domingo, junho 26, 2011

MINISTÉRIO DE ALOPRADOS - REVISTA VEJA


MINISTÉRIO DE ALOPRADOS 
 REVISTA VEJA

CLIQUE NAS IMAGENS PARA AMPLIAR


CLAUDIO DE MOURA CASTRO - No Reino dos Coliformes

No Reino dos Coliformes
CLAUDIO DE MOURA CASTRO
Revista Veja

CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR

MAÍLSON DA NÓBREGA - Falácias e verdades

Falácias e verdades
MAÍLSON DA NÓBREGA
Revista Veja

CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO - FHC e o carcereiro

FHC e o carcereiro
ROBERTO POMPEU DE TOLEDO
Revista Veja

CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR

FERNANDA TORRES - Culpa

Culpa
FERNANDA TORRES
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/06/11 

Tive certeza de que todo o mal que nos rodeia só era possível graças à existência de egoístas abjetas como eu


NA ÉPOCA em que a guerra nos morros do Rio de Janeiro espocava bombas pela madrugada, fui convidada para um jantar em torno de Salman Rushdie.
Durante a noite, mantive uma distância envergonhada do legendário autor. Nunca li Salman Rushdie, nem mesmo "Os Versos Satânicos", livro considerado ofensivo ao profeta Maomé e que levou o aiatolá Khomeini a emitir uma fatwa conclamando os muçulmanos devotos a assassinarem o escritor.
Já na sobremesa, o grupo no qual eu havia me refugiado foi chamado para se aproximar do Prêmio Nobel de Literatura. Na mesa da varanda, ele narrava sua lembrança do fatídico 11 de Setembro.
Depois de passar mais de dez anos escapando da morte, Rushdie fixou residência em Nova York. No dia do ataque ao World Trade Center ele se encontrava em uma outra cidade dos Estados Unidos a trabalho. Boston, se não me engano.
Angustiado com o horror dos acontecimentos que assistia impotente pela TV, Rushdie saiu a vagar pelas ruas na tentativa de aliviar a claustrofobia do quarto de hotel. No meio do caminho, avistou um templo ecumênico e entrou sem ter por quê. Lá dentro, alguns perdidos, como Rushdie, tentavam dar conta do sentimento geral de estupefação.
O inglês de origem indiana nos falou da solidariedade que se estabeleceu no lugar e do bem que a experiência entre pessoas desconhecidas lhe trouxe. A mesa fez um silêncio sincero, até que a mudez deu lugar a um discreto desconforto com a continuidade conversa.
"Salman...", arrisquei, "Depois de passar anos escondido, depois de todos os países pelos quais o senhor passou, não lhe veio um pânico terrível de ver justamente a cidade que havia escolhido para viver servir de alvo dos que o perseguiam?".
Surpresa, vi o rosto barbudo que tantas vezes cruzei no noticiário se virar para mim indignado. Em um inglês claro e pausado, Rushdie me passou uma descompostura violentíssima. Reiterou mais de uma vez que jamais pensaria em si mesmo no momento em que milhares de pessoas estavam morrendo. "Dying!", repetia ele, com os olhos pregados em mim.
Emudecemos todos. Eu, para sempre.
A pequena recepção acontecia na avenida Niemeyer, num condomínio espremido entre o mar e a favela do Vidigal. Um tiroteio ecoava do outro lado da rua, no labirinto de casebres que sobe a vertiginosa encosta até as escarpas lisas do morro Dois Irmãos. O som das metralhadoras era tão audível que parecia vir do jardim sobre o oceano.
Diante da reprimenda pela minha indiferença com o sofrimento alheio, vinda do autor de "Os Versos Satânicos", Prêmio Nobel da Literatura e carta marcada do Jihad, tive certeza de que os tiros lá fora, o caos da minha cidade, a miséria sem fim do país, todo o mal que nos rodeia só era possível graças à existência de egoístas abjetas como eu.
Não é um sentimento raro. O convívio com as grandes tragédias transforma qualquer drama existencial burguês em devaneio vil. A ira de Rushdie tem fundamento.
No livro "A Educação Sentimental", Gustave Flaubert narra a formação moral e sensual de Frédéric Moreau, que alimenta um amor platônico por uma mulher casada, a Senhora Arnoux. O pano de fundo é a Revolução de 1848 na França.
Bebendo à tarde, só, num bar da tumultuada Paris, Frédéric testemunha a entrada de um reformista no recinto. Com um discurso inflamado, o rapaz incita os presentes a se juntarem às hordas insatisfeitas e sai levando consigo meia dúzia de gatos pingados. Frédéric admira por alguns instantes o altruísmo dos revoltosos para concluir, em seguida, que seria incapaz de atitude semelhante. Constatação feita, o herói volta ao copo e aos devaneios emotivos de seu coração imberbe.
Eu tenho culpa de amar Flaubert.

MERVAL PEREIRA - Ideologias

Ideologias
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 26/06/11
A coalizão partidária que apoia o governo de Dilma Rousseff é a mais abrangente já organizada desde a redemocratização do país, unindo um leque amplo de partidos que vai, na teoria, da extrema-direita à extrema-esquerda, embora no Brasil seja difícil colocar-se partidos nos extremos do espectro político.

O PP tem características de extrema-direita quando o deputado Jair Bolsonaro radicaliza nas suas campanhas homofóbicas, ou defende a tortura como método de repressão política, mas não assume essas ideias como metas partidárias.

O PCdoB poderia ser classificado de extrema-esquerda, mas como se vê no debate sobre o novo Código Florestal, pode fazer acordos com os ruralistas na defesa mais abrangente da garantia da produção nacional de alimentos.

A disputa entre o Democratas e os dissidentes que deixaram o partido para formar o futuro PSD liderado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, demonstra que o espectro político que ocupa a centro-direita ainda pode ser um bom nicho eleitoral, embora nenhum político ouse assumir tal identificação.

O ex-deputado federal José Carlos Aleluia, na época em que foi líder do extinto PFL, chegou a esboçar uma definição mais explícita da posição doutrinária do partido, afirmando que pretendia ocupar o espectro político do centro para a direita.

Hoje, mesmo sem mandato, continua fazendo parte do grupo que "pensa" o Democratas, e acredita que o partido tem um papel "central" na política do país, evitando o termo "direita".

Já o deputado federal Chico Alencar, do PSOL do Rio, acha que problema maior do que partidos não se assumirem como de direita é "partidos que deixaram os princípios da esquerda não reconhecerem isso".

Ele diz que os que classificam o PSOL de extrema-esquerda "quase sempre são aqueles que ainda enxergam, com óculos de lentes interessadas, postura de esquerda no PT, PCdoB, PSB, PDT".

Chico Alencar define como "princípios da esquerda" a aposta na radical igualdade entre os seres humanos, respeitada sua diversidade, e sua viabilização na igualdade de oportunidades, através do que chama de "democracia de alta intensidade", de participação popular permanente, da socialização dos grandes meios de produção e dos meios de governar.

A busca do socialismo, que ainda consta do ideário do PT, por exemplo, seria, para Alencar, "obra de longo prazo histórico, a ser construída por milhões de cidadãos conscientes - sob pena de ser um arremedo autoritário de socialismo, com suas "dachas" e "nomemklaturas", como tantas vezes já aconteceu".

Segundo ele, muitos partidos com socialismo no nome, ou no programa, não têm hoje qualquer compromisso com esse projeto: "flexibilizaram fronteiras éticas e ideológicas, curvaram-se à lógica pragmática do poder. E, assim, vão sendo deteriorados pelo clientelismo, pelo fisiologismo, pelo patrimonialismo, pelas campanhas eleitorais milionárias com cabos eleitorais pagos - o que antes era uma heresia".

O deputado Chico Alencar cita o caso Palocci, a quem classifica de "próspero dirigente do PT", como o exemplo mais recente desta degradação. Mas cita também "o jovem Gabriel Chalita, tido como promissor quadro político, originário do PSDB, eleito deputado federal pelo PSB e agora no PMDB", que para justificar essas mudanças, alega que "todos os partidos são iguais".

Na análise de Chico Alencar, há, no Brasil, um "centrão conservador" que cria identidade, de fato, entre PT/PMDB e seus caudatários e PSDB/DEM e outros; entre governo e oposição conservadora. Inclusive em grave naturalização da corrupção, com um polo anulando a crítica do outro, por inautêntica.

"O anódino PSD de Kassab, onde tudo cabe, é expressão dessa descaracterização (hegemônica) política". Para ele, "os gatos podem se parecer pardos, mas não são, e nem cabem, todos, no mesmo saco, embora estejam, em conflito, na mesma cena política institucional".

O ex-deputado José Carlos Aleluia entende que as críticas aos partidos políticos "refletem o desconforto geral com a insensibilidade da classe política no que respeita à reforma política - ignorando solenemente que no governo representativo a democracia se exerce através de partidos políticos - e não há por que multiplicá-los".

Em termos programáticos, diz ele, devem advogar determinado modelo de sociedade, que não são muitos. Aleluia reivindica para seu partido "a procura de formas de melhorar a qualidade do processo político, inclusive não nos limitando à atuação legislativa".

Ele destaca que decorreu de iniciativa do Democratas a decisão do Supremo Tribunal Federal de que o mandato pertence ao partido, "oficializando nosso entendimento, nos termos da Constituição".

