sábado, julho 25, 2009

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA
Roberto Pompeu de Toledo

Mártires da glória

"Havia algo de melancólico na figura dos astronautas
a participar, com o presidente Barack Obama, da cerimônia
comemorativa dos quarenta anos do desembarque na Lua"

O tema do romance O Deserto dos Tártaros, do italiano Dino Buzzati, publicado em 1940, é a esperança. Giovanni Drogo, o personagem central da história, é um militar que ganha seu primeiro posto no remoto e isolado forte Bastiani, situado na fronteira norte de um país indefinido, e ali permanecerá até o fim da carreira. As tarefas são repetitivas e inúteis. Nada acontecia por ali fazia anos, e continua não acontecendo. Drogo tem chances de mudar de posto em busca de uma vida com mais ação e mais propósito, mas deixa escapá-las todas. Move-o a esperança de que um dia o inimigo atacará por aquele flanco e enfim se revelará que a vigília não foi vã. Melhor ainda, nesse dia ele poderá se sagrar herói, aspiração máxima de quem escolhe a carreira militar.

Drogo envelhece esperando o que nunca acontece. Passaram-se os anos, mas ele "não pensa que o futuro se reduziu terrivelmente, não é mais como antes, quando o tempo vindouro podia parecer-lhe um período imenso, uma riqueza inexaurível que ele não corria nenhum risco em esbanjar". Ele persistia "na ilusão de que o importante ainda está para começar". Este é o grande momento do livro. Nele o autor ultrapassa os limites de sua história e de seu personagem para apontar lapidarmente um dos mais fortes motivos, se não o mais forte, pelos quais, em qualquer circunstância e qualquer tempo, continua-se a viver e a manter a flama: a persistente esperança de que o melhor ainda está por vir.

A trajetória do trio de astronautas da Apollo 11 não poderia, à primeira vista, oferecer contraste maior com a de Giovanni Drogo. Na vida de Drogo não aconteceu nada. Na deles aconteceu de serem os primeiros a empreender uma viagem de desembarque na Lua. Drogo esperou em vão pela glória. Os astronautas conheceram a glória de uma empreitada que por milênios pareceu impossível. No entanto, havia na semana passada algo de melancólico na figura daqueles três senhores, a participar, com o presidente Barack Obama, da cerimônia comemorativa dos quarenta anos da proeza. A cerimônia soava a desfile de veteranos de guerra. Desfiles de veteranos de guerra são patéticos. Mostram senhores não só distantes do antigo garbo e do momento que os alçou acima do comum dos homens e da existência comum, como os põem na desconfortável posição de reclamar o reconhecimento a uma geração que guarda memória apenas vaga de seus feitos.

Do trio de astronautas, os dois que pisaram na Lua (o outro permaneceu em órbita) experimentaram momentos dolorosos, nestes quarenta anos. Edwin Aldrin mergulhou no alcoolismo e na depressão. Neil Armstrong impôs-se um alerta neurótico contra a exploração não autorizada de sua fama. Deixou de dar autógrafos quando descobriu que eram comercializados. Moveu processo contra uma empresa que usou sua (tola) frase do "pequeno passo para um homem, grande salto para a humanidade". Moveu outro, campeão de exotismo, contra o barbeiro que ousou vender um chumaço de seus cabelos. Trancou-se, como ermitão, na pequena cidade em que mora.

Os heróis da Lua nada têm a ver com Giovanni Drogo, mas lhes ocorreu algo tão incômodo quanto. Conheceram cedo, antes dos 40 anos, o ponto mais alto de sua vida. Como escreveu Aldrin: "Que pode fazer um homem, depois de ter andado na Lua?". A eles foi roubado o princípio basilar da esperança, aquele segundo o qual, na fórmula de Dino Buzzati, "o importante ainda está por começar". É o que ocorre igualmente com outros profissionais de glória precoce, como os jogadores de futebol e as crianças-prodígio que ao crescerem não confirmam seus talentos. Os astronautas da Apollo 11 nos parecem, e talvez pareçam também a si mesmos, personagens que, cedo, foram condenados a virar sombras de si mesmos.

***

Quanto a Giovanni Drogo, para quem quer saber o fim da história – a guerra acaba estourando, sim, na fronteira norte, mas bem no momento em que, velho e doente, ele é retirado do forte para dar lugar a alguém apto ao combate. Morre pouco depois, no solitário quarto de uma estalagem, e, no último momento, embora ninguém o contemple, sorri. Segundo escreveu o crítico Antonio Candido, num bonito ensaio, Drogo sorri porque enfim compreende que "a Morte era a grande aventura esperada" e que enfrentá-la "com firmeza e tranquilidade" é "o momento supremo da vida de todo homem". Pode ser. Mas pode ser também, mais prosaicamente, um sorriso de rendição. A morte, no cumprimento de seu papel, acabara de revelar-lhe a vacuidade do sonho, da glória e da esperança.

