sexta-feira, fevereiro 12, 2010

WASHINGTON NOVAES

Becos escuros da violência


O Estado de S. Paulo - 12/02/2010

Anuncia o Departamento Penitenciário Nacional, do Ministério da Justiça (1º/2/10) que nas próximas semanas transferirá para o Centro-Oeste 156 presidiários, dos quais 53 para Goiás e os restantes para Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal. São detentos que aguardam julgamento em prisões distantes das regiões onde os crimes foram cometidos. Parece temerário. No mesmo dia desse comunicado, os jornais de Goiânia publicaram relatório sobre o maior complexo prisional do Estado, na capital, onde 1.500 detentos vivem entre entulhos, esgotos a céu aberto, sem atendimento à saúde, com suas "relações íntimas" em barracas de tecido num pátio de terra batida, a rotina definida por eles mesmos, alguns até comerciando alimentos e produtos de higiene (quando não drogas) e desfrutando televisões e freezers, enquanto os recém-chegados ficam amontoados em "corrós", à espera de que os outros detentos definam para onde irão, depois de verificar se não têm inimizades entre os demais ocupantes. Tudo isso é parte do relatório do promotor Haroldo Caetano da Silva, que há mais de dez anos já permaneceu como refém numa rebelião naquele mesmo presídio.

Não chega a surpreender. Em maio do ano passado, uma inspeção do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária já declarara (O Popular, 12/5/2009), após visita ao mesmo complexo, a "falência do sistema prisional". E o Ministério da Justiça colocara Goiás entre os cinco Estados que maior aumento de homicídios registraram entre 2007 e 2008, embora o governo estadual aplique quase R$ 1 bilhão por ano na área. Ainda assim, 30% dos homicídios em Goiânia permanecem sem solução.

É inevitável que a memória relembre 1982, quando o autor destas linhas se mudou para a capital goiana, a fim de dirigir o jornal Diário da Manhã. E ali, na reunião diária com os editores, no começo da tarde, repetia-se todos os dias a mesma cena, quando se via que a pré-diagramação reservara meia página para o noticiário policial. O editor da área dizia invariavelmente a mesma frase: "Eu não tenho notícias para preencher meia página." Hoje, provavelmente diria que seria necessário o espaço todo do jornal e ainda ficariam notícias de fora.

Mas Goiás não é exceção nesse quadro da violência e dos dramas prisionais. São Paulo mesmo, embora venha baixando o número de homicídios desde 1999 - quando foram 12.818, para 4.426 em 2008 -, ainda tem uma taxa de homicídios (11 por 100 mil habitantes) que o inclui na "zona epidêmica de homicídios" (acima de 10 por 100 mil), assim definida pela Organização Mundial de Saúde (Estado, 13/7/2009). E o mais grave continua sendo a incidência brutal desses crimes entre jovens de 15 a 24 anos no País. Em 2008 foram 27 mil, um quarto dos 106.848 óbitos (89 mil homens, 17 mil mulheres) que tiveram como causa homicídios e suicídios; 77,2% dos jovens morreram assim. Não é tudo. Entre jovens negros, o risco de ser assassinado é 2,7 vezes maior do que entre os jovens brancos - a quase totalidade deles no Rio de Janeiro, relacionados com o tráfico de drogas em mais de mil favelas. Não estranha, já que a taxa de desemprego entre jovens de 16 a 20 anos passou de 7% em 1987 para mais de 20% em 2007; e de 5% para 11% dos 21 aos 29 anos. Nesse ano de 2007, os 4,8 milhões de jovens sem emprego representavam 60,7% do total de desempregados, segundo o Ipea (O Globo, 20/1). Que iriam eles fazer? Esperar sentados na porta da casa que o emprego aparecesse? Ou aderir às possibilidades fora da lei?

Até 2012, diz o Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 32,4 mil jovens serão mortos em 267 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes - 13 mortos por dia (Estado, 22/7/2009). O pesquisador Daniel Cerqueira, do Ipea, que investiga o campo da violência, cita dados do Ministério da Saúde para concluir que, entre 1979 e 2008, 1 milhão de pessoas terão morrido por causa da violência no País.

Nesse quadro amplo e assustador, os estabelecimentos penitenciários deveriam ter papel relevante. Mas, com poucas e honrosas exceções de presídios onde os internos têm chance de aprender uma profissão, exercê-la e até formar um pequeno pecúlio, as prisões acabam sendo não lugares de recuperação, e sim escolas de aperfeiçoamento no crime, como registram os jornais todo dia. E isso representa o não-cumprimento de vários direitos. Da sociedade, que paga - e caro - pela manutenção desses estabelecimentos e tem o direito de esperar que os egressos tenham condições de se reintegrar à vida social; dos detentos que não querem integrar-se aos esquemas criminosos vigentes na prisão - mas não têm opção, embora sejam portadores de direitos.

Em setembro último, a I Conferência Nacional de Segurança Pública reuniu 3 mil participantes, dos governos federal, estaduais e municipais, além de representantes da "sociedade civil", após 1.140 conferências preliminares em 540 cidades e debates pela internet dos quais participaram mais de meio milhão de pessoas. Ali se discutiram 26 "princípios" e 364 "diretrizes" - e ao final foram aprovados 10 "princípios" e 40 "diretrizes". Mas, segundo este jornal (1º/9/2009, A3), "o resultado final é um conjunto de platitudes, palavras de ordem e reivindicações corporativas". A tal ponto que a "diretriz" mais votada pede à Câmara dos Deputados que aprove a proposta de emenda constitucional que transforma os agentes penitenciários em agentes policiais - que pode resolver a questão salarial, mas pouco ou nada influirá na crise da segurança pública. Quanto à política de segurança, decidiu-se que ela deve "ser pautada na intersetorialidade, na transversalidade e na integração sistêmica com políticas sociais". Belas palavras, belas intenções. Mas sem efeitos práticos imediatos.

A continuar assim, não apenas os jornais goianos terão de dedicar seu espaço todo ao noticiário policial.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

A exoneração do general

O Estado de S. Paulo - 12/02/2010

A exoneração do general Maynard Marques de Santa Rosa, da chefia do Departamento-Geral de Pessoal do Exército, foi decisão do ministro Nelson Jobim, prontamente apoiada pelo comandante em chefe das Forças Armadas, o presidente da República. Confirmou-se, assim, que foi alcançado um dos objetivos que levaram à criação do Ministério da Defesa: a subordinação dos militares ao Poder Civil, ínsita ao Estado Democrático de Direito.

O general cometeu uma transgressão disciplinar, ao manifestar-se sobre uma questão política - o que a lei veda aos militares. Em carta que depois de circular pela internet teve trechos publicados pela Folha de S.Paulo, o general Santa Rosa criticou a Comissão da Verdade, que o governo federal pretende criar para investigar violações de direitos humanos durante o regime militar. O general classificou-a como "comissão da calúnia", dizendo que será composta por "fanáticos que, no passado recente, adotaram o terrorismo, o sequestro de inocentes e o assalto a bancos, como meio de combate ao regime para alcançar o poder".

O incidente é mais um subproduto do Decreto nº 7.037, de 21 de dezembro, que aprovou o 3º Programa Nacional dos Direitos Humanos, provocando, com inédita intensidade, a rejeição de diversos setores da sociedade - militares, juristas, magistrados, produtores rurais, ambientalistas, religiosos, jornalistas, etc. É que, na mixórdia de suas 521 "diretrizes", o decreto postula a proibição da exibição de símbolos religiosos nos espaços públicos, a exigência de "audiência coletiva" prévia às concessões de liminares de reintegração de posse, o controle da imprensa por uma comissão governamental encarregada de colocar os veículos de comunicação num "ranking"- de obediência aos "direitos humanos", a descriminalização do aborto, o casamento de homossexuais, a exigência de aprovação de comissões sindicais para as licenças ambientais - e outras extravagâncias. Essas ideias estapafúrdias foram geradas em um dos "fóruns sociais" com os quais certos setores do petismo radical pretendem implantar uma forma de democracia direta no País, e aos quais o governo do presidente Lula tem dado foros de respeitabilidade. Na parte relativa às investigações das violações dos direitos humanos, no regime militar, o sectarismo do texto original era tão flagrante que o presidente Lula concordou em alterá-lo. Cedeu, afinal, à forte reação dos militares, que o ministro Jobim soube represar, para que não se transformasse em indisciplina. O caráter nitidamente revanchista da proposta foi atenuado, mas isso, obviamente, não satisfez a todos, como ficou evidente pela descabida reação do general Santa Rosa.

