terça-feira, fevereiro 18, 2014

A conversa fiada tem um limite - J. R. GUZZO

REVISTA EXAME

Governos mentem à vontade, o que lhes permite atravessar momentos difíceis e jogar nos outros a culpa por seus erros. Mas, em troca, muitas vezes colhem apenas a humilhação, o riso e o desrespeito do público

O agente secreto Magnus Pym, personagem central de uma das mais notáveis histórias de John le Carré, o mestre britânico do romance de espionagem, tinha uma marca única em sua personalidade: não dizia a verdade nunca, em nenhuma circunstância. Era praticamente uma condição clínica. O homem, por razões que se entende lendo o livro, só sabia mentir — o que acabaria por fazer dele Um Espião Perfeito, como diz o título de mais essa aventura do mundo de sombras criado pela imaginação de Le Carré. Pym mentia de maneira tão natural e automática que não percebia mais a diferença entre a realidade e a invenção — bela vantagem para um ofício em que o profissional quase sempre tem de parecer o que não é. Governos, habitualmente, são grandes usuários da mentira; é seu pão de cada dia e frequentemente lhes permite atravessar momentos difíceis, esconder situações de embaraço, inventar causas e efeitos, jogar nos outros a culpa por seus erros e, de modo geral, enganar o maior número de pessoas durante a maior parte do tempo. É do jogo.

O grande problema com a mentira é que ela funciona com muito mais eficácia no mundo da ficção do que no mundo dos fatos. Governos mentem à vontade, é claro, mesmo quando não têm motivos claros para isso (por que a mentirada em torno da "viagem secreta" da presidente Dilma Rousseff a Lisboa, por exemplo?), mas são pegos mentindo com muito mais facilidade do que um espião a serviço de Sua Majestade britânica. Resultado: em troca dos esforços investidos na criação de suas mentiras, acabam obtendo muitas vezes apenas a humilhação, o riso e o desrespeito do público. É o caso do Brasil de hoje. Mais do que qualquer tela de computador mostrando números disso e daquilo, o que está faltando mesmo é confiança — confiança num governo à altura das dificuldades reais do momento, que saiba o que fazer para reagir aos problemas ou, pelo menos, que entenda o que está acontecendo. Isso não existe neste começo de 2014. Anos seguidos de desprezo às realidades, soberba, recusa absoluta em ouvir pontos de vista diferentes e uma ilimitada fé na capacidade oficial de enganar o público com marquetagem, vendendo pela propaganda um país que nunca existiu, cobram agora seu preço. A presidente fala, promete e se compromete. Ninguém acredita.

Não se trata de "guerra psicológica", como a presidente diz para passar adiante culpas que são ligadas diretamente ao cargo que ocupa. É desconfiança mesmo, apenas isso. Dilma insiste, desde que assumiu a Presidência, que "não haverá apagão" no Brasil, como se tivesse poderes para regular o regime de chuvas; aliás, sempre ficou brava quando a pergunta lhe era feita. Nesses últimos dias, como poderia acontecer em qualquer governo, a distribuição de energia sofreu interrupções mais sérias. Pronto: já foi o suficiente para o governo criar uma "força-tarefa" destinada a "equacionar" o problema — seja isso lá o diabo que for —, pensar se a reeleição pode ser afetada, "agilizar" a licitação de usinas, e por aí afora. Se não tivesse mentido o tempo todo sobre a questão, não teria tomado como realidade o que era invenção — e estaria livre da tempestade de cobranças que hoje se arrisca a receber caso os problemas persistam. A presidente, quando a taxa de juro estava na vizinhança dos 9%, disse que esse número era "inadmissível" para o Brasil e pressionou o Banco Central a reduzi-lo. Não conseguiu segurar essa fantasia. A taxa está agora em 10,5%, e a desconfiança é que continue a subir. Foi assegurado que o Brasil, pela diligência e operosidade do governo, estava imune a sobressaltos nas finanças mundiais; obviamente não estava, e a expectativa agora é que o dólar supere a cotação de 3 reais — ou quando isso pode acontecer.

É claro que ninguém quer se prejudicar nem colaborar com a adversidade; é melhor perder uma discussão do que perder dinheiro. Mas as previsões pessimistas não vão embora com conversa fiada — e o agente Pym não está disponível para garantir que tudo vai bem.

