quarta-feira, maio 02, 2012

Chega de leilão de partidos! - PEDRO ABRAMOVAY


O Globo - 02/05/12


Amenos de seis meses para as eleições municipais, o mundo da política espera uma decisão do TSE. Qual será o tempo de televisão concedido ao PSD? Por que essa decisão é tão importante? Basicamente porque ela define qual é o valor, no mercado eleitoral, do partido criado e liderado por Gilberto Kassab.

Essa ansiedade em torno da definição do tempo de TV do PSD na verdade revela uma profunda distorção do sistema político brasileiro. Uma distorção com sérias consequências, mas que pode ser solucionada de forma relativamente simples.

Se existem muitas críticas à possibilidade de coligações entre partidos para eleições proporcionais (deputados e vereadores), ninguém discute a importância das coligações nas eleições majoritárias (como as de prefeito, que acontecerão em outubro). Afinal, é este o momento em que partidos se unem para oferecer uma proposta de governo. Nosso sistema eleitoral e partidário (chamado de presidencialismo de coalizão) obriga que todo eleito tenha que compor alianças com outros partidos para governar, tanto melhor se essas alianças puderem ser feitas antes das eleições, de forma a permitir que o eleitor chancele não apenas o candidato, mas o arco de alianças proposto.

Neste modelo, partidos se coligariam negociando pontos programáticos e participação em um futuro governo, apresentando ao eleitor quais as forças que governariam em caso de vitória.

Entretanto, não é isso que acontece. O modelo de distribuição do tempo de televisão de cada candidato faz com que a única moeda de troca realmente valiosa que os partidos têm neste momento seja o espaço televisivo. Ideias, propostas e até a governabilidade futura sucumbem a este ativo de valor exclusivamente eleitoral.

Isto provoca uma dinâmica nefasta na qual, definidos dois, no máximo três candidatos competitivos, todos os outros mais de 20 partidos existentes passam a participar de um leilão para que agreguem a um desses candidatos o seu tempo de TV. Este leilão pode envolver ofertas de ministérios, secretarias e até outras mais espúrias na corrida por aumentar o tempo de televisão.

É o que vemos agora na expectativa do mundo político com relação ao tempo de televisão do PSD. O tamanho da oferta ao partido não se relaciona com o peso que seu apoio pode ter para atrair eleitores ou para a governabilidade. O único elemento importante são os minutos que se poderá agregar ao programa de televisão do seu candidato.

Assim, este modelo de distribuição do tempo de TV não apenas desincentiva a formação de coligações programáticas, como estimula um leilão - muitas vezes nada republicano - neste momento pré-eleitoral.

O presidente Lula, em 2009, enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei com o objetivo de resolver este problema. Trata-se do PL 4.637/2009 que tramita na Câmara dos Deputados. Se o projeto for aprovado, o tempo de televisão não será distribuído de acordo com a representação de cada um dos partidos, mas apenas em função do partido, membro da coligação, com a maior representação no Congresso.

Este modelo é interessante, pois ele mantém a ideia de que deve haver proporcionalidade entre a representação dos partidos e o tempo de TV (caso contrário todos teriam apenas segundos para falar ou teríamos que ter um horário político interminável), mas ele acaba com a ideia de que cada partido novo na coligação agregaria alguns minutos ao programa do candidato, diminuindo enormemente o interesse em negociar coligações com qualquer partido independentemente de sua coloração ideológica.

Talvez assim os candidatos pudessem passar o período eleitoral se concentrando em programas de governo e na formação de discursos políticos consistentes, e não apenas calculando as ofertas na temporada de leilão de partidos.

