quarta-feira, novembro 14, 2012

Brasília e as distâncias - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 14/11

Estive em Brasília na semana passada para um evento que me encheu de orgulho. Fui receber a medalha da Ordem do Mérito Cultural, entregue pelas mãos da presidente Dilma Rousseff em cerimônia realizada no Palácio do Planalto. Aproveito para cumprimentar os outros dois premiados do Sul nessa festa que teve como principal homenageado Luiz Gonzaga: a professora e doutora em Educação Cleodes Ribeiro, que reside em Caxias, e a Fundarte, de Montenegro. Compartilhamos esse momento ao lado de Marieta Severo, Regina Casé, os irmãos Campana, Elba Ramalho, além de ilustres póstumos como Plínio Marcos, Mazzaropi, Jorge Amado, Herivelto Martins e outros nomes de igual estatura. Éramos 40 representantes da cultura brasileira, entre pessoas físicas e jurídicas, vivas e falecidas, e, se me permitem a piada, em trânsito: Orlando Orfei, aos 90 anos, compareceu frágil em sua cadeira de rodas, comovendo a todos que tiveram infância.

Mas, afora essa introdução cabotina, quero falar sobre Brasília. Foi a sexta vez em que lá estive, e não consigo mudar minha impressão: não é uma cidade, e sim uma instalação a céu aberto com obras do magnífico Oscar Niemeyer. Não há como não ficar impactado com seu trabalho grandioso e atemporal. De resto, a Capital Federal é uma abstração.

Brasília é plana – e fruto de um plano, imagino: impor distância entre o governo e o povo. A localização parece estratégica no bom sentido (no centro do país, o que, em tese, promoveria uma aproximação democrática com todos os Estados), mas na prática Brasília está ilhada em meio ao cerrado, observando os brasileiros de binóculos.

Nada convida à aproximação. Imensos terrenos separam os prédios. A cidade é dividida em setores que não se comunicam com facilidade. Caminhar em Brasília é um desconsolo, uma travessia solitária em meio à geometria fria e monocromática das ruas.

A cerimônia de premiação se deu pela manhã, e no início da noite fomos convidados para um coquetel no Palácio da Alvorada, onde a presidente, junto a alguns ministros, recebeu-nos como uma dona de casa recebe: com alegria, afeto, descontração. Havia quadros, tapetes, cortinas, um lindo jardim com piscina e a presença de Chambinho do Acordeon (protagonista do filme Gonzaga, de Pai Para Filho), que tocou xote, baião e promoveu um arrasta-pé no meio da sala. Dançamos, cantamos. Havia calor humano ali. Havia gente ali. Foi a única ocasião em que me senti numa cidade comum.

Vi quando alguém cumprimentou a presidente pela sua casa e ela respondeu: “Não é minha, e sim de todos os brasileiros”. Meu primeiro pensamento: “Hum, da próxima vez vou trazer meu biquíni”. O segundo: “Brasília inteira deveria ser a casa de todos os brasileiros”. O Rio é. Salvador é. Qualquer outra cidade do Brasil é.

Uma casa é onde seus moradores interagem, onde todos são vistos, onde a proximidade desmascara as mentiras e impõe a verdade. Uma casa é onde acontecem nossos dramas, comédias, rebeliões, discussões, abraços. É onde a vida germina e cresce. A capital de um país deveria estimular exatamente isso que Brasília dificulta: a convivência.

Barbosa & Lewandowski - TUTTY VASQUES

O ESTADÃO - 14/11


Afora tudo isso que dizem sobre a personalização do confronto entre o bem e o mal no julgamento do mensalão no STF, deve haver alguma coisa mais antiga em jogo no duelo Joaquim Barbosa X Ricardo Lewandowski para eles se bicarem com aquela frequência quase infantil no tribunal. Aí tem!


Uma namoradinha em comum na adolescência, um apelido mal recebido, uma bola de gude desaparecida, uma tachinha na cadeira, um carrinho por trás, um rabo de papel grampeado na capa do outro, sabe Deus por que diabos os ministros se pegam desse jeito.

Tem horas que, data vênia, parece briga de trânsito - ou de vizinhos, de marido e mulher, quase de camelô com guarda municipal...

Não sei se Avenida Brasil tem alguma influência nisso, mas relator e revisor falam ao mesmo tempo no julgamento como se estivessem em um almoço na mansão do Tufão.

É sempre o momento mais esperado nas sessões da tarde da TV Justiça. A novela do mensalão aproxima-se do final, mas sua trama principal terá novo palco a partir do dia 22, quando Barbosa & Lewandowski assumem, respectivamente, a presidência e a vice-presidência do STF. Periga virar a série de maior sucesso da TV brasileira!

Boa notícia

A imobilidade urbana está caindo em São Paulo: a lentidão no trânsito de ontem na cidade foi um pouquinho melhor que a de anteontem!

Jeitão de rico

O jornalista Renato Machado foi confundido dia desses nas imediações do centro financeiro de Londres com Alan Greenspan, ex-presidente do FED americano. Aproveitou para dar conselhos de investimento a fãs ingleses!

Feriadão da presidenta

Dilma Rousseff embarca para a Espanha nesta quinta-feira, correndo sério risco de tomar uma vaia se insistir na tese do "tsunami monetário" na 22.ª Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e Governo, em Cádiz. Toda vez que a presidente viaja ao exterior é a mesma ladainha! Parece o Suplicy com aquele papo de "renda mínima", caramba!

Mal comparando

A crise na polícia de SP é maior que na BBC de Londres? Há controvérsias! As duas instituições têm produzido um número impressionante de más notícias de primeira página de jornal. Páreo duro!

Personagem e tanto

Angelina Jolie já foi sondada para o papel de amante do ex-diretor da CIA no roteiro que se escreve no noticiário internacional, parece até que sob encomenda de Hollywood.

Tudo de novo

Tem gente por aí que não aguenta mais feriadão em 2012. Com chuva, então, o risco de overdose para quem vai pegar estrada é sempre maior, né não?

That is the question

Resta uma dúvida sobre o futuro de Hillary Clinton: em 2017, quando chegar à Casa Branca, ela vai querer ser chamada de "president" ou de "presidenta"?

O mercado do livro na era da tecnologia - EDNILSON XAVIER


O Estado de S.Paulo - 14/11



Vivemos na era do conhecimento e da informação. Opções eletrônicas para a leitura, como o E-book, o Kindle, o Reader, entre outros formatos, já estão no dia a dia dos novos leitores, que crescem convivendo com as tecnologias de última geração e não têm dificuldades com o novo. Para os pessimistas, o livro impresso e o exercício do livreiro estariam com os dias contados, quase uma visão apocalíptica do fim dos tempos. Mas o livreiro é persistente e não é nesse cenário que ele acredita.

A Associação Nacional de Livrarias (ANL) tem trabalhado incansavelmente nestas discussões, que representam grande avanço na democratização do acesso ao livro e, consequentemente, na ampliação do público leitor em nosso país. Entretanto, temos consciência de que para o mercado livreiro os desafios são muitos e os impasses, ainda maiores. É urgente envolver cada vez mais os livreiros independentes nas políticas públicas de incentivo ao livro e à leitura, assim como nas ações que estejam ao seu alcance. Precisamos incentivar as livrarias, principalmente as pequenas e médias, já que são elas que privilegiam o livro como seu principal produto de venda.

Embora o segmento livreiro apresente crescimento nos últimos anos, a ANL detectou, durante o seu Levantamento Anual do Segmento de Livrarias de 2011, que esse aumento foi inferior à inflação, demonstrando, entre outras razões, a real queda no preço final do livro. No Levantamento, identificou-se também que 21,88% das livrarias brasileiras têm um faturamento anual menor do que R$ 1,2 milhão, ante os 32,35% apresentados em 2010 - um reflexo direto do fechamento das pequenas livrarias (com até duas lojas) no Brasil. Já a faixa de R$ 1,2 milhão a R$ 9,6 milhões passou de 29,41% para 34,88% das livrarias, identificando a expansão nas redes de até cinco lojas.

Acreditamos que cada vez mais o livreiro reconheça que as livrarias brasileiras, assim como no mundo, passam por um período de grande transformação. Acompanhar e adotar as novas tecnologias é um dos caminhos. O livro físico não desaparecerá das prateleiras das livrarias, mas o eletrônico, rapidamente, estará presente em nossa vida e caminhará paralelamente ao livro físico, sem sombra de dúvida.

Sabemos do risco de fechamento de livrarias de pequeno e de médio portes, por causa principalmente da concorrência desleal, provocando uma concentração ainda maior do setor. Isso nos leva à compreensão de que não serão os livros eletrônicos e as novas tecnologias os nossos principais predadores. Nos últimos anos, temos presenciado o fechamento de livrarias tradicionais, que, segundo nos mostra o Levantamento, têm o livro como seu principal produto (entre 80% e 90% de seu faturamento) e que não conseguiram derrotar a concorrência predatória. Mas também identificamos um amadurecimento do setor: um total de 90,91% dos livreiros entrevistados deverão investir em outros segmentos de seus negócios até o fim de 2012, um aumento de 12,78%, comparativamente ao ano de 2011.

As livrarias brasileiras, como formadoras de leitores, podem, em suas atividades, transcender a venda passiva do livro: elas já são verdadeiros centros culturais e de entretenimento, prestadoras de serviços e ampliam seus ambientes para outros produtos correlatos, sem descartar sua missão principal, que é a de fomentar a leitura. Dessa forma, elas podem, sim, voltar a ganhar espaço em localidades mais distantes, tornando-se agentes transformadores de uma triste realidade: a falta do hábito de ler.

Entendemos que a atuação do livreiro, como agente literário, possa contribuir e muito para melhorarmos bastante nossos precários índices de leitura. Para isso é preciso que todos os que participam da cadeia produtiva e criativa do livro valorizem a livraria de seu bairro, da sua cidade, e enxerguem nela a possibilidade de formar novos leitores.

Hospital do crack - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 14/11

Veja como o consumo de crack virou um grande problema de saúde pública.
O novo Hospital Evandro Freire, no Rio, que Eduardo Paes vai inaugurar em dezembro, na Ilha do Governador, terá uma área só para tratamento de viciados na droga.

Aulas de samba
O presidente do COI, Jacques Rogge, e a mulher, Anne, chegam sexta ao Rio.
Na agenda do casal, uma noite no Rio Scenarium, na Lapa, com direito a professor de samba e caipirinhas.

