sábado, novembro 05, 2011

MATTHEW SHIRTS - Como aprender o inglês



Como aprender o inglês
MATTHEW SHIRTS
REVISTA VEJA - SP


Levei um susto certa vez ao perceber que meu filho caçula, Samuel, então com 7 anos de idade, participava de um bate-papo via internet. Como qualquer pai, fiquei preocupado. O que fazia meu filhinho ali, sozinho, diante dos perigos virtuais do mundo todo?
Respondia a perguntas em inglês, que mal falava, quase sempre com a palavra “no”, mas de vez em quando enviava também um “yes”. — Está falando com quem, filho? — perguntei. — Com o vovô Garry. — Como é que você achou o vovô na internet!? — Foi ele quem me achou no Facebook, uai. Meu saudoso pai, americano e monoglota, fazia perguntas do tipo: “Você está no quintal?”. Sammy escrevia “no”. — Na sala? — “No”. — Está no seu quarto? — “Yes”.
Tive de tirar o chapéu para o velho. Era uma aula genial de inglês. Quando os dois se encontravam na Califórnia, no entanto, meu pai preferia um idioma próprio — e incoerente —improvisado na hora. Isto se chama “gibberish” em inglês. Ele fizera o mesmo com meus filhos mais velhos, Lucas, hoje com 26, e Maria, com 20. Dizia, por exemplo: “Hama baba gullah cita”. Sammy retrucava de bate-pronto: “Cina mama nano baba”.
Era divertido. Meus filhos todos amavam essa brincadeira. O problema é que meu pai, um estudioso da educação, levava a sério. Continuava a falar “gibberish” ao entrar em restaurantes, com o maître (!), por exemplo, para o deleite incontrolável do Sammy (e desespero nosso), e continuava com o frentista do posto de gasolina, o caixa do supermercado, com qualquer um nos Estados Unidos.
O aprendizado de línguas estrangeiras se tornou uma questão na minha família desde que veio ao mundo meu primeiro filho em São Paulo. Corria o ano de 1984. O lado paterno falava inglês; o materno, português. O assunto ganhou ainda mais destaque, no início do século XXI, com o nascimento do primo chinês, Jared. A reação do Garry, avô de todos, foi de naturalidade na ocasião: “Uma pessoa a cada sete no mundo é chinesa. Faz sentido que meu sétimo neto seja chinês”, pontificou.
Sempre me orgulhei do meu português — com algum exagero, reconheço hoje. É um defeito. Húbris, como se diz em grego. Acreditei durante anos que não tinha sotaque nenhum. Quem me conhece pode rir. LOL. É a verdade. Confesso. Comecei a desconfiar da qualidade da própria elocução em português durante uma corrida de táxi, na Avenida Paulista, anos atrás. Assim que abri a boca, o motorista saiu-se com esta: “O senhor não é daqui, né?”. Respondi que não era mesmo e lhe perguntei: “De onde acha que sou?”. Ele pensou, pensou, foi pensando da Rua Augusta até quase a Peixoto Gomide, onde se saiu com: “Tatuí”? A cidade de Tatuí, no interior do estado de São Paulo, é conhecida pelo forte sotaque “caipira”.
De lá para cá, meu sotaque degringolou, como se diz (talvez por isso mesmo). É coisa de quem aprendeu português depois de adulto. Meus filhos, brasileiros todos, me corrigem: “Óleo é o que você coloca no carro, papai. Diga olho”.
Mas o pior mesmo aconteceu na semana passada. Fui ler um livro para Sammy na hora de dormir. Na maior parte das vezes, é a mãe quem faz isso, mas não sempre. E em tese, ao menos, quando eu leio, deveria escolher livros em inglês para ajudá-lo com o aprendizado, que vai indo bem. Mesmo assim é mais difícil para o Sammy. Não é sempre que ele entende todas as palavras contadas na língua do Harry Potter. Nessa noite, ofereci a opção de ouvir um livro em português, para facilitar sua compreensão e sua vida. Disse que era melhor escolher uma obra em inglês mesmo. Quando perguntei “por quê?”, Sammy respondeu, do alto dos seus 8 aninhos de idade: “Porque você lê melhor em inglês”.
Quando é que as crianças ficaram tão espertinhas? Vai ver que é a internet a responsável.

FERNANDA TORRES - Cézar

Cézar
FERNANDA TORRES
REVISTA VEJA - RJ





Nunca fui de muitos amigos. Não chego a ser sociofóbica, mas a solidão sempre me trouxe paz. Se, na juventude, sair em turma não era o meu forte, a idade piorou ainda mais esse traço casmurro de minha personalidade.
A vida adulta cria empecilhos para a conquista de novas amizades. Eu mal dou conta da saudade que tenho das velhas. Cruzo com muita gente com quem gostaria de estabelecer um convívio mais profundo, mas a dobradinha trabalho e crianças pequenas dificulta algo simples como sentar num bar e jogar conversa fora.
Como toda regra tem exceção, fiz um laço eterno com um baiano fantástico no dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, em Salvador. Seu nome é Cézar Mendes, músico, compositor e magnífico violonista; uma personalidade discreta, gentil e bem-humorada que a Bahia me deu, graças a Deus.
É dele a melodia diáfana de Carnalismo, a faixa mais delicada de Os Tribalistas. Para quem nunca ouviu, ou não se lembra de ter ouvido, aconselho escutar para entender a preciosidade da alma que aqui descrevo.
Cezinha insistiu em me fazer cantar e me deu um violão de presente de aniversário. O regalo veio acompanhado das aulas ministradas pelo próprio, professor talentosíssimo, o que arraigou ainda mais nossa intimidade. Lentamente, afino meus acordes e descubro tarde a razão de Pedro Baby, outra preciosa aquisição recente, afirmar que o violão é o melhor amigo do homem.
Depois de ler meu artigo sobre a eucaristia aqui em Veja Rio, Cézar me escreveu dizendo que compartilhava do meu estranhamento com relação ao rito católico e me contou uma história extraordinária sobre seu avô. Com a licença dele, é claro, compartilho com os leitores a riqueza do causo.
Cezinha nasceu em Santo Amaro, terra de dona Canô, mãe de Caetano, e Bethânia. Seu irmão, Roberto, é outro gênio das cordas. Todos cresceram no Recôncavo Baiano e descobriram juntos João Gilberto, Caymmi, Tom, Vinicius, Roberto, os Beatles e os Rolling Stones.
Já adulto, Cézar participou da gravação de um programa de TV com a presença de dona Canô. Quando o repórter perguntou à matriarca dos Veloso sobre a sua percepção a respeito da religiosidade em Santo Amaro, dona Canô se virou para Cezinha e disparou: “Esse rapaz aqui, por exemplo, é neto de padre”.
Desconhecedor do fato, ele soube ali, diante das câmeras, que o padre João de Deus era um mulato lindo, de voz contagiante, que fazia sucesso entre as beatas da paróquia. A musicalidade dos netos teria vindo do avô.
No dia de Nossa Senhora da Purificação, o mesmo 2 de fevereiro que anos mais tarde me ligaria a Cezinha, um bispo presente à procissão perguntou se os dois meninos que acompanhavam o pároco eram os coroinhas. João de Deus não titubeou em responder que não, que aqueles eram seus filhos. O superior teve um mal súbito e exigiu que lhe tirassem a batina. Dando provas de seu espírito de vanguarda, Santo Amaro se reuniu para impedir que fosse feita a vontade do bispo.
João de Deus jamais escondeu o amor por Noly (pronuncia-se  Nóly),  moça linda, branca e de família rica. Vestindo o hábito, costumava passear de mãos dadas pelas ruas com a amada. No dia em que ouviu um conterrâneo chamá-la de mula de padre, deu uma sova no desgraçado e o entregou ao delegado. Depois da morte do companheiro, Noly nunca mais vestiu outra cor que não o preto.
Nenhum membro da família compareceu ao enterro dessa mulher. Ela foi deserdada assim que assumiu o relacionamento com João. Os parentes a rejeitaram não por ela ter se casado com um padre, mas sim com um negro.
“Racistas”, conclui Cezinha, e arremata: “Naquela época, padre gostava de mulher”.
Apesar da falta de tempo e da correria da maturidade, não se pode perder alguém do calibre de Cézar Mendes. Meu mais recente velho parceiro, testemunha ocular das melhores histórias.

