segunda-feira, setembro 02, 2013

Patriota, o injustiçado, não está só - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA 
A demissão do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, foi uma grande injustiça. Patriota caiu porque o chavismo do governo Dilma - a que o próprio Patriota servia - levou uma bola entre as pernas. Como um mimo ao companheiro cocaleiro Evo Morales, a embaixada brasileira na Bolívia mantinha havia mais de um ano um opositor de Evo preso num quarto. Como se sabe, o governo bonzinho do PT não se sensibiliza muito com presos políticos. Lula já comparou os opositores de Fidel Castro presos em Cuba a bandidos paulistas. Por que daria vida mansa a um senador boliviano desafeto do companheiro Evo? O problema foi que, seguindo o padrão operacional petista, o esquema era fajuto e o senador se mandou.
A demissão do ministro das Relações Exteriores foi injusta porque, se é para punir quem faz besteira rezando pela cartilha chavista, a lista é extensa. O inesquecível Marco Aurélio Garcia, uma espécie de chanceler partidário que o governo petista inventou, jamais foi punido por Lula ou Dilma. E fez lambanças muito mais vistosas. Garcia foi um dos mentores da "amizade" do governo brasileiro com estadistas como Mahmoud Ahmadinejad, o tarado atômico do Irã, Muammar Khadafi, o ditador líbio linchado em praça pública por seus crimes, e o pop star da monstruosidade Bashar al-Assad, genocida que em vários momentos contou com o apoio explícito (e carinhoso) do governo popular do Brasil.

Essas pérolas da diplomacia terceiro-mundista do PT reluzem mais que o cochilo de Patriota na fuga do senador boliviano. Fica aqui a solidariedade ao ministro demitido.

Outro chavista empedernido que não mereceu o fim trágico de Patriota foi Gilberto Carvalho. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência vem trombeteando aos quatro ventos as maravilhas venezuelanas do controle governamental da informação e da perseguição à imprensa burguesa. A Venezuela já tem oito canais oficiais de TV, e Gilberto Carvalho - que, na morte de Hugo Chávez, saudou-o como revolucionário - já declarou que o governo brasileiro deve investir no surgimento de uma nova mídia. O PT sonha com o estilo Kirchner de mordaça, mas, com esse ministro falastrão conspirando a céu aberto, o golpe fica mais difícil. Por que guilhotinar só Patriota?

Na área econômica, acontece a mesma coisa. O governo do PT adotou para valer a fantástica contabilidade criativa do chavismo, seguindo os modelos argentino e venezuelano de fabricar superavit e esconder dívida, para poder gastar mais a fundo perdido. No entanto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, é incapaz de manter em segredo as maracutaias contábeis envolvendo o Tesouro Nacional. Toda hora aparece um economista chato para declarar nos jornais que o contribuinte é ludibriado pelo governo popular. Isso não seria pior (para a causa chavista) do que deixar um senador boliviano escapulir da embaixada?

O ministro vegetativo do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, aquele flagrado faturando com consultorias invisíveis (graças a seus belos olhos de amigo de Dilma), tem dado palpite até sobre o câmbio - dizendo publicamente a cotação "certa" do dólar. E a cabeça que rola é a do Patriota...

E que dizer do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que defendeu a importação de médicos cubanos comparando-os a consultores do Banco Mundial? Foi uma espécie de apoteose da mistificação populista. Padilha quis dizer que, se o Brasil recebe profissionais estrangeiros para tratar de finanças, mais legítimo ainda fazê-lo para tratar de saúde... Por essa lógica, caberia também dizer que, se o país aceita analogias cômicas como essa, melhor seria nomear o palhaço Tiririca ministro da Saúde. Chega de intermediários.

Com quase 200 milhões de habitantes, o Brasil não sabe formar médicos para atuar em regiões remotas. Se essa moda pega, o pessoal da Funai, do Exército e dos órgãos de extensão rural também começará a dizer que só quer trabalhar em Ipanema e nos Jardins. Mais longe que isso, só comprando o pacote do Fidel. E será enfim realizada a utopia comunista tão sonhada por José Dirceu: o Brasil salvo por Cuba.

Nesse gran circo bolivariano, a única certeza possível : que Patriota não está só.

Escravos cubanos - WALCYR CARRASCO

REVISTA ÉPOCA



Se vêm para trabalhar, os médicos não deveriam estar submetidos às
leis brasileiras?


Meus avós vieram da Espanha no início do século XX. Todos, por parte de pai e mãe. Foram trabalhar em plantações de café e nunca mais voltaram para sua pátria original. O Brasil se tornou sua pátria. Sempre brinquei comigo mesmo que poderia ter nascido espanhol. Tenho, é claro, uma afinidade grande por esse país. Até orgulho da arquitetura espanhola, da arte, da literatura, do sucesso da gastronomia. Picasso, afinal de contas, não era espanhol? Mas, quando meus avós desembarcaram, imediatamente assumiram que este era seu país. Aqui viveriam, teriam seus filhos, construiriam seu futuro.

Já observei levas de imigração, inclusive para fora do país. Quando jovem, passei alguns anos no exterior. Nos Estados Unidos, cruzei com muitos brasileiros que haviam decidido se tornar americanos. Inclusive mudando de condição social. Estudantes de classe média se tornavam garçons, motoristas de limusine. Um amigo jornalista, casado com uma americana, foi trabalhar em telefonia, instalando fios, aparelhos, sem a menor frustração. Todos agiram como meus avós: submeteram-se às leis da nova pátria. Tenho um amigo brasileiro, que também tem nacionalidade belga. Vive parte do ano em Paris. Exatamente cinco meses. Se ficar seis, ganha o direito de residência e, consequentemente, a obrigação de pagar impostos. Não só do que ganhar lá, como de suas rendas no Brasil. Foge da residência francesa que, no passado, foi símbolo de status, mas hoje, em seu entender, lhe causaria um rombo financeiro.

Sempre admirei meus avós pela coragem. Fico me perguntando: como alguém sobe num navio, rumo a um país desconhecido, deixa a família, para um futuro incerto? Italianos, japoneses fizeram isso. Judeus sobreviventes do Holocausto também vieram para cá. Todos vivem ou viveram de acordo com as leis nacionais.

De repente, levei um susto. Surge agora uma leva de imigrantes, os médicos cubanos, que se mudam para cá, mas que não viverão sob as leis brasileiras? O regime trabalhista nacional é severo. E, na minha opinião, antigo, ultrapassado, porque não prevê situações que surgiram com a evolução da sociedade. Tive uma amiga que era dona de um salão de beleza. Cabeleireiros e manicures costumam ser uma espécie de associados do salão. O empresário monta a estrutura. Os profissionais ganham uma boa percentagem por corte e por unhas, de 40% a 60%. Mas a lei trabalhista não prevê esse tipo de situação. Depois de três meses, o profissional passa a ter uma relação estável. E processa quando vai embora, em cima de direitos sobre seus ganhos. Minha amiga levou uns três ou quatro processos. Teve de fechar o salão. Há outras profissões em que acontece o mesmo. A combinação é uma, mas depois de algum tempo é caracterizada a estabilidade, e o empregador perde qualquer processo.

Os médicos cubanos estão vindo sob outra lei. O salário deles será pago ao governo de Cuba. E o governo repassará uma percentagem aos profissionais. Estrategicamente, chamou-se de “bolsa”. Bolsa é algo que se oferece a estudantes que vão estudar, fazer especialização, se aprimorar enfim. Os médicos vêm para trabalhar ou não? É óbvio, isso não é bolsa coisa nenhuma. É um truque semântico. Se vêm para trabalhar, não deviam estar submetidos às leis brasileiras? O argumento é que Cuba já fez esse acordo com outros países. E daí? O que eu, cidadão, que pago meus impostos, tenho a ver com isso? Nosso governo resolveu ajudar financeiramente Cuba por meio dessa estratégia? Nosso dinheiro está sobrando? Como, se sentimos falta de tudo: segurança, hospitais, escolas? Pior que isso, se Cuba se acha no direito de vender seus cidadãos, nós, brasileiros, devemos concordar? Os médicos que se danem?

Esses médicos não formarão laços com o país, como meus avós fizeram. Estarão aqui de passagem, pois suas famílias ficarão em território cubano (reféns?). Como fincar raízes? Como amar seus pacientes, se dedicar, se não têm a dignidade de receber seu salário diretamente, como qualquer um que trabalha e vive no Brasil?

O Ministério Público contesta a questão salarial na vinda dos médicos cubanos. Ainda bem que temos um Ministério Público atuante. Mas como um governo democrático aceitou uma coisa dessas? Eu pensava que a escravidão havia acabado. Constato que os médicos cubanos se tornaram um novo tipo de escravo, vendido pelo seu país, a quem aceita pagar.


Um dever moral - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA


O servidor público mais detestado pelo governo da presidente Dilma Rousseff no presente momento é um tipo de ser humano raríssimo de encontrar no mundo oficial de hoje — um homem de bem.

Seu nome é Eduardo Saboia. Sua profissão é diplomata de carreira, em serviço no Itamaraty. Tem 45 anos de idade, mais de vinte na ativa e era, até a semana passada, encarregado de negócios na Embaixada do Brasil em La Paz, na Bolívia. Não há, na sua ficha funcional, nenhuma nota de reprovação. Ele acaba de ser afastado do posto, vai responder a uma comissão de inquérito no Itamaraty e tem pela frente, provavelmente, uma sucessão de castigos que promete mantê-lo num purgatório profissional até o dia em que se aposentar. Não podem botá-lo na rua, como gostariam, porque exerce função de estado e a lei não permite que seja demitido — mas entrou para a lista negra da casa e parece altamente improvável que saia dela enquanto valores como justiça, decência e integridade continuarem vetados no Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Saboia cometeu um delito que Dilma, seu assessor internacional Marco Aurélio Garcia, intendente-geral do Itamaraty, e os principais mandarins do PT não perdoam: teve a coragem de cumprir um dever moral.

