sábado, dezembro 14, 2013

Como dar seu presente de Natal - WALCYR CARRASCO

REVISTA ÉPOCA

Presentes práticos são os que menos entusiasmam. E fuja de liquidações!


Adiei o que pude. Xinguei o sistema de consumo. Agora tenho de tratar dos presentes de Natal. Nem preciso ir à academia. Gastarei minhas calorias andando por lojas, atravessando shoppings e mergulhando em multidões exaltadas em torno de caixas lentos.

Tenho uma teoria a respeito de presentes, ótima para o Natal. Presentes se dividem entre: de luxo, práticos e criativos. De forma geral, a regra é a seguinte: quanto menor a caixinha, mais rico quem ganha ou quem dá. Quanto maior, menos grana no pedaço. Claro, há exceções. Mas brincos de brilhantes, gargantilhas de rubis exigem embalagens pequenas. Uma máquina de lavar é um pacotão. Se você tem muito dinheiro, está fácil. Um relógio de marca famosa, champanhe Dom Perignon, Veuve Clicquot ou Cristal sempre são bem acolhidos, assim como bons vinhos, charutos cubanos, bolsas de grife exclusivas, lanchas, carros zero. Todo mundo adora rico que bota presente bom na mesa. Aquele adágio que milionários e mestres de etiqueta adoram declamar – “ser elegante é ser simples” – é mentira. Se alguém tem um amigo rico, odiará um presentinho qualquer. Quer que o rico mostre quem é, dando algo de luxo. Confesso: recentemente ganhei um conhaque Louis XIII. Já falei dele aqui, custa mais de R$ 12 mil a garrafa. Meu coração tremeu de emoção.

– Como alguém pode gastar tanto comigo? – pensei, com os olhos faiscando de autoestima.
Depois, é claro, escondi a garrafa. Sou filho de pobre. Não correrei o risco de que algum amigo bebum enxugue meu conhaque. Eu mesmo o beberei de gota em gota. Mais tarde, quando a preciosidade acabar, encho a garrafa com um conhaque comum e sirvo a quem vier, para parecer generoso.

A categoria luxo impressiona. Mas o criativo funciona para ricos e pobres. Tem toda a chance de se tornar inesquecível. Por exemplo, um pacote de argila fresca dado a uma criança na noite de Natal é inesquecível. Para a mãe e a dona da casa. Mas a criança vai adorar! Fuja de filhotes de cães ou gatos. Bichos a gente só dá a quem realmente quer. Já ganhei um presente criativo e inesquecível, entre muitos, de minha amiga Lucilia Diniz. Quando fiz 60 anos, ela me ofereceu uma caixa com DVDs de todos os filmes que ganharam o Oscar do ano em que nasci até meu aniversário. Para meu orgulho, também já fiz sucesso em um aniversário da Bethy Lagardère, que hoje vive no Rio e já foi casada com o homem mais rico da França. Bem, o que se dá para alguém assim? Roupa de grife, para uma das mulheres que melhor se vestem no planeta? Encontrei um livro sobre os pássaros do mundo. A cada página, as ilustrações subiam em relevo e ouvia-se o som dos pássaros cantando. Ela adorou! Para ser criativo, é preciso também ser surpreendente. Conheci uma mulher que preparava biscoitos e oferecia em vidros personalizados aos amigos. Uma delicadeza. Aviso: estou cultivando abelhas. Ano que vem me safo engarrafando potes de mel e oferecendo com um “eu mesmo produzi”. Presentes criativos, ou as pessoas adoram ou disfarçam. Mas, se fingem que gostam, é o que realmente conta no Natal.

Presentes práticos são os que menos entusiasmam. Mães costumam ser vítimas dessa categoria. Ganham coisas para a casa: pratos, panelas, eletrodomésticos. Minha mãe, que não era boba, a certa altura da vida implorou: “Neste Natal, quero um presente para mim”. Foi o único jeito de se livrar dos liquidificadores, dados ano após ano por mim e meus irmãos. A gente nunca sabe exatamente o que dar a pai e mãe, que parecem ter tudo. O segredo: pense em algo que, na imaginação, eles nunca usariam. Tipo um estojo de maquiagem transado, para ela se sentir uma mocinha; shorts colorido para ele; material de pintura, caso não pintem; ou inscreva seu velho num curso de culinária; ou ofereça um pacote de seis meses numa academia. Se insistir num presente prático, fuja de liquidações. Certa vez dei uma camisa a um amigo secreto no trabalho. Não serviu. Tentei a troca, não aceitaram. Na época, eu estava durango. Nunca mais toquei no assunto. O amigo secreto virou inimigo público.

A não ser que tenha certeza absoluta, fuja do presente prático. Senão, um dia encontrará uma pilha de eletrodomésticos na área de serviço de sua mãe, tia ou sogra, acumulados ao longo do tempo. Surpresa ainda é o melhor no Natal. E, quem sabe, você ofereça um vale salto paraquedas a seu primo, e ele te agradeça eternamente?


Somos um povo fútil? - HELOISA SEIXAS

O GLOBO - 14/12

Descuidamos de nossos museus, nosso patrimônio, nossos arquivos. Deixamos cair aos pedaços a Biblioteca Nacional. Mas adoramos automóveis. E televisores gigantes



“No Brasil, tudo vira moda. Até manifestação de rua.”

Ouvi essa frase de um motorista de táxi durante os acontecimentos de junho, e achei um exagero. Rebati, dizendo que o povo nas ruas tinha um significado imenso e ia propiciar a mudança de várias leis. Ele me olhou pelo retrovisor e respondeu que era verdade, mas que via muitos jovens, a caminho das manifestações, agindo como se estivessem indo para um bloco de carnaval. “É a onda do momento”, insistiu. “Daqui a pouco passa.”

Em poucas semanas, as manifestações começaram a esvaziar. Os motivos eram muitos: a ação dos black blocks, as depredações, a violência da polícia, as denúncias de interesses escusos por parte de políticos, milicianos, traficantes. Mas não pude deixar de pensar nas palavras do motorista de táxi.

Tornei a pensar nelas há algumas semanas, ao voltar de uma viagem de quase um mês à Alemanha. Ao desembarcar no Brasil, fui tomada pela sensação de que somos mesmo um país de modismos. Um povo fútil. Sei que é um clichê essa história de ir à Europa e voltar falando de “um banho de civilização”. Sempre fui contra isso. Mas, desta vez — depois de visitar 11 museus, duas exposições, de ir a um concerto de música clássica e de visitar uma gigantesca feira de livros —, alguma coisa aconteceu comigo.

Acho que uma das razões dessa sensação foi a leitura, durante a viagem, do livro de Mario Vargas Llosa, “A civilização do espetáculo”. Embora em alguns pontos eu discorde do escritor, o livro me chamou a atenção para a destruição da cultura no mundo moderno, em favor do entretenimento. Esse conceito me deixou pensando no Brasil — nesse país que não lê livros, mas onde quase todo mundo tem celular. Onde se veem, nos bairros pobres, antenas parabólicas sobre casas miseráveis, onde há mais televisores do que geladeiras, e onde, em vez de bibliotecas, temos lan houses. País que parece ter passado, em massa, do analfabetismo funcional para o Facebook — sem escalas.

Outro fator que contribuiu para a minha sensação, ao voltar, foi essa lamentável discussão sobre as biografias. Muito me entristeceu ver biógrafos e historiadores serem tratados como se fossem caçadores de fofocas, quando o que está em jogo, com essa distorção no Código Civil, é a memória — e a História — de nosso país. Lamentei ver artistas que sempre lutaram pela liberdade defendendo posições indefensáveis. Não pude deixar de comparar o que estava acontecendo aqui com a atitude dos alemães em relação ao seu próprio passado (e que passado!). Eles não escondem nada. Não são um país sem memória. Tinham todos os motivos para ser, mas não são.

Nós somos. Descuidamos de nossos museus, nosso patrimônio, nossos arquivos. Deixamos cair aos pedaços a Biblioteca Nacional. Mas adoramos automóveis. E televisores gigantes, com telas de LED. Não podemos ficar um segundo sem falar ao celular, nem mesmo quando almoçamos (na Alemanha, os trens têm vagões em que é proibido ligar celulares e computadores, porque os bips incomodam). Quando viajamos — refiro-me à nossa classe média —, o que mais gostamos é de fazer compras. Já somos até conhecidos nas lojas de Nova York e Miami, onde os lojistas contratam vendedores que saibam falar português. E somos vaidosos. Queremos espetar botox no rosto e botar silicone nos seios. Já há meninas de 14, 15 anos, pedindo às mães que as deixem fazer isto. Nas ruas da Europa, não se vê essa quantidade de seios artificiais que temos por aqui. Estamos entre os campeões mundiais em número de cirurgias plásticas. Em cidades como Rio e São Paulo, há quase uma academia de ginástica em cada quarteirão. Precisamos malhar. E emagrecer. E não envelhecer nunca. E comprar tênis novos. Mas podemos passar um ano inteiro sem ler um único livro. Temos péssimos resultados em matéria de educação — em todos os sentidos.

Voltei da viagem com essa sensação de que somos mesmo fúteis, superficiais, e me lembrei do motorista do táxi.

Feijoada radical - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 14/12

RIO DE JANEIRO - No Rio, em 1960, Jean-Paul Sartre foi levado a uma feijoada no apartamento do jornalista José Guilherme Mendes. A folhas tantas, resolveu ir à cozinha e inspecionar o famoso prato brasileiro, que não conhecia. Pediu licença e destampou a panela. Contemplou aquela sarabanda de carnes indefinidas borbulhando no feijão preto e exclamou: "Mais... C'est la merde!".