O que continua perturbando certos setores militares, e também parcelas ponderáveis da sociedade civil, não é a possibilidade de mudanças na lei da anistia - risco que parece afastado, no momento -, mas a forma como o governo cuidou da instituição da chamada "Comissão da Verdade". Ninguém negará a importância, para os brasileiros, de conhecer em detalhes aqueles períodos conturbados de sua história - o que acabará acontecendo, mais cedo ou mais tarde. Mas, se seu objetivo fosse apenas a real apuração histórica, o governo não deveria ter permitido que a iniciativa fosse marcada por forte viés ideológico e indisfarçável laivo de revanchismo. Poderia, por exemplo, delegar essa investigação para universidades de elevada reputação, que estivessem isentas das paixões e do oportunismo político no exame aprofundado do importante tema.

Deste episódio se extrai uma constatação positiva. Se houve despautérios e provocações eles não partiram da caserna. Os militares reagiram sempre com serenidade e ponderação, transmitindo suas insatisfações, quando foi o caso, pelos canais próprios, de tal forma que não se pode dizer que tenham representado, em qualquer momento, ameaça à normalidade institucional ou mesmo um fator de constrangimento para o governo. A atual geração de militares está plenamente consciente do papel que as Forças Armadas exercem numa democracia. Atitudes como a do general Santa Rosa são pessoais e excepcionais.

JOÃO MELLÃO NETO

Prezada dona Dilma


O Estado de S. Paulo - 12/02/2010

Tempos atrás, aqui mesmo, neste Espaço Aberto, comparei a senhora, com as ideias antiquadas que defende, a um DKW - aquele automóvel que foi fabricado no Brasil no início da década de 1960. Recebi numerosos e-mails reclamando que eu estava sendo injusto. Injusto com o DKW. Pois é. O carro deixou uma boa impressão, o que - perdoe-me o mau jeito - parece muito não ser o seu caso. Estive vasculhando as minhas memórias e constatei que o DKW é muito moderno para a senhora. A comparação adequada seria com um Ford 1929. E, ao afirmar isso, espero que ninguém reclame do fato de eu estar cometendo outra injustiça.

É Ford 1929, mesmo. Foi naquela época em que ele estava sendo fabricado que um sujeito chamado Benito Mussolini fazia sucesso com o lema: "Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado." Joseph Stalin e outros contemporâneos também não pensavam muito diferente disso. Poderíamos agraciar cada um deles com um Ford da época. Ou com uma Mercedes-Benz 770. A senhora sabia que esses personagens históricos já defendiam a ideia de um "Estado forte" - que é o cerne de sua plataforma política - naqueles tempos?

Li, se não me, engano, na revista Veja, que o bordão que o Duda Mendonça apresentou para a sua campanha eleitoral é baseado naquela música do Zeca Pagodinho: "Deixa a Dilma me levar; Dilma leva eu..." Com todo o respeito, dona Dilma, levar para onde? Dá calafrios só de pensar.

Por falar em Duda Mendonça, cabe a pergunta: vocês o reabilitaram? Vão pagar a campanha com dólares depositados nas Bahamas, como ele gosta? Isso é proibido, dona Dilma. A senhora sabia?

Li, creio que na mesma revista, que quem está articulando a sua campanha nos diversos Estados é ninguém menos que José Dirceu. É, ele mesmo. Ele já foi ministro-chefe da Casa Civil, o mesmo cargo que a senhora ocupa. Também foi reabilitado? E aquela história do "mensalão" como é que fica? Segundo a malvada da imprensa, ele era o grande articulador do esquema. Deixa pra lá. Isso também deve ser "intriga da oposição", não é verdade?

Por falar nisso, por que será que a "mídia" implica tanto com a senhora? Está em seus planos criar um "órgão controlador do conteúdo da imprensa"? A federação dos jornalistas - à qual não sou filiado - já apresentou uma proposta nesse sentido. A senhora concorda?

A pergunta é pertinente. Um dia destes - quando o Hugo Chávez, da Venezuela, cassou a concessão de seis emissoras de televisão a cabo - questionaram se a senhora concordava com tal medida. E, dona Dilma, a senhora respondeu de forma evasiva. Disse algo como: "Quem sou eu para julgar..." A senhora não tem opinião formada sobre o assunto? Assim vai mal...

Mudando de assunto, esse negócio de "Estado forte" que a senhora defende me lembra os tempos do general Ernesto Geisel. Se a senhora não se lembra, foi aquele presidente do Brasil, na década de 1970, que tão somente fechou o Congresso por alguns dias e baixou várias medidas políticas arbitrárias que ficaram conhecidas como "pacote de abril". Entre elas, vale destacar, foi criada a triste figura do "senador biônico".

Pois bem, o presidente Geisel vivia dizendo que a economia brasileira estava apoiada em três pés: o Estado, o capital estrangeiro e a iniciativa privada nacional. Não era bem assim, na prática. Durante o governo do dito cujo foram criadas quase 400 empresas estatais. E a maioria esmagadora dava prejuízo, sangrando o Tesouro Nacional. Paciência. Segundo ele, o Estado deveria suprir, na economia, todas as lacunas deixadas pela iniciativa privada. Era melhor para a Nação que o estatismo prevalecesse do que entregar a área ao capital estrangeiro.

Quase tudo nos tempos de Geisel era propriedade do Estado. Surgiu até um neologismo para designar a nova elite que tomara o poder: tecnocracia, mistura de burocracia com conhecimento técnico. E os tecnocratas bem que abusavam. Conheci um sujeito, na época, que trabalhava na companhia telefônica estatal de São Paulo. Ele me contou, orgulhoso, que fora transferido para o "Departamento de Esportes" da empresa. Na prática, ele não precisava fazer mais nada... E o salário, que não era baixo, pingava, com certeza, todos os meses. É esse tipo de "Estado forte" que a senhora prega? Não é isso? O Estado musculoso que a senhora deseja seria, por acaso, de uma modalidade "diferente"?

Deu um trabalho enorme desmontar toda a estrutura estatal criada no País. E foi muito bom. Como lembra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em artigo publicado nesta página do Estadão no último domingo, a Companhia Vale do Rio Doce, depois de privatizada, contribui com impostos muito mais do que rendia em dividendos quando era estatal. Não é o único caso. E tampouco há de ser o último...

Pois o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde que assumiu o poder, não mais privatizou nenhuma empresa. Ao contrário, ele prega um Estado maior e para tanto tratou de capitalizar o Banco do Brasil, o BNDES e tudo mais que é estatal.

Segundo ele, a crise internacional aqui, no Brasil, só se configurou como uma "marolinha" porque o seu governo salvou o sistema financeiro nacional da quebradeira geral. Não é bem verdade. As finanças nacionais não se envolveram na especulação geral porque aqui, depois das quebras monumentais de bancos brasileiros na década de 1990, o sistema se tornou bastante regulamentado e os bancos, capitalizados. Isso se deve, em boa parte, ao seu antecessor, Fernando Henrique...

Tenha santa paciência, dona Dilma, Estado agigantado existe um só: é do tipo que reinou por aqui na década de 1970. A senhora sonha com um Estado sarado. Pois o máximo que conseguirá será um Estado obeso.