Clube do milhão
O filme “Gonzaga, de pai para filho”, de Breno Silveira, já levou 865.950 pessoas aos cinemas.

Grande hotel
A Odebrecht Realizações (OR) e a incorporadora Performance assinaram parceria com a rede Accor para levar as bandeiras hoteleiras Novotel e Ibis para o Porto Maravilha, no Rio.
Serão duas torres, num total de 450 quartos.

Presença de Anita
Nos anos 1950 e 1960, muitas famílias simpatizantes de Prestes batizaram filhos como Luís Carlos ou Anita Leocádia, nome da primogênita do comunista (com Olga Benário).
Deve ter sido o caso da família da cearense Anita Leocádia Pereira da Costa, 57 anos, ré no mensalão.

Só que...
Como a mensaleira fugiu dos fotógrafos, vários jornais e sites publicaram notícias sobre ela ilustradas com a foto de... Anita Leocádia Prestes, 75 anos — para desespero da historiadora, que não tem nada a ver com o caso.

Corredor do Fórum
O juiz Vinícius Araújo, da 27ª Vara Criminal do Rio, condenou Edmar Santos de Araújo, o pai Bruno, a cinco anos e quatro meses de prisão, e Alex Souza, seu cambono, a quatro anos e dez meses, ambos em regime semiaberto.
Os dois foram presos ao “extorquirem um homem com a promessa de trazer a pessoa amada em três horas”.

O imortal Nelson
Muita gente, como nosso Ruy Castro, diz que o tetra do Fluminense foi o melhor presente para Nelson Rodrigues no ano de seu centenário.
Aliás, Nelson torceu lá de cima. É que dizia: “A morte não exime ninguém de suas paixões e deveres clubísticos.”

Michael era virgem
Randall Sulivan, ex-editor da “Rolling Stones”, diz no livro “Intocável: a estranha vida e a trágica morte de Michael Jackson” que o astro pop era... virgem:
— Ele morreu aos 50 anos virgem, nunca teve relação sexual com qualquer homem, mulher ou criança, o que, em grande parte, o fez único como artista e tão infeliz como um ser humano.

Crise na fábrica
A Bayer ameaça fechar sua fábrica em Belford Roxo, RJ, que gera 700 empregos diretos e 2.000 indiretos.
É que gente do governo propôs suspender a norma antidumping (evita que firmas baixem preços para prejudicar rivais) para o MDI, matéria prima das espumas de isolamento de geladeiras, que a Bayer produz sozinha aqui. 

‘The clown’
A produção de “O palhaço”, longa de Selton Mello que vai representar o Brasil no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, já está em campanha com os jurados de Hollywood.
Veja acima a publicidade estampada ontem no site da revista americana “Variety”. Vamos torcer.

Cabeça de Liszt
O deputado Edson Santos, aquele que fez discurso em causa própria na Câmara, dizendo que o Rio “não precisa mais de parques”, pediu à ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, a demissão de Liszt Vieira da direção do Jardim Botânico.

Muuuuuu
O designer Carlos Alberto Rezende Sobral vai recorrer da sentença que o condenou no caso em que foi acusado de “dar um tapa e xingar de vaca” a gerente do Teatro Leblon, Mariana Araújo: “Eu nunca bateria numa mulher.” Ele também diz que “ama as vacas”.
Ah, bom!

NA TERRA DA COPA
A criançada da Vila do João, no Complexo da Maré, já tão carente de diversão, está ameaçada de perder até seu esburacado campinho de futebol. Veja na foto. O campo foi invadido por famílias que já construíram ali vários barracos. A subprefeitura da Zona Norte promete ir hoje à comunidade e, “caso haja irregularidade”, retirar os casebres. Vamos torcer, vamos cobrar 

CENAS DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS
Débora Nascimento, a Tessália de “Avenida Brasil”, a novela-sensação sucedida por “Salve Jorge”, na TV Globo, posa com o diretor Leonardo Nogueira e o autor Walther Negrão em reunião da próxima trama das 18h da emissora, em que será Taís, uma guia turística. Guia eu

Ponto Final
Como analista político, José Celso Martinez é um grande diretor de teatro. Como defender que não se puna crime de corrupção? Com todo o respeito.

No fim do túnel - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 14/11


Talvez prefiram acreditar em Deus. Mas o fato de ser preferível não torna alguma crença mais verdadeira


Militantes antirreligiosos fizeram circular uma mensagem audaciosa nos ônibus de Londres. "Provavelmente Deus não existe", diziam os cartazes. "Então, pare de se preocupar e aproveite a vida."

No livro "Unapologetic", publicado neste ano na Inglaterra, o escritor inglês Francis Spufford critica a iniciativa. Como assim, "aproveite a vida"? Em que mundo esses caras estão?

Imagine, diz ele, uma senhora de meia-idade, com sua sacola de compras do supermercado, voltando para casa, onde irá encontrar aquele que foi o homem de sua vida, agora tomado pelo mal de Alzheimer, que acaba de espalhar mais uma vez suas fezes pela parede.

Ou então imagine o garoto numa cadeira de rodas, com as pernas torcidas como um saca-rolhas pelos espasmos da doença, sem poder falar; ele é capaz apenas de teclar suas mensagens no computador, mas isso também está ficando cada vez mais difícil.

"Aproveite a vida?" Para Spufford, que responde ao ateísmo de Richard Dawkins e Christopher

Hitchens, quem criou esse slogan é que vive no mundo da carochinha.

Adotou-se, diz ele, a mentalidade típica da publicidade comercial: todo mundo é feliz, saudável e bonito e, se aparece alguém de cabelo branco, é porque se trata de um daqueles anúncios de aposentadoria privada, em que há muita disposição para os prazeres da "melhor idade".

Spufford não é teólogo. Escreveu um romance de ficção científica e ensaios sobre a história da tecnologia. "Unapologetic", que poderia ser traduzido como "Sem Justificativa", ou "Sem Pedir Desculpa" (por ser cristão), traz argumentos muito amigáveis, dirigidos a quem não vê sentido no modo de vida religioso.

Como sou uma dessas pessoas, logo pensei numa resposta aos exemplos da mulher de meia-idade e do menino de cadeira de rodas. É cruel dizer-lhes para "aproveitar a vida". Mas também é duro dizer que um Deus misericordioso quer que essas desgraças lhes aconteçam.

Mesmo assim, talvez até prefiram acreditar em Deus. Mas o fato de ser preferível não torna alguma crença mais verdadeira.

Os argumentos a favor e contra podem estender-se, é claro. Constituem um dos principais temas de "Expresso do Pôr do Sol", peça do norte-americano Cormac McCarthy, em cartaz no Tucarena até 25 de novembro.

Ao longo de uma hora e pouco, dois excelentes atores (Cacá Amaral e Guilherme Sant'Anna) discutem bravamente a questão. Mais do que isso: Cacá Amaral, no papel de um professor universitário branco, acaba de ser salvo de se atirar da plataforma de um trem.

É um ex-presidiário negro, convertido ao cristianismo, quem o impede de se matar. No papel de

"Black", Guilherme Sant'Anna é um anjo de astúcia e vitalidade, tentando desmontar a descrença furiosa de "White". Como bom ateu, o diálogo me pareceu desequilibrado a favor de uma ótica cristã. A peça mostra bem os motivos biográficos que fizeram o ex-presidiário abraçar a escolha "correta".

Os argumentos de "White" em favor do suicídio, entretanto, são impessoais e vagos. Ele declara, por exemplo, que toda sua fé na cultura e no progresso desapareceu "nas cinzas dos campos de extermínio"; sendo toda esperança de felicidade uma mentira, o melhor é se jogar na frente de um trem.

Evidentemente, nem todo ateu quer se jogar na frente de um trem. A moral da história seria outra: sem acreditar "em alguma coisa", você não consegue viver. O cristianismo pode ser essa "alguma coisa", e certamente "Black" é feliz com sua religião. Livrou-me de um monte de encrencas, diz o ex-presidiário. Certamente. Mas ainda falta escrever uma peça em que o ateu, vivendo feliz seu modesto destino, tenta tirar o religioso das encrencas em que ele se mete.

Imagine, por exemplo, um jovem homossexual que renega seu amor por outro homem simplesmente pelo fato de que sua religião não permite esse tipo de coisa. Ou a mãe que se recusa a abortar e gera um filho com grave deficiência, quando poderia ter outro normal numa gravidez posterior.

"Expresso do Pôr do Sol" não vai muito longe nesse tipo de debates, que naturalmente varariam a madrugada toda. De todo modo, para quem não está disposto a se atirar nos trilhos de um trem, não deixa de ser um bom ponto de partida para a discussão.

O conciliador - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 14/11


Vale acompanhar de perto os movimentos do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) nos próximos dias. Silencioso e sempre cordato, ele caminha sobre cacos de vidro no papel de relator da Medida Provisória 579, que trata da regulamentação do setor elétrico. Relatar esse tipo de tema sendo da base governista não é fácil. Primeiro, há uma pressão enorme por mudanças no texto, seja por parte das empresas concessionárias, seja por parte dos governos estaduais. Do outro lado do ringue, estão a presidente Dilma Rousseff e seu governo, que não querem saber de alterações que mexam no preço da energia ao consumidor final.

Dilma conhece o setor. Foi ministra de Minas e Energia do governo Lula. Ela, da sua parte, acredita que as empresas vão reclamar, mas terminarão cedendo. Da parte das empresas, diariamente, os jornais publicam que os sócios das concessionárias defendem a não-renovação porque acreditam não ter nada a ganhar, uma vez que os ativos não lhes pertencem. Confusão para mais de metro, calcula um parlamentar.

Ministrar essa queda de braço passa a ser, a partir de hoje, o papel de Renan. Ele tem feito uma série de audiências públicas para ouvir todos os atores desse processo e ver se consegue chegar a um consenso. Ontem, por exemplo, foi a vez dos governadores. Antônio Anastasia, de Minas Gerais, por exemplo, calcula uma redução de 10% na arrecadação do ICMS. Outros governadores foram na mesma linha e o resultado é uma grita contra o projeto tal e qual a da manutenção dos royalties do petróleo destinado apenas aos estados produtores. Renan a partir de hoje, vai tentar trabalhar essa compensação aos estados, mas ainda não tem fonte de receita para isso.