É por essas e outras que o prestígio de Sartre não para de cair, e o de seu rival e desafeto Albert Camus, de subir. Camus era "pied-noir", habituado às agrestias da Argélia --deve ter comido coisa até pior na Casbah, a megafavela de Argel. Já Sartre era esnobe, só comia carne branca e jovem, e não se passava nem pela Simone de Beauvoir. Bem, pior para Sartre. Com ou sem a sua opinião, a feijoada está prestes a se tornar patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O espantoso é que ainda não fosse. Com tudo que já fez por nós nos últimos 200 anos, por que nos esquecemos de elegê-la fundamental na nossa cultura? Será porque, ao contrário da capoeira, do jongo e da Folia de Reis --todos entronizados--, ela não corra risco de extinção e inunde o país a cada sábado e quarta-feira? Pois, até por isso, a feijoada deveria ser louvada --ela não precisa de subsídio.

Quanto a mim, toda semana, em casa ou na rua, debruço-me sobre o grande prato nacional. Principalmente --que minha médica não me leia-- se, em vez dos rotineiros paio, linguiça e carne-seca, ele vier enriquecido com costela, pé, orelha, focinho ou bochecha.

Sou íntimo de algumas das maiores feijoadas cariocas: a de Leila, na quadra do Salgueiro; a de Tia Surica, na Portela; e a de Jorge Ferraz, no Renascença. Mas, neste verão, pretendo radicalizar: a qualquer hora dessas, vou encarar uma feijoada vegetariana.

Um amor que não acabou - MARCELO RUBENS PAIVA

O Estado de S.Paulo - 14/12

Paulo Mendes Campos é preciso. E preciso quando descreveu o fim de um amor em O Amor Acaba. Mas impreciso quando atesta que todos têm um fim. Nem todos acabam. Um amor, sim.

Quer um programão para as férias? O cineasta Richard Linklater nos proporciona uma experiência cinematográfica sem precedentes: assistir na sequência aos filmes Antes do Amanhecer (de 1994), Antes do Pôr do Sol (de 2004) e Antes da Meia-Noite (de 2013), todos com os mesmos atores, Ethan Hawke e Julie Delpy, sobre o mesmo casal, o americano Jesse e a francesa Celine.

No primeiro filme, eles se encontram num trem para Viena. Decidem descer e arriscar uma história de amor por uma noite apenas. Passeiam pela cidade, falam sem parar. No segundo, eles se reencontram dez anos depois em Paris, engatam uma história não mais por uma noite. Que é revista na década seguinte na Grécia, no terceiro filme.

Feitos pela mesma equipe, eles têm o mesmo jeitão: planos longos, externas, diálogos intermináveis e um debate arriscado sobre as diferenças de gêneros, americanos e europeus, Dionísio e Apolo. Cada filme se passa num momento da história (guerra da ex-Iugoslávia, o debate ecológico e a decadência financeira do euro), percorre o platonismo dos inconsequentes 20 anos, a busca por um amor sólido aos 30, e a crise dos 40 pautada pelo questionando se ele acaba, sobre ruínas gregas. Passam pelo amor sonhador, o real e o pactuado.

Assim como os atores, o diretor-roteirista cresceu e nos coloca os dilemas de uma jornada com que muitos de nós se identificam. Assim como eles, tivemos 20, 30 e 40, sonhos, arrependimentos, mal-entendidos e amores casuais que poderiam ter rendido. Compre ou alugue, ejete a criançada, chame a patroa e... Boa sorte. Não esqueça dos lencinhos de papel em mão.

*

A escritora Margarita Robayo escreveu sobre seus romances com homens mais velhos: "São como qualquer namorado, só que mais felizes". Oona escreveu sobre o marido 36 anos mais velho: "Gargalhar é um dos maiores presentes que Charlie me deu. Minha infância não foi nada feliz. Ele é meu mundo".

Uma das histórias de amor que derrubam os prognósticos fatalistas e das mais lindas que existiram foi protagonizada por uma das mulheres mais lindas que já existiu, Oona O'Neill, Lady Chaplin, a senhora Charlie Chaplin, filha do maior dramaturgo americano, Eugene O'Neill (Longa Jornada Noite Adentro), Nobel de Literatura de 1936, que a abandonou quando ela tinha 4 anos de idade com a mãe, a escritora Agnes Boultyon, e um irmão mais velho que se matou.

Oona se mudou na adolescência para Nova York. Circulava nos anos 1940 com uniforme da Brearley School (saia plissada xadrez, meia soquete e sapatinho Oxford). Aparecia depois da lição de casa nos bares da boemia intelectualizada com Truman Capote. Era a musa do Stork Club, do tipo em que "pessoas comuns olham celebridades olhando no espelho".

Era fotografada e paparicada como uma celebridade. Ou melhor, filha de uma. Se o pai, que nasceu num pulgueiro da Broadway e se tornou um anarquista radical e bebum, era avesso a badalações, a filha gostava do holofote. A psicanálise de coluna de jornal diria que, sufocada por um complexo de rejeição edipiano, queria chamar a atenção do pai que curava uma ressaca tomando outro porre.

Era dos rostos mais perfeitos em 56 quilos e 1m62 de altura. Viajou pela Califórnia com o casal de amigos Carol Marcus e William Saroyan (de A Comédia Humana). Foram vistos nus pelas praias de São Francisco. Para aonde o pai se mudou.

Já tinha namorado o cartunista da New Yorker, Peter Arno, e o cineasta Orson Welles, quando conheceu aos 16 anos J. D. Salinger.

Salinger encaixava. Era mais velho (25 anos de idade), baladeiro, escritor como o pai (conhecido pelo circuito de revistas literárias) e rico, que entendia como poucos de problemas da adolescência e o sentimento de se sentir à parte. Mas Salinger queria atenção, Oona, chamar a atenção.

Estourou a Segunda Guerra. Salinger, judeu, se sentiu na obrigação de combater Hitler e se alistou. No versão de 1942, Oona foi eleita a Debutante do Ano. Sua foto rodou o país. A repercussão foi tamanha que, pela primeira vez, recebeu uma carta do pai. Eugene não buscava a reconciliação, criticava a sua exposição.

Salinger foi para academia militar. Trocaram longas cartas, algumas com mais de dez páginas. Ele mostrava para os colegas de farda fotos de Oona modelo e se vangloriava: "Essa é minha garota. Me casaria com ela amanhã, se topasse".

Ela fez dois pequenos papéis em peças de teatro, até a mãe a matricular numa escola de artes dramáticas de Hollywood. Orson Welles a ciceroneava. Sua reputação já era conhecida sob o sol da Califórnia. Reclamou com a agente que todos que a entrevistavam queriam ir pra cama com ela. Até a agente descobrir que Chaplin precisava de uma jovem para um papel. Mandou Oona. Chaplin, com 54 anos, não a escalou. Mas escreveu na sua biografia que foi amor à primeira vista.

Ela se encantou pelos olhos azuis do "velhote". Parou de responder às cartas de Salinger sem explicação. Ironia: virou garota-propaganda de uma linha de cosméticos cujo slogan era "fique linda para seu garoto soldado", enquanto o seu soldado não tão garoto partia para guerra.

Oona se casou com Chaplin em 16 de junho de 1943, um mês e dois dias depois de completar 18 anos. Nunca mais atuou. Chaplin escreveu: "No começo fiquei com medo da diferença de idade, mas Oona não ligava". Eugene a deserdou e não permitiu que falassem dela. Salinger soube do noivado pelos jornais e fez o que mais sabia fazer, escreveu longas e sarcásticas cartas. Na biblioteca da Universidade do Texas, pesquisadores têm acesso à pilha de cartas desaforadas que escreveu. Escrevia e desenhava Chaplin como um velho desagradável.

Salinger desembarcou no Dia D na Normandia. Viu o horror no front. Apesar do "escândalo", Oona e Charlie viveram inseparáveis por 35 anos em Beverly Hills e, depois, no exílio na Europa. Tiveram oito filhos. Geraldine é a mais velha. Ficaram juntos até ele morrer.

Ela morreu alcoólica e reclusa em 1991, 14 anos depois do grande amor, de pancreatite aguda. Sempre se recusou a falar de Salinger. Está enterrada na Suíça ao lado de Chaplin. Seu quinto filho se chama Eugene (engenheiro de som que trabalhou com Rolling Stones, David Bowie e Queen), em homenagem ao pai, que nunca mais a viu. Aí está o exemplo de um amor que não acabou, apesar de tudo conspirar contra.

Ueba! Fita crepe na Simone! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 14/12

E já imaginou tucanos na Papuda? 'Tem concierge?' 'De que safra é o vinho?' 'A quentinha é do Fasano?'


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E adorei a dieta do Roberto Jefferson: salmão, geleia real e água de coco! Papuda Gourmet! Spapuda! E o resto na quentinha com dois "zóiudos" fritos! Rarará!

E o funeral babado do Mandela?! Sabe o que o Obama prometeu pra Michelle? "No próximo funeral, eu sento entre a Dilma e a Angela Merkel". Rarará!

E o intérprete dos discursos para surdos é impostor! Só fazia sinais sem sentido! E o Kibeloco: era a dança dos dedinhos da Eliana! Rarará.

E diz que a Globo vai contratar o intérprete esquizofrênico pra traduzir o Bial no "BBB"! E adorei a charge do Xalberto! Obama: "Mandela is a great man". E o tradutor dos sinais: "O que esse tal de Collor tá fazendo aqui?". Rarará!

E o helipóptero dos Perrella? Tão dizendo que: a fazenda é do pai, o helicóptero é do filho e a cocaína é do Espírito Santo! Então: amém! Rarará!

E atenção! Faltando dez dias pro Natal, ainda não ouvi a Simone, entrei em shoppings, supermercados, padarias e presídios, e não ouvi a Simone, resta alguma esperança? Será que eu escapei dessa vez? E um amigo: "PQP, fudex! Meu vizinho ouvindo a Simone. Vou passar o Natal na Síria". DOIS! Rarará.

Na internet, taparam a boca da Simone com uma fita crepe. Prateada! E um tuiteiro: "Gostaria que na cela dos mensaleiros tocasse dia e noite num alto-falante a Simone cantando Então É Natal'". Isso fere a Convenção de Genebra! E não tem pena de morte no Brasil!

E sabe o que eu vou dar de presente de Natal pro Dirceu? Um par de havaianas listrado de preto e branco. Verão na Papuda! Rarará!