RUTH DE AQUINO - Faltam educação, vergonha e banheiro



Faltam educação, vergonha e banheiro
RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA

Logo seremos a sexta economia mundial, mas estamos em 84º lugar em desenvolvimento humano. É inaceitável

RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Seremos em breve a sexta economia do mundo. Mas estamos em 84º lugar no índice internacional que mede o desenvolvimento humano de 187 países. Parece esquizofrênico, mas assim é. O ranking do IDH das Nações Unidas desmascara algo que a gente já sabe, mas muitos insistem em não enxergar.
Bolsas do governo reduzem a miséria a curto prazo, ajudam a eleger presidentes, dão a milhões de pobres acesso a geladeira, televisão, fogão e carro. Elogiável. Mas esmolas não dão dignidade a longo prazo, não mudam o futuro do Brasil. Educação e saúde sim. E até hoje não são prioridades. Por isso a renda continua tão desigual. Por isso temos 19 “hermanos” da América Latina à nossa frente.
Isso não é um problema só do PT nem só de Lula ou Dilma. O Brasil fechou os olhos historicamente à desigualdade. Elegeu um metalúrgico na esperança de virar o jogo. Sonhávamos com avanços sociais muito maiores. Nós, contribuintes, que já pagamos impostos escorchantes, ajudamos Lula a transferir um pouquinho de renda para miseráveis que ganham de acordo com o número de filhos. Isso não parece receita de vida sustentável.
Aumentamos o número de crianças e adolescentes na escola, sim. Os anos de escolaridade também. Falta muito. Mas já descobrimos que sete anos de escola no Brasil não ensinam o mesmo que na Argentina ou no Chile. Não garantem que a criança aprenda a ler e a escrever direito ou a fazer contas simples de matemática.
É falta de educação mandar Lula tratar o câncer no SUS. Qualquer pessoa não comum evita as filas, o descaso e o despreparo da saúde pública no Brasil. O debate ferveu. Na internet, antipetistas destilaram ódio. A rede de proteção a Lula foi acionada. O ex-presidente não é o único a sofrer com a falta de compostura de internautas. Todo mundo sabe – até o Chico Buarque – que a blogosfera é fértil em ofensas anônimas de todo tipo. Lula não é um coitadinho especial. A difamação virtual é um hábito covarde e aleatório. Quem fez campanha contra Lula num momento tão vulnerável demonstra baixo IDH.
Logo seremos a sexta economia mundial, mas estamos em 84º lugar em desenvolvimento humano. É inaceitável 
Também é falta de IDH um presidente afirmar que “o Brasil não está longe de atingir a perfeição no tratamento de saúde”. Foi o que Lula fez, numa de suas gafes verborrágicas, em 2006. Pode parecer provocação para os que morrem buscando um leito nas emergências de hospitais. Pode parecer insensibilidade para quem mofa deitado no chão, nos corredores de hospitais. Esperam por meses uma cirurgia. Com fraturas ou infecções. Não há maca, não há médicos, não há vaga, não há vergonha na cara de um país que despreza e mata seus velhos por negligência. Eles têm a mesma idade do ex-presidente Lula, o pai dos pobres. Lula poderia ter dito apenas que, em seu governo, a Saúde melhorou – e não estaria mentindo. Talvez tivesse sido poupado da fúria virtual.
Também é falta de IDH a quantidade de brasileiros sem banheiro: 13 milhões, ou 7% da população. Esse é outro ranking, da Organização Mundial da Saúde, e o país ocupa um insultante nono lugar. Segundo o IBGE, menos da metade dos brasileiros (45%) tem rede de esgotos e só 38% recebem algum tipo de tratamento. Penso o seguinte: de que adianta ter televisão numa casa com crianças se, embaixo da janela ou junto à porta, passa uma vala com lixo, esgoto a céu aberto e uma multidão de ratazanas?
Também é falta de IDH o Brasil não conseguir aplicar um Enem sem fraudes ou anulações. Estudantes no Ceará – o foco do vazamento de 13 questões – foram às ruas com nariz de palhaço para dizer que o Enem é um circo. Alunos de outros Estados ameaçam entrar na Justiça contra a anulação. Não seria falta de IDH insistir no ministro da Educação, Fernando Haddad, como candidato do PT a prefeito de São Paulo? Além de não conseguir gerenciar direito uma prova do Enem, Haddad não sabe a diferença entre Itaim Bibi, bairro de classe média alta da cidade, e o Itaim Paulista, na Zona Leste. Precisa urgente de um mapa e de aulas da Marta Suplicy.
Também é falta de IDH a exibição bizarra de cinismo do PCdoB e de Dilma na troca de ministros do Esporte. Ninguém entendeu nada. Orlando Silva, acusado de fraudes milionárias em convênios irregulares com ONGs, ganha poemas, discursos e flores? O novo ministro, Aldo Rebelo – chamado de Rabelo por Dilma –, diz que quer fazer uma “gestão parecida” com a do camarada destituído? Pelé e Ricardo Teixeira vão à posse para umas embaixadinhas? Fotos mostram Silva e Sarney lado a lado, sorrindo e aplaudindo. Olha, corrupção na política existe em todos os países. Mas esse cinismo todo é dose.
É muita falta de IDH para o meu gosto.

PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA - Anistia a mensaleiros



Anistia a mensaleiros
PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA
CORREIO BRAZILIENSE - 05/11/11

O Brasil é mesmo um país difícil de ser levado a sério. Veja só o que ocorre agora na Câmara dos Deputados. Um projeto de autoria de Ernanes Amorim (PTB-RO) concede anistia aos envolvidos no mensalão, escândalo de corrupção que abalou o governo Lula e derrubou do Planalto o então todo-poderosíssimo ministro José Dirceu, depois levado à cassação, quando já estava na planície, na condição de parlamentar.

O caso é tão grave e escabroso que o então procurador-geral da República se convenceu de que se tratava de uma quadrilha, apontou Dirceu como chefe da organização criminosa que assaltava os cofres públicos e pediu a abertura de processo no Supremo Tribunal Federal. Os 40 acusados de integrar o bando, emblemático número, tornaram-se réus.

Pois bem, a proposta de anistia entrou na pauta da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Outro dado desse bizarro enredo é que a CCJ é presidida, sabe por quem? Acreditem: João Paulo Cunha (PT-SP), um dos réus no processo do mensalão a ser julgado ano que vem pelo Supremo Tribunal Federal.

O argumento para a anistia também é surreal: como parte da quadrilha, conforme denominou o procurador-geral da República, acabou vergonhosamente absolvida pela própria Câmara, o projeto defende que o chefão Dirceu seja igualmente perdoado dos “malfeitos”. Se for, pode até voltar ao Congresso sem que receba um único voto.

Basta que o PT consiga aprovar a reforma política que tira dos brasileiros o direito de eleger diretamente seus representantes. Aí, eles vão apresentar uma lista de cascas-grossas, e a gente apenas põe um xis embaixo. Ah, a gente também vai pagar a conta da campanha. Legal, não é? Cuidado: se disser que é contra essa reforma, você corre o risco de ser chamado de reacionário.

ILIMAR FRANCO - Cotados


Cotados
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 05/11/11

A presidente Dilma analisa os seguintes nomes para compor a Comissão da Verdade: Cláudio Lembo, ex-vice-governador de São Paulo, ou Marco Maciel, ex-vice-presidente da República, ambos do DEM; Cezar Britto, ex-presidente da OAB; Flávia Piovesan, professora doutora da PUC/SP; Paulo Sérgio Pinheiro e Nilmário Miranda, secretários de Direitos Humanos nos governos FH e Lula.

Correndo contra o tempo
Depois de encostar o governo contra a parede, os líderes aliados vão conversar com a presidente Dilma, segunda-feira, dispostos a votar a prorrogação da DRU na mesma semana. Os empenhos e a liberação das emendas parlamentares evoluíram desde a semana passada. Na quinta-feira, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) reuniu secretários-executivos de 11 ministérios e mandou acelerar o empenho das emendas individuais. "Coloquem mais gente nessa tarefa e, se for o caso, façam à mão", orientou Ideli. Até agora 30% das emendas foram empenhadas. O governo quer chegar ao fim do mês ao patamar de 70%.

"O Congresso é quase uma Disney World. Acho fascinante trabalhar lá” — Aloysio Nunes Ferreira, senador
(PSDB-SP), em entrevista para o primeiro número da revista Congresso em Foco

DOMINADO. O governo Dilma fez as contas e já não teme que a prorrogação da DRU não seja aprovada. Além da bancada do PT, o PSD e o PSB já garantiram que votam a favor. Na terça-feira, o PMDB reúne sua bancada para dar seu aval. O líder do PMDB, Henrique Alves (RN), justifica a posição do partido: "A DRU existe desde Itamar Franco, e com ela governaram Fernando Henrique e Lula. Não é justo que na nossa gestão, com o Michel na vice, o partido não dê esse instrumento ao governo."

Prazo
O Congresso tem prazo para concluir a votação do Código Florestal: 11 de dezembro. Nessa data expira o decreto que suspende as multas de quem não regularizou a reserva legal. O governo não quer renovar o decreto uma terceira vez.

Choradeira
Está circulando abaixo-assinado de deputados de primeiro mandato pedindo equiparação na liberação de emendas parlamentares. Reclamam que os deputados antigos liberam em média o dobro, mas que o voto de todos vale o mesmo.

Dilma faz concessão ao sindicalismo
Além da DRU e do Orçamento, a presidente Dilma faz questão de votar antes do recesso a criação do Fundo de Previdência dos Servidores. O aumento da contribuição de 7,5% para 8,5%, como querem os sindicatos do funcionalismo, foi vetado pela Fazenda. Para agradar aos sindicalistas, a presidente está disposta a aceitar que o fundo seja gerido por gestores públicos, em vez da iniciativa privada, como no texto original.

Não deu
Da senadora Marta Suplicy (PT-SP), em agosto: "Lula tem uma força enorme no partido, mas não é maior que o processo e a conjuntura. A candidata natural sou eu. O ungido é ele (Haddad)." Foram dois meses remando contra a maré.

Business
O primeiro-ministro da Turquia, Recep Erdogan, em encontro com a presidente Dilma, revelou que empresas turcas têm interesse em investir no Brasil em aeroportos, estaleiros, obras relacionadas à Copa do Mundo e no trem-bala.

O VICE Michel Temer vai a Vitória (ES), na próxima sexta-feira, para o lançamento da candidatura do ex-governador Paulo Hartung à prefeitura da cidade.

PERFIL. O ministro Aldo Rebelo (Esporte) está procurando uma mulher, com atuação numa agência internacional, como o Banco Mundial, para assumir a secretaria-executiva da pasta.

O MINISTRO Moreira Franco (SAE) acertou, na França, que os conselhos de Desenvolvimento Econômico do Brasil e da Europa vão promover um fórum acadêmico para debater a crise mundial.

ANCELMO GOIS - Cartão de débito

Cartão de débito
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 05/11/11

A conta é de um graúdo do setor. Nos oito anos do governo Lula, o número de correntistas dos bancos brasileiros dobrou.

HORA DO CAFEZINHO 
A doença de Lula tem sido assunto em Cannes, nos intervalos da reunião do G-20.
Além de Sarkozy, que declarou “amor por Lula”, alguns participantes do encontro fazem comparações com Steve Jobs. Dizem que o brasileiro logo expôs a doença e iniciou o tratamento. Já o mago da Apple escondeu o câncer de amigos e acionistas, e fugiu dos médicos.

VOLTA À VACA FRIA 
Segunda, depois do fim de semana do G-20 em Cannes, Dilma terá reunião no Planalto com líderes da base aliada.

BOLETIM MÉDIC
Pedro Simon, o senador, que é um dos mais falantes no plenário, mesmo às sextas, quando o Congresso fica às moscas, fez falta ontem, em Brasília.
Recupera-se de uma cirurgia na boca, e os médicos o proibiram de falar. Terá de ficar mudo até quarta. 

O PETRÓLEO É NOSSO 
Magno Malta, o senador capixaba, planeja um ato na Via Dutra, segunda agora, contra a tunga dos royalties do Espírito Santo, do Rio e demais Estados produtores.

