domingo, novembro 22, 2009

RUBENS RICUPERO

Extradição e crime político

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/11/09



Como explicar que tanta gente de boa-fé julga que, por serem políticos, certos delitos deixam de ser crimes hediondos?


VOCÊ ACHA que os assassinos de Gandhi, de John Kennedy e de Martin Luther King mereceriam ser considerados refugiados políticos no Brasil? A pergunta parece absurda, mas o fato é que todos esses crimes eram políticos. Como explicar que tanta gente de boa-fé julga que, por serem políticos, certos delitos deixam de ser crimes hediondos?
Tomemos outro caso. O sequestro de Abilio Diniz foi efetuado por chilenos do Movimento de Esquerda Revolucionária, que alegaram motivos políticos, apesar de que, na época (dezembro de 1989), o Chile voltara a ser uma democracia plena. Rejeitado o argumento, eles foram condenados, sendo expulsos para cumprir o resto da pena no país de origem em 1999.
A invocação de causa política não basta, portanto, para retirar de um ato o caráter de crime merecedor de sanção nem para conceder ao autor o benefício de refugiado. Em casos extremos, pode-se compreender o uso de violência contra regimes tirânicos e opressivos que não deixam outro caminho à restauração dos direitos. É quase o equivalente ao direito da legítima defesa de parte da população.
Por essa razão, as normas internacionais só admitem como refugiado alguém que não possa ser enviado ao país de origem por existir forte presunção de que sofrerá perseguição de caráter político, racial ou religioso. A presunção se baseia, por sua vez, na existência de conflito, guerra civil ou ditadura e suspensão das garantias individuais no país para onde seria devolvido.
Tal premissa obviamente não se aplica à Itália, país que desde 1945 é um Estado de Direito e uma democracia das mais tolerantes em matéria de liberdade política. Somente ignorância ou má-fé poderia considerar perseguição política o cumprimento de pena a que foi condenado em processo legal pelos tribunais italianos o autor de quatro homicídios. Seria até irônico, se não fosse ridículo, acusar de instrumento de perseguição uma Justiça que está processando o próprio todo-poderoso primeiro-ministro Berlusconi! Oxalá tivéssemos nós, no Brasil, uma Justiça com a metade da independência perante o Executivo que tem o Judiciário italiano!
Os extremistas que atuaram na Itália desde os "anos de chumbo" escolheram em geral como vítimas políticos de centro-esquerda ou de esquerda democrática, e não a direita fascista. O caso mais notório foi o sequestro pelas Brigadas Vermelhas do ex-primeiro ministro Aldo Moro, o grande líder da esquerda da Democracia Cristã. Depois de longo cativeiro, ele foi assassinado friamente, a fim de impedir que promovesse uma aliança para que o Partido Comunista viesse a fazer parte do governo, o que se chamava então de "compromisso histórico".
No seu radicalismo divorciado das massas, os brigadistas pensavam que, ao evitar a chegada dos comunistas ao poder, criariam as condições para desencadear uma revolução proletária violenta.
Acabou acontecendo exatamente o oposto. O crime (esse e outros como os do refugiado no Brasil) provocaram tal repulsa no povo que empurraram a Itália cada vez mais para a direita. A esquerda italiana sempre condenou o extremismo terrorista e não compreende que o Brasil lhe conceda tratamento leniente. Talvez porque aprendeu, ao contrário de membros do governo brasileiro, que a leniência com o extremismo equivale ao suicídio da esquerda democrática.


RUBENS RICUPERO, 72, diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco). Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.
rubric@uol.com.br

MARCELO LEITE

Papel aceita tudo, até metas

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/11/09


Por que se fixou meta sem antes finalizar o inventário de emissões?

Nos últimos dez dias, o governo Lula acertou duas no cravo e uma na ferradura ambiental.
Primeiro, anunciou a menor taxa de desmatamento já registrada, 7.000 km2 (um terço de Sergipe). Depois, que cortaria as emissões futuras do país em 36% a 39% até 2020.
A ferradura vai por conta de Reinhold Stephanes, ministro da Agricultura. Ele teria convencido o presidente a adiar mais uma vez a obrigatoriedade de averbar (formalizar em escritura) a reserva legal de propriedades rurais. A medida, se vingar, embaça o verniz verde que Lula e Dilma Rousseff arrumaram para ir a Copenhague.
Esse reconhecimento oficial dos passivos ambientais foi decidido em junho de 2008 e agendado para dezembro daquele ano. Depois, adiado para este dezembro. Agora, corre o risco de ficar para junho de 2011.
Seria um prêmio para quem desmatou ilegalmente. Não o primeiro, nem o último. É tradição no Brasil punir quem cumpre as regras. Os economistas e juristas chamam isso de "moral hazard" (risco moral), um poderoso fator de insegurança jurídica. O incentivo implícito ao comportamento criminoso garantido pela impunidade é tão certo quanto a taxa de desmate, medida por satélite.
Duvidosos são os números projetados para a redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE) até 2020.
Não porque os especialistas que ajudaram a produzi-los sejam inconfiáveis, mas porque esse tipo de projeção é complexo e muitas coisas não ficaram bem explicadas. Pelo menos quatro coisas, para ser exato. Primeiro ponto nebuloso: por que se deu início a esse exercício de fixar metas sem antes finalizar o inventário de emissões brasileiras? Chega a ser ridículo calcular quanto o país estará produzindo de gases do efeito estufa daqui a dez anos quando o dado mais recente disponível é de... 1994. Isso mesmo, de 15 anos atrás.
O novo inventário está em produção há anos pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Enquanto o governo resistia a assumir metas de mitigação, coisa que não era obrigado a fazer pelo acordo de Kyoto, talvez fizesse algum sentido -para cabeças limitadas- esconder o crescimento das emissões.
Agora, virou piada de mau gosto. Supõe-se que as emissões totais hoje sejam da ordem de 2 bilhões de toneladas de CO2-equivalente (o potencial de causar aquecimento global de outros gases, como metano e óxido nitroso, é "traduzido" por essa medida no valor do gás carbônico). Estima-se que em 2020 serão 2,7 bilhões, cifra que seria então reduzida para algo em torno de 1,7 bilhão.
E se o valor atual for 1,9 bilhão? Ou 2,1 bilhões? Não é pouca porcaria. Cortar 100 milhões de toneladas anuais, ao longo de dez anos, pode exigir R$ 20 bilhões em investimentos -isso se for empregada uma opção barata de mitigação, como a recuperação de pastagens degradadas. Por falar nisso, quanto vai custar o esforço total de corte de emissões anunciado pelo governo federal? É a segunda grande questão sem resposta.
Só o setor agrícola precisaria de R$ 86 bilhões. E os outros?
Terceiro enigma: Por que a meta do governo paulista, anunciada dias antes, é tão desproporcionalmente mais baixa que a federal? José Serra falou em 24 milhões de toneladas de redução em 2020. Dilma Rousseff, em 1 bilhão. Mesmo com a Amazônia pesando só na balança federal, essa desproporção parece gritante. Por fim, ao inscrever as metas na lei nacional do clima como compromisso voluntário e não obrigatório, estaria Lula querendo dizer que se sente livre para não cumpri-las?