Perguntas black bloc - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA

O advogado Jonas Tadeu Nunes veio para esclarecer ou para confundir? Ele disse que o jovem Caio Silva de Souza, um dos disparadores do rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade, recebeu 150 reais para participar da manifestação, no centro do Rio de Janeiro, e que a prática de pagar valentões para engrossar as arruaças black bloc é corriqueira. Jonas Tadeu Nunes tem seu escritório numa pequena sala no 2- andar de um centro comercial no Recreio dos Bandeirantes. Ao lado fica um cabeleireiro. Os preciosos detalhes levantados pela reportagem de O Globo ajudam a compor o personagem. Ele diz ter entre a clientela atrizes e jogadores de futebol, mas não declina seus nomes. Certo é que já defendeu o ex-deputado estadual Natalino Guimarães, condenado por chefiar uma das milícias que infestam os subúrbios cariocas. Se o advogado diz a verdade, joga a questão black bloc para o alto. Se é apenas uma tática de defesa, pode um advogado vir deliberadamente para confundir?

Caio Silva de Souza é um coitadinho? Olhos baixos, palavras sofridamente balbuciadas, rosto de menino, ele era o retrato do desamparo, ao aparecer na GloboNews, entrevistado pela repórter Bette Lucchese. "Você acendeu o rojão?" "Acendi, sim", diz, baixinho. "Depois você colocou o rojão perto da árvore?" "Eu nem sei, senhora." O reverente "senhora" dirigido à repórter é um momento alto. O meninão se desfaz em humildade. Ou estaria desempenhando um papel, sob a direção do advogado? Cenas da manifestação mostram-no desenvolto no enfrentamento com a polícia. Tem 22 anos, é muito pobre, mora em Nilópolis e trabalha como auxiliar de serviços gerais num hospital (leia-se: na limpeza). Parece aparvalhado. Dá dó.

Fábio Raposo Barbosa merece o apelido The Fox? Pela primeira vez nomes, sobrenomes e até apelidos surgem por trás das máscaras do Black Bloc. Fábio foi o primeiro a ser identificado como suspeito. Alegou que apenas passou o rojão a Caio, mas a perícia afirma que os dois o dispararam. Tem os mesmos 22 anos, e está alguns degraus acima na escala social. Mora num apartamento de propriedade do pai, no Méier, e antes de ser preso se refugiu na casa da mãe, no Recreio dos Bandeirantes. Chegou a começar um curso de ciências contábeis. Hoje é tatuador (ou talvez não seja nada, segundo outra versão). A raposa (The Fox) é um bicho astuto. Não está claro se Fábio é astuto. É também um bicho rápido. Ele foi rápido em entregar o companheiro.

Que sino toca a Sininho? Continuamos a subir na escala social. Elisa Quadros, de 28 anos, magrinha, cabelo curtinho e bonitinha, fez curso de cinema e já trabalhou em produtora de vídeo. De junho para cá tornou-se "ativista", e basta. Esteve em todas. Chegou a ser detida quando os black blocs deram uma mão aos professores em greve. Exerce liderança entre os manifestantes. Segundo o advogado Jonas Tadeu Nunes, ela teria procurado o deputado Marcelo Freixo para ajudar na defesa de seu amigo The Fox. Ela e Freixo negam. Num vídeo no YouTube, Sininho culpa a Bandeirantes, assim como as demais emissoras, por lançar seus jornalistas no fogo das manifestações. "E aí, como fica nossa luta?" Que luta, Sininho? Pelo amor de Deus, que luta?

A namorada que largou o Caio largou também o Black Bloc? Caio ligou para a namorada, assustado, quando soube que tinha sido identificado. Segundo a polícia, ela teve papel, importante, ao fazê-lo desistir da planejada - fuga e entregar-se à polícia. A namorada não quer identificar-se. Os amigos, segundo a Folha de S.Paulo, dizem que ela é patricinha e mora na Zona Sul. Conheceu Caio em manifestações e já trabalhou na página do Black Bloc no Facebook. Eis-nos, ao que parece, mais um degrau social acima. A namorada agora diz que é "ex". Seu encolhimento sugere uma batida em retirada também do blackbloquismo. Filósofos aloprados classificaram o Black Bloc de "uma estética". Na atual versão assassina, revela-se um novelo de almas perdidas, confusão mental, desamparo, covardia, deserção, e talvez venda de mão de obra para arruaças.

A última coluna afirmou que o aluguel da residência do embaixador Guilherme Patriota em Nova York custava 54 000 dólares mensais. Estava errado. São 54 000 reais, não dólares. O colunista já subiu de joelhos escadaria equivalente à rampa do Itamaraty, em penitência. Mas continua achando que o aluguel está caro, e que o Itamaraty também deve penitenciar-se.