RATOS NA FAZENDA 
Reapareceu o ninho de ratos que já andou infestando o térreo do Ministério da Fazenda, em Brasília.
Desta vez, no mezanino.

DUETOS DE ARLINDO 
A Deckdisc prepara uma homenagem a Arlindo Cruz.
Será um CD do sambista com outros músicos. Vai se chamar Arlindo Cruz convida e terá 14 faixas, com Maria Rita, Dona Ivone Lara, Sandra de Sá, Marcelo D2, Zeca Pagodinho e outros.

‘MARIO DA PENHA’ 
A juíza Ana Cláudia Veloso Magalhães, da 1ª Vara Criminal de Anápolis, GO, aplicou a Lei Maria da Penha para condenar Carlos Eduardo Leão por ter agredido fisicamente uma vítima chamada... Alexandre Roberto Kley.
Alexandre é transexual. Manteve o nome, apesar de ter feito cirurgia de mudança de sexo.

DOUTORES NEGROS
Frei David dos Santos, da ONG Educafro, grande batalhador das cotas no Brasil, terá reunião segunda, na USP, para discutir a ausência de negros no mestrado de Direito.

OS FILMES DO REI 
Os filmes com Roberto Carlos dirigidos por Roberto Farias nos anos 1960 e 1970 ganharão uma mostra, dia 10, no Festival de Vitória.
De lá, Roberto Farias vai a Portugal para uma homenagem no Festival do Funchal.

SHREK ABRAVANEL 
Tiago Abravanel, o neto de Sílvio Santos que brilha como Tim Maia no teatro, viverá o ogro Shrek em outro musical, em 2012. 

JOGOS NA TRIBO 
Aldo Rebelo, o novo ministro dos Esportes, prometeu a Marcos Terena ir aos Jogos Indígenas, dia 5 agora, em Porto Nacional, no Tocantins.

SARDINHA NA ONU 
O embaixador brasileiro Henrique Sardinha foi eleito para o Comitê de Contribuições da ONU, que analisa a metodologia das contribuições dos países-membros para o orçamento da entidade.

TUTTY VASQUES - Saída honrosa



Saída honrosa
TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 05/11/11

A proposta de uma espécie de Bolsa Família Global que Dilma Rousseff levou a Cannes é só a primeira parte de um projeto ainda mais ambicioso da presidente. O próximo passo será sugerir o ministro Carlos Lupi para executar o serviço na Organização Internacional do Trabalho (OIT). Genial!

Igual novela

Depois de 520 dias em total isolamento para simulação de uma viagem a Marte, os seis astronautas cobaias da experiência voltaram ao mundo real com a sensação de que não perderam muita coisa.

Verbo papandrear

Em defesa do premiê grego Georges Papandreou, vale dizer que todo mundo tem de vez em quando uma baita ideia de jerico como essa do referendo popular sobre o plano de resgate da Grécia. Enfim, eu papandreei, tu papandreastes, ele papandreou. Acontece!

Foi mal!

Esta coluna cometeu ontem um erro jornalístico grosseiro: chamou de Agnelo Rossi o governador Agnelo Queiroz, do Distrito Federal. Agnelo Rossi foi o brasileiro que mais alto subiu na hierarquia eclesiástica, chegando a cardeal-decano, quase um santo! Que Deus me perdoe, não houve intenção de ofender. Juro!

Cadeia alimentar

A notícia de que Adriano terminou o namoro com a escultural Luana Kisner preocupou os fisioterapeutas do Corinthians. Será que o Imperador trocou de dieta de novo por conta própria, caramba?

Justiça seja feita ao pessoal técnico do Ministério da Educação, que em última análise é responsável pela lambança dos exames, cabe aqui uma ressalva atenuante dos erros crassos cometidos em série no Enem: a ONU também não dá uma dentro!

Por exemplo: essa contagem de araque dos 7 bilhões de seres humanos do planeta, francamente, se fosse aqui no Brasil, o Ministério Público já teria pedido para anular a questão.

A ideia de dar a cada habitante da Terra um número por ordem de entrada em cena, premiando com tratamento de celebridade global o felizardo que chegasse ao mundo com o chassi 7.000.000.000, só poderia dar em confusão.

Além da recém-nascida filipina que tentou se proclamar no grito pouco antes da meia-noite do domingo passado em Manila, dois russos, uma indiana e outros tantos brasileiros cujos pais batizaram de "Setebi" reivindicam a primazia da marca na imprensa.

Por muito menos, cá pra nós, o Inep está tendo de brigar na Justiça para evitar a anulação de 13 ou 14 questões da última prova do Enem.

Essas coisas a oposição não vê - ô, raça!

Turnê ameaçada

Fãs brasileiros de Ringo Starr estão preocupados! Já pensou se, na passagem pelo Rio, o baterista pega a gripe do João Gilberto (foto)? Parece que a danada é implacável com quem tem mais de 70 anos!

LEONARDO CAVALCANTI - Haddad partido


Haddad partido 
LEONARDO CAVALCANTI
CORREIO BRAZILIENSE - 05/11/11

Como se a confusão fosse pouca, o Ministério da Educação acabou envolvido em mais um imbróglio. Refiro-me à contratação de empresas de fachada pelo Inep, o mesmo instituto responsável pelo Enem. Esse sim, o assunto que parece mais difícil de ser explicado na Esplanada



Fernando Haddad se movimenta em dois cenários públicos. No primeiro, o petista é o candidato ungido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para disputar a prefeitura de São Paulo. No segundo, ele é o ministro alvejado por críticas contra o que seria a principal vitrine da gestão à frente da pasta da Educação.

Os cenários, apesar de próprios, em vários momentos são uma extensão do outro. Haddad, o que era de se esperar, está pouco confortável nos dois papéis: o de candidato produzido por Lula e o de ministro levado às cordas. A estratégia é tentar encenar um personagem por vez, o que não é, convenhamos, tarefa fácil.

Na última semana, Haddad foi levado para o centro das controvérsias por causa da pressão exercida sobre Marta Suplicy para abandonar a disputa eleitoral em São Paulo e do vazamento da prova do Enem. Os dois assuntos podem até ser tratados em separado, mas apenas nos casos de esperteza intelectual.

Um candidato — dispute ele o cargo de síndico de prédio ou de presidente da República — leva com ele todas as ações e características. O exemplo recente é o de Dilma Rousseff, que, na campanha do ano passado, teve de responder sobre denúncias contra a então chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, a auxiliar mais próxima.

O cenário onde Haddad inicia os primeiros passos como candidato tem coadjuvantes de peso e um enredo instigante, incluindo a história de uma personagem abandonada, no caso Marta Suplicy — “não existe fúria no inferno igual à de uma mulher desprezada”, diria o dramaturgo inglês William Congreve (1670-1729).