INFORME JB

Um esboço sobre o marco do pré-sal

Vasconcelo Quadros

JORNAL DO BRASIL - 25/07/09

O governo está tomando todas as providências jurídicas para dar ao pré-sal um apelo nacionalista mais forte do que a campanha O Petróleo é Nosso, da era Vargas. E encarregou o ministro José Antônio Dias Toffoli, da Advocacia Geral da União (AGU), para produzir o texto que definirá o marco regulatório para a exploração dos 160 mil quilômetros quadrados que abrangem os 800 quilômetros de extensão na costa marítima entre Santa Catarina e Espírito Santo. Embora as regras não estejam ainda bem demarcadas, a Petrobras, com a petro-sal, deverá ter o monopólio deste que será o grande empreendimento do século, cujas cifras em jogo – US$ 300 trilhões – são suficientes para mudar o paradigma na economia.

Investimentos Decisão política

A ministra Dilma Rousseff e Toffoli discutiram ontem em São Paulo o esboço da retaguarda jurídica para calçar a Petrobras no controle do projeto. Só num dos lotes, o de Tupi, que espirrou em março os primeiros jatos de petróleo, a estatal investirá até 2013 uma montanha estimada em US$ 28,9 bilhões. Segundo as estimativas, os investimentos ficarão entre 3% e 4% do resultado do empreendimento.

A decisão política é pelo controle total da estatal sobre empreendimento, com ônus e bônus do projeto. Da prospecção à comercialização, a Petrobras dispõe de todas as ferramentas para explorar o pré-sal. Logo, a menos que o governo pretenda ser gentil com a iniciativa privada, não precisa de parceiros. O prsidente Lula (foto) diz que o pré-sal será um patrimônio do povo.

Radioterapia

Dilma terminou ontem de manhã a segunda das 20 sessões de radioterapia para tratar o linfoma. Ela queria passar o fim de semana em São Paulo para concluir a primeira bateria de cinco sessões, mas foi desaconselhada pelos médicos.

OAB e a crise

A crise no Senado entrou na agenda da OAB. Depois do recesso, o Conselho Federal da entidade vai propor campanha pela moralização do Congresso e pelo fim dos velhos vícios em que política, negócios e coisa pública são jogados no mesmo caldeirão. O presidente da OAB, Cezar Britto, acha que o Senado foi afetado pelo efeito Sarney e quer discutir a crise com ABI e CNBB.

Anistiados

Um novo entendimento do TCU sobre os processos de anistia e reparação econômica aos perseguidos pela ditadura militar favorece o Ministério da Justiça. Por ele, a Corte não tem competência legal para tomar decisões sobre o mérito das anistias concedidas pelo governo federal. O texto do acórdão diz que se trata de matéria de "cunho eminentemente político", portanto, não sujeita a revisão, ainda que dele resulte despesa pública.

Cifras

Não são pequenos os valores relacionados com os processos aprovados pela Comissão de Anistia: algo em torno de R$ 2,4 bilhões. Como a intenção do MJ é zerar todos os processos, essa cifra deve ser arredondada para algo em torno de R$ 4,5 bilhões até o fim do próximo ano.

Debate

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) promove, na próxima quarta-feira, no Rio, debate sobre a polêmica atual envolvendo as relações entre a Advocacia Geral da União e as agências reguladoras. Participarão do seminário o presidente do Cade, Artur Badin, e o constitucionalista e professor da Uerj Gustavo Binenbojm.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA
Nada sobre meu pai
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

A cada ano, nascem 700 mil crianças no Brasil de “pai desconhecido”. Filhos de homens que não quiseram reconhecê-los como seus. No Dia dos Pais, quase 30% dos brasileiros não saberão a quem dar um presente ou homenagear. Nunca souberam. A maioria dos “filhos só da mãe” nem sequer sabe o nome do pai, nunca viu uma foto, e nem tem certeza se está vivo. Muitos buscam em vão o reconhecimento na Justiça.

Histórias de rejeição e ausência paterna estão sendo filmadas no documentário Nada sobre meu pai, da cineasta Susanna Lira. O título é referência ao filme de Almodóvar Tudo sobre minha mãe. Susanna, de 34 anos, é filha de pai desconhecido. Mas não foi por isso que embarcou nesse filme.

“Fui criada por uma mãe forte, guerreira, que me contou tudo desde que eu tinha 2 anos”, me disse Susanna por telefone, de Salvador, onde filma no momento. “Meu pai, equatoriano, tinha 19 anos quando minha mãe engravidou, era envolvido com política. Deu dinheiro para ela abortar. Ela não quis. Isso nunca foi uma grande questão para mim. Mas minha filha, ao desenhar a árvore genealógica na escola, insistiu em saber quem era o avô materno, os bisavós. E aí eu decidi fazer o filme. Percebi que essa lacuna pode aparecer até em outra geração. Pelos depoimentos que registrei, compreendi como o desconhecimento do pai causa feridas profundas. Encontrei crianças e adultos em frangalhos com essa ausência. Eles buscam o pai a vida inteira.”