E essa: "Procurador que engavetou pedido da Suíça reassume inquérito do caso Alstom". Gaveta de novo! Tapetão do Trensalão! Tem o tapetão e o gavetão! Petista é na Papuda e tucano é na gaveta! E já imaginou tucanos na Papuda? "Tem concierge?" "De que safra é o vinho?" "A quentinha é do Fasano?" "Tem cela para éticos?". Rarará!

O Brasil é Lúdico! Corre na internet um vírus: "Seu cartão foi cronado". O hacker não fez Enem! "Cronado em Frorianóporis na estreia do filme CRÔ?". Rarará!

E olha o que apareceu na tela do "Cidade Alerta": "Presos queimam colhões em motim". Rarará! Corta pra mim! Põe na tela! Põe na tela! Rarará. Nóis sofre, mas nóis goza.

Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Hoje a festa é sua - CACÁ DIEGUES

O GLOBO - 14/12

Devíamos nos orgulhar da origem portuguesa. Devíamos aproveitar o fato de sermos a única nação luso-afro-indígena


Por motivos profissionais, me encontro em Lisboa nessas vésperas de Natal. Adoro essa cidade. Não só porque ela é linda, elegante, afetuosa e fala a nossa lingua, como também porque aqui percebo de onde vim.

Como Portugal não participou de nenhuma daquelas guerras arrasadoras e genocidas do século 20, Lisboa permaneceu inteira. Isso é, inteira como sempre foi depois de destruída por um terromoto seguido de maremoto que acabou com dois terços da cidade, em 1755. Ao contrário do que escreveu Lévy Strauss sobre o Brasil exibir uma decadência que não conheceu a civilização, as poucas ruínas de Lisboa parecem intervenções urbanas contemporâneas, como as que produz em outras cidades Gordon Matta-Clark, autodenominado “o anarquiteto”, com manipulação artística de prédios em demolição.

É comovente ver uma juventude lisboeta moderna, a passear pelas velhas vias da cidade vestindo, cantando e dizendo algo à altura do que veste, canta e diz qualquer jovem em Nova York, Londres, Paris ou Barcelona. Assim como não é possível deixar de pensar numa cultura secular, quando se come muito bem em qualquer canto caro ou barato de Lisboa.

No ensaio “Notas para uma definição de cultura”, T.S.Eliot diz que cultura e conhecimento não têm nada a ver, não são a mesma coisa, aquela antecede a este. O conhecimento é uma forma superior das relações do homem com a natureza, enquanto a cultura faz parte e é indispensável à própria existência do homem sobre a terra.

Já cansei de dizer a meus amigos que devíamos nos orgulhar de termos a origem portuguesa que temos. Devíamos aproveitar o fato de sermos a única nação luso-afro-indígena do mundo. Alguma coisa de original temos que extrair dessa mistura, daí sairia nossa potencial contribuição à civilização humana, poderíamos torná-la mais fraterna, solidária e indiferente às diferenças.

Vizinha à Torre de Belém, me espanto com a reprodução de uma nau das descobertas, uma daquelas barcacinhas frágeis em que nossos antepassados portugueses se atiravam ao mar, indo com o vento parar na India e no Japão. Ou nas terras desconhecidas do que seria o Brasil. Uns loucos, esses navegadores; loucos cheios de curiosidade e de esperança no que haveriam de encontrar.

É bom pensar em tudo isso nessa véspera de Natal, a festa do recomeço. O grande poeta alagoano Jorge de Lima, um dos maiores da língua portuguesa, dizia que a diferença cultural entre os catolicismos hispânico e lusitano que nos formaram a todos na América Latina, é que a festa máxima dos espanhóis é a da Paixão, representada pela imagem do Cristo em chagas a sofrer na cruz, ferido de morte por nossos pecados.

Já a festa portuguesa por excelência, a que herdamos deles, é a do Natal, cuja imagem fundadora é a do Menino na manjedoura iluminada, cercado por seus pais, por pastores e reis, com a estrela de Belém ao fundo, a anunciar a chegada de nossa Redenção. É isso o que devíamos ser e representar para o mundo, não importa a religião ou a ausência dela.

Não me apego a nostalgias, tenho saudades de muito pouca coisa, quase todas muito pessoais (como a saudade de meu corpo jovem, por exemplo). O mundo já foi muito pior, o país mais atrasado, nossa vida muito mais difícil. Apesar de tudo, mesmo com tanta miséria e injustiça, com tanto egoísmo e abandono, com os confrontos pelo mundo afora, vamos avançando, tentando prolongar nossa existência com uma certa qualidade, conquistando nossos direitos específicos e universais.

Mas não posso deixar de dizer que já gostei mais de Natal, sobretudo o de minha terra, Alagoas. Na minha infância, Natal era mesmo festa. As pessoas cantavam e dançavam pastoris, reisados, cheganças, todos os festejos populares de origem portuguesa (às vezes, com influência moura). Num certo sentido, talvez fosse até mais animado que no carnaval.

Mesmo já morando no Rio de Janeiro, minha mãe organizava na Rua da Matriz, com jovens filhos e filhas de vizinhos, grupos de pastoril, quase sempre na casa de Valquíria e Barreto Filho, ilustre crítico literário amigo de meu pai. Minha mãe se encantou quando foi convidada por médicos do Instituto Pinel a ensinar o pastoril aos internos da casa e passou a fazê-lo todo ano.

As festas de Natal duravam o mês de dezembro inteiro e só iam terminar no 6 de janeiro, Dia de Reis. Agora, a gente fica sentado na sala, assistindo em silêncio à festa de um só Rei, único, maravilhoso e inbiografável. Por que estamos tão tristes? Precisamos recuperar nossa alegria de viver, nossa herança das famosas “três raças tristes”.

Confesso que não acho graça no Papai Noel que invadiu a festa. Com aquela barriga, sempre acho que se trata de propaganda de cerveja. E acho árvore de Natal um estorvo em casa e na rua. Essa não é a minha festa. Eu gosto mesmo é de presépio e de desejar um bom Natal a com quem cruzo na rua.

Por falar em Natal, paro de escrever hoje e só volto no dia 11 de janeiro. Feliz fim de ano para todo mundo.

Alegria do Evangelho - DOM ODILO P. SCHERER

O Estado de S.Paulo - 14/12

No dia 24 de novembro o papa Francisco entregou à Igreja sua exortação apostólica Evangelii Gaudium - A Alegria do Evangelho. Diversamente de uma encíclica, dirigida de maneira aberta a todos, a exortação apostólica é uma diretriz vigorosa sobre determinado tema dirigida aos membros da própria Igreja.

Nesta sua primeira exortação apostólica Francisco trata do anúncio do Evangelho no mundo atual, tema relacionado estreitamente com a assembleia do Sínodo dos Bispos de outubro de 2012, sobre "a nova evangelização para a transmissão da fé cristã". O papa expõe as intuições e preocupações levantadas naquele Sínodo, fundidas com a sua pessoal percepção e orientação sobre as questões relacionadas ao tema.

A principal missão da Igreja de Cristo é, de fato, anunciar o Evangelho, ou "evangelizar". Ela o faz quer pela pregação explícita e pela celebração dos sacramentos, quer pelo testemunho de vida dos seus membros, quer, ainda, pelas obras que realiza no meio da comunidade humana - nos âmbitos da saúde, da educação, da assistência social e da promoção da justiça e da dignidade humana. "A Igreja existe para evangelizar", já afirmava o papa Paulo VI na exortação apostólica Evangelii Nuntiandi (1975) - sempre recordada quando se trata do assunto.

Se bem que a Igreja nunca tenha deixado de evangelizar ao longo de toda a sua história quase bimilenar, ela não o fez sempre do mesmo modo. O conteúdo é o mesmo, mas o jeito mudou, com novos enfoques e destaques, dependendo das circunstâncias e necessidades. Mais de uma vez a Igreja precisou enfrentar o risco da desmotivação e do cansaço, de perplexidades resultantes de situações momentâneas, ou de crises, que ela teve de enfrentar com ânimo renovado. Hoje não é diferente.

Essa é a questão posta na exortação Evangelii Gaudium. Antes de tudo, Francisco exorta a Igreja a que ela não pode esquecer nem abdicar de sua identidade missionária. O Evangelho, que lhe foi confiado por seu Fundador, é um dom para o mundo todo, que a Igreja não deve reter apenas para si mesma, muito menos esconder para não ser contaminado com as realidades do mundo. A Igreja não existe em função de si mesma, nem se pode fechar sobre si mesma; por sua própria natureza, ela precisa estar em "atitude de saída", em estado de missão.

Por isso Francisco chama os membros da comunidade eclesial a se voltarem para essa identidade missionária. Isso demanda a superação de certa tendência à introversão eclesial e a renovação de convicções e atitudes, "a partir do coração do Evangelho". Há tentações a serem evitadas, como o desânimo, a acomodação à mentalidade individualista, que faz perder a força dinâmica do anúncio do Evangelho; há também a tentação de transformar a religião em praça de consumo ou em fonte de lucro, poder e vanglória.

O "mundanismo", processo sutil de assimilação da Igreja e de sua pregação originária ao ambiente, foi um risco já advertido por São Paulo no início do cristianismo - "não vos conformeis com este mundo!" - e recorrente em toda a história da Igreja. "Não tenham medo de ir contra a corrente", convidou Francisco, com insistência, aos milhões de jovens reunidos na orla de Copacabana em julho. E isso não por uma perfeição já alcançada, mas por se ter uma meta alta para a existência humana e um caminho para alcançá-la, que requerem escolhas lúcidas e corajosas.

O papa exorta todos os membros da comunidade eclesial a fazerem sua parte na evangelização, que não pode ser relegada apenas a poucos e heroicos mensageiros. Há "deveres de casa" que não podem ser repassados simplesmente aos outros. Mas o papa não deixa de dirigir uma palavra especial aos que devem fazer a homilia, a pregação feita dentro da celebração litúrgica. Essa tem um papel inegável na transmissão e no cultivo da fé cristã.