RUY CASTRO

A escrita à mão


Folha de S. Paulo - 12/02/2010

Não sei em que dia caiu, mas houve um momento na Pré-História em que o homem, com um só gesto, avançou duas casas na escala evolutiva. Foi quando ele se pôs de pé e começou a garatujar com carvão na parede da caverna. Isso o separou dos outros animais, que continuaram ágrafos e de quatro.
De certa forma, esse gesto se repetiria nos bilhões de crianças que, desde então, fariam o mesmo na parede da sala, só que usando um lápis. Pois matéria de Talita Bedinelli numa Folha de janeiro me alertou para algo em que eu não tinha pensado: até quando nossas crianças, com suas mochilas equipadas com notebooks, celulares e toda espécie de badulaques eletrônicos, continuarão escrevendo... à mão?
A ideia de que tal prática seja abolida do cardápio de funções humanas é de assustar -mas, pela primeira vez, palpável. De fato, com um notebook sempre disponível, para que perder tempo e espaço com cadernos, esferográficas, lápis, borrachas e, pior ainda, com dicionários, gramáticas e livros de texto?
Ou talvez não haja motivo para preocupação. Eu próprio, em tenra idade, comecei a escrever a máquina quase ao mesmo tempo em que à mão. Isso não me livrou de usar caneta-tinteiro, mata-borrão, apontador de lápis, tabuada, régua e outros apetrechos, então obrigatórios na vida escolar. Mas só porque eu não podia levar a máquina de escrever para a sala de aula.
A história da escrita tem passagens lindas. Uma delas, narrada a mim por uma amiga, conta como, por volta de 1855, os barqueiros que singravam o Sena de madrugada, nos arredores de Rouen, se guiavam por uma luz de vela que, noite após noite, durante seis anos, saía da janela de uma casinha à margem do rio. Eles não podiam saber, mas era Flaubert escrevendo -à mão, é claro- "Madame Bovary

BARBARA GANCIA

"How do you do, Dilma?"

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/02/10


Tive uma ideia genial: que tal usar a Coca-Cola como símbolo do imperialismo norte-americano?
SE INVENTASSEM o dia de 72 horas, quem sabe eu não passasse a me interessar por assuntos que necessitam de um certo preparo estomacal para serem abordados? Mas, limitado como se encontra em parcas 24 horas, e considerando que a eternidade é longa e que vou passar muito tempo morta, o dia não me deixa alternativas senão ignorar solenemente tudo o que diz o assessor especial de Lula para Assuntos Internacionais.
Aprendi a não prestar atenção em Marco Aurélio Garcia porque, por mais que simpatize com sua figura de bichinho peludo da floresta, sei que ouvi-lo ou até mesmo parar para perceber sua existência significa jogar pela janela momentos preciosos do tempo que ainda me resta neste mundão de meu Deus.
Juro que não fui atrás do que o assessor especial do presidente falou em debate na sede do PT. Se já não ligo para o que ele faz no governo, que dirá do meu interesse pelo que diz quando está entre os seus? Mas como sou brasileira e não aprendo nunca, uma kombi carregada de contradições prestes a tombar na curva, sinto-me obrigada a comentar suas ilações.
Ignorando a existência do "Xou da Xuxa" e do programa da Sônia Abrão, o petista disse aos seus correligionários que "Quase tão importante quanto a 4ª Frota (da Marinha americana) são os canais de TV a cabo que nós recebemos aqui. Eles realizam, de forma indolor, um processo de dominação muito eficiente. Despejam toda essa quantidade de esterco cultural".
Fala a verdade: ainda essa lenga-lenga? Não dava para ter vindo com uma reclamação um pouco menos bolorenta? Alô, Marquito! Acabo de ter uma ideia genial: que tal usar a Coca-Cola como símbolo do imperialismo norte-americano? Puxa! Não é brilhante?
Prosseguiu o professor sobre a "hegemonia cultural dos Estados Unidos": "Estamos vivendo um momento grave do ponto de vista de uma cultura de esquerda. A crise dos valores do chamado socialismo real e a emergência desse lixo cultural nos últimos anos nos deixaram numa situação grave". Sabe que eu não tinha me dado conta de que a cultura de massa e o capitalismo produzem lixo cultural? Aposto que ninguém mais tinha percebido, Deus abençoe o Marco Aurélio!
Pode ser que o lixo cultural deles seja mais atraente do que o nosso, será esse o problema?
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, parece achar que sim e vai tirando a sua lasquinha. Fez questão de receber a diva Beyoncé e convidou para seu camarote na Sapucaí a cantora Madonna, expoente máxima da baixa cultura imperialista, que vai estar ao lado da não menos representativa Paris Hilton como celebridade internacional da vez no Carnaval carioca.
Nesta semana, banqueiros, empresários e até mesmo o governador de São Paulo, José Serra, não resistiram à tentação da "photo op" com Madonna. Ficou todo mundo enlouquecido. Será que a ministra Dilma, também convidada de Cabral na avenida, e para quem Marco Aurélio trabalha coordenando a campanha presidencial, vai se render aos fascínios dessa poderosa bomba de esterco dos Estados Unidos?

MÔNICA BERGAMO

"Não consegui ver nada"

Folha de S.Paulo - 12/02/2010


"Diva! Diva! Te amo! Você é linda!". Os gritos, no Parque de Exposições de Salvador, não eram direcionados à cantora Beyoncé, que se apresentava ali, na noite de anteontem, nem à baiana Ivete Sangalo, que abriria seu show. A "diva" em questão era a apresentadora Xuxa Meneghel, cuja presença havia sido anunciada dias antes, no Twitter, por Ivete, sua amiga há anos.

Ivete chegou a levar Xuxa ao palco, enquanto cantava "Ilariê", um dos maiores hits da apresentadora. A gaúcha surgiu, sorriu e sumiu diante da plateia. Momentos depois, reapareceu num dos camarotes do evento. Presença rara em festas com fotógrafos, provocou comentários pela barriga de fora que ostentava um bronzeado em tom de tijolo.

Ao lado da filha, Sasha, foi direto para um cercadinho dentro do camarote, onde dividiu as atenções com a também global Patrícia Poeta. Sasha logo se cansou dos flashes e pediu pra sair -deixou a área VIP escoltada por alguns seguranças.

Enquanto Beyoncé entoava a canção "Ave Maria" com um dos vários figurinos do show, uma multidão estava de costas para a cantora americana, empenhando-se em pegar um autógrafo ou tirar um retrato com Xuxa. Ela atendia os fãs e posava para fotos de celulares sem tirar o olho do palco.

Depois de meia hora no local, decidiu também ir embora, acompanhada de mais seguranças. A coluna conversou brevemente com ela: já tinha visto alguma apresentação de Beyoncé? "Não." E gostou do que viu? "Eu não vi... Não consegui ver nada", disse, antes de sumir pelos fundos de uma barraca de pizza.

A chuva e eu
Os paulistanos das classes altas reclamam mais da chuva que os pobres: 54% da classe A dizem que foram prejudicados pelos temporais, contra 37% na classe B, 36% (D) e 27% (C), segundo pesquisa que será divulgada pela H2R.

A CHUVA E EU 2
Enquanto metade dos mais ricos reclama de ter chegado atrasado ou perdido um compromisso por causa dos temporais, para 13% dos entrevistados da classe D o principal problema foi ter suas casas invadidas pelas enchentes.

LUZ...
Em meio à turbulência na Villa Daslu, com a saída da BRMalls (que administrou o complexo por dois anos), a empresária Eliana Tranchesi disse à coluna que trabalha para abrir sua loja no Rio de Janeiro em 2011: "Vamos focar na expansão nacional da marca".

