segunda-feira, agosto 20, 2012

Chacina olímpica - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA


No festiva de bizarrices em que consiste uma Olimpíada, a bizarrice maior estava reservada para o último dia — a prova do pentatlo moderno. Os brasileiros tiveram sua atenção despertada para essa modalidade por causa da medalha de bronze obtida por Yane Marques, uma graciosa sargenta (sim, sargenta) natural da cidade pernambucana que porta o belo e trágico nome de Afogados da Ingazeira. Parabéns, Yane. E obrigado, Yane. Ao nos revelar o pentatlo moderno, ela nos ajudou a entender a natureza profunda do festival quadrienal a que se dá o nome de Olimpíada.

O pentatlo moderno consiste numa sequência de provas de esgrima, natação, equitação, tiro e corrida. Nada mais sem pé nem cabeça, à primeira vista. E nada mais difícil de o público acompanhar e torcer, tanto pela necessidade de enfronhar-se nas regras de diferentes esportes, na maioria obscuros ao entendimento comum, quanto de manter os olhos nos diferentes palcos em que se travam as disputas. O pentatlo moderno é estapafúrdio como seria, para uma pessoa, exibir simultaneamente as habilidades de dançarino e de orador, de torneiro mecânico, de observador de pássaros e de economista. Mas começa a soar lógico quando se conhecem sua origem e seus propósitos.

A prova foi inventada pelo próprio barão de Coubertin, o fundador dos modernos Jogos Olímpicos. Segundo se aprende nas enciclopédias, é a única inventada expressamente para figurar nos Jogos. A primeira disputa ocorreu em 1912, na Olimpíada de Estocolmo, e em quinto lugar ficou um jovem soldado americano de nome George Patton, mais tarde consagrado como um dos generais que conduziram à vitória de seu país na II Guerra Mundial. Da sargenta Yane ao general Patton — o leitor captou a conexão? Se ainda não, vamos em frente. Na Grécia antiga, o pentatlo era composto de provas de corrida, luta, salto, lançamento de dardo e lançamento de disco. O propósito da série salta mais à vista do que na versão moderna: são habilidades que conformavam o soldado ideal. Além das habilidades básicas de correr e saltar, o atleta/soldado era testado no manejo de armas, como eram na época o dardo e outros objetos passíveis de ser atirados contra o inimigo, e na luta corporal.

Com o pentatlo moderno, Coubertin quis atualizar o teste do bom soldado. Hoje tal atualização soa ultrapassada: o soldado que Coubertin tinha em mente era o do século XIX. Mas permanece o caráter militar do esporte — daí Patton, daí nossa Yane, treinada por um major do Exército, e ela própria feita sargenta. E daí também a base a partir da qual nos é permitido ir além na decifração da natureza profunda das Olimpíadas. O pentatlo, junto com a maratona, que celebra a proeza do soldado grego Feidípedes, escancara, no último dia da competição, o segredo tão bem encoberto nos dias precedentes pela cantilena de paz, concórdia e espírito olímpico: Olimpíadas são guerras. E guerras pavorosas, de todos contra todos, como no pesadelo de Hobbes. Centenas de países se digladiando, cada um por si contra centenas de outros.

Sendo guerra, a Olimpíada de Londres só podia terminar, nos tempos que correm, como terminou: com a vitória massacrante das potências nucleares. As quatro principais — EUA, China, Grã-Bretanha e Rússia — ocuparam os quatro primeiros lugares, nessa ordem. Juntas, somaram 137 medalhas de ouro. Se a esse total se adicionam as onze obtidas pela França, o quinto membro do original e imbatível clube nuclear, classificada em sétimo lugar, temos 148 medalhas de ouro — só três a menos do que a metade das 302 em jogo. É uma devastação. No day after, o que temos é paisagem lunar, poeira atômica na atmosfera, cadáveres empilhados, mortos-vivos a perambular entre ruínas.

O Brasil foi tratado como um dos mortos-vivos. Os comentaristas lamentaram o que, tudo considerado, teria sido um resultado acachapante. Bem pesadas as coisas, no entanto, tem-se que o 22° lugar obtido pelo país é bem melhor do que outros indicadores de sua posição no mundo — o 84° lugar (entre 187) no IDH, ou o 57° lugar (entre 65) no Pisa, o índice internacional de avaliação de estudantes. Na guerra de Londres, o Brasil até conseguiu refugiar-se num canto do qual lhe foi possível disparar alguns tirinhos, enquanto se esquivava do pior do contágio atômico. Um problema do país, se isso é problema, é que cinco das dezessete medalhas foram obtidas em jogos de bola (vôlei e futebol) e bola não é nem nunca foi arma. É brinquedo. Só serve para entreter soldado de folga.

Bye, bye, Londres - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 20/08

Londres não foi a primeira cidade a perder turista com as Olimpíadas, provavelmente gente querendo ficar longe da muvuca.
Segundo o consultor Mario Petrocchi, autor de cinco livros sobre gestão de turismo, houve queda de 3,1% de turistas na China em 2008 e 4,7% na Grécia em 2004.

Só que...

Presidente da Empresa Olímpica Municipal, Maria Sílvia Bastos Marques lembra que os Jogos de Londres ocorreram na alta temporada turística na Europa:
— Já no Rio será em agosto de 2016, um mês naturalmente de baixa temporada.

Aliás...
Os Jogos Olímpicos de Verão de 2016, este é seu nome oficial, serão realizados aqui em pleno... inverno.

Calma, gente
Desabafo do ministro Carlos Ayres Britto, sábado, para um amigo:
— É lamentável constatar-se que o homem, que não pode ser jovem para sempre, pode ser imaturo até a velhice.

Segue...

O presidente do Supremo Tribunal Federal está se referindo, é claro, aos desentendimentos entre os ministros da Corte e às críticas que vem recebendo, especialmente de Marco Aurélio Mello.

Piano e violino

O ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão, é um homem musical. Toca piano e violino desde os 16 anos.
Outra coisa: a música, assim como a pesca, é um bom remédio para quem anda um pouco nervoso. Com todo respeito.

AQUELE ABRAÇO
Já dizia Caetano, “o nosso amor é um coração colossal de grafite nos flancos de um trem de metrô”. Pois seu parceiro Gilberto Gil, autor de ““Aquele abraço”, ode ao meu, ao seu, ao nosso Rio, virou mural pop no Centro, com a assinatura do grafiteiro Ozi Duarte, um dos pioneiros da arte em São Paulo. O painel, de 8m de altura por 6m de largura, fica num respiradouro da Estação Cinelândia do metrô. O trabalho fez parte da exposição “Mural Itália-Brasil”, que esteve em cartaz na Caixa Cultural, com curadoria de Marco Antonio Teobaldo. A arte foi um presente para o metrô, que, acredite, chegou a pensar em mandar remover tudo. Mas, que bom, parece ter recuado da decisão. A companhia garante que “os murais do respiradouro da Cinelândia não serão retirados”. Viva Gil, viva a arte urbana! •

Eu apoio

A ONG Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) transformou aquela espera chata no telefone em serviço de utilidade pública. Quem liga escuta:
— Atenção: estamos em período eleitoral e de seca prolongada. Não troque seu voto por água. Quem pede votos em troca de água não merece sua confiança.

A turma da grana

Antonio Adolfo, 65 anos, o grande pianista que passa uma temporada na Flórida, EUA, onde mantém escola de música, é outro impressionado com o avanço dos brasileiros no mercado imobiliário de luxo por lá:
— Chegam a comprar prédios inteiros ou muitos apartamentos em edifícios sofisticados, como o Saint Regis, em Bal Harbour, bairro elegante.

Coração menos valente
A Casa da Palavra comprou os direitos de publicação no Brasil de "O rebelde’,’ de Jack Whyte ("Os templários”), que conta a história do herói escocês William Wallace, eternizado por Mel Gibson no filme "Coração valente”
No livro, Whyte, escocês radicado no Canadá, desmistifica a saga de Wallace, que não seria tão herói assim.

'Voteio-o!'
David Pinheiro, o Sambarilove da "Escolinha” de Chico Anysio, é candidato a vereador no Rio. Sugestão de um gaiato sobre sua fala na TV:
— Por que votar?... Por que não votar?... Por que votar?... Por que não votar?... Voteio-o!!!

Francisco do Pagode
Tuchinha, ex-chefão do tráfico de drogas na Mangueira, em liberdade, investe em sua carreira de sambista.
Assina como Francisco do Pagode (com os parceiros Aníbal, Silvão, Dr. Paulo Reza e L. Caxias) o samba n° 5 da disputa no Paraíso do Tuiuti.

A volta de Ednardo

Ednardo, 67 anos, autor de "Pavão misterioso’^ meio sumido, estará na Sala Funarte, no Rio, quarta.
Vai cantar no show em que Mona Gadelha lançará o CD "Praia lírica” com clássicos de cearenses dos anos 1970, como ele, Belchior e Fagner.

Direito Rio
A FGV Direito Rio ocupa o 1° lugar no 7° Exame da OAB, entre todas as universidades do país.

O outro lado
Isidor Weiss, proprietário de uma comporta em Teresópolis que, segundo o Inea, foi construída sem autorização para controlar a vazão do Rio Príncipe, diz que ela não serve para regular o fluxo de água do rio:
"As 'comportas' foram planejadas na forma de 'dobradiças,' para impedir a passagem de pessoas e animais de porte’!

Há testemunhas
Terça, às 17h, na loja Tocatta, especializada em gordinhas, na Tijuca, no Rio, uma magra entrou por engano e foi enxotada pelas clientes.
— Está cheio de lojas para você lá fora! Esta aqui é nossa! — bradou uma delas.

Plantão extra - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 20/08


O TST (Tribunal Superior do Trabalho) decidiu que o trabalhador que fica à disposição do empregador por meio do celular tem direito a remuneração extra pelas horas em que fica de sobreaviso. É um precedente: a corte já tinha editado até súmula afirmando que portar um telefone da empresa não era suficiente para caracterizar o plantão.