Os fatos são claros como água pura da fonte, e provocam, como tantos outros que vêm acontecendo ultimamente, uma sensação cada vez mais desconfortável: a de que o atual governo, de desatino em desatino, vai se tomando incompreensível. Mais do que a tão falada banalidade do mal, o que se tem no Brasil de hoje é a banalidade das atitudes sem nexo. No dia 28 de maio do ano passado, o senador boliviano Roger Pinto Molina refugiou-se na Embaixada do Brasil em La Paz, alegando sofrer perseguição política por parte do presidente da Bolívia, Evo Morales. Dez dias depois, o governo brasileiro lhe concedeu asilo e passou a esperar, como determina uma das mais antigas e respeitadas práticas da diplomacia latino-americana, o salvo-conduto do governo boliviano — documento que, pela praxe, a Bolívia tinha o dever de expedir em poucos dias. De lá para cá já se passaram quinze meses — e durante esse tempo todo nem a Bolívia concedeu o salvo-conduto. como tinha obrigação de conceder, nem o Brasil insistiu para que o documento fosse concedido, como tinha obrigação de insistir.

Era uma situação que satisfazia tanto a Evo quanto a Dilma. Evo continuava a supliciar seu inimigo: confinado numa pequena sala dos escritórios da embaixada. Molina passou quinze meses sem tomar sol, sofria de problemas de saúde que não podiam ser tratados ali e levava a vida de um presidiário. Os diplomatas brasileiros pediram que a Bolívia autorizasse, pelo menos, que ele fosse transferido para a residência do embaixador. Nada feito: se deixasse o local onde estava, ameaçou Evo, “o governo boliviano” não poderia garantir sua “integridade física”. A presidente Dilma, por sua vez, ganhava a oportunidade de fazer uma viagem imaginária ao passado — não podendo mais sonhar com a ditadura do proletariado, como fazia em sua juventude, pelo menos prestava serviço a alguém que considera um símbolo da “resistência ao imperialismo”. O problema, para ambos, foi o encarregado de negócios Eduardo Saboia. Na simples condição de funcionário que age em obediência a seus princípios como ser humano, ele decidiu que não iria engolir passivamente a humilhação de servir de carcereiro. Durante 450 dias fez tudo o que pôde para resolver a situação dentro das normas, do profissionalismo e da disciplina. Mandou 600 mensagens a seus superiores, implorando uma solução. Veio duas vezes ao Brasil só para cuidar do caso. Perdeu a conta de quantas horas passou em saias de espera em La Paz. Por fim, ao constatar que o estado de saúde do senador Molina tinha chegado a um ponto crítico, decidiu trazê-lo por conta própria para o asilo no Brasil, numa viagem de carro que levou 22 horas entre La Paz e a fronteira brasileira. Foi no que acabou dando a recusa do governo em tratar o problema, desde seu início, com um mínimo de lógica.

Nos dias seguintes, em vez de agir como presidente, Dilma se entregou a acessos de cólera que não resolvem nada, a começar pela demissão do seu ministro das Relações Exteriores. Mas seu problema é outro. Chama-se Eduardo Saboia e gente que, como ele, não tem medo de separar o certo do errado, por disporem de consciência, coluna vertebral e compaixão. É um espelho para o qual a presidente e seu círculo íntimo odeiam olhar. Veem, nele, o que deveriam ser e não são.


Conspiração contra o futuro - MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA


Estão em curso no Congresso dois projetos que aumentam substancialmente as despesas públicas: um duplica os gastos em educação (de 5,8% para 10% do PIB); outro obriga a despender 10% da receita da União em saúde. Não se pergunta como isso será financiado. A ideia parece ser a de que o governo sempre tem dinheiro.

A propósito, conta-se que Olavo Setubal (1923-2008), prefeito de São Paulo nos anos 1970, recebeu um grupo que reivindicava a execução de certa obra. Apesar dos méritos do pedido, ele informou que não havia disponibilidade no Orçamento, a menos que se cobrassem mais impostos, inclusive dos solicitantes. “Doutor Olavo, queremos que a obra seja feita com o dinheiro da prefeitura, e não com o nosso”, reagiu um deles.

No ocaso dos governos militares, enquanto líderes políticos aproveitavam a perda de legitimidade do regime para lutar em favor da democracia, a maioria dos parlamentares preferia batalhar por aumento de despesas. Na época, era justificável aumentar os gastos sociais. Havia alta concentração de renda, um dos efeitos do nacional desenvolvimentismo, que se baseava em substituição de importações, favores fiscais, crédito subsidiado e forte intervenção na economia. Na década de 80, esse modelo faliu e a inflação piorou. As desigualdades sociais se ampliaram.

A Constituição de 1988 foi influenciada pela ideia de “resgate da dívida social”. Acabou concedendo mais benefícios aos idosos. Eles ganharam novas vantagens com os reajustes do salário mínimo, que elevaram os gastos previdenciários. Em 1987, a conta de aposentados e pensionistas correspondia a 4% do PIB; em 2012 subiu para 11% do PIB. Em 1987, benefícios previdenciários, seguro-desemprego e outros gastos sociais equivaliam a 22% dos gastos federais; em 2012, já com o Bolsa Família (a menor parte dessa história), saltaram para 61%. A saúde consumia 8% e os servidores da ativa, 13%, o que deixava menos de 20% para as demais atividades, incluindo os investimentos. Estes caíram de 16% para apenas 6% do total no mesmo período. Daí a deterioração da infraestrutura.

Os projetos nas áreas de educação e saúde indicam que a marcha em prol do gasto social não parou. Eles custarão mais do que o dobro do dispêndio atual em investimentos. As despesas obrigatórias com pessoal, saúde, educação, programas sociais, encargos da dívida e transferências a estados e municípios se aproximarão de 100% da arrecadação. Isso vai desaguar em aumento da já excessiva carga tributária, eliminação do superávit primário, aumento da dívida pública ou mais inflação. O Congresso não liga para esses riscos. Para o líder do PSB na Câmara, “se não houver aumento de recursos, dizer que haverá melhoria na saúde é mentir para a população”. Para ele, a destinação de 10% da receita para a saúde “é inegociável” (Valor, 8/8/2013).

Gastos sociais são sempre necessários em um país onde ainda há muita pobreza e desigualdade. O problema é como financiá-los e geri-los de forma responsável e eficiente. É preciso, além disso, considerar as tendências demográficas. Fabio Giambiagi, um de nossos melhores especialistas em finanças públicas, tem se dedicado a estudar os efeitos fiscais dessas tendências. Com base na revisão das projeções feita em 2008 pelo IBGE, ele mostra que a população de zero a 14 anos cairá de 26% para 13% do total em 2050. Haverá, então, 21 milhões de crianças a menos, o que reduz a necessidade de gastos em educação fundamental. A participação dos que têm 60 anos ou mais passará de 10% para 30% do total. Outro grande especialista, Raul Velloso, calcula que, se nada for feito, os gastos federais com previdência, pessoal e assistência social saltarão de 14% do PIB, em 2012, para 29% do PIB, em 2040. E certamente mais em 2050.

Políticos não costumam preocupar-se com as próximas gerações, mas nossos parlamentares deveriam, antes de aprovar novos gastos, avaliar cuidadosamente suas consequências. Precisam também preparar o país para lidar com os riscos a que estarão expostos nossos filhos e netos. Preferem, todavia, o aumento de despesas e o desprezo pelas ameaças advindas da marcha inexorável da demografia. É uma verdadeira conspiração contra o futuro.


O fascismo do PT contra os médicos - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 02/09

Os judeus foram o bode expiatório dos nazistas. Nossos médicos são os "judeus do PT"


O PT está usando uma tática de difamação contra os médicos brasileiros igual à usada pelos nazistas contra os judeus: colando neles a imagem de interesseiros e insensíveis ao sofrimento do povo e, com isso, fazendo com que as pessoas acreditem que a reação dos médicos brasileiros é fruto de reserva de mercado. Os médicos brasileiros viraram os "judeus do PT".

Uma pergunta que não quer calar é por que justamente agora o governo "descobriu" que existem áreas do Brasil que precisam de médicos? Seria porque o governo quer aproveitar a instabilidade das manifestações para criar um bode expiatório? Pura retórica fascista e comunista.

E por que os médicos brasileiros "não querem ir"?

A resposta é outra pergunta: por que o governo do PT não investiu numa medicina no interior do país com sustentação técnica e de pessoal necessária, à semelhança do investimento no poder jurídico (mais barato)?

O PT não está nem aí para quem morre de dor de barriga, só quer ganhar eleição. E, para isso, quer "contrapor" os bons cidadãos médicos comunistas (como a gente do PT) que não querem dinheiro (risadas?) aos médicos brasileiros playboys. Difamação descarada de uma classe inteira.

A população já é desinformada sobre a vida dos médicos, achando que são todos uns milionários, quando a maioria esmagadora trabalha sob forte pressão e desvalorização salarial. A ideia de que médicos ganham muito é uma mentira. A formação é cara, longa, competitiva, incerta, violenta, difícil, estressante, e a oferta de emprego descente está aquém do investimento na formação.

Ganha-se menos do que a profissão exige em termos de responsabilidade prática e do desgaste que a formação implica, para não falar do desgaste do cotidiano. Os médicos são obrigados a ter vários empregos e a trabalhar correndo para poder pagar suas contas e as das suas famílias.

Trabalha-se muito, sob o olhar duro da população. As pessoas pensam que os médicos são os culpados de a saúde ser um lixo.

Assim como os judeus foram o bode expiatório dos nazistas, os médicos brasileiros estão sendo oferecidos como causa do sofrimento da população. Um escândalo.

É um erro achar que "um médico só faz o verão", como se uma "andorinha só fizesse o verão". Um médico não pode curar dor de barriga quando faltam gaze, equipamento, pessoal capacitado da área médica, como enfermeiras, assistentes de enfermagem, assistentes sociais, ambulâncias, estradas, leitos, remédios.

Só o senso comum que nada entende do cotidiano médico pode pensar que a presença de um médico no meio do nada "salva vidas". Isso é coisa de cinema barato.

E tem mais. Além do fato de os médicos cubanos serem mal formados, aliás, como tudo que é cubano, com exceção dos charutos, esses coitados vão pagar o pato pelo vazio técnico e procedimental em que serão jogados. Sem falar no fato de que não vão ganhar salário e estarão fora dos direitos trabalhistas. Tudo isso porque nosso governo é comunista como o de Cuba. Negócios entre "camaradas". Trabalho escravo a céu aberto e na cara de todo mundo.

Quando um paciente morre numa cadeira porque o médico não tem o que fazer com ele (falta tudo a sua volta para realizar o atendimento prático), a família, a mídia e o poder jurídico não vão cobrar do Ministério da Saúde a morte daquele infeliz.