MARCELO LEITE é autor de "Darwin" (série Folha Explica, Publifolha, 2009) e "Ciência - Use com Cuidado" (Editora da Unicamp, 2008). Blog: Ciência em Dia ( cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br ). E-mail: cienciaemdia.folha@uol.com.br

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DANUZA LEÃO

Como é difícil ser feliz

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/11/09


É hora de inventar alguma coisa para sofrer; afinal, não há nada mais difícil do que viver a felicidade

POR MAIS louco que pareça, é difícil suportar a felicidade. Você conhece alguém feliz? Nem eu, e os poucos que têm tudo para serem felizes ficam inventando modas para complicar a vida.
Ter uma vida familiar satisfatória, sem nenhum daqueles problemas graves que existem em quase todas as famílias, já é raro. Além desse aspecto, ainda existem as relações entre os parentes, que na maioria das vezes costumam ser explosivas, para dizer o mínimo. Sogras odeiam noras -e vice-versa-, irmãs querem esfaquear as cunhadas, e levante as mãos para os céus se na sua família nunca existiu quem se engraçasse com quem não devia.
Se do lado familiar está tudo bem, o que já é raro, vamos ao profissional. Suponhamos que você, depois de muita luta, tenha conseguido chegar ao ponto que queria: bem de grana e prestígio na praça, o que não é pouco. Mas ainda falta o lado sentimental; como vai ele?
Por incrível que pareça, esse também vai bem. Encontrou a pessoa certa -quase certa, a bem dizer-, com quem os filhos se dão bem, a quem os amigos não torcem o nariz e até a família, que não deixa passar nada, aceita.
Além disso, está morando numa casa legal, tem o carro do ano, pode viajar mais ou menos para onde quer mais ou menos quando quer, e o resultado do último check up não poderia ter sido melhor. E mais: modéstia à parte, o visual não deixa a desejar, muito pelo contrário, e as mulheres estão chovendo na sua horta. Não são razões de sobra para estar feliz? São, e até demais. Então é hora de inventar alguma coisa, qualquer coisa, para sofrer; afinal, não há nada mais difícil do que viver a felicidade.
Um dos recursos mais usados é o medo. Ah, se ela me deixar; ah, se eu ficar doente; ah, se minha mãe morrer; ah, se eu perder o emprego; ah, se um incêndio queimar a minha casa; ah, se eu perder a inteligência e não puder mais trabalhar; ah, se a inflação voltar e não der para pagar as prestações do apartamento; ah, se o avião que vai me levar para fazer a mais maravilhosa de todas as viagens cair -e por aí vai.
As poucas pessoa felizes -e por isso são felizes- não têm medo de nada e nunca acham que a vida vai piorar, muito pelo contrário. Mas os que estão com a vida boa encontram sempre uma maneira de achar um drama em tudo. As mulheres são especialistas nisso: se está tudo bem, elas lembram daquele dia, oito anos atrás, em que o marido bebeu demais e ficou fazendo charme para uma mulher. Daí para uma grande cena de ciúmes é um passo -ah, como nós podemos ser insuportáveis às vezes. E o pior: essa crise pode durar dias.
Se não é por aí, então quem sabe no trabalho? Como está tudo meio burocrático demais, fica pensando em como seria bom que fosse mandado para longe por uns tempos; até Brasília seria uma boa, só para mudar de ares e de função. Mas pensa na praia, na maravilha que é morar no Rio, e abandona a ideia antes que seja tarde. Mas, como não há nada mais monótono do que a felicidade, é preciso arranjar pelo menos um problema, um pequeno problema, para que a vida fique mais interessante, e isso é simples.
Basta pensar: e se sua felicidade acabar?

VINÍCIUS TORRES FREIRE

2010 e a política

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/11/09


Militância do PT decaiu, mas governo Lula se aproximou das centenas de milhares de movimentos sociais do país

A ANÁLISE mais comum do cenário da eleição de 2010 em geral trata de política partidária, do efeito da economia sobre o eleitorado e do impacto de políticas sociais. Nesses três aspectos da conjuntura eleitoral, a situação dos oposicionistas é de ruim a deplorável. O quadro fica ainda pior se considerarmos a nova relação do lulismo-petismo com os movimentos sociais.
Quanto à política, observa-se o encurralamento da omissa oposição devido à popularidade de Lula e à indecisão do único partido viável e alternativo à continuação do governo do PT. Confinada nesse "córner", a candidatura mais viável do PSDB, a de José Serra, padece ainda de isolamento. Aécio Neves dá sinais de que, não sendo o candidato, confraternizará com o adversário, aderindo ao centrão luliano ou com ele firmando um acordo de convivência pacífica. Vide as conversas do governador mineiro com Ciro Gomes (PSB) e com facções do PMDB. Serra ainda sofre oposição de aliados, como parte do DEM, de falta de base no Rio e com a ruína tucana no Rio Grande do Sul. Tem crônica dificuldade no Nordeste e pode enfrentar a omissão interessada de Aécio em Minas, para citar problemas mais notórios.
Quanto à economia, 2010 deve ser muito bom. No quadriênio de Lula 2, o país terá vivido os anos de maior incremento das condições de vida em mais de um quarto de século.
Quanto às políticas sociais, a variedade do seu alcance é obscurecida pelo clichê e pelo tamanho do Bolsa Família (11 milhões de famílias, quase 40 milhões de pessoas) e pelos benefícios de até um salário mínimo do INSS, recebidos por 18,5 milhões de pessoas, que tiveram grandes reajustes. Programas de benefícios diretos e politicamente visíveis em agricultura familiar, crianças, mulheres, minorias, saúde familiar, educação etc. atingem dezenas de milhões difíceis de contar. Como proporção do PIB, o gasto social federal foi de 13% em 2002 para 15% em 2008. É um aumento grande.
Mas o governo Lula fez política por baixo também. A militância petista enfraqueceu-se, mas Lula levou para perto do governo os movimentos sociais, como mostra um relato do Ipea (no livro "Brasil em Desenvolvimento", grátis no site do Ipea). Aumentou em um terço o número de conselhos nacionais consultivos de políticas públicas. Por meio deles, incrementou a realização de conferências nacionais de políticas públicas, que tratam de direitos humanos a ambiente, de jovens a mídia etc. Mais de 2 milhões tomaram parte nas conferências, gente integrante das quase 400 mil ONGs do país. Associações das mais diversas, mas muitas "de base", têm assentos nos conselhos nacionais. A Secretaria-Geral da Presidência da República desde 2003 está encarregada de dialogar com tais movimentos sociais -foram 700 encontros só no primeiro ano. Não há pesquisas para dizer se tais movimentos são "mais petistas". Mas "mais tucanos" é que não são. A maioria das centrais sindicais está com o governo, e a maioria das que não estão é de esquerda e/ou antitucana.
Na reta final da campanha, ou na urna, o eleitor pode ignorar isso tudo e decidir que quer mudança. Sabe-se lá. Mas a oposição não está fazendo coisa alguma para que o eleitor pense em novidades.

LULA: O FILHO DA PUTA

CRISTIAN KLEIN

Ô minha filha e O filho do Brasil

JORNAL DO BRASIL - 22/11/09


DE UM LADO, LUZ, CÂMERA E AÇÃO. Do outro, blecaute, microfones e uma declaração. Infeliz, ríspida, antipática. Os últimos dias – de apagão nacional e da pré-estreia do filme sobre a história do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – puseram em contraste a trajetória e o estilo distintos de Dilma Rousseff, a pré-candidata do governo às eleições de 2010, e do seu fiador.

Muito se tem dito sobre as segundas intenções – eleitorais – do filme Lula, o filho do Brasil. O longa, de forte apelo emocional, será lançado em 1º de janeiro, em mais de 500 salas pelo país, e tem tudo para bater o recorde de bilheteria do cinema nacional. Levará milhões a acompanhar o retrato do presidente quando jovem. Da infância pobre no Nordeste, passando pela viagem de pau de arara para São Paulo, pela perda da primeira mulher e do bebê durante o parto, até a sua ascensão como um dirigente sindicalista carismático, capaz de empolgar multidões.

