabilidade fiscal da presidente ao longo de seu primeiro mandato, maquiada por truques contábeis, pode resultar em um processo que comprometa de vez o seu mandato. Tudo isso se dá em meio à certeza de que sua base no Congresso é apenas nominal, não representando nenhuma garantia de sustentação, especialmente em meio ao azedume da opinião pública nacional com o espantoso escândalo de corrupção na Petrobrás e com o desastre na economia.

Anuncia-se que o novo arsenal de comunicação de Dilma incluirá a participação da presidente em programas populares de TV e também a criação de um site chamado Dialoga Brasil, em que ministros responderão a dúvidas, sugestões e críticas dos internautas sobre programas do governo. Além disso, Dilma pretende fazer um giro por cidades do Nordeste com a difícil missão de tentar demonstrar que ainda tem popularidade – ela teve expressiva votação na região na eleição de 2014, mas mesmo lá, segundo as últimas pesquisas, a desaprovação a seu governo disparou.

As recentes tentativas de Dilma para melhorar sua imagem foram feitas a partir de iniciativas pessoais, com resultados embaraçosos – ela chegou a saudar a mandioca e a elogiar a “mulher sapiens” em um discurso. Além disso, ao dizer que defenderia seu mandato “com unhas e dentes”, Dilma trouxe o tema do impeachment definitivamente para a pauta política. Até os áulicos da presidente consideraram essas manifestações desastrosas.

Agora, porém, a mobilização do Planalto parece se dar de acordo com as diretrizes de seu padrinho, o ex-presidente Lula, que várias vezes cobrou de Dilma que viajasse mais pelo País e encostasse “a cabeça no ombro do povo” para ouvir suas queixas. Lula também pretende viajar pelo Nordeste e convencer os movimentos sociais a se mobilizar na defesa de sua afilhada. A estratégia para “vender” um governo ativo, com uma “agenda positiva”, foi combinada por Lula com Dilma em um encontro no Alvorada na semana passada, segundo o jornal O Globo.

Dilma, Lula e os petistas agarram-se assim à crença de que basta melhorar a comunicação com os eleitores para que esse combalido governo comece a respirar e a dar a volta por cima. De fato, a atividade política é baseada em imagem, marketing e slogans, mas, como mostram as agruras de Dilma, só isso não é suficiente: se a embalagem do produto vendido estiver vazia, o consumidor se sentirá enganado e não tornará a comprá-lo.

Cruz e espada - COLUNA PAINEL DA FOLHA

FOLHA DE SP - 27/07
NATUZA NERY (interina)

Governadores da oposição relatam desconforto com o aceno do Palácio do Planalto para uma reunião com Dilma Rousseff, que busca usar o ato como demonstração de governabilidade. Dizem que, institucionalmente, não têm como recusar o chamado presidencial, mas se preocupam com a possibilidade de que pareçam sócios da crise. Lembram ainda que a pauta discutida em encontros recentes, como o que reuniu os governadores do Sudeste há duas semanas, não teve avanços.

Lá e cá 
Geraldo Alckmin (PSDB) receberá governadores de ao menos oito Estados para um almoço no Palácio dos Bandeirantes nesta terça-feira. Eles estarão em São Paulo para a abertura de uma feira do setor da pecuária.

Ombro amigo 
O tucano tem duas prioridades para a reunião que fará nesta segunda com Eduardo Cunha (PMDB-RJ): a reforma do ICMS e as alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Eu primeiro 
Quer convencer o presidente da Câmara a priorizar a mudança no ECA sugerida pelo governo, e não a já aprovada no Senado.

Deixe estar 
Peemedebistas já ensaiam discurso para dar sustentação a Eduardo Cunha quando acontecer sua esperada denúncia na Lava Jato. "Denúncia não significa condenação. Veja só o caso de Adarico Negromonte, denunciado e absolvido", diz Lúcio Vieira Lima (BA).

Leque 
Para um partido que não lança um nome ao Planalto desde 1994, o PMDB exibe agora ampla vitrine de possíveis candidatos à Presidência da República em 2018.

À mão 
O vice Michel Temer, que em viagem internacional revelou a investidores um certo desejo de concorrer, conversou mais de uma vez sobre a possibilidade de a ministra Kátia Abreu (Agricultura) sair candidata.

Guarda-roupa 
Pesando 68 kg, Dilma abriu o baú das roupas antigas. Precisou contratar uma costureira para diminuir o figurino presidencial em dois números.

Foco 
O Planalto vai investir no convencimento de ministros do TCU que considera "mais técnicos" para tentar reverter a provável rejeição das contas de Dilma. A ideia é que Benjamin Zymler e Walton Alencar atuem como "formadores de opinião".

Quem avisa 
Antes do anúncio da mudança da meta fiscal, Joaquim Levy (Fazenda) indicou a parlamentares que o contingenciamento do Orçamento poderia ser de R$ 15 bilhões. Ouviu que esse valor corria o risco de ser cortado ao meio pelo Congresso.

Cortina... 
Apesar de ministros de Dilma afirmarem que o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia não sai por culpa da Argentina, um importante auxiliar presidencial sustenta que o maior entrave aos avanços fica dentro do Brasil.

de fumaça 
De acordo com esse assessor, as indústrias automotiva e química fazem forte lobby nos bastidores contra as negociações, por temor de concorrência com produtos europeus.

É a crise 
Para conter despesas, Mauro Vieira (Relações Exteriores) tem usado voos de carreira nos deslocamentos internos de seu giro de uma semana pela Ásia.

Trânsito 
Investigadores ainda tentam entender a razão de Marcelo Odebrecht, mesmo sabendo que o cerco se fechava, ter sido tão displicente a ponto de escrever e-mails comprometedores, que acabaram servindo de base para seu indiciamento.

Radar 
"É como passar no sinal vermelho em frente a uma viatura", disse um deles.

Concreto 
A força-tarefa da Lava Jato celebra a operação como uma revanche da anulação da Castelo de Areia. "Ela ruiu, mas a Lava Jato reconstruiu", diz um importante investigador, sobre a ação cassada pela Justiça em 2011.

TIROTEIO

Com panelas à mão, o Brasil espera ansioso para ver Lula tentar defender na televisão o projeto que arruinou e assaltou o país.
DE JOSÉ ANÍBAL (PSDB-SP), presidente do Instituto Teotônio Vilela, sobre a participação do ex-presidente Lula no programa de TV do PT em agosto.

CONTRAPONTO

Deu quórum

No início de julho, pouco antes do recesso parlamentar, o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), foi à Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado falar sobre as ações do Estado para combater a crise hídrica.
Com apoio de quatro de seus secretários, que haviam se licenciado do cargo na mesma semana para retomar as atividades na Câmara, o tucano conseguiu atrair uma legião de deputados aliados para escutá-lo no Senado.
Ao final, um dos parlamentares brincou com o governador sobre o quorum elevado, arrancando risos:
-Se o Eduardo Cunha tivesse vindo, era possível até que colocasse uma PEC para votar!

Acabou o sonho - RICARDO NOBLAT

O GLOBO - 27/07

Christiano Tavares, 15 anos, tinha um sonho: tornar- se famoso como nadador. Foi brincando em uma poça de água suja da Favela de Manguinhos, Zona Norte do Rio, que ele ganhou notoriedade e entrou para os anais do Programa de Aceleração do Crescimento ( PAC), uma das joias da coroa dos governos Lula e Dilma. Desde o último dia três, o corpo de Christiano jaz em uma cova rasa no Cemitério de Inhaúma.

A HISTÓRIA DE Christiano tem lugar garantido na memória da maioria dos 37 mil habitantes de Manguinhos, um lugar miserável controlado pelo Comando Vermelho, facção criminosa que explora o tráfico de drogas. Entre os oito anos de idade, quando foi catapultado para o estrelato, e os 15, quando morreu fumando crack, Christiano subiu ao céu e desceu ao inferno sem compreender direito o que lhe acontecia.