Graças a tal decisão, destaca Aleluia, passou a vigorar o princípio da fidelidade partidária, "sem dúvida grande avanço".

Ele ressalva que, a partir da criação da Frente Liberal "que viabilizou a transição pacífica dos governos militares, através da eleição de Tancredo Neves", seu partido nunca pretendeu se situar à esquerda do espectro político, nem sequer se confundir com a social democracia.

"Na verdade, ocupamos um papel central na vida política do país, assegurando a convocação da Assembleia Constituinte, compromisso que havíamos assumido no processo de abertura; alertando a Nação para os retrocessos que a Carta inseria e corrigindo-os, quando se apresentou a oportunidade".

Aleluia, depois de destacar que seu partido sempre trabalhou para garantir o funcionamento das instituições democráticas, diz que o Democratas mantém "os mesmos princípios e a determinação de construir uma nação onde o estado seja regulador e não protagonista em áreas em que a iniciativa privada é mais competente e tem mais a contribuir com o Brasil. Entendemos que o Estado deve cuidar prioritariamente da educação, da saúde e da segurança dos brasileiros".

GAUDÊNCIO TORQUATO - Presos na teia de aranha


Presos na teia de aranha
GAUDÊNCIO TORQUATO
O Estado de S.Paulo - 26/06/11

Vamos ao teste: trata-se de um país que, em poucos dias, registrou nos anais de sua História o seguinte pacote de ilícitos: extorsão contra empresas, fraudes em contratos públicos, falsidade ideológica, abuso sexual de crianças e adolescentes, ocultação de bens, formação de quadrilha, superfaturamento de licitações, enriquecimento ilícito e tráfico de drogas. Uma pista: os indiciados não são pessoas comuns, mas figuras que cumprem a missão de bem servir à comunidade; são autoridades públicas que fizeram o juramento de cumprir a lei, defender valores éticos e morais e dar bom exemplo. Adivinharam onde essa turma se abriga? Não é a Somália, país africano considerado o mais corrupto do mundo. O buraco da corrupção é aqui mesmo, nestas plagas que a ONG Transparência Internacional joga na 69.ª posição entre os países menos corruptos do planeta. Nota do pé do parágrafo: o ranking da criminalidade envolve prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e outras autoridades de diversos Estados brasileiros.

Nunca se viu fila tão extensa de representantes do poder público receber voz de prisão em um único mês, este em curso. Um rápido olhar na galeria flagra, por exemplo, os prefeitos de Abre Campo (MG), de Novas Russas (CE) e de Senador Pompeu (CE), o ex-prefeito de Mirassol (SP), o vice-prefeito de Embu-Guaçu (SP), o prefeito e alguns vereadores de Dom Aquino (MT), o prefeito de Taubaté (SP) e a esposa, o vice-prefeito de Campinas (SP) e a primeira-dama. O desfile de alcaides por corredores do xilindró desperta animação, pela aparente inferência no campo da moral, eis que a máxima de Anacaris, um dos sete sábios da Grécia, começa a ser reescrita por aqui: "As leis são como as teias de aranha, os pequenos insetos prendem-se nelas e os grandes rasgam-nas sem custo". Os nossos grandes agora enfrentam um alto custo. De fato, a moralização de costumes na condução da coisa pública ganha faróis acesos dos órgãos de fiscalização, entre os quais o Ministério Público (MP), o Tribunal de Contas da União e os Tribunais de Contas dos Estados. A questão suscita a dúvida: se o sistema de controles é apurado, por que ocorrem tantas ilicitudes na administração pública?

É oportuno lembrar que a administração abriga uma teia gigantesca de programas e serviços que começam na base do edifício público, constituída por 5.564 municípios, entra pelo segundo andar, onde estão os 27 entes estaduais, chegando ao piso mais alto, dominado pela maior das estruturas, a federal. E esta se espraia por todos os espaços, imbricando-se com outras malhas, formando interesses múltiplos e incorporando parcerias da esfera privada. Identifica-se, aqui, o que Roger-Gérard Schwartzenberg cognomina de o novo triângulo do poder nas democracias, que junta o poder político, a administração (os gestores públicos) e os círculos de negócios. Essas três hierarquias, agindo de forma circular, cruzando-se, recortando-se, interpenetrando-se, passam a tomar decisões que se afastam das expectativas do eleitor. A cobiça dos parceiros - gestores, empreendedores privados e núcleos políticos das três instâncias federativas - dita nova ordem no campo da administração.

Não é fácil separar o joio do trigo e perceber as tênues linhas que distinguem o bem comum do bem privado. A percepção é nítida diante de exageros como casos de superfaturamento, vícios de licitações, apropriação escancarada da coisa pública e flagrantes de ilícitos, por meio de gravações autorizadas pela Justiça. Pode-se aduzir, portanto, que a lupa dos órgãos de controle ajusta mais o foco nessa planilha. Há a considerar, ademais, que os descaminhos na estrada pública têm sido alargados pela evolução das técnicas. A ladroagem, hoje, é embalada por um celofane tecnológico de alta sofisticação, diferente dos costumes da Primeira República, quando a eleição do Executivo municipal assumiu relevo prático. Naquele tempo, o lema da prefeitada era: "Aos amigos pão, aos inimigos pau". O Brasil da atualidade sobe degraus na escada asséptica, apesar das camadas de sujeira que ainda entopem canais da administração pública. O MP acendeu luzes sobre os esconderijos e parece movido por entusiasmo cívico, haja vista a disposição com que se aferra à missão de proteger o patrimônio público e social.

A tarefa de impedir que a teia de aranha seja rasgada pelos grandes exige mais transparência de todas as estruturas públicas. Programas, ações, prazos e recursos devem ser amplamente divulgados. Seria útil que as comunidades acompanhassem de perto o fluxo das obras municipais, a partir de sua descrição em painéis afixados em praças públicas. Entidades do terceiro setor, muitas representando visões e demandas de grupos, poderão colaborar exigindo maior rigor. O fechamento das comportas da ilicitude seria completado por decisões mais ágeis da Justiça. Eis aí um dos impasses. Por ausência de punição ou por saberem que seus processos se esfumarão na névoa do tempo, indiciados continuarão a romper os limites do império normativo. Urge iluminar a escuridão dos porões do poder.

Aos prefeitos do interiorzão, um conselho: façam mais que calçamento e aterro, fontes de corrupção, como explicava, nos anos de chumbo, Drayton Nejaim, que foi deputado pela Arena e prefeito de Caruaru (PE), ao presidente de seu partido, Francelino Pereira: "Fui prefeito da UDN, me acusaram de roubo e eu saí pobre. Foi um sofrimento me eleger deputado e, depois, a minha mulher. Política se faz com muito dinheiro. Vou ser prefeito e sair rico da prefeitura".

Francelino quis saber o truque. Resposta: "Roubando muito". Ante a confissão escandalosa, o interlocutor reagiu, afirmando que o partido jamais iria admitir o crime. Nejaim não deixou por menos: "Não vai haver escândalo, presidente. Farei uma receita perfeita. Calçamento e aterro. Ninguém conta nem fiscaliza calçamento e aterro".

Reelegeu-se. Para fazer o que prometeu.

LUIZ SÉRGIO HENRIQUES - Itália e Brasil, aproximações


Itália e Brasil, aproximações
LUIZ SÉRGIO HENRIQUES
O Estado de S.Paulo - 26/06/11


Trocas, aproximações e empréstimos entre Brasil e Itália são mais do que naturais, à direita e à esquerda. Para não ir muito longe, e apontando só um fato decisivo na construção do Brasil moderno, foi no fascismo e na Carta del Lavoro que o Estado Novo se inspirou para regular corporativamente a economia e a vida associativa, disciplinando o mercado de trabalho e organizando, "pelo alto", a passagem para uma sociedade urbano-industrial de massas.

O fascismo, com sua retórica nacionalista, tinha óbvias pretensões imperiais e expansionistas. Encontrou tempestivamente antagonistas à altura. Limitando-me ao universo comunista - pois o antifascismo teve também vibrantes colorações liberal-socialistas e católicas -, Antonio Gramsci e Palmiro Togliatti souberam ir além da superfície de fatos e figuras. Mussolini, para eles, não era só um ditador caricato, "carismático", nem o fascismo um conjunto um tanto cômico de ritos e manipulações de massa. Eram, ditador e regime, a forma possível de modernização de um país da periferia, um país, além do mais, de constituição tardia, em que os "subalternos" haviam tido historicamente imensas dificuldades de se incorporar ao Estado, democratizando-o num sentido verdadeiramente moderno.

Com Gramsci e, especialmente, Togliatti, que a ele sobreviveria até 1964, imaginaram-se políticas de frente ampla contra o fascismo, regime que afinal levaria o país à catástrofe da guerra. E, tal como o nosso Partido Comunista Brasileiro (PCB), o Partido Comunista Italiano (PCI) participaria da feitura da Constituição que marca o "renascimento": uma Constituição que a partir de então afirma a República Italiana como "fundada no trabalho", um sinal distintivo da força dos comunistas na resistência e na reconstrução, ao lado das demais forças democráticas, inclusive moderadas.