Numa sequência emblemática, Lula discursa num comício para milhares de trabalhadores. Sem poder contar com o sistema de som, suas palavras são repetidas pelos operários, como uma onda, até que os últimos, no fundo do estádio, as escutem. Poucas cenas ilustrariam tão bem o poder natural de liderança de um homem (ou de uma mulher). O filme, produzido pelo clã dos Barreto e apresentado no Festival de Cinema de Brasília, constrói essa imagem idealizada, heroica, quase sem defeitos, de Lula. Episódios mais constrangedores de sua biografia, como o pedido à ex-namorada Miriam Cordeiro para que abortasse – história que caiu como uma bomba na campanha de 1989 – ficaram de fora. Há algo de essencial, contudo. A persistência, a capacidade de comandar, negociar, o carisma inegável do personagem.

A oposição, inconformada, tem acusado o filme de ser uma poderosa peça de propaganda pró-governo. E tem razão. Não porque o longametragem tenha sido produzido com tal objetivo – há tempos a trajetória de Lula já deveria ter sido contada. Mas porque o lançamento se dará na abertura de um ano eleitoral. Obviamente, seu potencial de amealhar votos será aproveitado. Se o filme emocionou e já fez chorar até banqueiro, em sessões antecipadas para formadores de opinião, o que dirá quando chegar ao cidadão comum que se identificar com a vida pobre do nordestino e operário? Ocorre que não será Lula – impedido o terceiro mandato – o candidato do governo. E, sim, como tudo indica, sua ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Nada garante que a transferência de votos de Lula para Dilma se dará na mesma intensidade que a imaginada.

Lula chegou à Presidência da República por representar um determinado projeto de país e, em grande parte, pelo seu carisma pessoal.

É certo que nem tudo se resume à popularidade. Fernando Henrique Cardoso venceu facilmente duas eleições – e sobre este mesmo Lula, hoje em fase de mitificação – não pela capacidade, que nunca teve, de seduzir a massa. Mas porque criou o real, derrotou a hiperinflação e deu estabilidade econômica ao país. Política pública, enfim. Isso é o que mais importa – fosse o eleitor apenas um sujeito racional, guiado pela abstração das ideias, dos argumentos. Mas o voto também contém um elemento forte de emoção, de identificação com o escolhido, de empatia.

E é aí que Dilma Rousseff se distancia muito de seu padrinho político.

Se Lula é o carismático filho do Brasil, Dilma surge como a candidata do antipático vocativo “minha filha”. Foi assim que ela se referiu a uma repórter, ao explicar as razões do apagão nacional do dia 10. A pergunta era totalmente pertinente e previsível, pois menos de duas semanas antes a ministra afirmara que o Brasil estava livre de um novo apagão elétrico.

Irritada, Dilma respondeu: “Você está confundindo uma coisa, minha filha: uma coisa é blecaute. (...) Interrupções desse sistema ninguém promete que não vai ter”, disse. Conhecida pelo estilo durão, de gerentona, já virou folclore a bronca de Dilma que teria feito o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, chorar. O estilo fio desencapado soou o alarme e será um desafio para os marqueteiros do governo. Se em assuntos técnicos, nos quais é especialista, já há descontrole, imagina-se como Dilma, sem experiência prévia como candidata, reagirá às pressões de uma longa campanha presidencial. A persona “Dilminha paz e amor” precisa entrar em cena. Se não quiser queimar o filme.

“Dilminha paz e amor” precisa entrar em cena. Se não quiser queimar o filme

JANIO DE FREITAS

Em volta de Battisti

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/11/09


Cada palavra de integrantes do Supremo sobre e depois do julgamento atestou e agravou o espanto do que lá ocorreu


EM PARALELO aos aspectos do caso Cesare Battisti abordados pela Justiça e pelo governo, segue intacto um problema que a esquerda -com aspas e sem aspas, e em suas incontáveis linhagens passadas e algumas presentes- jamais considerou para dar-lhe uma resposta definitiva. Em que circunstâncias o direito à rebeldia contra a opressão e os movimentos autodefinidos como revolucionários sociais podem matar sem trair as suas premissas?
Ao menos dois dos quatro crimes em que Cesare Battisti está condenado, na Itália, exemplificam o problema. São as duas mortes praticadas como represália porque as vítimas, em ocasiões anteriores, reagiram a assaltos, ou ações expropriatórias, do PAC (não os do PAC brasileiro nas concorrências, mas o de Battisti na Itália, Proletários Armados pelo Comunismo). As vítimas não eram partes de dispositivo algum no enfrentamento.
É difícil, senão impossível, encontrar nesse gênero de ato algum vínculo com ideologia de esquerda, propriamente, e algum traço de legitimidade, antes de identificá-lo como negação ao direito legítimo de defesa. A negação desse direito é parte da ideologia e das práticas de direita radical, e, em plano inferior à política, à concepção militar de luta.
A represália ao uso passado do direito de defesa, com morte da vítima, é vingança.
A incompatibilidade entre vingança e propósitos revolucionários de justiça foi reconhecida pela própria esquerda, ao adotar tribunais de militantes e julgamentos sumários. Mas, caso condenem um não "combatente" para o qual um assalto é um assalto, e não um ato com pretensões ideológicas ou políticas, a sentença de morte será ainda ato de vingança.
As variações nesse território são numerosas, muitas delas com presença relevante na história. Aqui está nas livrarias um desses casos, sob o título "Elza, a garota", em que o trabalho muito competente do jornalista Sérgio Rodrigues narra o fato real do assassinato de uma jovem ingênua e inocente, que o comando do Partido Comunista apenas imaginou ser informante da polícia -e condenou-a à morte.
Se a esquerda ficou para a história, antes mesmo de discutir a si mesma sem paixões nada de esquerda, voltemos ao caso Battisti como demonstração de quanto o
Supremo Tribunal Federal precisa ser discutido dentro e fora dele.

Cada nova palavra de integrantes do STF sobre e depois do julgamento da extradição de Battisti atestou e agravou o espanto do que lá ocorreu. Mas, neste momento, interessa sobretudo a explicação do ministro Ayres Britto para os seus votos vistos como contraditórios.
Assim argumenta ele por dar um voto pela aprovação do Supremo à extradição de Battisti e, mais tarde, um voto para transferir ao presidente da República a decisão de extraditar ou não, a despeito do entendimento do tribunal:
"O Supremo Tribunal Federal decidiu pela extraditibilidade, mas a extradição é um ato entre países, de política internacional, que é atribuição do presidente da República".
Não diria que Ayres Britto se confunde, mas é evidente que nos confunde. Quando uma decisão do Supremo depende, para seu cumprimento, de ato administrativo do Executivo, sua execução é sempre delegada a este Poder e, portanto, ao presidente da República, seu chefe.
Delegar a execução não se confunde com transferir a responsabilidade de decidir: a demarcação e a expulsão de alheios da Reserva Indígena Raposa/Serra do Sol, por exemplo, eram de atribuição do presidente da República e dele para seus prepostos, mas nem por isso o STF transferiu-lhe a responsabilidade de decidir fazê-la ou não. Como lhe compete, o STF definiu e deu a decisão com base no voto do relator -ministro Carlos Ayres Britto.