Avanço para o passado - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA

Imaginem por um curto instante o estado de choque em que ficariam o comitê central do PT, seus milhares de militantes e sua agressiva (e cada vez mais cara) máquina de propaganda, se esta revista, para dar um exemplo de entendimento bem fácil, publicasse um texto no qual o povo brasileiro fosse chamado de "essa gente". Mais: que "essa gente" está cometendo uma enorme "ingratidão" ao protestar contra o governo, depois de todos os presentes que tem ganhado das nossas mais altas autoridades. O mundo viria abaixo - eis aí, diria a esquerda nacional, a prova definitiva da sordidez sem limites da "grande mídia" brasileira. Mas, graças ao bom Deus, quem disse isso não foi VEJA, e sim o secretário-geral (com nível de ministro) Gilberto Carvalho, descrito como homem de importância praticamente sobrenatural dentro e fora do Palácio do Planalto. Será que foi mesmo ele? Sim, está provado que foi, numa viagem recente a Porto Alegre. "Fizemos tanto por essa gente", queixou-se Carvalho, "e agora eles se levantam contra nós." Essa gente? Eles? Ingratidão? É um concentrado de insultos à população que parece ter saído diretamente da linguagem utilizada no Brasil antes da abolição da escravatura.

Está tudo errado nessa declaração, a começar pelo sujeito da frase. "Fizemos"? Quem "fizemos"? É como se o ministro e seus companheiros estivessem tirando dinheiro do próprio bolso para dar aos pobres; mas quem banca tudo é o povo, a cada tostão que tem de pagar em impostos quando compra um palito de fósforo que seja. Ao mesmo tempo, está tudo certo, certíssimo: a frase do companheiro é provavelmente a tomografia mais fiel já feita até hoje dos verdadeiros sentimentos que os donos atuais do Brasil têm em relação à sociedade brasileira. O secretário, simplesmente, disse em público aquilo em que ele e os companheiros acreditam em particular. Foi uma espécie de hora da verdade — por distração, ou sabe-se lá por quê, Carvalho esqueceu a regra-base de seu partido, que manda os chefes não falarem como pensam e, mais do que tudo, não agirem como falam. "Essa gente" a que se refere o companheiro Carvalho, exatamente como os barões do café falavam no Brasil do atraso, é a mesma de sempre: o povão da fila do ônibus ou da sala de espera do SUS, essa grande massa sem rosto ou nome, ignorante, preguiçosa, inepta, desinformada, capaz de ler não mais do que três palavras juntas na telinha do celular, sem noção de seus direitos, só utilizável para o trabalho braçal e ainda por cima ingrata. Quando um dos mais notáveis lordes do almirantado petista fala como falou sobre a nossa "gente", aparece à vista de todos o real projeto das forças que estão no governo: reinar sobre uma opinião pública obediente, inconsciente e boçal, que tem de agradecer quando recebe um pouco daquilo a que tem direito. O que querem é manter o Brasil exatamente como está e sempre esteve, mas com a astúcia de fingirem que estão mudando tudo.

O governo do ex-presidente Lula, de Dilma Rousseff e do PT é uma das mais bem-sucedidas farsas jamais levadas ao público na história política brasileira. Por conta de progressos ocorridos nos níveis de bem-estar, os mesmos que dezenas de outros países alcançaram nos últimos anos (ou até menos do que muitos deles conseguiram), Lula e seu entorno, com endosso de gente séria pelo mundo afora, garantem que sua missão de fazer uma revolução social no Brasil foi um espetáculo — o tipo da operação concluída com sucesso, como dizem as vozes que desbloqueiam cartões de crédito pelo telefone. Mas não mudou nada no modo como o país é governado, nem como o poder é distribuído, nem como o bolo é fatiado; não houve nenhuma "mudança estrutural", que é a maneira de os economistas dizerem que foi trocada a pintura do carro, mas não se mexeu em nada no motor. De concreto, mesmo, é o compromisso do governo petista de manter intacto o Brasil do passado — injusto, desigual, atrasado, onde o importante não é ser cidadão brasileiro, e sim depender de quem está no governo. Lula e seu auditório tinham prometido acabar com esse Brasil obsoleto e colocar em seu lugar uma nação pronta para o século XXI. Onze anos após eles chegarem à Presidência da República, o Brasil, na sua essência, está idêntico ao que receberam em janeiro de 2003 — e seus melhores aliados são justamente os chefes políticos que equivalem, hoje, aos senhores de engenho de ontem. Com certeza não houve revolução nenhuma em todo esse período. Como estava, ficou.