Marta foi retirada à força da disputa com a desculpa de que nada poderia contrariar Lula enquanto o ex-presidente se trata de um câncer. É um argumento, mas que não garante a vitória de Haddad. Aliás, pacificar petistas e obter o apoio de Marta e dos aliados dela em São Paulo talvez seja a parte mais difícil da história.

Jogo de luzes
Ao pular para o cenário onde reluz o vazamento do Enem, Haddad conquistou uma pequena vitória. Ontem, como se sabe, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região suspendeu a liminar que anulava as 13 questões do exame para o todo o país, que se tornaram inválidas apenas para alunos de um colégio de Fortaleza.

Nem a desistência de Marta nem a decisão da Justiça, porém, melhoram a situação de Haddad. E, como se a confusão fosse pequena, o Ministério da Educação acabou envolvido em novo imbróglio. Ao longo desta semana, Haddad se viu numa enrascada maior do que a disputa com petistas e o vazamento das provas.

Trata-se da contratação de empresas de fachada pelo Inep, o mesmo instituto responsável pelo Enem. A repórter Alana Rizzo, deste Correio, mostrou que uma das empresas de informática tinha capital de R$ 3 mil, mas assinou contratos de R$ 12,5 milhões. Uma outra tem como donos músicos sertanejos.

A cada dia, o caso ganha novas nuances, como se fosse um saco sem fundo. O laranjal do Inep é hoje o assunto mais difícil de ser explicado na Esplanada.

Marquetagem
A história do deputado estadual Marcelo Freixo (PSol) de deixar o Rio de Janeiro em busca de proteção contra as milícias parecia uma das mais geniais ideias de marketing político. Mas deu tudo errado. O camarada disse que iria embora do país por conta das ameaças de morte. Passaria um mês fora, com o apoio da Anistia Internacional. O jornal O Globo descobriu, entretanto, que Freixo, pré-candidato a prefeito do Rio, foi convidado a dar palestras sobre a atuação das milícias.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Vão encarar?
SONIA RACY
O ESTADÃO - 05/11/11

O São Paulo optou pela Andrade Gutierrez para ser sua parceira na construção de uma arena móvel para shows, projetada por Ruy Ohtake, segundo alta fonte do clube. E será a empreiteira a escolher por uma terceira empresa de shows para operá-la.

A arena gigante está projetada para ser montada no meio do gramado. E retirada ao término de cada evento. Englobará espaço dentro do estádio de modo a permitir que 25 mil pessoas vejam os shows sentadas nas cadeiras e arquibancadas.

Encarar 2?
Retorno? Os dirigentes do clube calculam realizar de 20 a 25 eventos por ano, a um tíquete médio de R$ 150.
Detalhe: em troca da concessão, a Andrade Gutierrez faria a cobertura de todo o estádio do Tricolor.

Martelo
Dagoberto assinou pré-contrato com o Inter. Por R$ 4 milhões, vai para Porto Alegre daqui a seis meses.

Explosivo
Enterrada a intenção do MST de usarterras das Forças Armadas para fins de reforma agrária. "A gente sabe como isso começa, mas não sabe como termina", justificou integrante de reunião comandada por Gilberto Carvalho, esta semana, no Palácio do Planalto.

Explosivo 2
O MST, desde 2007, pleiteia terras do Exército em Papanduva e Três Barras (SC). Usadas cara treinamento. 

Outro senão? As inúmeras minas enterradas por lá.

Irmã camarada

Há quem lembre que Nádia Campeão, cotada para trabalhar com Aldo Rebelo, foi uma das mentoras políticas de Orlando Silva no PC do B.

Passou por ela, entre outras, a decisão de escolhê-lo presidente da UNE.

Todos juntos

A Fundação Bill & Melinda Gates fechou parceria com a Agência Brasileira de Cooperação. Para levar a África e Ásia o know-how do País na área de agricultura.

De plástico

Ken, o maridão, receberá homenagem durante a Convenção de Colecionadores de Barbie, que acontece hoje e amanhã no IED. A exemplo da boneca, ele também completou cinco décadas este ano... com corpinho de 20.

Dos Pampas
A gaúcha Eva Chiavon - que até o início da semana era secretária da Casa Civil de Jaques Wagner - assume a secretaria-executiva do Planejamento de Miriam Belchior.

Missão? Acelerar as obras de infraestrutura do PAC.

Pampas 2
Entre elas, a Ferrovia Oeste-Leste, que ligará Figueirópolis, no Tocantins, a Ilhéus, na Bahia, onde será construído novo porto para escoar minério de ferro e grãos.

Plumas e penas
Prometendo ser um evento de peso, mostrando unidade, revoada de tucanos aterrissa segunda, no Rio, para participar de seminário do Instituto Teotônio Vilela, organizado por Elena Landau. Com objetivo de construir uma nova agenda para o Brasil, será aberto por Tasso Jereissati e encerrado por FHC. Participam Armínio Fraga, Pérsio Arida, Gustavo Franco, Edmar Bacha, Simon Schwartzman, entre outros.

Não participa: José Serra, que está fora do Brasil.

Danos e reparação
Luiz Eduardo Greenhalgh, advogado de Cesare Battisti, levou a TV Aberta à Justiça. Receberá cem salários mínimos de indenização por danos morais.

O canal público e sem fins lucrativos - mantido, inclusive, pela OAB - tentou oferecer direito de resposta por reportagem que o citava. Mas não houve jeito.

Na frente
Alvaro Garnero lança DVD. Segunda, na Fnac Pinheiros.
Inos Corradin expõe na galeria de arte da Câmara Federal. A partir de terça.
Luca Gozzani comanda o Gourmet Experience. Segunda, na Casa Fasano.
Ariadne Cantú lança Retalhos de Verdades. Segunda, na Cultura do Villa-Lobos.
Fabio Porchat é curador na estreia da Casa Office. Segunda, no Jockey.•Está acontecendo o Tapas Week. Organizado pela Embaixada da Espanha.
Tem festival de estrogonofe no Freddy.
O inferno astral do governador tem data para acabar. Segunda, Alckmin faz anos.

GOSTOSA


MARCELO RUBENS PAIVA - Volta, gigante



Volta, gigante
MARCELO RUBENS PAIVA
O Estado de S.Paulo - 05/11/11

Num Estado autoritário, o grupo que toma o poder considera seus opositores inimigos. A matemática é simples: utiliza todos os meios de repressão para manter a ordem interna. A polícia passa a agir não a favor do cidadão, mas contra.

Durante a ditadura brasileira, a ausência da PM nos campi universitários foi a munição que precisávamos para acabar com ela. Neles, iniciamos os movimentos pela Anistia e Liberdades Democráticas.

As primeiras passeatas e manifestações saíram dos campi. A sociedade civil, inclusive a Igreja, rompeu com o regime depois do movimento estudantil reorganizado.

Num Estado democrático, deveríamos dar boas-vindas à presença da PM na USP, para combater a epidêmica violência urbana e dar segurança aos alunos.