É o médico (Dr. Fulano, Dra. Sicrana) quem paga o pato. Muitas vezes a solidão do médico é enorme, e o governo nunca esteve nem aí para isso. Agora, "arregaça as mangas" e resolve "salvar o povo".

A difamação vai piorar quando a culpa for jogada nos órgãos profissionais da categoria, dizendo que os médicos brasileiros não querem ir para locais difíceis, mas tampouco aceitam que o governo "salvador da pátria" importe seus escravos cubanos para salvar o povo. Mais uma vez, vemos uma medida retórica tomar o lugar de um problema de infraestrutura nunca enfrentado.

Ninguém é contra médicos estrangeiros, mas por que esses cubanos não devem passar pelas provas de validação dos diplomas como quaisquer outros? Porque vivemos sob um governo autoritário e populista.

Quitutes e cosméticos - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 02/09

RIO DE JANEIRO - Em junho, a Câmara Municipal de Juazeiro do Norte (CE) comprou 33 mil esponjas de aço, 4.200 vassouras, 1.400 litros de água sanitária e, modestamente, 312 frascos de óleo de peroba. Esse material se destinou à limpeza da sede da Câmara, que tem 21 vereadores e se reúne duas vezes por semana. Mas não há nada de ilegal em tais compras --os próprios vereadores as autorizaram. Devem achar que é difícil manter a Câmara limpa.

Ainda no Ceará, o governador Cid Gomes (PSB) foi criticado por contratar um serviço de buffet, para abastecer sua residência oficial e seu gabinete, no valor de R$ 3,4 milhões. O buffet, dizem, consistia de caviar, ostras, escargots, salmão, trufas, presunto de Parma e pães "exóticos", arranjos de orquídeas, taças de cristal, 700 garçons, 500 garçonetes e 15 chefs de cozinha. Seus opositores não sabem onde ele acha tempo para gozar de tanto luxo, já que vive a bordo de helicópteros e jatinhos, no Brasil e no exterior.

Cid Gomes é o mesmo que, em janeiro, pagou R$ 650 mil a Ivete Sangalo por um show de inauguração de um hospital em Sobral (CE), sua cidade, e cuja fachada desabou um mês depois. É também um dos políticos mais ativos na campanha para abocanhar parte dos royalties do petróleo devidos ao Rio --e agora se sabe por quê: sem isso, como fazer frente a tantas despesas?

Seu colega de PSB, Wilson Nunes Martins, governador do Piauí, também se propunha a investir R$ 6,3 milhões do dinheiro público no fornecimento de quitutes e cosméticos para seu palácio, incluindo reparadores de pontas de cabelo, gel esfoliante para o rosto, hidratante para o corpo, filtros solares, aparelhos de barbear e xampus. Mas foi aconselhado a retirar o edital. É pena --pelas fotos, parece mesmo precisar desses produtos.

Não se veem muitos manifestantes às portas deles.

Concessões necessitam clima favorável - GUSTAVO LOYOLA

Valor Econômico - 02/09


O governo federal tem agido freneticamente nas últimas semanas para assegurar o sucesso dos leilões de concessões na área da infraestrutura de transportes programados para os próximos meses. A preocupação é louvável. A concessão para a iniciativa privada de estradas, ferrovias, portos e aeroportos ajudaria muito na diminuição dos gargalos de logística que se constituem num dos grandes obstáculos para o crescimento sustentável do país.

Contudo, por maior que seja o esforço para viabilizar os leilões, o governo pode não ser bem sucedido, em razão da percepção generalizada da existência hoje de um clima desfavorável para os investimentos no Brasil. Essa visão negativa é o resultado da incidência simultânea de pelo menos três fatores: incertezas na conjuntura macroeconômica; custos regulatórios, trabalhistas e tributários elevados e imprevisíveis; excessivo intervencionismo do governo na economia.

É sempre possível cultivar plantas tropicais em pleno Alasca. Basta, para isso, construir estufas que, reproduzindo fielmente o clima tropical, sejam capazes de assegurar a sobrevivência da planta num ambiente que lhe é desfavorável. Da mesma maneira, sempre é possível criar condições "microclimáticas" suficientemente favoráveis para atrair interessados para os leilões de concessão, ainda que o "macroclima" continue absolutamente inóspito ao investimento. Porém, a estratégia de construção de "estufas" é limitada, tanto no mundo da botânica, quanto no da economia.

Felizmente, no caso da economia, há opção mais sensata e eficiente do que a construção de "estufas" para fazer sair do papel as concessões. Bastaria o governo adotar, de maneira inequívoca e permanente, políticas de fortalecimento das instituições fundamentais ao funcionamento de uma economia de mercado. Na presença de tais instituições e também de políticas macroeconômicas responsáveis, os leilões de concessão prescindiriam de estímulos casuísticos de caráter fiscal ou creditício.

Não há espaço nesta coluna para enumerar os vários equívocos em que os governos petistas têm incorrido nos últimos anos e que vêm afastando os investidores em infraestrutura no Brasil. Na política macroeconômica, a perda de credibilidade da política fiscal, em razões do abuso da contabilidade criativa, a aceitação reiterada de uma taxa de inflação acima da meta e as restrições impostas ao fluxo de capitais para evitar, no passado recente, a apreciação do real formaram um caldo de cultura no qual vicejaram a incerteza e a piora do risco soberano brasileiro. Muito embora a mudança esperada de sinal da política monetária americana esteja penalizando os países emergentes em geral, o Brasil sofre tais efeitos de maneira amplificada, em consequência de erros cometidos aqui mesmo. A retirada das restrições ao fluxo de capitais e a retomada pelo Banco Central de uma política monetária mais ativa são sinais positivos, mas insuficientes para reverter o quadro de ceticismo dos agentes econômicos, que ainda esperam em vão pela correção de rumos na política fiscal.

Outro equívoco sério do governo se dá na sua política creditícia. Não obstante o uso ativo dos bancos públicos possa ser ferramenta importante em situações de crise, como a que ocorreu no final de 2008, o abuso da expansão do crédito dessas instituições com recursos subsidiados do Tesouro Nacional acabou por agravar a carência de crédito no segmento livre para os empresários interessados em investir em projetos de infraestrutura. As instituições cujo "funding" vem de captações a taxas de mercado, obviamente, não têm como competir com bancos públicos que, como o BNDES, desfrutam das benesses do dinheiro barato do erário. Assim, criou-se uma situação em que o financiamento do programa de concessões acabou por depender excessivamente do crédito público, gerando um círculo vicioso que expôs os óbvios limites fiscais para fundear as operações do BNDES e dos demais bancos controlados pelo governo federal.

A ausência de novas reformas microeconômicas e, em alguns casos, a adoção de medidas de "contrarreforma", como a diminuição da autonomia das agências reguladoras e o domínio de suas diretorias por indicações políticas frequentemente descabidas, são outros fatores que inibem a maior participação do setor privado nos mercados sujeitos a regulação governamental, como tipicamente é o caso do setor de infraestrutura. Além disso, mudanças abruptas das regras do jogo como a que aconteceu no setor elétrico aumentam o risco percebido nos leilões de concessão. A regulação é necessária e desejável em muitas atividades, porém não deve ser confundida com intervencionismo casuístico.

Oxalá, os leilões de concessão sejam bem-sucedidos e que deles resulte a melhora na infraestrutura de transportes. Porém, para o futuro, seria bom que o governo se empenhasse mais em políticas de efeitos horizontais que afetassem positivamente o ambiente de negócios no país.

Assim está escrito - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 02/09

O ministro Ricardo Lewandowski deve ler em plenário trechos do voto em que Celso de Mello defendeu a possibilidade de embargos infringentes no mensalão. Na abertura do julgamento, o decano do STF sustentou que esse tipo de recurso garantiria novo grau de jurisdição a condenados que tiveram ao menos quatro votos a seu favor. Seria uma forma de expor a contradição em que Mello -o último a votar e provável fiel da balança- incorrerá caso decida não receber os recursos.

Acordo 1 O Tribunal Superior Eleitoral não possui o software para realizar os batimentos das digitais do cadastramento biométrico. A corte não investiu no equipamento, considerado caro, e a conferência das impressões digitais é feita pelo Instituto Nacional de Identificação, ligado ao Ministério da Justiça.

Acordo 2 O objetivo do cadastramento é dificultar fraudes nas eleições. Os dados biométricos, segundo o TSE, são enviados pelo INI por meio de um dispositivo eletrônico. Já foram cadastradas 1.350.000 digitais.

Escudeiro Antes mesmo de Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB) selarem pacto contra o item da minirreforma eleitoral que encurta as campanhas, o líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF), já tinha avisado que votaria contra a medida.

Ato falho Na reunião em que anunciou sua posição, Rollemberg disse que a campanha menor visava impedir que Campos se tornasse conhecido. Os demais senadores entenderam a fala como a confirmação de que o governador de Pernambuco será candidato a presidente.

Jeitinho Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) está sendo aconselhado por aliados a revogar a suspensão do mandato de Natan Donadon (RO). Assim, o deputado-preso estouraria o limite de 30% de faltas no ano e perderia o mandato por ato de ofício do presidente da Câmara.

Sempre ele Eduardo Cunha (PMDB-RJ) incentiva as conversas para uma possível aliança entre o PMDB e o PSDB de Geraldo Alckmin em São Paulo. O ''namoro'', já desautorizado por Michel Temer, é uma tentativa de pressionar o PT a desistir de lançar Lindbergh Farias no Rio.

Há vagas 1 Edison Lobão e Dilma Rousseff discutiram recentemente nomes para o comando da PPSA, estatal que cuidará dos contratos do pré-sal. O ministro de Minas e Energia sugeriu José Lima Neto, da BR Distribuidora, mas a presidente achou melhor mantê-lo onde está.

Há vagas 2 Dilma, então, sugeriu Marco Antônio, hoje secretário de petróleo da pasta de Lobão. O ministro ponderou que não pode abrir mão do assessor. Assim, a dupla ainda busca uma alternativa para o cargo, cujo salário é de R$ 52 mil.

Plantão No primeiro fim de semana depois de sua nomeação, o novo chanceler brasileiro, Luiz Alberto Machado, já ficou de sobreaviso, bem como outros assessores palacianos, diante da reportagem do "Fantástico'', da Rede Globo, sobre provas de que a agência norte-americana NSA espionou Dilma.

Tabelinha A Prefeitura de São Paulo toma posse na quinta-feira do hospital Santa Marina, no Jabaquara, que será gerido pelo hospital Albert Einstein. O ministro Alexandre Padilha (Saúde) articulou com o prefeito Fernando Haddad para convencer a Amil a desistir da compra.