Interrompe-se aqui o paralelo. As vicissitudes da guerra fria levariam o PCB à clandestinidade, limitando - mais do que a existência de um partido específico e suas possibilidades de amadurecimento - a própria trajetória constitucional brasileira do pós-guerra. Do outro lado do Atlântico, no entanto, crescia e se firmava uma singular experiência do comunismo fora do poder, mas com imensa capacidade de representar e dar dignidade ao mundo do trabalho num país que era uma das fronteiras sensíveis entre os blocos hostis da guerra fria.

Indispensável lembrar que, nos anos 1970, do velho PCI e das suas lutas nasceria uma expressão muito difundida e que, a meu ver, permanece como um dos emblemas deste início de século. De fato, um grande dirigente, como Enrico Berlinguer, abalava desde os seus fundamentos a matriz bolchevique, ao apontar a "democracia (política) como valor universal". Eram os tempos do "eurocomunismo", cuja força expansiva, num determinado momento, chegaria a influenciar fortemente uma corrente do velho PCB, auxiliando na compreensão da complexidade das coisas brasileiras e na afirmação da política - e não da aventura militar - como a via real para a superação do segundo surto ditatorial da nossa modernização.

Nem o PCI nem esse PCB existem mais. Neste tempo vertiginoso em que nos toca viver, identidades políticas e ideológicas caducaram, e caducam, irreversivelmente. A revolução neoliberal e o colapso do comunismo histórico moldaram estes últimos 30 anos, para o bem e para o mal. A vida social fragmentou-se, o mundo do trabalho foi desarticulado e se viu na defensiva, com o esvaziamento das suas formas associativas tradicionais. Simultaneamente, uma nova humanidade parece nascer: a vida em rede, a comunicação instantânea e horizontal põem em contato realidades distantes, mostrando o que têm em comum e tornando-as, precisamente, momentos distintos desta nova humanidade em construção.

Basta um clique e nos vemos, por exemplo, diante de um dos mais célebres jornais da esquerda, o L"Unità, "fundado por Antonio Gramsci". Tomamos conhecimento das desventuras recentes de um político extremamente perigoso, como Silvio Berlusconi, derrotado em eleições locais até mesmo na sua "capital", Milão. O berlusconismo, versão de um populismo autoritário que prometia uma espécie de "revolução liberal", parece estar em declínio e, como consequência, abrem-se novos horizontes para a Itália progressista de Gramsci e Norberto Bobbio, de Togliatti e Pietro Nenni, de Aldo Moro e do catolicismo do "diálogo".

À frente das oposições, um partido que é, rigorosamente, uma obra em construção: o Partido Democrático (PD), cujo eixo é a alma reformista do PCI. Com ele, estamos muito distantes - felizmente! - do marxismo-leninismo e suas florações tardias. De fato, o PD aparece como tentativa de construir síntese nova entre diferentes reformismos, abrangendo ainda o socialismo liberal e o catolicismo democrático. Assim, não é a expressão de uma ideologia total, mas antes demonstra aguda percepção dos limites da política, que não pode pretender ordenar autoritariamente a vida social, arregimentando-a à moda do fascismo ou - o que é particularmente doloroso - do stalinismo.

A derrota de Berlusconi e o caminho afirmativo do PD são razões para acreditar que pode haver uma inflexão positiva nestas duas grandes crises sobrepostas, a italiana e a europeia, cheias de risco para um modo de vida que costumamos condensar nas ideias de liberdade e bem-estar social.

Em tempo: neste artigo, feito de paralelos esparsos, cabe lembrar que a Itália democrática, a partir do presidente Giorgio Napolitano, deplorou a não extradição de um personagem do assalto às instituições promovido pelo extremismo dos anos de chumbo. Sinal, talvez, de que a corrente principal da esquerda brasileira ainda se mostra simbolicamente suscetível à tentação daquilo que, em paráfrase, poderíamos chamar de doença senil do comunismo.

O ESCROTO E A "ESCROTA"

DANUZA LEÃO - Sejamos civilizados

Sejamos civilizados
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/06/11

Como saber com que tipo de pessoa você está lidando se ela não se altera, não se irrita


PARA QUE SERVE ser civilizado?

Para não sair agredindo as pessoas que pegam a vaga do seu carro, não furar a fila, não puxar os cabelos daquela que ousou olhar mais de três segundos para seu amado, não roubar, não sair por aí atacando as moças.

Ser civilizado é saber que existem leis para frear nossos impulsos mais primários, leis que quando são quebradas acabam em escândalo e cadeia, às vezes -pelo menos para quem é pobre.
Mas existe um problema, entre pessoas civilizadas: de tão civilizadas, elas acabam praticamente iguais. Afinal, a educação, os bons modos, o traquejo, a cortesia, as boas maneiras, nivelam as pessoas -por cima, mas nivelam.

Como saber com que tipo de pessoa você está lidando se, pelo menos aparentemente, ela não se altera, não se irrita, não se enerva e tem sempre uma paciência infinita para lidar com todo tipo de problema?
Quanto mais civilizadas, mais parecidos são todos.

Pense um pouco: se você frequentar sempre um mesmo grupo, vai perceber que os homens se vestem praticamente da mesma maneira, bebem o mesmo tipo de bebida, frequentam os mesmos restaurantes, passam férias nos mesmos lugares e falam sobre as mesmas coisas.

Mais: todos têm como sonho de consumo ter um apartamento em Nova York, se possível no mesmo bairro dos amigos, se possível no mesmo quarteirão, se possível no mesmo edifício. Todos têm a mesma opinião sobre as coisas mais fundamentais, praticam o mesmo tipo de esporte e, se têm uma casa de campo ou de praia, é sempre na mesma região -se não for no mesmo condomínio.

Os filhos frequentam as mesmas escolas, se casam entre eles e os casais praticam o adultério também entre eles.

Mesmo que não se conheçam, eles sempre têm do que falar, mesmo com os estrangeiros, pois esta casta, digamos assim, é internacional e está sempre ligada nas mesmas coisas. Quando falam de gastronomia, falam dos mesmos restaurantes; dos de São Paulo, Nova York ou Tóquio, eles sabem de tudo -tudo igual, claro.

Nada, em nenhum deles, é original; dificilmente num jantar alguém chegaria sem sapatos ou começaria a cantar, entre o primeiro e o segundo prato. Como são muito civilizados, bem educados e conhecem perfeitamente as regras de etiqueta -que como são sempre as mesmas, são muito monótonas-, nada acontece em suas vidas que seja especialmente trepidante.

E quando a mulher de um desses homens tão elegantes e civilizados desaparece com um guitarrista obscuro, ninguém consegue compreender como isso pode acontecer.

Essa padronização, no fundo, é uma grande muleta; se todos usam o mesmo Rolex, o mesmo terno Armani, a mesma agenda Hermès, ficam mais seguros e protegidos; o mundo vira uma espécie de clube, e eles adoram um clube -são todos sócios do mesmo.

E a gente fica pensando: se acontecesse uma catástrofe que varresse da Terra essas tais muletas e se encontrassem todos num jardim, nus, sem os sinais exteriores que diferenciam as classes, o que fariam esses homens? E as mulheres, sem seus "tailleurs" Chanel e suas bolsinhas Prada?

Com tanta civilização, as mulheres não conhecem os maridos, os filhos não conhecem os pais, ninguém sabe o que o outro pensa sobre a vida e as coisas do mundo; a padronização civilizatória é de tal ordem que acaba ninguém conhecendo ninguém, e pouquíssimos se conhecem a si próprios.

E um dia a gente morre.

CARLOS HEITOR CONY - Para o mundo admirar

Para o mundo admirar
CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/06/11

RIO DE JANEIRO - Não deram muita atenção a uma advertência do deputado Romário sobre os preparativos da próxima Copa do Mundo, a ser sediada no Brasil em 2014, isso se a Fifa não mudar de ideia.
Em seu primeiro mandato, o baixinho começa a entender do negócio e observa a cena política e administrativa como antes observava os lances no gramado.

Ele disse o que todos estamos começando a pensar. Apesar das boas intenções, e do jeito como as coisas estão indo, ainda que façamos a Copa de 2014, ela não terá o brilho que nosso orgulho esportivo pretende.

Romário acredita na Copa, mas acha que ela será problemática em termos de infraestrutura. Afinal, ele é do ramo e sabe como as coisas se passam dentro e fora dos campos.

Para ter uma ideia, na metade do ano em que estamos, ainda se discute sobre as licitações sigilosas ou não que prepararão os estádios, as vias de acesso, os alojamentos, os transportes e outros quesitos de importância vital para a realização de um grande evento mundial.

Evidente que as grandes empreiteiras, com equipamentos e pessoal especializado, algumas até com know-how internacional, estão assanhadíssimas para participar do suntuoso banquete que, bem ou mal, o Brasil terá de promover. Entre elas, será uma briga de facão em quarto escuro. O que rolará de pressões e comissões não será mole.

Temos tradição quando o Estado se vê obrigado a preparar tão grandioso bolo.

Todos os ingredientes, o tamanho das obras e o pouco tempo disponível também serão fatores para fazer da Copa, senão um escândalo, mais um novo canal do Panamá, que deu o nome (Panamá) às grandes mutretas.

Independentemente dos resultados esportivos, o país terá de dar, como disse o compositor Ary Barroso em sua "Aquarela do Brasil", "para o mundo o que admirar".