COM ELE ascendeu, e agora começa a cair, uma humanidade resgatada da miséria para o consumo de bens supérfluos que jamais haviam estado ao seu alcance. Bens que poderiam ter sido trocados por outros essenciais e duradouros, como Educação, Saúde, Segurança e transporte coletivo, por exemplo. Mas quiseram os donos do poder político do país que não fosse assim.

CHRISTIANO DEIXOU de ser um menino igual aos outros de Manguinhos quando Lula, às vésperas de viajar ao Rio para o lançamento de obras do PAC em favelas, viu uma foto dele na capa do jornal carioca "Extra". Sorridente, Christiano fingia nadar num vazamento de água no meio de uma rua. Lula então teve uma ideia. E ordenou a assessores que localizassem o menino.

NO DIA 7 DE março de 2008, Christiano foi a principal estrela do comício que reuniu no Complexo do Alemão o presidente da República, ministros de Estado, governador, prefeito e demais autoridades. Na ocasião, Lula anunciou que Manguinhos ganharia uma piscina para que Christiano e meninos de sua idade pudessem nadar. O orador foi delirantemente aplaudido.

AO SE DESPEDIR de Lula naquele dia, Christiano descobriu que seu nome mudara. As pessoas passaram a chamá- lo de Lulinha. E ele gostou. Simpático, gentil, caiu no gosto da comunidade. Passou a ser paparicado por todos. Um clube de classe alta da Barra da Tijuca conferiu- lhe o direito de livre acesso às suas instalações para que aprendesse a nadar. Não deu certo.

FALTOU DINHEIRO para o transporte de Christiano. Abandonada pelo marido, dona Bianca Pereira, 35 anos, deu duro como faxineira para sustentar Christiano e as filhas Sthepannie, 14 anos, e Milhena, 12 anos. Sthepannie está grávida de seis meses. "Dei de tudo a Christiano para que não se metesse com drogas e traficantes", conta dona Bianca. "Até roupa e tênis de marca eu dei".

À FAMÍLIA, deu uma televisão de tela plana e um computador. Promovida à mãe de Lulinha, recebeu do governo um apartamento de dois quartos. E viu com orgulho o filho encontrar- se outra vez com Lula. Foi na entrega, em maio de 2009, de 20% das obras do PAC em Manguinhos. Quantas pessoas desfrutaram do mesmo privilégio?

DE CALÇÃO DE banho, touca e óculos providenciados pelo cerimonial da presidência da República, Christiano inaugurou a piscina prometida por Lula. Foi a última vez que nadou ali. A piscina fica dentro de uma escola que ele não pode frequentar. Dona Bianca sentiu que seu filho, aos poucos, foi murchando junto com o sonho de virar um nadador famoso. Ele morreu em um posto de saúde onde está afixado um gigantesco retrato dele como menino símbolo do PAC.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

DILMA PROMETE REFORMA MINISTERIAL APÓS O AJUSTE

A presidente Dilma insinuou ao PMDB uma possível reforma ministerial tão logo o ajuste fiscal seja aprovado. A reforma pode incluir a redução de ministérios, como prega o PMDB, que para ela era tabu. E também admite “abrir mão” de ministros como José Eduardo Cardozo (Justiça), que ficaria radiante com isso, e Aloizio Mercadante (Casa Civil), cuja saída é reivindicada por aclamação, entre aliados e o ex-chefe Lula.

ZERO À ESQUERDA
Outro ministro que será trocado em razão da inutilidade da sua atuação é Manoel Dias (Trabalho). O PDT perderá a boquinha para o PMDB.

ALVES, O BREVE
Há menos de cem dias no cargo, o ministro do Turismo deixará o cargo com um novo apelido: “Henrique Alves, o Breve”.

AGARRADO À RAPADURA
O ministro Henrique Alves e criticado por nada fazer e por não haver se demitido após seu padrinho Eduardo Cunha haver rompido com Dilma.

DOUTOR CARDOZO
Segundo amigos, após deixar o cargo, José Eduardo Cardozo planeja uma temporada na Espanha, dedicando-se a concluir um doutorado.

JÁ SÃO 255 DEPUTADOS PRÓ-IMPEACHMENT DE DILMA
O Planalto e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), concordam pelo menos uma coisa: ambos estimam que 255 dos 513 deputados federais já se manifestam abertamente pela admissibilidade da proposta de impeachment da presidente Dilma. Neste momento, doze propostas estão tramitando. O governo espera ainda reverter a posição de deputados do PTB e do PP; eles somam 64 deputados.

PEDALADAS NA BERLINDA
Oposição acha que o impeachment ganhará fôlego após o TCU julgar as “pedaladas fiscais” e as manifestações do dia 16.

VOTAÇÃO MÍNIMA
São exigidos no mínimo 342 votos para que os parlamentares promovam o impeachment da presidente Dilma.

OFENSIVA
Dilma liberou R$ 300 milhões em emendas parlamentares ainda de 2014, na expectativa de “acalmar” deputados e senadores.

ARMAS NA MESA
O governo já sabe que a decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de votar as contas de governos, é combinada com Renan Calheiros, presidente do Senado. Por isso que entrou em pânico.

MÊS DO DESGOSTO
Agosto, mês do desgosto. O velho espectro volta a rondar a política brasileira. Aves agourentas lembram histórias como o suicídio de Getúlio Vargas e a renúncia de Jânio Quadros. Barbas de molho, cabelos em pé. Passarinhos na muda. Todo cuidado é pouco.

JÁ É DE CASA
Novo morador ilustre de Brasília, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) começa a ser visto nos fins de semana. Passeando com a família e frequentando restaurantes. É o campeão em pedidos de selfies.

VELHO CONHECIDO
Procurados por assessores de Dilma sobre a viabilidade do pacto pró-governo, líderes na Câmara respondem que o problema da articulação do governo é conhecido e tem nome e sobrenome: Aloizio Mercadante.

CONSTRANGEDOR
Esta coluna revelou há meses a nomeação do concunhado do filho do presidente do Tribunal de Contas da União para chefiar a unidade que fiscaliza infraestrutura, área de atuação do autor da indicação. Esse episódio é um dos que mais constrangem os ministros do TCU

DEIXA DISSO
O PSB tem se irritado com os flertes da senadora Marta Suplicy (SP) e o PMDB. Oficialmente o presidente do PSB, Carlos Siqueira, coloca panos quentes. Garante que Marta vai se filiar no dia 15 de agosto.

DEDO NA ÁGUA
Animou a oposição a pesquisa CNT/MDA, que mostra o completo “derretimento” da avaliação de Dilma. Mas o termômetro final devem ser as manifestações contra o governo, marcadas para 16 de agosto.

RENOVAR OS VOTOS
Após o recesso, o Planalto quer reunir governistas para “repactuar a base aliada”, criando uma tropa de choque para enfrentar Eduardo Cunha. O problema é encontrar gente disposta a defender o governo.

PENSANDO BEM...
...a Lava Jato prendeu tanta gente graúda da Odebrecht e da Andrade Gutierrez que seus conselhos de administração poderiam se reunir na carceragem da PF.

domingo, julho 26, 2015

Mais um golpe na frágil confiança - SUELY CALDAS

O ESTADÃO - 26/07

A credibilidade é essencial para qualquer governo perseguir uma trajetória de progresso para o país. Sem confiança no futuro, empresários não investem, trabalhadores perdem empregos, instituições enfraquecem, a população e o país empobrecem. Tem sido assim com muitos governos da América Latina que embarcam na aventura do populismo, descontrolam os gastos públicos, o dinheiro seca, os governantes fracassam e o país entra em parafuso. Venezuela e Argentina vivem esse dilema há alguns anos. O Brasil é o novo ocupante desse barco de náufragos. Muito da crise econômica em que o País mergulhou decorre da falta de confiança: Dilma Rousseff vai mesmo fazer o que precisa ser feito para organizar o caos das contas públicas e planejar a volta do crescimento econômico ou seu discurso de austeridade terá vida breve? Essa incerteza tem sido a maior razão da resistência de empresários investirem no País.