"PRÁSTICA"

UMA VAGABUNDA NO PLANALTO

NÓS ESTAMOS PAGANDO AS "PRÁSTICA" DA VAGABUNDA

JOSÉ ELI DA VEIGA

Os vetores da descarbonização

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/11/09


Prognóstico pessimista? Pelo contrário. Ele só realça que os vetores dos processos geopolíticos reais vão muito além de acordos globais


SE TRATADOS entre quase 200 nações fossem realmente decisivos, o mundo estaria muito mais seguro do que ao término da Guerra Fria. Porém, já são 40 os países com potencial nuclear, embora não passassem de meia dúzia quando foi adotado o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (NPT). Que chegou a ter 187 adesões até a retirada da Coreia do Norte, em 2003.
"Mutatis mutandis", a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) tem 189 países signatários, mas também não passam de 40 os responsáveis por mais de 90% das emissões de carbono. E praticamente todos estão no G20, a melhor instância de governança global, que junta 15 das maiores economias do mundo às 27 da União Europeia, além da participação ex officio do FMI e do Banco Mundial.
Então, se o G20 foi incapaz de chegar a um acordo sobre o regime climático a vigorar em 2012, pouco se pode esperar da algaravia que rábulas de 196 nações promoverão em Copenhague de 7 a 18 de dezembro.
Pior: mesmo na hipótese da mais grata surpresa, o precedente da ameaça de um inverno nuclear permite supor que ela não impediria o longuíssimo verão carbônico decorrente da dependência de energias fósseis.
Prognóstico pessimista? Muito pelo contrário. Ele só realça que os vetores dos processos geopolíticos reais vão muito além de acordos globais. A biosfera não teria sobrevivido se dependesse só de respeito ao velho NPT. De modo similar, a descarbonização continuará por outras razões, seja qual for o desfecho da cúpula climática de Copenhague.
A predisposição a se engajar na transição ao baixo carbono tem sido primordialmente determinada pela preocupação de cada nação com a sua própria segurança energética e pela confiança que pode ter em sua capacidade científico-tecnológica para aproveitar as oportunidades já vislumbradas da próxima onda longa de desenvolvimento do capitalismo.
Processo cada vez menos influenciado pelos setores econômicos e segmentos sociais que serão perdedores com o inexorável encarecimento da emissão de carbono.
Algo que parece valer para todos, inclusive para os grandes emissores da semiperiferia, como é o caso do Brasil. Todavia, ao contrário do que ocorre no Primeiro Mundo, os chamados emergentes não têm como confiar na geração própria das inovações necessárias à descarbonização. Por isso, ainda vêm nessa transição mais sacrifícios ao seu crescimento econômico do que possíveis vantagens competitivas em novos negócios e novos mercados.
A ressalva é importante, pois, dos 20 países que mais contribuíram em termos absolutos para o aumento de 60% das emissões globais de 1980 a 2006, entre 12 e 15 são emergentes, a depender de como se classifique os tigres Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura. Somente cinco são indiscutivelmente do pequeno clube dos ricos: Estados Unidos, Japão, Austrália, Espanha e Canadá.
Por isso, o que mais influenciará o rumo da descarbonização global serão as vias que forem abertas aos países desse Segundo Mundo para que não fiquem na dependência de perversas transferências de tecnologia. Que possam, ao contrário, se beneficiar de esquemas de cooperação na montagem de seus próprios sistemas de ciência, tecnologia e inovação.
A China tem mostrado muita clareza sobre essa prioridade, principalmente em seus entendimentos bilaterais com os EUA. Certamente devido à sua imensa dependência do carvão e por precisar muito da energia nuclear, busca saídas das mais pragmáticas para uma equação energética muito difícil de ser resolvida em uma sociedade cuja economia não pode crescer menos de 8% ao ano.
Ao contrário do Brasil, onde a evolução da atitude governamental só evidencia a ausência de estratégia nacional. Em grande parte resultante do comodismo induzido por uma das mais limpas matrizes energéticas do mundo. E também, é claro, por divergências ministeriais que refletem clivagens entre os segmentos mais organizados da sociedade civil.
Muito outros argumentos em favor dessa tese -de que pouco importa o desfecho da COP 15 para a transição ao baixo carbono- estão no livro "Mundo em Transe: Do Aquecimento Global ao Ecodesenvolvimento", a ser lançado na Livraria Cultura exatamente no início do segundo tempo da pelada de Copenhague: dia 14/12.

JOSÉ ELI DA VEIGA, 61, é professor titular de economia da USP. É co-autor, com Lia Zatz, de "Desenvolvimento Sustentável, que Bicho É Esse?".
www.zeeli.pro.br

ELIANE CANTANHÊDE

Decolando

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/11/09


BRASÍLIA - A decisão sobre os novos caças da FAB está madura. Jobim decide as promoções das três Forças Armadas e encontra-se com Lula amanhã. Na quinta, reunião do Alto Comando da Aeronáutica.
Depois da gafe brasileira de anunciar o vencedor de um processo de seleção ainda em andamento, os concorrentes trocaram provocações e ironias ao longo do processo, fazendo romarias ao Brasil nunca antes vistas nos reinos da Suécia, da Boeing e da Dassault. Sinal de que o negócio é dos bons.
Cada proposta tem vantagens e desvantagens. A elas:
O Rafale, francês, integraria um pacote de submarinos e helicópteros, num processo diplomático de aproximação entre Brasil e França. Mas nunca foi vendido para nenhum outro país. Com seu uso apenas pelas Forças Armadas da própria França, não tem ganho de escala e o custo tanto do produto quanto da manutenção é alto.
O F-18 Super Hornet, dos EUA, é considerado o melhor avião, produto de um país que investe dez vezes mais que a França e cem vezes mais que a Suécia em equipamentos de defesa. Mas é também tido como o pior pacote: por mais que o governo norte-americano e a Boeing se esgoelem prometendo transferência de tecnologia, não há viv'alma em Brasília que acredite.
No caso do Gripen NG, sueco, ocorre o oposto: é apontado por setores militares e empresariais (inclusive a maior interessada, a Embraer) como o melhor pacote, com bom preço e transferência direta de tecnologia pelo sistema "aprender fazendo", de parcerias diretas desde o projeto. Mas ele causa desconfianças como produto, pois não saiu do papel, é monomotor e tem partes inclusive dos EUA.
A FAB fez uma avaliação rigorosa e detalhada, mas técnica. A decisão é de Lula, política. Ele deve ensaiar bem, não só para evitar falar besteira, como para justificar a opção como melhor para o Brasil e os brasileiros. "Porque eu quero" não vale.

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ANCELMO GÓIS

Lula, o vetador

O GLOBO - 22/11/09


Levantamento da consultoria da Câmara mostra que a caneta de Lula tem mais tinta que a de FH em matéria de vetos de projetos oriundos do Parlamento.
É que o tucano, em oito anos, vetou, parcialmente ou totalmente, 287 projetos aprovados pelo Congresso. Já o petista não concluiu o sétimo ano e já vetou, pelos mesmos critérios, 295.

‘Teje preso’
O ex-banqueiro Salvatore Cacciola, preso desde 2007, terá, a partir de abril de 2010, o direito de progressão da pena.
Mas o que se diz no Judiciário é que este direito só virá a partir de outubro, por causa de “falha grave” apontada em sua ficha no sistema carcerário.

Ele se acha
Quinta, Jesus, não o Salvador, mas o namorado de Madonna, desembarcou em Nova York do vôo JJ 8082, da TAM, com um boné enterrado na cabeça, para, supostamente, não ser reconhecido pelos fãs americanos.

Aliás...
Semana passada, Jesus desembarcou no Rio, procedente da mesma Nova York, e foi recebido por uma escolta de quatro seguranças no Galeão.
Está se achando.

Parem as máquinas!
Decreto do então presidente em exercício José Alencar, dia 29 passado, confere ao município de Não Me Toque, RS, o título de “Capital Nacional da Agricultura de Precisão”.
Até o fechamento desta edição, Obama e Sarkozy não haviam se pronunciado sobre o alcance mundial da medida.

Acabou em samba
O grupo teatral Monte de Gente fez uma marchinha para Eike Batista.
Chama-se “Song for Eike”. Diz assim: “Ô Eike! Dá um dindim!/É o Tio Patinhas tupiniquim/Ô Eike! Dá um dindim!/Tá bom pra tu, mas tá ruim pra mim!”