No entanto, herança de tempos atrás, as rondas passaram a dar batidas em estudantes à procura de entorpecentes. E flagrou três deles com maconha. A prisão causou protestos, quebra-quebra e a ocupação de prédios da administração.

Não é de hoje que a polícia passa muito tempo revistando a juventude em busca de uma ponta de maconha, para um achaque. A prática existe desde que sou jovem. Nas ruas e estradas. Nos postos policiais rodoviários, em que dão uma geral em nossos carros, enquanto passam carros e cargas roubadas, armas e contrabando. Quem já não foi parado nos postos de Paraty e Penedo e não levou uma geral?

No Rio, basta ver uma placa de São Paulo que a PM faz uma revista dura. E se acha algo, extorsão na certa. A sociedade brasileira quer que parte da força policial continue "perdendo tempo" com usuários comuns?

Os três estudantes da USP foram levados para a delegacia e liberados horas depois. Alguns defenderam a ação da polícia. Afinal, fumar maconha é crime, e uspianos não deveriam se sentir acima da lei.

Errado. A Lei 11.343/06, que entrou em vigor em 2006, revogou a n.° 6.368/76 e instituiu novas normas reguladoras quanto à posse de tóxicos (artigo 28).

O crime de porte de substância entorpecente para uso próprio não impõe mais pena de detenção ou reclusão. As sanções previstas são de cunho socioeducativo, como prestação de serviços e admoestação verbal.

Se o artigo 28 não prevê pena de detenção ou reclusão, está descriminalizada a conduta do porte de entorpecentes para uso próprio.

O jurista Luiz Flávio Gomes escreveu: "Se legalmente, no Brasil, crime é a infração penal punida com reclusão ou detenção, não há dúvida que a posse de droga para consumo pessoal com a nova lei deixou de ser crime, porque as sanções impostas para essa conduta, advertência, prestação de serviços à comunidade e comparecimento a programas educativos, não conduzem a nenhum tipo de prisão. Aliás, justamente por isso, tampouco essa conduta passou a ser contravenção penal, que se caracteriza pela imposição de prisão simples ou multa."

"Em outras palavras: a nova lei de tóxicos, no art. 28, descriminalizou a conduta da posse de droga para consumo pessoal. Retirou-lhe a etiqueta de infração penal, porque de modo algum permite a pena de prisão. E sem pena de prisão não se pode admitir a existência de infração penal no nosso país", completou. Sua tese está disponível no site www.jusnavegandi.com.br.

Não é melhor avisar a PM? Não prestaria um serviço melhor se estivesse atrás dos verdadeiros criminosos?

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Foi a reitoria da USP que pediu que a Linha Amarela do metrô, ainda na prancheta, não passasse pelo campus, alegando questões de segurança.

No projeto original, as estações seriam na Praça do Relógio e no HU (Hospital Universitário). Construíram no Butantã.

Os milhares de alunos, professores, funcionários e visitantes que circulam diariamente pela maior universidade da América Latina são obrigados a caminhar mais de um quilômetro até a portaria da instituição.

No ano passado, moradores de Higienópolis assinaram um manifesto para que o metrô não construísse uma estação no coração do bairro. "Não queremos uma gente diferenciada", disse uma moradora, o que gerou protestos carregados de ironias.

Agora, senhoras de Ipanema abraçaram a tombada Praça Nossa Senhora da Paz e pediram um não à construção de uma estação do metrô. As do Leblon também pedem que a linha siga subterrânea até a Gávea.

Síndicos de prédios de Pinheiros pediram que a Prefeitura não leve para o bairro um albergue de moradores de rua. Na semana passada, um banco da Avenida Paulista cercou com grades as muretas da sua agência, que serviam de ponto de encontro, lazer e paquera nos fins de semana. Imitou a agência da Caixa Econômica, também na Paulista, que colocou gradis de proteção para impedir a circulação de pedestres na praça interna.

Não se encontra em outros países a divisão de circulação entre proprietários e serviçais. Difícil entender por que há elevadores sociais e de serviço em quase todos os condomínios. E mesmo com o aviso afixado, obrigado por lei, de que é proibida a discriminação, empregados, diaristas, faxineiros são compelidos a não usar o social.

Nossa República, proclamada por generais, substituída pela elite do café com leite, recomposta pelo populismo, que a transformou numa ditadura de inspiração fascista, retomada por forças democráticas que viviam em conflito com trabalhistas, que detonou uma ditadura violenta que durou 21 anos, demora para se cristalizar.

A violência urbana, prova da fraqueza das instituições públicas, da falência do Estado, da ausência de justiça social, serve de álibi para que se levantem grades, portarias e sistemas de segurança que "protejam" uma classe da outra.

A tensão social vitima. A corrupção na Justiça e no Executivo atravancam o desenvolvimento e impedem a distribuição da riqueza pública.

A Previdência separa cidadãos em duas castas: os comuns e os servidores públicos. No mês em que se comemora a Proclamação da República, cujo sentido etimológico é "bem comum", deveríamos nos perguntar se ela foi de fato proclamada.

O viral da Red Label que emociona, em que as pedras do Pão de Açúcar se transformam num gigante que se levanta e sai andando, sob slogan "o gigante adormeceu", é simbólico.

Pois ele se levanta e vai embora. Vai dar um rolê no mar, enquanto nos dizem "keep walking, Brasil". Deveria ficar no continente para ajudar a nossa República. Volte, gigante. Não dê as costas para nós.

REGINA ALVAREZ - Bombeiros


Bombeiros
REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 05/11/11

A reunião de cúpula do G-20 acabou sem uma sinalização mais firme de como será a ajuda dos emergentes ao bloco europeu por meio do Fundo Monetário Internacional (FMI). A expectativa inicial de um acordo em torno dessa ajuda foi frustrada e a decisão adiada para fevereiro. Essa indefinição só reforça as dificuldades para amarrar essa ajuda. São muitos interesses em jogo e alguns conflitantes.

Os analistas estão divididos sobre os resultados da cúpula, mas a sensação que prevalece é de frustração. A reunião foi completamente ofuscada pela crise do euro e pela decisão da Grécia de submeter o pacote de resgate a um referendo popular.

A pauta original do G-20 foi colocada de lado para que os líderes do bloco pudessem atuar como bombeiros da crise grega. A reação forte atingiu o objetivo de fazer os gregos caírem na real. Ou aceitam o pacote de ajuste duro imposto pelo bloco europeu, em troca da renegociação da dívida, ou deixam a zona do euro.

Mas todo esse estresse causado pela Grécia durante o encontro de cúpula serviu para ressaltar a gravidade da crise na zona do euro e como a solução ainda está distante. O economista Antonio Correa de Lacerda, da PUC-SP considera que a reunião teve um resultado razoável no combate à crise, na medida que a situação da Grécia foi equacionada, mas destaca que há um longo caminho a percorrer.