Nova direção Depois de surpreender e vencer a eleição no sindicato dos motoristas de ônibus da capital, a UGT, central sindical que já representa os motoboys, deve disputar o comando do sindicato dos metroviários.

Tiroteio
Após 5 de outubro, o Congresso terá de regular a criação de partidos. O projeto foi tachado de anti-Marina, mas é moralizador.
DO SENADOR EUNÍCIO OLIVEIRA (PMDB-CE), defendendo que o Legislativo retome a discussão da proposta que coíbe novas siglas para depois de 2014.

Contraponto


Proibido para tucanos
Logo depois do jantar com o senador mineiro Aécio Neves (PSDB), na última quinta-feira, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), concedeu breve entrevista a jornalistas que faziam plantão em sua casa.

-Governador, vocês assistiram juntos ao "Programa do Ratinho''? -indagou uma repórter, sobre a entrevista de Campos que tinha ido ao ar na mesma noite.

-Passamos pela sala e meu filho estava assistindo. Eu disse ao Aécio que era melhor ele não ver, porque ia acabar se convencendo - respondeu o pessebista, de novo deixando no ar sua possível candidatura presidencial.

Surf no tsunami brasileiro - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

O Estado de S.Paulo - 02/09

Políticos gostam de aparecer como agentes da mudança. Se alguma coisa boa acontece, assumem a responsabilidade quase tão rapidamente quanto somem quando algo dá errado. Agem assim porque cola. Muito brasileiro crê em salvadores da pátria, em deputado-presidiário e no ET de Varginha. Mas e se os líderes forem uma consequência da mudança social, e não sua causa?

Poucas coisas têm maior peso no sucesso de um país do que a estrutura etária de sua população. Nações jovens têm menos probabilidade de serem ricas do que nações maduras, pois há relativamente pouca gente produzindo riqueza. Não há dinheiro suficiente para ser distribuído com equanimidade entre as muitas crianças e adolescentes que dependem de poucos adultos.

Nações envelhecidas também têm problemas. O peso crescente dos idosos na população aumenta a carga a ser suportada pelos habitantes em idade de trabalhar. A vantagem desses países é que, para chegar a esse estágio, passaram antes por uma fase dourada, na qual a proporção de pessoas potencialmente ativas suplanta em muito os dependentes idosos e infantojuvenis.

É a fase de acumulação de riqueza, a chamada janela demográfica. Ela começa com uma onda populacional sem precedentes, uma espécie de tsunami de gente.

A crista da onda é formada pela maior geração que uma nação já viu e - mais importante - que verá em muito tempo. Porque, depois que a crista passa, sobram alguns anos de gerações volumosas, mas segue-se um vale íngreme, com cortes populacionais cada vez menores, que fecham a janela de oportunidade.

O tsunami demográfico atingiu o Brasil em 1983. Foi o pico de nascimento de brasileiros. Nos primeiros anos, produziu uma demanda inédita por educação. A princípio, os governantes foram engolfados pela onda. Demoraram mais de uma década para reagir. Finalmente, buscou-se a universalização do ensino fundamental. Acaso ou não, o presidente era um professor.

A demora custou parte da oportunidade de bem formar a geração-tsunami para que, quando ela chegasse à idade de trabalhar, estivesse preparada para produzir a riqueza necessária ao desenvolvimento do País. Mesmo assim, foi uma geração com mais anos de estudo do que a anterior - e a primeira que não precisou aplicar correção monetária à mesada.

Quando essa onda entrou na adolescência e na idade de tomar suas próprias decisões de consumo - do final dos anos 90 ao começo do século 21 -, o Brasil enfrentou uma epidemia de assassinatos também inédita. Os "baby boomers" brasileiros foram agentes e vítimas dessa violência. Perdeu-se aí outra parte dessa geração.

Em 2003, a crista da onda chegou aos 20 anos - idade de entrar no mercado de trabalho e começar a produzir. Coincidência ou não, o País elegeu um líder trabalhista - que defendia uma política econômica expansionista, que abrisse vagas para acomodar essa força de trabalho excepcionalmente grande.

Nos dez anos seguintes, a pressão da onda demográfica - reforçada por um contexto internacional raras vezes tão favorável - favoreceu políticas de estímulo e universalização do consumo, retroalimentando o emprego e a renda dos novos trabalhadores. Foi surfe no tsunami: muita gente em idade ativa empregada, menos crianças e ainda poucos idosos para cuidar.

A crista tem agora 30 anos de idade. O arrasto da onda demográfica se estende, segundo o IBGE, até a geração que tem 12 anos. Depois disso, a diminuição populacional é abrupta. Em tese, o Brasil tem mais duas décadas com a janela de oportunidade aberta - o tempo de acumular riqueza e conhecimento suficientes para enfrentar a fase de envelhecimento da Nação.

Em 2014 os brasileiros saberão quais líderes esses novos e cruciais tempos vão forjar. Espera-se que saibam surfar.

DIÁRIO OFICIAL - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 02/09

O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) nomeou Carla Elias Rosa, mulher do procurador-geral de Justiça de São Paulo, Márcio Elias Rosa, para trabalhar no Palácio dos Bandeirantes. Ela integrará a assessoria jurídica do governo, na Casa Civil.

OFICIAL 2
Elias Rosa lidera o Ministério Público de SP, que tem entre suas prerrogativas investigar denúncias que envolvam o governo.

OFICIAL 3
"É uma assessoria jurídica técnica, e não política. Do Estado, e não do governador. Ela não teve aumento de salário. É procuradora desde 1987", diz Márcio Elias Rosa. Carla é funcionária de carreira da PGE (Procuradoria-Geral do Estado), que defende o Estado em ações judiciais.

CONHECIMENTO
Questionado se haveria problema ético na nomeação, em função da relação conjugal de Carla, o governo Alckmin afirmou que a indagação revela "profundo desconhecimento sobre o funcionamento" da PGE. Não há "qualquer conflito ético". A assessoria é órgão complementar da PGE, onde ela já trabalhava. "Eventual ação do procurador-geral de Justiça [o marido de Carla] contra o governador não tramita na assessoria jurídica do governo", diz a nota.

CALCULADORA
Nas contas mais pessimistas de réus do mensalão --entre eles, José Dirceu--, o STF (Supremo Tribunal Federal) pode decretar a prisão deles na véspera de 7 de setembro, Dia da Pátria. Nas mais otimistas, entre novembro e dezembro.

TIJOLOS
A construção de dois prédios no terreno vizinho ao Teatro Oficina será discutida em audiência pública na quinta, às 15h, no espaço cultural. Projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi, o teatro da Bela Vista "é uma obra de arte em si", diz o diretor José Celso Martinez Corrêa, que ameaça até deixar o lugar caso os edifícios sejam erguidos. A reunião foi convocada pela Assembleia Legislativa.

TIJOLOS 2
As construções, diz José Celso, descaracterizariam a paisagem. O Condephaat (conselho estadual de preservação), que deu aval para o empreendimento, informa que a liberação é fruto de discussão e votação.

DE FAMÍLIA
Filho do renomado diretor de ópera italiano Carlo Maestrini e da pianista brasileira Cesarina Rizzo, Pier Francesco Maestrini já está em São Paulo para dirigir "Don Giovanni", que estreia no Theatro Municipal no dia 12.

EU VOLTEI
Dois meses após sofrer uma queda em um hotel que a deixou com o braço imobilizado, a maestrina Marin Alsop diz se sentir "75%" bem. "Espero estar 100% em alguns meses", afirma a regente titular da Osesp. Com um suporte no pulso direito, a americana voltou a reger a Orquestra Sinfônica do Estado, no último dia 23. "Sinto dor. Mas, de qualquer jeito, sigo com meu trabalho."

EU VOLTEI 2
Alsop está fazendo fisioterapia para concluir a recuperação. "No meu caso, uma mão quebrada é um problemão", brinca. Ela agradece aos amigos paulistanos pelo apoio e a compreensão. "Amo a orquestra [Osesp] e a cidade. Nada vai me afastar de São Paulo."

BATACLÃ
Mariana Ximenes fez canto, dança, francês e espanhol para encarnar uma dançarina de cabaré moderninha em "Joia Rara", próxima novela das seis da Globo. E foi a Paris visitar cabarés como Crazy Horse, Moulin Rouge e Chez Michou. A personagem dela entra na segunda fase da trama.

INSTRUMENTAL NA VEIA
O guitarrista Cris Scabello se apresentou com sua banda, o Bixiga 70, no Centro Cultural Rio Verde, no lançamento do festival de música instrumental Conexão SP. A cantora Tereza Gama e o casal de músicos Tulipa Ruiz e Rafael Castro passaram por lá.

EM CASA NO MUNDO
A cantora e celista brasileira Dom La Nena tem apenas 24 anos, mas currículo de gente grande. Já tocou na banda da inglesa Jane Birkin, trabalhou ao lado da atriz francesa Jeanne Moreau e se apresentou no Festival de Jazz de Montreal.

Dominique, seu nome de batismo, nasceu em Porto Alegre, onde começou a tocar piano aos cinco anos.

Após o lançamento de "Ela", seu disco de estreia, a gaúcha faz a primeira turnê no país e já passou por São Paulo e Porto Alegre. Na quarta, apresenta-se no Solar de Botafogo, no Rio. De lá, segue para Estados Unidos e Portugal.

CURTO-CIRCUITO
O espetáculo "Homem Não Entra", com Mel Lisboa, reestreia hoje, às 20h, na Sede Luz do Faroeste, na rua do Triunfo. 18 anos.

A estilista Lu Monteiro lança coleção hoje, às 13h, em almoço no D.O.M., de Alex Atala, nos Jardins.

O festival Satyrianas recebe inscrições de projetos de artes cênicas e cinema até 30 de setembro.

A galeria White Cube abre exposição do artista americano Theaster Gates, amanhã, às 11h, na Vila Mariana.

Os Paralamas do Sucesso comemoram 30 anos com show no Credicard Hall em 2 de novembro. 14 anos.