A dimensão social da evangelização deve receber uma atenção renovada, para que o Evangelho alcance todos os âmbitos da vida social e comunitária; sem isso ele seria como o sal ou o fermento que permanecem na prateleira, não produzindo efeito algum. As convicções da fé cristã não dizem respeito apenas à vida privada, mas trazem consigo uma visão própria sobre as realidades do homem e do mundo e têm muito a contribuir em seu benefício. O Evangelho é um bem não apenas para quem crê, mas também para toda a comunidade humana.

A Doutrina Social da Igreja, elaborada ao longo de séculos e apresentada modernamente em várias encíclicas e outros documentos do magistério eclesial, expõe de maneira sistemática o pensamento social cristão e católico sobre temas como a dignidade humana, as relações sociais e políticas, a economia, a justiça social, a paz no mundo e, mais recentemente, sobre as questões ambientais. Nada disso é indiferente ao Evangelho.

Francisco recorda, com renovado frescor, que a atenção especial aos pobres, doentes e desvalidos deriva diretamente da fé em Cristo. Portanto, essa preocupação também é parte integrante da evangelização e precisa ser traduzida não apenas em atitudes assistenciais, mas na ação em favor da justiça e do respeito à dignidade de todos no convívio social.

Porém o papa recorda que o Evangelho não é ideologia, e sim força transformadora da vida. Não se faz a evangelização por decretos nem por decisão em assembleias, mas pela ação de pessoas felizes por terem encontrado a grande luz de sua vida no Evangelho de Cristo e na fé em Deus. Já dissera Bento XVI: "A Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração". O Evangelho enche de alegria o coração dos que o acolhem; e eles o transmitem não como um dever pesado, mas como alguém muito feliz por ter coisas boas a comunicar.

Para não esquecer - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 14/12

AI-5 foi assinado por 22 dos 23 membros do Conselho de Segurança Nacional, composto pelos ministros civis e militares reunidos pelo então chefe do governo, Costa e Silva



Chamado de golpe dentro do golpe, o Ato Institucional nº 5, cuja promulgação completou 45 anos ontem, foi um dos maiores atentados cometidos contra a liberdade de expressão e os direitos humanos. Vale a pena lembrar. Em uma década de vigência, esse decreto institucionalizando a ditadura militar fechou o Congresso, cancelou o habeas corpus e puniu mais de mil cidadãos, cassando ou suspendendo seus direitos, além de promover a censura de cerca de 500 filmes, 450 peças de teatro, 200 livros, dezenas de programas de rádio, cem revistas, mais de 200 letras de música e uma dúzia de capítulos e sinopses de telenovelas. Só o falecido Plínio Marcos teve 18 peças vetadas. O índex ia de Chico Buarque, um dos mais perseguidos, à comediante Dercy Gonçalves. Já na madrugada de 13 de dezembro, vários jornais foram censurados ou impedidos de circular, e centenas de políticos, intelectuais, jornalistas, artistas foram presos num tipo de operação que mais tarde seria consagrada pelos bandidos: o “arrastão”.

O AI-5 foi assinado por 22 dos 23 membros do Conselho de Segurança Nacional, composto pelos ministros civis e militares reunidos pelo então chefe do governo, marechal Costa e Silva, o segundo ditador a mandar no Brasil no período de 1964 a 1985. A sessão que aprovou o Ato constituiu um espetáculo semelhante a uma peça do tropicalismo, então na moda, dirigida por José Celso Martinez Correa. Os ministros-atores funcionaram como encarnações alegóricas da hipocrisia e da pusilanimidade.

O único a se portar com dignidade naquela sexta-feira, 13, foi o vice-presidente da República, Pedro Aleixo, que se recusou a apoiar um documento que, como todos leram, instaurava no país o reino do arbítrio, da tortura e do terror. Basta dizer que um preso acusado de delito político ficaria incomunicável por dez dias — cinco a mais do que o Alvará de 1705, usado para arrancar confissão dos inconfidentes mineiros. Consta que, cheio de dúvidas e quase arrependido, Costa e Silva teria desabafado: “Peço a Deus que não me venha convencer amanhã de que Pedro Aleixo é que estava certo.” Diz-se que o velho ditador tinha esperança de que o AI-5 acabasse logo. Ele acabou antes.

Pelo menos dois remanescentes daquele conselho continuam por aí sem esboçar qualquer revisão crítica do passado: Jarbas Passarinho, ex-ministro do Trabalho e da Previdência, e Delfim Netto, pai do “milagre econômico”. O primeiro é autor da famosa frase que pronunciou ao emitir seu voto a favor do AI-5: “Às favas todos os escrúpulos de consciência.” O segundo tornou-se muito respeitado pelos antigos adversários que agora estão no poder e dos quais tem funcionado como conselheiro ou guru. Tão respeitado que eles parecem ter atualizado a imprecação de Passarinho, mudando-a para: “Às favas todos os escrúpulos éticos.”

Quem quer a volta de Lula? - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 14/12
É cada vez mais forte a percepção de que o setores empresariais torcem para a troca de Dilma pelo ex-presidente na chapa de 2014. O problema para a atual chefe do Planalto é que, por mais distante que tal equação esteja da realidade, ninguém no PT vai defendê-la caso a economia vá mal no próximo ano
Na foto oficial de Dilma Rousseff com os quatro ex-presidentes - feita antes do embarque para o funeral de Mandela e divulgada pelo Palácio do Planalto para todas as agências e jornais do mundo -, o petista Luiz Inácio Lula da Silva está com cara de um coadjuvante. Explico. Ele, Fernando Henrique Cardoso, José Sarney e Fernando Collor têm expressões distintas, mas, em comum, parecem se recusar a olhar diretamente para a câmera, como se resignados com o papel de reservas.
Enquanto Sarney usa óculos escuros, Collor ri de forma forçada e espreme os olhos. Fernando Henrique, naquele momento, parece displicente, mas não tanto quanto Lula, este sim, com a atenção voltada para fora do quadro. Talvez estivesse a mirar outra pessoa, mas o fato é que não olhava para a lente da câmera oficial, responsável por enquadrar Dilma. A presidente, no centro e de vermelho, encara o fotógrafo, disposta a mostrar quem manda ali e a quem caberá os elogios por reunir ex-presidentes.

Por mais que revele a força da presidente, a fotografia de Dilma com os ex-comandantes não é suficiente para tirar da cabeça dos especuladores de cenários políticos a ladainha da volta de Lula ao poder. Mesmo que a mulher recupere, a cada pesquisa, parte da aprovação perdida durante os protestos de junho, a sombra do mentor político está sempre ali, do lado. Mais do que um substituto de luxo, caso a oposição cresça para cima de Dilma, Lula é visto com um jogador pronto para entrar em campo.

É fácil entender a lógica do setor financeiro contra Dilma. Ao mesmo tempo que o atual governo tenha insinuado uma tentativa de diminuir as margens de lucros de bancos com a queda dos juros e a redução do spread, por exemplo, a equipe econômica foi desastrosa ao maquiar números na tentativa de fechar contas públicas. Tudo isso provocou o descrédito do Ministério da Fazenda, que, nem com reza nem com declaração de Guido Mantega, consegue sair das cordas do ringue do debate financeiro.

Atores

A dificuldade de Dilma aumenta à medida que, a partir de um rápido exercício, são colocados mais atores ligados à gestão política e administrativa da presidente. Mire, por exemplo, o parlamento e tente, mesmo de brincadeira, defender a petista ou a ministra-viajante-em-helicóptero-do-Samu, Ideli Salvatti, responsável do Palácio do Planalto pelas negociações com o Congresso. Vai levar boas bordoadas. Mais uma vez, a balança pende para Lula, sem que seja preciso fazer contas ou levantamentos de plenário.

A base aliada gostava de Lula e do jeito quase informal dele de fazer política. Com a substituição por Dilma, até os mais otimistas nunca tiveram dúvidas do jogo duro da presidente em tratar com os parlamentares. Ainda mais quando não se tem escudeiros de peso na intermediação com o Legislativo. Mesmo com os servidores públicos, Dilma mostra dificuldades, aqui pela trava nas negociações salariais. Assim, parece que vai faltar gente da base a apoiar a presidente petista. Não é bem assim.

As pesquisas recentes mostram uma força eleitoral que Dilma havia perdido nas manifestações da metade do ano, mas parece ter recuperado. Hoje, há um percentual de eleitores se dizendo dispostos a elegê-la inclusive no 1º turno. Até onde vai tal recuperação é que são elas, principalmente por causa da chance da volta das manifestações no próximo ano e, é claro, pela fragilidade das políticas econômicas a favor do crescimento e contra a inflação. Em caso de queda de popularidade, o PT vai pular fora.

A falta de solidariedade dos petistas pode ser entendida a partir do receio em perder a máquina federal e todos os cargos federais em Brasília e nos estados. Qualquer risco de deixar o comando a partir de uma eventual derrota de Dilma levará os petistas para o lado de Lula, sem constrangimentos, inclusive para mudar o discurso em favor do ex-presidente e justificar a saída de cena da mulher. Para isso existem os marqueteiros, a adequar a realidade partidária às urnas.

De volta à foto do início: Lula pode até não olhar para a lente, mas está longe de ser um coadjuvante.

Ainda pior - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 14/12

SÃO PAULO - Há exatos sete dias, eu fazia neste espaço algumas observações sobre os resultados desastrosos que o Brasil obteve na última edição do Pisa, o exame internacional de avaliação de estudantes. Bem, a situação pode ser ainda um pouco pior do que parecia.

Ao longo da semana, o assunto foi debatido em blogs de especialistas como Simon Schwartzman e João Batista Araujo e Oliveira e surgiram não poucas dúvidas sobre a tímida melhora que o Brasil registrou. A pergunta mais fundamental foi colocada pelo próprio Simon: por que só em matemática? Por que não observamos avanços semelhantes também em leitura e ciência, as outras áreas avaliadas pelo Pisa, como seria de esperar se a educação brasileira estivesse melhorando de forma razoavelmente consistente?