Enquanto isso, no PMDB…

O partido de Renan bem que gostaria de discutir essa compensação dos estados em meio a uma mexida nos impostos, de forma a dividir as contribuições exclusivas da União com os estados e municípios. No geral, percebe-se que todas as iniciativas do governo hoje — inclusive a unificação do ICMS — terminam por tirar receitas das unidades da Federação, enquanto o caixa do governo federal só cresce e os programas parecem mais centralizados. Não por acaso, os governadores e senadores, como Aécio Neves, já mencionam a necessidade de um novo pacto federativo.

Pelo andar da carruagem, esse será um tema em alta em 2013, ano sem eleições, em que os parlamentares terão condições de se aprofundar nos assuntos mais espinhosos. Resta saber se terão força para mexer nas propostas, inclusive as que já estão em pauta hoje. Renan Calheiros, da sua parte, declarou que pretende alterar a MP do setor elétrico, mas usa sempre a palavra “limite”, referindo-se ao fato de que não aceitará nada que mexa com a possibilidade de redução das tarifas, aliás, o único consenso em torno da MP.
Renan é pré-candidato a presidente do Senado. Hoje, esforça-se para os congressistas não misturarem a regulamentação do setor elétrico com a sucessão do presidente José Sarney em janeiro. “Não dá para politizar esse assunto. A MP não tem nada a ver com a eleição do Senado. Politizar isso é um apagão político”, afirma ele, numa tentativa de tirar a eleição de cena.

Por falar em eleição…

Da parte de Renan, a sucessão de Sarney só deve entrar em discussão no ano que vem. Mas muitos senadores peemedebistas estão indóceis. Há quem diga que, se até 10 de dezembro não houver uma solução em torno da presidência da Casa, da liderança do partido e dos outros cargos da mesa diretora, os grupinhos vão se formar. Desfazê-los mais à frente para unir o partido será muito mais difícil. Mais uma missão para o conciliador Renan Calheiros.

Seleção do contra-ataque - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 14/11


É incompreensível que Neymar, tão espetacular, atue hoje em uma fraca equipe, como o Santos


Um leitor, com razão, não entendeu qual a razão de tantos elogios à seleção, a Mano Menezes e a Kaká, por apenas duas boas atuações, contra o fraquíssimo Iraque e o mediano Japão. Ele, novamente com razão, disse que o Japão marcou muito à frente e que deixou enormes espaços para os velozes jogadores brasileiros. O leitor completou: "Contra a Colômbia, o Brasil deve ter muito mais dificuldades". Ele deveria ser comentarista.

Quem define o estilo de uma equipe não é o treinador. São as características dos jogadores. Mano quer um time com mais troca de passes e posse de bola, mas, com tantos atletas velozes, a seleção será um time muito mais de contra-ataques, como era com Dunga. A diferença é que a equipe marcava atrás, longe do outro gol. Com Mano, o time fica mais ofensivo, pois recupera a bola mais à frente. Por outro lado, dá mais chances de contra-ataque.

Tenho esperanças de o Brasil formar um ótimo time até a Copa. A seleção tenta sair do lugar-comum, de que uma equipe tem de ter um volante brucutu e outro mais técnico -Ramires e Paulinho atacam e defendem bem-, um único meia, responsável pela armação de jogadas, e um centroavante fixo, artilheiro. Os quatro mais adiantados são meias e atacantes.

Tenho também muitas preocupações. Como disse José Trajano, Cavalieri é o melhor do Brasileirão, mas uma única e ótima temporada não é suficiente para ser considerado um grande goleiro de seleção, ainda mais que foi reserva em todos os times anteriores.

David Luiz ainda não me convenceu. Daniel Alves, há um bom tempo, não brilha nem pelo Barcelona. Fora Neymar, não há um outro fora de série. Há jogadores bons e excelentes. Kaká é uma incógnita para a Copa de 2014.

Oscar, além de fazer dois belíssimos gols, tem atuado bem no Chelsea, como outros meias do time, o belga Hazard e o espanhol Juan Mata. Há uma pressa em rotular Oscar como uma estrela mundial. Nos dois últimos jogos do Chelsea, quando o time empatava e precisava vencer, Oscar foi substituído no segundo tempo pelo nigeriano Moses.

É óbvio que o Brasil vai precisar, em algumas situações, de um típico e bom centroavante. Hoje, o melhor é Fred. Não sei se será amanhã. Na Copa América, foi mal. Quando o time não jogar bem, por dezenas de outros motivos, a causa será a falta de um centroavante. A explicação já está pronta.

Mano quer Neymar mais perto do gol. Se ele jogar mais pela esquerda, ao lado de um típico centroavante, terá de voltar para marcar o lateral. Ocorreu o mesmo com Messi. Quando saiu da direita para o centro e mais perto do gol, tornou-se espetacular e mais artilheiro.

Quando Adilson Batista treinava o Santos, quis fazer, com Neymar, o mesmo que tenta hoje Mano. Nós o criticamos. O técnico tinha razão.

A nova repartição dos royalties - ADRIANO PIRES

Brasil Econômico - 14/11


A Câmara dos Deputados aprovou na semana passada (6/11), sem qualquer alteração, o projeto do Senado que cria novas regras de distribuição dos royalties do petróleo, o que representou uma derrota para os estados e municípios produtores e para a União, que aparentemente não apoiava o projeto. O resultado final surpreendeu, uma vez que a Câmara optou pelo projeto do senador Vital do Rêgo, que havia sido aprovado no Senado em outubro de 2011 e não o substitutivo do deputado Zarattini, encomendado pelo governo, que vinha sendo apreciado pela Câmara. O projeto aprovado reduz as receitas dos estados e municípios produtores e aumenta, de forma substancial, o repasse para os não produtores. A proposta aprovada difere da do deputado Zarattini por não garantir, nem mesmo, a arrecadação de 2011 para os estados e municípios produtores como forma de evitar perdas. Como já passou pelo Senado e não sofreu alteração, o projeto vai à sanção presidencial. No entanto, a aprovação na Câmara não acabará com a nove-la da distribuição dos royalties. Caso a presidente Dilma vete integralmente ou em parte o projeto aprovado, um novo projeto terá de ser elaborado pelo legislativo e toda a tramitação re-começa. Caso a presidente Dilma sancione integralmente o projeto, os governos do estado do Rio de Janeiro e do Espírito Santo deverão entrar na justiça, o que levará a decisão para o STF, sem prazo definido para a conclusão. A hipótese da sanção do projeto seria, à principio, a melhor opção para o governo, porque tiraria da mesa da presidente uma decisão onde sempre irá desagradar os estados e por outro lado poderia levar a realização dos leilões.

A primeira hipótese de evitar um desgaste entre a presidente e os estados, sejam os produtores de petróleo ou com os demais, pode ser uma estratégia eficiente. Porém, na medida que a questão dos royalties vá parar no Supremo, isso poderá levar a inúmeras liminares, tentando impedir a realização dos leilões. Assim, apesar da aprovação, a questão deverá permanecer em aberto, comprometendo os leilões de áreas exploratórias previstos para 2013. Só para lembrar, caso não ocorram novos leilões, ao final de 2013, a área, com investimentos em exploração de petróleo, será reduzida para 98 mil km². Em 2009, a área era de 341 mil km². A questão dos Royalties mostra, mais uma vez, a inabilidade do governo em conduzir e mesmo dar soluções adequadas para questões regulatórias. À exemplo do que deve acontecer no setor elétrico, por conta da controvérsia na questão da renovação das concessões, a decisão final sobre a repartição dos royalties poderá ser tomada pelo STF, o que mostra uma judicialização das questões regulatórias, que deveriam ser decididas na esfera das Agências Reguladoras, juntamente com o Executivo e o Legislativo. Toda esta confusão, envolvendo setores tão importantes, aumenta o risco regulatório e afasta investimentos, em particular, naqueles ligados a concessões de infraestrutura.

Coleta de material - ANTONIO PRATA

FOLHA DE SP - 14/11


Imaginei-me chegando ao balcão, depositando o potinho vazio e dizendo: 'Olha, não são vocês, sou eu'


ÉRAMOS EU, um potinho de plástico e a Bruna Surfistinha -"Se precisar de estímulo, tem umas revistas naquela gaveta" haviam sido as últimas palavras da funcionária do laboratório antes de me abandonar à solidão das quatro paredes beges. Eu estava ali para realizar um espermograma, exame a que, após alguns meses de infrutíferas investidas fecundatórias, resolvi submeter-me -embora "submeter" não seja o verbo mais adequado se pensarmos que a responsabilidade pela "coleta do material" recaía, única e literalmente, em minhas mãos.

Woody Allen disse certa vez que não deveríamos nos envergonhar da masturbação, afinal, trata-se de sexo com a pessoa que você mais ama. Ok, talvez num domingo chuvoso, no recesso do lar, entre um brownie e um seriado de TV; mas no 11º andar de um edifício na rua Itapeva, constrangido pelo cheiro de álcool, pelo bip das senhas no painel, insistindo em me lembrar das 15 pessoas que, do lado de lá da diáfana porta de fórnica, ops, de fórmica, sabiam muito bem o que eu estava prestes a fazer (discrição claramente não havia sido a prioridade da mocinha ao urrar "Sr. Antonio, espermograma!!!"), a coisa fica um pouco diferente.

Não sei se foi o cheiro de álcool, as pessoas lá fora, a obrigação de cumprir com o dever, mas assim que tranquei a porta me veio aquela dúvida que um homem jamais deve deixar brotar diante do sexo, seja com uma pessoa, com várias ou com nenhuma: e se eu não conseguir? E se for incapaz de -hum, hum- performar a coleta? Seria a mais humilhante de todas as brochadas, uma inédita brochada solitária, diante da qual eu poderia dizer, sem mentir: isso nunca me aconteceu antes!

Imaginei-me chegando ao balcão, depositando o potinho vazio -transbordante de fracasso- e dizendo: "Olha, não são vocês, sou eu. Tô um pouco nervoso. Será que não dava pra eu ler umas Caras velhas antes? Tomar um cafezinho? Quem sabe se eu começar por um hemograma básico, sei lá, um colesterol e triglicérides, depois passar pra uma ressonância -aquele escurinho, aquele ronronar...- e só então formos aos finalmentes, hein?".