CELA

No caso específico, o chefe de almoxarifado de uma empresa gaúcha disse que portava o celular diuturnamente. Era alcançado nos finais de semana e feriados para supervisionar o estoque. O TST concluiu que suas folgas foram cerceadas pois, mesmo em casa, poderia ser chamado a qualquer momento.

DE VOLTA

E em setembro o TST deverá rediscutir a súmula do celular, já contrariada com essa decisão. Ela diz que portar bipes, pagers ou telefones do empregador não caracteriza que o funcionário está de sobreaviso "porque o empregado não permanece em sua residência aguardando a convocação para o serviço", como na era do telefone fixo.

ROMARIA

O vazamento de gás que esvaziou ruas do centro de São Paulo, na semana passada, também afetou a Câmara Municipal.

Vereadores e assessores desciam as escadas às pressas. A Eletropaulo chegou a avisar que desligaria a energia do prédio, o que acabou não acontecendo.

DO GRAJAÚ PRO MUNDO

O rapper Criolo fechou contrato com a Windish, agência de Chicago que tem entre seus artistas James Blake, Bebel Gilberto, Lee Fields and The Expressions, Tortoise e Toro Y Moi.

VERBO DIVINO

A Sociedade Bíblica do Brasil, que atende principalmente ao público evangélico, prevê distribuição recorde em 2012: 8 milhões de Bíblias, contra 6,8 milhões em 2011. E investe na expansão das "e-Bíblias": programa 21 lançamentos digitais no segundo semestre.

MEU IRMÃO CAMARADA

Mariana Ximenes já deu entrevista a Guilherme Fiuza para a biografia de Reynaldo Gianecchini.

Os dois ficaram amigos durante as gravações da novela "Passione" (2010).

NO ESCURINHO

Luis Fernando Verissimo terá um texto seu adaptado para o cinema. Paulo Halm ("A Casa da Mãe Joana") roteirizou a crônica "No Motel", sobre clientes que ficam trancados no lugar.

TODOS JUNTOS

O CCBB de São Paulo já tem agendada nova exposição para outubro, quando a do impressionismo, com obras do Museu D'Orsay, de Paris, acabar.

"Planos de Fuga" será uma mostra coletiva com obras "site specific" (feitas especialmente para o lugar) de Cildo Meireles, Gabriel Sierra, Carla Zaccagnini e Renata Lucas, entre outros.

COSTUREIRO DE PRÉDIO

O estilista Ricardo Almeida projetou ele mesmo a loja que abrirá em um mês na rua Bela Cintra, onde funcionou até o começo do ano a butique Giorgio Armani. "Contei com ajuda e consultoria, mas fiz eu", disse à coluna.

AS ROUPAS DO NEY

Trinta figurinos de palco de Ney Matogrosso compõem a mostra "Cápsula do Tempo", que abriu na sexta, no centro universitário Senac, em Santo Amaro. A atriz Rosi Campos e a apresentadora Marina Person foram ver as roupas do cantor. A coordenadora do curso de moda da faculdade, Tatiana Putti, também passou pela exposição.

CHÁ NA COXIA

A comédia francesa "Chá com Limão", com Gorete Milagres, estreou no teatro Geo nesse fim de semana. Marília Gabriela foi assistir ao filho Theodoro Cochrane, que faz parte do elenco. A cantora Patrícia Coelho também estava na plateia.

Curto-circuito

O Salão de Arte de SP abre hoje sua 19ª edição, no clube A Hebraica.

Paulo Barros recebe hoje e amanhã o chef Luca Collami, às 20h. Celebram um ano do restaurante Italy, na Oscar Freire.

O pianista Alvaro Siviero toca hoje com a Orquestra Acadêmica de Madrid, no Theatro Municipal.

O maestro chileno Roberto Bravo e a pianista russa Victoria Foust se apresentam hoje no Memorial da América Latina.

com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, CHICO FELITTI e LÍGIA MESQUITA

Planos em série - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 20/08


Os políticos são seres esquisitos. Não conseguem viver um dia de cada vez. Estão sempre olhando para o futuro como a hora da vingança, da virada, de tomar conta de espaços de poder. Alguns investem tanto tempo nisso que se esquecem de trabalhar o presente. Os planos traçados pelo ex-ministro da Casa Civil José Dirceu no passado e para o futuro são prova disso. No início do governo Lula, em 2003, a ânsia de conquistar espaços, aliados e sufocar adversários foi tal que, mesmo partindo do pressuposto que não seja verdade a existência do mensalão, não há como negar que o partido trocou os pés pelas mãos no caminho à hegemonia. Talvez, Dirceu agora esteja agora repetindo a dose.

No ninho das águias petistas que enxergam tudo do alto, há quem não tire os olhos da movimentação de Dirceu. Essa história de voltar a presidir o PT, por exemplo, dificilmente se materializará da noite para o dia. Primeiro, o julgamento mal começou. Em segundo lugar, se tem uma coisa que não fica vazio em política é espaço de poder. Por mais que se diga que o presidente do PT, Rui Falcão, não tem todo o borogodó político que a turma de Dirceu gostaria, o espaço está ocupado e a “fila” petista segue caminhando.

Obviamente, Dirceu tem influência no partido. Sua capacidade política é sedutora. Não por acaso recebia autoridades ilustres no hotel onde se hospedava em Brasília — inclusive José Sérgio Gabrielli que, coincidência ou não, pouco depois perderia a Presidência da Petrobras. Mas partir da premissa que ele se for absolvido, volta com força total, é precipitado.

Dentro do PT, há quem esteja certo de que Dirceu, para voltar a ter o mesmo prestígio de antes, precisaria ocupar um espaço tão grande como aquele em que estava no governo Lula, ou seja, a Casa Civil. E nada indica que Dilma Rousseff ou mesmo Lula, estariam hoje dispostos a dar esse lugar ao ex-ministro. Até porque, o poço de mágoas que ele carrega por conta desse julgamento no Supremo Tribunal Federal pode comprometer o desempenho, ao ponto de turvar a visão fria que um cargo dessa envergadura requer. O mesmo vale para o comando partidário.

Diante dessas premissas, está cada dia mais claro que, se Dirceu faz planos de retorno à ribalta, dentro do próprio partido há gente torcendo para que não consiga.

Por falar em ribalta...

Lá vem o horário eleitoral gratuito de rádio e tevê, nesta terça-feira. Será a hora de se conferirem várias teses:

1) Lula tem prestígio a ponto de levantar vários nomes do partido pelo país afora?
2) A propaganda dos candidatos virá logo depois de os telejornais da noite nas diversas emissoras apresentarem as últimas notícias do julgamento da Ação Penal 470. Isso influirá na escolha do eleitor? A resposta só teremos em outubro.

Por falar em respostas...

O que está mais perto de se ver respondido na política é o futuro da CPI do Cachoeira, que parece desinteressada em investigar o laranjal do contraventor que recebia as repasses da construtora Delta. Se continuar assim, será preciso fazer a CPI da CPI. Esta semana é decisiva. Vamos aguardar.

José Dirceu faz planos de retorno à ribalta no caso de absolvição, mas dentro do próprio partido as mudanças estão em curso e há grupos torcendo para ele que não consiga.

Disque P para pilhar - MURILO RAMOS

REVISTA ÉPOCA

Nem a Anatel escapa das cobranças indevidas na conta do telefone. Só que, ao contrário de você, a agência reguladora tem Ricarlos - o funcionário que flagra os malfeitos das operadoras


O técnico em eletrônica Ricarlos de Moraes é o herói desconhecido dos 100 milhões de brasileiros que usam telefone. Há sete anos, desde que virou funcionário da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Ricarlos se dedica, tal qual um Quixote 2.0, a desfazer os agravos cometidos pelas empresas de telefonia brasileiras. Seu Rocinante é um simples computador de mesa; sua Dulcineia, os cofres públicos. Seu chuço não é um iPhone. É um programa de computador criado por ele assim que entrou na Anatel, por um concurso de nível médio, quando tinha 27 anos. Chama-se ADT, ou Atesto de Despesas telefônicas. Com o tal ADT, Ricarlos, trabalhando numa salinha no subsolo da Anatel, em Brasília, consegue verificar se as empresas de telefonia que têm contratos com a agência cobram corretamente pelos serviços que prestam. Claro que elas cobram (bem) mais do que deveriam - até da instituição responsável por fiscalizá-las. Quando Ricarlos flagra os malfeitos das telefônicas com a Anatel, não tem essa de "0800", de "aguarde na linha, por favor, que vamos estar resolvendo seu problema". Ricarlos fala grosso, a Anatel glosa as faturas irregulares -eas empresas telefônicas aceitam a decisão sem abrir chamado nem dar número de protocolo. Ricarlos, infelizmente, trabalha em dedicação exclusiva à Anatel. Você não pode contratá-lo.

Ricarlos recebe, mensalmente, R$ 7.600, salário modesto se comparado ao dos principais engravatados da Anatel. Foi do próprio Ricarlos que partiu a iniciativa de criar o ADT, em 2005. Ele queria criar um sistema capaz de fiscalizar as ligações telefônicas originadas da Anatel e dos celulares em posse de servidores. O objetivo era identificar quais chamadas eram a serviço e quais eram particulares, de modo a reduzir os custos da Anatel com telefone e a cobrar dos funcionários gaiatos que usavam a agência como orelhão para falar com tias e namoradas. Um segundo objetivo tornou-se inevitável: comparar as informações obtidas por meio de sua invenção com as faturas entregues pelas operadoras telefônicas, aquelas contratadas pela Anatel para oferecer os serviços de telefonia fixa e celular. Ricarlos precisou de pouco tempo para confirmar que Claro, Oi e Embratel tungavam sistematicamente a agência. (A Embratel não tem mais contrato com a Anatel.)