No Rio de Janeiro, um preso que Susanna entrevistou compara a vergonha da prisão à vergonha de não saber quem é seu pai. Em Porto Alegre, um menino de 13 anos vive com a mãe, que se desdobra para suprir tudo sozinha. Mas ele sente falta: “Queria meu pai pra jogar bola comigo”. Em São Paulo, um montador de cinema sabe que o pai mora na esquina de sua rua – mas nunca conseguiu que o reconhecesse.

Nas classes sociais mais altas, a mãe se organiza, o filho faz terapia. Na periferia, a ausência paterna é uma luta. A mãe solteira e pobre trabalha muito fora. O menino fica na rua, vulnerável, à mercê de más influências. Na pesquisa, Susanna descobriu que 80% dos jovens infratores não têm o nome do pai na certidão.

Um filme mostra os dramas da rejeição: 80% dos jovens
infratores não têm o nome do pai na certidão

As mães pobres costumam ser mais orgulhosas, mesmo quando passam fome. Sobre o homem que se ausentou, dizem: não quero ele para nada. Elas podem não precisar, mas os filhos precisam. Talvez devessem revelar o nome para o Ministério Público.

A busca do reconhecimento da paternidade é árdua. A consultora de Susanna no documentário, a filósofa e socióloga Ana Liese, acaba de escrever o livro Em nome da mãe – o não reconhecimento paterno no Brasil, com estimativas e dados impressionantes sobre esse drama nacional. Ana conversou comigo por telefone, de Brasília. “Se o pai se nega a dar o nome na hora do registro, só um em cada dez reconhecerá aquele filho espontaneamente em toda a vida.” Quando o Ministério Público pressiona, apenas 30% acabam reconhecendo. O prefácio do livro de Ana leva o título “Um país de filhos da mãe”.

Por uma questão cultural, o Estado brasileiro também sabe pouco sobre o pai. O certificado preenchido na maternidade é o primeiro documento dos 3 milhões de brasileiros que nascem por ano. Segundo Ana, há uns 15 campos com dados sobre a mãe. E nenhum sobre o pai. “Quase não temos dados oficiais sobre o pai no Brasil. Quem ele é, em que faixa etária se torna pai. Sobre as mães, sabemos quase tudo”, diz a socióloga.

O documentário de Susanna não será um filme de “protesto contra os pais desertores”. Ela almeja revelar “histórias de amor que querem e podem ser vividas”. Susanna quer fazer um convite amoroso para o homem viver a paternidade plenamente, mesmo casado ou separado. Porque só a mãe não basta.

Como diz a socióloga Ana Liese: “Esses homens nem suspeitam que são o maior objeto do desejo de seu filho ou sua filha”. Não é só o dinheiro ou o sobrenome. O que falta a essas crianças, jovens e adultos sem pai, é algo chamado reconhecimento. Não o legal, mas o amoroso. É o acolhimento.

No segundo domingo de agosto, se seu pai for conhecido, vivo e presente em sua vida, dê um beijo nele. E diga: valeu, pai.

IGOR GIELOW

O tamanho do crime

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/07/09

BRASÍLIA - Começa a parecer irresponsabilidade o tudo ou nada do presidente Lula para salvar José Sarney da crise que afogou o Senado. Mas o dano maior da tática é menos comezinho do que parece à primeira vista.
Existe lógica política, naturalmente, na defesa feita por Lula. Manter o PMDB na chefia da Casa com um aliado confiável é vital para os planos de um feliz 2010 para a candidatura governista hoje personificada em Dilma Rousseff.
Por esse projeto, para Lula vale tudo. De incluir a volta de Cristo no PAC a empurrar uma candidatura alienígena como a de Ciro Gomes goela abaixo do PT paulista.
Mas a questão é, como o presidente jocosamente colocou, o tamanho do crime. Qual é o limite da insensibilidade do nariz lulista às emanações do esquema que está sustentado?
É aqui que passamos do planejamento visando a sucessão para os efeitos de longo prazo na psique do país. Eles dificilmente são aferíveis agora, quando tudo lembra apenas um jogo de xadrez disputado com a sutileza de uma partida de rúgbi.
A essa altura do campeonato, dá uma preguiça danada criticar as sandices verbais do presidente, a vontade é qualificá-las como chistes e só. Mas ele se superou recentemente. Na sua defesa estridente de Sarney, logrou criar uma variante por assim dizer ética do "estupra, mas não mata" de Paulo Maluf.
Essa loquacidade toda é amparada na virtual inimputabilidade que a enorme aprovação popular lhe confere. Do alto dos índices de simpatia ao governo, inegáveis e com seus méritos, Lula comanda um triste espetáculo de diminuição do papel da Justiça, de desprezo ao Legislativo e de elegia a uma brasileiríssima malandrice.
É essa liquefação moral e institucional que cobrará um preço mais à frente. Nefasto é o adjetivo mais leve que me vem à cabeça para qualificar esse efeito.