GOSTOSA

CLÓVIS ROSSI - A vida começa aos 80

A vida começa aos 80
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/06/11

SÃO PAULO - É paradoxal, chocante até, que o mais completo elogio de Fernando Henrique Cardoso tenha saído do computador de uma adversária, a presidente Dilma Rousseff, e não de um prócer de seu partido, o PSDB.

Do PSDB, ao contrário, FHC ganhou o ostracismo. Em todas as campanhas eleitorais desde 2002 (inclusive), o partido escondeu o seu quadro que havia chegado mais longe, o homem que derrotara o mito Lula por duas vezes já no primeiro turno. Ao contrário do próprio Lula que precisou sempre do segundo turno até para vencer um peso leve como Geraldo Alckmin.

A carta de Dilma parece ter tido o dom de tirar FHC do armário do ostracismo. Confesso que, a princípio, fiz uma interpretação preconceituosa do episódio: achei que o ex-presidente estava sendo tratado como café com leite, como a gente dizia na infância, para designar os moleques pequenos que admitíamos na "pelada" da rua apenas por compaixão, mas cujos lances não eram registrados na súmula imaginária do jogo.

No caso de FHC, os 80 anos, em tese, fariam dele uma peça -respeitável- do museu da História, mas sem peso no jogo político.

Enganei-me: primeiro, ele ocupa o primeiro plano em uma discussão sobre tema essencial, o tratamento a dar ao problema das drogas, arriscando-se a tomar posição quando a grande maioria do mundo político prefere esconder-se.

Segundo, acaba de ser lançado candidato à Presidência em 2014, em coluna de Nelson Motta na quinta-feira, no "Estadão", mesmo sabendo o autor que FHC terá 84 anos na ocasião. Mais: o colunista ousa imaginar Lula como adversário de FHC.

Seria um duelo para fazer esquecer todos os inesquecíveis duelos do cinema de faroeste, entre os dois melhores presidentes do Brasil que me tocou viver, apesar das críticas duras que mereceram.

JOEL RUFINO DOS SANTOS - Quando Cabral era gay

Quando Cabral era gay
JOEL RUFINO DOS SANTOS
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/06/11


MEMÓRIAS QUE VIRAM HISTÓRIAS
Rio de Janeiro, 1965



O golpe de 64 fechou o Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), rasgou quadros, estripou poltronas, destruiu a valiosa biblioteca. Meses depois, suas raridades eram achadas em sebos, vendidas por policiais.
Eu era assistente de Nelson Werneck Sodré no departamento de história social do instituto. Fomos nos refugiar na casa do meu irmão, sargento do Exército, último lugar em que nos procurariam. Só que ele estava se separando da mulher.
Numa visita esporádica, encontrou na sala o estranho, que se identificou como general de brigada. Meu irmão hesitou entre se enquadrar e lavar a honra. Eu fora sondar o ambiente no bairro e cheguei na hora. Se meu irmão optasse pela segunda alternativa, não haveria o que vou contar.
Em 1965, os autores da coleção "História Nova" (produção conjunta do Iseb com o MEC), inclusive Sodré, fomos presos. Certo dia um tenente, jovem como eu, me tirou da cela para cortar meu cabelo. Não admitia cabeludos ali. O barbeiro era um velho sargento reformado ou talvez civil, não me recordo.
Enquanto me aplicava a máquina zero, com a curiosidade própria do ofício, perguntou ao tenente por que eu estava ali. "É um subversivo", respondeu. Passa um tempo, o barbeiro insiste: "Mas subversivo como?" "Subversivo, porra", ranhetou o tenente. Barbeiros não se conformam com meias respostas. "Mas o que fez?" O tenente, já de cara amarrada, braços cruzados, deu a explicação definitiva. "Um general comunista, Nelson Werneck Sodré, convenceu esse aí a reescrever a história do Brasil."
Passam-se então alguns minutos. O barbeiro arrisca uma derradeira pergunta. "Reescrever a história do Brasil, como assim?" Furioso e embaraçado, o tenente encerra: "Eles escreveram, por exemplo, que Pedro Álvares Cabral era viado!".
Não é anedota. A contra-agitação daqueles anos se caracterizou por crendices assim. Sujeitos bem-intencionados, fardados ou não, reproduziam invencionices, precisavam delas para obedecer e agir. Os chefes mandavam prender; tenentes e investigadores, funcionando pela lei da gravidade, enchiam a cabeça de absurdos. Houve pior: fui agredido por um certo Bonecker por termos escrito que Caxias estuprara a própria avó.
A "História Nova" nem fora ideia de Werneck Sodré ""ele apenas a abraçou com entusiasmo. Nasceu numa tarde do verão de 1963, no Leblon. Um grupo de estudantes da Faculdade Nacional de Filosofia, inconformado com a ruindade do ensino, planejou reescrever capítulos da história brasileira o descobrimento, as invasões holandesas, a independência de 1822, o sentido da Abolição e o advento da República, entre outros. Seriam a reforma de base no campo da história. Saíram cinco volumes pela Campanha de Assistência ao Estudante, do MEC.
Distribuídos gratuitamente a professores secundários, alcançaram êxito imediato, que se repetiu quando da segunda edição, em 1965, pela Brasiliense. Essa nova tiragem foi apreendida, e nós, presos. O policial nos indagou, de imediato, pelo paradeiro de um certo Immanuel Kant.
A "História Nova" não existiria sem Werneck Sodré. Éramos estudiosos, mas ignorantes. Ele, historiador consagrado, orientava, discutia conosco o texto, emprestava o nome. Tinha suas cismas. Uma vez, nos foi visitar um brasilianista de gravata borboleta. Queria dados da realidade brasileira. Sodré o levou pelo braço até a varanda e apontou a favela Santa Marta. "Está tudo ali. Passe bem." Joel Rufino dos Santos (Rio de Janeiro) é um historiador, professor e escritor brasileiro. É um dos nomes de referência sobre cultura africana no país.

JOSÉ SIMÃO - Arromba o armário! Parada Gay!

Arromba o armário! Parada Gay!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/06/11

E eu sempre digo que devia se chamar Disparada Gay. Porque gay não tem parada nem pra tirar foto 3x4!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Abertura de campeonato de surfe em Portugal! Declaração do surfista Tiago Pires: "Sinto-me bem e cheio de pica para começar". Hoje eu acordei assim! Tradução para o brasileiro: "Sinto-me bem e cheio de pique para começar".
E a verdadeira Dilma! Olha a placa em São Bernardo: "Dilma Depilação". Vai encarar? Já imaginou ser depilado pela Dilma? Alias, já imaginou a Dilma depilando a Ideli Salvatti? Rarará!
E diz que o estádio do Corinthians só vai sair quando tiver indulto de Natal. E um corintiano me disse que vai batizar a filha dele de Libertadores. Pra corintiano nenhum botar a mão! Rarará!
E efeitos da Marcha da Maconha: pinguim se perde no caminho para Antártida e vai parar na Nova Zelândia! Rarará! E eu sou contra o sigilo eterno dos documentos públicos. Eu quero saber a idade da Glória Maria e ver o diploma do Serra!
E nesse São João a Dilma proibiu o forró pé de Serra. Só pode o forró pé de Dilma. Rarará!
E hoje Parada Gay! A maior minoria do planeta! E eu sempre digo que devia se chamar Disparada Gay. Porque gay não tem parada nem pra tirar foto 3x4! E o tema da Parada: "Basta de homofobia".
Eu tenho um recado pros homofóbicos: todo pitbull é uma lassie enrustida! Rarará!
E a piada pronta: "Prefeitura de São Paulo pede roupas discretas na Parada Gay". Rarará! É pra ir de burca? Ou como disse um amigo meu: "É pra ir de Kassab?". Roupa discreta? Já sei, tem que ir de camisa social azul! ROUPA DISCRETA É ARMÁRIO!
E já imaginou no Carnaval? "Prefeitura de São Paulo pede fantasias discretas no Sambódromo." Rarará! E sabe o que vão fazer na Parada Gay? Leiloar o armário do Ricky Martin!
E Parada Gay em Portugal é PORTUGAYS! Rarará!
E fim de semana animado: Parada Gay e Marcha para Jesus. Conhecida como A Marcha das Héteras. As bibas que se arrependeram e viraram héteras!
E em Caruaru tem uma caixa de bombinhas chamada As Aliadas. Com cem bichas! Bombinha em Caruaru é bicha! BIBA BOMBINHA! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!