As irregularidades identificadas por Ricarlos são idênticas às encontradas por muitos brasileiros em suas faturas mensais. Ricarlos descobriu três tipos de cobranças indevidas: cobranças que somavam mais do que o preço combinado, cobranças por serviços que nunca existiram e cobranças por serviços não previstos em contrato. Sempre a mais, nunca a menos. Parece familiar? Entre julho de 2010 e junho de 2011, o programa de Ricarlos detectou cobranças indevidas à Anatel no valor de R$ 211 mil - dentro de faturas que alcançaram R$ 771 mil. Juntas, portanto, as operadoras apresentaram valores 27% mais altos do que deveriam nesse intervalo de tempo. Exemplo: em janeiro de2011, a Claro cobrou R$ 14.229,65 da Anatel pela conta dos celulares, quando deveria ter cobrado apenas R$ 7.479,13. O que mais contribuiu para a diferença foi a assinatura básica. A Claro apresentou fatura de R$ 2.261,88 para esse item. O valor aferido pelo ADT, contudo, foi de R$ 1.552,08. O segundo fator mais importante para a diferença foi o adicional por deslocamento. O valor correto, checado pelo ADT, seria de R$ 289,32.

A quantia cobrada pela Claro foi de R$ 572,24. Com base nas informações do ADT, a Anatel pôde glosar quase metade do valor dessa conta. E deixou de pagar os valores indevidos cobrados a mais pela Claro. Em nota a Época, a Claro afirmou que a relação da empresa com a Anatel é satisfatória, "tanto que o contrato foi renovado quatro vezes consecutivas". A Oi afirmou que corrige os valores das contas quando o cliente tem razão. A Embratel informou que não comenta contratos de clientes. Nenhuma empresa respondeu, portanto, sobre os valores cobrados a mais da Anatel.

O grau de confiabilidade do sistema ADT é tamanho que a Anatel passou a usá-lo para justificar o bloqueio de qualquer valor diferente do obtido pelo sistema. Ricarlos e outros nove colegas da Anatel até ganharam um prêmio da agência, que qualificou a invenção de "revolucionária". Estranho, portanto, que a Anatel seja incapaz de lançar mão dessa ferramenta para punir as operadoras que a lesaram. Ao contrário. Mesmo tungando a Anatel, seus contratos foram prorrogados com a agência reguladora - prova de que a leniência da Anatel com as empresas fiscalizadas começa em casa. Segundo funcionários da Anatel, o sistema ADT poderia ser usado em larga escala, de forma que o consumidor não precisasse de um Ricarlos. Por que a Anatel não faz isso? E por que não pune as empresas que a tungaram?

Época tentou por dez dias obter respostas a essas perguntas. É mais fácil, porém, conseguir sinal de celular num elevador que arrancar explicações da Anatel. Há duas semanas, a reportagem pediu explicações por e-mail. Depois cobrou por telefone. Pediu de novo na segunda-feira. Pediu na terça-feira. Pediu na quarta-feira da semana passada. Na quinta-feira, Época foi à sede da Anatel em busca de respostas. Não passou da portaria. Não abriram nenhum chamado - e nem deram número de protocolo. Que falta faz um Ricarlos.

Etanol a reboque - JOSÉ ANÍBAL

Brasil Econômico - 20/08/


A política de preços do governo acabou por criar um jogo de soma zero entre a gasolina e o etanol, sobrepondo os dois mercados

O anúncio de que o governo federal pretende aumentar a mistura de etanol na gasolina dos atuais 20% para 25%, a partir de 2013, deveria servir de alento para um setor tão escanteado pela atual política energética. Na falta de uma estratégia de longo prazo, de políticas setoriais específicas, metas de expansão e de produtividade, além de adequações regulatórias, resta a velha prática de assegurar demanda como forma de oferecer um mínimo de previsibilidade e segurança a quem produz.

O problema, obviamente, não é a medida em si, mas o que ela reitera: a política sistemática de colocar o etanol a reboque das conveniências do mercado de combustíveis fósseis e, mais especificamente, dos resultados da Petrobras. Praticada desde 2003, a política do governo de manter o preço da gasolina artificialmente rebaixado, além de imune às variações do mercado internacional, apresenta agora sua fatura.

Por um lado, a competitividade do etanol caiu, o que diminuiu a procura, retraiu a oferta, derrubou a produtividade e congelou investimentos em renovação de canaviais e novas usinas, fazendo disparar a importação do combustível. Por outro, o aquecimento do mercado de combustíveis automotivos e a subutilização do etanol, somados à queda na produtividade da Petrobras e ao esgotamento da capacidade de refino, fizeram a importação de gasolina crescer 370% em relação ao mesmo período de 2011. O prejuízo da estatal na área de abastecimento chega a R$ 7 bilhões.

Como resultado, a participação dos combustíveis fósseis e nossa dependência aos mercados internacionais cresceram, há uma forte pressão inflacionária represada, a Petrobras está no vermelho e o setor de etanol deprimido, com investimentos declinantes e canaviais envelhecidos, sem condições de responder imediatamente às urgências tanto do mercado interno quanto da demanda externa - que volta a dar sinais de aquecimento.

Em suma, a política de preços do governo acabou por criar um inusitado jogo de soma zero entre gasolina e etanol. Agora que a gasolina virou "problema", recorre-se ao marginalizado etanol como uma espécie de remendo: aumentando a mistura do etanol na gasolina, alivia-se a pressão sobre a Petrobras e sobre a balança de pagamentos. Cabe somente ao governo responder por que os dois mercados precisam se sobrepor.

No mais, não se fala em definições sobre o papel do etanol na matriz energética, em planejamento de longo prazo, regras claras ou políticas públicas que deem segurança aos investidores.

Manobras táticas imediatistas voltadas ao socorro em situações desfavoráveis vão contribuir muito pouco para desatar os nós do abastecimento e para enfrentar de vez a instabilidade crônica a que o setor vem sendo submetido.

Vale lembrar: a indústria sucroenergética responde por 2% do PIB nacional, é o carro-chefe do nosso desenvolvimento de bioenergias e dela deriva toda uma complexa e sensível cadeia de pesquisa tecnológica e inovação competitiva. Noutras palavras, ela não pode se fiar em conjunturas momentâneas e incentivos circunstanciais.

Novo rumo para a política econômica - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Valor Econômico - 20/08


Com a ajuda que o conhecimento do passado trás ao analista, tenho hoje uma ideia bem clara dos limites da política econômica que a presidente Dilma herdou de seu antecessor. Vou mais longe ainda; sabemos que uma parte relevante do sucesso dos anos Lula na economia resultou de ajustes conjunturais importantes em função do aumento da confiança dos agentes econômicos, depois que ficou clara a decisão do governo do PT de respeitar marcos da política macro econômica do governo FHC. O aparecimento da China, como economia complementar à do Brasil, consolidou o cenário de entusiasmo e confiança na economia brasileira que se estabeleceu. As principais forças de aceleração do crescimento em função desses ajustes conjunturais e de expectativas foram, ao longo de tempo, as seguintes:

- queda rápida da inflação em função principalmente da valorização do real no mercado de câmbio;

- a acomodação da inflação permitiu a redução acelerada dos juros pelo Banco Central;

- a política de aumentos reais do salário mínimo, que em um ambiente de redução da inflação levou a um crescimento expressivo dos salários reais;

- em um ambiente de maior confiança, o sistema bancário passou a expandir de forma agressiva o crédito que, em poucos anos, passou de 22% do PIB para mais de 45% em 2010;

- com os salários reais crescendo e uma maior disponibilidade de crédito, viveu-se um período de expansão no comércio, com taxas de crescimento anuais superiores a 18% ao ano nas regiões mais pobres do Brasil;

- a resposta do setor privado a esse cenário de crescimento do consumo foi uma expansão importante dos investimentos para capturar essa nova dimensão do consumo das famílias no Brasil;

- finalmente, a partir de 2006, o aumento das importações de produtos industriais funcionou como uma fonte adicional de oferta de produtos em um momento de excitação da demanda evitando que um aumento da inflação interrompesse a política de queda de juros do BC.

Uma agenda que enfrente os desafios que temos pela frente terá que ser mais ambiciosa e de difícil venda no PT

É preciso citar ainda que, nesse período, o aumento das importações não chegou a afetar as vendas da indústria brasileira seja porque havia demanda para todos, seja porque as cadeias de importação ainda estavam sendo montadas;

Em resumo, o choque de otimismo criado a partir de 2004 permitiu que ocupássemos, ao longo dos anos seguintes, espaços ociosos que existiam em nossa estrutura produtiva - e uso aqui seu conceito mais abrangente - sem a necessidade de novos investimentos. Prevaleceu então, por vários anos, a doce ilusão de que poderíamos crescer a taxas mais elevadas simplesmente surfando indefinidamente a onda da continuidade da política econômica de Lula.

Mas nos dois últimos anos - principalmente agora em 2012 - ocorreu um choque de realidade para a sociedade e, principalmente, para o governo da presidente Dilma. A política de estimular o consumo via medidas pontuais, seja na área do crédito público e via isenções fiscais em mercados de consumo não consegue mais manter as taxas de crescimento do passado à medida que as forças de ajustes conjunturais dos anos Lula se esgotam. Mais do que isso, algumas delas inverteram o sinal e passaram a funcionar como limitadores de crescimento. É o caso, por exemplo, das taxas muito baixas de desemprego e do nível de endividamento elevado de alguns segmentos sociais.

Para se encontrar novamente o caminho de um crescimento econômico mais forte será necessário eleger o aumento da oferta de bens e serviços, principalmente via mobilização de investimentos maciços em setores da infra estrutura econômica, como nova prioridade do governo. Mas só essa mudança de prioridades - investimentos versus consumo - não basta. O amadurecimento e fortalecimento da economia brasileira ao longo dos últimos anos, principalmente nas relações com o exterior, revelaram uma série de problemas estruturais graves no sistema produtivo do país.