Apequenando o Itamaraty - PAULO BROSSARD

ZERO HORA - 02/09


Semana passada, pouco mais, ocorreu fato que, salvo erro, não tinha precedente. Senador boliviano, alegando fatos graves, solicitou ao Brasil asilo político, que lhe foi concedido na embaixada em La Paz, aliás, segundo antiga tradição nos países da América do Sul.
Passado algum tempo, o encarregado de negócios da embaixada brasileira, que vacante, ter-se-ia dirigido reiteradas vezes ao Itamaraty, no sentido de dar ao asilado devido salvo-conduto, tanto mais que as condições de seu aposento eram manifestadamente deficientes, sem que houvesse consequências. Em data recente, o mesmo diplomata, alegando até razões de humanidade, promoveu o translado do asilado para o Brasil e no Brasil ele se encontra. Conhecido o fato, verificou-se uma espécie de terremoto burocrático que deu por terra o ministro das Relações Exteriores.
Até agora, os fatos só parcialmente são conhecidos, motivo pelo qual não se pode ter visão completa do caso, no entanto, ressalta ao primeiro exame que pouca gente sai ilesa da maçaroca diplomática. Parece mesmo que a notória simpatia do governo brasileiro pelos governos bolivarianos, dos Chávez e dos Evos, explica seu estranho procedimento; tendo concedido o asilo, deixou que 460 dias se passassem sem que nada fosse feito para que o caso tivesse o desfecho regular, deixando que o asilado permanecesse praticamente preso, em um cubículo, impróprio para abrigar um asilado, quando bastasse a entrega do documento legal, o salvo-conduto.
Nunca fui asilado e espero não vir a experimentar essa situação, mas sempre entendi que quem recebe alguém como asilado deve dar-lhe tratamento decoroso e não me lembro de alguém que haja se queixado do trato aqui recebido.
Nesse longo período, mais de 400 dias, é penoso reconhecer que o Itamaraty foi omisso e complacente, e o Padre Vieira dizia que “a omissão é um pecado que se faz não fazendo”. O fato de o asilado aguardar durante esse longo tempo o necessário salvo-conduto, lhe concede certeza e indisfarçabilidade. De resto, ainda que sem uma palavra, outro fato veio a ocorrer em ritmo de urgência, a súbita mudança de endereço do ministro das Relações Exteriores da Esplanada dos Ministérios para Nova York, sede da ONU, e concomitantemente, em sentido inverso, o mesmo caminho foi feito pelo chefe da Representação do Brasil na ONU, de Nova York para a Esplanada dos Ministérios a fim de ocupar a chefia da casa de Rio Branco.
Muda o ministro oficial, mas ninguém ignora que existe uma espécie de esquizofrenia administrativa na pasta das Relações Exteriores, há um ministro inominado, dito assessor da Presidência, que exerce poder incontrastável nos assuntos externos do Brasil, apequenando o Itamaraty.
Até onde sei, e sabendo que não saiba tudo, é o que posso relatar com a objetividade possível do sucesso que absorveu atenções durante uma semana, a que não faltaram capitulação e omissões.
Quem manifestou publicamente seu desagrado ou indignação foi a senhora presidente da República, fato que seria preferível não tivesse aparecido. Exacerbar-se em público não é próprio do chefe de Estado. O natural é que nenhuma palavra fosse dita pela presidente, que poderia fazer saber a verificação do fato e determinar a autoridade competente procedesse na forma da lei. E na forma da lei o caso fosse resolvido pela autoridade competente.
Enfim, o episódio não foi bom para ninguém. É o preço a ser pago pela atual política adotada para com países da América do Sul e outros rincões.

O apartheid da saúde - ALFREDO GUARISCHI

O GLOBO - 02/09

Como médico peço desculpas aos médicos cubanos por algumas grosserias nas manifestações promovidas por alguns colegas. Voltar para senzala ou cara de empregada é ofensa e preconceito. O fígado tomou conta do cérebro. Não sou porta-voz ou representante de classe, mas me envergonho do ocorrido. Conheci as dificuldades de barreiras culturais e políticas, quando fiz pós-graduação no Canadá, mesmo estando numa situação bastante diferente dos hermanos . Desejo aos colegas cubanos e de outros países um bom trabalho, no povo abandonado pelo abismo social brasileiro. Respeitem nossa constituição e se atenham a uma boa medicina. Diferente de Cuba, já temos muitos partidos políticos. Lembro que se desejarem pedir asilo político esqueçam. O atual governo brasileiro é pró-castrista.

O clima azedou pois um problema crônico transformou-se num factoide político. Após dez anos o governo descobriu um Brasil sem médicos, sem esgoto e sem educação. Padilha, candidato ao governo de São Paulo, precisava de uma agenda e visibilidade. A saúde virou prioridade, esquecendo que esgoto e educação podem erradicar doenças.

Os médicos brasileiros se negam a trabalhar onde existe carência de tudo. De forma orquestrada, o governo decidiu importar médicos, que não poderão atuar em locais diferentes para os quais forem designados. Criaram dois tipos de médicos: os do Brasil abandonado e os do Brasil padrão Fifa. O exame Revalida é uma exigência de qualificação mínima e prática normal em qualquer país democrático. Por que não permitir que trabalhem nos seis hospitais de excelência privados? Estes hospitais, cinco em São Paulo, têm isenção fiscal.

A realidade é que inexiste um sistema de saúde para todos. As ilhas de excelência do SUS estão cercadas por um mar de abandono. Os hospitais universitários abandonados são obrigados a se filiar a uma empresa de terceirização. Mais de 50% dos formandos não têm vagas para residência médica, de enfermagem e de farmacêutico clínico.

É humilhante a situação de abandono imposta aos técnicos de enfermagem. Na maioria dos hospitais existe um êxodo enorme destes profissionais. Eles representam mais de 30% da força de trabalho da saúde. Trabalham em média 36 horas seguidas, em três empregos e dormindo em casa no máximo três noites, incluindo os fins de semana. Muitos desistem da profissão em poucos anos. São verdadeiros heróis. Desafio me desmentirem.

Os brasileiros que têm planos de saúde privados - 35% - mendigam locais para atendimento.

Estamos vivendo o apartheid da saúde.

Lentes distorcidas - PAULO GUEDES

O GLOBO - 02/09
Há sempre uma visão de mundo informando nossas opiniões. Mentes científicas formam hipóteses a respeito do funcionamento do mundo e estão abertas a revisões quando não estão de acordo com os fatos. Mentes religiosas buscam a compreensão em verdades absolutas. Mentes moldadas por grandes ideologias políticas exibem mapas de paraísos na Terra. Mentes mais sensíveis reinterpretam pelas artes ou até mesmo recriam a realidade com suas originais percepções. Em cada época prevalecem imagens compartilhadas de um mundo visto através desses filtros cognitivos. Como um espírito de seu tempo , o cristianismo medieval, o Renascimento e a Reforma, o Iluminismo e o método científico, o nacionalismo e as ideologias totalitárias dirigiram ações humanas para o bem e para o mal.
O tempo passa ainda devagar em terras brasileiras, apesar da revolução das novas tecnologias de informação e comunicações na virada do século XXI. A formação de opiniões alimenta-se aqui de uma hegemônica ideologia socialista há muito tornada obsoleta. Lentes distorcidas formam opiniões tolerantes com as práticas mais inadequadas. Encargos trabalhistas que destroem dezenas de milhões de empregos formais. Descontrole de gastos públicos resultando em esforços anti-inflacionários que duram décadas. Uma política diplomática que se afasta do eixo humanista por alinhamentos ideológicos. Práticas políticas degeneradas para compra de sustentação parlamentar pela esquerda hegemônica.

Pois bem, tenho minhas opiniões. Admiro Joaquim Barbosa, como não aprecio o trabalho de Lewandowski. Tenho simpatia pela iniciativa do diplomata Saboia, ante a omissão de seus superiores. Não teria devolvido os pobres boxeadores cubanos que nos pediram asilo. Aprovo manifestações pacíficas de milhares nas ruas, como gostaria de ver processados dezenas de baderneiros por destruição de propriedade. O direito de ir e vir de milhões de trabalhadores tem de ser preservado contra os maus humores de algumas dezenas que bloqueiam as principais artérias das grandes cidades. Por fim, a imigração de médicos e seus familiares, recebendo salários equivalentes aos de profissionais brasileiros de mesma qualificação, parece-me algo diferente de um tráfico humano à moda de aluguel de gado para exploração socialista.

(Des)alinhamento - AÉCIO NEVES

FOLHA DE SP - 02/09

A diplomacia brasileira já viveu dias melhores. As circunstâncias que forçaram a fuga cinematográfica do senador asilado Roger Molina, da embaixada em La Paz para o Brasil, derrubaram o pouco que restava da imagem de profissionalismo da nossa chancelaria.

Longe de ser fato isolado, o episódio se inscreve em um incrível rol de desacertos que se acumulam na gestão da política externa, desde que a ela se impôs um nítido viés ideológico.

O Brasil não reagiu, por exemplo, à expropriação das refinarias da Petrobras em Santa Cruz; colaborou para afastar o Paraguai do Mercosul, abrindo as portas à Venezuela chavista; apoiou com eloquência o governo iraniano e achincalhou o instituto do asilo, ao deportar, em tempo recorde, dois boxeadores cubanos durante os Jogos Pan-Americanos de 2007.

Agora, a contratação de médicos estrangeiros tangencia a dimensão dos direitos humanos, ao impor, apenas aos profissionais cubanos, uma condição de permanência no país que afronta a Constituição. O governismo tenta reduzir a questão aos que seriam contra ou a favor de contratar mais médicos para a população, evitando o debate em torno da falta de transparência da iniciativa, que alimenta especulações graves: o país negará aos cubanos o tratamento que oferece aos cidadãos de outros países? Poderão, se quiserem, casar e viver no Brasil? Se pedirem asilo, serão deportados?

Ao enfraquecer o patrimônio ético e moral do asilo, que já salvou a vida de centenas de brasileiros vítimas de perseguição política, o país se apequena diante da comunidade internacional.

O esforço feito no passado para reinserir o Brasil no mapa global, com atuação relevante em temas importantes no âmbito multilateral, tem sido muito atingido. A verdade é que a política externa deixou de representar os interesses permanentes do Estado brasileiro para defender o ideário do governo de plantão.

Entre outros alinhamentos, o Brasil deixou em posição secundária a cooperação com os países desenvolvidos para priorizar as relações com nações emergentes e com os vizinhos no continente, em especial os afinados ideologicamente. Com isso, nossa fatia no comércio internacional vem declinando e nos últimos anos firmamos apenas três acordos comerciais, com países de pouca relevância. Esta política enviesada alija nossas empresas das cadeias globais de produção e, dessa maneira, deixa de gerar aqui empregos de melhor qualidade.