Estava prestes a aceitar a derrota quando, do fundo de minha acuada masculinidade, uma voz ecoou. Era a voz de Van Damme, o Grande Dragão Branco: "Retroceder, nunca; render-se, jamais!". Ele estava certo. Eu não podia me deixar vencer pelo medo. Eu fora até ali por uma razão clara: pelo filho que pretendo ter. Para saber se está tudo bem comigo (ou, deveria dizer, com eles?) antes de gastar um ano em malogradas -embora nada sofridas- tentativas. Falhar, naquele instante, não seria um ato de fraqueza, mas de egoísmo: um desrespeito com o futuro, uma afronta à minha missão biológica. E foi este sentimento cívico, este ancestral chamado da natureza que me trouxe de volta a confiança, fez o coração pulsar o sangue em minhas veias e... Bom, vamos parar por aqui. Certas intimidades, melhor ficarem entre as quatro paredes beges, entre mim, o potinho de plástico e a Bruna Surfistinha -que, sem nem suspeitar, no 11º andar da rua Itapeva, no fundo de uma gaveta, vem ajudando a povoar este Brasil varonil. Com licença -e desculpe qualquer coisa.

Tripé: os argumentos do Banco Central - CRISTIANO ROMERO

Valor Econômico - 14/11


O Banco Central (BC) tem sido muito criticado nos últimos tempos, inclusive neste espaço, pelo possível abandono do tripé de política econômica que vigora no país desde 1999. Um dos aspectos do tripé - o superávit fiscal - não depende do BC, mas os outros dois (câmbio flutuante e metas para inflação) estão sob sua gestão.

Dirigentes da instituição fizeram um balanço, para esta coluna, da atual administração. O propósito é mostrar que, no que cabe à autoridade monetária, não houve ruptura, mas uma adaptação à complexa realidade econômica global.

Em 2010, o último ano do governo Lula, a economia brasileira cresceu 7,5%, uma taxa insustentável. "Não podia, não pode nem vai poder crescer a essa taxa no curto prazo", diz uma fonte graduada. "7,5% é "too much" (demais) para nós." Naquela ocasião, o volume de crédito crescia a taxas igualmente insustentáveis, mais de 50% em alguns segmentos.

Previsão de queda dos juros estava na ata do Copom desde 2010

O forte fluxo de capitais estrangeiros era outro desafio, não apenas por causa da apreciação que provocava na taxa de câmbio, mas pelo fator "desestabilizador", explica um assessor. O risco seria de uma reversão repentina dos fluxos, algo que provocasse desvalorização abrupta do real e problemas no crédito, uma vez que parte dos recursos externos alimentava os financiamentos.

Para completar, no segundo semestre de 2010 um forte choque de preços de commodities acelerou a inflação.

A reação do BC foi conter a expansão excessiva de crédito por meio de medidas macroprudenciais, uma vez que os empréstimos eram uma das principais alavancas do PIB naquele momento. "Um ano depois, aquela intervenção se mostrou correta. Ela foi cirúrgica. As medidas macroprudenciais eram o principal instrumento para lidar com pressões localizadas de demanda. Não eram um substituto para a Selic", diz uma fonte.

O governo decidiu, também, taxar a entrada de capitais de curto prazo para conter os riscos de um fluxo "abnormal". "Pode trazer recursos, só mudou o preço." Por fim, o BC iniciou um ciclo de aperto monetário para combater a inflação, que em 2010 foi a 5,9%.

A política fiscal do novo governo, iniciado em janeiro de 2011, ajudou a macroeconomia, não necessariamente por reduzir a dívida pública, mas por contribuir para conter a demanda agregada.

No Relatório de Inflação de 2011, o BC comunicou ao mercado que o IPCA só convergiria para a meta de 4,5% em 2012. Nos meses seguintes, foi acusado de ser leniente com a inflação, cujas expectativas continuavam se deteriorando. Em agosto de 2011, num movimento surpreendente, o banco interrompeu o processo de elevação dos juros e começou a reduzi-los, baseado na percepção de que a economia mundial estava novamente em processo de forte desaceleração.

Nesse ponto, há um aspecto interessante sobre a comunicação da autoridade monetária. É verdade que o BC se aproveitou da fraqueza da economia global para cortar os juros, mas a ideia de que o país já estaria preparado para se mover nessa direção foi prevista, pela primeira vez, no parágrafo 19 da ata do Comitê de Política Monetária de setembro de 2010, um ano antes do início do ciclo de alívio monetário. Lá, está dito que o amadurecimento do regime de metas aumentou a tração da política monetária e criou condições para a queda da taxa real neutra de juros, aquela que mantém o equilíbrio entre oferta e demanda com inflação baixa e estável.

"Os juros iam cair de uma maneira ou de outra. A crise apenas acelerou esse processo", observou uma fonte. Uma possível indicação de que o país mudou para melhor é que, nas crises anteriores, a taxa de juros subia, em vez de cair.

O BC alega que, apesar do corte de juros, não abdicou do cenário de convergência à meta em 2012. No entanto, o banco foi surpreendido, em junho passado, por mais uma rodada de aumento de preços de commodities e de produtos in natura. "Até aquele momento, o mercado estava conosco", diz uma fonte, lembrando que, em junho, a inflação implícita na negociação das NTN-B (papel do Tesouro atrelado ao IPCA) estava abaixo de 4,5%, portanto, da meta de inflação para 2012.

"O cenário de convergência se complicou, mas não desapareceu", sustenta um dos formuladores da política econômica. O BC acredita, agora, que o pior momento do choque de preços já passou e que cinco fatores contribuirão para a convergência do IPCA à meta no próximo ano.

O primeiro é que, nos próximos 12 meses, é "pouco provável", segundo um assessor, que a taxa de câmbio sofra o grau de depreciação (de 30%) ocorrido entre setembro de 2011 e o mesmo mês deste ano. O segundo fator é o salário mínimo (SM), que tem influência decisiva nos preços dos serviços. Em janeiro de 2012, o SM foi corrigido em 14,12%. Em janeiro de 2013, o reajuste será bem menor (algo entre 7,9% e 8,3%).

A terceira razão para o BC apostar na queda da inflação é a economia mundial, que deve continuar fraca em 2013. O quarto fator é a desoneração tributária promovida pelo governo. No caso da energia elétrica, espera-se impacto baixista no IPCA de 0,5 ponto percentual em 2013, número que já consta das projeções oficiais.

O BC acha que há, ainda, um "risco favorável" de outras desonerações, como a da folha de pessoal de 25 setores da economia, ajudarem a segurar os reajustes de preços nos próximos meses. Outra razão que faz o BC acreditar na convergência do IPCA é o cumprimento, em 2013, da meta cheia de superávit primário das contas públicas (3,1% do PIB), diferentemente do que está ocorrendo em 2012.

"Nosso cenário contempla meta cheia de superávit em 2013", assinalou uma fonte. Isso não significa que o governo vá cumprir a meta. A tendência é que não o faça, uma vez que recentemente adotou-se o discurso da necessidade de uma política fiscal anticíclica. O que o BC está dizendo é que, se a meta não for cumprida, haverá consequências sobre suas ações.

No governo atual, há a percepção de que o BC perdeu autonomia, mas, nesse tipo de análise, dois sinais emitidos recentemente por dirigentes do BC devem ser levados em conta: a defesa contundente do regime de metas e a advertência de que o banco conta com a meta cheia de superávit em 2013. "Os ciclos econômicos (e monetários) não foram abolidos."

Governo retrógrado: ser ou não ser? - ALBERTO GOLDMAN


O ESTADÃO - 14/11


Mudanças na vida privada, ou no conjunto da sociedade, trazem insegurança. O ser humano é assim. A sociedade, vista no seu todo, é conservadora. Se depender apenas de vontades individuais, pouca coisa muda. Os avanços só ocorrem quando muitos sentem que do jeito que as coisas vão não dá para continuar. Ainda assim, esse sentimento não é suficiente, porque a inércia conservadora se sobrepõe. Por isso é necessário que o governo e as lideranças da sociedade estejam dispostos a enfrentar eventuais desgastes e tomar para si a tarefa de fazer o que é preciso fazer.

O Brasil, a partir da década de 1940, no pós-2.ª Guerra Mundial, iniciou um processo de industrialização comandado pelo Estado. Só dessa forma foi possível, em face da insuficiência de capitais privados na siderurgia, na mineração, na exploração petrolífera, na infraestrutura e na prestação de serviços públicos, impulsionar a industrialização no nosso país.

Décadas depois, esse modelo entrou em crise. Com gestão ineficiente, obsoletas e incapazes de fazer novos investimentos para ampliação e modernização, as empresas estatais apresentavam enormes déficits e deixavam de atender às necessidades do Brasil. A situação apresentava-se de forma dramática, com a disparada da inflação e o desenvolvimento econômico bloqueado.

A Constituição federal de 1988 foi a superação do período ditatorial com a expressão de um País que necessitava romper com o passado para voltar a crescer. Apesar do peso das corporações estatais e de sua força política, a nova Carta Magna foi capaz de romper com o domínio dos interesses conservadores - ideológicos, políticos e econômicos - de manutenção daquele estado de coisas. Na Lei Maior, os capítulos da ordem política e da ordem econômica abriram novas perspectivas, dando espaço a um novo modelo.

É preciso observar, no entanto, que, durante a elaboração da Constituição e durante os governos que se sucederam a ela, uma respeitável parcela da sociedade, ainda que minoritária, mas bem ativa e organizada, justamente aquela que havia sido beneficiada pelo modelo estatal, lutou - por intermédio do Partido dos Trabalhadores (PT) e de outras forças conservadoras - com unhas e dentes para evitar qualquer avanço, qualquer mudança que pusesse em risco os seus privilégios. Porém o sentimento da sociedade, desejando superar a fase de dificuldades por que passava o País, e, posteriormente, a liderança e a vontade dos novos governantes, respaldados pelo Plano Real, de combate à inflação, permitiram que se implementasse o novo modelo de desenvolvimento. Enfim, venceram a vontade da sociedade e a liderança dos novos governantes.