As Malvinas de Dilma - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 02/05/12


Discurso contra banqueiro é sempre um sucesso de público - e muitas vezes de crítica - e a presidente Dilma Rousseff tem-se dedicado com notável empenho a essa tarefa. O que não deve surpreender ninguém: os juros cobrados no Brasil, entre os mais altos do mundo, estão muito além de qualquer padrão aceitável, exceto em momentos excepcionais, nos países civilizados. Mas foi um tanto surpreendente a escolha dos juros como tema central de seu pronunciamento de segunda-feira, para comemorar o Dia do Trabalho. Ela aproveitou a celebração para cobrar mais uma vez a redução do custo dos financiamentos, como se fosse essa, neste momento, a ação mais importante para a criação de empregos e para o aumento do bem-estar dos trabalhadores. Os bancos brasileiros, disse a presidente, são muito sólidos e isso é bom para o País, mas nada justifica a manutenção de juros tão altos. Ela exortou o setor bancário, mais uma vez, a seguir o exemplo da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil.

Essa campanha diversifica e enriquece o discurso oficial sobre os grandes entraves ao crescimento econômico e ao desenvolvimento do Brasil. Durante algum tempo, a presidente Dilma Rousseff concentrou os ataques num alvo externo - a política dos bancos centrais do mundo rico, acusados de causar um tsunami monetário. O excesso de dinheiro emitido na Europa e nos Estados Unidos é apontado como causa da valorização do real e da perda de competitividade da indústria brasileira.

É uma campanha politicamente interessante, embora inútil do ponto de vista econômico. Nenhuma autoridade monetária do mundo rico vai mudar sua política para atender o governo brasileiro. Mas a função principal desse tipo de retórica não é resolver problemas. É transferir culpas. No caso dos bancos nacionais, a capacidade de ação do governo é certamente maior, embora limitada. Além disso, a opinião pública é sem dúvida mais sensível a esse tipo de discurso do que à peroração sobre os bancos centrais estrangeiros.

Ninguém, exceto os banqueiros e seus porta-vozes, considera como razoáveis os juros cobrados no mercado brasileiro. As justificativas apresentadas - impostos muito altos, elevada inadimplência, depósitos compulsórios muito grandes - são obviamente insuficientes. Afinal, cerca de um terço do spread, a diferença entre o custo de captação dos bancos e os juros cobrados nos empréstimos, corresponde ao lucro dos bancos. Esse lucro só é sustentável porque o grau de concorrência no setor financeiro é muito baixo e as instituições têm enorme poder na formação de seus preços.

Todos esses pontos foram analisados tecnicamente em vários estudos. Daí a decisão do governo de forçar o aumento da competição por meio dos bancos oficiais. Mas qual a eficácia real dessa estratégia? Instituições privadas cortaram os juros de algumas linhas de financiamento, mas muito mais para dar uma satisfação ao governo e à opinião pública do que para enfrentar, de fato, competidores estatais. O jogo pode não ter acabado e talvez sejam necessários novos lances das entidades federais. Até onde poderão avançar sem comprometer a rentabilidade e sem precisar recorrer ao Tesouro?

Juros são importantes, mas não são tudo. A presidente sabe disso e mencionou a "diminuição equilibrada de impostos" e o combate à sobrevalorização cambial. Mas o governo pouco tem feito nessas e em outras áreas muito relevantes para a competitividade da indústria e para a criação de empregos. Não é preciso insistir na lentidão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), nas deficiências da infraestrutura, nas distorções tributárias, na falta de uma política eficiente de tecnologia e na baixa qualidade do gasto público. A presidente prometeu mais de uma vez melhorar a capacidade gerencial da administração federal. Ficou na promessa.

As campanhas contra o tsunami monetário e os juros altos no Brasil seriam mais dignas de crédito se fossem precedidas de ações sérias para a solução de problemas da alçada direta do governo. Sem isso, a retórica da presidente Dilma Rousseff não se distancia muito das perorações habituais de sua colega argentina. Serão os bancos as Malvinas do governo brasileiro?

Discursar é mais fácil - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 02/05/12


Alguém precisava tratar o comportamento cartelizado dos bancos com a necessária dureza. A presidente Dilma começou uma queda de braço, mas isso é pouco. Não é apenas com retórica que se chega lá.