- O encaminhamento da questão grega vai abrir espaço para a recuperação da economia. Mas o quadro é ainda de muita incerteza. O problema da Europa está longe de uma solução. Não está claro, por exemplo, como o fundo de resgate será fortalecido com aporte de recursos.

O economista Marcelo Toledo, do Bradesco, diz que o mercado já estava cético em relação aos resultados do encontro. Pelo que viu acontecer durante a semana, o mercado já não contava que da Cúpula do G-20 pudesse sair grandes decisões sobre a crise. A possibilidade de um acordo concreto sobre a ajuda do FMI , incluindo o montante de recursos, surgiu ontem nos bastidores, mas não se concretizou. A reação positiva veio com a notícia de que a Itália será monitorada pelo FMI.

- Acho que o mercado está cético. Não acredito que os países emergentes conseguirão chegar tão cedo a um acordo para ampliar a capacidade do FMI e ajudar a zona do euro - prevê.

Retrato argentino I
O economista Fernando Montero, da Convenção Corretora, traçou um perfil da economia argentina que ajuda a entender os desequilíbrios do vizinho e as medidas duras adotadas por Cristina Kirchner - restrição à compra de dólares e corte de subsídios - logo após uma vitória avassaladora nas urnas. O gráfico abaixo exibe a trajetória dos gastos e das receitas tributárias nacionais do setor público não financeiro. O país saiu da crise em 2002 com carga de 16,1% do PIB. Nos nove anos do casal K no poder, esta passou a 29,1% do PIB, com alta de 80% da receita tributária. O PIB acumulou expansão de 92%, com média anual de 7,5%, o que elevou a arrecadação real de tributos em 246%.

Retrato argentino II
Só que no governo de Néstor Kirchner os gastos cresciam sobre receitas genuínas, explica Montero. Havia superávits fiscal e comercial, câmbio desvalorizado e inflação baixa. Sob Cristina, a partir de 2008, as receitas caíram, mas mantiveram-se os gastos elevados. Ocupação da ociosidade na indústria, alta nas commodities e câmbio ainda elevado pressionaram a inflação. Para controlá-la, o governo começou a subsidiar fortemente os serviços públicos, maquiar índices e atrasar o câmbio. Agora a Argentina enfrenta o problema de commodities mais baixas, o que deprime uma fonte importante de dólares e de receitas fiscais. O crescimento menor do Brasil também afeta as exportações argentinas.

- O país terá de depreciar o câmbio real e remover subsídios, o que alimentará uma inflação já muito elevada numa economia aquecida. Precisará moderar gastos e a moeda - recomenda Montero.

RUY CASTRO - Cáries no além


Cáries no além
RUY CASTRO 
FOLHA DE SP - 05/11/11

RIO DE JANEIRO - Era um atendimento de emergência, domingo, ao meio-dia, num consultório dentário do Leblon. De repente, sob pesado silêncio, ouviu-se um ruído -um baque- na sala ao lado.
Como eu e o dentista estávamos sozinhos no prédio, só podia ser algo que havia se deslocado e caído, talvez pelo vento entrando por uma janela aberta. O dentista sorriu. Foi averiguar e voltou dizendo que nada caíra no chão, as janelas estavam fechadas e aqueles ruídos sem explicação eram normais à noite, depois do expediente, ou nos fins de semana.
Contou que, em outras ocasiões, ele já ouvira o som de um motorzinho de broca saindo de alguma sala do consultório. Ou de um raio-X disparando sozinho. Podiam ser também ruídos de passos subindo ou descendo a escada que levava ao andar de baixo, que ele dividia com outro dentista. E jurou que, certa vez, escutou nitidamente um gargarejo, embora o paciente ainda não tivesse chegado e não houvesse ninguém nos dois andares.
Para seu alívio -pensava que só ele ouvia coisas-, seu colega lhe disse que também escutava esses ruídos quando usava o consultório em dias mortos (epa!). E não só isso como, certa vez, percebeu duas vozes (uma, tranquila e profissional; a outra, angustiada) discutindo a necessidade de um tratamento de canal. Foi investigar e não havia ninguém. Não admira que nenhuma secretária que eles contratavam parasse no emprego -todas levavam cantadas invisíveis em certas horas.
Meu dentista acredita que uma pequena comunidade de dentistas e clientes fantasmas está usando seu consultório fora dos dias e horas regulamentares. Já o que me espanta é constatar que a partida para o além não livra o cidadão de problemas dentários. Mas é bom saber que, mesmo lá, há uma plêiade de profissionais para tratar das emergências.

WALTER CENEVIVA - Os mortos


Os mortos
WALTER CENEVIVA
FOLHA DE SP - 05/11/11 

Recordo Verissimo: "O melhor modo de homenagear os mortos é tratá-los bem, com amor se possível, enquanto estão vivos".

MANUEL MARIA Barbosa du Bocage (1765/1805), um dos maiores poetas líricos da língua portuguesa, bebeu todas nos seus 40 anos de vida. Num soneto célebre reconheceu sua vida insana no tropel das paixões que o arrastavam e, já doente, pediu que soubesse morrer com honra aquele que viver não soube.
A preocupação do poeta talvez seja a de boa parte dos humanos. Por isso há um dia para homenagear os que faleceram, o que é justo. Também há os que aproveitam o feriado para passear, o que também é justo. Com os mortos, os dias para serem lembrados são todos.
No direito ainda persiste o gosto pelo latim. O ser humano que partiu passa a ser o "de cujus", aquele do qual se cuida na sucessão hereditária. Mesmo sem a vida, que já não tem, ainda repercute na alteração de contrato que assinou (às vezes até para o extinguir) e, na versão mais comum, se torna o "autor da herança". Essa estranha "autoria" é daquele que, tendo falecido, cria a sucessão hereditária. O conjunto dos bens e direitos deixados por ele se transmite "desde logo aos herdeiros legítimos e testamentários" (Código Civil, art. 1.784).
Há ainda as mortes legais daqueles que não se sabe se efetivamente morreram. Apartaram-se de suas famílias e de seus conhecidos. Sumiram sem deixar notícia. O direito denomina a situação criada de morte presumida, possível na paz e na guerra. A alternativa, no acidente com o avião da Air France que caiu no Atlântico, foi diferente. O primeiro requisito consistiu em encontrar os corpos, para o que a Marinha do Brasil desenvolveu cuidadosa atividade. Abandonadas as buscas, o segundo requisito foi identificar um a um os que embarcaram no Airbus. Essa atividade é imprescindível para abertura do inventário dos mortos, na transformação fatal dos casados em viúvos, dos filhos em órfãos, enfim, na substituição das relações familiares e pessoais por outras.
Há situações que criam maiores embaraços, na incerteza de filiações duvidosas, na existência de dois ou mais lares familiares e assim por diante. Tornam-se mais caros, no sentido de terem as despesas aumentadas.
Nos acidentes em mar alto ou no ar, um ponto relevante consiste em confirmar a presença dos encontrados na mesma situação: foram comorientes. A lei admite que pereceram simultaneamente.
A comoriência existe, mesmo em terra firme, sempre que não seja possível determinar, na morte conjunta, quem morreu antes. As formalidades são mais complicadas, porque para os que se encontraram nessa situação, confirmado o falecimento, deve ser efetuado o registro civil da morte. A Lei dos Registros Públicos (6.015/73) diz no art. 77 que "nenhum sepultamento será feito sem certidão do registro civil do lugar do falecimento".
A mesma lei dá a regra para as exceções: "poderão os juízes togados admitir a justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe", feita a prova da presença no lugar do evento, mesmo que não encontrado o cadáver.
O frio direito não esgota o tema. Para todas as alternativas recordo a boa lição de Erico Verissimo, em "Solo de Clarineta": "O melhor modo de homenagear os mortos é tratá-los bem, com amor se possível, enquanto estão vivos".