O DOMINGO É de Maria Fernanda Cândido, 35 anos, que parece ainda mais bela depois da maternidade. A atriz voltará à telinha para interpretar seu primeiro personagem que existiu na vida real. Será Lurdes na minissérie “Dalva e Herivelto, uma canção de amor”, da TV Globo. Na história, o compositor Herivelto Martins (Fábio Assunção) se apaixona perdidamente pela aeromoça Lurdes e abandona Dalva de Oliveira (Adriana Esteves) e seu Trio de Ouro. Maria Fernanda também estará em “A princesa e o vagabundo”, especial de fim de ano da emissora. Viverá a rainha Valentina

Os negros ricos
Cresceu 75% nos últimos 15 anos o número de famílias chefiadas por negros no 1% mais rico da população: de 8,8%, em 1993, foi para 15,3%, em 2008.
Mas estas famílias ainda são muito mais numerosas entre os indigentes (73,3%). A conta é do economista André Urani, do Instituto de Estudos do Trabalho, com base na Pnad.

Zumbi tinha escravos
Na semana do Dia da Consciência Negra foi lançado pela editora portuguesa Leya o “Guia politicamente incorreto da História”, de Leandro Narloch.
O livro joga m... no ventilador de alguns personagens ilustres da nossa História, como Zumbi, que teria escravos

Tiro que segue...
Outros alvos do jornalista Narloch: Gilberto Freyre (“Admirava a Ku Klux Klan”), Machado de Assis (“Censor do Império”) e Santos Dumont (“O 14 Bis não voava: dava pulinhos”).
É. Pode ser.

ZONA FRANCA

Paulo Markun lança dia 8, na Travessa do Leblon, a biografia de Dom Álvar Núñez Cabeza de Vaca.

Hermann Baeta participou com Sepúlveda Pertence do Congresso Internacional Latino-Americano.

Kofi Annan faz palestra amanhã no Copacabana Palace. O coleguinha William Waack será o mediador.

Simetria Ortodontia faz 20 anos.

É hoje o Encontro Gastronômico Quintal Mineiro, em Vila Isabel.

Marcela Moura é convidada do Fest Internacional de Marrakech. A atriz é protagonista do filme francomarroquino “Fissures”.

Abre quarta no Atelier 319, no Leblon, exposição de Lelia Bergallo, João Carlos Moura e Lilyan Sampayo.

O filho de Nelson
Joffre Rodrigues, o diretor de cinema, filho de Nelson Rodrigues (foto), comprou os direitos de filmagem de “O anjo pornográfico”, biografia de seu pai, escrita por Ruy Castro.
A idéia é estrear em 2012, quando Nelson faria 100 anos.

Corpos na draga
Operários que fazem a dragagem do canal que margeia a Linha Vermelha, no Rio, encontraram, em dois meses de trabalho, além de muita lama e resíduos tóxicos, sete corpos, acredite.
Como a obra deve durar 12 meses, a expectativa é a pior.

Calma, madames
A instalação de uma escola na Rua Timóteo da Costa, no Leblon, no Rio, racha a sociedade leblonina entre os com filho pequeno e os sem filho.
Quinta, num salão de beleza, uma moradora a favor passava um abaixo-assinado e pediu às manicures, que vivem em Jacarepaguá, para aderirem. Por pouco o clima não pega fogo com protestos de outra cliente.

Serra da madrugada
Veja como a fama de notívago persegue José Serra.
A coleguinha Miriam Leitão acordou outro dia às 3h e entrou no Twitter para relatar sua insônia. Ato contínuo, um “tuiteiro” pôs o comentário: “Você acordou com insônia, e o Serra ainda nem disse boa noite.”

Lula, o filho de Aristides
Quem já viu “Lula, o filho do Brasil” saiu impressionado com a forma que o filme retrata o pai do presidente.
Seu Aristides da Silva, que morreu em 1978 como indigente, é um homem mau no longa.
Impacta a cena da chegada de surpresa de Lula com a mãe a São Paulo. O pai, irado, antes mesmo de perguntar da viagem, cobra por que a mulher tinha deixado em Pernambuco o cachorro Lobo.
No livro “Lula, o filho do Brasil”, de Denise Paraná, que inspirou o filme, o retrato do pai é também, no mínimo, de um truculento.
Em seu depoimento, Jaime Inácio da Silva, irmão de Lula, conta que convidou o pai para seu casamento, e ele respondeu: “Para você, eu tenho um tiro na cara.” Lula não chega a ser tão radical. Embora considere o velho Aristides um tirano que cuidava mais dos cachorros do que dos filhos, reconhece no pai um trabalhador que sempre procurou “garantir o feijão e o arroz para a família”.
Aliás, numa entrevista à revista “Época”, em 2002, Lula disse que perdoava o pai: “Valeu o espermatozoide que me gerou.” Em tempo: com a partida de dona Lindu e dos filhos, o cachorro Lobo, que tinha ficado com um tio de Lula, em Pernambuco, não parou de chorar, deixou de comer e morreu dias depois. Mas aí é outra história

O xodó do Japão pela MPB

A música brasileira faz, como se sabe, um tremendo sucesso no Japão. O mercado de trabalho para os artista brasileiros lá é enorme.

Mas veja só. Terça-feira passada, Gal Costa se apresentou na famosa casa de jazz Blue Note, em Nova York. Na plateia, havia mais japoneses do que americanos ou brasileiros.

Aliás, em dezembro agora, chega às livrarias japonesas, no idioma de Kurosawa, a grande biografia de Nara Leão escrita pelo jornalista Sérgio Cabral, pai.

BORIS FAUSTO

A censura na perspectiva histórica

O ESTADO DE SÃO PAULO - 22/11/09


No tempo da ditadura do Estado Novo (1939-1945), como se sabe, os jornais eram submetidos ao crivo dos censores e O Estado de S. Paulo foi confiscado pelo interventor federal. Relembrando esses tempos, em depoimento prestado ao repórter Noé Gertel, na Folha de S.Paulo de 10 de janeiro de 1979, nos últimos anos do regime militar, Hermínio Sacchetta dá bons exemplos das instruções da censura.

É preciso lembrar Sacchetta. Jornalista infatigável, militante comunista, rompeu com o Partidão em 1937, por discordar de sua linha política, e se tornou trotskista. Na entrevista, Sacchetta reproduz algumas "pérolas" da censura no curso de 1943. Nessa época, Getúlio Vargas abandonara o namoro com o nazi-fascismo, o Brasil rompera relações diplomáticas com os países do Eixo e entrara na 2ª Guerra Mundial, em agosto de 1942.

A atividade da censura, em qualquer circunstância, costuma ser chamada de incoerente, errática, mas é possível encontrar algumas linhas de coerência na sua ação. Naquela conjuntura, era evidente a preocupação do governo Vargas com o comunismo, muito embora a União Soviética integrasse, em primeiro plano, o grupo dos países que enfrentava o Eixo. Para começar, os censores não usavam a expressão "União Soviética", e sim "Rússia". Viviam-se os tempos em que a referência à União Soviética se associava aos feitos heroicos da guerra, combinados com a ilusão de que naquele país se gestavam os tempos radiosos da sociedade comunista. A designação "Rússia" simbolizava o despotismo, o atraso, as maquinações sinistras nos bastidores do poder.

A ação dos censores consistia em varrer das páginas dos jornais a existência da União Soviética e de personagens a ela vinculados. Curiosa atitude que, guardadas as proporções, lembra a iniciativa de Stalin e sua corte de apagar das fotografias e das imagens cinematográficas os líderes bolcheviques caídos em desgraça.

Ao longo dos meses, encontramos reiteradas determinações para que não se divulgassem fotos da guerra na Rússia e nada também sobre um possível reatamento de relações diplomáticas com o Brasil. A certa altura (maio de 1943) a censura, quase sempre mercurial, abranda. "Fotografias da Rússia: podem ser publicadas as que forem submetidas à censura; as legendas devem conter apenas as palavras Rússia, ou russos." Alvo constante eram as publicações da Editora Calvino, ligada ao PCB, sujeitas a estrito controle, a ponto de não lhe ser possível anunciar seus livros, mesmo os autorizados. No plano pessoal, os censores proibiram a divulgação da morte da mãe de Luís Carlos Prestes, Leocádia Prestes, certamente por lembrar a existência do filho, preso e condenado pelo Tribunal de Segurança Nacional.