Mascarados por várias décadas, em função principalmente do isolamento que vivemos em relação à competição externa, eles hoje estão escancarados e à vista de todos. A partir de 2003, com uma moeda fortalecida em função de nossas contas externas e com a expansão da demanda interna, as importações crescentes revelaram o absurdo da nossa estrutura de custos de produção. Um sistema tributário caótico, impostos e taxas que oneram de forma irracional os custos de uma cesta importante de insumos de produção e uma logística ineficiente e cara fazem com que os custos de produção no Brasil sejam um ponto fora da curva no universo das nações emergentes.

Felizmente o governo federal vem emitindo sinais claros de que está tomando consciência da encruzilhada em que se encontra a economia brasileira. Pelo menos dois itens de uma nova agenda de ações estão sendo considerados seriamente: a necessidade de se aprofundar e tornar mais eficiente o programa de concessões de serviços públicos e uma política de redução dos custos de produção, começando pela indústria manufatureira.

Mas só essa mudança de sinal na ação do governo não será suficiente. Uma nova agenda que enfrente os desafios que temos daqui para frente terá que ser muito mais ambiciosa e de difícil venda dentro do PT em função de uma teia de interesses corporativos. Mas como dizem os chineses, uma marcha de 50 km começa necessariamente com o primeiro passo. E este já está sendo dado pela presidente Dilma.

GOSTOSA


O que perdemos com as greves - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 20/08


Quando não são vítimas diretas do mau funcionamento de serviços essenciais decorrente das greves no setor público, os brasileiros tomados como reféns pelos funcionários - que querem arrancar do governo federal a promessa de aumentos salariais que o País não tem condições de pagar - são obrigados a assistir às cenas de confusão e grandes congestionamentos nos aeroportos e estradas. Longas esperas, irritação, perda de compromissos têm sido o preço pago pelos cidadãos que os grevistas vêm utilizando para tentar obter vantagens financeiras à custa dos contribuintes.

Da chantagem sindical praticada pelos servidores em greve, porém, há outras consequências tão graves quanto essas - e talvez de efeitos negativos muito mais duradouros -, mas não tão visíveis. Há pouco, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) mostrou que a paralisação dos serviços públicos na área aduaneira impõe perdas financeiras imediatas e pesadas às empresas de comércio exterior e que o enorme atraso na liberação de produtos importados e dos destinados aos mercados externos poderá comprometer os negócios futuros do setor.

Com a constatação de que, em decorrência da greve dos funcionários federais de diversas áreas, em certos dias havia cerca de 150 navios parados nos portos, aguardando liberação para carregar ou descarregar mercadorias, a AEB estimou em até US$ 12 milhões a perda financeira diária das empresas apenas com armazenagem da mercadoria, com base no custo de US$ 30 mil a US$ 80 mil por navio.

Esta é uma perda tangível e imediata. Mas há outras, menos óbvias e que podem ter efeitos de longo prazo. Uma delas é o atraso na liberação e o encarecimento das mercadorias destinadas ao mercado externo, o que torna menos competitivo o produto brasileiro num momento em que, por causa da crise, é cada vez mais difícil exportar.

O atraso no embarque da mercadoria, por sua vez, pode causar multa e até cancelamento do contrato. Algumas exportações, como lembrou o presidente da AEB, José Augusto de Castro, utilizam carta de crédito, que tem prazo de validade. "Se eu não consigo embarcar dentro do prazo, perco a garantia. Ou seja, deixo de ter a garantia de pagamento e o importador vai pagar se quiser", exemplificou.

Outra consequência é a deterioração da imagem do exportador brasileiro e do próprio País no exterior, que passam a ser vistos como não cumpridores de contratos. Mercados conquistados duramente numa longa disputa com concorrentes externos podem ser perdidos em pouco tempo. Isso pode prejudicar ainda mais o desempenho das exportações brasileiras, já afetadas pela crise mundial.

Do lado das importações, o atraso na liberação das mercadorias por causa da greve dos servidores da Receita Federal e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pode prejudicar o fornecimento de componentes e matérias-primas para a indústria, o que afeta a produção industrial. Além disso, eleva os custos de armazenagem e o custo da produção interna, com reflexos nos preços dos produtos finais. Em alguns casos, pode ocorrer perda de produtos por deterioração.

O que mais espanta nas conclusões da AEB sobre as perdas para o País causadas pela greve dos funcionários que atuam no comércio exterior é a frequência com que esses servidores recorrem às paralisações para extorquir vantagens do governo. De 2005 até a terça-feira, 14/8, quando a AEB apresentou seu estudo sobre os efeitos nocivos das greves no setor público, o total de dias parados acumulados pelos funcionários federais designados para a área aduaneira - do Ministério da Agricultura, da Receita Federal, da Anvisa e do Ibama - alcançou 659.

É como se, de pouco mais de sete anos e meio, praticamente dois tivessem sido de greve de alguma ou algumas das categorias de servidores que atuam no comércio exterior, com os efeitos imagináveis sobre as exportações, as importações e, portanto, a atividade econômica.

Além de frequentes (apenas em 2011 não se registrou greve de servidor da área aduaneira), as paralisações são de longa duração e de alto custo para o País.

Senso e contrassenso - ROBERTO LUIS TROSTER

O Estado de S. Paulo - 20/08


O ônus da tributação no Brasil é um problema que é agravado em razão da má qualidade de sua estrutura. É uma colcha de retalhos que vem sendo remendada desde a década de 1960. São dezenas de impostos e contribuições, com milhares de alíquotas diferentes. Comparações internacionais apontam que o Brasil é o país onde mais horas são gastas por empresa para satisfazer as exigências da arrecadação.

Além da manutenção de uma multidão de contadores, advogados e despachantes, existem dois custos adicionais. O primeiro é composto pelas contingências tributárias, que aparecem em razão da complexidade das normas. É um dispêndio adicional de gente, tanto do lado das empresas como do governo, para resolver divergências.

O segundo é o custo da guerra fiscal entre municípios, que usam sua autonomia para fixar tributos para atrair empresas. O usufruto dessas reduções de alíquotas exige toda uma documentação extra para provar que é verdadeira a mudança de domicílio, e uma fiscalização adicional dos governos subnacionais para penalizar os que forjam uma transferência para sonegar a tributação local.

O ponto é que esses recursos, gastos em atender à burocracia e na fiscalização de sua observância, não trazem benefícios ao País. É um desperdício de energia humana sem sentido. O pior é que o problema se está agravando em razão da tecnologia, que permite operações à distância e o comércio eletrônico. Atualmente é possível, a partir de uma única localidade, prestar serviços aos mais de 5 mil municípios, o que origina inúmeras indefinições sobre a tributação.

No setor financeiro, a complexidade é bizantina. Algumas operações, como arrendamento mercantil e assessoria, são tributadas com o Imposto Sobre Serviços (ISS), que tem alíquotas diferenciadas dependendo do município. Na intermediação também incidem o IOF, o IRF e o PIS/Cofins, gerando mais distorções e limitando seu potencial de contribuição.

Essa estrutura é regressiva: as pequenas operações pagam proporcionalmente mais tributos que as de maior valor. A razão é que, como têm custos unitários proporcionalmente maiores, pagam taxas mais altas, em que há uma incidência maior do PIS/Cofins. Tira-se mais de quem pode menos.

Outro defeito é o impacto do IOF nas operações de financiamento, que aumenta com a queda da taxa básica. O tributo incide sobre o principal, portanto, mesmo que o custo de captação fosse reduzido a zero, ele deve ser arrecadado, e a cunha fiscal no crédito continuaria positiva. Seu efeito é proporcionalmente maior quanto menor for a taxa cobrada. Uma aberração.

Uma distorção adicional do IOF é que, nas renegociações de operações, dependendo do prazo, volume e instituição, há uma nova tributação. Apesar de ser pago pelo tomador, ele é financiado e pago ao Fisco pelo banco. Portanto, no caso de não pagamento, é uma perda adicional para a instituição, o que desestimula rearranjos. Num quadro de inadimplência alta e juros baixos, como o atual, é mais um problema.

A tributação da intermediação financeira é um contrassenso, onera o crédito, emperra renegociações de dívidas, afeta mais as operações de menor valor e não estimula a poupança de prazos mais longos. Há uma solução que poderia manter o nível de arrecadação para o governo, simplificar o cumprimento da exigência para as instituições, melhorar a eficiência da intermediação financeira e, o que é fundamental, ter um efeito positivo na oferta de crédito.

A sugestão é substituir o IOF, IRF, PIS, Cofins e ISS de operações financeiras por um único imposto de valor agregado, que seria devido apenas sobre os rendimentos financeiros líquidos recebidos. Seriam tributados a uma alíquota única e compensados com o Imposto de Renda na declaração anual. O Brasil tem um conhecimento sofisticado da arrecadação com impostos de valor adicionado, em razão de sua experiência. Portanto, o Tesouro Nacional tem capacidade de implantar o tributo rapidamente e, para as instituições financeiras, seria uma tributação mais simples.

A fixação da alíquota seria calibrada de forma a que o nível de arrecadação tributária se mantenha e seria ajustada todos os anos de forma a atuar como um estabilizador ao longo do ciclo econômico. A incidência seria para quem recebe rendimentos apenas, portanto mais justa, e com a alíquota única se acabaria com a guerra fiscal entre prefeituras, que seriam compensadas com um repasse.

Há benefícios com a mudança. O mais importante é desonerar o crédito, proporcionalmente mais de operações menores. Haveria um incentivo para reestruturar dívidas, menos custos de observância com a arrecadação do imposto, mais justiça na tributação e um efeito positivo na demanda e na oferta de financiamentos e, com isso, mais arrecadação de todos os demais tributos.

Há mais deformidades na intermediação financeira, algumas que poderiam e deveriam ser corrigidas pelo governo e outras, pelos próprios bancos. É uma questão de bom senso começar a eliminar distorções. Com isso, ganha o País, e a intermediação financeira adquire mais legitimidade. Obviamente, há mais aprimoramentos que podem ser feitos na economia. Mas insiste-se em ignorar os problemas e procurar culpados.