...E SOMBRAS
Enquanto isso, na Villa Daslu, a saída da BRMalls deve acelerar um processo já em curso: o êxodo de grifes internacionais de peso que alugam espaços ali. As marcas reclamam de vendas insatisfatórias, até porque boa parte dos clientes mais top deixou de frequentar a Villa. Eles preferem escolher em casa as peças, enviadas especialmente para elas.

NÃO DESISTO NUNCA
Walter Zagari, vice-presidente comercial da Record, diz que vai tentar novamente patrocinar a camisa do Santos com a inscrição "W Zagari", desta vez para o clássico com o Corinthians. "Só pra sacanear", diz ele, que afirma que a Globo vetou o anúncio no jogo passado do Peixe. A emissora nega.

MADONNA NO CAPÃO
O governador José Serra tentou arrastar Madonna para visita a um CEU no Capão Redondo. Sua equipe de segurança deu o OK, mas ela acabou desistindo, por "falta de tempo".

CELEBRAÇÃO
A comitiva de Madonna no camarote do governador Sérgio Cabral, no Carnaval, será de oito pessoas. A previsão é que ela fique no local por três horas e que vá à folia apenas no domingo. O voo de volta para os Estados Unidos está marcado para segunda-feira.

MISTÉRIO
E o blog americano de fofocas "X17", comentando a visita de Madonna ao Brasil, lançou uma "questão filosófica": "Por que o cabelo da "material girl" está sempre molhado, especialmente em um lugar quente como o Rio de Janeiro?"

SAMBA NERD E tem gente sonhando com Bill Gates na Sapucaí. A agência Pepper diz ter reservado uma suíte no hotel Fasano em nome do dono da Microsoft. Quer levá-lo ao camarote da fábrica de computadores Positivo, que patrocina o desfile da Portela e vai projetar a cara do empresário em um dos carros da escola. O hotel afirma que desconhece a existência da reserva.

CINE-TEATRO
Vai se chamar "Cinema" a próxima peça do diretor Felipe Hirsch, que teve o elenco selecionado pelo Twitter. A montagem estreia em SP, no dia 25 de março, véspera do lançamento de "Insolação", primeiro longa de Hirsch.

EM BUSCA DE KAT
Marcos Bernstein, roteirista de "Central do Brasil" e "Chico Xavier", vai escrever o filme "Pequeno Segredo", que David Schürmann prepara sobre sua irmã, Kat, que era soropositiva e morreu em 2006, aos 13 anos. A intérprete da menina será escolhida em um concurso.

COW PARADE

Um destino para a "vaca Pedalinho"

Reprodução YouTube
Piada pronta: a exposição Cow Parade (que vai até 21 de março) concluirá no domingo votação entre internautas para apontar um local de SP para instalação da vaca Pedalinho. A estátua, segundo o evento, não tem nada a ver com as enchentes que assolam SP desde dezembro. Por via das dúvidas, abaixo seguem algumas possibilidades. As cenas estão entre dezenas da web em que paulistanos registram inundações das janelas de suas casas.

Internautas podem votar no twitter @cowparadebrasil

CURTO-CIRCUITO

A CANTORA NELLY FURTADO faz turnê brasileira em março. Em São Paulo, se apresenta no dia 27, no Via Funchal. Os ingressos vão de R$ 180 a R$ 300. 14 anos.
RITA LEE se apresenta nos dias 5 e 6 de março no palco do Credicard Hall, em São Paulo. 14 anos.
O CLUBE GLÓRIA promove amanhã uma edição especial de Carnaval da festa Crew. As atrações serão Killer On The Dancefloor e Roots Rock Revolution. 18 anos.
O CANTOR BRUNO MORAIS faz show gratuito no dia 23, no Sesc Consolação. Classificação: livre.
A BANDA DJAVÚ E O DJ JUNINHO PORTUGAL fazem show no Citibank Hall do Rio de Janeiro no dia 27. Livre.

NELSON MOTTA

O professor aloprado

O GLOBO - 12/02/2010


“Hoje em dia, quase tão importantes quanto a 4 ° Frota americana, são os canais de televisão a cabo que nós recebemos aqui. Eles realizam, de forma indolor, um processo de dominação muito eficiente. Despejam toda essa quantidade de esterco cultural.” Quem adverte é o professor Marco Aurélio Garcia, nosso coministro das Relações Exteriores. Chávez não diria melhor. E faria muito melhor, fecharia logo essas fábricas de esterco. E o povo poderia se instruir e se divertir à vontade com a Telesur, a TV Brasil e a Cubavisión.

Por que não instituir aqui um “controle social do cabo”? Para o professor, os milhões de brasileiros que pagam caro por uma assinatura, e todos que a aspiram, até os petistas, são perfeitos idiotas lationamericanos que, inocentemente, se deixam seduzir pelas mensagens capitalistas dos seriados, filmes, noticiários, entrevistas e até desenhos animados e séries de animais: como capitalistas selvagens, os mais fortes comem os mais fracos. Não há justiça na natureza.

Embora reconheça que “estamos vivendo um momento grave do ponto de vista de uma cultura de esquerda, com a crise do socialismo real”, o professor acusa o lixo cultural a cabo de agravá-la. Mas por que as esquerdas não conseguem fazer veículos de comunicação de massa informativos e divertidos, atraentes e populares, por mais que tentem e por maiores que sejam as verbas e a “vontade política” dos governos? A vontade popular é sempre outra: novelas, seriados, filmes, programas de auditório, humorísticos, para se divertir um pouco depois do cotidiano duro dos trabalhadores brasileiros. Embora a elite de esquerda ache pobre, vulgar, alienante e de mau gosto o trabalho de tantos profissionais do entretenimento, depois de ralar o dia inteiro ninguém quer ouvir um professor falando da crise do socialismo real e das perspectivas do socialismo do século 21.

Ou um debate sobre o etanol e o présal.

Na TV, o povo está no poder e, armado de seu controle remoto, diz que não quer ideologia, quer emoção.

Mas eles insistem.

Nunca subestimem a estupidez humana, advertiu o professor. Não há como discordar.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Inadimplência segue em queda na Caixa

Folha de S.Paulo - 12/02/2010


O resultado do ano de 2009 que a Caixa Econômica Federal divulga hoje mostrará que a inadimplência seguiu a trajetória de queda, apesar do aumento da oferta de crédito.

"O banco emprestou mais e com menor risco. A qualidade do crédito tem melhorado", diz Márcio Percival, vice-presidente de finanças da Caixa.

"Cresceu o nível de emprego e renda da população. Havíamos apostado que seria assim."
O atraso no pagamento acima de 90 dias na carteira de crédito total era de 2,4% em dezembro de 2008, passou a 2,9%, entre março e abril, e fechou dezembro passado com 2,2%.

Dados do Banco Central apontam que a inadimplência no mercado subiu de 3,2% em dezembro de 2008 para 4,4% no final de 2009.

A Caixa, que em dezembro de 2008 tinha 69,9% de clientes de nível AA, considerado de boa qualidade de crédito, passou a 78,6% no final do ano passado.

O resultado do banco em 2009 foi considerado bom, "principalmente em um ano difícil como foi 2009", diz Percival, que não quis revelar o lucro obtido pela instituição.

"Foi alinhado com outros anos. Nossa preocupação não é com taxa de lucro, mas com a sustentabilidade financeira do banco. Consolidamos nossa estratégia de banco público."

O banco atingiu a marca de 50 milhões de clientes. Com conta-corrente são 18 milhões de pessoas, o que representa crescimento de 20% no ano passado. O banco ganhou participação de mercado. Em 2009, subiu de 6,5% para 8,9%.

O estoque de crédito (número de operações X volume financiado) subiu para 55,3%.
Houve diversificação nos serviços oferecidos -como no crédito, que antes só havia oferta de financiamento imobiliário- e também na clientela da instituição, diz Percival. O foco, porém, continua na baixa renda. Uma fatia de 66% dos clientes ganha até R$ 700 por mês.