O Brasil seria um país bem melhor se Carvalho fosse uma exceção — um "ponto fora da curva", como se diz hoje. Infelizmente, não é assim. Na verdade, o secretário-geral da Presidência é a própria curva — um espelho que reflete sem piedade a vida como ela é no ano 11 da Era Lulista. Mais que isso, reflete o exemplo de conduta que o homem recebe de quem está acima, e quem está acima dele é a presidente da República. Essa última viagem de Dilma à Suíça e a Cuba, por exemplo, é um perfeito improviso do falso esquerdismo do governo, que tenta ocultar, com palavrório, notas oficiais de sintaxe primitiva e a pura e simples mentira, os hábitos de sultão que seus barões adotam na realidade do cotidiano: falam de um jeito, vivem de outro. O que poderia comprovar melhor seu desprezo pelo cidadão comum do que a mentira que a presidente obrigou seu ministro do Exterior a dizer em público, para esconder os motivos de uma escala "não programada" que fez em Portugal - e, ainda por cima, uma mentira incompetente, incapaz de resistir a 24 horas de investigação? A atitude oficial é: "Inventem aí uma coisa qualquer para dizer ao público". Para piorar, Dilma hospedou-se num hotel onde a diária da principal suíte passa dos 8 000 euros, soma de meter medo em qualquer campeão das nossas elites mais vorazes. Pode uma coisa dessas? Não pode. Não é uma questão legal; é uma questão de compostura, só isso. A governante número 1 de um país com as misérias do Brasil simplesmente não tem o direito moral de gastar 8 000 euros do Tesouro Nacional para pagar uma noite de sono. O conserto ficou pior que o defeito quando Dilma decidiu esclarecer uma conta de cerca de 300 reais que pagou em seu jantar em Lisboa. "Paguei com o meu dinheiro", disse ela. "Se o dinheiro é meu, eu como onde quiser. Estou pagando." Há linguajar que reproduza tão bem o vocabulário truculento da elite brasileira, nos seus piores momentos de onipotência, grosseria e mania de grandeza? Nada de admirar, no fundo, quando se sabe que a presidente aluga um caminhão só para levar suas roupas em viagens internacionais — ou acha comum requisitar hospedagem para 45 assessores, como nesse último passeio. É um dos vícios públicos brasileiros que mais agradam ao PT — a ideia de "aproveitar" até o bagaço tudo o que o "governo está pagando".

O fato é que existe hoje, nas massas que habitam a máquina estatal, uma imensa distância separando a pregação revolucionária que fazem no palanque das ações que praticam na vida diária. Para manter a pose de "esquerda", e ao contrário do que ensina o dito popular, o cidadão come presunto Pata Negra, mas arrota mortadela da venda. Quer falar como socialista e, ao mesmo tempo, viver como burguês; não pode dar certo. Há um preço mínimo a pagar para sustentar uma imagem, e esse preço exige que se enfrente um pouco de desconforto para segurar a onda de herói popular. Fidel Castro, por exemplo, hospedou-se num pulgueiro do Harlem em sua primeira visita a Nova York — não no Excelsior de Roma ou no Ritz Four Seasons de Lisboa, como fez sua companheira Dilma. Demagogia? Fidel achou que não; parece que sabia o que estava fazendo.

Os fatos, essa coisa irritante, oferecem muitos outros exemplos da obra de falsificação construída por Lula, Dilma e pelo PT para convencer a plateia de que a "direita", os "ricos" e os que querem a volta do pelourinho e da chibata são os únicos brasileiros que discordam do governo. É o contrário: estes todos, no mundo das realidades, estão casados com o PT e o PT está casado com eles. Basta olhar um pouco. Não há um único trabalhador no ministério do Partido dos Trabalhadores; em onze anos de governo, e num país com 200 milhões de habitantes, não conseguiram encontrar nenhum até agora, um só que fosse. Ao longo desses anos todos, não foi eliminado no Brasil nem um privilégio sequer, essa praga que mantém nossa vida pública amarrada no século XIX. Não foi cortado um único dos 20 000 a 25 000 cargos públicos para os quais a presidente, seus ministros, os burocratas mais lustrosos e os onos do poder podem nomear quem bem entenderem. A propriedade privada continua sendo sagrada para quem conta com amizades "lá em cima" — sobretudo depois que tantos companheiros passaram a desfrutar dos seus aspectos mais agradáveis. Usineiros continuam, como acontece há séculos, recebendo dinheiro do contribuinte para resolver seus problemas — só neste ano de 2014, levarão perto de 400 milhões de reais para casa. Os "rentistas", maldição-mor na linguagem da moda entre os economistas de esquerda, nunca viveram tão bem com as suas rendas.