VINICIUS TORRES FREIRE - Depois do dilúvio de dólares

Depois do dilúvio de dólares
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/06/11
No curto prazo, parecem funcionar as medidas do governo com objetivo de conter excessos externos


DURANTE O grande dilúvio de dólares no Brasil, de janeiro até mais ou menos o início de abril, o governo parecia se comportar um tanto como um personagem de desenho animado procurando tapar os sucessivos buracos que aparecem num dique. Começa a cobri-lo com um dedo. Esgotadas as mãos, tapa um buraco com um pé e, enfim, enfia o nariz a fim de evitar que a água passe pela barragem.
O "nariz" foi a entrada em vigor da última rodada do aumento do imposto sobre a entrada de capital estrangeiro, em abril, embora a tendência de queda do fluxo fosse visível desde o fim de março.
De meados de abril para cá, o saldo das entradas e saídas de dólares pelo canal "financeiro" é uma ladeira; está no vermelho desde o fim de maio (na média móvel de 21 dias úteis, algo próximo de um mês).
O tombo da entrada de dólares foi atenuado pela alta das entradas líquidas de dinheiro pelo canal "comercial" (exportações menos importações), elevação significativa e também visível desde meados de abril. Mas, em meados de maio, o saldo total, somados os fluxos pelos segmentos financeiro e comercial, entrou em declínio e está no vermelho quase desde o início do mês.
O ritmo de aumento de elevação das reservas internacionais (dólares "sobrantes" comprados pelo Banco Central) também, claro, declinou, como costuma acontecer, acompanhando mais ou menos o movimento do fluxo de câmbio.
Trata-se de um pequeno alívio, pois comprar e manter reservas custa caro, como se sabe. O governo faz dívida para comprar os dólares. A dívida custa o preço dos juros brasileiros (mais de 12%), enquanto as reservas rendem o equivalente à das taxas de juros no mundo rico (quase zero), grosso modo.
Um objetivo declarado do governo com os controles de capital era impedir o endividamento excessivo em dólares do setor privado, responsável por quase 90% do aumento da dívida externa bruta do país desde 2006. Parece que esse movimento foi pelo menos atenuado. Por fim, parece por ora que se conteve o jorro de liquidez pelo canal externo, de dinheiro demais, que ajudava a expandir ainda mais o crédito, expansão indesejada num momento de alta da inflação.
Desde o final de abril, o dólar ficou mais ou menos estável, flutuando em torno de R$ 1,60. Foi o efeito de reservas mais taxação do capital externo? A ver. Note-se, porém, que a taxa de câmbio efetiva real está mais ou menos na mesma desde janeiro (trata-se de uma medida de taxa de câmbio que considera a inflação e é ponderada pelo valor das moedas de países com os quais o Brasil comercia).
Considere, porém, que este foi um mês em que ferveu a crise grega (com alguma pequena aversão a ativos de risco, como os do Brasil). Em que havia um tico de incerteza sobre o que seria da política monetária dos EUA (se o Fed continuaria a despejar dólares. Não vai, mas não enxugará o excesso tão cedo).
Logo, não é possível dizer que apenas as medidas do governo ajudaram a barrar o dilúvio de dólares. Mas é difícil dizer que as medidas da equipe econômica não funcionaram. Trata-se, em muitos casos, de remendos, de remédios para tratar febres, sintomas, não os problemas subjacentes da economia. No curtíssimo prazo, parece ter dado certo.

BRAZIU: O PUTEIRO

RENATA LO PRETE - PAINEL

Tarja amarela
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/06/11

O ministro Alexandre Padilha mandou bloquear as emendas parlamentares destinadas à compra de medicamentos e vai pedir ao Planalto que envie ao Congresso um projeto para redirecionar os valores à rubrica genérica "Atenção à Saúde Básica". A providência foi tomada depois que o TCU emitiu alerta diante do volume dirigido ao item "Assistência Farmacêutica" -R$ 85 milhões propostos no Orçamento deste ano.
O montante elevado traz à lembrança o esquema de superfaturamento na compra de ambulâncias revelado em 2006, quando 72 congressistas foram parar no relatório final da CPI dos Sanguessugas.

Modo de espera
A consequência mais imediata das acusações de Serys Slhessarenko a seus adversários no PT de Mato Grosso -fabricantes "seriais" de dossiês, segundo a ex-senadora - foi o congelamento das tratativas para promover Carlos Abicalil, hoje abrigado no Ministério da Educação, ao posto de número dois de Ideli Salvatti na Secretaria de Relações Institucionais.

Oh, vida... 

Diante da canseira que Dilma tem dado no PMDB, um cacique não se conforma quando ouve alguém chamar o Palácio do Jaburu, onde mora o vice-presidente Michel Temer, de "bunker da conspiração": "Aquilo ali está mais para bunker da lamentação".

180 graus 
Quando defendeu a manutenção de certos documentos históricos sob sigilo eterno, na contramão do que postulara como ministra de Lula, Dilma refletiu a opinião de Antonio Patriota, a quem consultou. Depois, instado a checar o conteúdo dos arquivos do Itamaraty, o chanceler disse não ter achado nada que justificasse tamanho segredo.

Focalizada 
A irritação da presidente, que agora voltou a advogar o fim do sigilo eterno, não é dirigida genericamente ao Ministério das Relações Exteriores, mas sim ao próprio Patriota.

Me dê motivo 

Ainda que a ressurreição do escândalo dos aloprados não venha a ter consequência formal para Aloizio Mercadante, quem conhece bem o petista acredita que, se ele já nutria alguma dúvida, agora pensará muitas vezes mais antes de abandonar o Ministério da Ciência e Tecnologia para se lançar candidato à Prefeitura de São Paulo.

Plano A 

O PT desenhou uma operação em duas etapas na tentativa de permanecer na Prefeitura de Recife. A primeira é investir num conjunto de medidas administrativas -como obras e a limpeza da cidade- para buscar reverter o declínio da avaliação de João da Costa.

Plano B 

Se a percepção popular não melhorar, há dois petistas no aquecimento para entrar na disputa: Humberto Costa (que de quebra abriria uma vaga no Senado para o PSB do governador Eduardo Campos) e Maurício Rands, atualmente no secretariado estadual.

No terreiro... 

Ao fim de uma tensa reunião na segunda-feira passada, os aliados do governador Cid Gomes conseguiram derrubar decisão anterior do PSB de Fortaleza de lançar pré-candidato à sucessão da petista Luizianne Lins na capital cearense. Cid pretende emplacar seu secretário das Cidades, Camilo Santana (PT).

...do vizinho 
A movimentação do governador desagrada não apenas à corrente derrotada do PSB mas também ao setor petista alinhado com Luizianne, que trabalha por um nome fora da esfera de influência dos irmãos Ferreira Gomes.
com LETÍCIA SANDER e RANIER BRAGON

tiroteio


Cesare Battisti já pode enviar o currículo de terrorista para pleitear um cargo na administração de Tarso Genro.
DO DEPUTADO RUBENS BUENO (PPS-PR), sobre a concessão de visto de trabalho ao italiano, cuja permanência no Brasil foi bandeira do hoje governador do Rio Grande do Sul quando ministro da Justiça de Lula.

contraponto

Filma eu, Galvão!

No dia 17 passado, quando começava na cidade de Sumaré encontro do PT paulista, o locutor leu um pedido inusitado: uma mulher que assistia à transmissão do evento queria "prova" de que o marido estava lá.
Adiantando que não cometeria a indiscrição de chamar o companheiro pelo microfone, o apresentador resolveu adotar uma solução conciliadora:
-Não vou "caguetar". Vira a câmera para a plateia. Assim ela mesma vê que o marido está aqui!
Pelo sim, pelo não, todos os casados presentes fizeram questão de acenar vigorosamente nessa hora.

JOÃO UBALDO RIBEIRO - Desonestidade é cultura



Desonestidade é cultura
JOÃO UBALDO RIBEIRO
 O Estado de S.Paulo - 26/06/11

Sempre se tem cuidado com generalizações, para não atingir os que não se enquadram nelas. Às vezes o sujeito odeia indiscriminadamente toda uma categoria, mas, ao falar nela e, principalmente, ao escrever, abre lugar para as exceções, os "não-são-todos" e ressalvas hipócritas sortidas. Outros recorrem a gracinhas, como na frase do antigamente famoso escritor Pitigrilli, segundo a qual "as únicas mulheres sérias são minha mãe e a mãe do leitor". No caso presente, decidi que as generalizações feitas hoje excluem todos os leitores, a não ser, evidentemente, os que desejem incluir-se - longe de mim contribuir para aumentar nossa tão falada legião de excluídos.

Antigamente, era muito comum ler ensaios e artigos escritos por brasileiros em que nós éramos tratados na terceira pessoa: o brasileiro é assim ou assado, gosta disso e não gosta daquilo. Em relação a maus hábitos então, a terceira pessoa era a única empregada. O autor do artigo escrevia como se ele mesmo não fizesse parte do povo cuja conduta lamentava. Até mesmo nas conversas de botequim, durante as habituais análises da conjuntura nacional, o comum era (ainda é um pouco, acho que o boteco é mais conservador que a academia) o brasileiro ser descrito como uma espécie de ser à parte, um fenômeno do qual éramos apenas espectadores ou vítimas. Eu não. Talvez, há muito tempo, eu tenha escrito dessa forma, mas devo ter logo compreendido sua falsidade e passei a me ver como parte da realidade criticada. Individualmente, posso não fazer muitas coisas que outros fazem, mas não serei arrogante ou pretensioso, vendo os brasileiros como "eles". Não são "eles", somos nós.

Creio que, feita a exceção dos leitores e esclarecido que estou falando em nós e não em inexistentes "eles", posso expor a opinião de que fica cada vez mais difícil não reconhecer, vamos e venhamos, que somos um povo desonesto. Não conheço as estatísticas de países comparáveis ao nosso e, além disso, nossas estatísticas são muito pouco dignas de confiança. Mas não estou preparando uma tese de mestrado sobre o problema e não tenho obrigação metodológica nenhuma, a não ser a de não falsear intencionalmente os fatos a que aludo e que vem das informações e impressões a que praticamente todos nós estamos expostos.