Seu discurso de 1.º de maio na TV, de forte crítica ao comportamento dos bancos, teve tom inusitado. Mas a única ação prática colocada em marcha até agora - que nem pode ser chamada de política de governo - é a decisão de levar os dois maiores bancos oficiais de varejo, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, a baixar os juros e a trabalhar com planilhas de juros e spreads mais baixos, de modo a arrastar também para baixo os juros cobrados pelos bancos privados.

As primeiras reações das instituições privadas foram insatisfatórias e tende a continuar sendo assim, porque falta ao governo federal capacidade impositiva - algo que os ingleses chamam de enforcement.

Alguns grandes bancos divulgaram tabelas de juros mais baixas do que as anteriormente praticadas, mas logo se viu que se destinavam mais a compor jogo de cena e a dar alguma satisfação à opinião pública do que a levar a sério os efeitos da ação do governo.

Para reduzir os juros, não se pode focar somente os bancos. Os juros praticadas pelas operadoras dos cartões de crédito são ainda mais escorchantes. Se são inaceitáveis os juros cobrados no financiamento de capital de giro para pessoas jurídicas (na média, de 40% ao ano, como apurou o Banco Central) ou no crédito direto ao consumidor (49% ao ano) e se articulam a "lógica perversa" - como denuncia a presidente Dilma -, o que se pode dizer, então, dos juros ao ano do cartão de crédito (238%, conforme levantamento da Anefac) e do cheque especial (176%)? (Veja mais no gráfico.)

Mas, afinal, o que fazer para derrubar os juros ao produtor e ao consumidor? A mais longo alcance, o melhor caminho que o governo federal tem a tomar para ser capaz de restabelecer um mínimo de competitividade no segmento bancário é reduzir sua própria dívida. O grande tomador de crédito no Brasil, em condições até recentemente próximas do monopólio, continua sendo o Tesouro Nacional, que tem no mercado nada menos que R$ 1,9 trilhão em títulos, um pouco menos do que o atual estoque geral de crédito (R$ 2,1 trilhões).

Se têm à sua disposição um devedor que paga bem ("os juros básicos mais altos do mundo") e no mole; se esses financiamentos não oferecem risco de crédito; e se não acarretam custos operacionais relevantes de financiamento; por qual motivo os bancos têm de dar melhores condições para conquistar clientes? Redução da dívida, por sua vez, implica disciplina fiscal. Ou seja, um pouco mais de superávit ajudaria a baixar ainda mais os juros.

Outra providência seria assegurar que a derrubada do spread e dos juros não se limitasse aos contratos novos de crédito, mas que se estendessem aos antigos. As instituições financeiras não temem o crescimento da inadimplência? Pois importante passo para evitar calotes seria renegociar contratos antigos, oferecendo prazos e juros melhores. Os bancos oficiais também poderiam oferecer essa redução dos juros nos contratos antigos aos clientes dos bancos privados que enfrentam custos altos. Um bom incentivo oficial para isso também poderia ajudar.

A terceira providência necessária já foi tratada por esta Coluna em algumas edições anteriores. Consiste em aprovar imediatamente a adoção do cadastro positivo para que seja permitida a redução dos juros para os devedores de baixo risco.

Finalmente, não basta simplesmente derrubar os juros. Igualmente escorchantes são ainda as taxas de administração e as tarifas cobradas pelo sistema bancário - incluídos aí o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.

Depois do discurso do Dia do Trabalhador, a bola não está apenas com os bancos. Está também com o governo.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 02/05/12


Operadoras enfrentam impasse com prefeituras


As operadoras de telecomunicações estão entre a cruz e a espada.

De um lado, está o governo federal, que estabelece regras para o leilão de 4G, divulgadas na sexta-feira.

Para atendê-las, as empresas terão de triplicar o número de antenas até 2014.