Empresários amigos, e amigos dos amigos, continuam desfrutando o caixa do BNDES, a juros inferiores a 1% ao ano, como sempre desfrutaram durante os governos a serviço da "alta burguesia". Tem sido especialmente simpático com frigoríficos, gente da celulose, capitães da "indústria nacional" e empreendedores da modalidade Eike Batista, a quem conseguiu emprestar 200 milhões de reais para reformar um hotel no Rio de Janeiro; Eike não reformou um único mictório, a carcaça do hotel já foi vendida e o BNDES, naturalmente, ainda não recebeu um centavo de volta. As empreiteiras de obras públicas vivem uma nova época de ouro, tão rentável como viviam nos governos de "direita". Uma delas, a Odebrecht, despacha direto com Lula na construção de um incompreensível estádio para o Corinthians, e construiu para Cuba, com dinheiro do povo brasileiro cedido por Dilma. um porto avaliado em quase 1 bilhão de dólares.

O FGTS virou uma festa para milionários. Não há dinheiro que pertença de forma mais clara e direta ao trabalhador — na verdade, existe uma lista, nome por nome, de quem é proprietário das somas ali depositadas e quanto, exatamente, cada um tem na sua conta. O Partido dos Trabalhadores, porém, permite que o governo gaste como bem entender o dinheiro do trabalhador: inventou um "Fundo de Investimento" para o FGTS investir os recursos que recebe todo mês através da folha salarial das empresas, e já tinha, segundo revelação recente da revista EXAME, quase 30 bilhões de reais em carteira no fim de 2013. Três quartos dessa montanha de dinheiro estão aplicados — onde mais poderia ser? — em títulos de dívidas e ações de empresas privadas, muitas de capital fechado. Se algo der errado com elas, as garantias que o FGTS terá serão os papéis de companhias quebradas. Belo investimento para o trabalhador brasileiro, não? Só mesmo um governo dos trabalhadores cuidaria tão bem dos seus interesses financeiros. Na maior parte esse dinheiro está espalhado pela finíssima flor da elite que o PT fala todos os dias em exterminar: a incansável Odebrecht, a Friboi, construtores de sondas para a Petrobras, empreiteiras de obras, construção naval e por aí afora. Deu para entender? O melhor da história é como se decide quem vai receber o dinheiro do fundo. Um conselho de doze membros é quem realmente manda - e ali o governo tem seis representantes, mais três que vêm dessas entidades chapa-branca como Confederação Nacional da Indústria etc. E não há ninguém para falar pelo trabalhador? Sim, um só — um cartola da CUT. Se no lugar dele se sentasse o marajá de Baroda, os trabalhadores brasileiros estariam mais bem representados.

É difícil levar adiante essa vigarice de "governo do povo" quando se considera, além de tudo o que já foi dito, que a presidente da República, como se cogita com certa angústia no Palácio do Planalto, está ameaçada de não poder ir a nenhum jogo da Copa do Mundo, para não levar uma vaia de 24 quilates. Que "governo popular" é esse? O companheiro Carvalho está achando que é uma tremenda injustiça. Mas o que se vai fazer? "Essa gente" é mesmo uma dor de cabeça.

Sem vontade de votar - WALCYR CARRASCO

REVISTA ÉPOCA

Resolvi desabafar antes que comece oficialmente a campanha eleitoral. Quando lembro que neste ano escolheremos presidente, governadores e deputados, sinto um imenso desânimo. Podem me chamar de alienado, de inconsciente, do que for. Só me pergunto:

- Para quê?

Juro! Conseguir com que eu me desinteressasse de política foi um longo processo, levado a cabo por nossos representantes. Sou um filho da década de 1960, como, aliás, nossa presidente. Foram anos marcantes no que se referia ao sonho por um mundo melhor. Mesmo sem saber como, uma grande parcela da juventude, a que eu pertencia, queria, sim, chegar ao poder, mudar o mundo. A própria presidente Dilma era uma revolucionária. Há muita discussão sobre os métodos da esquerda nos anos 1960 e 1970. Mas não vamos anular seu inegável desejo de mudar as estruturas do país. Mesmo que o melhor para mim não seja exatamente o melhor para você... mas isso é outra discussão. Estou falando, apenas, de sonhos.

Muitos amigos meus foram presos, por pertencerem à luta armada. Um dos meus maiores amigos até hoje é Flávio Tavares, o jornalista que foi trocado por um embaixador sequestrado, com quem morei no México. Nunca fui radical. Mas cheguei a fazer teatro popular, na periferia paulistana. Aprendi também a dar aulas pelo método Paulo Freire. Eu também tinha ideais, traduzidos pela política. Hoje, nem gosto muito da palavra idealismo. Costumo brincar, embora não seja exatamente uma piada:

- Mostre-me um idealista e te apontarei um fascista.

Idealistas são sempre encarados de maneira romântica:

- Ah, que lindo, ele tem um ideal! – dizem, enquanto o sujeito perfura alguns abdomes do exército contrário.