Claro, choverão explicações para a desonestidade que vemos, principalmente nos tempos que atravessamos, em que a impressão que se tem é de que ninguém é mais culpado ou responsável por nada. Há sempre fatores exógenos que determinaram uma ação desonesta ou delituosa. E, de fato, se é assim, não se pode fazer nada quanto à má conduta, a não ser dedicar todo o tempo a combater suas "causas". Essas causas são todas discutíveis e mais ainda o determinismo de quem as invoca, que praticamente exclui a responsabilidade individual. E, causa ou não causa, não se pode deixar de observar como, além de desonestos, ficamos cínicos e apáticos. Contanto que algo não nos atinja diretamente, pior para quem foi atingido.

Ninguém se espanta ou discute, quando se fala que determinado político é ladrão. Já nos acostumamos, faz parte de nossa realidade, não tem jeito. Alguns desses ladrões são até simpáticos e tratados de uma forma que não vemos como cúmplice, mas como, talvez, brasileiramente afetuosa. Votamos nele e perdoamos alegremente seus pecados, pois, afinal, ele rouba, mas tem suas qualidades. E quem não rouba? Por que todo mundo já se acostumou a que, depois de uma carreira política de uns dez anos, todos estão mais gordinhos e com o patrimônio às vezes consideravelmente ampliado? Como é que isso acontece rotineiramente com prefeitos, vereadores, deputados, senadores, governadores, ministros e quem mais ocupe cargo público?

Os políticos, já dissemos eu e outros, não são marcianos, não vieram de outra galáxia. São como nós, têm a mesma história comum, vieram, enfim, do mesmo lugar que os outros brasileiros. Por conseguinte, somos nós. Assim como o policial safado que toma dinheiro para não multar - safado ele que toma, safados nós, que damos. Assim como o parlamentar que, ao empossar-se, cobre-se de privilégios nababescos, sem comparação a país algum.

Em todos os órgãos públicos, ao que parece aos olhos já entorpecidos dos que leem ou assistem às notícias, se desencavam, todo dia, escândalos de corrupção, prevaricação, desvio de verbas, estelionato, tráfico de influência, negligência criminosa e o que mais se possa imaginar de trambique ou falcatrua. E em seguida assistimos à ridícula, com perdão da má palavra, microprisão até de "suspeitos" confessos ou flagrados. A esse ritual da microprisão (ou nanoprisão, talvez, considerando a duração de algumas delas) segue-se o ritual de soltura, até mesmo de "suspeitos" confessos ou flagrados. E que fim levam esses inquéritos e processos ninguém sabe, até porque tanto abundam que sufocam a memória e desafiam a enumeração.

Manda a experiência achar que não levam fim nenhum, fica tudo por isso mesmo, porque faz parte do padrão com que nos domesticaram (taí, povo domesticado, gostei, somos também um povo muito bem domesticado) saber que poderoso nenhum vai em cana. E é claro que, por mais que negue isso com lindas manifestações de intenção e garantias de sigilo (como se aqui, de contas bancárias de caseiros a declarações de imposto de renda, algo do interesse de quem pode ficasse mesmo sigiloso), essa ideia de esconder os preços das obras da Copa tem toda a pinta de que é mais uma armação para meter a mão em mais dinheiro, com mais tranquilidade. Ou seja, é para roubar mesmo e não há o que fazer, tanto assim que não fazemos. Acho que é uma questão cultural, nós somos desse jeito mesmo, ladravazes por formação e tradição.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Escritórios e clínicas dominam aluguéis em SP
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/06/11

A abertura de clínicas médicas e de escritórios de advocacia e contabilidade é responsável por 65% dos imóveis comerciais alugados em São Paulo neste ano, segundo estudo da Lello Imóveis.
A liderança das duas categorias nas locações da cidade deve ser mantida nos próximos anos, de acordo com a diretora da companhia Roseli Hernandes.
"Os jovens se formam na universidade e alugam um conjunto para abrir o próprio negócio", diz.
O aluguel para a abertura de lojas de rua ocupa a terceira colocação em São Paulo, com 11% do total de imóveis locados em 2011.
Na região da Mooca, esse índice chega a 35%. "É um bairro com as melhores características para o segmento", afirma Hernandes.
Mesmo com a demanda por novos estacionamentos na cidade, o setor só representou 3% das locações, pois não consegue competir com o desenvolvimento imobiliário, diz o sócio-diretor da consultoria Binswanger Brazil, Rafael Camargo.
"Vai ser sempre mais rentável vender o terreno para a construção de prédios."

ALTO PADRÃO

No segmento de alto padrão, quase a totalidade dos aluguéis são destinados a escritórios, de acordo com Lilian Feng, gerente da consultoria Jones Lang LaSalle .
Os setores de serviços, industrial e financeiro alugam, respectivamente, 43%, 27% e 20% do total de imóveis comerciais de luxo na cidade.

CRÉDITO PARA ELAS
Os homens preferem pagar suas contas com cartão de débito, enquanto as mulheres ficam com o de crédito, aponta dados da Visa.
O estudo mostra que 70% dos homens entrevistados afirmam ter cartão de débito. Esse número é de 58% entre o público feminino.
Em restaurantes, por exemplo, 19% deles dizem pagar no débito; entre as mulheres, são 11%.

ITAQUERÃO

O Grupo Advento diz estar trabalhando com a Odebrecht "em surpreendente relação, a quatro mãos" na obra do Corinthians.
Só a construção do estádio pode ficar em R$ 700 milhões, segundo o Advento, que estima em 30 meses o prazo de execução.
No dia 4 de julho tem de ser entregue um esboço para que o contrato final seja apresentado até o dia 12 do mesmo mês e assinado pelas construtoras e o Corinthians.

O QUE EU ESTOU LENDO
Marcos Quintela, presidente da Y&R

"Em "O Verdadeiro Poder" (ed. INDG), Vicente Falconi, consultor em empresas de grande sucesso, ilustra, com exemplos práticos, temas que estão no topo das prioridades de gestores", diz Marcos Quintela, presidente da agência de publicidade Young & Rubicam.
"São temas como inspirar equipes, renovar metas constantemente para manter a empresa entre as líderes, formar e reter talentos."
Quintela lê também "Competição" (ed. Campus), de Michael Porter.
"O autor propõe reflexões para a sobrevivência de companhias que atuam em um ambiente de competição global crescente, pautada pela inovação tecnológica em ritmo alucinante e clientes cada vez mais exigentes", afirma o executivo.

LINGERIE NA RUA...

A Hope vai abrir a sua primeira loja de rua em setembro, em Juiz de Fora (MG). Até o final do ano, a empresa prevê inaugurar mais dez franquias desse tipo.
"A loja de rua é uma oportunidade para cidades que não têm shopping. São centros de compra interessantes, com um público diferenciado", diz Nissim Hara, presidente da Hope.
Outro diferencial dessas unidades de rua são as consumidoras.
"Estão dispostas a gastar mais tempo no processo da compra", afirma Hara.
A projeção de faturamento da empresa para este ano é de R$ 170 milhões.

... E NA EUROPA
A marca de lingerie Darling abrirá duas unidades na Europa até o fim do ano. A companhia escolheu Madri e Roma para continuar sua internacionalização, iniciada em Portugal. "Escolhemos esses dois países pela proximidade de Portugal, o que facilitará nossa mobilidade por lá", diz Lilian Masijah, sócia da empresa. No Brasil, a companhia inaugurará seis lojas em 2011 (três no Nordeste)."Serão as primeiras lojas próprias lá. A ideia é consolidar nosso produto, e é difícil fazer isso com multimarcas", diz o sócio Ronald Masijah.

Acordos para... 

O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e a CNI (Confederação Nacional da Indústria) assinam terça-feira, em Brasília, acordos que envolvem US$ 2 milhões para capacitar pequenas indústrias.

...qualificação
Os acordos preveem transferência de tecnologia em qualificação profissional para países latinos, modernização de centros tecnológicos do Senai e compra de tecnologias para o setor de educação pelo Sesi.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

GOSTOSA

RUBENS RICUPERO - Suicídio da agricultura


Suicídio da agricultura
RUBENS RICUPERO
FOLHA DE SÃO PAULO - 26/06/11

Excelente desempenho da atividade econômica só vai se sustentar se o Brasil encontrar uma solução para os desafios do ambiente