Do outro lado, está a Prefeitura de São Paulo, que entrou na Justiça para impedir a construção de novas torres e exigir a regularização de antenas instaladas em locais considerados inadequados.

Além do desrespeito à ocupação do solo, a proliferação das antenas pode gerar riscos à saúde da população, alega a prefeitura.

A capital tem ao menos 2.677 antenas das operadoras Vivo, Claro e Oi. Cerca de 75% delas são consideradas irregulares pela prefeitura.

A restrição às operadoras não se limita à cidade de São Paulo. Mais de 200 prefeituras aprovaram leis que preveem restrições às torres nos últimos dez anos.

A Claro teve uma sentença desfavorável na semana passada, e outras operadoras sabem que estão na mira.

A Justiça paulista congelou na semana passada a instalação de antenas de telefonia celular da Claro em São Paulo. A decisão decorre de uma antecipação de tutela de ação movida pela prefeitura.

O julgamento ainda não tem data. Se a decisão favorecer a prefeitura, a Claro terá de regularizar suas antenas consideradas ilegais.

O município também move ações semelhantes contra a Vivo, a Oi e a Tim.

FALTA MARX

"Precisava baixar juros. Reduzir taxa de juros sempre foi aspiração de todos. Tem de ir com jeito. Não pode encurralar o sistema financeiro", alertou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao comentar a pressão do governo para que bancos privados ampliem o corte de taxas.

FHC, que teve encontros com investidores e autoridades no Oriente Médio a convite do Itaú Unibanco, exemplificou com derivativos.

"Não chegaram a fazer nada de mais duro com os derivativos. Mesmo sabendo que eles estavam entre as causas da crise porque ficaram com medo", disse, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, na semana passada.

"Os bancos se ajustaram. Tem de olhar com calma. Terá efeito na inflação?" Para o ex-presidente, não pode "fazer tudo de uma vez".

"Se está avançando, deixa que vá. Não fica empurrando, nem interrompendo à toa", diz.

Reduzir taxas de administração pode ser que mate a "galinha dos ovos de ouro", o capital financeiro, diz FHC.

"Não pode cercear demais. Eles [o governo] custam a entender o papel da finança porque não leram Marx. Se tivessem lido, entenderiam. Pensam que é capital não produtivo. Mas é o coração do sistema. Não pode fazer uma operação cardíaca a frio."

POUPANÇA

"O mais difícil é o que fazer na poupança. Tem de mexer, mas precisa de força política e visão pois é delicado. Pode perder a confiança da população."

DAQUI PARA FRENTE

A Renner deve manter o mesmo ritmo de inauguração de lojas neste ano.

A previsão da companhia é abrir 30 novos pontos da rede de lojas de vestuário e seis da Camicado. Em 2011, foram 30 unidades Renner e duas da Camicado.

Para José Galló, presidente da Renner, a companhia teve nos primeiros meses de 2012 um bom desempenho nas vendas, em comparação com o setor, que sofreu uma desaceleração.

A empresa afirma esperar uma melhora de cenário no segundo semestre.

Galló acrescenta, porém, que, "daqui para a frente, tudo vai ser diferente".

A classe C já se acomodou no mercado. "O ticket médio subiu, o crédito já é 45% do PIB", lembra o executivo.

A inadimplência está sob controle, segundo o presidente da empresa. "O brasileiro é cauteloso", diz.

No primeiro trimestre deste ano, houve queda da inadimplência para o mínimo histórico.

FINANCIAMENTO sem alíquota

Cerca de um mês após o Banco Central estender a cobrança de 6% de IOF para empréstimos no exterior, três bancos conseguiram realizar operações de financiamento à exportação sem o pagamento da alíquota.

Foram utilizadas cédulas de crédito à exportação, uma "ferramenta" criada por legislação nos anos 1970.

Com elas, o empréstimo foi realizado no Brasil.

O valor, no entanto, foi negociado em dólares.