Pois bem. Se antes já estava difícil de acreditar, agora Dilma acaba de aplicar um golpe mais fundo na recuperação da confiança ao reduzir a meta de superávit primário de R$ 66,3 bilhões para R$ 8,7 bilhões. Pior: ela mostra não acreditar nem na sua própria meta ao permitir uma folga para o raquítico superávit virar um déficit de R$ 17,7 bilhões em 2015, caso receitas extraordinárias não se concretizem. Ou seja, a nova trajetória do governo já começa frouxa, enfraquecida, acanhada e rendida a quem tem poder de expandir gastos públicos e oferece um salvo-conduto para gastar mais. No Congresso, onde Dilma enfrenta crescente oposição e até ameaça de impeachment, há uma fila interminável de propostas para aumentar despesas capazes de desmantelar qualquer governo.

Derrotado na decisão de reduzir a meta fiscal, o ministro Joaquim Levy tem se esforçado para aplacar o choque do golpe e recuperar alguma credibilidade. Diz que não jogou a toalha, não abandonou o ajuste fiscal nem deu passaporte para os de sempre gastarem mais. Quem conhece Levy sabe que ele é duro na queda, mas sua expressão era de embaraçado constrangimento, de alguém que não crê nos argumentos que expressa, ao explicar as novas metas à imprensa, na quarta-feira. Vitorioso no embate, mas assustado com a reação negativa do mercado, o ministro Nelson Barbosa defendeu em entrevista ao Estado um caminho que Dilma já rejeitou com veemência em 2005: um ajuste fiscal baseado em metas para travar a expansão dos gastos. Atenção, não é corte de gastos, é um ajuste fiscal envergonhado, como é o conceito de privatização do PT.

O líder de um país pode recuperar a confiança com atitudes. Mas a tentação populista da classe política brasileira requer um caminho mais estruturante e impessoal, para garantir credibilidade capaz de atravessar governos e proteger a população de políticos aventureiros. Esse caminho começou a ser construído no governo FHC com o desmanche de alguns ralos por onde escorria dinheiro público e que foram vedados. O primeiro foi a privatização dos bancos estaduais, que fabricavam dinheiro para governadores esbanjarem em campanhas eleitorais e em benesses a amigos, a parentes e a eles próprios e que tornavam a dívida do Estado impagável. Com o mesmo fim, governadores abusavam das empresas estaduais de energia elétrica, que repassavam dinheiro para governadores gastarem livremente. Novamente a privatização fechou o ralo. O terceiro foram as operações de Antecipação de Receita Orçamentária (ARO), que governadores ofereciam em garantia aos bancos em troca de empréstimos que enchiam o cofre do governador em exercício e subtraía do próximo que lhe sucedia. E a dívida só aumentava. Uma lei passou a proibir as AROs. Por fim, a Lei de Responsabilidade Fiscal pôs em ordem as contas públicas dos Estados, fixou limites para endividamento e gastos com salários e estabeleceu punição a governadores e prefeitos infratores.

Pena que as ações de FHC foram limitadas, focaram mais em Estados e municípios e quase nada no governo federal, o que possibilitou as pedaladas fiscais. Lula e Dilma nada construíram, ao contrário, desconstruíram.

sábado, julho 25, 2015

Diálogo inviável - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 25/07

Há um pressuposto equivocado nessa proposta de diálogo entre os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique, o de que toda conversa é boa em uma democracia. Foi-se o tempo em que uma conversa institucional com o PT poderia significar algum avanço democrático.

Desde que o mensalão foi desvendado, em 2005, qualquer conversa desse tipo tornou-se inviável, pois o PT revelou-se um partido que adota meios corruptos para fazer política, e usa o Estado para financiar seus esquemas, com o objetivo de dominar a máquina pública pelo maior tempo possível, negando a alternância no poder, ponto fundamental da democracia representativa.

O PT não é, certamente, o único partido político que se envolveu em corrupção na História do Brasil, mas é, até que se prove o contrário, o único que sequestrou o Estado brasileiro para montar um esquema de domínio político na tentativa de se perpetuar no poder.

Até o mensalão, os esquemas corruptos eram manipulados por grupos políticos avulsos, ou mesmo por indivíduos, e até a origem do esquema, usado originalmente em Minas pelo grupo do governador tucano Eduardo Azeredo, tinha o objetivo de financiar campanhas regionais com a manipulação de verbas oficiais.

Ao levar para o plano nacional esquemas que funcionavam regionalmente e de maneira eventual, o PT inaugurou uma nova fase da corrupção brasileira, muito mais danosa à democracia, porque se alimenta da própria máquina do Estado para continuar dominando-a indefinidamente.

Conceitualmente perverso, o avanço sobre estatais como a Petrobras e a Eletrobras - para, por meio do desvio de recursos do Estado brasileiro, controlar a vida partidária nacional e desvirtuar o sistema de coalizão partidária através de distribuição de verbas ao Legislativo - envenena o nosso sistema democrático, desmonta a convivência harmônica entre os Poderes da República, quebra o sistema de pesos e contrapesos próprio da democracia representativa.

A corrupção generalizada no país não é de hoje, como já destaquei em outras colunas, e o fato de ter se espalhado até o mais modesto município brasileiro só mostra que a impunidade fez aumentar a possibilidade de corrupção. Ao mesmo tempo, está sendo desmontado na Petrobras um esquema corrupto que não é trivial e que já mostrou suas garras no episódio do mensalão.

Vou repetir aqui alguns conceitos que já desenvolvi em outras colunas, para mostrar como a questão é intrincada. Em vez de combater a corrupção disseminada, como prometia fazer antes de chegar ao poder, o Partido dos Trabalhadores, ao contrário, aderiu à maneira brasileira de fazer política e transformou-a em um método de dominação do Poder Legislativo e de perpetuação de poder.

Quando Lula disse que no Congresso havia 300 picaretas, em tom de crítica, parecia o líder político que queria mudar a maneira de governar o país. Mas, ao chegar a sua vez de mostrar a que veio, Lula comandou um governo que institucionalizou a corrupção para garantir apoio político, aperfeiçoando e aprofundando as técnicas que eram usadas naturalmente pelos políticos brasileiros há décadas.

Que havia corrupção na Petrobras muito antes de o PT chegar ao poder, ninguém discute. O que é espantoso é que essa corrupção tenha chegado ao ponto a que chegou e tenha se tornado institucional, um método de dominar o poder político no país.

Como partido organizado e bem comandado, o PT transformou a roubalheira generalizada em instrumento de controle político.

O que mudou nos anos petistas é que a roubalheira nas principais áreas do governo foi monopolizada pelo esquema político que almeja a hegemonia. Sem mudar essa postura diante da democracia, não há razão para a busca de um diálogo.


Portas de saída - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 25/07

Os economistas têm dito que existem três requisitos para o país sair da crise: recuperar a confiança, aumentar os investimentos, elevar as exportações. Os números mostram que isso não começou a acontecer. As exportações e os investimentos despencaram no primeiro semestre, a confiança está nos níveis mais baixos em várias sondagens, a bolsa de valores voltou ao vermelho.

O saldo comercial foi positivo em US$ 2,2 bilhões no primeiro semestre, revertendo o déficit de US$ 2,5 bilhões do mesmo período do ano passado. Mas esse número dá uma falsa sensação de que as nossas exportações estão se recuperando. O fato é que as vendas externas caíram 14% de janeiro a junho, e o saldo só ficou positivo porque as importações despencaram mais: 18%. Nem a desvalorização do real ajudou a dar um impulso externo, pelo menos até agora. De janeiro a junho, a receita com exportação foi US$ 16 bilhões menor do que no mesmo período de 2014.

A indústria brasileira continua encolhendo sua participação no mundo. A exportação de bens de capital caiu 3,8% no semestre. A de bens de consumo teve queda de 8,8%. A venda de combustíveis e lubrificantes caiu 20%, mostrando mais uma vez que a Petrobras tem gargalos insuperáveis na área de refino, que foram agravados pelas denúncias de corrupção e superfaturamento em projetos investigados pela Operação Lava-Jato. Com a queda dos preços das commodities, as exportações de produtos alimentícios caíram 16%, e as de produtos minerais recuaram 26%.

