domingo, novembro 22, 2009

FERNANDO CALAZANS

A qualquer custo

O GLOBO - 22/11/09

A gente fica procurando coisa para elogiar. Eu fico procurando. Outra dia, encontrei. A fase atual do Fluminense, sua epopeia para se salvar no Campeonato Brasileiro, para se consagrar na Copa Sul-Americana. Dei sorte, deu certo. Mais uma vez o Fluminense se superou, reagiu, virou o jogo no fim contra o time violento e acafajestado do Cerro Porteño, que partiu para a agressão gratuita.


Eis então que, no mesmo jogo em que o Fluminense fez bonito, o juiz chileno Carlos Chandia, para ser moderninho como quer parte da crítica (inclusive a de arbitragem), permitiu toda sorte de violências dos paraguaios, conduzindo o jogo para aquele final de pancadaria.
É, por sinal, o fim possível de jogos apitados no estilo “deixa pra lá”, “deixa o jogo correr”. É como anda, por exemplo, a arbitragem na América do Sul, bem no estilo da cartolagem da Conmebol.


E o que mais tivemos, além da beleza das torcidas de Fluminense, de Flamengo, de Vasco, de Atlético Mineiro, entre outras?
Tivemos as agressões dos jogadores do Cerro aos jogadores do Fluminense, ao preparador físico e até ao gandula. Tivemos jogadores do São Paulo quase chegando às vias de fato e tivemos jogadores do Palmeiras chegando mesmo a elas, contra companheiros de time.
Tivemos uma França se classificando para a Copa do Mundo em detrimento da Irlanda, com um gol de trapaça praticada por Thierry Henry. Tivemos a Uefa denunciando a provável manipulação de 200 jogos – 200 jogos em 2009! – por quadrilhas do setor de apostas na Europa. Tivemos mais o quê mesmo?


É o futebol caminhando para... Quem tem uma certa capacidade de interpretação daquilo que vê e daquilo que acompanha já desconfia que não é para um lugar muito salubre que o futebol está caminhando.
Mas não basta saber fazer análises táticas, análises técnicas e análises de resultado, do tipo quem ganhou é bom, quem perdeu é ruim. Não basta.


O professor Luiz Gonzaga Belluzzo não anda em fase muito boa para dar exemplo, mas diz algo importante em texto no blog de Juca Kfouri. Peço licença aos dois para transcrever:
“O que eu disse a respeito das práticas tanto nativas quanto europeias – manipulação de resultados e arranjos espúrios – é de conhecimento geral e decorre em boa medida do caráter corruptor da ‘vitória a qualquer custo‘, valor típico da sociedade contemporânea baseada na concorrência sem quartel e sem limites...”


O que eu gosto é desse “vitória a qualquer custo, valor típico da sociedade contemporânea”.
Digo eu: valor típico, por consequência, do futebol contemporâneo, seja em seus recursos ilícitos fora de campo, como os citados pelo professor do Palmeiras (o presidente, não o técnico), seja em seus recursos ilícitos dentro do campo, recursos como os utilizados por jogadores violentos e técnicos especializados em rodízio de faltas, que são a maioria.


Elogiar é bem mais cômodo do que criticar. É uma das coisas de que a tal sociedade contemporânea não gosta: questionamentos. Por isso, a quantidade de internautas que se queixam da crítica chata, atenta, contumaz. Não faz mal. É preferível isso a achar que vai tudo muito bem, é preferível isso a ser alienado ou bobo alegre.


Outra coisa a se elogiar (ainda bem) é o livro “Os dez mais do Botafogo” de Paulo Marcelo Sampaio, mais um lançamento da Editora Maquinária, amanhã, a partir das 18 horas, na Saraiva do Botafogo Praia Shopping.
Vejam só o elenco de astros do livro: Heleno de Freitas, Nílton Santos, Garrincha, Zagallo, Didi, Túlio Maravilha, Manga, Gérson, Jairzinho, Paulo César. Uma verdadeira seleção brasileira.

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