O problema do idealista é que ele constrói, em sua cabeça, um mundo para si próprio, para mim e para você. Quem disse que quero viver nesse mundo? (A não ser os que têm um ideal particular, para a própria vida, e isso é com eles.)

Não vou falar de partidos ou candidatos. Já tive sonhos. Hoje, alguns que simbolizavam meus sonhos cumprem pena por corrupção. Fica difícil continuar acreditando. Bem fez meu amigo Flávio, que se retirou em Búzios e não quis concorrer a cargo algum.


Vêm as eleições, as promessas, e, depois, elas não são minimamente concretizadas. Na área da educação, por exemplo. Estudei num colégio público em Marília e tive uma formação maravilhosa. Mais tarde, fiz o Colégio de Aplicação, também do governo. Se, durante o governo militar, havia escolas públicas de excelência, por que isso não acontece mais, já que temos intelectuais capacitados no poder?

Nas últimas eleições, eu acabara de vir do Japão e estava entusiasmadíssimo com o trem-bala. Era uma promessa de campanha. Nem foi licitado. Preparo-me para assistir à propaganda dos candidatos, com a certeza de que as promessas são vãs. Posso estar errado, ser reacionário. Mas é o que sinto: para que me dedicar a algo tão inútil quanto ouvir políticos em campanhas?

Mesmo porque meus sonhos não estão nesses discursos. Nenhum que me reste ainda, pelo menos. Há muito tempo, os políticos deixaram de representar partidos com linhas de pensamento e atuação específicas. Todo mundo sabe disso, é até bobagem repetir. Não são porta-vozes de ideologias. Mas de pesquisas. Hoje é assim: boa parte dos candidatos não diz como pensa que deve atuar. Diz o que as pesquisas aconselham.

Como autor de novela, estou acostumado a lidar com pesquisas. Sei que elas são mais um estímulo à criação do que a palavra final. Não foi à toa que as manifestações recentes surpreenderam o país. Não apareceram na pesquisa. Existe o que se chama "a voz surda das ruas", o verdadeiro sentimento popular. Muitas vezes não expresso diretamente numa pesquisa, existe de forma subjetiva e pode, sim, explodir.

Os programas dos partidos, o cabelo dos candidatos, a roupa são decididas em pesquisas – não é à toa que, em debates, aparecem muitas gravatas vermelhas. São raríssimos os que provocam alguma torcida.

Um grande grupo de amigos já optou pelo voto nulo. Não proponho abrir mão do direito de votar. Diante das promessas que virão, já sinto uma enorme preguiça. Ninguém sonha com um país melhor, só em vencer a eleição? Quem, afinal, me representa?

No dia certo, votarei. Vou escolher, sim, meus candidatos, porque pode vencer alguém pior. Mas irei sem a menor vontade. Meu voto deixou de ser uma esperança.


Ueba! Maldição da sogra! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 18/02

E o juiz que não viu o gol do Vasco contra o Flamengo? Entrou 33 cm e ele não viu! O juiz era o Stevie Wonder!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: "Americana presa por não ter entregado filme que pegou há nove anos na locadora". Qual o nome do filme? "A SOGRA!". Presa por não devolver a sogra. Ou é sequestro ou muito amor! A Maldição da Sogra! E essa: "Pato só vai estrear daqui a um mês em ALAGOAS!". Ou seja, em casa! Rarará!

E acabou o horário de verão. Todo mundo sem noção! Que horas são? Que horas é hoje? Meio-dia pras quatro? E aí perguntei prum amigo: "Atrasou o relógio?". "Atrasei, antes do ladrão levar".

E a Dilma acordou eufórica: ganhou mais uma hora de mandato! "Maaaantega! Ganhamos mais uma horinha! Sobe o PIB". Rarará! E apagão é mais econômico que horário de verão. E aí perguntei prum porteiro: "Que horas são?". E ele: "Uma na nova e duas na velha". Rarará!

E outra piada pronta: "Clássico da paz entre Corinthians e Palmeiras tem ofensas e torcedor preso". Mas em futebol agora tá assim: qualquer ameaça de paz, eles entram em guerra. Rarará!

Prenderam torcedores com bastão de madeira com pregos na ponta! Mas isso é homem das cavernas! Direto das cavernas. Os trogloditas!

E o juiz que não viu o gol do Vasco contra o Flamengo? Entrou 33 cm e ele não viu! O juiz era o Stevie Wonder! O Mr. Magoo!

Na próxima partida, o Flamengo vai jogar com um goleiro e dez juízes! Aliás, nem precisa de goleiro! Se a bola entrar, o juiz não vê mesmo! Rarará!