No plano ideológico, há uma referência significativa sobre a natureza do regime estado-novista: (são) "proibidas quaisquer alusões ao regime brasileiro anterior a 10 de novembro de 1937, sem prejuízo de referências à democracia, pois o regime atual é também uma democracia." Notável jogo de palavras que veríamos ressurgir muitos anos depois, na época do regime militar. Embora no caso do Estado Novo houvesse intelectuais e outros personagens que teorizavam sobre as virtudes do regime autoritário, a palavra oficial - especialmente depois da definição no tocante ao conflito mundial - insistia em caracterizar o Brasil como uma democracia, adjetivada como "nova democracia", "democracia orgânica", lembrando, a nossos olhos, o general Geisel, que, mais prudente, falava em "democracia relativa".

Um das preocupações da censura era a Sociedade Amigos da América, fundada em janeiro de 1943 com o objetivo de apoiar a luta dos Aliados contra o Eixo e promover a democracia contra o totalitarismo. A sociedade, cujo presidente era o general positivista Manoel Rabelo, tornou-se um reduto da oposição. Em outubro daquele ano, os censores deram mostras de "ter perdido a paciência", com a associação: "Em caráter definitivo, não pode ser dado nada sobre a Sociedade Amigos da América, nem mesmo expressões parecidas ou relacionadas com esta."

Os tópicos poderiam ser multiplicados. Sacchetta assinala que pessoas com acesso aos meios governamentais conseguiam impedir notícias desabonadoras sobre membros de sua família, ou a realização de mágicas pelas quais um suicídio se convertia em colapso cardíaco. Muito curiosa a referência à propaganda do Urodonal, a princípio proibida e depois liberada (fevereiro de 1943). Qual a razão? Não sei. Sei apenas que o bordão do Urodonal dizia: "Alô, como se sente, rim doente? Tome Urodonal e viva contente."

Estamos a muitas léguas de distância do Estado Novo, no âmbito de um regime democrático em consolidação, com problemas bem conhecidos. A ameaça de um golpe de velho estilo pode ser descartada, embora esteja na cabeça do presidente Lula, como figura de péssima retórica, ao atribuir recentemente o escândalo do "mensalão" a uma armação golpista.

Nem por isso o País está livre das ameaças à liberdade de expressão. A mídia em geral e os jornais em particular são alvos da irritação dos governantes. Tentativas de formação de um Conselho Federal dos Jornalistas, a pretexto de introduzir normas éticas, fracassaram em passado recente. Agora, estão no ar iniciativas do governo para ampliar e reforçar a mídia estatal, que ninguém vê, como é o caso da TV Brasil.

Por sua vez, reportagens investigativas rompem silêncios, ocultações, manipulações dos detentores do poder, ou de representantes de grandes interesses corporativos. Por isso, quanto maior for o grau de corrupção no âmbito do estrato político e da sociedade, maiores serão as tentativas de intimidar a imprensa. O recente exemplo de censura por via judicial a este jornal não é, pois, um caso isolado.


Boris Fausto, historiador, presidente do Conselho Acadêmico do Grupo de Conjuntura Internacional (Gacint-USP), é autor, entre outros livros, de História do Brasil (Edusp)

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

MÍRIAM LEITÃO

Bloco dos sujos

O GLOBO - 22/11/09


Em dezembro, quando a delegação brasileira estiver em Copenhague, chefiada pela ministra Dilma Rousseff, o Brasil estará fazendo um leilão de energia, para 2015, em que devem sair vencedores três usinas a carvão importado, três usinas a carvão nacional e uma a gás natural liquefeito. Esse será apenas o sinal mais explícito, e em hora mais constrangedora, da opção brasileira por sujar a matriz

Como é possível andar na direção oposta da que se deveria andar? Simples.

Basta fazer um planejamento energético preso a ideias do passado.

— No Brasil só se pensa em barragem ou térmica a combustível fóssil. Isso porque o planejamento do setor energético brasileiro envelheceu.

Precisamos de um Plano Real na energia que faça o Brasil pensar de forma moderna sobre essa questão — diz Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Uma das características comuns nos dois últimos governos foi que a maior parte da nova capacidade instalada é de origem térmica, na maioria, fóssil. Confira nos dois gráficos abaixo enviados por Adriano Pires. Da energia nova contratada nos leilões de energia do governo Lula, 63% são de termelétricas e 37% de hidrelétricas. No outro gráfico, repare a divisão das térmicas: só 3% de biomassa, que é renovável. O resto é fóssil, mas alguns piores, como carvão mineral, que responde por 17%, e óleo combustível, 45%.

Que não fale o roto do rasgado. O governo do PSDB também privilegiou as térmicas.

É uma armadilha: toda a estrutura técnica do setor elétrico só consegue pensar em hidrelétricas.

Que são uma opção melhor, mas que terão cada vez mais dificuldade de ter licenças ambientais pelos danos que causam na hora da construção da usina e das linhas de transmissão. Como as grandes barragens também interessam aos políticos, a gestão politizada favorece isso também. A licença ambiental emperra, em muitos casos em obstáculos reais, e a segunda opção do setor é sempre fóssil.

— Não se pensa em usar todas as fontes que a natureza nos deu. Não se pensa que o Brasil é continental, e que a tendência agora é descentralizar, especializando por área: o Nordeste é mais propício a eólica, Rio e Espírito Santo, gás natural — o mais limpo dos fósseis — São Paulo tem muita biomassa do bagaço da cana — diz Adriano Pires.

Enquanto isso, a China, que tem abundante carvão barato, está procurando outras fontes. De 2004 a 2008, ela construiu o equivalente a uma Itaipu em energia eólica: 14 mil megawatts. A meta era chegar a 30 mil MW até 2020, mas o novo plano de revitalização da energia renovável aumentou para impressionantes 100 mil MW de energia eólica até 2020, porque a meta de 30 mil será alcançada em 2010. A China tem hoje a quarta maior capacidade instalada em energia do vento, depois dos Estados Unidos, Alemanha e Espanha.

A indústria chinesa de painéis para energia fotovoltaica (solar) já é a segunda do mundo, depois do Japão. O carvão, dominante em sua matriz, está provocando desastres.

Um deles: a chuva ácida cai em 30% das terras chinesas, destruindo safras e contaminando águas.

Há 15 anos o Brasil vem errando na área de energia.

Investe menos do que precisa, está ampliando a presença de energia fóssil, deixa o país sujeito aos apagões e ocupa o comando do setor com partidos políticos. O que mudou entre um governo e outro é o partido que recebe o quinhão elétrico. Era o então PFL no governo passado, é o PMDB no atual governo.

No Brasil a maneira como é feito o cálculo dos custos das novas fontes de energia faz com que elas estejam fora do leilão, sejam mais caras do que suas competidoras a combustível fóssil.

— Com o pré-sal, a tendência é aumentar, porque haverá maior oferta de petróleo aqui dentro — diz Adriano Pires.

O governo Fernando Henrique, segundo o estudo do CBIE, aumentou em 48% a capacidade instalada, de 54 mil para 80 mil MW. O governo Lula, na hipótese otimista, vai aumentar até o fim do mandato 43% da capacidade.

Os dois são equivalentes.

Nos dois governos, a nova energia é mais fóssil do que renovável. O governo Fernando Henrique começou a privatizar, depois parou, mas não deixava as estatais investirem. O governo Lula, sob o comando de Dilma, deu mais poderes às estatais.

Nos dois períodos, o Brasil fez escolhas erradas e que não levam em consideração um ponto fundamental: o mundo está mudando.