Justiça questiona fábrica em SC
A Justiça do Trabalho determinou que a Brasil Foods (BRF), empresa formada a partir da união entre Perdigão e Sadia, regularize a situação trabalhista e o ambiente de sua fábrica de Capinzal (SC), que emprega cerca de 7.000 pessoas.

Decisão da juíza do Trabalho Lisiane Vieira determina que a empresa não exija horas extras dos empregados, observe normas de saúde e segurança do trabalho e informe ao Ministério da Previdência números de doenças ocupacionais, sob pena de pagar multa de R$ 10 mil por caso não identificado.

A Brasil Foods, informa, por meio de sua assessoria de imprensa, que "foi notificada da sentença e tomará as medidas judiciais cabíveis".

As condições de trabalho de frigoríficos da região de Capinzal são investigadas há dois anos pelo Ministério Público do Trabalho.

Normas do Ministério do Trabalho estabelecem que em atividades repetitivas devem ser concedidas pausas de recuperação de fadiga. No caso de frigoríficos, diz Sandro Sardá, procurador do trabalho em Chapecó (SC), as pausas devem ser de dez minutos a cada 50 minutos.

"A empresa não concede a pausa, assim como outras da região que estão sendo investigadas", segundo Sardá.

OUTROS CARNAVAIS
No Carnaval deste ano, a operadora de viagens CVC vai embarcar seu maior volume de passageiros na comparação com os outros Carnavais da empresa. De sexta a domingo, 53.108 passageiros irão embarcar com a operadora, de avião, de ônibus e de navio. O número é 12% maior que o registrado no mesmo período do ano passado. A maioria (23.713) optou por viajar de avião pelo Brasil. A região Nordeste irá receber cerca de 60% desse volume.

RECICLAGEM NA FOLIA
"O mercado de bebidas está aquecido, e o mercado de embalagens está acompanhando o crescimento", diz Carlos Alberto Augusto, que está à frente da Metalic Nordeste, empresa do grupo CSN. A Metalic está com a capacidade no limite. Em 2009, produziu 820 milhões de latas de aço, com faturamento de R$ 200 milhões. A previsão é atingir neste ano 950 milhões de latas, segundo Augusto. Enquanto na Europa e no Japão o aço domina o mercado de embalagens para bebidas, no Brasil 95% das latas são de alumínio. No Nordeste, a fatia das embalagens de aço é maior, de 37%, devido à resistência maior em relação ao alumínio. Para incentivar a reciclagem, a Metalic criou o programa Reciclaço, que pretende comprar 150 toneladas durante o Carnaval em Recife e Olinda. Por causa do aumento do consumo de bebidas, é necessário incentivar o catador a recolher a lata de aço, que tem valor agregado menor que a de alumínio, diz Augusto. "O Reciclaço dá subsídio ao catador." Os sucateiros recebem normalmente R$ 0,60 por 70 latas de aço e R$ 1,50 pela mesma quantidade de latas de alumínio. No Reciclaço, irão receber o dobro pelas latas de aço.

CINZEIRO 1
A 7ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo julgou extinta, sem apreciação do mérito, a ação da Souza Cruz que questionava a legalidade da atual diretoria do Sindifumo (Sindicato da Indústria do Fumo do Estado de São Paulo), presidido por José Henrique Nunes Barreto.

CINZEIRO 2
A atual diretoria do sindicato e a Souza Cruz divergem sobre a incidência de IPI sobre os cigarros. O sindicato entende que a tributação deve ser sobre o preço final do produto. Hoje o IPI incide sobre as unidades vendidas. A Souza Cruz informa, por meio de sua assessoria de imprensa, que "aguardará a publicação do inteiro teor da decisão para avaliar o cabimento de possíveis recursos".

RECORDISTA
A marca de biscoitos Club Social, da Kraft Foods Brasil, vai tentar entrar no "Guiness Book" neste ano. Durante o Carnaval, em Salvador, a empresa pretende realizar a maior distribuição de amostras grátis já feita no mundo. Cerca de 500 promotores irão entregar mais de 500 mil amostras do biscoito Club Social. A ação será acompanhada por auditores.

EXPANSÃO

A Bristol Hotéis & Resorts pretende incorporar novos empreendimentos administrados, passando das atuais 17 unidades para 28. Para as novas incorporações, serão investidos R$ 68,5 milhões.

"MADE IN BRAZIL" 1
Os vinhos brasileiros acabam de ganhar uma base fixa nos Estados Unidos. O projeto Wines From Brazil, realizado em parceria pelo Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho) e pela Apex-Brasil, abriu nesta semana um escritório em Nova York. A representante será a consultora argentina Nora Favelukes, presidente da QW Wine Experts, radicada há mais de 20 anos em território norte-americano.

"MADE IN BRAZIL" 2
Os Estados Unidos são o país mais representativo para a exportação do vinho brasileiro. Segundo o Ibravin, 22 empresas brasileiras já exportaram para o mercado norte-americano. Nos últimos quatro anos, os Estados Unidos compraram US$ 1,9 milhão em vinhos fabricados no Brasil.

NERVOS DE AÇO
A usina de João Monlevade (MG), da ArcelorMittal Aços Longos, irá concluir em março investimento de R$ 4,5 milhões para adaptação de equipamentos ao consumo de gás natural. O uso do gás irá garantir maior segurança operacional, estabilidade produtiva e melhorias no desempenho ambiental.

CONSTRUÇÃO
A escassez de mão de obra na construção civil levou a Fiesp a formar uma comissão para propor uma saída para o entrave. "Temos pressa em identificar as causas e achar soluções, já que o setor passa por um período de aquecimento com grandes empreendimentos", afirma Paulo Skaf, presidente da instituição.

REGINA ALVAREZ

Custo das reservas

O Globo - 11/02/2010


A bem sucedida atuação do Brasil na crise global deixou em segundo plano uma discussão que já ocupou espaço no noticiário: o custo de manter reservas internacionais tão elevadas, hoje em US$ 240 bilhões. O escudo construído pela ação do Banco Central foi muito útil nos momentos em que a economia mundial ameaçava derreter, mas passado o período agudo da crise volta e meia surge a pergunta: qual seria o ponto ótimo das nossas reservas?

Sim, porque esse colchão que nos protege de ataques especulativos e permite ao BC agir no mercado para controlar a volatilidade do câmbio tem um custo fiscal que não é pequeno. Em 2009, chegou a R$ 32 bilhões, diferença entre o rendimento das reservas, aplicadas em títulos do Tesouro americano, e a taxa Selic.

Para neutralizar a entrada dos dólares na economia, evitando o excesso de liquidez, o BC faz as chamadas operações compromissadas, atreladas à taxa básica de juros.

Essas operações — também usadas na administração da política monetária — tiveram um aumento substancial nos últimos anos, especialmente depois que o BC decidiu reforçar o colchão de reservas. Em 2005, correspondiam a 1,72% do PIB; em 2009 já chegavam a 14,52%, com impacto equivalente na dívida interna líquida e na dívida bruta.

O Banco Central faz sua política sem olhar para os custos das reservas, até porque não é esse o papel da autoridade monetária.

No caso, seu papel é manter a inflação sob controle. Mas no momento que se discute o aumento da taxa Selic e se observa o crescimento da dívida bruta do setor público, cabe refletir sobre os custos da política monetária e questionar a opção por reservas tão elevadas.

O economista Felipe Salto, da FGV e Consultoria Tendências, lembra que o acúmulo de reservas reflete a escolha da estratégia de crescimento adotada pelo governo, sustentada na poupança externa. Como o país não tem poupança privada, nem pública, pois o governo optou pelo aumento dos gastos, a saída para o crescimento que se apresenta no momento é a poupança externa.

O Brasil continua a atrair investimentos externos e a tendência é que aumentem nos próximos anos, embalados pela imagem de estabilidade que construímos lá fora.