A privatização começou no governo Fernando Collor de Mello, com a siderurgia, e avançou no governo Itamar Franco, com as rodovias - fui o ministro dos Transportes que a conduziu - e a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer). Mas foi do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso a decisão política de avançar com celeridade, com a legislação que estabeleceu o novo tratamento ao capital estrangeiro, a possibilidade de exploração privada do petróleo, a criação das agências reguladoras, para o fortalecimento do papel do Estado nos setores de energia elétrica, de transportes e de telefonia, e com a privatização bem-sucedida das empresas do Sistema Telebrás e da Companhia Vale do Rio Doce. Esse foi o elemento essencial para o sucesso no combate à inflação, para diminuir o peso da dívida pública e para modernização da gestão pública. O Plano Real só se consolidou porque o erário deixou de ser sugado pela ineficiência do Estado.

No final do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso esse processo começou a perder o seu ímpeto. Na proximidade das eleições presidenciais, o PT e seu candidato, Luís Inácio Lula da Silva, como tática eleitoral diante do temor de uma iminente crise econômica, divulgaram a Carta ao Povo Brasileiro, pela qual se comprometem a respeitar os contratos e obrigações do País e a realizar as reformas que o governo Fernando Henrique não havia conseguido levar a cabo, inclusive pela forte oposição do próprio PT.

Não o fizeram por convicção, mas por oportunismo. Para vencer contrariaram o seu passado. Vitoriosos, desde então vivem nesse conflito do "ser ou não ser", com graves repercussões na condução do Brasil. Exemplos disso existem à vontade. Lula, em 2004, aprovou no Congresso Nacional a lei das parcerias público-privadas, que nunca foi aplicada no plano federal. Só recentemente se iniciou a modernização e a operação de rodovias com a participação da iniciativa privada e, de forma atabalhoada, a concessão de aeroportos. Mas, ao mesmo tempo, recuaram em outros setores, como no caso do petróleo, em que se restabeleceu, por lei, o monopólio estatal.

Apesar de um bom momento da economia na época, impulsionada por um quadro internacional favorável, não levaram adiante as mudanças que poderiam modernizar o País. E o setor de energia elétrica sofre agora uma intervenção estatal que pode desorganizar essa área vital para o desenvolvimento nacional.

Assim como no plano político não fizeram o acerto de contas com o passado, decidindo se querem um governo e uma sociedade democráticos ou o seu controle por um partido e uma ideologia hegemônica, tampouco fizeram o acerto de contas no plano econômico, dizendo se reconheceram, ou não, que o Estado não é, nem pode ser, o provedor de tudo.

O governo Dilma Rousseff está submetido a um conflito político-existencial e é refém do atraso. Da mesma forma que o governo Lula, ainda que com estilo diferente, este é retrógrado e desnorteado.

Estamos vivendo, durante os últimos dez anos, dilemas que obstruem o desenvolvimento do Brasil.

Alta tensão nas relações internas - ROSÂNGELA BITTAR

Valor Econômico - 14/11


Quem está pensando que o PT busca traçar um plano de recuperação de imagem para voltar a ser identificado com a cidadela da moralidade como antigamente, vai se surpreender com o problema em que se enreda o partido no momento: a travessia das fissuras no relacionamento interno, em processo célere de esgarçamento, para se ser exato, desde a apuração do segundo turno das eleições municipais até ontem.

É como se em vez de estar terminando a agonia do PT com a fase conclusiva de julgamento do mensalão, ela estivesse apenas começando. Os condenados não sabem se haverá nota oficial contra o Supremo Tribunal Federal, se a mobilização da CUT e da UNE será possível e emulada pelo partido, se tomarão as ruas para expor indignação, se o ex-presidente Lula sairá do seu silêncio e das recomendações de discrição que fez ao partido. É isso o que esperam e não estão tendo: "solidariedade". Cada um foi tratar de sua vida e a luta interna tornou-se aguda e atiçou a revolta.

A evolução da estratégia ocorreu ao longo de todo o processo. Marcado o julgamento, o primeiro movimento definido pelo partido foi separar os dois fatos, tirá-lo da coincidência com a campanha eleitoral. Com esse objetivo, foram feitas várias incursões, sendo a mais visível, tanto quanto desastrada, a que reuniu Lula e o ministro Gilmar Mendes numa conversa de ameaças veladas sobre a qual o ex-presidente nada explicou até hoje. E que acabou por consolidar a coincidência do julgamento com as eleições, abortando outras iniciativas com o mesmo fim.

Dia 19 o PT tenta sair do novo labirinto

Iniciado o julgamento, a direção do PT avisou a todos que pesquisas encomendadas indicavam ao partido que o mensalão não atrapalharia o bom resultado eleitoral em todo o país, à exceção de São Paulo, onde tinham domicílio eleitoral os réus políticos principais.

Uma vez condenados José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares e João Paulo Cunha, o diretório nacional convocou uma reunião, entre o primeiro e o segundo turnos das municipais, em que o próprio Dirceu, presente, manifestou-se e pediu que esquecessem o mensalão porque, naquele momento, a prioridade era ganhar a eleição no segundo turno da cidade de São Paulo.

Apurado o resultado, o PT viu iniciar-se um novo movimento dos acusados. Inquietavam-se com a demora da reação do partido, esperavam uma nota oficial da direção, contundente, em sua defesa e em ataque ao Supremo e à imprensa. O presidente do PT, Rui Falcão, chegou a anunciar a nota de véspera, mas não a divulgou.

O ex-presidente Lula entrou novamente em campo para, desta vez, baixar a temperatura. Achou inconveniente a divulgação de uma nota com tal teor, entre outras razões, porque o julgamento não havia terminado: faltava a importante dosimetria e o partido, a seu ver, poderia acirrar o Supremo.

Nesse ambiente começaram a vazar informações sobre depoimentos do Marcos Valério ao Ministério Público, em busca de delação premiada, nos quais, inclusive, citava Lula, Antonio Palocci, o assassinato de Celso Daniel e outros fantasmas partidários. O ex-presidente opinou, achava que não se devia ainda mexer no assunto. Lula pediu paciência para esperar o julgamento acabar.

O imobilismo do partido, porém, provocou a insatisfação dos condenados, e o próprio PT se assustou quando viu José Dirceu reclamar. Causou especial comoção a manifestação de suas ex-mulher, Clara Becker, mãe de seu filho Zeca Dirceu, que faz política no Paraná. Ela foi fotografada ao seu lado, no sítio em Vinhedo, e deu entrevista afirmando que tudo o que José Dirceu fez foi em função e em favor de Lula. Soou explosiva a declaração, o gongo no partido foi acionado. Dirceu vinha poupando Lula, enfrentando o processo sozinho. Dirigentes do PT tomaram o gesto como um recado claro de sua revolta com a falta de solidariedade. Não houve ninguém que não tivesse visto naquela entrevista as palavras do próprio Dirceu. Aumentaram o tom das queixas João Paulo Cunha, José Genoíno e, com grande barulho no partido, Delúbio Soares. O PT passou a temer, também, as mulheres de cada um deles que, segundo informações à direção, estão tomadas pela emoção.

É o que mostra o termômetro de anteontem, ontem, hoje e amanhã, provavelmente, sob o efeito dos 10 anos e 10 meses para Dirceu, 6 anos e 11 meses para Genoíno, e 8 anos e 9 meses para Delúbio. Faltam os embargos infringentes, os embargos de declaração, a decisão do Supremo sobre crime continuado e tudo o mais que pode mudar o quadro daqui para a frente, na sessão final de ajustes, inclusive.

O PT trabalha com algumas hipóteses, mas não tem decisão. Continuar em silêncio e ir tocando a rotina até tudo ficar definido no Supremo é uma delas. Ontem, o presidente do partido, Rui Falcão, deu uma entrevista das mais lights entre todas as suas manifestações até hoje.

Outra hipótese é, diante da pressão dos condenados, que estão revoltados com Lula, Gilberto Carvalho, tudo e todos, divulgar finalmente uma nota mais violenta. Mas a direção sabe que não basta acalmar os mais afoitos, é preciso ter uma estratégia para os condenados. Se deixar que cada um defina a sua, acredita o partido que haverá do mártir à greve de fome, do pedido de indulto ao recurso à corte internacional.

Na semana que vem um fato novo ocorrerá e começou a ser acionado com a visita do ministro Joaquim Barbosa à presidente Dilma para convidá-la à sua posse, anteontem. O PT parou de pressionar para ela não comparecer, acha agora inevitável que vá, mas imagina a direção que haverá constrangimento. Com os ministros que ela nomeou, como Luiz Fux e Rosa Weber, considerados traidores porque votaram com o relator, assim como os nomeados por Lula, como Joaquim Barbosa, Ayres Brito e Carmem Lúcia, que também condenaram petistas.

Será também na semana que vem, dia 19, a reunião do diretório nacional para os balanços da eleição municipal e do julgamento do mensalão. Sob a atenção total, ainda que fora da sala, do ex-presidente Lula.

Uma certeza tem o PT: José Genoíno assumirá o mandato de deputado federal dia 2 de janeiro de 2013, depois de aberta a vaga com a posse como prefeito de São José dos Campos, Carlos de Almeida. Com o Congresso em recesso, começa a trabalhar em fevereiro.

Vai para onde? - MATIAS SPEKTOR

FOLHA DE SP - 14/11


O Brasil galgou posições no sistema internacional, mas não está claro que essa expansão seja sustentável


Passei as últimas semanas entrevistando funcionários do governo americano e outros profissionais de Washington sobre o processo de ascensão do Brasil.

Falei com gente de Casa Branca, Tesouro, Departamento de Estado, Pentágono, Conselho Nacional de Inteligência, Câmara de Comércio e Comitê de Relações Exteriores do Senado. Conversei com especialistas do Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e centros de pensamento ("think tanks").

Escolhi pessoas que, ao longo dos últimos anos, mostraram curiosidade por aquilo que a diplomacia brasileira diz e faz, mesmo quando dela discordam. Todos, sem exceção, são simpáticos em relação ao país.

Não há espaço aqui para um relato detalhado, mas vale a pena ressaltar a mensagem geral: nos últimos dez anos, o Brasil galgou posições no sistema internacional outrora impensáveis, mas não está claro que essa expansão seja sustentável. Em Washington, a imagem do Brasil emergente está em via de reavaliação. Para a maioria dos interlocutores, há sinais de retração.

Por quê? Ouvi quatro explicações principais.