E o site Futirinhas diz: "O time mais roubado do Brasil é a Portuguesa. O segundo é o Vasco". E se der apagão, chama o Corinthians que ele vem com a lanterna! Aliás, diz que o Corinthians contratou mais um craque. Pra segurar a lanterna! O Corinthians ficou com a lanterna, só falta acabar a pilha! Rarará!

E hoje, na rua, eu vi um torcedor corintiano, fiquei com tanta pena que dei um abraço apertado nele! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

O Brasileiro é Cordial! Olha essa placa num pomar em Minas: "Roubar é crime. Pedir é ser educado. Ficar sem as mãos é aleijado. E se morrer é finado!'. Medo! Pânico!

E essa outra na estrada Vinhedo-Itatiba: "Si ocê ponhá lixo aqui, vai nascê um cancro no seu *. Pai Jacó". E as pessoas ainda têm medo do Kim Jong-un só porque ele mandou matar o tio! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Penas capitais - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 18/02

Leio nos jornais que, no Estado americano de Ohio, um condenado demorou quase meia hora a morrer


Não é fácil encontrar um defensor da pena de morte. Mas, às vezes, deparamos com um exemplar da espécie. E então perguntamos: qual a melhor forma de matar o condenado? Fuzilamento? Decapitação? Câmara de gás?

A pergunta horroriza os humanistas. Por isso, eles preferem a "injeção letal", uma forma parecida com a vulgar anestesia cirúrgica. É mais "limpo", "indolor", "civilizado", dizem eles.

Nem sempre. Leio nos jornais que, no Estado americano de Ohio, um condenado demorou quase meia hora a morrer. Tudo porque os Estados Unidos, privados das drogas tradicionais europeias, usaram um novo coquetel de medicamentos.

Resultado: foi agonia até o fim, com o condenado em sufocamento e dor extrema.

Ponto prévio: sou radicalmente contra a pena de morte.

Motivos morais básicos: o homicídio humano não legitima o homicídio de Estado.

Além disso, imagino que para certos tipos de psicopatas a promessa de serem transformados em "mártires" do sistema judicial é uma atração suplementar para cometerem certas barbaridades midiáticas.

O julgamento de Timothy McVeigh, o famoso extremista de Oklahoma City que matou mais de 150 pessoas, foi um caso pungente de orgulho e vaidade. Se os Estados Unidos lhe tivessem negado a morte, essa teria sido a maior derrota daquela vida.

A justiça americana fez-lhe a vontade e McVeigh, na hora da execução, até se deu ao luxo de recitar "Invictus", o poema de William Henley que acompanhou Nelson Mandela na prisão de Robben Island. McVeigh, tal como Mandela, também era "senhor do seu destino" e "capitão da sua alma".

Aplausos? Eles existem, sim. E, nos últimos tempos, tenho escutado alguns na literatura crítica de Ernest van den Haag. Apresentações: o professor Van den Haag (1914-2002) foi um eminente sociólogo e jurista que, remando contra a corrente, defendeu a pena de morte com todas as letras.

E o argumento central de Van den Haag é simples e difícil de refutar: para certos criminosos, a morte é a única forma de proteger a comunidade. O professor Van den Haag não fala do tradicional papel "dissuasor" da pena de morte, embora não seja insensível a ele.

O que interessa a Van den Haag é contestar o conhecido argumento de que a prisão perpétua é tão eficaz quanto a pena capital.

Se fecharmos um criminoso numa cela para o resto da vida, já estamos a proteger a comunidade --e, claro, a evitar os erros judiciais que continuam a condenar inocentes à morte.

O professor Van den Haag discorda frontalmente desse raciocínio. Porque, para ele, a palavra "comunidade" não se limita ao mundo que existe fora do presídio. Também existe uma comunidade dentro do presídio. Uma comunidade de guardas e prisioneiros que têm igual direito a uma proteção absoluta e que normalmente são esquecidos ou ignorados nos debates sobre a matéria.

Para ele, quando a punição máxima fica apenas pela prisão perpétua, sem existir um castigo mais terminal, o condenado sabe que nada tem a perder. A tentativa de fuga; a violência contra guardas e prisioneiros; a repetição de novos homicídios --tudo isso é possível porque o criminoso não teme a punição última: perder a própria vida.

É essa "isenção", aliás, que funciona como um incentivo para que certos criminosos atuem dentro dos presídios com uma perversa sensação de impunidade. Como responder a isto?

Lembrando duas coisas, creio. Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que Van den Haag tem razão ao admitir que a prisão perpétua pode ser um incentivo ao crime pela ausência de qualquer consequência mais grave para o criminoso. Para usar o ditado, perdido por um, perdido por mil.