A confiança continua baixa, e há vários indicadores mostrando isso. No mercado financeiro, o índice Ibovespa voltou a operar abaixo dos 50 mil pontos e acumula queda este ano. O dólar é negociado no valor mais alto desde 2003. Os juros cobrados dos títulos do governo brasileiro no exterior também subiram, e o mercado já começa a precificar o risco da perda do grau de investimento.

O Índice de Confiança dos Consumidores medido pelo Ibre/FGV caiu à mínima histórica em julho. Foi a quarta vez no ano que atingiu recordes negativos na série que começou a ser pesquisada em setembro de 2005. Desde as eleições de outubro, a redução chega a 19%. Os indicadores de confiança do comércio, da indústria e da construção civil seguem a mesma tendência e se mantêm nos piores níveis das séries.

Nos investimentos, é cada vez menos provável que o governo consiga ser bem sucedido com as concessões de infraestrutura. Com a necessidade de arrecadar mais para manter o ajuste fiscal, o modelo adotado será o de outorga onerosa, contemplando como vencedores os consórcios que desembolsarem uma quantia maior por cada projeto leiloado. Em tempos de crise e incerteza, a reação das empresas é justamente a contrária: preservar o dinheiro em caixa. A alta dos juros também encarece o financiamento.

A produção de bens de capital registra queda de 20% nos cinco primeiros meses do ano, segundo dados do IBGE. Na comparação de maio com o mesmo mês do ano passado, a retração é de 26%. A Abimaq, entidade que representa o setor de máquinas e equipamentos, estima em 25 mil as demissões nos últimos 12 meses e diz que há empresas tendo dificuldade até para pagar impostos. O ajuste fiscal atingiu as linhas subsidiadas do PSI/Finame, que barateava o crédito das encomendas, e a alta da alíquota que desonerava a folha de pagamento foi encarada como aumento de custos. A entidade criou um grupo de gestão de crise e chegou a cogitar o pagamento de impostos em juízo, como forma de protesto, e o fechamento de fábricas por um dia. Abandonou a ideia, felizmente, por recomendação do departamento jurídico.

O país caminha para o oitavo mês do ano sem conseguir vislumbrar de onde virá a recuperação. Tudo é agravado pela crise política e pela baixa popularidade da presidente Dilma Rousseff. Muitos alertaram sobre os erros da política econômica dos governos Lula e Dilma. Foram esses equívocos que nos trouxeram até aqui. O período de bonança, com os altos preços das matérias-primas e o estímulo ao consumo, chegou ao fim sem que o país tenha se preparado para uma nova realidade.


O custo do afrouxamento - CELSO MING

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O ESTADÃO - 25/07

Na política, as coisas só estão piorando e ameaçam arrastar a economia


O ponto positivo no afrouxamento da meta fiscal é o de que, desta vez, o governo Dilma não está garantindo o inviável para entregar depois o supostamente prometido com os disfarces conhecidos: contabilidade criativa, pedaladas e operações parafiscais. O resto é muita incerteza.

Os ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa não conseguem explicar como é que contribuirão para aumentar a credibilidade da política econômica com decisões cujo cumprimento depende de variáveis econômicas incertas, como a do comportamento da arrecadação, e de desdobramentos políticos imponderáveis. A arrecadação não caiu apenas porque há forte recessão. Caiu também porque as grandes empresas não estão pagando e, aparentemente, não há o que as faça pagar. Além disso, o desdobramento da política depende do desfecho de 10 ou 12 pedidos de impeachment.

Não há garantia de que a nova meta fiscal (a tal de 0,15% do PIB) seja cumprida, nem com os escapes previstos. Não há garantia de que a dívida pública, que crescerá com o aumento do déficit e dos juros, ficará sob controle. E não há garantia de que novas capitulações fiscais não acontecerão.

A presidente Dilma não aguentou as pressões e, aparentemente, já não se importa se o rombo aumentar. Quem argumenta que não fez nada de errado quando infringiu a Lei de Responsabilidade Fiscal, como consta nas respostas às questões encaminhadas pelo Tribunal de Contas da União, não pode mesmo achar errado descumprir novamente a lei. Não é o ministro Nelson Barbosa quem está dizendo que as pedaladas são permitidas enquanto não for estabelecido um limite a partir do qual possam ser consideradas infração? Se o governo Dilma pensa assim é porque outras infrações são possíveis - até que saia a regulamentação que defina esses e outros parâmetros.

A opção feita não contém a recessão. Ao contrário, tende a aumentá-la porque cria incertezas. Depois da revisão da meta, os analistas rebaixaram ainda mais as projeções sobre o desempenho do PIB deste ano e do seguinte.

Mais recessão aumenta mais o desemprego, reduz a arrecadação e o rombo fica maior. Além disso, esse quadro não deve fortalecer o governo, como pretendeu a presidente Dilma. No ano que vem, tem eleições. Quantos vereadores o PT será capaz de fazer?

A presidente Dilma avisou que não quer a dureza do ajuste para não asfixiar o trabalhador. Mas a decisão tomada tende a sufocar ainda mais politicamente o governo.

Há outras maneiras de enfrentar a derrubada de arrecadação. A primeira delas seria cortar despesas. Parecia a opção do ministro Joaquim Levy. A outra seria fazer um esforço de investimento, o que implicaria apressar os leilões de concessão, exigir mais empenho dos organismos encarregados de expedir licenciamentos ambientais e desfazer-se de ativos públicos, como a Petrobrás já anunciou. “Deixamos claro o que não podemos fazer”, defende-se o ministro Levy. Mas ele já não mostra se consegue fazer o que pode fazer.

Não dá para apostar em que o Brasil “parou de piorar” e que, “daqui para frente, só vai melhorar”. Na política, as coisas só estão piorando e ameaçam arrastar a economia.


CONFIRA:






Aí está a evolução das cotações do dólar no câmbio interno nesta semana. Dá uma noção da alta provocada pela revisão da meta fiscal.

Mais juros

A nova alta do dólar tende a aumentar ainda mais os preços dos importados. Portanto, produzirá inflação. É mais um fator que obrigará o Banco Central a reforçar a política monetária (política de juros). Nesta quarta-feira, o Copom provavelmente aumentará os juros básicos (Selic) em mais meio ponto porcentual, para 14,25% ao ano. Falta saber até onde vai esse arrocho monetário.
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Um filme de horror a que ninguém quer assistir - ALBERTO DINES

GAETA DO POVO - PR - 25/07

Uma das primeiras apostas de Hollywood para levar mais gente aos cinemas utilizou um truque psicológico extremamente simples: pavor. Há mais de um século, tal como antes na literatura, as pessoas eram atraídas pelo que deveriam abominar e, graças a esta contradição, surgiram os Frankensteins, os Dráculas, médicos loucos, fantasmas, almas do outro mundo, lobisomens, monstros importados do passado, do fundo do mar, do espaço, do futuro.

No Brasil, talvez por força da infantilização das grandes audiências – para as quais medo não tem charme –, um filme de horror chamou a atenção de um dos mais importantes jornais do mundo sem provocar grande frisson, apesar de nosso protagonismo na película.

“Recessão e suborno: a crescente podridão no Brasil” foi o título do editorial desta quinta-feira no secular Financial Times, o jornal cor-de-salmão que raramente pisa em falso quando dá opinião (sobre música, vinho, política ou macroeconomia) e, por isso, foi vendido no mesmo dia por mais de R$ 4 bilhões de reais aos japoneses da Nikkei. “Incompetência, arrogância e corrupção tiraram do Brasil seu encanto mágico (...) Não é de admirar que o país hoje seja comparado a um infindável filme de horror.”

Que o governo não reagisse ou reagisse no estilo inglês – glacialmente – era o esperado. Designado para responder, Jacques Wagner, ministro da Defesa, contestou com o argumento de veterano cinéfilo: “não é filme de horror, mas de superação”. A surpresa veio da repercussão – quase nenhuma. Por solidariedade e/ou despeito, nossa mídia enfiou a viola no saco e saiu de fininho. Para não ser denunciada como alarmista ou golpista, talvez por sentir-se absolutamente desamparada diante de uma crise tão disseminada e ameaçadora, a verdade é que a retórica e o racionalismo anglo-saxônico se impuseram aos floreios da prosa neolatina.