E vários outros problemas foram levantados. Creso Franco sugere que o Pisa pode ter incorporado algumas questões mais fáceis para aumentar o nível de discriminação do exame para os alunos de países pobres. João Batista sustenta que a amostra usada para compor o Pisa 2012 sobrerrepresentou os alunos mais avançados, inflando os resultados.

Mais ou menos na mesma linha, André Portela sugere que os pontos que ganhamos são mais bem explicados pela redução da distorção idade/série do que por melhoras qualitativas no sistema de ensino.

As dúvidas são pertinentes e as hipóteses, mesmo as menos abonadoras, precisam ser seriamente investigadas. Seria um desastre se os números oficiais da educação, sempre tidos como de boa qualidade, passassem a ser vistos com desconfiança, a exemplo do que já ocorre com a contabilidade econômica.

Não importa qual seja a reforma educacional de que o Brasil precisa, ela só vai dar certo se o ensino passar a ser tratado como uma questão de Estado, não como uma peça de propaganda que este ou aquele governo possa usar a seu favor.

A Coreia do Norte inova - GILLES LAPOUGE

O Estado de S.Paulo - 14/12

São raras as notícias vindas da Coreia do Norte, um país onde a última ditadura staliniana do planeta ainda reina, no meio da nossa geografia, como um bloco de silêncio. No entanto, o que se diz é que, às vezes, ela fala demais, porque, toda vez que pronuncia uma frase, essa sentença é sinistra, perigosa e ameaçadora.

No geral, é bom lembrar que Pyongyang tem a bomba atômica e os EUA e a Coreia do Sul deveriam ser razoáveis pois, ao primeiro passo em falso, seriam reduzidos a cinzas pelo arsenal nuclear norte-coreano.

Agora, é uma música fúnebre que nos chega de Pyongyang. O número 1 da Coreia do Norte, o jovem Kim Jong-un, mandou fuzilar o general Jang Song-thaek sob acusação de complô contra o Estado. Dois colaboradores imediatos de Jang foram fuzilados na semana passada.

São fatos comuns nas tiranias. Stalin, um dos modelos seguidos pela Coreia do Norte, distribuiu know-how nesse campo. No entanto, o que vem a aumentar o horror é o fato de o ataque ocorrer em família: o general Jang, de 67 anos, era tio de Kim Jong-un. Mais estranho ainda é que foi o pai de Kim, o general Kim Jong-il, que colocou Jang ao lado do filho para orientar seus primeiros passos na função de líder supremo do país.

Tudo isso é um pouco complicado. Lembremos que a Coreia do Norte, desde a sua criação, é dirigida pela mesma dinastia. Ela foi fundada em 1948 por Kim Il-sung, morto em 1994. Ele foi substituído pelo filho, Kim Jong-il, que morreu em 2011 e transmitiu o trono para o atual número 1.

Kim Jong-il estava inquieto porque o filho que seria seu sucessor era muito jovem. Além disso, era um jovem que parecia distraído, educado na Suíça, que parecia se limitar a ouvir músicas de Frank Sinatra e a assistir a filmes de Walt Disney.

Eis porque o pai, antes de morrer, tomou duas decisões: inscreveu o filho, o gordo Kim Jong-un, na universidade militar e arranjou um conselheiro para ele. O escolhido foi seu cunhado, o general Jang, portanto, tio do jovem dirigente.

A irmã de Kim Jong-il chama-se Kim Kyung-hui, descendente direta do fundador da Coreia do Norte, Kim Il-sung. Neste ponto, uma pergunta deve ser feita: como executar um general cuja mulher tem um caráter sagrado por fazer parte da dinastia? A resposta é simples: o general afastou-se muito da sua mulher. Além do que, ela é alcoólatra em último grau. Não tem mais influência.

Se essa observação parece um tanto obscura, peço desculpas, mas vou me defender justificando que simplifiquei esse imbróglio da nobre família Kim. Na verdade, evitei citar, a cada etapa, as mulheres não casadas, sejam concubinas ou artistas de music-hall, colocadas numa posição secundária na árvore genealógica da família. Por exemplo, Kim Jong-un é filho de uma cantora chamada Ko Yong-hee, que morreu em 1994 num hospital parisiense.

Podem ser tiradas lições políticas desse episódio? Certamente, mas, no momento, fiquei fascinado com esse lúgubre romance familiar que poderia se desenrolar nos palácios da Renascença italiana, sob o Império Romano em sua decadência ou entre as famílias dos czares russos.

Outra peculiaridade deve ser apontada. Expurgos selvagens já ocorreram na Coreia do Norte após 1948. Cadáveres de dirigentes não faltam. Mas, por tradição, o silêncio envolvia essas mortes e só tínhamos notícia delas muito depois. Este ano, Pyongyang inovou: o fim de Jang foi divulgado e fotografado. Outros tempo, outros hábitos abomináveis. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Nem tudo tá perdido - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 14/12

Em entrevista ao “Valor”, FH descreveu como “alegre” e “amável” a viagem para o funeral de Mandela, ao lado de Dilma, Lula, Collor e Sarney.
Mas houve um momento em que se discutiu seriamente a necessidade de reforma política no país.

Otimismo
Guido Mantega saiu animado do almoço, ontem, em São Paulo, com pesos-pesados da economia.
À mesa, segundo o ministro, empresários de siderurgia, varejo, alimentação e aviação falaram bem da situação atual dos negócios e disseram estar otimistas com o futuro.

Bolha imobiliária
Sabe por quanto está sendo vendido um apartamento na Rocinha? R$ 250 mil.
O anúncio está em uma lotérica da favela carioca.

‘O centauro no jardim’
Dois anos depois de sua morte, o escritor Moacyr Scliar (1937-2011) ganhou um belo site http://www.scliar.org/moacyr.
Além de fotos inéditas ao lado de colegas e escritores, como Verissimo a página apresenta trechos em áudio de seus romances. Um deles é “O centauro no jardim”.

Airbag não abriu
A Quarta Turma do STJ determinou que a Renault indenize em R$ 20 mil uma consumidora que sofreu um acidente com o seu carro.
É que o airbag não abriu, o que lhe causou sérios problemas de saúde.

Aliás...
O Brasil é mesmo um país esquisito.
Aqui quem decide se os veículos devem ter airbags e freios ABS é o ministro... da Fazenda. Só falta o assunto sair na ata do Copom.

Deixa, João
Gilberto Gil espera autorização de João Gilberto para gravar a letra que fez para a música “Um abraço no Bonfá”.
A melodia foi composta por João, em 1960.

Sucessos...
Gil quer incluir a música no CD “Gilbertos”, que ele lança em 2014, cantando a bossa nova que João gravou. Tem músicas como “O pato”, “Dindi” e “Doralice”.
O lançamento será pela Sony. A produção é de Bem Gil e Moreno Veloso.

Água na boca
“Uns cheios, outros em vão: Receitas que contam histórias”, de Heloisa Seixas, foi escolhido o melhor livro de culinária do Brasil em 2013 pela Gourmand World Cookbook Awards.
O livro é editado pela Casa da Palavra.

Doce, doce amor
Jerry Adriani, o cantor, de 66 anos, vai lançar sua biografia em 2014.
Vai contar, entre outras coisas, de seu sucesso com as mulheres. Danadinho.

Taí, eu apoio
Saiu publicado, ontem, no Diário Oficial do Município do Rio um projeto de lei que autoriza o topless nas praias e calçadões cariocas.
Justificativa: “Se a mulher coloca o seio para fora para amamentar, por que não fazer o mesmo para tomar sol?”

Raia miúda
A 7ª Câmara Criminal do Rio rejeitou a acusação contra quatro operários que trabalhavam na obra que provocou a queda do edifício Liberdade, na Av. Treze de Maio, em janeiro do ano passado, no Centro do Rio.
O acidente matou 17 pessoas e deixou cinco desaparecidas. A Justiça entendeu que pedreiros e ajudantes apenas executaram o que foi determinado. A ação prossegue contra os responsáveis pela obra.

O Rio virou um rio
Não foi só a população que se afogou nas águas de dezembro. O sistema de ônibus teve um prejuízo de mais de R$ 1 milhão na última quarta-feira.
Mas a temperatura chegou ao extremo em Fazenda Botafogo. Lá, um ônibus foi queimado durante um protesto de moradores insatisfeitos com as perdas que tiveram por causa da chuva. A empresa Pavunense registrou prejuízo de R$ 180 mil.

Briga nunca mais
Fez um ano ontem a briga generalizada entre alunos da Escola Municipal Rachide da Glória Salim Saker, em Niterói.
Para lembrar, a escola promoveu “Reinventando a vida”, com oficinas culturais e brincadeiras. Melhor assim.

Delegatas
De um atento observador da beleza da mulher brasileira.
Dos 135 novos delegados da Polícia Civil do Rio que tomaram posse na segunda passada, 36 eram mulheres.
Quase todas muito bonitas.

FESTA À FRANCESA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 14/12

O presidente François Hollande entregou ao ex-jogador Raí Oliveira a Legião de Honra, uma das três principais condecorações do governo da França, anteontem, no hotel Hyatt. O homenageado estava com parentes e amigos, como a mãe, Guiomar, o irmão Sóstenes, a filha Noáh, a neta, Naira Bellissimo, e as ex-mulheres, Danielle Dahoui e Cristina Bellissimo. A primeira-dama francesa, Valérie Trierweiler, o embaixador do país no Brasil, Denis Pietton, e a consulesa em SP, Alexandra Loras, também participaram da festa.

PAPEL PASSADO
José Renato Nalini, novo presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, diz ser "irreversível" a adoção do peticionamento eletrônico no Estado. Na próxima segunda-feira, a OAB-SP vai liderar uma manifestação nacional da classe em defesa da manutenção das petições de papel junto com o sistema digital.

PAPEL PASSADO 2
Advogados reclamam de falhas técnicas que dificultariam o envio dos processos à Justiça. Segundo Nalini, o aperfeiçoamento do sistema pode ser discutido. "Mas não dá para jogar dinheiro do povo fora. A implementação consumiu R$ 300 milhões ao longo de sete anos." Ele afirma que são gastos R$ 5 milhões por mês em aluguel de locais para guardar arquivos de papel.