Atribui-se a responsabilidade da queda nas projeções de crescimento do Brasil à crise mundial.

Todavia, a redução na taxa de expansão do PIB aqui é maior que a de outros países, inclusive da Europa, apontando que a responsabilidade da queda se deve mais a fatores internos, que urge consertar. Os indicadores conjunturais também sinalizam o começo de uma retomada, que poderá ser mais forte e duradoura, dependendo das correções que forem feitas. E uma questão de bom senso.

Cruzar os Andes a pé - MAURO LAVIOLA


O GLOBO - 20/08


Simples coincidência ou jogo político dos mandatários de Chile, Colômbia, México e Peru ao firmarem o documento constitutivo desse novo bloco latino-americano aos 2.400 metros de altura do deserto de Atacama e aos pés dos quatro maiores telescópios existentes no mundo localizados no Cerro Paranal?
Parece terem escolhido o local para marcar o tamanho e a visão estratégica que pretendem dar a essa união. Efetivamente, após somente quatro encontros negociadores, realizados entre abril de 2011 e junho de 2012, firmaram o compromisso de criar um novo espaço de integração regional mais além dos acordos previstos no âmbito da Aladi.
Alguns aspectos relevantes podem modificar substancialmente o panorama econômico, comercial e político da região:
a) o acordo abrange as quatro economias mais pujantes e abertas de região segundo os índices médios de crescimento superiores a 5% alcançados nos últimos anos e pelos acordos extrarregionais firmados com Ásia, Europa e Estados Unidos;
b) a presença do México tende a afastar ainda mais aquele país do Cone Sul;
c) esse novo pacto, ao contrário de outras alianças regionais impulsionadas por dogmas ideológicos avessos aos "malvados e aos imperialistas", visa a projetar as nações pactuantes ao mundo desenvolvido como forma de combater o subdesenvolvimento endêmico;
d) atuar como uma unidade regional coordenada nas relações internacionais valendo-se da avançada rede de acordos comerciais vigentes na região e com europeus, norte-americanos e asiáticos;
e) talvez a mais sábia das decisões dessa aliança tenha sido descartar qualquer vínculo de união aduaneira, em boa hora revogada na Comunidade Andina de Nações e absolutamente inatingível no Mercosul.
Costa Rica e Panamá participaram dos entendimentos como observadores e, quando desejarem, poderão solicitar adesão ao bloco.
Este último país, inclusive, foi recentemente aceito como o 13º membro efetivo da Aladi e seus correspondentes compromissos institucionais com o organismo facilitarão seu ingresso no novo bloco.
Mais do que um espaço de integração e de colaboração recíproca na economia e no comércio, a aliança projeta uma visão conjunta de abertura aos países asiáticos que representam, atualmente, a vanguarda do desenvolvimento tecnológico em bens e serviços.
Os acordos firmados pelos seus integrantes com a China, Coreia do Sul, Cingapura e Japão, entre outros, dão especial ênfase às disciplinas que regulam investimentos e transferência de tecnologias entre as partes, justamente tópicos que falam mais forte do que as preferências tarifárias nas relações entre países desenvolvidos e emergentes.
Enquanto isso, as nações da costa leste do Atlântico esmeram-se em protagonizar atos políticos insanos e ações comerciais deletérias interna e externamente que, progressivamente, vão arruinando as relações socioeconômicas no continente e provocando repercussões negativas de efeito planetário.
Preocupa-me constatar que o continente sul-americano, com enorme potencial de riquezas e de desenvolvimento, se mostre ao resto do mundo com uma clivagem conceitual tão profunda entre a Aliança do Pacífico e o Mercosul vivendo sérios problemas institucionais e agora estigmatizado com a tempestiva entrada da Venezuela.
Trata-se de uma separação continental indesejável que traz percalços praticamente intransponíveis, tanto quanto cruzar os Andes a pé.

Socialismo tardio - EDITORIAL O GLOBO

O Globo - 20/08


"Presidentes que não saem do ar: Hugo Chávez, da Venezuela, Cristina Kirchner, da Argentina, e Rafael Correa, do Equador, usam redes nacionais de rádio e TV para impor sua visão", informa O GLOBO de ontem em matéria que revela como arma política o "microfone estatal a serviço do poder".

Estive em Cuba com minha família há apenas alguns anos. Fidel Castro era ainda presidente. Quando liguei a televisão no hotel e percorri os canais, o comandante estava em todos eles. Era ainda pior do que esse clássico sintoma de tiranetes em ascensão que se comunicam com frequência em cadeias nacionais de televisão. Filmado em diferentes ocasiões, em longuíssimos discursos, fazia preleções para crianças em escolas, presidia reuniões políticas, exortava jovens em cerimônias de formatura universitária, recebia delegações políticas estrangeiras, em onipresente tentativa de lavagem cerebral. Entusiasmante nos primeiros minutos, tolerável por meia hora e insuportável a partir de então. Chávez, a cuja visita pude assistir naquela ocasião, teve mesmo em Fidel um grande mestre.

Hoje sabemos todos que Lula não era Chávez. Mas nem todos sabíamos que o Brasil não é a Venezuela. O antigo procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza sabia. O atual procurador-geral, Roberto Gurgel, e o ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa também. Quem não sabia era a turma do mensalão.

Há quem, ainda hoje, acredite na concentração dos poderes políticos, na centralização administrativa, na estatização da economia e no controle da mídia como receitas adequadas para o Brasil. O equívoco intelectual tem nome: um exacerbado socialismo nacionalista.

Essa é uma estrada conhecida, trilhada à "esquerda" e à "direita" por regimes totalitários que infelicitaram milhões de seres humanos. Enveredaram por esse caminho as ditaduras de partido único da Itália de Mussolini, da Alemanha de Hitler, da Rússia de Stalin. O caminho da servidão.

"Mussolini foi antes de tudo um socialista. O ingrediente nacionalista foi também virulento. O fascismo italiano é, como o nazismo alemão, um nacional-socialismo", diagnostica o insuspeito e lúcido Edgar Morin, em "Cultura e barbárie europeias" (2005). O socialismo bolivariano é a doença latina do século XXI.

Caça à ineficiência - EDITORIAL FOLHA DE SP

Folha de S. Paulo - 20/08


Teto baixo da atividade econômica será rompido com aumento da produtividade, o que requer energia mais barata e menos impostos


Como previsto, a atividade econômica do Brasil iniciou uma fase de retomada na passagem do primeiro para o segundo semestre. Nada ainda indica, contudo, que o ritmo dessa recuperação redunde em alta do PIB acima da frustrante faixa de 1,5% a 2% em 2012.

Em junho, as vendas do comércio ficaram 6,1% acima de maio. O saldo de contratações com carteira assinada em julho ficou 1,4% acima do verificado em julho de 2011 -depois de ter caído 44% em maio, na mesma base de comparação.

O índice de atividade econômica do Banco Central (um precursor do PIB) cresceu 0,75% sobre maio, a melhor marca do ano. Mantida a marcha por 12 meses, o que é improvável, a produção subiria 9%.

Alguns vetores confluem para a retomada. A queda dos juros e da inflação prepondera entre os fatores gerais, macroeconômicos. É plausível que a desvalorização do real também venha ajudando a indústria nacional. Os incentivos para compra de automóveis destacam-se entre os estímulos setoriais.

A recuperação baseada no estímulo ao consumo, contudo, tem um teto -que agora ficou mais baixo, inviabilizando a repetição do efeito catalítico que a opção produziu contra a crise em 2008 e 2009.

A oferta de bens pela indústria local descasou-se a tal ponto do poder de consumo da população que a entrada de produtos importados, para suprir o aumento da demanda, se tornou um contrapeso importante a segurar o PIB.

Além disso, a alta do emprego e dos salários sustentada pela bonança anterior elevou o custo das empresas acima do que as vendas poderiam compensar. O resultado foi um estrangulamento geral de margens de lucro, que sufocou o investimento privado.

Daí a dificuldade de novos estímulos ao consumo, via crédito, impulsionarem a atividade como um todo. A única saída dessa sinuca, rumo a taxas mais elevadas de crescimento, é aumentar a produtividade da economia. Com a mesma quantidade de trabalho aplicada, o Brasil precisa produzir mais.

Como a melhora na infraestrutura prometida pelo plano de concessões ao setor privado não virá da noite para o dia, restam ao governo duas medidas cujo efeito seria imediato na produtividade do país.

A primeira é uma redução substancial nas tarifas de energia elétrica, aproveitando o vencimento das concessões de boa parcela do parque de geração nacional. A segunda é reduzir a carga tributária, de maneira escalonada e prudente, mas começando já.

Para isso, o governo e as estatais de energia terão de se tornar mais eficientes -o que não é difícil, diante da quantidade de gordura para queimar nesses segmentos.

Começar de novo - MARIA INÊS DOLCI

FOLHA DE SP - 20/08


Três em cada quatro correntistas mantêm suas contas no mesmo banco em que recebem salário ou aposentadoria. São, portanto, fieis à instituição com a qual se relacionam, embora nem sempre haja reciprocidade do banco.

Essa informação, que consta de pesquisa feita pela ProTeste para avaliar a satisfação dos correntistas, também apurou que os piores itens, para os consultados, foram serviço de atendimento ao cliente e custo de manutenção da conta.

As instituições financeiras deveriam refletir profundamente sobre essas constatações, pois está se esgotando o tempo em que podem ganhar dinheiro sem fazer força, devido aos juros estratosféricos que ainda são cobrados nos empréstimos no Brasil.

É inevitável que, mais cedo ou mais tarde, verifique-se verdadeira concorrência no mercado brasileiro. Quando isso ocorrer, aspectos hoje desconsiderados, como a verdadeira fidelização -decorrente da qualidade do relacionamento com o cliente, e não da oferta incessante e inoportuna de produtos e de serviços bancários, inclusive venda casada- terão papel relevante no desempenho dos bancos.