Ao associar de forma direta, impiedosa, o fenômeno macroeconômico da recessão à esfera criminal onde se encaixa o suborno, o jornal escancara a natureza da nossa desgraça. Para não deixar dúvidas quanto à gravidade do que está sendo investigado, adiciona dois penosos ingredientes raramente utilizados nas avaliações sobre o que aconteceu na Petrobras: incompetência e arrogância.

Para coroar o diagnóstico, o arrasador substantivo – podridão – que nos remete a Shakespeare e ao inconformado Hamlet, ao reconhecer que “há algo de podre no reino da Dinamarca”. Na injusta metáfora, o Bardo não se referia apenas ao casal regicida (mãe e padrasto de Hamlet), mas à sociedade desmoralizada, corrompida, desprovida de senso moral que permitiu a consumação e a ocultação do crime.

Entende-se por que o editorial não foi transcrito e traduzido na íntegra em nossa imprensa: por pudor e autoestima. Verdadeira bomba arrasa-quarteirão, espalha estilhaços, fere a todos que, mesmo de longe, percebem o enredo. O interminável filme de horror do qual somos personagens e espectadores, ao contrário do que apregoam os mestres no gênero, parece condenado ao insucesso. Ninguém faz questão de vê-lo, o desfecho ainda demora. Nossas plateias são impacientes, se resignam às longas e artificiosas telenovelas, mas quando se trata de crises exigem soluções imediatas, no atual mandato.


As mortes de Lulinha - IGOR GIELOW

FOLHA DE SP - 25/07

BRASÍLIA - Em 2008, o diário "Extra" flagrou um menino negro nadando numa poça resultante de um vazamento na favela onde morava em Manguinhos, zona norte do Rio.

Consta que o então todo-poderoso presidente Lula se comoveu com a cena e resolveu transformar o local em vitrine de regeneração sob a bandeira do PAC, programa que tinha uma "mãe", Dilma Rousseff.

O menino, Christiano Pereira Tavares, foi levado ao palanque das autoridades para as devidas fotos e a promessa de construção de uma piscina na "comunidade", o eufemismo do politicamente correto para esses lugares esquecidos pelos políticos depois dos comícios.

Agora, o mesmo "Extra" informa que Lulinha, como o garoto foi apelidado após encontrar Lula, morreu aos 15 anos sob suspeita de overdose na unidade de saúde que ostenta sua foto sorridente na parede.

Manguinhos segue pobre, e a piscina, segundo o relato, abandonada. A família de Lulinha melhorou um pouco de vida, mas o quadro de desagregação segue inalterado.

Além de tragédia, a morte do garoto, se confirmada pelos motivos apontados, encarna um retrato da decadência do legado da era PT no poder. O investimento no combate à miséria, prioridade digna mesmo que tenha sido só eleitoreira, é tisnado pela realidade -do petrolão que já grassava à época ao desastre de gestão que atolou o país sob Dilma.

Sem bonança externa e com o sorriso de Levy, a classe que emergiu pela via perversa do consumo vai voltando para seu nicho anterior; brilha solitária na ruína a TV de tela plana na qual a irmã de Lulinha, grávida aos 14 anos, vê desenhos animados.

Não morre apenas Lulinha. Morre uma ilusão que teve, como toda farsa, lampejos de euforia. Morre o país cujo futuro radiante, para quem quis acreditar, havia chegado. A construção da realidade, ainda mais com os atores à disposição, será dolorosa.

Lulinha não verá nada disso.

Ficou difícil baixar os juros - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 25/07

Se o Banco Central (BC) tivesse metas e parâmetros semelhantes aos do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), não lhe faltariam motivos para desacelerar a curva de altas da taxa básica de juros (Selic). Afinal, a impressionante derrocada da economia brasileira no primeiro semestre do segundo governo de Dilma Rousseff está levando junto milhares de empregos.

O efeito da paralisia que tomou conta de praticamente todos os setores da atividade econômica tem sido devastador sobre o único indicador que vinha conseguindo resistir à onda de desconfiança na capacidade do governo de reanimar a economia. O desemprego fechou o semestre em 6,9%, a taxa mais alta dos últimos cinco anos registrada em um mês de junho.

E, como se não bastasse, até o próprio governo reviu para baixo a sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, que passou a ser negativa, de 1,49%. Isto significa que nem os cálculos oficiais autorizam expectativa de melhora na economia e, portanto, de queda das demissões.

Nos Estados Unidos, isso já teria levado o Fed a comandar política monetária menos apertada, ou seja, a reduzir as taxas de juros para estimular o investimento e a disposição para o consumo. Mas a inflação lá é muito baixa e o Fed não tem que enfrentar uma corrida de preços provocada pelo tarifaço que, agora, põe fim ao adiamento eleitoreiro dos ajustes que deveriam ter sido praticados no Brasil, nos últimos dois anos.

A autoridade monetária brasileira enfrenta o desafio de conter e, depois, baixar uma das taxas de inflação mais altas do mundo: 9% ao ano, o que equivale ao dobro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional. O próprio Banco Central não espera devolver a inflação ao ritmo de 4,5% por ano antes dos últimos meses de 2016 e começo de 2017.

Alguns sinais positivos de que esse caminho estava sendo cumprido tinham levado analistas do comportamento da política monetária a um breve clarão de otimismo para os próximos meses. Tanto é assim que a maioria dos agentes do mercado ouvidos pelo próprio BC apostavam, até o início desta semana, que a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), agendada para o dia 29, não deveria aumentar a Selic em mais do que 0,25 ponto percentual.

Mas esse era um cenário construído antes de o governo anunciar a drástica redução da meta de superavit fiscal de 1,1% do PIB para o modestíssimo 0,15%. A verdade é que, por mais que o próprio governo tente amenizar o efeito desse corte sobre a política monetária, não há mais como manter a expectativa de alívio nas taxas de juros.

O Banco Central, em várias de suas manifestações, vinha comemorando a saudável ajuda do aperto fiscal no combate à inflação. Pelo menos nos últimos quatro anos, a autoridade monetária se viu sozinha na luta contra a inflação, já que não podia contar com os efeitos benéficos sobre os preços de uma política fiscal mais contracionista que, nem de longe, era adotada pelo comando do Tesouro Nacional.

Por isso mesmo, é razoável rever as expectativas quanto aos rumos que tomará o BC. Muitos já apostam em alta de 0,5 ponto na quarta-feira, como um sinal de que o ajuste fiscal menor será em alguma medida compensado com o endurecimento da política monetária. Quer dizer mais peso na conta da sociedade.


Dilma e o fiador honorário - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADÃO - 25/07

Derrotado na discussão sobre a nova meta fiscal, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ainda pagou o mico de ter de explicar e defender a mudança de rumo anunciada por ele e por seu colega do Planejamento, Nelson Barbosa. Para cumprir essa missão, teve de renegar posições mantidas publicamente e de se apresentar como coautor de uma decisão digna dos piores momentos do mandato anterior da presidente Dilma Rousseff. Tendo rejeitado a opinião do ministro Levy e optado pela política mais frouxa e menos convincente, a presidente se lembrou de um detalhe: o perdedor havia sido considerado, pelo menos até quarta-feira, data do anúncio da nova orientação, o fiador da política econômica.

A solução imediata foi mandar seus subordinados elogiar o ministro da Fazenda e reafirmar sua condição de avalista. A ordem foi cumprida. Com isso, o avalista, confirmado em sua posição honorífica, virou fiador de uma política de baixa credibilidade. Já não há blindagem possível, porque o déficit de credibilidade, nesse caso, é da chefe de governo, e ela se expôs inteiramente, no episódio, de forma irremediável.

A presidente deixou clara, mais uma vez, sua pouca disposição de bancar medidas sérias de correção das finanças públicas e de reparação dos erros cometidos durante quatro anos. Alguns desses erros, como o prolongamento, depois da pior fase da crise, da chamada política “anticíclica”, foram herdados de seu antecessor, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e agravados.