TOMANDO NA BUNDA


PANORAMA

REVISTA VEJA

Panorama

Holofote


Felipe Patury


Um papinho com Obama

Antonio Cruz/ABR


Na terça-feira passada, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi recebida na Casa Branca pelo assessor de segurança de Barack Obama, James Jones. No meio da reunião, o presidente americano apareceu para dizer oi. Sentou-se no braço de uma cadeira e contou à ministra que Lula, "o cara", havia falado muito bem a respeito dela. Toda orgulhosa, Dilma voltou ao Brasil com uma lista de projetos para o futuro próximo. Pretende contratar um personal trainer para melhorar o condicionamento físico e dar início a um programa de musculação – o objetivo principal é aumentar o fôlego para a campanha presidencial de 2010. Quem substituirá a ministra no Planalto quando chegar a hora? Miriam Belchior, secretária executiva do PAC, entrou na fila dos candidatos à Casa Civil.

Ato meio secreto

Jarbas Oliveira/ Folha Imagem

Há três meses, a primeira-dama do Ceará, Maria Célia Moura, passou uma semana em Portugal em companhia de uma funcionária da Secretaria de Desenvolvimento Social. A justificativa: divulgar as rendas de filó e outros primores do artesanato cearense. A viagem da funcionária custou 6 372 reais. Como Maria Célia foi de primeira classe, seu assento saiu mais caro: 11 454 reais. O que mais intriga nesse caso é que o Diário Oficial do Ceará só publicou a despesa 100 dias depois que elas embarcaram. O governador, Cid Gomes, já figurou em episódios semelhantes. No ano passado, foi questionado por usar dinheiro público para pagar um tour europeu da mulher e da sogra e uma viagem ao Caribe dos filhos de seu irmão, Ciro Gomes.

Nordestinos com alma paulista

Elza Fiuza/ABR


São Paulo atrai uma nova leva de migrantes – políticos. O cariri Ciro Gomes quer governar o estado. Baiano, o ministro do Esporte, Orlando Silva, disputará uma vaga de deputado pelo PCdoB paulista. O pernambucano Roberto Freire, que preside o PPS, vai pelo mesmo caminho. Alugou um apartamento na capital e toma aulas sobre o estado geral do agronegócio, saneamento e transporte paulistas. O padrinho de sua mudança é o governador José Serra, cuja candidatura presidencial conta com o apoio do PPS.

A liberdade em risco

Rogerio Pallatta


Tramitam no Congresso 224 projetos que impõem restrições à propaganda nos meios de comunicação. Neles, há de tudo. Um, de autoria do deputado Virgílio Guimarães (PT-MG), disciplina até anúncios de serviços funerários. O levantamento foi feito pelo presidente da Associação Brasileira de Agências de Publicidade, Luiz Lara, que alerta sobre o risco embutido nessas iniciativas: a redução da entrada de receita publicitária proveniente de empresas privadas e o consequente aumento da dependência de jornais, revistas, TV e rádio de anúncios oficiais.

O nascimento de um gigante

Gustavo Loureção/F. Imagem


O paulista Luiz Roberto Pinto passou a responder pelos negócios brasileiros do espanhol Enrique Bañuelos, que monta aqui um conglomerado na área imobiliária. Nos últimos oito meses, Bañuelos comprou três incorporadoras paulistas: Agra, Abyara e Klabin Segall. A tarefa de Pinto é fundir as três operações e conduzir o conglomerado à liderança do mercado brasileiro em dois anos. Quer chegar lá comprando mais empresas. Caso consiga cumprir o projeto, Pinto, que era dono da Agra, deverá preparar também a abertura de capital do novo grupo.

Roseana pode desistir da reeleição

Cristina Gallo/BgPRESS


A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, teme que os sucessivos escândalos envolvendo sua família tenham inviabilizado seu projeto de reeleger-se em 2010. Uma pesquisa para aferir sua popularidade, encomendada por ela, está em andamento, mas outro levantamento, feito pela oposição, revela a extensão do desgaste. Segundo o instituto Exata, Roseana tem, hoje, apenas 10% de intenção de votos em Imperatriz, o segundo maior município do estado. Seu principal adversário, o ex-governador Jackson Lago, do PDT, tem 79%. Em público, os aliados de Roseana lembram que Imperatriz é uma cidade dominada pela oposição. Na intimidade, afirmam que ela deveria ceder a vaga de candidata ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Ou seja, mudar para que nada mude.

COISAS DA POLÍTICA

Autocrítica involuntária de Lula

Villas-Bôas Corrêa

JORNAL DO BRASIL - 25/07/09

A agenda sobrecarregada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o recorde absoluto de viagens internacionais aos cafundós do mundo e mais os giros domésticos da esperta, mas de ética discutível, antecipação da campanha eleitoral para consolidar a candidatura da ministra Dilma Rousseff com mais alguns pontos nos índices de popularidade e a rotina das audiências, muitas inúteis e sempre em alta na temporada da caça ao voto para garantir mais quatro anos em um dos melhores empregos do mundo, deve estar preocupando, com os sinais de estafa, a família, os amigos e a turma do cordão que cada vez aumenta mais.