Situação similar enfrentaram as indústrias brasileiras, que viviam tranquilas enquanto a hiperinflação propiciava ganhos automáticos com aplicações financeiras de curta duração e alta remuneração.

A redução expressiva dos índices inflacionários após o Plano Real, para um dígito ao ano, expôs a má gestão de muitas companhias, que foram adquiridas por concorrentes ou simplesmente fecharam as portas. Muitas marcas importantes hoje existem apenas na lembrança dos que têm boa memória.

O mercado quer saber mais de competência do que de procedência. E, quando o cenário muda, o tempo para adaptação é bem curto.

Isso poderá acontecer com os bancos que continuarem pensando somente em seus lucros bilionários, sem oferecer contrapartida em serviços e respeito a seus clientes.

Ações como o envio de cartões não solicitados e as armadilhas que dificultam o fechamento das contas dos correntistas são exemplos do que é inaceitável e será inconcebível. Empurrar um seguro a quem necessite de um empréstimo, idem.

Deve haver, além disso, mais cortesia no tratamento daqueles que, embora não sejam clientes, vão à agência pagar uma conta. Discriminá-los é fechar a porta a um futuro relacionamento.

Parecem detalhes, mas não são. Conforto, gentileza e presteza no atendimento já não são diferenciais, e sim a base de tudo.

Hoje, porém, o tratamento varia conforme a carteira de investimentos e dos produtos adquiridos pelo cliente. Quem propicia mais lucro à instituição é VIP. Os demais, que percam tempo em filas, paguem tarifas caras e recebam serviços de má qualidade.

As reclamações que lideram o ranking no Banco Central mostram como há descaso para com os correntistas: débitos não autorizados e cobranças de serviços não contratados.

Há, nesses casos, quebra de confiança entre prestador de serviços e cliente. Um descuido pode bastar para que sejamos lesados.

Os bancos que atuam no Brasil foram pioneiros em automação bancária e tiveram outros feitos, como levar seu atendimento a milhares de localidades, em um país que mais se assemelha a um continente. Acostumaram-se mal, contudo, com a hiperinflação e com as absurdas taxas de juros.

Têm uma boa base para se adaptar à nova realidade de mercado, pois seus correntistas não querem usar a portabilidade da conta. Mas deveriam começar a ler, atentamente, o Código de Defesa do Consumidor e a respeitá-lo.

Outra boa ideia seria estabelecer um novo pacto com os clientes e ganhar dinheiro financiando a atividade produtiva, inclusive correndo algum risco em novos empreendimentos, como é norma em vários países.

Terão de escolher se lamentam um passado de glórias e um futuro sem brilho, ou se mudam hoje, para continuar lucrando muito. Ficar bem ou mal na foto.

GOSTOSA


Democracia mundana - VINICIUS MOTA


FOLHA DE SP - 20/08


SÃO PAULO - Começa amanhã o intensivão da campanha para prefeito. A exposição ostensiva das candidaturas na TV e no rádio vai tirar o eleitorado da indiferença até a votação de 7 de outubro.
Na capital paulista, é o momento de verificar se Celso Russomanno, do PRB, terá força para romper a profecia da polarização entre PSDB e PT.
Da estreia da votação em dois turnos, em 1992, até 2008, jamais a eleição em São Paulo foi decidida na primeira rodada. Um candidato petista qualificou-se para o segundo turno em todos os cinco certames.
Rival do PT nas três finalíssimas da década de 1990, o malufismo perdeu o posto para o tucanato nas duas eleições seguintes. Com Russomanno, é o malufismo, na sua vertente popular e conservadora, que se insinua de novo, atualizado na figura do vingador televisivo.
É o malufismo desprovido não apenas de Maluf -o novo amigão de Lula-, mas também de uma máquina de fazer campanha à altura da tucana ou da petista.
Para cada dez minutos de exposição de Serra ou Haddad na TV, durante a propaganda obrigatória, Russomanno aparecerá menos de três. Isso sem contar a larga vantagem do PT e do PSDB na capacidade de arrecadar dinheiro.
Ligadas à sigla de Russomanno, a Igreja Universal e a TV Record dificilmente compensarão a desvantagem. Nesse período a Justiça Eleitoral mitiga eventuais vieses na radiodifusão. Além disso, o apoio das denominações evangélicas está distribuído entre as principais candidaturas.
Para usar uma metáfora bíblica, o desafio de Russomanno de manter-se entre os dois mais votados no primeiro turno é como o de Davi contra Golias.
Na mitologia hebraica, Davi prevaleceu, pois era do partido divino. Na realidade mundana de uma democracia em maturação que depura seus partidos, Deus não vai resolver. Tampouco Seus porta-vozes.

O grande clichê - RUY CASTRO

FOLHA DE S.PAULO - 20/08


RIO DE JANEIRO - Um usuário de álcool, maconha, cocaína ou qualquer droga que: 1) Já tenha suspeitado de que seu uso da substância começa a sair de controle; 2) Sentiu-se angustiado pela possibilidade de seu estoque acabar naquela noite ou nas próximas horas; 3) Tentou parar de usar e não conseguiu; ou 4) Tiver sentido os mal-estares típicos da síndrome de abstinência -enfim, se um usuário admitir que já passou por apenas uma dessas situações, já pode ser considerado dependente.
Um levantamento promovido pela USP e pelo Inpad (Instituto Nacional para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas), ouvindo 4.067 pessoas em 149 cidades de todos os Estados, concluiu que há 1,3 milhão de brasileiros dependentes de maconha, sendo adolescentes mais da metade destes. É um número muito alto para uma droga que, como martela o tremendo lobby a seu favor, "não vicia", não tem "problema algum" e faz "menos mal que o cigarro comum".
A dependência significa o fim do uso recreativo do produto -sendo este o período em que o usuário ainda pode optar por usá-lo ou não naquele momento e, se optar pelo não-uso, não sentirá alterações físicas ou emocionais consideráveis. Ou seja, em que a razão ainda prevalece sobre a fissura.
Na dependência, a situação se inverte, e o indivíduo não é mais senhor de decidir pelo uso ou não. Ele tem de usar, e agora -caso contrário, o organismo lhe cobrará caro, na forma de, no caso da maconha, ansiedade, irritação, insônia, dores abdominais, desconforto físico geral e outros sintomas que só serão aliviados com o uso do produto.
O número de usuários "recreativos" é dez vezes maior que o de dependentes, e nem todos são ou ficarão dependentes, claro. Mas é sempre o grande clichê: todo dependente, um dia, já se julgou superior à substância e, pior ainda, superior a si mesmo.

Basta - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 20/08


O que é corrupção ideologicamente justificada? O PT diz 'porque sou do bem, roubo'


A Anvisa é uma das agências fascistas que querem controlar nossas vidas nos mínimos detalhes, com sua proposta de exigir receita médica para comprar remédios tarja vermelha. É uma das pragas contemporâneas.

Não acredito na boa vontade nem na ciência desses tecnocratas da Anvisa. Acho que eles se masturbam à noite sonhando como vão controlar a vida dos outros em nome da saúde pública. Não acredito em motivações ideológicas para nada, apenas em taras sexuais escondidas. Freud na veia...

Dou mais dois exemplos desse tipo de praga: proibir publicidade para crianças e cotas de 50% nas universidade federais para índios, negros e pobres (alguma pequena porcentagem neste último caso vá lá).

Nós, contribuintes, não podemos nos defender dessa lei das cotas. Essa lei rouba nosso dinheiro na medida em que somos nós que pagamos pelas universidades federais.

Até quando vamos aceitar esta ditadura "light" que "bate nossa carteira" dizendo que é em nome da justiça social? "Justiça social" é uma das assinaturas do fascismo em nossa época.

O fascismo não morreu, e um dos maiores desserviços que minha classe intelectual presta à sociedade é deixar que as pessoas pensem que o fascismo morreu. Aldous Huxley ("Admirável Mundo Novo"), George Orwell ("1984") e Ayn Rand ("A Revolta de Atlas") deveriam ser adotados em todas as escolas para ensinar o que os professores não ensinam e deveriam ensinar: que o fascismo não morreu.

O fascismo é a marca de tecnocratas e políticos que querem governar a vida achando que somos idiotas incapazes de decidir e que usam nosso dinheiro para esconder suas incompetências e sustentar suas ideologias "do bem". Querem nos tornar idiotas e pobres, para depois "tomar conta de nós".

O governo brasileiro, que flerta com o fascismo, engana as pessoas se concentrando em temas da "igualdade" e "saúde pública". A proposta de cotas nas universidades federais, além de populismo sem-vergonha, maquia a incompetência imoral do governo em retribuir à sociedade o que arrecada monstruosamente em impostos. A máquina de arrecadação de impostos no Brasil faz do governo sócio parasita de todo mundo que trabalha.

Em vez de investir dinheiro na educação básica, sua obrigação, o governo usa o dinheiro público em aventuras como o mensalão, se escondendo atrás de medidas (cotas nas universidades, controles da Anvisa, proibição de publicidade para crianças) que não arranham a corrupção ideologicamente justificada inventada pelo PT, mas que têm grande apelo publicitário.

O que é corrupção ideologicamente justificada? Você se lembra do "rouba, mas faz"? O PT diz "porque sou do bem, posso roubar". Essas leis não atrapalham a corrupção porque não disputam dinheiro com a corrupção. O pior é que, como parte do corpo de professores e funcionários das universidades federais é também fascista, acha isso tudo lindo.

Quanto à proibição da publicidade infantil, todo mundo sabe que só a família e a escola podem fazer alguma coisa para educar crianças. Todo mundo sabe que é difícil educar, ocupar e conviver dizendo "não" para as crianças. Todo mundo sabe que, quanto menos a mãe está em casa e quanto mais ela é só e menos tempo tem para criança, mais a criança come porcaria.