Um dos condutores da política nesse período foi o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Tinha acesso fácil à presidente Dilma Rousseff, mas deixou o governo em 2013. Está de volta, como ministro do Planejamento, e são notórias as divergências entre ele e seu colega da Fazenda, ainda classificado, por determinação presidencial, como avalista do governo. Mas têm prevalecido as opiniões de Barbosa, como noticiou muitas vezes a imprensa.

O ministro da Fazenda tem mencionado, para explicar as dificuldades da política fiscal, a retração dos negócios e as táticas defensivas adotadas pelos empresários nas relações com o Fisco. Este detalhe já havia sido apontado em recente estudo da Receita Federal. São argumentos verdadeiros. A recessão tem sido, sem dúvida, mais severa do que previram analistas brasileiros e estrangeiros. Os danos causados à economia pelos erros cometidos nos quatro anos anteriores são enormes. A política do primeiro mandato da presidente Dilma é, sem dúvida, a causa principal dos males hoje vividos pelos brasileiros, como recessão, desemprego e inflação disparada. Tudo isso explica a perda de receita de impostos e contribuições neste ano, mas os problemas da política fiscal estão associados também a outros fatores.

O mais importante é a fraqueza política da presidente. Essa fraqueza decorre em parte de suas características pessoais e em parte da estratégia de seu partido, subordinada inteiramente às ambições políticas de seu líder principal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sem apoio do PT, a presidente pouco pode fazer – e nada tem feito, pessoalmente – para garantir a fidelidade dos partidos aliados.

Nenhum governante fraco – e nesse caso as deficiências pessoais da presidente são determinantes – conduz uma política de ajustes dolorosos e de reformas complexas. Depois de quatro anos chefiando um governo marcado pela incompetência, pela maquiagem das contas, por um voluntarismo quase infantil e por lambanças variadas, a presidente causaria enorme surpresa se iniciasse o segundo mandato com um programa audacioso de correções e de reformas. A menor surpresa, nesse caso, seria o apoio dos companheiros e aliados.

Desde o início o ministro Levy esteve comprometido com um programa tímido de ajuste e de reformas. Nem isso deu certo. A receita falhou, a despesa continuou crescendo e a meta de ajuste em 2015 foi virtualmente zerada. Ninguém explicou, até agora, por que se deve esperar um empenho mais firme nos próximos anos.


Petrobras: perdas e danos - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 25/07

Dezenas de empresas internacionais de petróleo investem no Brasil. Todas condenam a corrupção, desvendada pela Operação Lava-Jato. Mas seus executivos concordam com Paulo Roberto Costa (ex-diretor da estatal e que confessou seus crimes e os de parceiros) quando ele diz que o principal fator de prejuízos da empresa foi o congelamento dos preços da gasolina e do óleo combustível.

Congelamento e descontrole
As multinacionais condenam a corrupção, mas avaliam que ela não pode ser uma cortina de fumaça. O valor desviado ainda não foi fechado pela Operação Lava-Jato. Feita essa ressalva, executivos dessas empresas dizem que o comando da estatal cometeu erros que custaram muito mais. Citam análise do Deutsche Bank. Nessa, o controle de preços da gasolina e do óleo custou R$ 60 bilhões à Petrobras (2011/2015). A redução de 5% dos investimentos representaria economia de R$ 27 bilhões (em oito anos). A redução de 25% dos dividendos pagos aos sócios manteria R$ 10 bilhões em caixa, e o corte dos gastos administrativos durante dez anos geraria uma economia de R$ 10 bilhões.


"A Petrobras vivia no mundo da fantasia. Queria fazer tudo, muito rápido e de uma só vez. Isso quando esse setor trabalha com um horizonte de 30 anos" Executivo de uma multinacional Sobre a redução dos investimentos de US$ 220 bilhões para US$ 130 bilhões nos próximos 5 anos (2015/2019)


Ventos de fora
O PMDB se diverte, ironiza e sonha com a cobertura, pela mídia, da viagem do vice Michel Temer aos Estados Unidos. Um dos ministros definiu assim: "O Temer é um estadista". Outro foi mais adiante, comentando: "O povo sente o faro".


Diálogo PT e PSDB
Lula não gostou do vazamento da história sobre o encontro com FH. Acredita que pode dificultar o diálogo. No Instituto Lula se diz que só Dilma pode tomar a iniciativa. Ela já fez algo parecido no velório de Mandela, quando levou os ex-presidentes à África do Sul. E também quando os convidou para tratar da Comissão da Verdade em jantar no Alvorada.


O PSDB diz não
Mesmo que o ex-presidente FH queira conversar com o ex-presidente Lula, os tucanos rejeitam o diálogo. O líder da minoria na Câmara, Bruno Araújo (PSDB), diz que não dá para ajudar a consertar a quebradeira da presidente Dilma.


Boquirroto
Irritação no Instituto Lula. O vazamento do interesse do ex-presidente Lula em se encontrar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é o motivo. Por lá se diz que o secretário de Comunicação do PT, José Américo, fala demais.


Diga ao povo que fica
O PMDB não quer se confundir com o PT no tratamento ao rebelde presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Os petistas querem sua cabeça, mas a direção aliada, não. "O PMDB aliado à presidente Dilma confia na gestão do presidente Cunha e conta com sua contribuição até 2017", garante o ministro Eliseu Padilha, braço-direito do vice Michel Temer.


Professor Raimundo
Provável candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, o ex-governador José Serra esteve no Rio anteontem. Deu palestra sobre "como governar" para o secretariado e presidentes de empresas a pedido do governador Luiz Fernando Pezão.


O PT vai continuar dominando os cargos de segundo escalão. Os aliados queriam mais espaço. O índice de infidelidade lhes tirou o chão.


Medo dos juros - COLUNA PAINEL DA FOLHA

FOLHA DE SP - 25/07


NATUZA NERY (INTERINA)

Integrantes do governo temem que o Banco Central seja "duro demais" e aumente a Selic em meio ponto percentual na semana que vem, aprofundando o cenário de recessão econômica. Bancos públicos e privados também estão preocupados com os sinais de elevação da taxa de juros para além do desejável e preveem redução ainda maior da oferta de crédito para o consumo. Nas avaliações internas, o governo está fraco e perdeu muita influência sobre as decisões do BC.


Corda solta No passado, a presidente Dilma Rousseff costumava cobrar de forma enfática um alinhamento maior do banco com sua política macroeconômica.

Frustração Até a redução da meta do superavit primário, anunciada na quarta, o mercado e o Executivo apostavam ou no aumento de 0,25 ponto percentual ou na manutenção da Selic no patamar atual de 13,75% ao ano.

Choque Diante da surpresa, as projeções passaram a contemplar uma alta de 0,5 ponto percentual. O próprio Banco Central, que trabalhava com um cenário de aperto fiscal bem maior até 2017, foi pego de surpresa com a queda abrupta do superavit primário de 1,1% para 0,15% do PIB.

Prece "Do jeito que a coisa está, é para não ter aumento algum", disse um importante auxiliar da presidente.

Vale... Líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS) começou a trabalhar para flexibilizar as regras de repatriação de ativos, em um esforço para construir consenso pela aprovação da medida bilionária no Congresso.

... tudo Seu texto deve apresentar uma proposta de redução da alíquota de 35% para casos excepcionais, como pagamentos à vista de valores repatriados. Também deve incluir regras mais duras para evitar a entrada de dinheiro sujo no país.

Tremelique Contando com cada centavo possível para engordar o franzino caixa federal, a equipe econômica tem calafrios quando ouve a expressão "flexibilizar".

Via expressa O senador Romero Jucá (PMDB-RR) levou ao ministro Joaquim Levy (Fazenda) uma proposta para acelerar licenciamentos de PPPs e concessões. A ideia é impor prazo a órgãos como Funai e Iphan para que se manifestem sobre as obras.