A questão é que a própria estabilidade e o crescimento futuro podem estar sendo minados pela estratégia atual, que combina uma política fiscal frouxa com a âncora externa.

Combinando com os russos

O presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, deve vir ao Brasil em abril. O leque de assuntos em pauta é bastante variado, do tamanho da agenda de dois países que integram os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). A maior participação das nações em desenvolvimento nas grandes decisões mundiais; a reforma das Nações Unidas e a candidatura dos brasileiros a uma vaga permanente no Conselho de Segurança; o fracasso da Rodada de Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC); investimentos em obras do PAC são alguns exemplos.

Mas Medvedev terá um pedido especial a fazer ao presidente Lula: quer que o Brasil abra o mercado para o trigo russo. O fato de a Russia ser o principal comprador da carne brasileira será usado como barganha.

Em 2009, nossas importações de trigo foram de 5,4 milhões de toneladas, 98% de Argentina, Uruguai, Paraguai, Canadá e EUA.

Apetite chinês

A demanda dos chineses por commodities continuou forte no início do ano. Em janeiro, as exportações brasileiras de petróleo cresceram 40% no volume e 270% no valor em relação ao mesmo mês de 2009. Já as exportações de minério de ferro subiram 63% no volume e 19% no valor. Para o secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), Rodrigo Maciel, o resultado de US$ 1,1 bilhão das exportações no mês — mesmo patamar de dezembro — surpreendeu porque em janeiro não há embarque de soja, principal produto comprado pelos chineses.

Voz aos pequenos

O Sebrae está preocupado com o impacto da redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais — em votação no Congresso — no segmento de pequenos e médios empresários. O diretor de administração e finanças da entidade, Carlos Alberto dos Santos, acha que o projeto pode estimular a informalidade: — Temos um debate relevante que não está tendo a participação das micro e pequenas empresas. É bom lembrar que esse segmento garantiu o bom resultado do emprego formal na crise. A redução da jornada terá impacto sobre a rentabilidade e o resultado prático será um estímulo à informalidade.

O Sebrae constatou em sondagem com 3 mil pequenos e microempresários que 63% reprovam a ideia. O setor foi responsável pela criação de mais de 1 milhão de empregos formais em 2009.

VENDO O SOL MAIS OU MENOS QUADRADO

LUIZ GARCIA

A prática, na prática

O GLOBO - 12/02/2010



No fim do mês que vem haverá eleições na Organização dos Estados Americanos.

Ninguém por aqui está falando nisso, possivelmente com razoável explicação: a nossa ONU regional não é exatamente uma entidade com presença decisiva nos conflitos do continente.

Nos seus estatutos, a OEA assume — como lembrou outro dia um analista americano, devidamente consternado — o solene compromisso de fortalecer a paz e a segurança na região, dentro do modelo da democracia representativa.

Ultimamente, tem falhado à direita e à esquerda.

No ano passado, por exemplo, a organização foi incapaz de reagir com eficiência quando os militares hondurenhos chutaram para o exílio o presidente eleito. No outro prato da balança, o secretário-geral José Miguel Insulza — um socialista chileno, o que não significa exatamente excesso de esquerdismo — tem se recusado a sequer franzir o sobrolho (como se fazia antigamente) ante o avanço do autoritarismo na Venezuela.

A propósito, pode ser conveniente reconhecer que o esquerdismo de Hugo Chávez muitas vezes parece muito mais oportunista do que ideológico. Enfim, com raras e quase esquecidas exceções, falar mal dos americanos raramente fez alguém perder eleição abaixo do Equador.

No mês que vem, Insulza é candidato à reeleição. Barack Obama ainda não decidiu se apoia algum adversário do secretário-geral ou se finge que não está nem aí. A segunda opção não é necessariamente tímida ou preguiçosa.

Embora Washington pague 60% das contas da OEA (uns 40 e muitos milhões de dólares por ano), uma declaração de voto da Casa Branca pode ser o beijo da morte. Aconteceu no governo Bush, duas vezes.

Ainda assim, ainda há analistas e políticos americanos sustentando que Washington deveria exigir de Insulza e qualquer outro candidato a secretário-geral um compromisso de amor pela democracia no continente, com a ameaça de deixar de financiar a OEA se a nova administração renegar esse amor.

É o tipo de proposta que parece simples e direta — pão, pão, queijo, queijo, como se dizia antigamente. Como alguns já lembraram, em outros debates, o problema é que na prática, a prática é diferente.

PAINEL DA FOLHA

Cavalo de pau

Renata Lo Prete -

Folha de S.Paulo - 12/02/2010


Pouco antes de o STJ determinar a prisão de José Roberto Arruda, estava em curso no Distrito Federal uma operação para fazer o vice, Paulo Octávio, submergir. Com uma série de denúncias nas costas, o empresário fora orientado tanto por políticos quanto por advogados a se manter longe do epicentro da crise. Tinha viagem marcada para os EUA.

A saída do governador por via judicial mudou o plano. Pesou na decisão de "PO" a ideia de que a renúncia seria uma espécie de confissão de seu envolvimento no escândalo. Além disso, a perspectiva de uma eventual intervenção federal pode encurtar sua permanência no cargo, aliviando as pressões.

Sala vip
"PO" monitorou a prisão de Arruda a partir do escritório do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. De lá, falou mais de uma vez por telefone com o agora governador afastado.

Afasta de mim
De um cardeal do DEM, sobre os caminhos abertos pela prisão de Arruda: "Para nós, o melhor seria a intervenção federal".

Mais um
Piada instantânea ouvida ontem em Brasília: "o PMDB já está de olho no cargo de interventor".

Íntimo...
Um dos argumentos que embasaram o pedido de prisão feito pela Procuradoria Geral da República foi a proximidade de Arruda com os agentes da suposta tentativa de subornar Edson Sombra para atrapalhar as investigações sobre o mensalão candango. O secretário particular Rodrigo Arantes era tratado como filho do governador.

...e pessoal
Haroaldo Carvalho, diretor da Companhia Energética de Brasília, atuou como cabo eleitoral de Arruda, de quem é amigo desde os anos 80. Antonio Bento da Silva, preso na semana passada, também era da CEB.

Churrasco
Em depoimento à PF, Bento se referiu a Haroaldo. Disse que, na ocasião do flagrante, estava "na festa de casamento de um amigo" no Porcão. Era o próprio.

Deu pau
Segundo quem viu a nova leva de vídeos nas mãos dos procuradores, há cena de Márcio Machado, ex-secretário de Arruda, enchendo uma pasta de laptop com maços de dinheiro.

Outro lado
Paulo Octávio nega ter levado Marcelo Toledo, suspeito de operar o mensalão candango, para uma conversa com Arruda.

Remendo
De um petista que irá ao Sambódromo do Rio sobre o infortúnio da Beija-Flor, cujo enredo comemora os 50 anos de Brasília: "A escola será obrigada a improvisar uma ala dos panetones".

De molho
Mas nem tudo é piada no PT-DF. Antes mesmo da prisão de Arruda, a candidatura do neopetista Agnelo Queiroz ao governo já fazia água. A recente e descontraída conversa com o gravador-geral Durval Barbosa ajudou a complicar a situação do ex-ministro do Esporte.

Elo perdido
Quem aposta nas chances de Paulo Octávio se segurar no cargo alega que Durval teria interesse em preservar o agora governador, na tentativa de aproximá-lo de Joaquim Roriz (PSC).

Esboços
Uma ala do DEM no DF flerta com a possibilidade de o secretário Alberto Fraga (Transportes) herdar o espólio eleitoral de Arruda, saindo candidato com Maria de Lourdes Abadia (PSDB) na chapa para o Senado. Seria um desenho de palanque para José Serra, cujo partido tem negociado com Roriz.