DA TERRINHA
A fadista Carminho gravou uma participação especial no próximo disco de Alceu Valença. A música escolhida foi "Frevo nº 1 do Recife", de Antônio Maria.

De volta ao Brasil, a cantora portuguesa, que já gravou com Chico Buarque, Milton Nascimento e Nana Caymmi, se apresenta no Tom Jazz, entre segunda e quarta-feira da próxima semana.

FAZENDO CONTAS
Manoel Rangel, presidente da Ancine, retorna de Cuba hoje, depois de acompanhar o Festival Internacional do Novo Cinema Latino-Americano, em Havana, que teve mais de 70 filmes brasileiros em sua programação. Na segunda, ele se reúne com o Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual, que tem mais de R$ 1 bilhão em caixa, para definir os recursos a serem liberados ainda neste ano. Os editais serão lançados na terça pela ministra Marta Suplicy.

REPARAÇÃO
O blogueiro Paulo Henrique Amorim, apresentador da TV Record, foi condenado a pagar R$ 50 mil por danos morais ao ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Em 2008, ao criticar decisões do magistrado, Amorim afirmou que ele "transformou o Supremo Tribunal Federal num balcão de negócios".

SEM QUERER
Em sua defesa, Amorim sustentou que as afirmações "não representam ofensa à honra e reputação do autor, caracterizando-se como livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação". A juíza Tatiana Dias da Silva, de Brasília, considerou, no entanto, que "a matéria produzida pelo réu não relatou fato verídico, não teve o intuito apenas de informar a coletividade", mas, sim, "teve o escopo de depreciar a imagem do autor, sem qualquer amparo". O advogado de Amorim informa que vai recorrer da decisão.

DESTINO CERTO
A juíza determinou que os R$ 50 mil a serem pagos por Amorim devem ser destinados à Apae de Diamantino (MT), onde Mendes nasceu.

MUNDO DA MODA
"In my Book" (Companhia Editora Nacional), autobiografia da empresária de moda Tamara Mellon, será lançada no Brasil em fevereiro.

CURTO-CIRCUITO
O livro "Memórias de um Caçador", de Ivan Turgueniev, será lançado hoje, às 11h, na Casa do Saber da Mario Ferraz.

O estilista João Pimenta é o novo diretor criativo da marca West Coast.

O Teatro Oficina, no Bexiga, estreia hoje "Cacilda!!!!". 16 anos.

Maria Gal autografa "A Bailarina e a Bolha de Sabão ", hoje, às 13h, no Anhembi.

Betty Gervitz faz show com o grupo Mutrib, amanhã, às 18h, no Sesc Pompeia. Grátis. Livre.

Mantega desautorizado - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 14/12

A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) está ligando para líderes no Congresso, avisando que o ministro Guido Mantega não fala pelo governo. Ela tenta contornar o mal-estar gerado por Mantega, ao defender que seja adiada a obrigatoriedade de airbags e freios abs nos carros. “O governo não tem decisão fechada, não bateu o martelo”, disse Gleisi, ontem, ao deputado Hugo Leal (PROS-RJ). 

Esquizofrenia judicial 
Políticos de todos os partidos estão chocados e preveem o caos se o STF proibir o financiamento eleitoral pelas empresas. O cientista político Paulo Kramer resume a perplexidade: “Eles desmontaram o que existe sem dizer o que vai ficar no lugar”. Os políticos afirmam: “O Supremo quer mudar a forma de financiamento sem mudar a forma de disputar eleições”. O custo das campanhas e da propaganda na TV vai continuar crescendo, mas as principais fontes de receita estão sendo colocadas fora da lei. Os especialistas avaliam que a decisão vai estimular o “festival de denuncismo” e o “caixa 2” Em 2010, a campanha da presidente Dilma custou R$ 176 milhões. 


“Às vezes, é preciso uma vanguarda iluminista para empurrar a história. É isso que legitima nosso papel” 
Roberto Barroso 
Ministro do STF, ao votar para proibir que as empresas financiem as campanhas eleitorais 

A dieta do vice 
O vice-presidente Michel Temer aderiu a uma nova dieta: “Não como mais nada que tenha olhos”. Conta que estava almoçando com um amigo que segue a dieta vegana e que, sensibilizado, aderiu à filosofia. 

Café com leite 
O tucano Aécio Neves ainda não definiu quem será o vice na sua chapa à Presidência. Mas relata que “o ex-presidente Fernando Henrique defende que o lugar seja ocupado por um político de São Paulo filiado ao PSDB”. Aécio confirma que o nome é o do senador Aloysio Nunes Ferreira. Para FH, Aécio precisa ter uma base forte no maior colégio eleitoral do país. 

Bico fechado 
Eles estão na mesma cela na Papuda (DF): Valdemar Costa Neto, José Dirceu, Delúbio Soares, Bispo Rodrigues e Jacinto Lamas. A um amigo, Valdemar contou que passa o dia calado. Os presos estão satisfeitos com as instalações. 

Retrabalho 
Na onda da exumação do corpo do ex-presidente João Goulart, a Câmara criou uma comissão para investigar a morte do ex-presidente Juscelino Kubitscheck. Comissão semelhante há 12 anos, em 2001, concluiu: “Não há qualquer indício ou evidência que justifique a tese de assassinato. O acidente que o vitimou restringiu-se a fatalidade”. 

Retrato 
O Vox Populi fechou pesquisa (8 e 9/12) na ilha de São Luís, 22% do eleitorado do Maranhão. O candidato ao governo do PCdoB, Flávio Dino, lidera com 38,5%. Luiz Fernando, candidato da governadora Roseana Sarney (PMDB), tem 28,2%. 

Sucessão potiguar 
Sem disposição para concorrer ao governo do Rio Grande do Norte, o ministro Garibaldi Filho (Previdência) tem atuado pela indicação do ex-senador Fernando Bezerra. O nome agrada ao PT, que indicará Fátima Bezerra ao Senado. 

ABACAXI para o PT descascar: os programas de TV regionais do partido, em fevereiro, no Rio e no Ceará, terão ou não a presidente Dilma?

Au revoir - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 14/12

Dilma Rousseff disse nesta semana ao presidente François Hollande que o Brasil não comprará da França os 36 caças do programa FX-2, da Aeronáutica. O entrave para a aquisição do Rafale, fabricado por um consórico liderado pela francesa Dassault, é o preço: ele custaria o dobro dos concorrentes --o F/A-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing, e o sueco Gripen-NG. Na expectativa de selar o negócio, Hollande trouxe o presidente da Dassault, Éric Trappier, em sua visita ao Brasil.

Sinais trocados Surpresos, auxiliares relatam que Dilma deixara no ar que poderia decidir pelos franceses, pois acompanhou Hollande em dois eventos no Brasil, contrariando seu estilo. Mas, nas palavras de um deles, era um "gesto de consolação".

Finesse Apesar do contratempo comercial, Hollande foi cavalheiro com a brasileira: ela tropeçou ao descer uma escada ontem na Fiesp, em São Paulo, e só não caiu porque o francês a amparou.

Titular Desde junho interino, Dyogo Oliveira será efetivado como secretário-executivo do Ministério da Fazenda. A situação provisória do número dois na pasta é considerada um dos fatores de divergências que vieram à tona nas últimas semanas.

Órbita 1 A pedido de Xi Jinping, o embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, foi à missa em memória de Nelson Mandela, anteontem, para conversar com o vice-presidente Michel Temer.

Órbita 2 O diplomata disse que a China fará o que for possível para antecipar o lançamento do CBERS-4 como forma de compensar falhas no CBERS-3, satélite sino-brasileiro de observação da Terra.

Tom Peemedebistas criticaram discurso de Ideli Salvatti no jantar com a bancada na residência oficial da Câmara, nesta semana. Eles classificaram a fala da ministra de "arrogante" e dúbia sobre a aliança com o partido.

Por fora Eles relatam ainda que a ministra, no dia do acordo com deputados para votar o Orçamento de 2014, falou que Dilma não aceitaria a negociação, enquanto Gleisi Hoffmann (Casa Civil) já havia confirmado para Temer e Henrique Eduardo Alves que o governo topava.

Modo Lula Além de fazer um discurso em tom popular em evento do governo ontem, em São Bernardo do Campo, Dilma recebeu em uma sala reservada representantes de ao menos dez sindicatos. Posou para fotos e abraçou costureiras e seguranças.

Vai que é sua Segundo organizadores do evento, Lula também discursaria no palanque, logo antes da presidente, mas desistiu para que Dilma fosse a protagonista.

Faltou Geraldo Alckmin (PSDB) só avisou na quinta-feira à noite que não participaria da inauguração do Hospital das Clínicas na cidade do ABC ao lado da presidente e de Alexandre Padilha (Saúde), seu adversário na eleição do ano que vem. O governo paulista deu R$ 40 milhões dos R$ 240 milhões da obra.

Trator Aécio Neves participou de café da manhã com representantes do agronegócio ontem, em São Paulo. O presidenciável tucano ouviu queixas sobre o "aparelhamento" do Ministério da Agricultura, comandado pelo peemedebista mineiro Antonio Andrade. A reclamação já havia sido endereçada a Eduardo Campos (PSB).

Duas canoas Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura de Lula que promoveu o encontro de Campos com os ruralistas, também esteve no ato do setor com Aécio. Compareceu ainda João Sampaio Filho, ex-secretário da área no governo de José Serra e atual vice-presidente da Mafrig.

Reduto Pernambuco é o único Estado do Nordeste em que a avaliação de Dilma está abaixo da do governador na pesquisa CNI/Ibope. A gestão de Campos é considerada ótima ou boa por 58% dos eleitores, contra 45% de aprovação do governo federal.

tiroteio
"Se alguém no governo discorda de mim, deveria sair do anonimato, e não tentar colocar palavras na boca da presidente."
DO MINISTRO GUIDO MANTEGA (FAZENDA) sobre a reação negativa de setores do governo a sua declaração sobre a economia estar com "pernas mancas".

contraponto


O rei do camarote
Na terça-feira, o ministro José Eduardo Cardozo participou da confraternização de fim de ano dos funcionários do Ministério da Justiça no Loca como Tu Madre, restaurante em Brasília.