Ação e reação O Palácio dos Bandeirantes decidiu atuar ostensivamente na operação que prendeu fiscais delatados pelo doleiro Alberto Youssef, por meio de sua corregedoria, com receio de que o governo fosse contaminado pela Operação Lava Jato.

No bolso Dois dos fiscais presos já fizeram contribuições para candidatos a deputado, do PSDB e do Solidariedade. As investigações, segundo o governo, não apontaram conexão política.

Radar Dados preliminares da Prefeitura de São Paulo indicam que a redução da velocidade máxima nas marginais tem sido "positiva". Por ora, a tendência é de manutenção deste limite. Um balanço mais completo será apresentado em breve.

Alô, criançada Um importante interlocutor de Fernando Haddad faz piada sobre a sondagem de rivais ao apresentador José Luiz Datena para que se candidate em 2016. "A gente está preocupado de o SBT liberar o Bozo."

Visitas à Folha Luiz Fernando Pezão, governador do Rio de Janeiro, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Leonardo Espíndola, secretário-chefe da Casa Civil, Julio Cesar Carmo Bueno, secretário de Fazenda, Tânia Lazzoli, coordenadora de imprensa, e Fernanda Almeida, assessora especial.


Joaquim Levy, ministro da Fazenda, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Rodrigo de Almeida, assessor de imprensa.

com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA

TIROTEIO

"Ao tomar iniciativas que favorecem seu amigo Cunha na CPI, Celso Pansera parece que, do passado, só conservou certa ousadia."

DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), sobre o peemedebista, chamado de 'pau mandado' de Eduardo Cunha, ter militado no PSTU quando jovem.

CONTRAPONTO

Pravda

O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, participava de uma entrevista no final da cúpula de centrais sindicais dos países que integram os Brics, na Rússia.

Na ocasião, um jornalista do "Pravda" quis saber sobre as manifestações de rua no Brasil contra o governo Dilma Rousseff, ao qual a Força se opõe.

–Os atos são democráticos e pressionam por mudanças –esquivou-se Torres.

–Mas o senhor considera as manifestações revolucionárias ou contra-revolucionárias? –insistiu o repórter.

Desconcertado, Torres encerrou o assunto:

–São por mudanças!

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

LULA TEME QUE ZÉ DIRCEU FAÇA ACORDO DE DELAÇÃO

Após haver abandonado José Dirceu desde os tempos do julgamento do mensalão, o ex-presidente Lula recomendou à cúpula do PT, esta semana, “dar atenção” ao “Zé”, seu ex-ministro da Casa Civil. Ele teme que Dirceu feche acordo de delação premiada para não voltar à cadeia. Até lulistas “religiosos” concordam: eventual delação de Dirceu pode levar Lula a conhecer o significado de um longo período na Papuda.

VOCAÇÃO PARA ‘MÁRTIR’

Lula e a cúpula do PT confiam que Dirceu é “guerreiro” e que, como no mensalão, pode mofar na cadeia, mas não entrega a “companheirada”.

OUTRA PRIORIDADE

Hoje a maior prioridade de José Dirceu não é a “causa”, mas preservar a liberdade de conviver com a alegria da filha, garotinha de 6 anos.

MAU SINAL

Após a Justiça negar habeas corpus preventivo para José Dirceu, acendeu a “luz vermelha” na cabeça, disse Lula a dirigentes do PT.

REBATE FALSO

Na tarde desta sexta-feira (24), houve momento de pânico, no PT, com os rumores de prisão iminente de José Dirceu. Mas era rebate falso.

ANÁLISE TÉCNICA DESTRÓI DEFESA DO GOVERNO NO TCU

A análise da área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre as “pedaladas fiscais” do governo Dilma destrói a alegação de “motivação política”, difundida pelo governo, para justificar a iminente condenação da presidente Dilma e outras 17 autoridades do governo por crime previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal. A área técnica do TCU é composta de servidores de carreira no tribunal, como auditores.

ILAÇÕES, NÃO

Relator do processo, o ministro Augusto Nardes anda indignado com as alegações de viés político, que em nada ajudam o governo Dilma.

PREOCUPAÇÃO ADICIONAL

O parecer de Augusto Nardes logo ficará pronto, mas o julgamento do caso só ocorrerá após as manifestações públicas de 16 de agosto.

BOMBEIROS

Os ministros Nelson Barbosa (Planejamento) e Joaquim Levy (Fazenda) foram escalados para reverter o quadro crítico no TCU.

CAMINHANDO E CANTANDO

Relator das pedaladas fiscais do governo, o ministro Augusto Nardes dispensou o motorista no trajeto entre a residência oficial do Senado e a da Câmara. Caminhou 200m, o que os políticos quase nunca fazem.

CHANCE DE OURO

O grupo do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) quer aproveitar os estragos produzidos pela delação de Júlio Camargo para tirar de Eduardo Cunha o protagonismo político. Avalia que “a hora é agora”.

GRILO FALANTE

O ex-ministro Geddel Vieira Lima foi escalado, informalmente, como porta-voz dos peemedebistas insatisfeitos com o governo Dilma. “O grilo falante chama-se Geddel”, oficializou Osmar Terra (PMDB-RS).

DÁ NA MESMA

O PSDB da Câmara e do Senado falam línguas diferentes. Senadores, excluindo Aécio Neves (MG), defendem que o TSE decida sobre eventual cassação de Dilma. Os deputados querem o impeachment.

ME LEVA?

Carente de apoio político e com a popularidade em frangalhos, Dilma pediu ao ex-chefe Lula para levá-la à reunião com FHC. Ele topou, claro. Mas o tucano vem achando curioso o “atual interesse” do PT.

ONDE APERTA O SAPATO

Advogados que atuam na Lava Jato afirmam que Ricardo Pessoa, dono da UTC, obeso e com um joelho que praticamente não dobra, sentia dores terríveis ao se agachar no sanitário da cela, um buraco no chão. E que isso foi decisivo para concordar com o acordo de delação.

‘CASAMENTO’ ABALADO

Dilma procurou o vice-presidente Michel Temer, articulador-geral do governo, e pediu sinais de apoio. O PMDB na Câmara pressiona pela antecipação da reunião para reavaliar a aliança com o governo.

CRAVO E FERRADURA

O governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB), esteve em São Paulo, dias atrás, para conversar com o ex-presidente Lula e, depois, com FHC. Socialistas querem “tarefas” e discutem seu “papel nacional”.

PERGUNTA NO AEROPORTO

Se quando Dilma viaja é “crisezinha”, quando ela volta é apocalipse?


PODER SEM PUDOR

MINISTRO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS

Bem humorado e paciente, o então ministro José Múcio (Relações Institucionais) visitava dois ministérios diariamente, garimpando meios de atender aos pedidos dos parlamentares da base aliada, a fim de dar sossego ao então presidente Lula, garantindo a aprovação de projetos de interesse do governo. Certa vez, ao ser recebido por Marina Silva (Meio Ambiente), que pilotava um setor sempre resistente a mudanças, ele foi logo fazendo graça:

- Ministra, eu sou ministro do Bom Ambiente...

Conseguiu o que queria.

sexta-feira, julho 24, 2015

Rumo ao rebaixamento - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 24/07

O que mais se temia deve acontecer: o rebaixamento da nota de risco do Brasil, possivelmente perdendo o grau de investimento em pelo menos uma das agências internacionais mais importantes, a Standard & Poor's.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que usava seu prestígio nos meios financeiros internacionais como um escudo contra essa possibilidade, e em contrapartida a usava como uma ameaça aos que iam contra o programa de ajuste fiscal, está gastando rapidamente sua credibilidade diante dos investidores estrangeiros ao tentar tapar o sol com a peneira.

Um dia depois de ter tido que admitir a impossibilidade de realizar o superávit fiscal com que se comprometera ao assumir o cargo, Levy tentava convencer investidores estrangeiros de que a economia brasileira tem espaço para crescer, quando as previsões do mercado financeiro são de que o PIB negativo, que já é dado como certo este ano, deverá permanecer nesse patamar também em 2016, apenas um pouco melhor: entre -1,5% e 2% este ano contra - 0,5% ano que vem.