Telhado
Candidata à reeleição no Pará, a governadora Ana Júlia Carepa (PT) anunciou ontem que doará a Granja do Icuí, residência oficial na qual ela não mora, para a construção de casas populares. "Faz muito mais sentido construir centenas de casas naquela imensa área."

Tiroteio
Brasília sempre alegou como desculpa que os bandidos vinham de fora. Agora é humilhada, pois tem uma gangue inteira para exportar.

Contraponto

Quem fala o que quer...
Em discurso ontem no Show Rural, feira realizada no município paranaense de Cascavel, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, defendeu as realizações do governo federal para o setor agropecuário. Logo em seguida, o governador Roberto Requião cutucou:

-Eu mesmo votei no Lula quatro vezes, mas vejam só se é possível esse presidente do Banco Central: dirige uma associação internacional de bancos...

Bernardo pegou o rebote:

-Sim, o Henrique Meirelles. Vem fazendo um excelente trabalho e inclusive é do seu partido, o PMDB!

Meio sem jeito, Requião ainda tentou emendar:

-É, mais os juros ainda estão muito altos...

GOSTOSA

JOSÉ SIMÃO

Vou sair no Unidos das Cachorras!

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/02/10



E já tá nas ruas o corno elétrico: atrás da minha mulher só não vai quem já morreu! Rarará!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
Carnaval 2010! Tudo Certo Pra Dar Merda! De hoje em diante É PROIBIDO PENSAR! E já tá nas ruas o corno elétrico: atrás da minha mulher só não vai quem já morreu!
E a Madonna tá pedindo mais dinheiro que a Universal! A marchinha da Madonna pro Carnaval: "Ei, Você Aí, Me Dá Um Dinheiro Aí".
E a marchinha da Dilma. Perereca de Bigode: "Eureka! Eureka! Quem já engoliu sapo, engole perereca. Vai dá bode! Vai dá bode! A Dilma não tem barba mas pode ter bigode!". E a marchinha do Serra. Com aquela cara de porteiro de necrotério, o Serra não tem marchinha de Carnaval, tem marchinha fúnebre!
E a Ivete Sangalo disse que a Beyoncé, a Bionça, gostou tanto da Bahia que vai comprar uma casinha em Piripiri. Rarará! E sabe o que as bibas tão falando? Que a Bionça adora uma pintada! Rarará!
E o site Eramos6 revela o que o Serra falou pra Madonna: "Você está mais conservada que o Rodoanel". Rarará! E sabe o samba que o Lula vai cantar pra Dilma? Ai Coisinha Mais Bonitinha do PAC! Rarará!
E o sonho de um amigo meu é transar com pelada de carro alegórico: não fala nem reclama, só rebola e dá tchauzinho! E os blocos? Diretamente de Caiponia, Goiás, sai o bloco BAIXARIAS TERRÍVEIS! Ueba! E de São Luiz: Chupa, Mas Não Morde. E adorei este de Benfica, no Ceará: Unidos das Cachorras!
E em BH tem o rio Arrudas, tipo Tietê! E o Bloco Mole sai com o tema: "O nosso Arrudas é mais limpo que o de Brasília". E tem aqueles que eu já citei: Metido a Corno; Eu não Dou o Meu Cuati; Mamãe, Virei Bicha; e Já Que Tá Dentro, Deixa! É Carnaval, macacada!
E no Rio tem um bloco que acaba de ser lançado: É Pequeno Mas Vai Crescer. O Brasil aguarda. Rarará! É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em São Domingos do Araguaia, no Pará, tem um motel chamado A Toca da Minhoca. Ueba! Mais direto impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Beyoncé": companheiro mineiro respondendo: "to indo bem i ocê?". Rarará! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. Até quarta-feira, patrão!

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Direitos, por linhas tortas

O Estado de S.Paulo - 12/02/2010


Onde erraram Lula, Jobim e Vannuchi na condução do "novo" Plano Nacional de Direitos Humanos? "Faltou a eles a paciência de Jó", diz José Gregori, autor de ideia semelhante nos anos 90, como ministro de Fernando Henrique.

Aquela primeira versão, relembra, foi aprovada "sem crise, sem crítica e sem atrito". O segredo? "É preciso calibrar a velocidade. É um tema que não dá para toda a sociedade acompanhar de imediato."

O ex-ministro também considera um erro chamá-lo de "plano", e não de "programa", como o anterior. "Programa tem diretrizes, sugestões. Não é uma lei".

Ele critica ainda o modo como o texto foi conduzido. "Nós fizemos uma minuta e saímos pelo Brasil debatendo. Eles fizeram um congresso restrito e aprovaram o plano." Mas houve algum avanço concreto? "Uma coisa que na época parecia utópica é a implosão do Carandiru. Pois aquilo se tornou... a Biblioteca de São Paulo."

Tabuleiro
Tarso Genro mal deixou o ministério e já sente o peso da vida de candidato.

Um grupo saiu a campo, no Rio, para tentar trocar o presidente do Instituto de Pesos e Medidas, João Jornada - que é primo do ex-ministro - por Soraya Santos, que comanda o órgão no Rio. E que tem apoio da turma de... Sérgio Cabral.

Companheiragem
Blog criado por "fãs" de Dilma Rousseff está testando os limites do TSE.

Autointitulado "o maior portal de Dilma na internet", já tem até jingle de campanha: "Mulher que enfrenta qualquer baque / Ela é a mãe do PAC..."

Não tem tu...
A evangélica Marina Silva não é chegada ao carnaval?
Sem problemas. Para desfilar em Olinda, o PV encomendou... um boneco dela.

Pra inglês ver
Ao falar da visita de Beyoncé e Alicia Keys ao morro Santa Marta, o Daily Mirror, de Londres, desceu a ladeira.

Chamou os moradores de "camponeses" e disse
que um olhar na saia de Alicia "deve ter dado um alívio temporário às suas vidas miseráveis".

Brain storm
Washington Olivetto tem pela frente interminável viagem de 23 horas.

Vai presidir em Pattaya, na Tailândia, o júri do AdFest - um dos mais importantes encontros de publicidade do planeta. Em março.

timão.com
O Corinthians é o rei da rede... no Brasil. Com 6,1 milhões de visitas, seu site é o 16º maior do planeta - e único do continente na lista dos 25 maiores.

No topo, o Manchester United. Que recebeu, no ano, 427 milhões de visitas.

Capoeira? "Amazing!". diz Madonna,

"Não quero saber de fanzoca, hein? Nada de gritinhos", diz Flávio Pimenta a quase 200 crianças. E avisa: celular ou câmara estão proibidos. Assim, quando Madonna chega à ONG Meninos do Morumbi, quarta à tarde, a meninada, devidamente revistada, fica... completamente muda.

O silêncio é total quando a rainha pop se acomoda em uma cadeira de plástico. E logo começa a batucada - axé, samba e forró... Mesmo sentada, Madonna não se segura. Dança. sorri, aplaude.

"Amazing, amazing!", diz empolgada com a roda de capoeira, no compasso de Paranauê. Guy Oseary, marido de Michelle Alves e seu parceiro, sai gravando e fotografando. Ao final, é a vez da convidada, que improvisa um discurso. Com ajuda de tradutora, se diz feliz por estar lá. "Vocês podem imaginar o quanto música, dança e canto são importantes na minha vida", confessa. E faz prévia sobre o carnaval do Rio: "É minha primeira vez na festa. Estou muito animada."

Engata discurso, em seguida, sobre a Success For Kids - programa estudantil para crianças que prega a cabala e que já formou duas turmas na ONG do Morumbi. "Fico muito feliz que estejam estudando no SFK. É importante que saibam que cada um é responsável por suas próprias ações. E que o futuro de vocês depende apenas de suas atitudes. Trabalhem duro! Obrigado!"."