O declínio da credibilidade do Itamaraty é um retrato lamentável de uma gestão submersa em questões ideológicas. E de um governo que se supõe sinônimo de país, incapaz de perceber a diferença entre a conveniência de um e os interesses maiores do outro.

O voto secreto no Congresso - RENATO JANINE RIBEIRO

VALOR ECONÔMICO - 02/09
Foi ampla a indignação com o voto da Câmara, que não cassou o deputado Donadon, preso há dois meses na cadeia da Papuda. Voltou às manchetes a preocupação de acabar com o voto secreto nos Legislativos - ou pelo menos de reduzi-lo a um mínimo justificável. Respondendo a uma pergunta minha no Facebook, Pedro Abramovay defendeu o fim do segredo em casos não previstos na Constituição, como a eleição de presidentes das Casas do Congresso e de suas comissões. Uma emenda constitucional deveria acabar com o sigilo na cassação de parlamentares. Poderia ficar o segredo na apreciação de vetos do Poder Executivo - que pode pressionar parlamentares rebeldes - e na escolha de nomes para o Supremo Tribunal Federal (STF), por ser o órgão que julga os membros do Congresso.
Proponho aqui uma referência histórica. O parlamento mais duradouro do mundo é o inglês, datando de 1265. Desde cedo se dividiu em duas casas, uma reunindo os lordes, isto é, a alta nobreza, enquanto a outra, representando a grande maioria de plebeus, recebeu o nome de Câmara dos Comuns. A maior crise do parlamento se dá no começo do século XVII, quando os reis Stuart tentam fechá-lo ou pelo menos reduzi-lo a um órgão apenas consultivo, que raramente se reuniria - repetindo um fenômeno que então ocorria por toda a Europa, com reis absolutos fechando parlamentos mais ou menos eleitos. O rei Carlos I passa assim 11 anos sem convocar um legislativo. Mas em 1640, diante da necessidade premente de arrecadar impostos, é obrigado a reunir o parlamento. Este decide corrigir os desmandos do rei. Então surge a polêmica que nos interessa.

Os Comuns eram menos importantes que os Lordes. Qualquer lorde podia dirigir a palavra ao rei mas, dos plebeus, só o presidente da Câmara dos Comuns podia fazê-lo, em nome dos deputados. Daí, o nome que tem em inglês o presidente da Câmara Baixa: speaker . Ele é quem fala. Em latim, era prolocutor , quem fala em nome de. Ora, um privilégio fundamental dos Comuns era que ninguém soubesse quem tinha dito o quê - para evitar retaliações do rei.

O speaker lhe levava informações gerais, mas não devia detalhar os debates e os votos da Casa. Contudo, em 1641, quando os Comuns aprovam - por pequena margem - uma relação circunstanciada de suas queixas do rei, a oposição publica os debates ocorridos e a lista dos deputados que votaram contra o protesto. É a primeira vez que se quebra o sigilo das discussões e votantes, o que, no caso, choca os partidários do rei.

Porque o privilégio dos Comuns valia perante o rei e perante a sociedade. O sigilo das deliberações era em todas as direções. Mas, quando a Inglaterra conhece seu maior processo revolucionário, que resultará na deposição e execução do rei, acaba o sigilo do voto - significando que o povo tem o direito de saber o que fazem seus representantes.

Esse caso, na origem do voto aberto de quem nos representa, coloca a grande questão: aberto ou secreto perante quem? No Império e na República Velha, com o voto aberto, nossas eleições eram fraudadas. Por isso, a conquista do voto secreto do eleitor é um passo democrático decisivo. Ele não tem de prestar contas a ninguém. Já o deputado ou senador deve contas a quem vota nele. O voto secreto do cidadão é democrático, o do parlamentar, não. Porque o parlamentar não vota em seu próprio nome, porém no dos cidadãos que o elegeram.

Mas o voto aberto no parlamento só tem sentido se for mesmo aberto. Explico: sob o estado de sítio, pode ser suspensa a liberdade de expressão. Neste caso, quem saberá como votou um parlamentar - inclusive em questões candentes, como por exemplo a eventual cassação de um colega por pressão do Poder Executivo? Somente o próprio Poder Executivo. Ou seja, sem liberdade de expressão, o voto aberto perde sentido.

Comparo o caso à desobediência civil, que Gandhi tão bem utilizou contra o colonialismo inglês. Não fosse a liberdade de imprensa, quem saberia dos protestos no Hindustão? Por isso mesmo, quando lhe perguntaram o que faria ante Hitler, Gandhi fez sugestões ineficazes. Numa ditadura em que nada se possa divulgar, as ações democráticas de protesto serão esvaziadas.

Mas, se hoje o voto aberto nos parece seguramente o melhor, salvo exceções bem raras, é porque acreditamos na solidez de nossa democracia. Quem no Brasil teme um golpe de Estado, o fechamento do Congresso ou o de algum órgão de imprensa? Por isso, com poucas ressalvas (o sigilo na apreciação de indicações para o Supremo, bem como no estado de sítio e talvez para os vetos presidenciais), precisa ser suprimido o voto secreto nos órgãos legislativos. Devemos pressionar o Congresso para isso.

Dilma Rousseff deveria mudar de imagem ou, talvez, de forma de agir. Na segunda-feira a imprensa dizia que ela reagiu com irritação à fuga do senador Pinto da Bolívia; na quinta, que ficou irritada com o apagão no Nordeste. Mas sua irritação com as falhas da administração a tornava simpática no primeiro ano de mandato; no terceiro, já não surte esse efeito. Pois não é ela quem responde por seu governo? Irrita-se com quem? O risco do estilo centralizador está em inibir iniciativas; um chefe disposto a melhorar as coisas, como é seu caso, não tem sucesso se centralizar demais as ações, se for duro demais com os subordinados. Pode dar certo em algumas coisas, não nas mais importantes. Nem quando surge um imprevisto - um incêndio numa fazenda do Piauí ou um asilado em La Paz. Provavelmente ela será reeleita, mas seria bom mudar este ponto, que pode inclusive ser falha de comunicação.

A síndrome da censura - CARLOS ALBERTO DI FRANCO

O GLOBO - 02/09

Se a sociedade não reagir, a violência judicial pode se transformar em rotina

O mais recente caso de proibição judicial ao trabalho jornalístico — a proibição de que o jornal “Gazeta do Povo”, do Paraná, publique informações sobre investigações abertas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra o presidente do Tribunal de Justiça do estado, Cleyton Camargo — reacende a síndrome da censura prévia no Brasil.

A liminar garantindo que as notícias sobre as denúncias não fossem publicadas no jornal foi concedida há um mês. O desembargador, no pedido, sustenta que “os fatos em notícia (...) vieram impregnados pelo ranço odioso da mais torpe mentira”. Pediu, ainda, que as reportagens sejam banidas do portal do jornal na internet. Quer dizer: censura prévia multiplataforma. Proíbe-se a sociedade de ter acesso a informação de indiscutível interesse público.

Sem prejuízo do meu sincero respeito pelas decisões do Judiciário, a censura prévia é uma bofetada na democracia. O controle ao jornal é mais um precedente gravíssimo. É importante que a sociedade reaja. Caso contrário, a violência judicial pode se transformar em rotina.

“Nada mais nocivo que a pretensão do Estado de regular a liberdade de expressão, pois o pensamento há de ser livre, essencialmente livre. Liberdade de imprensa concerne a todos e a cada cidadão. Esta garantia básica, que resulta da liberdade de expressão do pensamento, representa um dos pilares em que repousa a ordem democrática.” São palavras do decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Mello, um sensível defensor dos valores democráticos

O que está em jogo, para além da garantia constitucional da liberdade de imprensa, é o direito que tem a sociedade de ser informada. É difícil imaginar que o Brasil possa superar a gravíssima crise ética, que transformou amplos setores do serviço público num exercício de cinismo e arrogância, sem ampla liberdade de imprensa e de expressão.

Além de inconstitucional, a liminar que censura o trabalho da “Gazeta do Povo” caminha na contramão do anseio de transparência no comportamento dos homens públicos que domina a sociedade brasileira. A experiência demonstra que a escassez de informação tem sido uma aliada da perpetuação da impunidade.

Mas não são apenas decisões judiciais equivocadas, mesmo por pouco tempo, que ameaçam a liberdade de expressão e de imprensa. Preocupa também, e muito, o controle da mídia por grupos com projetos de poder e perfil marcadamente radical e antidemocrático. A democracia cresce quando os meios de comunicação têm trajetórias transparentes. Pode-se concordar ou discordar com a linha editorial das empresas de comunicação, mas há um valor inegociável: a transparência do negócio e o compromisso com valores éticos básicos.

O combate à corrupção e o enquadramento de históricos caciques da vida pública só têm sido possíveis graças à força do binômio da democracia: jornalismo livre e opinião pública informada.

O PIB e a burrice do populismo - VALDO CRUZ

FOLHA DE SP - 02/09

BRASÍLIA - Em recente conversa, em pleno Palácio do Planalto, um grande empresário desabafou, reservadamente, que a "burrice do populismo" impede o governo de tomar qualquer medida que possa atingir o pleno emprego.

Tivesse feito a análise publicamente, seu dono seria alvo de críticas ferozes do Planalto e do PT, que celebram a baixa taxa de desemprego e a renda salarial em alta.

De fato, são conquistas dignas de comemoração. Só que não foram seguidas de outras que garantissem equilíbrio econômico, permitindo ao país crescer sem gerar inflação.

Esse era o ponto de reflexão do empresário. Ele não defendia aumentar o desemprego, como petistas de forma reducionista reagem a esse tipo de análise, mas queixava-se de que o governo não havia conseguido elevar o investimento.

Na opinião do empresário, para corrigir seus erros, a presidente teria de adotar medidas amargas ou se contentar com crescimento fraco.

Ficou com a segunda opção. O resultado do PIB do segundo trimestre, divulgado na semana passada, foi uma surpresa positiva, mas não vamos crescer acima de 2,5%.

Assessores mais realistas admitem que, hoje, o Brasil não tem como crescer mais do que 2,7% por ano sem causar desequilíbrios, como pressões inflacionárias.

Pode-se dizer que não é uma tragédia e será suficiente para reeleger Dilma presidente. Mas é pouco para um país que tem de crescer ao menos 4% a fim de pagar sua enorme dívida social e superar gargalos.