As agências de risco, como era de se esperar, receberam mal a mudança do superávit primário, vista como uma capitulação do governo, que não conseguiu viabilizar a meta proposta inicialmente. Um rebaixamento por parte da Moodys e da Fitch já é dado como certo, mas o país ainda se manteria acima do nível especulativo.

No caso da Standard & Poor's, a nota brasileira pode voltar ao nível especulativo. O economista Paulo Rabello de Castro considera "impossível" as agências de risco americanas não admitirem o rebaixamento da nota de crédito do Brasil: "Ao anunciar a revisão da meta fiscal de 2015 para o chamado 'superávit primário," que é a economia feita para pagar juros, reduzindo o alvo de R$ 66 bilhões (1,1% do PIB) para R$ 8,7 bilhões (0,15% do PIB), o governo não apenas reconheceu que planejou mal suas contas deste ano, por não estimar bem a profundidade da crise no setor produtivo afetando a receita esperada de impostos, como, sobretudo, passou a aceitar que a dívida pública bruta (hoje 62% do PIB) deverá crescer muito nos dois anos seguintes" analisa ele em nota divulgada à noite.

Rabello estranha a criação do que chamou "descontingenciamento antecipado de receitas futuras, figura esdrúxula e inédita na gestão fiscal brasileira, ao enviar ao Congresso pedido de perdão de R$ 26 bi, caso receitas de resultado especulativo (como a de regularização de capitais no exterior) não renderem a arrecadação esperada"

Essa novidade tem ainda uma especificidade perversa: é a utilização de uma "contabilidade criativa" que está sendo contestada, com possíveis consequências políticas graves, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), nas contas sub judice do ano passado.

Como bem ressalta Rabello, "despesas precisariam ser contingenciadas pela presidente, e agora a equipe econômica pede licença para não contingenciar despesas de igual magnitude, legalizando a má prática"

Paulo Rabello discorda do diagnóstico de que o "problema" nasce na frustração das receitas, cuja arrecadação vem crescendo 2,2% (em 12 meses, até maio) e assim "obrigando" o governo a aprofundar o corte nos investimentos já ceifados.

"O governo omite que a despesa total não financeira até maio vem inchando 11,5%, com as de custeio indo a 16% de expansão. Ao somar-se a isso a explosão dos encargos financeiros em 7% do PIB (R$ 408 bilhões até maio!) se conclui pela total impossibilidade de qualquer solução na linha convencional de mais aumento da carga tributária, que, aliás, já não responde a tal apelo"

A solução, para o economista, "está na cara: adotar regra de contingenciamento de toda despesa pública baseada na variação do PIB nominal" Além disso, seria preciso uma reforma financeira "a fim de moderar, no tempo, uma política de juros públicos que leva o Brasil a ser, de longe e há muito tempo, o país que mais encargos paga para rolar sua própria dívida interna"

Se isso não ocorrer, Rabello acredita que os mercados adotarão caminho de correção pelo câmbio, "que facilmente encostará nos R$ 3,50 nas próximas semanas".


COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

CÂMARA ACUSA O GOVERNO DE SABER DA 14ª FASE

Deputados federais do PMDB dizem ter informações concretas de que o Planalto soube com cinco dias de antecedência da 14ª fase da Lava Jato, ordenada pelo Supremo Tribunal Federal, a pedido do procurador Rodrigo Janot. E que o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) sabia que senadores seriam alvo de mandados de busca, apesar de haver negado na CPI da Petrobras o conhecimento prévio de ações da PF.

SÓ A VERDADE É PERMITIDA

A turma de Eduardo Cunha, na Câmara, tentará agora comprovar que o ministro José Eduardo Cardozo não teria dito a verdade na CPI.

DUAS SEMANAS

Os mandados de busca e apreensão foram autorizados pelo STF em 1º de julho, mas a Op. Politeia somente seria deflagrada 13 dias depois.

HOMEM DE CONFIANÇA

Deputados ligados a Eduardo Cunha acreditam que, centralizada em Brasília, a Politeia não ocorreria sem o ministro da Justiça saber.

PASSANDO PRA FRENTE

Pelo sim, pelo não, a 14ª fase da Lava Jato ajudou Dilma politicamente, na medida em que fragilizou o Congresso que a enfrenta.

TRANSPETRO MANTÉM DIRETORES DE EX-PRESIDENTE

Alvo de escândalo de corrupção na Petrobras, a Transpetro manteve inalterada sua estrutura administrativa. Além de o recém-nomeado presidente, Antônio Rubens Silva Silvino, ser ligado ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, a subsidiária da Petrobras não mudou nenhum dos seus quatro diretores após a demissão de Sérgio Machado, ex-presidente enrolado na Lava Jato.

NO COMANDO

Silvino já comandou a Liquigás Distribuidora, ligada à diretoria de Abastecimento da Petrobras, onde também foi gerente executivo.

SAINDO DE MANSINHO

Sérgio Machado foi forçado a deixar a presidência da Transpetro em fevereiro, após suspeita de recebimento de propina no Petrolão.

ESCALAÇÃO

Continuam Paulo Penchiná (Dutos e Terminais), Fernando Gabriel (Financeiro), Claudio Ribeiro (Serviços) e Nilson Ferreira (Transporte).

DERRETIMENTO PREOCUPA

O governo disparou ligações a aliados para apagar o incêndio causado pela pesquisa CNT/MDA, que apontou aprovação do governo Dilma em pífios 7,7%, enquanto a rejeição se aproxima de 80%. O maior temor é uma debandada de aliados para se descolarem da imagem do governo.

LUZ AMARELA

A articulação do governo recebeu ordens para seguir de perto os passos da base de apoio, especialmente do ex-aliado Eduardo Cunha, presidente da Câmara. Afinal, já existem 12 pedidos de impeachment contra Dilma sobre a mesa de Cunha, que decide o que será votado.

SOLIDARIEDADE

Peemedebistas dizem que “haverá solidariedade ao Eduardo (Cunha)”, no caso da análise de um processo de impeachment contra Dilma. E ele teria “mecanismos para persuadir” outros partidos da base.

LAMENTOS

As lamúrias do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) não cessaram. Interlocutores dizem que o desejo Cardozo é deixar a pasta ao fim da CPI da Petrobras e que ele nada pode fazer em relação à Lava Jato.

FORA DO SCRIPT

O senador Hélio José (PSD-DF) anda um pouco perdido no exercício do mandato. Ele só concede entrevista com respostas preparadas pela assessoria. Se a entrevista foge do “script”, sua excelência reclama.

DESCONTO EM FOLHA

Deputados chiam do corte no contracheque por falta em votação nominal. Por causa de reunião com o ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Jerônimo Goergen (PP) teve desconto de R$ 1.400.

NOME E SOBRENOME

No embalo da baixa popularidade de Dilma, o deputado Nilson Leitão (MT), vice-líder do PSDB na Câmara, afirma que a crise do Brasil tem nome: chama-se Dilma Rousseff. “E o sobrenome, PT”, diz o deputado.

O PASSADO CONDENA

O “intrigômetro” de Brasília subiu novamente, entre assessores da Fazenda e do Planejamento, e já respinga nos ministros das pastas. A rusga é antiga e historicamente a derrota sobra para o Planejamento.

PENSANDO BEM...

...Dilma poderia aproveitar a nova redução da meta fiscal e também cortar ministérios, cargos comissionados, penduricalhos, “jet-ons” etc.


PODER SEM PUDOR

PUDOR SEM PODER

Geraldo Alckmin sempre foi um discreto vice-governador de Mário Covas. Tão discreto que era desconhecido nas repartições. Certa vez, no final da primeira gestão de Covas, ao chegar na Secretaria Estadual de Esportes, ele teve de preencher formulário, na portaria, e ganhar crachá de "visitante" para entrar no prédio. No elevador, uma funcionária mais observadora fez-lhe um ligeiro aceno com a cabeça. Ele logo se animou:

- Muito prazer, sou Geraldo Alckmin.

- Conheço o senhor de algum lugar... - disse ela, puxando pela memória.