Um dos seguranças checa o camarim, improvisado em uma sala de aula de inglês. Na mesa, água mineral em copinho. Ele manda tirar pão-de-queijo, bolo e café. "Tirem tudo daí. Deixem só água. Distribuam o resto para crianças, se for o caso."

No final, Flávio se desculpa. "Temos quase 2.000 alunos, mas reunimos pouca gente. No Brasil, como sabem, o ano começa depois do carnaval." A cantora dá uma gargalhada e se dirige ao banheiro, onde gasta 15 minutos antes de partir.

O que o diretor da ONG achou de Madonna? "Magrela, tadinha." DEBORA BERGAMASCO

Liga, desliga
A pelo menos a um interlocutor Madonna confessou.

O relacionamento com Jesus Luz está no "on/off".

Liga, desliga 2
Ao mesmo interlocutor Madonna explicou porque não vai ao camarote da Nova Schin, na Sapucaí. É que Paris Hilton tem contrato de exclusividade com a marca.

Certeza mesmo é que a diva do pop dá o ar da graça no camarote de Sérgio Cabral.

Felina
Paula Lima vai atacar de atriz. Atuará no musical Cats - onde soltará a voz no clássico Memory. Em março, no Teatro Abril.

A vez de Graciliano
Silvio Back já captou os recursos e começa documentário sobre Graciliano Ramos. Que abre caminho para um filme sobre seu livro clássico, Angústia.

Na frente
Luis Fernando Verissimo abre a coleção Gol de Letras, com o romance juvenil O Cachorro que Jogava na Ponta Esquerda. É o primeiro de nove títulos sobre futebol que a Rocco lança até a Copa.

Luiz Melodia vai desfilar ao lado de Dominguinhos no carnaval carioca. Nascidos no Estácio, vão ser homenageados pela escola de samba do bairro.
A Cosac Naify disponibilizou, em seu blog, informações inéditas sobre a entrevista dada por Clarice Lispector ao jornal Diretrizes, de Samuel Wainer.

Trabalhos de Mira Schendel ganham mostra em São Paulo, ainda esse ano, no IAC.

O pessoal do metrô já se habituou aos novos tempos. Em vez do bilhete único, está aceitando o bilhete... úmido.

MERVAL PEREIRA

Psicopata político

O Globo - 12/02/2010


Se as marchinhas de carnaval falando sobre os panetones do Arruda já previam que sua excelência seria o principal personagem da folia em vários cantos do país, sua prisão veio dar um toque dramático a esta tragédia da política brasileira. Não é todo dia que um governador de Estado, principalmente o da capital do país, vai em cana. Na verdade, Arruda inaugurou essa possibilidade, até hoje uma ameaça implausível, o que representa uma mudança de qualidade na Justiça brasileira que pode ter reflexos na política.

Por isso, é estranhável a reação do presidente Lula, preocupado com a sorte de Arruda e considerando que não é bom para a classe política que um governador vá preso. Ao contrário, a prisão de Arruda, mesmo que seja por poucas horas, é um avanço democrático. O que Lula faz, mais uma vez, é defender a impunidade dos políticos, como fez com os mensaleiros e com os aloprados do PT.

A maneira arrogante e dissimulada com que Arruda, agora governador afastado do DF, continuava a exercer o poder em Brasília, controlando a Câmara Distrital às custas dos votos dos deputados envolvidos com ele nos escândalos de corrupção, e o cinismo com que tratava as denúncias, demonstravam não apenas que ele tinha certeza de que era inatingível pela lei das probabilidades que regia a política nacional, mas que estávamos lidando com um psicopata político.

No seu pedido de afastamento do cargo, ainda ontem, diante da prisão decretada, Arruda ainda insistia na fantasia de que é ele a vítima de uma armação política de adversários e que estava limpando a administração pública.

Essa distorção da personalidade já havia surgido em 2001, no escândalo da violação do painel eletrônico do Senado Federal. Arruda negou, depois admitiu a culpa, chorou, atribuiu sua atitude à arrogância do sentimento do poder absoluto e prometeu se emendar.

Apresentou suas desculpas quase que pessoalmente aos eleitores do Distrito Federal e voltou consagrado ao poder.

Jogou fora uma carreira política que poderia ter sido exitosa, pois tinha as qualidades do bom administrador, neutralizadas pelo desvio de personalidade e pela ganância financeira desmedida.

A maneira mafiosa com que governava foi revelada pelos filmes que seu secretário Durval Barbosa gravou clandestinamente, provas da corrupção generalizada e da certeza da impunidade.

As imagens quase pornográficas mostraram para todo o país a disseminação da bandalheira em seu desgoverno, mas sobretudo a apodrecida política partidária brasileira.

O desmonte do esquema respingou diretamente no seu partido, o DEM, que, apesar de tê-lo forçado a deixar a legenda, não teve força para expulsá-lo, tamanhas eram as influências de seu poder político.

Ao ponto de até ontem filiados do DEM ainda participarem do governo do Distrito Federal.

O pedido de intervenção federal feito pelo procuradorgeral da República, mesmo que não venha a se viabilizar, mostra o nível de podridão a que chegou a política no Distrito Federal nos últimos anos, dominado pelos grupos de Roriz e Arruda, em disputa permanente com golpes abaixo da linha da cintura.

Além de escutas clandestinas na Câmara Distrital e tentativa de suborno de uma testemunha, o governador afastado usava até o limite seus recursos de poder para tentar se manter imune a punições.

Na tentativa de obter apoios políticos, ele ousou até chantagear os deputados federais.

Nos últimos dias, expediu ofícios convocando de volta todos os servidores do Distrito Federal requisitados para trabalhar na Câmara dos Deputados, a maior parte em gabinetes dos parlamentares.

Junto com a convocação, o governo do Distrito Federal insinuava que os casos seriam resolvidos individualmente em conversas de Arruda com o parlamentar interessado.

O presidente da Câmara, Michel Temer, foi procurado por diversos deputados com queixas sobre o procedimento do ainda governador do Distrito Federal.

Mas não é provável que esse escândalo prejudique mais do que já prejudicou a campanha do candidato do PSDB à sucessão de Lula, embora seja previsível que aumenta a inviabilidade de o DEM indicar o vice na chapa oposicionista.

O tema da corrupção na política não deve animar muito a campanha presidencial, pois todos os partidos que contam na sucessão, em maior ou menor grau, estão envolvidos em casos. E isso diz muito das misérias do nosso sistema políticopartidário.

Vai ficar mais difícil, isso sim, fechar um acordo eleitoral com o grupo do ex-governador Joaquim Roriz, que voltará a ser o grande nome da política do Distrito Federal.

Berço político de Arruda, transformado em seu adversário e algoz através de Durval Barbosa, Roriz estará cada vez mais exposto à análise do eleitorado, e tem um telhado de vidro que não resiste a muita publicidade.

O fato de que vários mensaleiros do PT continuam na vida pública, livres, leves e soltos, e que muitos deles estejam assumindo postos relevantes tanto na Executiva do partido quanto na coordenação da candidatura da ministra Dilma Rousseff, inviabiliza uma campanha mais agressiva contra o chamado “mensalão do DEM”, que Arruda protagonizou ainda como a principal liderança política do partido.

Enquanto não foi desmascarado, José Roberto Arruda parecia um político tão promissor que era disputado tanto pelo governo quanto pela oposição. Já estão correndo na internet filmes e fotos que se neutralizam.

De um lado, há um vídeo em que o governador paulista, José Serra, aparece dizendo, risonho, que quem votasse em um careca ganharia dois, isso nos tempos em que Arruda aparecia como boa opção até para ser vice na chapa tucana.

Mas há também uma foto em que Lula aparece todo sorridente ao lado do governador do DF, segurando uma camisa de futebol com o nome de Arruda estampado.

Cenas de um país que não tem um sistema partidário organizado e que vive mais de nomes do que de programas e projetos.