Primeiro, o ativismo diplomático dos últimos anos teria posto o Brasil no mapa, ao custo de trazer resultados duvidosos ou negativos em temas centrais da agenda -Mercosul, Unasul, G20, rodada Doha e Conselho de Segurança da ONU.

Segundo, o investimento concreto em política externa teria ficado muito aquém das ambições oficiais. Faltariam orçamento e pessoal. Ninguém entende, por exemplo, por que se celebra repetidamente a abertura de novas embaixadas na África e no Caribe quando todos sabem que as mesmas geralmente carecem de recursos para operar direito.

Terceiro, o Brasil teria encontrado grandes obstáculos na própria vizinhança. O investimento diplomático na América do Sul, embora inédito, estaria muito longe de facilitar o jogo brasileiro mundo afora.

Quarto, o Brasil advogaria a favor de um mundo menos controlado pelo Atlântico Norte -e mais inclusivo de grandes países emergentes- sem oferecer uma visão prática de como isso produziria mais estabilidade, justiça e afluência.

Líbia, Síria e a crise financeira global seriam bons exemplos da desconexão entre o discurso da multipolaridade e a oferta de concepções alternativas viáveis.

Essas explicações precisam ser tomadas com distanciamento crítico, porque Washington tende a ser uma cidade umbilical e viciada em interpretar o mundo por meio de lentes exclusivamente nacionais.

Mas seria um erro descartá-las como baboseira ou má-fé. Elas apontam para problemas importantes que todo governo brasileiro precisará enfrentar nos próximos anos.

Também representam um alerta útil. A crença de que o Brasil precisa ser ouvido e incorporado à resolução dos grandes problemas internacionais tem raízes mais profundas em Washington do que em Londres, Moscou, Nova Déli ou Pequim.

Mais que qualquer outro país do mundo, os EUA reconhecem e celebram a trajetória brasileira, apesar dos atritos acumulados no caminho.

Se há dúvidas sobre o futuro de nossa ascensão na capital americana, que dirá em outras praças.

Incertezas prejudicam investimentos - GUSTAVO LOYOLA

Valor Econômico - 14/11


Estudo realizado por Sérgio Lazzarini, professor do Insper, e pela assistente de pesquisa Camila Bravo Caldeira, aponta que o valor de mercado das ações das empresas de setores que sofreram algum tipo de intervenção do governo federal - telecomunicações, bancos e setor elétrico - diminuiu cerca de R$ 61 bilhões desde o início do ano, com quedas muito superiores às do Ibovespa. Com tais números, não é de se surpreender com a anemia dos investimentos na economia brasileira, notadamente em setores de infraestrutura que dependem da existência de adequado ambiente regulatório e de segurança jurídica. Como se sabe, nas contas nacionais, já por quatro trimestres consecutivos, o crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo se mostra negativo, tendência que deve ser mantida pelo menos por mais um trimestre.

Uma das características do governo da presidente Dilma Rousseff é a sua hiperatividade regulatória, por meio da adoção continuada - e nem sempre coerente - de medidas administrativas e tributárias que afetam a taxa de retorno esperada pelos investidores em determinados setores de atividade. Em muitos casos, tais ações incrementam o retorno das empresas em certos mercados, mas em detrimento de outros setores, cujo desempenho esperado é variável fundamental na determinação dos investimentos futuros. Essa política em "patchwork" acarreta distorções microeconômicas que, em algum momento, inevitavelmente terão que ser tratadas com novas intervenções oficiais, gerando círculo vicioso que eleva em espiral as incertezas dos agentes econômicos, com graves e persistentes prejuízos para o investimento.

A título de exemplo, tomemos em consideração as recentes medidas do governo no mercado de energia elétrica. A ideia de redução do custo da energia elétrica é, sem dúvida, positiva para o aumento da competitividade da economia brasileira. Ocorre que a renovação antecipada e condicionada das concessões com redução das tarifas de energia, se não desrespeita a letra dos contratos, contraria a expectativa de receitas futuras das concessionárias, o que está levando algumas delas a não aderir à proposta. Esse fato, por si só, vem afetando a percepção dos investidores quanto ao risco de novas medidas que prejudiquem as empresas do setor, principalmente se o governo não lograr voluntariamente a redução pretendida nas tarifas. O dano sobre as expectativas é tamanho que prejudica até a captação de renda fixa pelas companhias do setor, como noticiou este jornal em manchete de primeira página na edição da última segunda feira ("Nova regra afeta captação de debêntures de elétricas").

Política em "patchwork" acarreta distorções microeconômicas que terão que ser tratadas com novas intervenções

Quanto ao segmento das telecomunicações, o discurso agressivo e recheado de ameaças do governo com relação às empresas de telefonia celular igualmente derrubou as ações do setor e vem se constituindo em ameaça para os investimentos em 4G. O estranhável não foi a ação concreta da Anatel para assegurar o cumprimento da qualidade de atendimento pelas companhias, mas sim o uso agressivo da "regulação sob ameaça", caminho totalmente ineficiente e contraproducente de atuação por uma instituição reguladora, isso sem contar o prejuízo causado pela cacofonia das declarações desencontradas das autoridades envolvidas no assunto. A propósito, o mais escabroso foi a acusação pela imprensa a uma operadora de estar deliberadamente derrubando as ligações de seus clientes para aumentar seu faturamento. Se verdadeira tal prática - que não ficou comprovada - deveria ela ter merecido exemplar sanção por parte da Anatel, jamais acusações inconsequentes no que pareceu mais ter sido tão somente um "jogo para a plateia".

Além disso, a própria gestão macroeconômica adiciona maiores preocupações aos investidores. Os controles dos fluxos de capitais externos são, por exemplo, um típico de caso de política considerada "unfriendly" pelo mercado. Seu caráter discricionário e a permanente ameaça que tal política representa sobre os fluxos de caixa futuros dos investimentos acabam por elevar o risco país sob a ótica dos investidores, seja no mercado bursátil ou não. Neste caso também, o uso abusivo de ameaças verbais de novas restrições cobra seu preço, pois trazem insegurança aos investidores estrangeiros com relação à liquidez futura de suas inversões.

Em conclusão, o excesso de intervenção do governo tem contribuído para derrubar o investimento, num contexto já difícil por conta das deficiências de infraestrutura, elevados custos laborais e baixa produtividade. Por sua vez, as iniciativas para estimular os investimentos privados em infraestrutura correm o risco de não serem bem-sucedidas, já que os modelos de concessão mantêm sob o controle do Estado os aspectos mais importantes do negócio, sujeitando o investidor aos caprichos discricionários do poder estatal. Nessa situação, infelizmente torna-se cada vez mais difícil para o Brasil sair da armadilha do baixo crescimento nos próximos anos.

Intimidades à solta - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 14/11


RIO DE JANEIRO - David Petraeus, 60, general americano vergado de medalhas e ex-comandante das tropas dos EUA no Iraque e no Afeganistão, teve de renunciar ao cargo de diretor da CIA (Agência Central de Inteligência) porque o FBI (polícia federal) descobriu um caso extraconjugal entre ele e sua biógrafa, a escritora Paula Broadwell, 40. A história estourou porque o FBI recebeu denúncias de uma segunda mulher, agora identificada como Jill Kelley, 37, que estaria recebendo mensagens ameaçadoras de Paula.

Petraeus, Paula e Jill são todos casados, pais de filhos e amigos entre si e dos respectivos cônjuges. Viajavam juntos de férias e as patroas trocavam receitas de waffle. Em 2011, Paula foi para o Afeganistão e propôs biografar Petraeus. Ele topou e, sem muita vida social a cumprir, os dois tinham as longas noites de Cabul, à luz das estrelas e dos tiroteios, para as entrevistas. Mas parece que a biografia foi longe demais.

Diz-se que o marido de Paula farejou o "affair", mas, por ser fã do general, decidiu ficar quieto -foi o que deu a entender nos e-mails em código que mandou para o "New York Times", nos quais o nome de Petraeus só faltou sair por extenso. Só que, publicado o livro, Petraeus deu um gelo em Paula, bandeou-se para Jill, e Paula não se conformou, daí o barraco.

Paula e Jill são mulheres atraentes, interessantes. Quanto a Petraeus, está longe de lembrar um Paul Newman aos 30 anos, mas seu enorme poder devia fazê-lo parecer do balacobaco para elas. Infelizmente, a CIA, cuja matéria-prima é o segredo, não pode permitir que as piores intimidades sobre seu chefe fiquem à solta, voando pelo ciberespaço e se pondo ao alcance de qualquer "nerd" ou de inimigos dos EUA. Petraeus tinha mesmo de renunciar.

É como vivo dizendo: é perigoso biografar vivos. Eles não são confiáveis. E muito menos na cama.

TUDO SE TRANSFORMA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 14/11

Ronaldo Fraga criou instalação para a mostra 'Eu Faço Um Mundo Novo', dentro da Olimpíada do Conhecimento, no Anhembi; o estilista utilizou fitas LED, garrafas PET e placas de computador

TESE ALEMÃ
A defesa de José Dirceu está procurando o jurista alemão Claus Roxin, um dos autores da teoria do domínio do fato, usada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para condenar o petista no mensalão. Vai pedir a ele um parecer jurídico sobre o caso.

TESE 2
Em entrevista à Folha, no domingo, Roxin diz que indícios de que um réu poderia, por sua posição hierárquica, decidir sobre a realização de um crime não bastariam para condená-lo. Seria preciso provar que ele emitiu ordens.

TESE 3
José Luis Oliveira Lima, advogado de Dirceu, deve viajar à Alemanha para conversar com Roxin.

NO RIO
Dirceu estava no Rio de Janeiro quando o STF definiu suas penas. Estava hospedado na casa do produtor Luiz Carlos Barreto, o Barretão. Convidado para uma festa de aniversário, cancelou o compromisso.

LULA AMIGO
O ex-presidente Lula telefonou diversas vezes a Dirceu anteontem e ontem.

DUDA AMIGO
O publicitário Duda Mendonça, que foi absolvido no caso, também ligou para prestar solidariedade.

MINISTROS AMIGOS
Pelo menos dois ministros, entre os mais próximos da presidente Dilma Rousseff, também telefonaram.

PALOCCI MUY AMIGO
Já o ex-ministro Antonio Palocci, responsável pela nomeação do ministro Luiz Fux para o Supremo, um dos mais rigorosos no julgamento, tomou chá de sumiço.