Agora, diante da piora do cenário econômico, o Planalto corre contra o tempo. O dólar está pressionado, a inflação tende a subir e a Petrobras quer aumento na gasolina. Tudo a exigir reações da presidente.

Há quem defenda postergar decisões à espera de dias mais calmos, erro recorrente deste governo. Melhor fazer toda maldade já, como subir a dose de juros, deixando o ano da reeleição mais leve. A conferir.

Há algo de estranho com a saúde - ANTONIO CARLOS MARIZ DE OLIVEIRA

O Estado de S.Paulo - 02/09

Atualmente, mudanças tecnológicas, comportamentos e hábitos, preferências, maneiras de agir e de pensar sofrem constantes e rápidas mutações e nos deixam perplexos, em especial quanto às razões que as impelem. Mas medidas governamentais adotadas de inopino, sem prévia consulta ou preparação, por seu caráter autoritário, distante dos segmentos interessados, desprovidas de necessidade e de bom senso, são as que mais geram insegurança social e instabilidade à própria democracia representativa.

O governo federal está trazendo 4 mil médicos cubanos para participarem de um programa de assistência às regiões mais distantes e carentes do País. Claro que os médicos brasileiros têm condições e capacidade de sobejo para cumprir um papel social que extrapola os limites de seus consultórios. Especialmente, creio eu, os jovens estariam propensos a socorrer os brasileiros dos mais longínquos rincões, procurando suprir suas carências de saúde. Aliás, diga-se que os anseios da classe médica coincidem com as aspirações do povo em matéria de saúde. O médico brasileiro quer dar ao povo a saúde que lhe é devida.

Sabemos, no entanto, que não depende exclusivamente dele o cumprimento desse mister. Se ao médico são reservados o aperfeiçoamento científico da medicina, a excelência no atendimento pessoal, o esmero, a diligência e a perícia nos procedimentos adotados, ao Estado cumpre gerenciar a atividade pública da medicina, planejando, dotando-a de recursos, criando mais unidades médicas, fornecendo condições para que a malha de saúde se espraie para todo o território nacional, procurando diminuir a graus mínimos as vergonhosas carências no setor.

Pois bem, o reconhecimento da excelência da nossa medicina não é fruto de um nacionalismo piegas e irreal. Ao contrário, é a medicina mundial que nos rende homenagens. Os avanços da nossa ciência médica servem de paradigma em vários setores e são reconhecidos mundialmente. Quantos e quantos brasileiros, influenciados pelo vício nacional da baixa estima, ou, como diria Nelson Rodrigues, por nosso complexo de vira-latas, vão curar seus males em outros países e de lá são mandados de volta, pois dizem os médicos estrangeiros que a cura está no Brasil, e não em seus próprios países...

Sem fazer nenhuma distinção entre medicina pública e privada, com essa inusitada medida de importar médicos de Cuba, o governo está passando a falsa ideia ao mundo de ser a nossa medicina precária, estagnada no tempo, desprovida de pioneirismo e avanços científicos em vários setores. E mais, o profissional brasileiro poderá ser tido como desprovido de sensibilidade social, humanismo e solidariedade, que compõem a essência do juramento de Hipócrates.

É verdade que há alguma resistência dos nossos médicos, aliás, compreensível, a trabalhar nos locais mais ermos e desprovidos do nosso colossal território. Mas não é menos verdade que historicamente os governos jamais se importaram, obviamente incluído o atual, em criar condições favoráveis para que houvesse distribuição de saúde às classes desvalidas, não só dos locais distantes, como também das periferias urbanas.

É desnecessário desfilar o rol de atrozes sofrimentos infligidos aos pobres. Desídia e pouco-caso dos governos, no nível dos municípios, dos Estados e da União. Falta de sensibilidade, humanismo e vontade política. Desvio de verbas para setores de menor relevância. Corrupção. Má gestão. A situação da saúde dos brasileiros da periferia e dos grotões constitui uma vergonhosa tragédia nacional.

A culpa é dos nossos médicos? Não, faltam-lhes condições para atuar. A culpa é do poder público. Não se esqueçam as inúmeras ações de médicos que, descolados do Estado, agem apoiados por ações voluntárias de empresas e de ONGs, num trabalho verdadeiramente sacerdotal.

É de indagar se aos médicos cubanos foram expostas as precárias condições de trabalho que encontrarão. Além do mais, estarão eles preparados tecnicamente? Passarão por alguma avaliação que os habilitará a clinicar nas condições que vão encontrar?

Que a lei brasileira será burlada nós sabemos, pois seus diplomas não serão revalidados. A pergunta que se impõe é: qual o fato que está subjacente à estranha, inexplicável e inconveniente vinda dos médicos cubanos? Será porque eles são mais capacitados que os nossos? Ou a resposta se situa no campo político-ideológico? Nesse sentido, o Brasil estaria dando guarida a profissionais carentes de trabalho em seus países? Ainda há que indagar: uma vez que o País pagará bem mais do que os médicos receberão, qual a razão dessa ajuda financeira a Cuba?

Poder-se-á perguntar a razão de estar um advogado opinando sobre assunto alheio à sua especialidade. Respondo: nós, advogados, temos uma invencível incompatibilidade com situações injustas e ilegais e uma irresistível tendência a nos indignarmos em face delas. Assim, passamos a defender e a perseguir o que nos parece ser o justo.

Nos primórdios da humanidade, antes mesmo de a sociedade e o Estado se organizarem, nós éramos os vozeiros ou boqueiros. Emprestávamos a nossa voz e a nossa boca àqueles que, oprimidos, não tinham voz nem vez. Este é o nosso sagrado mister: falar, postular, ser a vez e voz de outrem.

Claro que os médicos brasileiros sabem defender os seus direitos com competência e coragem. E é o que estão fazendo. No entanto, premidos por nossa vocação e pela solidariedade a eles, nós, advogados, deveremos verberar mais essa conduta, no mínimo, esdrúxula do governo. Não esqueçamos, amanhã o mesmo poderá ocorrer conosco, com os engenheiros, economistas, etc., etc. E, de repente, será decretada a incompetência dos profissionais brasileiros, para gáudio de cubanos, venezuelanos, bolivianos e outros alinhados.

Pátria em suspense - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 02/09
Se levarmos em conta o que se lê nas redes sociais nos últimos dias, o Sete de Setembro promete. A expectativa de manifestações por todo o país parece chegar ao ponto do que aconteceu em junho, quando 30 mil tomaram o gramado em frente ao Congresso Nacional. O que acendeu os internautas foi a manutenção do mandato de Natan Donadon. Há muitos parlamentares atônitos diante da "absolvição", buscando alternativas que possam reduzir a revolta da população, que não consegue entender como o plenário permitiu que Donadon mantivesse o status de deputado. E é aí que mora o perigo de alguém querer se aproveitar disso para agir em causa própria.
Nessa primeira semana pós-votação do caso Donadon, será possível avaliar o que virá. Pelas conversas das excelências, o episódio ajudará a retomar a reforma política. Resta saber que tipo de reforma. Uma das sugestões é reduzir o tempo de campanha. Vale lembrar que as campanhas no Brasil já foram mais longas do que as que temos hoje na tevê. A redução ocorreu quando os grandes partidos ficaram com medo de perder espaço para Lula. Houve época em que se chegou ao ponto de proibir imagens externas para que Lula não pudesse exibir suas caravanas na telinha.

Agora, com o PT tão diferente dos tempos em que seus maiores líderes percorriam o país trajando jeans e paletós surrados, vem do maior parceiro, o PMDB, a ideia de reduzir o período oficial das campanhas. E quem reclama dessa iniciativa são aqueles que estão interessados em apear os petistas do poder, o PSDB de Aécio Neves e o PSB de Eduardo Campos, pré-candidatos a presidente da República menos conhecidos do público em geral.

Aliás, o PMDB, nesse aspecto especifico, está muito parecido com o antigo PFL. Nos tempos das vacas gordas dos tucanos, eram os pefelistas - os principais parceiros de governo - que apresentavam as propostas de reforma política. Embora travestidas de moralidade, muitas iniciativas queriam mesmo era evitar a possibilidade de renovação. Nesse sentido, o melhor que os manifestantes podem fazer, em vez de quebrar tudo, é estudar o tema e não permitir nada que tenha por objetivo apenas preservar o status quo.

Afinal, depois de Donadon, está mais do que provado que, ali, no plenário, o instinto de sobrevivência e do "eu sou você amanhã" fala mais alto.

Por falar em sobrevivência...
Dois personagens merecem atenção redobrada nos próximos dias: a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o ex-governador de São Paulo José Serra. Marina não fala em buscar nova legenda, mas seus aliados se movimentam por ela em conversas com o PEN e também com o PV, onde as chances de sucesso são remotas.

José Serra também não está parado. E as maiores apostas hoje são as de que ele deixará o PSDB. Serra, como todos os políticos ditos "de ponta", não consegue ficar fora do cenário. E, dentro do PSDB, no momento, ele está fora da foto principal e ninguém parece se mexer para incluí-lo nesse retrato. O máximo que se ouve de sugestão é que ele deveria ser candidato a deputado federal, puxar uma grande bancada e jogar para dentro do partido. Ou, quem sabe, buscar concorrer ao Senado. Serra acha que merece mais. Por isso, começou a preparar as malas.

Enquanto isso, no Planalto...
Em termos eleitorais, a presidente Dilma Rousseff não tira os olhos de Minas Gerais. Lançou o PAC das Cidades históricas, passeou na praça em Belo Horizonte, conforme divulgado com exclusividade pelo Correio Braziliense e Estado de Minas. De quebra, ainda irá se reunir com prefeitos de municípios mineiros. Tudo para tentar tirar combustível da largada de Aécio Neves. Estão todos lutando pela sobrevivência.

O Zorro e o Tonto - PAULO DELGADO

O GLOBO - 02/09

Uma confusão criada pela consciência de um diplomata bem formado para quem ter iniciativa era próprio dos seres racionais



Um senador polêmico, com vestígios de inimigo, entra porta adentro da Embaixada do Brasil pedindo socorro e é prontamente acolhido. Boa tradição diplomática, fonte de prazer para quem respeita nossa história. Um jovem diplomata, sem saber que seria extravagante, se põe a recolher indícios para encontrar uma solução, e, sem muita barganha, empresta ao caso sua reputação. Bons sinais vindos de um funcionário do Estado que sabe que trabalhar com a consciência pesada leva à má reputação. Uma decisão que tira o Brasil do isolamento regional e o repõe no destino universal da diplomacia humanitária e pacifista.