Questionado pelos servidores e pelos garçons se gostaria de provar o "drink que pisca", uma novidade do cardápio cuja receita incluía vodka e sucos de ameixa e pêssego, o auxiliar de Dilma Rousseff foi precavido:

--Não, obrigado, estou tomando antibióticos.

Frente e verso - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 14/12

O discurso de Dilma Rousseff, Lula e de Rui Falcão no Congresso do PT deixou em muitos a impressão de que o plano petista para 2014 é sufocar os aliados. A sensação entre os partidos engajados no projeto de reeleger Dilma, em especial no PMDB, é a de que, enquanto os peemedebistas reclamam por espaço no governo, o PT vai fechando o tabuleiro com as peças estreladas.

Duas reuniões prévias aos discursos serviram para espalhar esse temor entre os partidos. A primeira delas foi a que lançou José Nobre Guimarães (PT-CE) candidato ao Senado. A outra foi a dos petistas do Rio Grande do Norte, que colocou a deputada Fátima Bezerra, do PT, candidata a senadora. Isso somado ao desejo de tomar São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro mencionado por Lula, não deixou dúvidas: vem aí a busca da hegemonia propalada nos discursos que, de público, exaltam os aliados.

Objetivo final

O plano do PT potiguar ao pedir o Senado é atrair Henrique Eduardo Alves a uma candidatura de governador. Assim, ele teria que desistir de mais um mandato a presidente da Câmara, abrindo aos petistas a possibilidade de, se eleger a maior bancada no ano que vem, reivindicar o comando da Casa. Com Henrique Alves por ali, essa operação é considerada mais difícil.

Pressão total


O alto comando do PT de Minas Gerais baixou em peso na presidência da Confederação Nacional do Transporte (CNT) para um jantar com o senador Clésio Andrade na noite de terça-feira. Buscavam o apoio do peemedebista para a candidatura de Fernando Pimentel ao governo estadual. Como bom mineiro, Clésio não fechou a porta, mas disse que a prioridade do PMDB é lançar um candidato próprio.

Guerrilha na ANP I

A direção da Agencia Nacional do Petróleo (ANP) abriu processo disciplinar contra o diretor da Associação dos Servidores da instituição, Kerick Robery Leite de Souza. Tudo porque, em emails a colegas, ele sugere que a associação recorra a lei de acesso à informação para obter detalhes a respeito da motivação das viagens de servidores custeadas pela agência. Essa informação
hoje não aparece nos boletins de pessoal.

Guerrilha na ANP II

O clima entre a associação e a direção da agência está quente. Advogados que tiveram acesso ao processo em Brasília suspeitam de quebra de sigilo irregular de emails do diretor da associação. A comissão que conduz o processo contra os servidores e a mesma que, no passado, retirou o auditório da associação, impediu o uso do email funcional e ainda recomendou que se retirasse a sala usada pelos associados.

Stand up comedy/ Lula foi quem mais divertiu os antecessores e a sucessora Dilma Rousseff na viagem dos cinco presidentes para os funerais de Nelson Mandela. Foi uma série de piadas como há muito tempo os demais não ouviam.

Ruralistas repaginados/ A Frente Parlamentar de Agricultura pretende mudar seu foco no ano que vem. Em vez de falar para o setor produtivo, a ideia é direcionar o discurso para a sociedade de uma formal geral, na linha “nós alimentamos o Brasil”.

Guerra judicial/ O PSDB paulista abrirá guerra contra o PT do prefeito da capital, Fernando Haddad (foto), para barrar o aumento do IPTU. O presidente do diretório estadual tucano, deputado Duarte Nogueira, levará o caso até o Supremo, se for preciso. Internamente, há quem diga que, enquanto esse tema estiver na mídia, melhor será para o PSDB, que hoje tem mais base no interior do que na capital.

Por falar em PSDB.../ O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, aproveita as quintas-feiras para reforçar sua boa imagem no interior do estado. Essa semana, por exemplo, entregou ambulâncias em diversos municípios. Repete assim, em escala estadual, o que a petista Dilma faz pelo país com a entrega das retroescavadeiras.

A cavalgadura rampante e a inflação do airbag - ROLF KUNTZ

O Estado de S.Paulo - 14/12

Acavalgadura de vinte e oito patas, figura definitiva e definidora criada por Nelson Rodrigues, salta da memória e exibe-se gloriosa e rampante quando se ouve uma fala sobre as patas mancas da economia. Em seguida, apruma-se e galopa, estrepitosa, quando o discurso resvala para a teoria da inflação do airbag e do freio ABS. A alguns a evocação da imagem rodriguiana parecerá estranha. A outros, luminosa. Não vale a pena tentar explicá-la, justificá-la ou associá-la a qualquer figura do mundo real. Cada qual a entenderá à sua maneira. Muito mais difícil é traduzir e dar expressão racional ao discurso econômico do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e às orientações de sua chefe, a presidente Dilma Rousseff.

O primeiro mistério, a história das pernas mancas, foi decifrado facilmente. Incapaz de aprender com os próprios erros, o ministro da Fazenda continua apostando no estímulo ao consumo para dinamizar a economia brasileira. Três anos de fracasso dessa política parecem não ter produzido nenhum ensinamento. Além disso, ele insiste em atribuir a inflação a choques internacionais de oferta. Mas as cotações já se acomodaram e a alta de preços persiste no mercado interno. Enfim, o ministro combina a imaginária escassez de consumo com a crise externa para explicar por que a produção do País cresce menos do que poderia. Em sua cabeça, o potencial brasileiro de crescimento parece bem maior do que o estimado por economistas nacionais e de fora.

O segundo mistério é mais complicado, porque envolve uma estranha teoria da inflação. Segundo o ministro, a inclusão obrigatória de airbags duplos e freios ABS nos carros novos, em 2014, deverá elevar os custos e produzir efeitos inflacionários. Por isso o governo decidiu repensar o assunto, segundo informou na quinta-feira. A questão foi discutida horas depois em programa de entrevistas na Globo News. Um professor de Engenharia criticou a hesitação do ministro e insistiu na prioridade à segurança. Um economista especializado em indústria automobilística estimou rapidamente o efeito do aumento de custo no índice de inflação. O impacto, segundo sua conta, seria minúsculo, algo da ordem de 0,1% em um ano.

Os dois argumentos são respeitáveis, mas deixam de lado pelo menos três questões especialmente relevantes. Em primeiro lugar, o custo de produção de um setor pode aumentar sem se converter, necessariamente, em nova pressão inflacionária. Se alegações como a do ministro fossem levadas a sério, carruagem e bonde puxado a burro ainda seriam as formas principais de transporte urbano. Que governo teria apoiado a indústria aeronáutica nascente, ou investido na substituição de velhas e baratas latrinas por sistemas complexos e caros de saneamento?

Elevações de custo podem, sim, ter consequências inflacionárias, mas isso depende de condições favoráveis ao repasse e à difusão dos aumentos de preços. Além do mais, o custo adicional gerado por melhoras tecnológicas tende a ser absorvido e diluído quando há suficiente concorrência.

Isso remete à questão seguinte. Além de beneficiada em vários momentos por incentivos fiscais generosos, a indústria automobilística tem sido pouco pressionada, de modo geral, pela concorrência estrangeira. Essa é uma das explicações do baixo padrão de segurança apontado por especialistas internacionais, quando examinam os carros produzidos no Brasil. Se os fabricantes puderem manter alguns modelos sem os airbags duplos e os freios ABS por mais algum tempo, serão os principais beneficiários da decisão oficial. A alegada vantagem para os consumidores - o preço sem aumento - será infinitamente menor que a desvantagem de continuar sem condições razoáveis de segurança.

A real preocupação do ministro, quando fala sobre a alta de preços, é a próxima interrogação, mas esse ponto é muito menos complicado. Ele continua, tudo indica, mais empenhado em administrar os indicadores do que em combater a inflação.

Não se diferencia, quanto a esse ponto, de sua chefe. Ela pode tê-lo censurado pela declaração perigosa, ou, no mínimo, precipitada, sobre os airbags e os freios ABS. Também o censurou, segundo informaram os grandes jornais, pela referência às duas pernas mancas da economia.

Declarações impensadas podem prejudicar a imagem do governo, dificultar a recuperação de credibilidade e aumentar o risco de rebaixamento da nota de crédito do País. Mas os dois, a presidente e o ministro, continuam demonstrando muito mais preocupação com os problemas de imagem do que com os fundamentos da economia. Isso inclui, para começar, as contas públicas e as pressões inflacionárias.

Qual o superávit primário para garantir em 2014 o pagamento de uma fatia razoável dos juros e pelo menos a estabilização da dívida? Bastaria o equivalente a 1,8% do produto interno bruto (PIB), segundo alguns analistas. Outros poderiam recomendar um alvo mais ambicioso. Mas a presidente, informa-se em Brasília, cobra da equipe econômica um objetivo realizável sem muita complicação e, portanto, sem risco de tropeço. Qual será a meta exequível num ano de eleição e, portanto, de muita pressão para gastança, concessão de benefícios fiscais e muito favor a governadores aliados?

Quanto à inflação, o ministro da Fazenda tem apontado como grande vitória uma taxa de 5,77% acumulada nos 12 meses até novembro, menor, portanto, que a de janeiro a dezembro do ano passado, 5,84%. Em outras palavras, qualquer resultado até 5,83% será apontado como um sinal de estabilização dos preços. Será uma avaliação compatível com a tese da inflação do airbag e com a imagem das patas mancas.

Bali não era Doha - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 14/12

Estamos longe do final, mas a rodada do desenvolvimento e da agricultura ganhou alento


Três meses atrás, quando eram retomados os trabalhos da OMC (Organização Mundial do Comércio) após a chegada do novo diretor-geral, Roberto Azevêdo, prevalecia o sentimento de que se caminhava para um fracasso em Bali.