Na nova versão Dilma-baixaemissão, que interpreta atualmente, a ministra terá o constrangimento de estar lá em Copenhague dizendo que o Brasil se compromete com metas de redução das emissões, enquanto aqui o modelo energético, do qual ela é uma das inspiradoras, estará contratando as mais sujas das opções de energia.

PAINEL DA FOLHA

Lula-dependente

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 22/11/09


Pesquisas recém-saídas do forno acenderam luz amarela no PT ao mensurar o peso da figura de Lula na avaliação positiva do governo. Em resumo, cerca de um terço dos entrevistados considera o presidente o único responsável pelos sucessos da administração, do Bolsa Família à superação da crise econômica. "Ele é maior que o partido, que a candidata, que a aliança que a gente está construindo e que o governo de forma geral", reconhece um petista diretamente envolvido na preparação da campanha de Dilma Rousseff.
Na avaliação do petista, a superação desse quadro de dependência tem como pré-requisito uma vitória folgada de José Eduardo Dutra na eleição interna do partido, hoje. Algo que se aproxime de 60% dos votos.


Roadshow. Cotada para substituir Dilma na Casa Civil a partir de abril, Miriam Belchior viaja nesta semana a Madri para apresentar o "Minha Casa, Minha Vida" a investidores espanhóis.

Acesso. Quem frequenta o núcleo do governo sabe: Miriam é das poucas auxiliares que não precisa bater à porta para entrar na sala de Lula.

Mãe é mãe. No próximo sábado, quando ocorrerá a pré-estreia de "Lula, o Filho do Brasil" em São Bernardo, o prefeito Luiz Marinho (PT) pretende levar o presidente à inauguração de uma casa assistencial para crianças que se chamará Dona Lindu.

Gasolina. De um cardeal do DEM, sobre a simultaneidade entre a ofensiva dos Maias contra José Serra e o namoro público de Aécio Neves com Ciro Gomes: "O Aécio e o Rodrigo se juntaram numa roda de adolescentes e resolveram tocar fogo no circo".

Pirata. Os comerciais de Paulo Skaf na TV, "by" Duda Mendonça, trazem o slogan "PSB, a favor do Brasil". Apenas uma letra de diferença para "PSDB, a favor do Brasil", usado há anos nas inserções tucanas em São Paulo.

Sacolinha. Além da CUT, deputados de vários partidos abriram conta para arrecadar recursos destinados à colega Luiza Erundina (PSB), condenada a pagar R$ 353 mil ao município de São Paulo. Também criaram um blog em apoio à ex-prefeita: www.amigosdaerundina.com.br

A calhar. A frente parlamentar de Defesa do Programa Nuclear Brasileiro debaterá o tema na Câmara nesta terça, dia seguinte à passagem do iraniano Mahmoud Ahmadinejad pelo Congresso.

Je ne parle... A Polícia Federal demorou a decifrar o conteúdo do computador encontrado em 2007 no apartamento em que morava Cesare Battisti, em Copacabana. No processo a que o terrorista responde na Justiça Federal brasileira, por uso de passaportes falsos, consta a explicação: os peritos não sabiam francês, o idioma em que as mensagens estavam escritas.

...pas français. Em contrapartida, os investigadores da PF não tiveram nenhuma dificuldade em reportar ao juiz o resultado da perícia feita nos DVDs apreendidos na operação. Eram filmes pornôs, com títulos como "Duas horas de sexo hardcore", "Fugindo do papai" e "Histórias sexuais arrepiantes".

Tudo falso. No depoimento que deu à polícia ao ser indiciado, em junho de 2007, Battisti disse que, além de passaportes falsos ganhos de um "agente da polícia francesa" (pelos quais o terrorista responde a processo no Brasil), recebeu "de um cidadão francês" uma carteira de motorista -forjada também.

Cabo de guerra. A proximidade da Confecom (Conferência Nacional de Comunicação) dá visibilidade às divergências entre a Secom (Franklin Martins) e o Ministério das Comunicações (Hélio Costa). Este, alinhado às empresas, bombardeia a proposta de distribuição equitativa de canais digitais entre os setores privado, estatal e público, bandeira da Secom.

Calendário. Inicialmente marcada para o início de dezembro, a Confecom acontecerá agora entre os dias 14 e 17, de modo a permitir que Lula participe da abertura.

com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"Se Dilma imprimir o estilo dela, vai sobrar carão pra todo mundo".
Do senador JOSÉ AGRIPINO(DEM-RN) em resposta a Lula, segundo quem a ministra, se eleita,"iria apenas colocar o estilo dela no governo e fazer as coisas novas que não conseguimos fazer".

Contraponto

Obrigado, doutor


José Serra e o secretário estadual do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, encontraram-se na noite de domingo passado no elevador da Sala São Paulo, onde ocorreria a cerimônia de entrega do Troféu Raça Negra. Entre um espirro e outro, o ex-governador contou que estava com sintomas de gripe.
-Tenho um remédio homeopático que é ótimo!- apressou-se em receitar Serra.
Alckmin, anestesista de formação, coçou o queixo e rebateu a sugestão com bom humor:
-Agora você é que é o médico...

PAU DE GALINHEIRO

MERVAL PEREIRA

Sem terceira via

O GLOBO - 22/11/09


Ao procurar entender o que aconteceu nas eleições de 2006, trabalho coordenado pelo cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC do Rio, publicado na edição de novembro da revista “Alceu”, pode ser útil aos debates sobre as próximas eleições presidenciais. Várias questões são levantadas ao se analisar as últimas eleições, mas as duas centrais no debate político atual são:

As eleições de 2010 serão polarizadas, como em 2006, ou desta vez terão um caráter plebiscitário? Haveria chance para uma terceira via? Começando pela possibilidade de haver uma terceira via que se contraponha à polarização entre PT-PSDB, o trabalho da equipe da PUC do Rio mostra que, até agora ela, não mostrou a sua viabilidade, pois não se observa nada em comum, do ponto de vista eleitoral ou geográfico, entre os terceiros colocados nas eleições anteriores: Brizola (1989), Enéas (1994), Ciro (1998), Garotinho (2002) e Heloísa Helena (2006).

A candidata do Partido Verde (PV), senadora Marina Silva, poderia vir a ser uma terceira via, na análise de Romero Jacob, se fosse adotada pelos evangélicos pentecostais, sendo ela evangélica.

Nesse caso poderia crescer na periferia, um dos três vetores das “estruturas de poder” identificadas no trabalho: as oligarquias nos grotões, os pastores pentecostais e os políticos populistas na periferia e a classe média urbana escolarizada.

Mas, ressalva Romero Jacob, ela nunca fez política usando a religião. “Não acredito na chance de ela vir a ter um desempenho expressivo a ponto de se impor por causa do discurso ambientalista”, diz ele.

Em contrapartida, a senadora Marina Silva teria muita dificuldade de ter voto no interior do país, onde os ruralistas têm muita força. Na classe média urbana, Marina pode tanto tirar voto do governador José Serra quanto de Lula, por razões diferentes, analisa Romero Jacob.

“O discurso dela será no sentido de que tanto PT quanto PSDB são faces da mesma moeda, a social-democracia produtivista, que não está preocupada com o meio-ambiente”.

Não é à toa, portanto, que tanto o governo federal quanto o governador de São Paulo estão se interessando pelo assunto.

Ela pode pegar os eleitores que em 2006 não votaram no Lula no primeiro turno, ou então aquelas petistas que acreditavam que o Lula faria um governo socialista, e não social-democrata.

Romero Jacob lembra que as oligarquias estão presentes em tudo. “Se o Lula tem o Sarney, o Renan Calheiros e o Collor, e o Serra tem o Quércia, o PV tem o Zequinha Sarney”.

Isso demonstraria que, do ponto de vista da estratégia política, não há mais diferença para se chegar ao poder.