Se a agricultura brasileira não conseguir sustentar a impressionante trajetória das últimas décadas, será devido à incapacidade de resolver com inteligência o desafio do meio ambiente.
Talvez não haja na história econômica do Brasil nenhum exemplo tão indiscutível de transformação de eficiência e produtividade como na agropecuária. Essa modernização só se tornou possível graças à pesquisa tecnológica, que erradicou o pessimismo sobre a agricultura tropical.
A tecnologia, afirma-se, permitiria expandir a produção sem devastar mais a floresta e o cerrado que restam. Os 70 milhões de hectares de pastagens degradadas poderiam servir de reserva à expansão agrícola ou florestal.
Em teoria, tudo isso é verdade. Na prática, o que se vê é pouco. Sinais positivos como o aumento de produção em proporção maior do que a expansão da área plantada são largamente compensados pela destruição. De forma inexorável, a fronteira agrícola avança rumo ao coração da floresta amazônica.
O choque da devastação em Mato Grosso estimulada pelo projeto de lei aprovado na Câmara provocou a mobilização do governo em verdadeira operação de guerra. O resultado foi pífio: a destruição apenas se reduziu marginalmente.
Essa mesma desproporção entre esforços de preservação e resultados precários, geralmente revertidos logo depois, caracteriza o panorama de desolação em todas as regiões e em todos os biomas: mata atlântica, caatinga, Amazônia, cerrado, árvores de Carajás convertidas em carvão para o ferro-gusa.
As entidades do agro protestam que suas intenções são progressistas. Contudo o comportamento de parte considerável de seus representados desmente as proclamações. Mesmo em Estado avançado como São Paulo e lavoura rentável como a da cana, quantos recuperaram as matas ciliares de rios e nascentes?
Tem-se a impressão de reeditar o debate sobre o fim da escravatura. Todos eram a favor, mas a unanimidade não passava de ilusão.
É fácil concordar sobre os fins; o problema é estar de acordo sobre os meios e os prazos. Sempre que se falava em datas, a maioria desconversava: o país não estava preparado, era preciso esperar por futuro incerto e distante.
Em 1847, um agricultor esclarecido, o barão de Pati de Alferes, se escandalizava com a aniquilação da mata atlântica no manual prático que escreveu sobre como implantar uma fazenda de café: "Ela mete dó e faz cair o coração aos pés daqueles que estendem suas vistas à posteridade e olham para o futuro que espera seus sucessores".
De nada adiantou: o café acabou devido à destruição dos solos. A joia da economia imperial deu lugar às cidades mortas fluminenses e paulistas. Não foi só naquela época. No auge da pecuária no vale do rio Doce, como lembra o ex-ministro José Carlos Carvalho, um hectare sustentava 2,8 cabeças de gado; hoje, mal chega a 0,6!
Produto do passado da erosão e da secagem das nascentes, o processo agora se acelera por obra do aquecimento global, que atingirá mais cedo e mais fortemente áreas tropicais como o Brasil. Sem compatibilização entre produção e ambiente, o destino da agricultura será o do suicídio dos fazendeiros fluminenses e do rio Doce.

MIRIAM LEITÃO - Os oráculos

Os oráculos
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 26/06/11

O ex-diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, poderoso pelo cargo e rico por casamento, é investigado por delegado e enfrentará um tribunal comum de Nova York. Marcos Valério e Delúbio Soares são investigados pelo procurador da República e julgados pelo Supremo Tribunal Federal. Que país está errado? O STF virou até corte criminal; e seus ministros, oráculos.

Quer saber se é possível casamento entre pessoas do mesmo sexo, se os cientistas podem ou não fazer pesquisas com células-tronco, se os Estados podem dar incentivos fiscais, se um ex-terrorista italiano deve ou não ficar no Brasil, se uma terra é indígena ou não, se pode haver marchas em favor da maconha?

Pergunte aos oráculos. O País chegou a um ponto estranho da nossa democracia em que onze pessoas decidem sobre assuntos aleatórios, substituem o Congresso, confirmam ou negam decisões do chefe do Executivo, submetem os Estados, criam despesas públicas, interferem na vida privada.

Na condição de oráculos da vida cotidiana, política e econômica eles deixam o País dependurado em algumas questões e são definitivos em outras. Já se sabe agora, graças a eles, que o órgão sexual é um "plus", mas não se sabe se o imposto reduzido graças a incentivos fiscais já concedidos será um plus no passivo das empresas ou não.

Da maneira como as coisas vão não será preciso governo, nem parlamentares, basta consultar os onze detentores desse poder vitalício de tudo arbitrar. Melhor ouvi-los, até porque todas as decisões podem ser revogadas dependendo do entendimento da corte. Claro que o Supremo é para decidir, em última instância, sobre controvérsias nas interpretações constitucionais, mas há um evidente exagero no número de questões levadas pelo País ao tribunal.

O Conselho de Política Fazendária, que reúne todos os secretários de fazenda dos Estados federados, pode decidir sobre incentivos fiscais estaduais; tem poderes e normas para isso. Se está havendo impasse, a União - que como o nome indica deve unir os entes que decidiram se organizar em federação - pode negociar uma reforma tributária ou então mudanças normativas que organizem e simplifiquem a cobrança de impostos entre os Estados.

O governador de São Paulo, antes de mandar a polícia reprimir manifestantes em favor da maconha, poderia ter perguntado a opinião do seu colega de partido, ex-presidente da República, que está provocando o País para um debate mais contemporâneo sobre o tema.

Sobrecarregados em suas sobrecasacas os ministros do Supremo não conseguem dar conta do recado. Pudera. Passam tardes inteiras em discussões sobre sexo dos anjos em vez de cuidar do papel institucional que devem desempenhar numa democracia madura, numa federação que faça jus ao nome.

O foro privilegiado para quem tem mandato ou cargo federal é discutível. Pior fica quando se decide que pessoas sem mandato devem ser julgadas pelo Supremo Tribunal Federal simplesmente porque estão apensos a um processo com alguém com privilégio ao foro.

O caso do mensalão prova essa distorção. Sabe-se o que fazem lá os então deputados ou ministros, mas não o que fazem pessoas que sequer tiveram um único voto, como Delúbio e Marcos Valério, entre outros menos votados ainda.

Não se pode mudar nada a esta altura, sem o risco de atrasar ainda mais o processo, mas o País poderia ao menos aprender com o episódio. O julgamento do mensalão será de parar o País e de soterrar o tribunal. Dias e dias serão necessários apenas para as considerações dos advogados das partes envolvidas.

No dia 8 de julho termina o prazo de 30 dias dado pelo ministro Joaquim Barbosa ao procurador-geral da República para que ele faça as considerações finais sobre o processo do mensalão. Eram 15 dias, mas o procurador pediu um prazo maior pela complexidade do caso. Depois disso, os réus terão um tempo - eram 15 dias, mas pode ser elevado para 30 - para fazerem também suas últimas considerações. O relator então preparará o seu voto.

A previsão é de que quando o voto for apresentado só o julgamento deverá tomar três semanas. Cada réu tem direito a uma hora de sustentação oral do seu advogado. Se todos os advogados usarem esse direito será mais de uma semana. Só a leitura do relatório demorará vários dias.

Isso sem falar nas inúmeras preliminares que deverão ser levantadas pelos ministros e nas questões ou questiúnculas que serão produzidas pelos advogados.

Há quem considere que o caso está muito lento. Mas para os padrões brasileiros não está. A entrevista-bomba do deputado Roberto Jefferson foi dada em junho de 2005. Houve a CPI que consumiu o ano de 2005. Houve toda a apuração do Ministério Público.

Em agosto de 2007 o Supremo Tribunal Federal recebeu a denúncia. Só então começou a ação penal. Estamos portanto completando o quarto ano da instrução. Só no caso de Pimenta Neves, réu confesso de homicídio, a Justiça levou onze anos para decidir que ele deveria ser preso.

Para os tempos brasileiros até que o STF não está lento, levando-se em conta que são muitos os réus e os crimes são mais difíceis de definir do que um assassinato. A grande questão é se todos eles deveriam ter sido mesmo julgados pelo STF ou se suas doutas eminências deveriam se dedicar a questões menos criminais e mais constitucionais, como estabelece a Constituição.

ELIO GASPARI - Os sábios fizeram da limonada um limão

Os sábios fizeram da limonada um limão
ELIO GASPARI
O GLOBO - 26/06/11                                      
Os sábios do Planalto conseguiram transformar o que pode ser uma boa iniciativa em dor de cabeça. Transformaram num limão intragável a medida provisória 527. O texto aprovado na Câmara, criando um regime diferenciado de licitações, permitiu a interpretação de que patrocinaria realização de concorrências com orçamentos secretos. Sabendo-se que a MP regulará as obras para a Copa do Mundo e a Olimpíada, toda e qualquer suspeita é bem-vinda, saudável mesmo. A reforma do Maracanã, hoje entregue à trindade Delta/Odebrecht/Andrade Gutierrez, foi orçada em R$ 600 milhões, pulou para R$ 705 milhões e está em R$ 1 bilhão. Isso para não se falar na abundância de denúncias de propinas cobradas à sombra da FIFA por dirigentes esportivos, atingindo inclusive o presidente da CBF, Ricardo Teixeira.

A suspeita em torno do texto da MP derivava do seu artigo 6º: "O orçamento previamente estimado para a contratação será fornecido somente após o encerramento da licitação (...)."

"Após", quando?

A MP fora votada num clima de rara ligeireza. A certa altura, quando um parlamentar reclamou com o deputado José Nobre Guimarães, relator da medida, que ele lia um texto onde havia 51 páginas, enquanto no plenário circulava outro, com 47, o doutor respondeu que a diferença era pequena. Tratava-se de uma discrepância resultante de uma mudança no tamanho da fonte de cada cópia, mas essa não era resposta que se desse. Como em 2005 um assessor de Guimarães foi detido pela polícia do aeroporto de Congonhas carregando uma mala com US$ 200 mil e vestindo outros US$ 100 mil na cueca, tendo visitado uma empreiteira na véspera, a pergunta continha uma compreensível curiosidade.

Levantada a suspeita, o governo gastou um dia desqualificando-a, sem sucesso. Numa declaração imprópria, o procurador-geral Roberto Gurgel disse que não lera o texto da MP mas, pelo que ouvira, manter o orçamento sob sigilo seria uma novidade "escandalosamente absurda". Faria melhor se, como procurador-geral, lesse antes de falar, ou restringisse seus palpites à busca de extraterrestres.