Nada de grave em um saudável sessentão que está fazendo o que gosta, com autoconfiança sobrando nos autoelogios da meia dúzia de longos improvisos diários e a cega certeza de que tudo está dando certo como comprovam os seus índices de popularidade acima dos 80%.

Alguma coisa anda arranhando o seu otimismo e se denuncia nos discursos, nas conversas com os jornalistas e nos recados do fanático comunicador. Exemplos, às dúzias. Uma seleção dos mais recentes: para o auditório de cerca de 2 mil pessoas para o lançamento da safra da agricultura familiar 2009-2010, com a presença de oito ministros, claro da ministra-candidata Dilma, Lula partiu para o elogio do seu governo, sempre comparado com a mediocridade de todos os seus antecessores, desde Pedro Álvares Cabral. E renovou o apelo ao povo para que eleja "quem tem compromisso com o país", e que estava visível ao seu lado. No impulso, embaralhou um pouco as coisas, na referência ao próximo ano, "quando o povo vai fazer a mudança, melhorar, aprimorar, tirar quem não tem compromissos com este país e colocar pessoas com compromissos". Se a alusão ao ex-presidente Fernando Henrique é cristalina, ficou faltando explicar por que não fez as correções nos seis anos dos seus dois mandatos. Elogiado em discursos de três pequenos agricultores levantou-se, justificando: "Eu levantei porque o meu ego não cabia ali".

Na solenidade da posse do novo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, Lula passou um sabão na imprensa, uma das suas implicâncias. O conselheiro do país recomendou aos procuradores que não aceitem pressões, porque "a imprensa brasileira quer condenar antes de concluído o processo". E gabou-se de que jamais fará um pedido pessoal ao procurador-geral da República e jamais colocará um alfinete para atrapalhar qualquer investigação neste país. Pois, no Brasil, "dependendo da carga de manchetes da imprensa, a pessoa já está condenada".

Com a exceção dos períodos de escuridão dos oito anos do Estado Novo de Getúlio Vargas e dos mais recentes quase 21 anos da ditadura militar dos cinco generais-presidentes, jamais um presidente teve à sua disposição um esquema publicitário da extensão, da competência e com as verbas do que o que o presidente Lula montou e tem à sua disposição. E que cresce como tiririca em terreno abandonado. Desde o Café com o presidente pela rede de emissoras de rádio ao mais recente artigo semanal, com o texto de Lula oferecido aos jornais, revistas e publicações em todo o país. Com a nunca jamais louvada iniciativa, o modesto presidente recuperou a TV Educativa, que sempre viveu na miséria, hoje apelidada de TV Brasil, que começa a ser descoberta pelos que correm todos os canais e param no canal 2.

O presidente tem uma grande dificuldade em entender como funciona o Congresso e ignora as profundas mudanças disparadas com a mudança da capital do Rio para o canteiro de obras inacabadas, em 21 de abril de 1960, pela obstinação do presidente JK que sonhava com a volta em 1965. Enquanto o Rio foi a capital do país, as relações entre os presidentes e as duas Casas do Congresso eram cerimoniosas e obedeciam a um modelo de respeito e compostura que o cerrado acanalhou até a atual crise moral e ética que desmoraliza o Senado e a Câmara na sucessão de escândalos de quadrilhas de assaltantes do dinheiro público.

No Palácio do Catete, distante do Centro da cidade, que se percorria a pé, por entre ministérios, sedes dos principais partidos, o presidente recebia os líderes da maioria no Senado e na Câmara, que se entendiam com os partidos em nome do presidente.

Eram outros tempos e costumes. Na pasmaceira do recesso do Congresso teremos tempo para continuar esta conversa.

MÃE GOSTOSA


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RUY CASTRO

Tiro nos biógrafos

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/07/09

RIO DE JANEIRO - Nesta semana, o presidente Lula disparou um projétil endereçado ao Ministério Público, à imprensa e a quem coubesse a carapuça, advertindo que, numa investigação, se pensasse "não apenas na biografia de quem está fazendo a investigação, mas, da mesma forma, na biografia de quem está sendo investigado".
Sob a frase, dita em português do planeta Bizarro, esconde-se uma ameaça aos investigadores e/ou biógrafos: cuidado com o tratamento aos ex-presidentes. Nominalmente, José Sarney -mas Lula poderia estar se referindo também a seu novo aliado Fernando Collor ou a seu subitamente cordial adversário FHC. Ou a si próprio, quando se despir dos paramentos daqui a um ano e meio.
Ele tem razão para se preocupar. Acertou ao comparar uma biografia a uma investigação. Há quem a chame, com impropriedade, de "pesquisa" -o que se aplica mais à fase do mergulho em documentos, recortes e material já impresso. Mas, se uma biografia fosse só isso, o biógrafo seria apenas um enviado especial ao arquivo.
A palavra correta é mesmo investigação -a localização de fontes vivas e primárias, as centenas de entrevistas e o escarafunchar pessoal dos cenários, inclusive o dos crimes. Um biógrafo digno do nome gasta a sola do sapato que nem um detetive. E, em certas biografias, o criminoso pode não ser o mordomo, mas o próprio biografado.
De Getúlio e JK para cá, nossos ex-presidentes têm sido poupados em biografias. A maioria só mereceu obras gerais sobre seus períodos de governo, algumas excepcionais, mas não biografias que os esmiuçassem como homens privados e públicos. Quem sabe como era, digamos, o homem Garrastazu Médici por trás do frio ditador? E quando saberemos quem foi o verdadeiro presidente Lula por trás do pitoresco e folclórico cidadão?

MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA

Maílson da Nóbrega

Ludopédio no gramado

"O uso de estrangeirismo costuma enriquecer
o idioma. Amplia o vocabulário. Contribui para
simplificar a linguagem. Facilita a comunicação
e a exposição de ideias. O inglês é um bom exemplo"

Se o governador Roberto Requião vivesse e pudesse fazer a lei no fim do século XIX – quando o futebol chegou ao Brasil –, a palavra poderia não existir entre nós, dadas as complicações da norma. Nas propagandas, o vocábulo football teria de ser traduzido para o português. Ao seu lado apareceria ludopédio (futebol, segundo o dicionário Houaiss).

É assim que reza projeto recentemente aprovado pela Assembleia Legislativa do Paraná, por proposta do governador. Obriga a tradução de palavras de outros idiomas em propaganda no estado. O objetivo, segundo Requião, é "o reconhecimento e a valorização da língua pátria". A base seria o princípio da soberania nacional (artigo 1º da Constituição).

Se a regra fosse nacional e existisse naquela época, haveria que encontrar tradução para termos ingleses hoje incorporados ao mundo do futebol: esporte, time, gol, drible, craque. O jeitão de ridículo de ludopédio talvez se tornasse familiar. Isso aconteceu com escanteio e impedimento, que substituíram corner e off-side.

O paranaense Coritiba teria outro nome. Seu título oficial é Coritiba Foot Ball Club (www.coritiba.com.br). Seria complicado traduzir as três palavras inglesas em propaganda. Procuradores poderiam questionar o seu uso na fachada da sede do Coritiba. Melhor chamar-se Sociedade Recreativa Coritiba de Ludopédio.

O mesmo xenofobismo está na base de projeto de lei do deputado federal Aldo Rebelo. Pela proposta, toda e qualquer palavra ou expressão em língua estrangeira usada no território nacional ou em repartição brasileira no exterior teria de ser substituída "por palavra ou expressão equivalente em língua portuguesa no prazo de noventa dias a contar do registro da ocorrência". Haveria umas poucas exceções.

A absorção de palavras estrangeiras é típica das línguas vivas e fruto do intercâmbio de bens, serviços, pessoas e ideias. O mesmo ocorreu na dominação estrangeira, como na introdução forçada do latim pelos romanos e de línguas europeias pelos impérios coloniais, incluindo o português no Brasil. Durante mais de dois séculos depois da conquista da Inglaterra pelos normandos (1066), o francês foi a língua oficial da corte.

O uso de estrangeirismo costuma enriquecer o idioma. Amplia o vocabulário. Contribui para simplificar a linguagem. Facilita a comunicação e a exposição de ideias. O inglês é um bom exemplo. Aberto à influência externa, ganhou inúmeras palavras durante as invasões romana (o nome da capital vem do latim Londinium) e normanda. E importou milhares do idioma de países que dominou e de muitos outros.

Apenas 20% a 30% das 80 000 palavras inglesas dicionarizadas pertencem às suas origens saxônicas. O francês, que teria contribuído com parcela semelhante, está muito presente nas artes e na culinária. O latim está nas ciências e o grego, na medicina (como também ocorre em outras línguas). Palavras espanholas, italianas, russas, indianas e outras integram o vocabulário inglês. O português chegou direto com bossa nova, cobra e piranha ou por adaptação com cashew (caju), manioc (mandioca) e mulatto (mulato).

O português se beneficiou de muitos vocábulos estrangeiros. Nem nos damos conta de que o francês nos trouxe ateliê, atachê, bufê, cinema, filé, perfume, sutiã. O inglês nos forneceu xampu, nomes de esportes (além do futebol, beisebol, voleibol, basquetebol, handebol, golfe, tênis), bife, buldogue, zíper, estresse. Se houvesse a Lei Requião, como seriam traduzidas a italiana pizza, a árabe esfirra e a espanhola paella?

A tecnologia continua a trazer estrangeirismos, que os jovens adotam rapidamente e os adultos, mais tarde. Mesmo quando há correspondentes em português, a preferência é importar e aportuguesar termos ingleses: deletar, atachar, inicializar. Deletar, que está no Aurélio, é mais um vocábulo de raiz latina (delere) no idioma de Shakespeare.