Romero Jacob adverte que “nunca tivemos uma experiência de transferência de votos para presidente da República”, o que ressalta o fato de que, além dos apoios nesses setores da sociedade que definem o voto, o candidato tem que ter carisma, história política, e conseguir unir os partidos em torno de si.

Ao mesmo tempo, não há mais espaço, na opinião de Jacob, para o surgimento de uma candidatura individual como a do Collor. Segundo ele, Collor e Lula só se destacaram em 1989 por que a eleição não era casada.

“A máquina do PMDB não trabalhou para o Ulysses Guimarães e a do PFL não trabalhou para o Aureliano Chaves. Em condições normais, a máquina desses dois partidos iria trabalhar”.

Em 2006, Lula cai no Sul, o que significa, para Romero Jacob, que ele perde também em função do bolso, assim como cresceu no Norte e Nordeste por causa do Bolsa-Família: “Não é à toa que o câmbio está na ordem do dia, e esse é um fenômeno que está se repetindo agora”, analisa, se referindo aos exportadores que estão sendo afetados pela desvalorização do dólar.

Lula perde votação no Sul/ Centro-Oeste e sobe muito no Norte-Nordeste; Geraldo Alckmin é o contrário. Quando se comparam os mapas eleitorais dos dois, é o inverso. Alckmim perde três milhões de votos no segundo turno em 2006, e o mapa dos votos mostra que ele cai em Minas Gerais em todas as regiões, e em São Paulo só cresce na capital.

“Ele foi cristianizado pelo seu partido”, comenta Romero Jacob.

Em 2002, Garotinho, com um discurso mais à esquerda do Lula, que àquela altura era um moderado, poderia tomar o seu eleitorado, mas na verdade roubou o eleitorado do Serra.

Fernando Henrique havia tido 53% em 1998, e Serra cai para 23%. Lula sobe de 32% para 46%, crescendo enormemente no Tocantins, por exemplo. Aí já são as oligarquias trabalhando para ele, analisa Romero Jacob.

E cresce também Garotinho, cujo percentual de votação se aproxima muito do tamanho dos evangélicos no Brasil. Um estudo sobre as religiões feito pelo grupo de Romero Jacob na PUC do Rio mostra claramente que no entorno das capitais, nos cinturões de miséria, os pastores evangélicos pentecostais têm uma força muito grande.

Romero Jacob ressalta que o mapa eleitoral do Garotinho “é muito parecido com o mapa dos evangélicos pentecostais e com o mapa das repetidoras da Rede Record de televisão”.

Quanto à polarização, todas as eleições são polarizadas desde 1994, entre PT e PSDB, e, para Jacob, esta não será diferente, embora não acredite que venha a ser plebiscitária. Existe uma questão anterior: essa polarização PT-PSDB advém do fato de que, tendo São Paulo aproximadamente 1/3 do PIB e 1/4 do eleitorado, é fundamental ter voto no estado.

Porém, São Paulo é condição necessária, mas não suficiente, adverte. Por isso, é preciso fazer alianças. Estão em jogo muitos cargos, e é aí que entra em campo a máquina num interior que representa 46% do eleitorado.

E o tempo de propaganda eleitoral no rádio e TV.

Para o cientista político da PUC Cesar Romero Jacob, só depois de junho, quando todos os acordos forem feitos e as máquinas estiverem azeitadas para entrar em funcionamento, é que vamos ver o cacife de cada um.

DIRETO DA FONTE

Sonia Racy

O ESTADO DE SÃO PAULO - 22/11/09


Há cinco anos, grupo de cantores amadores se apresentam para levantar fundos destinados à Associação Aquarela, que cuida de jovens e crianças das comunidades carentes do Jaguaré. São empresários, médicos, jornalistas e publicitários que mostram seus dotes musicais no Cantores do Bem, organizado por Silvio Bentes, presidente da Aquarela. Entre os mais assíduos estão os executivos de bancos e tenores esforçados Dado Foz, José Roberto Curan e o advogado Horácio Bernardes. O evento acontece dia 1º, no Trivento.

Mamãe eu quero
Lenny Niemeyer, a rainha das festas do Rio, fechará em alto astral o desfile de 2010 da Unidos do Porto da Pedra, cujo tema é a moda brasileira.
Atrás das alas carnavalescas de grifes como Osklen, Herchcovitch e Alex Lima, ela comandará uma festa gigante do alto de carro alegórico onde convidados se divertem olhando um bando de seguranças, no chão, barrando... os penetras que querem subir.

Ééé... do Brasiil!!!
Gilmar Mendes foi testemunha. Corria tranquilo um casamento coletivo de cerca de 100 casais, em Laranjal do Jari, no Amapá - o antigo Beiradão do Projeto Jari -, quando, na hora da Marcha Nupcial, o DJ trocou de botão e entrou... o Hino Nacional.
O juiz itinerante que comandava a cena não perdeu a pose nem a piada. Depois de terminar o ritual, comentou: "A noiva tem de ser muito feia para casar em nome da Pátria".

Alta costura
Rubens Barbosa embarca segunda para Washington, onde participa de encontro sobre economia e integração no continente, organizado pelo Woodrow Wilson International Center.
E tem encontro marcado com o novo nome do State Department para as Américas, Arturo Valenzuela, e com o futuro embaixador no Brasil, Thomas Shannon.

Sangue do Sul
Tom Wolfe tem deixado Nova York com frequência, nos últimos tempos, para ir passear em Miami.
Está conhecendo lugares e juntando material para Back to Blood (Volta ao Sangue), seu próximo livro, a ser lançado em meados de 2010.
Em que vai tratar do drama dos imigrantes e minorias no Sul dos Estados Unidos.

Baiacu no Tejo
Não é piada: a Cúpula de Países Amazônicos, dia 26, em Manaus, pode ir parar... no Estoril. É que os presidentes da região querem aproveitar a viagem a Portugal, dia 30, para outro encontro, a 19° Cimeira Ibero-Americana.
Sarkozy, convidado por Lula, aprova. Mas o Planalto resiste: não gosta da ideia de uma foto de reunião amazônica com videiras ao fundo.


Responsabilidade Social


Termina dia 30 o prazo de inscrições para o Programa Ecomudança. Criado pelo Itaú Unibanco, destina-se a projetos que contribuam para reduzir o aquecimento global.

Acontece dia 28, no São Francisco Golf Club, o Leilão da Inclusão. Em benefício da CrediPaz, entidade inspirada no projeto do Nobel da Paz Muhammad Yunus.

Para comemorar os 10 anos do Sou da Paz, foram convidados os mesmos artistas que estamparam a 1ª campanha do instituto. Entre eles, Marieta Severo, Serginho Groisman e Carolina Ferraz.

Para combater a malária em Porto Velho, a Santo Antônio Energia vai instalar 14.651 mosquiteiros nas residências de 3.500 famílias.
Kiko Parente pilota coquetel beneficente de Natal, com doação de brinquedos para a Apae e Instituto Pró-Queimados. Terça, no Spazio Gastronômico.

Será o GRAACC o beneficiado com a campanha Manobra da Alegria, organizada pelo Sindepark. A entidade receberá 20% do faturamento obtido, terça, nos 15 estacionamentos da rede Maxipark.

O Pão de Açúcar vai ajudar a AACD neste Natal. Destinando parte da venda de panetones de fabricação própria.

A Fundação Telefônica realiza, terça, na Sala São Paulo, a premiação do 5º Concurso Causos do ECA. A promoção reúne relatos de situações em que o Estatuto da Criança e do Adolescente provocou mudança na vida de cidadãos.

Em parceria com a Esalq/USP, o empresário Cristiano Ribeiro do Valle, da Tora Brasil, dá início ao projeto Árvores Urbanas. A ideia é recuperar as árvores existentes na Al. Gabriel Monteiro da Silva, nos Jardins.