E quanto mais isso tudo acontece, mais se precisa de escola pública competente para preencher o vazio de famílias que não cumprem sua função, ainda que nunca seja a mesma coisa. Mas escola pública atrapalha a corrupção porque gasta o dinheiro da "mesada do bem". Mais barato para o governo é brincar de proibir a publicidade infantil.

Os mesmos que gozam pensando em mandar na vida dos outros são os que mentem quando não dizem que as crianças comem porcaria porque ficam largadas em casa sem mãe para tomar conta delas (e sem boas escolas). Não precisa ser gênio para saber que,sem mãe atenta, nada funciona na vida das crianças.

Os mesmos que cospem na cara da família como instituição, estimulam as mulheres a pensarem só em si mesmas e acusam a família de ser autoritária são os que pedem a proibição da publicidade infantil.

Duas épocas da corrupção - RENATO JANINE RIBEIRO


Valor Econômico - 20/08


O tema mais frequente nas discussões sobre o poder no Brasil, pelo menos no período republicano, é a corrupção. Mas não é um grande tema político, por uma simples razão: esse assunto, ao substituir a política, degrada-a. Em vez de se debater quais rumos nosso País deve tomar, acusa-se o outro lado de praticar crimes comuns. Ou seja, nossa sociedade se porta como se não houvesse rumos a escolher para o Brasil - apenas, crimes dos quais escapar. Não discutimos a política, mas o crime. Não procuramos construir um futuro para nossa casa comum. Limitamo-nos a reclamar dos homens maus que nos enganam. No fundo, nem sei se pensamos em futuro. Queixamo-nos do presente e do passado. Para uma sociedade ter futuro, ela precisa projetar o destino que quer construir. Isso é bem mais do que reclamar da sina que se abateu sobre nós, do que falar mal da gente má que nos faz mal.

Mas quero me ater a duas épocas da República, as mais recentes. Não falarei do Império ou da República Velha, com sua enorme fraude eleitoral, mas dos últimos cinquenta anos. A ditadura militar abafou a crítica, na fase que começa com o Ato Institucional nº 5, em dezembro de 1968. Contudo, no fim da década de 1970, jornalistas corajosos começam a investigar casos graves de corrupção. Começa aí uma época que duraria quase duas décadas. Ainda sob o regime militar, a imprensa denuncia a corrupção. Já no governo civil, Jânio de Freitas revela o caso da Ferrovia Norte-Sul. Sarney era presidente. Seu sucessor, Fernando Collor, não completa o mandato - porque ele mesmo é denunciado e julgado. Em dezembro de 1992, ele se torna o único presidente do Brasil a perder o cargo por impeachment. No ano seguinte, há mais acusações, das quais a principal é a dos deputados chamados de "anões do orçamento".

Essa foi uma fase heroica da história da imprensa brasileira e, por que não dizer, do Brasil também. Começa com jornalistas valentes, enfrentando um regime no qual grassavam a tortura, a censura, a ditadura. Prossegue, no início da frustrante Nova República, com profissionais da imprensa e parlamentares se empenhando em apurar casos graves, isso enquanto ainda se teme a volta do regime de força. Esses jornalistas e deputados atuam como verdadeiros heróis (insisto na ideia), lutando pela decência e por um país melhor. Nessa época, está claro qual é o lado do bem, qual o do mal. Aliás, as denúncias de corrupção são didáticas. Os fatos parecem óbvios. A oposição entre "nós" e "eles" não é maniqueísmo. É real - ou assim parece.

No passado era claro onde estava a corrupção

Infelizmente, esse tempo passou. Veja-se o posfácio que Mario Sergio Conti escreveu para a nova edição de seu "Notícias do Planalto", o apaixonado relato das apurações jornalísticas e parlamentares que levaram à destituição de Collor. Pois os jornalistas audazes de vinte anos atrás estão hoje, quase todos, fora da imprensa. Uns trabalham em atividades que, no passado, eles próprios não admirariam. É o que impressiona na leitura dessa atualização de currículos. Um sonho, uma esperança se desfez. Lembremos que um dos deputados mais ativos na apuração dos fatos foi José Dirceu, cuja imagem pública também mudou.

Porque, desde que a "Folha de S. Paulo" começa a publicar, em meados da década de 1990, matérias sobre suposta corrupção no governo tucano, a divisão entre bem e mal se perde. Principia a segunda época da corrupção. Daí em diante, tudo se embaralha. Há um racha entre os que combateram a ditadura e os maus costumes políticos. O governo Fernando Henrique não quer apurar as denúncias de compra de votos para a reeleição (assunto recordado por Jânio de Freitas no "Roda Viva" este mês), nem as de irregularidade na privatização das teles. Depois disso, o governo Lula também não desejará aprofundar as denúncias que vierem. Não há mais um lado do bem - ou, se há, ficou com os nanicos. Será por acaso que quem pediu a cassação do então senador Demóstenes foi um senador do PSOL, que tem a menor bancada dentre os partidos sobre os quais lemos com alguma frequência?

Este é um dia de Arnaldo Jabor - eu me refiro ao que mais admiro nesse escritor poderoso, que é quando ele evoca com certa nostalgia os tempos em que tudo era preto ou branco, em que o bem estava de um lado e o mal, de outro: os tempos da ditadura. É verdade que hoje ele defende um dos lados em que o país se dividiu na política, mas a força de sua escrita vai além disso. Ela é um pranto por um país que poderia ter existido, mas não existe - pelo menos, por enquanto. Um país que não existe porque o PSDB e o PT desistiram de construí-lo.

Porque era fácil acompanhar o caso Delfin, Collor, os anões. Hoje, não é nada fácil. Pessoalmente, desde o escândalo da compra de votos para aprovar a emenda da reeleição, denunciado em 1997, não consigo entender os casos. Não têm a limpidez que havia nos processos da era heroica. Temos gente decente jurando que houve compra de votos, e gente boa assegurando que não. Idem, para o mensalão. Os casos viraram cipoais. Geralmente, quem tem certezas a respeito é quadro de partido. Sabendo que a forma fácil de fazer campanha política é acusar o outro lado de desonesto, e que a desonestidade óbvia é a corrupção, muitos atribuem corrupção ao antagonista só para ter votos. Vá-se ver o caso Collor, em 1992, e compare-se o caso do mensalão - lendo sempre os dois lados, acusação e defesa - e se verá como é difícil se orientar em meio ao caos atual. Mas creio que esta desorientação é fruto da perda da nossa inocência, e que a perdemos devido à Realpolitik em que se meteram os melhores partidos, primeiro o PSDB, depois o PT.

Para crescer melhor, investir é preciso - PAULO PAIVA


O ESTADÃO - 20/08


Nos últimos anos a economia brasileira tem demonstrado alto grau de estabilidade no seu desempenho macroeconômico: reservas externas bastante confortáveis, relação dívida líquida/PIB decrescente, inflação dentro da faixa estabelecida no programa de metas, geração de superávit primário, câmbio em nível competitivo e taxa básica de juros no seu piso mais baixo. Resta a economia voltar a crescer. Em 2008, o governo enfrentou a crise com medidas de impacto na demanda cujos resultados foram positivos. Manteve sob sua responsabilidade a maior parte dos investimentos em infraestrutura. À época, resistia bravamente a qualquer esforço mais amplo de privatização dos serviços públicos.

Essa estratégia se esgotou. Medidas semelhantes tomadas recentemente não obtiveram as respostas esperadas. A expectativa de que a economia se recuperaria no segundo semestre não se confirmou. Ao contrário, a produção industrial continua em estado de letargia. Entre as principais barreiras ao crescimento destacam-se as deficiências de infraestrutura que oneram os custos de logística e reduzem a eficiência da economia. O setor público não tem sido capaz de superar esses obstáculos. Seus recursos são escassos - nem mesmo a Cide foi um instrumento eficaz para elevar os investimentos públicos em infraestrutura - e sua gestão é ineficiente: faltam planejamento, coordenação de ações, projetos e execução.

Abandonando as iniciativas pontuais de estímulo à demanda para recuperar a economia no curto prazo, o governo optou por seguir novo rumo ao divulgar o Programa de Investimentos em Logística, por meio de concessões plenas, no transporte rodoviário, e parcerias público-privadas, no transporte ferroviário. A decisão merece elogios. Aqui, neste espaço, no dia 25/7, observei que o governo tem a responsabilidade de definir objetivos, desenhar e implementar programas com cronogramas preestabelecidos e divulgá-los. E perguntei: quem sabe, hoje, o que o governo quer com os serviços de utilidade pública?

O anúncio de um plano de transportes e logística, com suas metas e cronograma, é um passo importante na busca do tempo perdido. O governo indica, finalmente, o seu caminho para reconstruir a infraestrutura de logística do País. É, sobretudo, o reconhecimento de que a economia somente poderá retomar seu crescimento a partir da expansão da oferta - isso requer tempo - e de que a participação do capital privado nos serviços públicos é condição necessária, chame isso de privatização ou não.

No setor rodoviário serão mais de 7 mil km que passarão para a gestão privada, mais do que toda a malha federal já concessionada. No setor ferroviário, a expansão será ainda maior, chegando a 10 mil km, com a participação pública por meio da Valec. O governo criou ainda a Empresa de Planejamento e Logística (EPL) com funções semelhantes às do extinto Grupo Executivo de Integração da Política de Transportes (Geipot).

Subsistem, contudo, dúvidas quanto à factibilidade do programa. Qual o papel da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)? Para supervisão, acompanhamento e fiscalização das concessões de serviços públicos à iniciativa privada, a existência de uma agência reguladora independente e de alta capacidade é necessária. Não parece ser o que o País tem hoje na área de transportes terrestres. A ANTT não tem sequer um presidente efetivo. A criação da EPL e o fortalecimento da Valec sugerem que o Poder Executivo pretende ter participação maior na gestão dos transportes terrestres. Não havendo uma clara segregação de responsabilidades entre, de um lado, a concedente e a concessionária e, de outro, uma agência com legitimidade e imparcialidade para mediar e dirimir os possíveis conflitos, a possibilidade de insucesso do programa torna-se iminente.