"Não foi muito inovador, buscamos um instrumento que era pouco utilizado. Esses títulos permitem a dolarização", afirma Eduardo Lima, sócio do Tauil & Chequer Advogados, escritório que assessorou os bancos.

A operação foi desenvolvida para um exportador de açúcar e álcool.

No porto A Santos Brasil fechou contrato de cinco anos com a multinacional Schaeffler, de produção de componentes automotivos, industriais e aeroespaciais, com fábrica em Sorocaba (SP), que abastece o mercado nacional e exporta parte da produção.
Reação No setor de químicos de uso industrial, a produção subiu 11,6% e a venda interna, 12,7% no primeiro trimestre ante igual período de 2011, segundo a Abiquim.cristina.frias@uol.com.br

Austrália, Bolívia e Brasil - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 02/05/12
Dilma faz discurso contra bancos privados em meio a estatizações barulhentas em países vizinhos

PRIMEIRO DE MAIO é dia de Evo Morales anunciar estatização, como já o fizera com o gás, geradoras de energia elétrica etc. Ontem, foi dia da estatização de uma empresa de transmissão de eletricidade.

Mesmo no Brasil quase ninguém dá a mínima para a Bolívia, afora a Petrobras, que já teve prejuízo por lá, e empreiteiras. Mas neste 1º de Maio Evo Morales fez mais barulho, pois sua estatização pegou carona na da colega Cristina Kirchner, que faz duas semanas anunciou o confisco da petroleira YPF.

Mais interessante, também por ocasião do 1º de Maio, a presidente Dilma Rousseff fez um discurso em rede nacional malhando os bancos privados.

Não, por favor, não se trata de identificar uma "tendência" sul-americana, mas talvez uma impropriedade de marketing, talvez até inadvertida, do governo de Dilma.

A presidente esteve em rede nacional a dizer que a banca deve lucrar menos, que deve transferir parte de seus ganhos para os clientes, baixando juros e taxas. Certa ou errada, Dilma soou como um eco distante da vizinhança tumultuada.

Dilma é de fato mais intervencionista. Gosta de estatais, interfere pesadamente no câmbio, seu Banco Central é tido quase como heterodoxo, quase tabela preços de combustíveis e seu governo vive um frenesi de medidas de estímulo econômico.

Dilma, mais do que Lula, aumentou a interferência do governo na Petrobras. Usa a empresa como instrumento de regulação do preço da gasolina e do álcool, tabelando seus preços e impondo importações prejudiciais à empresa, que lucra menos. Dilma estatizou as metas de lucro da Petrobras, de certo modo.

Tudo isso é ninharia perto do que fazem Cristina Kirchner na Argentina e Evo Morales na Bolívia, para nem mencionar Hugo Chávez na Venezuela. Além do mais, as instituições brasileiras são muito mais firmes, funcionais e funcionantes.

Por fim, o poder & o dinheiro mundiais ainda estão de amores com o Brasil, posto na turma bem comportada do continente, ao lado do Chile e da Colômbia.

Note-se de passagem que até a organizada e relativamente liberal Austrália toma medidas a fim de capturar parte do lucro das empresas de recursos naturais (como o fazem de modo destrambelhado argentinos, bolivianos e venezuelanos). Mas a Austrália não cai na boca do povo.

Em março, passou no Congresso deles um imposto extra de 30% do lucro das mineradoras de ferro e carvão, além de um imposto sobre emissões de carbono. Parte da receita vai bancar a redução dos tributos para outras empresas.

Mas o governo quer ainda aumentar a contribuição patronal para as aposentadorias.

O governo trabalhista diz que a alta do preço dos recursos naturais supervalorizou o dólar australiano, o que derruba negócios outros que não os de exportação de minérios e carvão.

Os empresários, mineradores em particular, dizem o de sempre: o imposto é confuso, difícil de calcular e vai encarecer o produto australiano, exportando empregos.

Parece a nossa conversa por aqui. Não causa muita sensação. A Austrália, além de rica, arrumada, de falar inglês e de grande aliada dos EUA, não é vizinha da Bolívia ou da Argentina.