Foi um dos poucos petistas célebres que não telefonaram para Dirceu depois de anunciada a pena.

ROTEIRO
Sondado pelo prefeito eleito Fernando Haddad para a pasta do Esporte em SP, o deputado federal Vicente Cândido (PT-SP) declinou. Disse que prefere se dedicar a organizar o PT no Estado -e até concorrer para presidir o partido.

MUITO OBRIGADA
Convidada por Dilma, a empresária Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, não cogita mais assumir a Secretaria da Micro e Pequena Empresa. "Fiquei orgulhosa com o convite, mas não falei mais sobre o assunto com a presidente", diz. "Posso ajudar o país independentemente do cargo."

CONVITE EM PÉ
Apesar das informações de que a secretaria pode ser ocupada por alguém do PSD de Gilberto Kassab, o Palácio do Planalto diz que o convite a Luiza Trajano continua valendo. A empresária só não será ministra, portanto, se não quiser.

MINANDO INTERESSADO
A seleção pública 2012 do Programa Petrobras Cultural registrou um aumento de 16% no número de projetos em relação a 2010. Foram 4.309 competidores contra 3.715. As inscrições para longa-metragem aumentaram 56%, de 417 para 653. A área mais procurada foi literatura, com 1.452, 30% do total. O resultado sai em 2013.

NA TERRA DO BORAT
A Mostra de Cinema Brasileiro que acontece há cinco anos na Rússia, terá pela primeira vez uma versão no Cazaquistão, em dezembro. Serão exibidos os longas "O Palhaço", "Heleno", "Meu País", "Capitães da Areia", "2 Coelhos" e "Estamos Juntos", entre outros.

CASTELO DE GAGA
O ex-jogador Raí deu atenção especial à filha Noáh, 7, no show de Lady Gaga na noite de domingo. Anfitrião de um dos camarotes do Morumbi, ele fazia tradução simultânea das falas da cantora para a caçula. No colo do pai, a garotinha não desgrudou o olho do castelo montado no palco.

VELOSO EM LAS VEGAS
Caetano Veloso receberá hoje o prêmio Personalidade do Ano no Latin Grammy.

Foram com o baiano para Las Vegas sua ex-mulher, Paula Lavigne, o produtor musical Mário Caldato Jr. e o sambista Pretinho da Serrinha, que vai tocar com Veloso na cerimônia.

SEM RSVP
O filme "Os Penetras", dirigido por Andrucha Waddington, teve estreia no shopping Frei Caneca anteontem. A atriz Eva Wilma foi ver a comédia, protagonizada por Eduardo Sterblitch, Marcelo Adnet e Mariana Ximenes.

ESCREVERIA TUDO OUTRA VEZ
Angela Maria e Cauby Peixoto se encontraram no lançamento da biografia de Dolores Duran, com quem ambos cantaram. O livro, escrito por Rodrigo Faour, foi apresentado na Livraria Cultura da av. Paulista, anteontem.

CURTO-CIRCUITO

A ONG Doutores da Alegria realiza de amanhã a domingo o 2º Encontro Nacional de Palhaços em Hospital, em São Paulo.

A Apae de SP está vendendo cartões de Natal por R$ 1,10 cada um. As encomendas podem ser feitas pelo e-mail cartaodenatal@apaesp.org.br.

O restaurante Girarrosto, do grupo Egeu, foi eleito o melhor italiano da América do Sul, segundo o júri do Prêmio 50 Best.

A cantora Mafalda Minnozzi apresenta o show "Spritz" no Bar Brahma no dia 20, às 22h. Classificação etária: 18 anos.

O euro e os limites da austeridade - ELIANA CARDOSO


O ESTADÃO - 14/11


As dificuldades da política econômica derivam tanto de interesses conflituosos e disputas ideológicas quanto das incertezas que cercam estimativas necessárias ao cálculo do impacto de diferentes medidas, como, por exemplo, o de uma redução do Imposto de Renda sobre o produto interno bruto (PIB). Você acredita que a redução do imposto aumenta a procura agregada se não for um neoclássico apegado à equivalência ricardiana, segundo a qual o impacto da redução do imposto é nulo, pois consumidores-contribuintes saberiam antecipar o aumento da dívida e dos impostos futuros.

Deixando esse radicalismo de lado, suponha que o governo reduza os impostos em 1% do PIB. O impacto dessa redução será maior ou menor do que 1%? Depende do multiplicador keynesiano, que permite calcular o efeito final sobre o PIB do aumento inicial de gastos. Tradicionalmente, as estimativas do multiplicador nos EUA variavam em torno de 0,5. Se esse número estivesse correto, para cada aumento de gastos financiado por aumento da dívida e equivalente a 1% do PIB, o PIB aumentaria apenas em 0,5%, inchando a relação dívida/PIB.

Mas... Novidade das novidades! Um trabalho do Fundo Monetário Internacional (FMI) recalcula o valor do multiplicador, que seria agora igual a 1, podendo chegar a 1,7 (http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2012/02/pdf/text.pdf). Faz toda a diferença. Se o multiplicador na Grécia for qualquer coisa parecida com 1,7, as medidas de austeridade não podem pôr fim à crise. Ao contrário, apenas a tornarão mais grave.

Se não podemos ter certeza a respeito dos números, também não nos podemos surpreender com a divisão da opinião europeia entre os que acham que a austeridade vai matar o euro e os que afirmam que nela se encontra a salvação. Helga Hoffmann, na revista Política Externa (setembro/2012), resenha o livro de Thilo Sarrazin (Europa Braucht den Euro nicht) cujo título afirma que a Europa não precisa do euro. Sarrazin, apesar da fama de panfletário, desde que foi obrigado a se demitir do BundesBank atrai seguidores proclamando que é perigoso e prejudicial persistir no erro só porque um dia ali nos metemos. O Partido Social Democrata alemão, ao qual Sarrazin é filiado, tratou de se distanciar de suas posições, mas nem por isso ele está sozinho. Um manifesto de 172 economistas também rejeita a socialização das perdas e o resgate de bancos.

Um contramanifesto não se fez esperar, enquanto economistas estrangeiros também entraram na discussão. Barry Eichengreen, muito conhecido das páginas do Estadão, argumentou que para o euro sobreviver a região precisa de fiscalização bancária unificada e fundos comuns para a capitalização dos bancos. Só a Alemanha tem os recursos necessários. Se ela se decidir contra a união bancária, estará ameaçando o euro de morte, segundo Martin Wolf e George Soros. A Alemanha pensa que está a salvá-lo.

Uma das razões para a divergência de percepção e julgamento reside no fato de que a Alemanha ainda vai bem e os outros países da zona do euro vão mal. Desde o início da crise do euro, em 2010, a economia alemã cresceu mais de 7%, enquanto a maior parte do restante da Europa estagnou ou entrou em recessão. A Grécia contraiu-se em 17% em apenas três anos. Essas enormes discrepâncias se refletem no sentimento das pessoas. Segundo pesquisa da Pew Global Attitude, apenas 6% dos franceses e italianos se sentem bem com a condição econômica de seu país. Na Grécia esse índice fica perto de zero, enquanto 73% da população alemã está otimista. Tamanho bom humor estorva a urgência necessária para avançar nas medidas de ajuda aos vizinhos.

Fora da Alemanha, os analistas lembram que os desequilíbrios do comércio interzona do euro desempenharam papel importante na crise. Na década anterior os alemães pouparam e mantiveram salários competitivos. O excesso de poupança da Alemanha ajudou a alimentar o consumo insustentável na Grécia e a inflar bolhas imobiliários na Irlanda e na Espanha. As empresas alemãs venderam carros e máquinas/ferramentas para as economias na periferia da Europa e deixaram os países do sul com déficits externos insustentáveis. Agora as bolhas estouraram e o peso do ajuste se colocou sobre os países do sul. Mas o desalinhamento no comércio interzona do euro vem sendo corrigido. No ano passado apenas 7% do superávit externo da Alemanha veio do comércio com outros países da zona do euro. E o déficit comercial da Espanha com o restante da região vem se reduzindo.

Entretanto, essa melhoria não tem sido suficiente para recuperar a economia da Espanha, da Grécia e da Itália, que precisam de um euro mais fraco. A oferta do Banco Central Europeu de comprar dívida italiana e espanhola, que deveria ter enfraquecido o euro, parece ter contribuído para aumentar seu valor...

A saída estaria na reestruturação da dívida dos países europeus. Por enquanto, isso não vai ocorrer. Quando olhamos a situação da Grécia, entretanto, ela nos parece familiar - não apenas porque já se prolonga por dois anos, mas porque nos lembramos da crise da dívida na década de 1980 no Brasil e no restante da América Latina; os programas de austeridade e empréstimos de curto prazo do FMI de nada nos serviram e a recuperação só chegou com o perdão parcial das dívidas.

Atrás de portas fechadas, muitos europeus reconhecem a necessidade desse perdão, em particular com organismos oficiais. Em público a negam. Mesmo demonstrando disposição para conceder aos gregos mais tempo para programarem sua austeridade, Angela Merkel não vai discutir perdão de empréstimos oficiais e a Alemanha julgou os eurobônus inconstitucionais. Mas, apesar dos pesares, o Parlamento alemão aprovou o acordo de 29 de junho e as pesquisas revelam apoio à decisão. Nem tudo está perdido. Este foi um ano bissexto. Talvez 2013 nos traga melhores ventos.

Portos aguardam definições para atrair investidores - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 14/11

A superação de obstáculos que dificultam a expansão dos investimentos no setor depende de planejamento e conjugação de esforços públicos e privados



Uma invenção americana do fim dos anos 30, aparentemente simples, o contêiner (a expressão “cofre de carga” não se tornou usual, e a palavra inglesa acabou aportuguesa), contribuiu para revolucionar o transporte marítimo. Até mesmo cargas típicas de graneleiros chegam hoje a ser transportadas dentro desses grandes cofres. O transporte em contêineres agilizou embarques e desembarques nos portos, em um processo de crescente automação. Técnicas e sistemas de computadores foram desenvolvidos para empilhamento de até sete cofres nos pátios dos terminais, com rápida identificação e retirada, para posicioná-los no porão ou no convés do navio, dependendo das próximas escalas das embarcações.