Em Portugal, o mouse do computador é rato mesmo. O que ganhariam os paranaenses se nas propagandas aparecesse rato ao lado de mouse? Nada. A Lei Requião é, pois, uma tremenda tolice. Ela não reforçará a soberania nacional. Significará apenas aumento de custos, perda de tempo e falta do que fazer.

GOSTOSA


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PAINEL DA FOLHA

Sempre cabe mais um

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/07/09

A lista dos 82 servidores do Senado que chegaram à Casa como estagiários da Gráfica -uma das estruturas inchadas por indicações de toda sorte- e foram efetivados sem concurso público inclui cinco nomes que encontraram guarida em gabinetes de senadores. São eles: Jefferson Praia (PDT-AM), Eliseu Resende (DEM-MG), Lobão Filho (PMDB-MA), Marcelo Crivela (PRB-RJ) e Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR).
Há também outros cinco nomes que não possuem lotação em cargos. São pensionistas de ex-servidores. Em um dos casos, trata-se de uma criança de 11 anos.
Na diretoria-geral, ocupada por mais de uma década pelo ex-todo-poderoso Agaciel Maia, também aparece um carateca, medalhista no Pan do Rio, em 2007.




Olho da rua. O futuro dos "estagiários" não concursados depende de um parecer da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que pode decidir pela inconstitucionalidade da contratação. Se isso ocorrer, o caso irá ao plenário.

Reação. OAB, CNBB e outras entidades vão se manifestar contra os escândalos no Senado após o recesso. O assunto será debatido no plenário da OAB no dia 16. O roteiro deverá ser o mesmo de 2007, quando as entidades condenaram a absolvição de Renan Calheiros (PMDB-AL).

Eu sou você... O atual patamar da crise do Senado, aliás, confirma a semelhança com o escândalo que culminou com a queda de Renan. Com o desembarque do PT, a base de Sarney é exatamente a mesma que sustentava o alagoano antes de ele renunciar à presidência da Casa.

Na confusão. O "troco" que aliados de Sarney estão prometendo aos principais algozes do senador não é só uma atitude revanchista. A ideia é que uma chuva de processos no Conselho de Ética contribua para tumultuar a situação, embaralhar ainda mais o jogo e postergar qualquer desfecho do caso.

Por procuração. Houve no PT quem estranhasse a nota divulgada ontem pelo líder Aloizio Mercadante (PT-SP). Apesar de o texto falar da "bancada", nem todos os senadores foram ouvidos.

Boletim médico. Em plena maré de denúncias de nepotismo e tráfico de influência envolvendo Sarney, coube à assessoria de imprensa da presidência da Casa distribuir notas sobre o estado de saúde de dona Marly, mulher do peemedebista. Elas também foram parar no site da Casa.

Batata quente. Apesar de a sindicância que investigou o esquema de venda de cotas de passagens aéreas na Câmara deixar ao menos cinco deputados com um pé no Conselho de Ética, ela não propõe punições. A decisão sobre cada caso caberá ao corregedor da Casa, ACM Neto (DEM-BA).

Lista de bordo. Entre os nomes que aparecem no relatório, estão ainda os dos deputados Roberto Rocha (PSDB-MA) e Raymundo Veloso (PMDB-BA) -que teve bilhetes usados pelo casal Zoghbi.

Amado mestre. João Antonio, um dos mais aguerridos petistas da Câmara paulistana, vai iniciar um mestrado em Filosofia do Direito na PUC-SP. Seu orientador será ninguém menos que seu colega, porém adversário, Gabriel Chalita (PSDB).

Luz amarela 1. Responsável pela saúde dos índios, a Funasa está recomendando que todos os distritos sanitários das aldeias se articulem com os hospitais de referência para atendimento de eventuais casos de contaminação pela gripe suína.

Luz amarela 2. A nova gripe ainda não foi registrada entre as comunidades indígenas, mas o movimento de tribos próximas da fronteira com a Argentina preocupa a fundação, principalmente no Rio Grande do Sul, onde vivem cerca de 19,5 mil índios.

com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"Já que o PSDB sempre apostou na crise, esse auxílio deveria ter sido anunciado antes, e não agora, quando o emprego está sendo retomado."


Do deputado PAULO TEIXEIRA (PT-SP), sobre a criação, pelo governo Serra, de uma bolsa de R$ 210 para desempregados em São Paulo, por um período de três meses.

Contraponto

Ideia fixa Durante sua visita a uma feira de orgânicos, anteontem, em São Paulo, Lula foi abordado por dezenas de pessoas que queriam oferecer seus produtos expostos ou pelo menos conseguir uma foto com ele.
Mas, durante todo o percurso, o presidente repetia uma recusa bem-humorada:
-Não, obrigado, estou de dieta.
Foi assim com vinhos, depois uma variedade de geleias. Até que, já no final do percurso, Lula se deparou com um expositor que lhe apresentou sabonetes feitos com produtos orgânicos. O petista não teve dúvidas:
-Mas emagrece?