Falta combinar o jogo - ROLF KUNTZ


O Estado de S.Paulo - 02/05/12


Com multidões em marcha contra o desemprego, o Dia do Trabalho foi celebrado na Europa como um dia de protesto contra o aperto fiscal e a recessão. Com desocupação acima de 10% da mão de obra, a zona do euro já enfrenta quatro anos de estagnação econômica. Os governos poderiam ter tomado outro caminho e poupado sofrimento a milhões de famílias, segundo a pregação de ilustres economistas. Para mudar a política, no entanto, as autoridades precisam ainda cuidar de um detalhe: combinar com o mercado financeiro. Resolvido esse problema, os governos darão prioridade ao crescimento, empregos serão criados, mais impostos serão recolhidos e as contas públicas serão arrumadas com mais eficiência e menos incômodos para todos. No começo, os buracos orçamentários poderão aumentar, mas sem consequências graves, se os banqueiros e outros financiadores continuarem comprando títulos públicos e rolando as dívidas vencidas. A solução é simples e a argumentação é sedutora, mas a turma do mercado aceitará a combinação? Os críticos da austeridade parecem esquecer ou menosprezar esse detalhe. Mas será muito difícil iniciar outro jogo sem a participação dos credores do setor público.

Esses financiadores têm algumas características altamente nocivas à ação dos governos. Em primeiro lugar, agem como esquizofrênicos, como observou há pouco o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard. Cobram políticas severas de ajuste orçamentário, mas, quando essas políticas prejudicam o crescimento, reagem de forma negativa, como ocorreu de novo, nos últimos dias, quando foi confirmada - sem surpresa - a recessão na Espanha.

Seus critérios de confiança também dificultam a condução de políticas públicas. A dívida espanhola deve ficar neste ano em torno de 79% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo projeção do FMI. O endividamento estimado para outros países é muito maior. Bastam alguns exemplos: 235,8% para o Japão, 153,2% para a Grécia, 123,4% para a Itália, 112,4% para Portugal, 99,1% para a Bélgica, 89% para a França, 88,4% para o Reino Unido, 84% para o Canadá. A dívida americana deve bater em 106,6% do PIB, segundo a mesma tabela.

Essa lista inclui algumas das maiores e mais ricas economias do mundo. Alguns de seus governos têm sido fortemente pressionados pelos financiadores, outros, nem tanto. Alguns têm sido pressionados em alguns períodos, como o da Itália. Outros, de modo mais persistente. O espanhol é um exemplo muito claro, embora seu endividamento seja o menor dessa lista.

"O rigor fiscal é incontornável, se queremos estabelecer fundamentos sólidos e um financiamento suficiente para o crescimento econômico de nosso país", disse na segunda-feira o ministro de Finanças da Espanha, Luis de Guindos. Pode ser difícil persuadir o público espanhol dessa necessidade, mas é indispensável mostrar aos credores, de forma convincente, o compromisso dos governantes. Não adianta apontar o endividamento maior de outros Tesouros. Os financiadores querem saber da Espanha, agora, mas a qualquer momento podem retomar as pressões contra Grécia, Portugal, Itália e até França.

O mais duro defensor das políticas de austeridade tem sido o ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble. Mas até ele, num tom um pouco menos radical, admitiu uma ação mais ampla do Banco Europeu de Investimentos a favor de mais gastos em infraestrutura. Não chega a ser uma grande concessão, no entanto, porque isso pouco afetaria os esforços de ajuste iniciados pelos governos. O desafio permanece e foi destacado mais uma vez, no mês passado, por dirigentes do FMI: é preciso descobrir um meio de combinar as políticas de arrumação fiscal, consideradas indispensáveis, e medidas para a retomada do crescimento. Sem uma reativação das economias, admite-se claramente nas discussões do Fundo, até o ajuste dos orçamentos poderá ficar comprometido.