Esse avanço possibilitou o aumento do tamanho dos navios, que hoje têm capacidade de transportar milhares de contêineres em uma única viagem. As embarcações hoje estão limitadas, na verdade, à largura máxima de alguns canais (como o de Suez ou o do Panamá). Um único navio substitui milhares de caminhões ou dezenas de trens. Com isso, houve um salto de produtividade que, de alguma maneira, se refletiu na expansão do comércio doméstico e internacional, com reflexos positivos sobre todas as economias. Muitos bens se tornaram acessíveis a consumidores que nem sonhavam em poder adquiri-los.

Essa expansão, por sua vez, exigiu ampliação dos terminais portuários e das áreas de armazenamento. Os canais de acessos aos portos precisaram ser aprofundados e alargados para passagem simultânea de grandes navios em sentidos inversos. Os acessos terrestres aos terminais se tornaram um enorme desafio, pois muitas vezes cruzam zonas urbanas adensadas, e é preciso evitar que o tráfego crescente de caminhões e comboios ferroviários tumultuem o já congestionado trânsito das cidades.

A superação desses obstáculos depende de uma conjugação de investimentos públicos e privados, dentro de um planejamento que integre os modais de transportes no presente e não deixe de olhar também para o futuro. Investimentos em infraestrutura geralmente precisam andar na frente da demanda de serviços, mas sem imobilizar o capital investido a ponto de comprometer o retorno em proporções adequadas.

É esse o contexto no qual se aguarda o prometido programa de estímulos aos investimentos no sistema portuário brasileiro. A fase em que era possível avançar rapidamente, por conta dos incríveis atrasos do setor no Brasil, já foi superada. Novos avanços dependerão de aprimoramentos mais sofisticados na própria regulação. O papel do setor público, especialmente das companhias docas, terá de ficar mais claro, com as funções técnicas prevalecendo sobre as interferências políticas que tanto prejudicaram essa atividade. A definição desses marcos regulatórios será fundamental para atrair os necessários investidores privados que poderão impulsionar o setor.

Ueba! Zé Dirceu é dez! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 14/11


E o Joaquim Barbosa parece a minha sogra: ranzinza e não admite opinião contrária! Rarará!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Direto do Big Supremo Brother! O Zé Dirceu pegou dez anos, dez meses e 10 dias. Tirou dez em tudo.

O Zé Dirceu é DEZ! Ele vai participar daquela campanha do Ministério Público: "Conte até 10". Para evitar crimes por impulso. Junto com Anderson Silva e Sarah Menezes!

E a manchete do Sensacionalista: "Lula lamenta pena de 10 anos para Dirceu: não consigo fazer o número com as mãos". Rarará!

E a manchete do Twitteiro: "STF condena José Dirceu a se tornar torcedor do Palmeiras". Isso não! Agora fiquei com dó!

E um amigo disse que, para não ter que pagar a multa de R$ 676 mil, o Dirceu aceitará visita íntima de Geisy Arruda! Isso não! Rarará!

E o Genoino? O Genoino pegou semiaberto, mas foi condenado a assistir aos três últimos jogos do Palmeiras! E o Delúvio? O Delúbio continua com aquela cara do Sadam Hussein quando saiu do buraco!

E o vôinho dos tiozinhos do Supremo: Ayres Britto fazendo as contas com lápis. Três anos mais dois meses e vai um! Ele ainda é da turma do "e vai um". Ah, não! "E vai um", não! Se eu estivesse sendo julgado eu não aceitaria a pena. Pena calculada a lápis nem pensar!

E esta: "Joaquim Barbosa convidou Dilma para sua posse no Supremo". E a Dilma: "MAAAAANTEGA! VAI VOCÊ!" Rarará!

E vou repetir pela última vez que o culpado do mensalão é o Gabeira, que trocou o embaixador americano pelo Zé Dirceu! Com aquele sotaque de Mazzaropi com Sabrina Sato!

E o Joaquim Barbosa parece a minha sogra: ranzinza e não admite opinião contrária! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

E se algum tiozinho abanar aquela capa preta, o Brasil fica com rinite, sinusite e bronquite! Bombinha de asma! Aquele Supremo deve tá com um cheiro de naftalina com couro velho!

E a ministra Cármen Lúcia é o clone do Mr. Bean! E a Rosa Weber parece a dona Clara dos Ovos!

E a Bagurança Pública em São Paulo? Mais um ônibus incendiado! Tá tendo São João fora de época em São Paulo? Rarará! Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Presepada histórica - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 14/11

A possibilidade de um arquiteto, um médico ou um biólogo ministrarem aulas de história é decerto estranha à primeira vista. A profissão de historiador abrange técnicas, conhecimentos e modos de ver um tanto específicos.

Mesmo assim, há mais interesse corporativo do que preocupação científica na proposta de regulamentar a profissão, aprovada pelo Senado na última semana, e que segue para tramitação na Câmara dos Deputados.

O projeto, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), torna exclusivo para quem tem diploma de graduação, mestrado ou doutorado em história o ensino da disciplina. Até mesmo no ensino superior tal prerrogativa passaria a valer, caso aprovada a nova lei.

"Não vou querer que um arquiteto forme um médico", argumenta o senador Paim. "Por que ia ser diferente no caso de historiador?"

A resposta mais simples seria que, justamente, história não é medicina. Apesar de exigir técnicas próprias, o estudo da história é multidisciplinar por excelência.

Trata, afinal, do mais amplo leque de assuntos -das clássicas questões da história militar, que podem beneficiar-se da experiência de correspondentes de guerra e de oficiais especializados em estratégia, às tendências contemporâneas em que os conhecimentos de ecologia e microbiologia têm iluminado fatos decisivos no percurso (e na tragédia) das civilizações.

Tanto é assim que a chamada história geral se desdobra em dezenas, talvez centenas de especialidades: história da medicina, história da arquitetura, história religiosa, história econômica -para citar apenas algumas.

Numa faculdade, nada seria mais indicado do que a participação de especialistas de outras áreas -desde que, como é óbvio, imbuídos da perspectiva diacrônica exigida pela disciplina.

Tal perspectiva não precisa ser atestada pelo título universitário específico, como quer o projeto. Tanto na universidade quanto no ensino médio e no fundamental, o mais elementar bom senso recomenda que só ascenda à posição de professor quem possua suficientes conhecimentos sobre o assunto que irá ensinar.

Uma lei restritiva e obscurantista, destinada apenas a garantir reserva de mercado para os formados em história, não tem relação alguma com tal exigência.

Reformas de afogadilho - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 14/11


Além de discutir as regras sobre partilha de tributos entre a União, Estados e municípios e os critérios de distribuição dos lucros do pré-sal, o Congresso promove a reforma simultânea de seis códigos fundamentais para os cidadãos e empresas. Trata-se do Código Penal, do Código de Processo Penal, do Código de Processo Civil, do Código de Defesa do Consumidor, do Código Comercial e do Código Eleitoral. Há cerca de um mês, o Legislativo aprovou o Código Florestal.

Não há registro de tantas reformas legislativas de uma só vez na história recente do País. Nem mesmo no período imediatamente posterior à promulgação da Constituição de 88 o Poder Legislativo votou projetos com tal profundidade e em ritmo tão acelerado como agora. Pelo cronograma das Mesas da Câmara e do Senado, a maioria dessas reformas deverá ser concluída em 2014. No passado, a reforma de um único código costumava demorar cerca de duas décadas. No caso do Código Civil, que trata do matrimônio, das sucessões, da propriedade privada e das obrigações contratuais, por exemplo, a demora foi de 34 anos. A comissão de juristas encarregada de escrevê-lo foi nomeada em 1968, em plena ditadura militar, e sua entrada em vigor ocorreu em 2002, quando o Brasil já estava redemocratizado.

"Precisamos adaptar a legislação ao novo pacto social", diz o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Ele é um dos parlamentares que defenderam a tramitação simultânea de várias reformas legislativas. Mas a iniciativa não foi bem recebida nos meios políticos e jurídicos. "É muito arriscado fazer todas essas reformas ao mesmo tempo, sem consulta ampla ou com pouco debate. É preciso cuidado. A maioria das ideias que estão por aí não convence. Algumas são quase juvenis. Estão empurrando uma nova produção legislativa, de caráter infraconstitucional, que pode regular excessivamente a liberdade privada", afirmou Célio Borja, ex-presidente da Câmara, ex-ministro da Justiça, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e relator da última revisão do Código Penal, em entrevista ao jornal O Globo. "As comissões de especialistas, com alguns juristas convidados, fazem o trabalho todo. Os projetos chegam aqui prontos e seguem seu caminho. Isso é perigoso. As leis precisam ser mudadas, mas essa forma e esse jeito de fazer a reforma são complicados, porque vão afetar interesses de gerações inteiras", afirmou Pedro Simon, que está no Congresso há três décadas e meia, ao mesmo jornal. "O que estamos vendo é preocupante. Temos a imposição do pensamento de uma maioria parlamentar, que é passageira, sobre códigos e leis que vão durar no mínimo 40 anos", observou o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que integrou a Assembleia Constituinte.

As reformas na legislação infraconstitucional se tornaram necessárias no mundo inteiro na última década do século 20, depois da crise do petróleo dos anos 70, da queda do Muro de Berlim, da implosão do Leste Europeu e das reformas do Estado promovidas originariamente por Margaret Thatcher, na Inglaterra, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos. Mas, enquanto a maioria dos países estabeleceu prioridades e fixou um cronograma de votações, o Brasil se atrasou na modernização de seu arcabouço jurídico, por causa da transição para o regime democrático, da abertura econômica e da estabilização da moeda. Dos 17 códigos que fazem parte do ordenamento jurídico nacional, a maioria foi aprovada entre as décadas de 40 e 50 do século passado. O mais defasado é o Código Comercial, que data de 1850.

À medida que os mercados mundiais se diversificaram e nossa legislação infraconstitucional não mudou, a incerteza jurídica gerada por códigos incompatíveis com uma economia globalizada passou a afetar empresas, bancos, fundos de investimento, fundos de pensão e a segurança pública. A modernização dos códigos é necessária para adequar o arcabouço jurídico a uma economia mais complexa e a uma sociedade mais dinâmica. Mas, se tivesse tomado essa iniciativa no momento certo, o País hoje não estaria mudando sua legislação de afogadilho, correndo o risco de regular de forma excessiva a liberdade privada e impor modismos jurídicos às novas gerações, como advertem os críticos desse processo.