Em seguida, veio a doutora Dilma, atribuindo as suspeitas a um erro de interpretação. De fato, se o problema estava na possibilidade de uma leitura catastrofista, poderia ser corrigido tornando explícito o que o governo dizia estar implícito no artigo 6º. O deputado Miro Teixeira oferece uma emenda, reescrevendo-o: "O orçamento previamente estimado para a contratação será fornecido imediatamente (no lugar de "somente") após o encerramento da licitação".

Quem contrata a reforma de um banheiro não diz ao mestre de obras quanto pretende gastar. Primeiro pergunta quanto ele quer cobrar. Os professores Vinicius Carrasco e João Manoel Pinho de Mello, da PUC-RJ, já mostraram que a utilização desse mecanismo nas licitações da merenda escolar de São Paulo reduziu o valor do contrato em 30%.

Em vez de ouvir as opiniões alheias, o governo foi para a retranca: não se muda nada. Em seguida, o senador José Sarney criticou o dispositivo e seu colega Romero Jucá acompanhou-o. Nenhum dos dois disse que tipo de ajustes gostaria de fazer. Segundo a ministra Ideli Salvatti, o texto não devia ser mudado, "até porque temos pouco tempo". Falso, emendar o texto seria tão fácil quanto tomar um café.

Passada uma semana, todas as forças contrárias ao mecanismo moveram suas peças. Não fizeram isso porque defendem a transparência, mas porque preferem matar a ideia, mantendo o sistema vigente, com todas as suas obras e suas pompas.

A troco de nada, a arrogância dos sábios e a paralisia da liderança parlamentar do governo converteram uma suspeita em denúncia, debilitaram uma inovação que pode ser saudável e colocaram na cabeça do governo a carapuça de defensor de sigilos e maracutaias. Há um mês, durante os debates do Código Florestal, foi proposto que pacificasse o plenário com um decreto prorrogando a anistia dada aos desmatadores. Nem pensar, pois o Planalto não aceitaria. O governo perdeu a votação e o que fez? Um decreto prorrogando a anistia.

 UPP Laranjeiras   

Talvez seja necessária a criação de uma UPP para aquietar os ânimos na copa e na cúpula do governo do Rio de Janeiro por conta do preenchimento de uma vaga no Superior Tribunal de Justiça.

Em abril, o advogado Rodrigo Cândido de Oliveira, filho de uma família de juristas cujas raízes vêm do Império, esteve perto da cadeira. Teve os votos do STJ, mas morreu na praia do Planalto. Ele tinha o apoio de Adriana Ancelmo, mulher do governador Sergio Cabral e sua sócia no escritório Coelho, Ancelmo e Dourado.

Agora, para a vaga de Luiz Fux, entrou na lista mandada pelo STJ ao Planalto o nome do desembargador Marco Aurélio Belize, cunhado de Regis Fichtner, chefe da Casa Civil de Cabral, sócio licenciado do escritório Andrade, Fichtner. Belize não é flor do orquidário da doutora Ancelmo.

Bravo, Gianni  

Fechou na sexta-feira o restaurante Bravo Gianni, de Nova York. Nele, Paulo Francis tinha mesa cativa e era homenageado com uma placa na parede.

Famoso pelo macarrão, pelo tamanho das porções e pela simpatia com que tratava os brasileiros, fará falta. Passaram por suas mesas Bill Clinton, FH, José Sarney e Fernando Collor. Delfim Netto até hoje lamenta ter sido derrotado por sua lasanha.

Gianni Garavelli, dono e alma da casa, teve um acidente vascular cerebral há dois meses Caiu em combate, enquanto atendia a clientela, e recupera-se numa clínica.

Ao saber o preço dos pratos de macarrão nos restaurantes brasileiros, Gianni perguntou: "Tem ouro no molho?"

A lei em  Búzios   

Para desgosto de algumas dúzias de maganos, a decisão do Conselho Nacional de Justiça que anulou as decisões imobiliárias do juiz João Carlos Souza Correia, da 1ª Vara de Búzios, transformará posses em pó e pó em posses.

O Rio de Janeiro deverá a faxina à obstinação da ministra Eliana Calmon, corregedora Nacional de Justiça.

Boas notícias 

No Brasil, o mercado de tabuletas eletrônicas ainda é incipiente. Elas não chegam a 500 mil.

Com o início da fabricação dos iPads em Jundiaí e com a proliferação de concorrentes, elas poderão passar o milhão em um ano. Editoras de livros, jornais e revistas vivem o início do fim de uma época. Véspera de um tempo melhor, com preços menores, mais diversidade e melhor qualidade.

Nos Estados Unidos já há mais de uma dezena de autores que bateram a marca do milhão de livros eletrônicos. Um dos campeões é Stig Larsson, o criador da heroína gótica Lizbeth Salander. Agora surgiu o primeiro milionário que não publicou a obra em papel. É John Locke (nada a ver com o filósofo), que vende seu policial Saving Rachel a US$ 0,99.

Na outra ponta do mercado, um aplicativo do poema The Waste Land , de T.S. Eliot, lidera as vendas para o iPad.

É um verdadeiro curso de literatura e de língua inglesa. Tem o texto, que pode ser ouvido na voz de Eliot ou do ator Alec Guinness, inclui notas explicativas e breves palestras. Tudo isso por US$ 15.

Daqui a uns meses vai ao ar Pottermore, o portal de e-books J.K. Rowling, com incríveis bruxarias.

TELA PRETA

DORA KRAMER - Em nome da Copa

Em nome da Copa  
DORA KRAMER
O ESTADÃO - 26/06/11

O que terá acontecido de tão extraordinário entre segunda e quarta-feira da semana passada que fez o presidente do Senado e de seu partido, o PMDB, mudarem de posição em relação ao sigilo imposto aos orçamentos das obras para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016?

Segunda-feira, José Sarney levantava-se contra o sigilo previsto no Regime Diferenciado de Contratações (RDC): "Temos de encontrar uma maneira de retirar esse artigo, uma vez que dá margem inevitavelmente a se levantar dúvidas sobre o orçamento da Copa. Por que o sigilo?".

Na terça, o líder do governo no Senado, Romero Jucá, avisava que certamente haveria modificações na medida provisória, mas, no mesmo dia, Dilma Rousseff mandava informar que havia "espaço para negociação" e despachava sua ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para conversar com o partido sobre o passivo de pleitos acumulados.

Na quarta, Sarney calou. Quem falou foi o presidente em exercício do PMDB, Valdir Raupp: "Não existe sigilo", disse, incorporando o argumento que o governo vinha utilizando desde a sexta-feira anterior e que até 48 horas não parecera convencer Sarney: "O texto busca evitar o conluio de empresas no processo de licitação".

Para se acreditar na lisura do poder de convencimento do Palácio do Planalto é preciso, então, aceitar que o presidente do Senado disse o que disse de maneira leviana. Sem ler o texto do dispositivo na medida provisória, sem contar com um único entre seus inúmeros assessores para lhe alertar de que estava sendo precipitado ao qualificar o referido artigo como suspeito.

Ou seja, para responder à pergunta inicial: nada de extraordinário aconteceu entre segunda e quarta-feira da semana passada. A ocorrência foi o que se pode nominar de ordinária. Nos dois sentidos.

Sarney, Jucá e companhia não queriam zelar pela transparência de coisa alguma. Queriam apenas ser ouvidos.

Há quem tenha interpretado a mudança de posição do PMDB como demonstração de que a presidente finalmente está se saindo bem nas artes da política.

Na realidade é a indicação de que prevalece a mesma lógica, apenas com o sinal trocado: se antes Dilma procurava resistir ao assédio do PMDB e companhia, agora resolveu ceder.

O pano de fundo é igual. Toma-se a atividade política pelo mero, mais fácil — mas não suficiente nem necessariamente eficaz — exercício deslavado e rudimentar do fisiologismo.

Ou se resiste ou se cede a ele, mas não se tenta a via da negociação íntegra.

A comparação é de um político do PMDB com larga experiência no ramo: "As obras da Copa estão hoje para a disseminação da barganha, como já esteve a dita governabilidade para a justificativa de todo tipo de malandragem".

Sob o guarda-chuva da "governabilidade" instituiu-se o fisiologismo como regra e perpetram-se malfeitorias a mancheias. Agora começa a se configurar cenário semelhante.

Qualquer coisa se faz, se explica com alusão à premência das obras.

Está acontecendo em vários Estados: contratos entre governos e o BNDES para liberação de recursos em mais de 20% do valor dos projetos de obras e cujas cláusulas não foram cumpridas estão simplesmente sendo alterados por pressão dos governadores para se adaptarem às circunstâncias, afrouxando as exigências.

Em nome da governabilidade, em nome da Copa, em detrimento da integridade no trato do que pertence ao público. Além do sigilo. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção preparou um documento para ser entregue à presidente Dilma Rousseff e aos parlamentares apontando vários senões no RDC.

Embora entre eles esteja o sigilo, na visão da CBIC, enquanto se discute este ponto outros passam despercebidos. Por exemplo, o sistema de contratação integrada pelo qual se exige 30 dias para apresentação de propostas, quando o mínimo para a elaboração desde o projeto básico ao orçamento detalhado seria de 150 dias

Qual o problema? A indicação de que seriam favorecidas as empresas com projetos previamente prontos, as únicas em condições de apresentar as propostas no prazo estipulado.