Mas essa combinação - isto é também ressaltado - dependerá da mensagem transmitida aos mercados. Planos críveis de médio prazo para o ajuste das contas públicas são indispensáveis para a combinação do jogo. Falta ver se serão suficientes e com quem os credores estarão dispostos a se comprometer. O pacto fiscal assinado pelos governos europeus há alguns meses poderia ser um primeiro passo para a criação de uma perspectiva de médio prazo, mas ainda não produziu esse resultado. François Hollande prometeu, na campanha, rejeitar ou renegociar esse pacto, se eleito presidente da França. Mera bravata?

Uma séria ameaça do calote poderia, talvez, levar os credores a cooperar. Que governo tomaria a iniciativa? Sem saídas como essa, resta a difícil tarefa de combinar o jogo.

"Baby boomers" - RUY CASTRO


FOLHA DE SP - 02/05/12

RIO DE JANEIRO - De repente, o mundo descobriu que a geração "baby boom" está em idade de se aposentar. Os "baby boomers", você sabe, foram as crianças nascidas logo a seguir à Segunda Guerra, quando milhões de soldados voltaram para seus países e começaram a casar e a procriar em massa. Os que tinham ficado em casa, de ouvido na BBC, fizeram o mesmo, talvez por uma sensação de alívio diante do apocalipse que não aconteceu, mas poderia ter acontecido -e, então, mais do que nunca, pela súbita existência da bomba atômica.

Curioso é que, em vez de partir para a esbórnia em face do possível fim do mundo, os jovens do pós-Guerra adotaram a singela atitude de casar e "constituir família". Pode ser que, depois de anos em trincheiras, reais ou metafóricas, o lar lhes parecesse um casulo protetor. Daí tantos casamentos e, em meses, milhões de novos cidadãozinhos no mundo. Um deles, eu -porque, nascido em 1948, sou um legítimo "baby boomer".

Bem, passaram-se décadas e os "baby boomers" já podem ser avaliados. Em vários departamentos, não fizemos feio. Ativos desde os anos 60, implantamos o sexo sem culpa, a consciência ecológica, os direitos das mulheres, das minorias e dos animais, revolucionamos a tecnologia, avançamos espetacularmente a medicina e as comunicações etc.

Em compensação, tornamos as cidades impraticáveis, disseminamos as drogas, destruímos o cinema e a música popular, triplicamos a pobreza, intoxicamos o planeta com publicidade, carros e agrotóxicos, compramos e vendemos armas, políticos e tudo que pudesse ser negociado -enfim, vamos deixar também uma bela lambança.

E pensar que nossos pais, quando nos conceberam, só queriam um pouco de sossego, "Seleções", Ovomaltine, discos de Tito Schipa, uma cama quente, pijama e, para eles, sim, uma merecida aposentadoria.

CLAUDIO HUMBERTO


Impaciente, Dilma pode demitir ministro Patriota
O ministro Antonio Patriota (Relações Exteriores) escapou de um presente desagradável na sexta, dia do seu aniversário de 58 anos. Sua demissão já havia sido definida pela presidente Dilma, que na última hora resolveu colocar o assunto na geladeira. Ela não vê a hora de substituí-lo. Não gosta do jeito dele, discreto, quase medroso, e detestou sua atuação durante a visita dela a Washington, em abril.


Falta ousadia

A diplomacia "papai com mamãe" de Patriota levou Dilma a determinar "mais ousadia" ao Itamaraty, durante uma conferência de imprensa.


Impaciência

Dilma anda tão irritada que evitou despachar com Patriota até a lista de laureados da comenda do Rio Branco. E desprestigiou a cerimônia.


Chanceler Viotti

Entre os prováveis candidatos ao lugar de Patriota está a embaixadora Maria Luiza Viotti, chefe da missão do Brasil na ONU, em Nova York.


Bem longe

Dilma deve ir ao Peru até o final do mês, em visita oficial, enquanto não deslancha a CPI do Cachoeira, cada dia mais entalada.