Existem estudos de viabilidade econômica que justifiquem a concessão de todos os trechos divulgados? A garantia do equilíbrio econômico-financeiro da concessão é a chave para atrair empresas experientes. As audiências públicas poderão contribuir para a formulação do modelo mais apropriado de concessão, muito embora as experiências anteriores não sejam boas conselheiras. São conhecidos os resultados de concessões onde se procurou apenas minimizar o preço e as vencedoras não fizeram os investimentos necessários.

Quais os critérios que serão adotados para garantir a qualidade dos serviços ofertados? Se no processo licitatório não forem exigidos padrões de qualidade dos serviços, baseando-se a concessão apenas em menor preço de pedágio, os consumidores irão, mais uma vez, pagar sem receber o serviço com qualidade. É fundamental combinar preço e qualidade do serviço. Nas rodovias, segurança é um dos fatores básicos da qualidade.

Através de maior eficiência e competência na implementação e execução, as concessões deverão contribuir para elevar o nível de investimentos e melhorar a eficiência da economia e a qualidade dos serviços públicos. Será isso possível? O tempo dirá.

Não é um programa para resultados de curto prazo. Com exceção, talvez, de dois trechos rodoviários - BR 116 e BR 040 -, em tudo o mais a população só verá obras, se vier a ver um dia, a partir de 2014.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 20/08

Setor demanda mais garantia em concessão
Como evitar que novas concessões do pacote da infraestrutura sejam conquistadas por companhias que venham a se mostrar incapazes de cumprir contratos?

Foi o que ocorreu, por exemplo, com o Grupo Bertin, cujas usinas outorgadas em 2008, previstas para serem entregues em 2013, estão em atraso ou nem tiveram obras iniciadas.

Apesar de considerar que o plano lançado na semana passada pelo governo revigora o sistema de concessões, Paulo Godoy, presidente da Abdib (associação de infraestrutura) afirma que as garantias dos empreendimentos devem ser revistas. "Falta melhor regulamentação de garantias contratuais."

Na concessão, concorrentes oferecem seguro garantia ao governo para assegurar o cumprimento dos contratos. Uma estrutura jurídica mais rigorosa ajudaria.

"Ela mitiga risco na construção e moraliza o mercado de concessões. Empresas terão cuidado com propostas que não podem cumprir."

Sem essa segurança, financiadores vão cobrar mais garantias corporativas [avais da empresa que toma dívida]. Elas constam do balanço e acabam limitando a capacidade de endividamento."

O modelo atual é ultrapassado, segundo Rogério Vergara, da FenSeg (federação de seguros).

"O mercado propôs mudanças e tem necessidade de que as normas para o seguro garantia sejam reeditadas."

"O seguro de garantia tem de ser tão eficiente quanto o de veículos para dar segurança tanto para o governo quanto para os financiadores"

ERA LATINA
Depois de quase um centenário no Brasil, o Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ expande a presença no país com reforço da equipe.

A ideia é atender à maior demanda de empresas asiáticas em busca de alternativas enquanto a falta de liquidez avança na Europa.

"Temos de acompanhar os clientes da Ásia que chegam e as empresas latinas que perceberam que a Ásia ficou mais importante na busca de capital e fusões e aquisições", diz David Gruppo, chefe de banco de investimento e corporativo para a América Latina.

O perfil de interesse de empresas estrangeiras pelo Brasil mudou, segundo Gruppo.

"Antes, a busca era mais por recursos naturais, agora é pelo mercado interno. As empresas de fora procuram ativos que darão acesso ao mercado local." O interesse do banco, segundo Gruppo, é apoiar o financiamento de projetos de infraestrutura.

DEVO, NÃO NEGO
Cerca de 14% das famílias da região metropolitana do Rio de Janeiro estavam com alguma conta em atraso em julho, segundo pesquisa da Fecomércio-RJ. No mesmo mês do ano passado, o patamar era de 15,3%.

Entre as famílias com alguma dívida atrasada, 34,4% estavam inadimplentes com a conta de energia elétrica.

31,8%

é a parcela de famílias com conta de telefone fixo pendente

46%

das famílias informaram que teriam sobra de dinheiro após o pagamento das despesas do mês

14,9%

dizem que o valor ganho não cobriria todos os compromissos

Solicitações de patente serão feitas via web em novembro

O Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual) instalará um simulador de pedido de patentes pela internet no Congresso Internacional da ABPI (associação de propriedade intelectual).

É a primeira vez que o órgão apresenta ao público o sistema e-Patentes, de solicitações de propriedade intelectual via web.

A ferramenta começará a operar em novembro e dará descontos de 25% no preço do depósito (R$ 230) para quem fizer o pedido on-line. "O principal benefício não é o ganho de tempo, mas o conforto do usuário", diz Jorge Ávila, presidente do Inpi.

A partir do depósito, a espera no Brasil é de até oito anos - a média mundial é de 18 meses, segundo o Inpi.

O e-Patentes funciona nos moldes do sistema virtual de declaração de Imposto de Renda, em que o usuário baixa um módulo em seu PC e preenche os campos conforme o requisitado.

O evento será entre 27 e 28 deste mês, em São Paulo.

Encontro... 
O orçamento para eventos corporativos em 2013 deverá crescer 12%, segundo o Instituto Alatur, especializado no segmento.

...de empresa 
As maiores empresas do país planejam, em média, 58 eventos anuais, como congressos, stands e confraternizações. O principal evento do ano recebe 38% do orçamento e é organizado durante cerca de quatro meses.

VALE QUANTO PESA
A empresa norte-americana Gold Rush Brands está em busca de compradores para a marca Pan Am no Brasil e procurou o escritório de consultoria do ex-embaixador Rubens Barbosa.

Michael Reich, executivo da empresa, disse que não entende como um país como o Brasil tem tão poucas companhias aéreas. Para ele, "um empreendedor inteligente apreciará a oportunidade".

A Pan Am foi uma das primeiras aéreas a ter voos comerciais regulares. Na década de 90, declarou falência.

Sem educação não há futuro - PAULO BROSSARD

ZERO HORA - 20/08


Levei um choque na manhã em que li a notícia estampada na primeira página da Zero Hora, como faço todos os dias, segundo a qual o pior resultado apurado pelo Ministério da Educação mediante a avaliação processada pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) estava no sul do país. Eu não ignorava que a qualidade do ensino sul-rio-grandense estivesse em nível pouco desejável, mas também não esperava que lhe fosse reservada esta deplorável qualificação, até porque o resultado nacional não é lisonjeiro... Basta dizer que foram tímidos os avanços no Ensino Fundamental, que envolve 98% dos alunos entre 7 e 14 anos, e em relação ao Ensino Médio, que atende os jovens de 15 a 18 anos, foi de estagnação. Neste quadro geral e neste cenário, forçoso é reconhecer, é lamentável a posição do ensino na Província de São Pedro.

Ela é tanto mais desairosa quando o ensino no Rio Grande era um dos dois melhores em todo o Brasil, tempos que lembram o saudoso secretário Coelho de Souza. A verdade é que hoje a realidade é outra e a indagação que deve ser feita é como e por que isto ocorreu. Dispensável dizer que a causa não será única, mas várias como sói acontecer, e não será no espaço de um artigo que se poderá apontá-los. Com esta ressalva, mencionarei apenas um. Não direi novidade que o ensino supõe a conjugação de variados elementos, a partir do professor, a cordialidade, o respeito, a cordura, a serenidade, o exemplo, sem falar na competência referente ao que ensina e na maneira de ensinar e em quanta coisa mais. Ora, parece-me inegável a emergência de um fator novo, pouco ou nada compatível com as qualidades exemplificativamente aludidas, que chamarei de belicosidade, na ausência de melhor designação. Ontem não entrava no colégio, hoje tomou conta do ensino e foi além. O ensino e a belicosidade são incompatíveis. Não sei se diga que na medida em que o ensino se foi desfigurando a belicosidade crescente ou se na medida em que a belicosidade chegou à sala de aula a qualidade do ensino entrou a mermar. O fato é que parece ter havido uma convergência da violência com o declínio da qualidade do ensino. A violência ou a belicosidade tem ou vem tendo várias modalidades, inclusive a do sindicato ou que outro nome tenha. Não ignoro que a menção a este dado poderá desagradar a um ou outro setor, mas tenho o hábito de dizer o que penso ainda que pedindo desculpas pelo eventual desgosto que possa causar. Estou convencido de que o sindicato consorciou-se com o ensino, impurificando o ambiente com seu mau hálito. Um fato é inconteste: o sindicato agigantou-se e o ensino decaiu.

A propósito, lembro que quando a senhora presidente mostrou-se desgostosa com a aferição do PIB em determinado triênio e sua influência com o PIB do ano de 2012, desprezou-o publicamente, como se a sua medição tivesse alguma culpa no caso, e não se limitasse a medir o que vira e sentira, preferindo os maravilhosos benefícios da educação como critério a revelar as realidades nacionais, lembrei que além da educação nada ter com o pífio resultado do PIB, e o que era mais, o ensino brasileiro não estava em condições de recomendar o país. Infelizmente, ficou confirmado que a emenda fora pior que o soneto. A senhora presidente ficaria melhor servida se voltasse ao PIB como é em todo o mundo e também na Alemanha, na França e na Itália, que são as três maiores economias da Europa, e ainda na Espanha e no Reino Unido tiveram "crescimento negativo" e nem por isso romperam relação com o respectivo PIB.

O PIB mostra que o momento presente é grave, tanto que aí está o perigo da desindustrialização. Os dados do ensino alarmam, pois sem educação não temos futuro.

Mal no presente, comprometidos para o futuro, será que nos resta só o passado?