O que espanta no caso é a iniciativa do governo e a sua afeição por um valor maior do que qualquer conveniência não serem defendidas por ninguém que o apoia. Menos o diplomata que deu sequência ao ato da presidente de 8 de junho de 2012 ao conceder, de pronto, asilo ao perseguido politico, o qual o Itamaraty não soube cumprir por pressão do governo interessado em marginalizar o asilado. Se eu fosse presidente, nomeava o garoto chanceler pela sutil capacidade de perceber que o governo boliviano estava disposto a fechar os olhos para uma saída furtiva, como se deu, e o brasileiro desejava encerrar o asilo na Embaixada, como ocorreu. Bastava aplicar a inteligência às relações oficiais entre Estados e confiar que a transbordante amizade entre governantes não tomasse conta do discernimento político entre nações. É claro que a ação astuta do subordinado, de um posto que nossa diplomacia fez mais importante do que Washington, assusta o superior submetido a outra cadeia de comando. Assim, 110 anos depois do Tratado de Petrópolis, a noção de fronteira entre Brasil e Bolívia, não é mais geográfica, política ou jurídica.

É difícil não alertar para os vestígios que a história desse forasteiro pode sedimentar na índole dos diplomatas. Viajando por 1600 km, silencioso como matraca, sem precisar de gasolina, o cortejo do amaldiçoado atravessou cinco postos da gendarmaria preguiçosa para entrar no jato particular, destes sempre à disposição da política, na maior fronteira dos dois países, e chegou, desnecessariamente, como chega a droga nos bairros chiques da capital. Assustando os anjos que optaram pela neutralidade, mas se movem rápido quando qualquer coisa serve para ajustar condutas na rinha das facções.

Uma confusão criada pela consciência de um diplomata bem formado para quem ter iniciativa era próprio dos seres racionais. Ilusão que também atingiu seu colega Bustani (embaixador brasileiro abandonado pelo Itamaraty na Organização para Prescrição das Armas Químicas — Opaq — por agir como devia) quando desafiou a águia americana em Haia. Aqui, o jovem subordinado, que honrou a vocação humanitária do país e não deixou a incúria apodrecer seu hóspede, teve pior sorte: vai ser investigado pelos lustradores de sapato enquanto aguarda o jogo indolente de passar anel entre os cortesãos.

Uma fábula capa e espada, de autoria calada, onde o Zorro passa a mão na cabeça do Tonto.

O povo na equação - VINICIUS MOTA

FOLHA DE SP - 02/09

SÃO PAULO - O desempenho do PIB no final deste mandato de Dilma Rousseff dificilmente escapará de figurar entre os piores da redemocratização. Ainda terá de melhorar para ficar tão ruim quanto no segundo FHC (1999-2002), quando a economia cresceu 2,1% ao ano. Deverá bater apenas o triênio Collor (1990-92), período em que a produção caiu 3,7% ao ano.

A marcha anual entre 2% e 3% vem conduzindo a economia brasileira ao longo dos últimos 33 anos. Levamos um pouco menos que esse tempão todo para dobrar o vo- lume da produção.

No mesmo período, a economia chinesa duplicou de tamanho quatro vezes. Hoje produz US$ 1.600 para cada US$ 100 gerados em 1980. A Índia sextuplicou.

A renda per capita chinesa, contudo, ainda equivale à metade da brasileira e não atinge 15% da norte-americana. É preciso mais de 7 indianos para chegar à renda de um brasileiro, em dólares de hoje.

A China terá de contar com duas décadas de crescimento exuberante para igualar o PIB per capita brasileiro. Serão necessárias quatro décadas de corrida acima de 5% ao ano para que dois chineses tenham tanta renda quanto um americano.

Com o fim do bônus populacional, a delicada arquitetura política e os crescentes limites ambientais, vai ser mais difícil para a China crescer a 5% nos próximos 40 anos do que foi ter arrancado a 10% ao ano nas últimas três décadas.

Na modorra dos 2% anuais no PIB, é plausível que o Brasil termine o século com mais de 50% da renda per capita dos Estados Unidos, contra os 25% de hoje.

Na década de 1990, se o PIB do Brasil crescia 2%, a renda per capita ficava estagnada. Nesta segunda década do século 21, o PIB por brasileiro aumenta mais de 1% na mesma situação.

Como dizem os expertos, é prudente colocar o povo na equação.

Além do corporativismo - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 02/09

Professores públicos do Rio voltaram a paralisar as atividades em sala de aula durante boa parte do mês passado, numa greve pautada, mais uma vez, por reivindicações salariais — ainda que outras questões, não econômicas, mas adjacentes à Educação, tenham, como sempre, encorpado a pauta de “lutas” da categoria. Mobilizar-se por melhoria de vencimentos está entre os direitos assegurados a todos os trabalhadores. Mas a constância com que o magistério recorre a greves para pressionar o poder público a abrir o cofre leva à inescapável conclusão de que algo está fora de ordem em movimentos que, pontualmente, tomam os alunos como reféns das paralisações, restringindo-lhes o direito — a eles assegurado como aos mestres o de brigar por remunerações mais altas — à educação.

Disso decorre que os professores precisam reavaliar, com a consciência que se deve esperar de responsáveis pela formação educacional de crianças e jovens, a recorrente opção unilateral de fechar escolas como forma de pressionar os governos. Greves desse tipo levam a uma dinâmica de enxugar gelo: obtêm-se ganhos eventuais e, decorrido algum tempo, volta-se a parar as escolas por novas reivindicações econômicas. É um movimento que não desfaz os verdadeiros nós da Educação.

Os problemas do ensino público são mais abrangentes. Superá-los implica esforços e sacrifícios de duas das três pontas diretamente envolvidas na questão, professores e governo. Nisso, o magistério tem de avançar além da pauta econômica.

Não tem sido assim. Uma vez resolvidas as pendências econômicas, esquecem-se as questões adjacentes. Pior: quando confrontadas com iniciativas públicas ligadas à formação profissional, pré-condição para a melhoria do ensino, as reações das entidades representativas do magistério costumam ser desanimadoras. O caso mais evidente de uma rejeição que vai ao boicote relaciona-se com a meritocracia. Apesar de beneficiar professores (por lhes estimular o empenho na própria formação e na produtividade) e alunos (por decorrência do maior comprometimento dos mestres com o ensino), esse instituto é objeto de críticas oriundas de conhecidos bolsões corporativistas.

Em sistemas nos quais a meritocracia (cumprimento de metas como um dos critérios para conquistas salariais) foi adotada os resultados são visíveis. Escolas de Minas, Pernambuco e mesmo do município do Rio apresentaram mudanças positivas na qualidade do ensino — em paralelo com o aumento dos ganhos salariais de seus professores. Em Washington, ações similares estão diretamente relacionadas à descoberta de grupos de excelência nas salas de aula.

Questões como essas fazem parte de uma discussão sobre o ensino público que deve ser mais abrangente. Lutar, na prática, por melhorias salariais epidérmicas empobrece a a agenda do magistério, cujo compromisso com a Educação precisa avançar além do horizonte raso dos interesses corporativos.

Apagão não tem graça - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 02/09
Quantos apagões mais serão necessários para que o governo admita a vulnerabilidade do sistema elétrico nacional? Se uma queimada numa fazenda do Piauí deixa 53 milhões de pessoas sem luz, como ocorreu por cerca de três horas e meia na tarde da última quarta-feira em apagão que abrangeu os nove estados do Nordeste, não dá para acreditar na robustez do complexo, como insiste em enaltecê-lo o Ministério de Minas e Energia (MME). Fosse engraçado, seria o caso de gargalhar, como sugeriu a presidente Dilma Rousseff, no fim do ano passado, aos que ouvissem a desculpa de que raios haviam provocado o blecaute de então em parte das regiões Sul e Sudeste do país.
A verdade, pois, é uma só: o fornecimento brasileiro de energia elétrica é precário, incapaz de assegurar a confiança da população, que diria do setor produtivo. E, sem credibilidade, apaga também o potencial de investimento de empresários interessados em expandir negócios, comprometendo a geração de emprego e renda e, por fim, prejudicando o crescimento do PIB. No fundo, nem raios nem queimadas são explicações plausíveis para apagões, pelo menos na proporção gigantesca dos que o país tem visto. Melhor as autoridades saírem da escuridão, assumirem a incapacidade de resolver o problema e tomarem as devidas providências.

Tivesse partido dessa premissa desde logo, o MME teria agora nos poupado de mais uma piada ao pedir "fiscalização rigorosa" à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Tampouco teria gerado expectativa sobre a reunião de hoje do Operador do Sistema Elétrico Nacional (ONS), com "todos os agentes envolvidos" no incidente, para elaborar um relatório. Tudo bem, são encaminhamentos necessários mas rotineiros, cujo anúncio nada muda. O que o país espera das autoridades é solução técnica para pôr fim ao efeito dominó, em que problema localizado, como o da fazenda piauiense, prejudica área superior a 1,5 milhão de quilômetros quadrados.

Grosso modo, é como se a queda de um disjuntor provocada pelo aquecimento de um chuveiro em determinada residência deixasse toda a cidade sem luz. Não dá para conceber! A interligação do sistema brasileiro tem vantagens a serem preservadas. Permite, por exemplo, que o Nordeste, cujas hidrelétricas estão com reservatórios em níveis abaixo da média, receba energia de regiões com maior capacidade geradora. Mas esse ganho perde sentido se o simples corte de uma linha tem potencial para mergulhar nas trevas quase 20% do território de um país de dimensões continentais como o Brasil.

O brasileiro nem pode se dar ao prazer de gabar-se de contar com a matriz energética mais limpa do mundo, proveniente, na quase totalidade (perto de 80%), de fontes renováveis. Aliás, cada vez mais o país tem sido obrigado a recorrer às usinas térmicas, movidas a gás e a diesel. Não bastasse, justamente questões ambientais parecem intransponíveis na hora de licenciar obras de hidrelétricas. E o mau planejamento chegou ao cúmulo ao se descobrir, no meio do caminho, que a construção da linha de transmissão entre Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia, e Araraquara, em São Paulo, tinha incompatibilidade de conexão capaz de queimar turbinas. Resultado: prejuízo estimado em R$ 100 milhões para correção do erro. Pôr a culpa em raios e queimadas não tem graça.