Inferno astral

A base aliada agora tem novo pepino pela frente: barrar a quase inevitável convocação do governador Sérgio Cabral à CPI, após o ex-governador Anthony Garotinho (PR) mostrar sua "porção Cachoeira" com fotos e vídeos da farra com assessores e Fernando Cavendish, seu amigo dono da Delta. Cabral suspeita de "fogo amigo" de contraparentes de Cavendish, que não quer mais conversa com Cabral.


No ventilador

Sergio Cabral arregimenta sua tropa de choque para colocar no ventilador os (muitos) "podres" de Garotinho, seu arqui-inimigo.


Sem jeito

Para Mário Feitoza (PMDB-CE), nem o nascimento de Maria Clara, neta de Ciro Gomes, foi capaz de amansá-lo: "Não sei se ele tem jeito".


Autoestima

É do deputado Alexandre Roso (PSB-RS) o projeto que obriga o SUS a bancar reconstrução de mama, após mastectomia.


Pregando no deserto

Como o avô, o novo ministro Brizola Neto (Trabalho) não gosta da Globo, e ataca jornalistas da "mídia golpista", que não o poupou na desastrada tentativa de viagem à Líbia, convidado pelo tirano Muammar Kadafi para "aliviar a pressão da Otan nos ataques".


O sumiço do secretário

Novo secretário de Educação Básica do MEC, César Callegari causou problema ao cerimonial de inauguração do CEU de São Bernardo (SP), há dias, em ato pró-Haddad. Representaria Aloizio Mercadante, e não apareceu. Mas a passagem oficial ida e volta foi emitida e usada.


PSD na CPI

O PSD fez acordo com os partidos e indicará para a CPI mista de Cachoeira os deputados José Carlos Araújo (BA), Armando Vergílio (GO), e os suplentes Roberto Santiago (SP) e César Halum (TO).


Babel é aqui

Fechou o tempo entre o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e o senador Humberto Costa (PT). Os dois não se entendem enquanto pegam fogo as negociações para as eleições em Recife.


Não tem interesse

O deputado Francisco Praciano (PT-AM), presidente da Frente contra a Corrupção, critica os colegas políticos, "que não votam qualquer medida para aperfeiçoar o Estado depois de tantas CPIs e escândalos".


Ti-ti-ti

Relator do Código Florestal, Paulo Piau (PMDB) reclama da "chiadeira indevida" de senadores que desceram a lenha no texto aprovado pela Câmara: "Ficaram enciumados porque mexi na cria deles".


Dá voltas

Absolvida da cassação de mandato na Câmara, Jaqueline Roriz (PMN-DF) não esquece o dia em que Demóstenes Torres, agora alvo do Conselho de Ética, defendeu sua renúncia: "O mundo é redondo".

PODER SEM PUDOR


Intimidade provada

Um bispo vivia falando mal do interventor no Rio Grande do Sul, Flores da Cunha. Acusava-o de ser boêmio e um elitista esnobe, que não dava intimidades nem mesmo aos próprios aliados. Quando soube disso, o general resolveu calar o bispo de uma forma curiosa: chamou-o para uma conversa às 6h da manhã, recebendo-o nos seus aposentos, ainda na cama. Vestia apenas cuecas:
- Vossa Reverendíssima desculpe, mas como é de minha total intimidade, posso recebê-lo a qualquer hora, em qualquer lugar e de qualquer jeito.

QUARTA NOS JORNAIS


Globo: Bolívia estatiza gigante de energia da Espanha
Folha: Para baixar juros, governo estuda mudar poupança
Estadão: CPI abre hoje batalha política e envolve mais um governador
Correio: Polícia caça acusado de injúria racial no DF
Valor: Barreira faz exportação à Argentina cair 30%
Estado de Minas: Quando o radar vira perigo
Zero Hora: Nova estatal prevê preços de pedágios variáveis no Estado