SÉRGIO AUGUSTO - Algumas relações perigosas



Algumas relações perigosas
SÉRGIO AUGUSTO 
O Estado de S.Paulo - 05/11/11

Como é sabido, João amava Teresa, mas esta amava Raimundo, que só tinha olhos para Maria, que se amarrava no Joaquim. Vai daí que nada deu certo: João mandou-se para os Estados Unidos, Teresa foi para um convento, Raimundo morreu num desastre, Maria virou solteirona e Joaquim se matou.

Em prosa, a quadrilha poética de Drummond perde a graça, reduz-se a um promissor esboço ficcional, que tanto pode gerar uma tragédia sobre desilusões amorosas como um pífio dramalhão sobre desajustes afetivos. Ou mesmo um arrazoado sobre contradanças e coincidências, reais ou ficcionais, tão ao gosto de pós-modernistas como Enrique Villa-Matas e David Markson.

Na forma original, a trouvaille de Drummond me serviu de inspiração para uma brincadeira que por uns tempos, no final dos anos 1980, compartilhei com os leitores da Folha de S. Paulo e da revista Bundas. Embora inspirada em Drummond, minha quadrilha ganhou um nome laclosiano, Relações Perigosas, não porque desejasse homenagear Choderlos de Laclos ou pegar carona no sucesso da versão para o cinema de Les Liaisons Dangereuses, mas por causa das ligações que nela se articulam, ao sabor de afinidades e coincidências gratuitas, porém autênticas, como convém a uma brincadeira intelectualmente saudável.

Sempre entram na dança (ou contradança) oito figuras, ligadas entre si por sete diferentes afinidades. Quem abre a roda obrigatoriamente a fecha, pois sem circularidade o jogo, a meu ver, não tem a mesma graça. A quadrilha de Drummond tem uma circularidade distinta: em vez de João, quem fecha a roda é um personagem que só entra em cena para dar à dança um insólito, se bem que arredondado, desfecho.

Algumas Relações Perigosas:

Olavo Bilac não gostava de música, como João Cabral de Melo Neto, que também foi diplomata, como Vinicius de Moraes, que viveu alguns anos em Paris, como Susan Sontag, que morreu de leucemia, como Madame Curie, que comia muito pouco, como Mahatma Gandhi, que só se vestia de branco, como Thiago de Mello, que é poeta, como Olavo Bilac.

Noel Rosa foi tirado a fórceps do ventre materno, como Frank Sinatra, que se casou com Ava Gardner, como Artie Shaw, que era louco por café, como Voltaire, que esteve preso na Bastilha, como o Marquês de Sade, cujo nome deu origem a uma palavra, como o de Joseph I. Guillotin, que também nasceu na França, como a Dama das Camélias, que morreu de tuberculose, como Noel Rosa.

Claude Debussy vivia criticando Maurice Ravel, como Igor Stravinski, que se aventurou no jazz, como Darius Milhaud, que sentia saudades do Brasil, como Gonçalves Dias, que era fascinado pelos nossos índios, como Sting, que tentou ser ator de cinema, como Yukio Mishima, que, apesar de homossexual, casou-se com uma mulher, como Paul Verlaine, que foi influenciado pelo impressionismo, como Claude Debussy.

Doris Lessing trabalhou de telefonista, como Aristóteles Onassis, que transou com Eva Perón, como Juan Domingo Perón, que era filho bastardo, como Richard Wagner, que acreditava em reencarnação, como Henry Ford, que cultivou maconha em seu quintal, como Dennis Hopper, que era fascinado por Los Angeles, como Ray Bradbury, que acreditava em seres extraterrenos, como Doris Lessing.

David Markson faz algo parecido, salvo engano desde meados dos anos 1990, mas sem a mesma rigidez estrutural. Livre dos constrangimentos da circularidade obrigatória, dispõe de forma contínua, com variada pontuação, o seu chorrilho de "cultura inútil", basicamente de natureza literária, montando uma cadeia de analogias e contrastes que se imbricam ao longo de, em média, 200 páginas.

A um comentário de Beckett sobre Joyce justapõe-se outro, quase ipsis litteris, de Hannah Arendt sobre Heidegger. Ao motivo da dispensa de Eliot do serviço militar (uma hérnia) justapõe-se o astigmatismo que livrou Pound de também arriscar a vida nos campos de batalha da 1.ª Guerra Mundial. Curiosidades do gênero "pais de filhos bastardos", "filhos de pais analfabetos", "escritores que não concluíram o ensino médio", ou trivialidades sobre carências, manias e deficiências de tais e quais criadores (Zola tinha pavor de raios e trovões, Schopenhauer falava sozinho no meio da rua, Edmund Wilson morreu sem ler Dom Quixote, Wagner usava ceroulas cor-de-rosa, Victor Hugo jamais conseguiu ir além da página 4 de O Vermelho e o Negro) recendem a almanaque, mas o modo criativo como Markson organiza e cadencia essas informações faz toda a diferença.

Lembrar que Huckleberry Finn tem 13 anos é uma coisa; contrastar sua idade com a de Raskolnikov (10 anos mais velho) é outra, inteiramente diferente. Se reproduzidos sem as mesmas pausas e sem os mesmos verbos, certos paralelismos (Jack, o Estripador e Osama bin Laden eram canhotos; Brahms e Abraham Lincoln tinham olhos azuis, como Hitler; ninguém sabe onde Spinoza, Rembrandt e Christopher Marlowe foram enterrados; Eliot se correspondia com Groucho Marx, por iniciativa do poeta) perderiam muito do seu impacto.

Markson qualifica seus bricabraques de "novels" (romances), por mera convenção taxinômica. São outra coisa, ainda sem nome, a que não faltam originalidade e um certo travo beckettiano. A um deles, publicado em 2001, deu o título de This Is not a Novel (Isto não é um Romance), embora nada o distinga de seus outros bricabraques - Reader's Block, Vanishing Point e The Last Novel -, todos à espera de uma tradução ou, pelo menos, de uma inclusão no catálogo de importados da Livraria Cultura.