DORA KRAMER

Salve-se quem (ainda) puder

O ESTADO DE SÃO PAULO - 25/07/09

Na quinta-feira, o presidente da Câmara, Michel Temer, e o senador Eduardo Suplicy abriram oficialmente a temporada “salve-se quem puder” do navio que faz água por todo lado na presidência do Senado. Suplicy nem esperou a decisão da bancada petista, já francamente disposta a rever os termos do contrato de subserviência firmado com o presidente Luiz Inácio da Silva. Divulgou nota manifestando sua posição em prol do afastamento do senador José Sarney.

Na Câmara, o movimento de Temer não foi tão explícito nem direcionado apenas ao Senado. O anúncio de que serão abertos 44 processos contra servidores e uma investigação específica, para averiguar a participação de quatro deputados no desvio de passagens aéreas da cota da Câmara para venda no mercado paralelo de agências de turismo, é uma boa notícia.

No tocante à Câmara, serve para neutralizar a repercussão negativa da viagem de parlamentares à França com despesas pagas por uma das empresas que disputam a venda de aviões caça para a Força Aérea Brasileira.

No quadro geral de imposturas, é uma atitude diferenciada. Não obstante o presidente da Câmara tenha atuado conforme mandam suas atribuições, na atual conjuntura até a obrigação é celebrada e recebida como exceção à regra. O normal, claro, serio o oposto.

Muito provavelmente Michel Temer não agiu de caso pensado para atingir Sarney. Mas, na prática, quando toma uma providência objetiva em relação a infrações e ainda incluiu a responsabilização de deputados, traça uma risca de giz entre duas bandas conhecidas como “PMDB do Senado” e “PMDB da Câmara”.

Uma ala nunca foi exatamente santa da devoção da outra. Uniram-se formalmente depois da reeleição de Lula, quando o grupo de Temer aderiu ao governo e o partido se fortaleceu. Dentro da regra de que a família unida poderia obter muito mais vantagens, os pemedebistas viveram tempos de convivência pacífica.

Profícuos. Expandiram seus territórios na administração pública federal, fizeram bonito nas eleições municipais de 2008 quando puderam se apresentar como canal de ligação com o Planalto, tornaram-se os parceiros mais disputados da República, cobiçados pelo governo e pela oposição, assumiram o comando da Câmara e do Senado e aí as coisas começaram a dar errado.

Não por falta de aviso, pois o “PMDB da Câmara” era adepto do cumprimento integral do compromisso de deixar ao PT a presidência do Senado. In formalmente, esse grupo continuou “fechado” com a candidatura do senador petista Tião Viana. Formalmente, estavam todos juntos com Sarney. Quando a crise estourou primeiro no Senado, depois na Câmara e, em seguida, se estabeleceu violenta no Senado, particularmente nas costas do presidente, o PMDB como um todo ficou discreto.

À exceção da tropa de choque de senadores, o restante do partido tratava de cuidar do futuro nas negociações para 2010. Temer, presidente licenciado do PMDB, fez uma única – imprópria, mas moderadíssima – declaração de apoio a José Sarney, corroborando a tese de que empregar parentes não seria nada diante de biografia tão incomum.

Na quinta-feira, ao anunciar abertura de processos e indicar que há deputados envolvidos, foi como se Michel Temer dissesse ao público “veja como somos diferentes”. Na Câmara, a punição; no Senado, tolerância e protelação. A ação de um lado ressalta a inação do outro, conferindo moldura institucional ao isolamento.

O gesto não pode ser visto como de ruptura nem de abandono formal de Sarney por parte do PMDB. É algo mais sutil, que transfere aos leitores da cena a interpretação sobre a retirada de mais um pilar de sustentação.

Os outros pilares que ainda restam a Sarney fragilizam-se a olhos vistos. O maior e mais poderoso, o presidente da República, tem sido criticado numa dimensão nunca vista nos seis anos e pouco de mandato, tornando-se sério candidato a vítima do abraço do afogado.

O batalhão de defesa no Senado não consegue reunir uma bancada partidária completa nem pode contar com porta-vozes de reputação ao menos razoável. No PMDB há dissidentes, o DEM está contra, o PDT caiu fora, o PSDB assina representações no Conselho de Ética assim como o PSol, o PSB desembarcou, o PT oficializou a retirada do tapete, considerou “graves” as acusações contra Sarney e pede seu afastamento do cargo e “rigor” no exame das acusações no Con se lho de Ética.

Um caso sem salvação, diante do qual se estabelece o tempo de murici: cada qual trata de si, salvando-se como puder. Essa história de contraofensiva de Sarney na base de medidas de impacto e ameaças de arrastar à lama outros senadores, pode ocupar espaço no noticiário, mas não tem o menor efeito prático.

Pela absoluta carência de crédito de quem se apresenta ao serviço com a credencial de chantagista e falta de condições do Senado de a essa altura simplesmente dar o dito pelo não dito.