A situação da economia mundial seguia preocupante, e os sinais eram de recuperação lenta e incerta nas economias desenvolvidas em 2014 e de queda nas taxas de crescimento dos emergentes.

O comércio mundial acusava o impacto da crise, e a economia chinesa desacelerava e indicava o fim do superciclo das matérias-primas. Nas salas da OMC, a desmobilização era geral.

Foi nesse ambiente que Azevêdo desencadeou uma operação para salvar Bali. O objetivo era fechar um pacote e recuperar a credibilidade da OMC como foro de negocia- ção e guardiã de normas gerais importantes.

Nesse cenário, a única forma de fechar um acordo era trabalhar sobre temas maduros e com alcance limitado. Temas centrais da Rodada Doha, como liberalização do comércio agrícola, com redução de barreiras e cortes de subsídios domésticos e à exportação, que requeriam maior esforço dos países desenvolvidos, ficaram fora da pauta.

A redução das barreiras na área de produtos industriais, em que países em desenvolvimento teriam de contribuir mais, também foram deixados para depois. Tudo em nome do acordo possível, que abrisse caminho para discutir a agenda central de Doha.

Bali não era Doha. Não se pode avaliar Bali sem ter presente essas condicionantes. À luz delas, o pacote acordado foi positivo e equilibrado. Olhemos rapidamente os temas mais relevantes para o Brasil e o agronegócio.

A facilitação de comércio reduzirá os custos das transações, simplificando procedimentos burocráticos e tornando-os mais transparentes. Como os procedimentos na fronteira são em geral menos eficientes nos países em desenvolvimento, o acordo poderá facilitar essas exportações inclusive para os países vizinhos.

E também ajudará as exporta- ções do agronegócio, pois se aplica a todos os produtos e tem dispositivos especiais para os agrícolas e perecíveis.

Na área agrícola, o acordo sobre administração de cotas tarifárias cria melhores condições para o aproveitamento integral das quotas pelos exportadores. Exemplo importante de nossas dificuldades nessa área é a cota Hilton de carne bovi- na na UE, frequentemente não preenchida.

Nos subsídios destinados à formação de estoques públicos para fazer frente a problemas de segurança alimentar em países em desenvolvimento, que quase romperam o acordo de Bali, há uma legítima preocupação dos exportadores com o possível desvio de tais estoques para exportações e seu impacto nos preços.

Mas o acordo provisório fechado em Bali contém uma cláusula que dispõe que tais estoques não deverão distorcer o comércio. Além disso, as detalhadas informações a serem prestadas pelos países que usarem esse acordo permitirão acompanhar o volume e utilização dos recursos e o destino dos estoques.

O governo brasileiro e o setor exportador devem acompanhar esse tema com atenção para evitar que o acordo seja desvirtuado e garantir que um texto definitivo cubra plenamente nossas preocupações.

Outro grande resultado de Bali foi recuperar a credibilidade da OMC e voltar a colocar a agenda de Doha na mesa de negociação. Para um país como o Brasil, que representa apenas 1,5% do comércio mundial, a OMC é fundamental.

Em 2014 será preparado um programa de trabalho sobre os temas remanescentes da Rodada e novas questões, como proteção dos investimentos, compras governamentais e propriedade intelectual, poderão ser incluídas.

Igualmente significativo foi o fato de que todos os países, inclusive os que estão engajados na negociação de grandes acordos plurilaterais, esforçaram-se para que um acordo fosse construído, incluindo um renovado compromisso com a Rodada Doha.

Estamos longe do final, mas a rodada do desenvolvimento e da agricultura ganhou novo alento. Foi uma demonstração de que os membros da OMC valorizam o sistema multilateral de comércio, não como o único foro negociador, mas como um foro relevante.

Melhorou, até quando? - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 14/12

A coluna de hoje comenta dois assuntos. O primeiro deles é o desempenho da economia em outubro, tal como apontado pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central, o (IBC-Br). O segundo é a proposta do governo de adiar por mais dois anos a entrada em vigor das medidas de segurança nos veículos.

O IBC-Br, medido pelo Banco Central, pretende ser um indicador do comportamento da atividade econômica. Passou a ser calculado em 2010 com o objetivo de antecipar o desempenho do PIB, que é divulgado trimestralmente e, em geral, leva quatro meses depois de terminado o trimestre para vir a público. O PIB de 2013, por exemplo, só deve ser conhecido em abril 2014 e, ainda assim, sujeito a correções.

Até há alguns meses, o Banco Central teve dificuldade para calibrar a metodologia dessas Contas Nacionais com as usadas pelo IBGE, o organismo oficial que mede o PIB. Agora, o IBC-Br parece mais confiável.

Os resultados de outubro foram melhores do que o esperado. Apontaram, em relação ao mês anterior, avanço da renda nacional de 0,77%. Mas não dá para estender esse ritmo para os meses seguintes, porque o comportamento da economia é feito de muito sobe e desce, como dentadura de jacaré.

Ainda não dá para dizer que o setor produtivo brasileiro tenha iniciado uma trajetória constante e sustentável. Ao contrário do que aconteceu nas viradas de anos anteriores, quando apostava sempre em crescimento entre 3,5% e 4,5%, desta vez, o governo está mais cauteloso. O ministro Mantega, por exemplo, afirma que, para 2014, espera um crescimento do PIB apenas um pouco mais alto do que o deste ano que, por sua vez, deverá ficar por volta dos 2,2%.

Não tem justificativa o provável adiamento para 2016 da entrada em vigor das novas normas de segurança que exigem freios ABS e airbags para os veículos fabricados no Brasil.

Hoje, os veículos que saem das fábricas sem esses equipamentos são a Kombi, Gol G4, Fiesta Rocam, Ford Ka, Clio, Celta e Uno Mille. Alguns desses modelos não comportam esses itens de segurança e sua produção tem de ser suspensa. Pressionado pelos sindicatos, que temem demissão de pessoal com a paralisação de algumas linhas de produção, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu o adiamento.

A alegação de desemprego é incompreensível, especialmente num momento de pleno-emprego. Se ficou inevitável impor mais segurança, foi porque esses veículos foram considerados perigosos. Trocar questões de segurança por supostos problemas de emprego, não é só insensatez; é troca equivocada. O desemprego que eventualmente pudesse ser evitado nas montadoras passaria a ser produzido na indústria de autopeças, que se preparou para fornecer esses equipamentos e contratou gente para dar conta das encomendas.

Além disso, por serem tecnologicamente desatualizados, esses veículos mais perigosos são também mais baratos. Ou seja, essa decisão empurraria mais riscos para o consumidor de mais baixa renda.

Dilma tomou partido - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 14/12

Quando a presidente da República participa de um evento em que se acusa a cúpula do Judiciário de manipulação, e de ter realizado um julgamento de exceção, está enfraquecendo a democracia brasileira. Foi o que a presidente Dilma fez. O que ela não disse explicitamente, o ex-presidente Lula o fez. O que ela demonstrou no 5º Congresso do PT, por ação ou omissão, é grave.

Dilma sabia o que seria a abertura do 5º Congresso do seu partido. Sabia que lá defenderiam os condenados do mensalão. Ao mesmo tempo, como chefe do Poder Executivo, ela não pode participar de um ato em que a Justiça brasileira está sob ataque. O Supremo tribunal Federal cumpriu todo o devido processo legal. Dilma consentiu - pelo silêncio e pela presença - com as acusações ao Tribunal. Ela é militante do PT e é a candidata. A situação era delicada, mas ela só poderia participar de um evento sóbrio em que não ocorresse o que ocorreu.

O presidente Lula, como é de seu feitio, fez o que disse que não faria e acusou o julgamento de ter sido resultado da maior campanha de difamação . Dilma pensa que se protegeu atrás de afirmações indiretas como a de que os petistas têm couro duro ou o partido está em momentos difíceis . Pensava que ficara em cima do muro, mas estava tomando partido.

A chefe do executivo de um governo democrático só pode ir para uma reunião de correligionários em que o Poder Judiciário é atacado se for para defendê-lo. Seu silêncio a coloca do lado dos que acusaram o processo de ser de exceção. Ela sabe bem a diferença.

Seus amigos e companheiros José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, João Paulo Cunha e aliados de outros partidos foram investigados pelo Ministério Público e denunciados. O STF aceitou a denúncia e em sete anos de tramitação do processo deu amplo direito de defesa aos réus e analisa os recursos. Os juízes foram em sua maioria escolhidos por ela ou por seu antecessor. Houve troca de juízes mas não de juízo da maior corte do país. Eles foram considerados culpados.

O julgamento foi feito com base nas leis e na Constituição. Os militantes podem gritar qualquer coisa, mas o grave é a presidente estar ali, consentir pelo silêncio ou por menções indiretas para serem interpretadas pelos militantes como concordância. Enquanto exercer o mandato ela não é apenas a Dilma, ela representa o Poder Executivo.

Dilma pode sentir solidariedade pelos companheiros. É natural. Mas não pode aquiescer, por silêncio ou meias palavras, com os que acusam a Justiça do governo democrático. Ela estar nesse desagravo é um ato com significado institucional.

A democracia passou por várias rupturas ao longo da história republicana. É conquista recente e que pertence ao povo brasileiro. Não pode ser ameaçada por atitudes que solapem a confiança nas instituições, e por interpretações diante das quais a presidente se cala e, portanto, consente.

Dilma tentou manter uma posição ambígua até agora. Mas aquele era um local em que a militância gritaria as palavras de ordem oficiais do partido. Rui Falcão, presidente do PT, disse que os mensaleiros foram condenados sem provas num processo nitidamente político .

O nada a dizer diante disso, por parte da presidente, diz muito. O Supremo tribunal Federal se debruçou com abundância de tempo sobre as provas, julgou e condenou. Dilma pode não ter gostado do resultado, pode discordar das penas pessoalmente, mas enquanto exercer o cargo não existe o pessoalmente em assuntos institucionais. Militantes podem atacar o Supremo. Mas a presidente da República, não. Sua presença naquele ato é lamentável e enfraquece a democracia.