Mas isso não legitima o raciocínio seguinte do autor de que só a morte é eficaz. Ironicamente, é possível usar o mesmo argumento de Van den Haag para defender que a única forma de desarmar um criminoso dentro da prisão passa por conceder-lhe a possibilidade de recuperar a liberdade no futuro. De acordo com certas condutas e limites.

Vem nos livros: os homens são especialmente perigosos, não quando temem a morte --mas quando perdem toda a esperança.

Eduardo Campos quer o PV - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 18/02

Mesmo depois de o PV decidir investir no ex-deputado Eduardo Jorge para concorrer à Presidência, Eduardo Campos (PSB) negocia o apoio dos verdes à sua candidatura. O socialista está, segundo aliados, propondo ao PV indicar o candidato ao governo paulista pela aliança PSB/Rede/PPS. Em troca, os verdes desistiriam de candidatura própria e passariam a apoiar Campos para o Planalto.

O desabafo
O apagão de energia que assolou o país fez o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) sentar no banco dos réus. Alvo da oposição e de especialistas na área, a gestão do setor pelo governo Dilma é muito criticada. O fato de a presidente Dilma ter sido ministra da pasta, no governo Lula, faz o bolo crescer. Cansado de guerra e de tanto petardo, o ministro Edison Lobão desabafou, numa conversa, na semana passada. Ele comentou: “Só cobram do governo e do ministério. Ninguém cobra do Incra, da Funai, do Ibama, do Iphan, do Ministério Público e das ONGs”. Estas instituições, avalia, contribuem para retardar a construção de novas hidroelétricas.


“O governo vai deixar de investir. Vai segurar a tarifa de energia porque é ano eleitoral. Vai deixar um buraco para o futuro presidente”
José Agripino
Presidente do DEM e senador (RN)

Virando o jogo
Os estrategistas da campanha do governador Sérgio Cabral (PMDB) ao Senado apostam na vertente de que os protestos dos black blocs são resultado de orquestração política. Com isso, avaliam que Cabral passa de algoz a vítima.

Polêmico
O Senado vai enfrentar o debate da legalização da maconha. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) foi designado relator e decidiu não fugir da raia. Ele evita adiantar seu voto: “Vou assumir a responsabilidade de fazer um relatório com a posição
que eu achar mais correta". Além de especialistas, ele quer ouvir o governo do Uruguai.

Quem sou eu
Integrantes do time eleitoral da presidente Dilma dizem que nao há pressa para entrar em campo. A hora seria da oposição, cujos candidatos precisam usar a internet e as redes sociais para se apresentar e se tornarem conhecidos para os eleitores.

Na onda das redes sociais
A disputa pelas mentes na internet e nas redes sociais tem um novo personagem: o PMDB. O partido acaba de aprovar o projeto Conexão, que começará a ser implantado para as eleições deste ano. Um dos alvos do partido é a juventude. O objetivo é mobilizar a sua estrutura e ouvir o conjunto dos filiados sobre temas da atualidade.

Ilusionismo
Muito abalado, segundo os amigos e os tucanos, o deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG) tem confessado que seus advogados lhe venderam uma versão otimista da manifestação do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot.

Tirando a máscara
O líder do Solidariedade na Câmara, Fernando Francischini (PR), que é delegado da Polícia Federal, está coletando assinaturas para criar uma CPI para investigar os Black Blocs. Sua ideia é saber quem são e quem lhes dá sustentação.

O ECONOMISTA José Márcio Camargo informa que não vai integrar o time que o PMDB está formando para elaborar sua proposta de programa de governo.

Sem pagar para ver - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 18/02

Alertada sobre o risco de que a bancada do PMDB na Câmara impingisse uma derrota concreta ao governo em alguma votação iminente, Dilma Rousseff escalou Aloizio Mercadante (Casa Civil) para nova conversa com o vice Michel Temer, no domingo. Pela mesma razão, decidiu ir ao jantar de ontem no Jaburu com peemedebistas de São Paulo. Além das ameaças em projetos na pauta, deputados do partido desenterraram na semana passada a ideia de criar da CPI da Petrobras.

Inflamável O "gancho" para retomar o pedido de investigação é a denúncia de suborno de funcionários da estatal. Parlamentares destacam que suspeitas de propina foram citadas no requerimento da CPI, protocolado em maio do ano passado.

Âncora Integrantes do Executivo acreditam que a pressão do PMDB é alimentada exclusivamente pela tentativa do líder Eduardo Cunha (RJ) de emplacar um indicado na Secretaria de Portos. O Planalto prefere enfrentar a crise a atender ao pedido.

Xô, uruca Dois ministros palacianos passaram a usar no pulso um pingente de olho grego semelhante ao que a presidente ostenta. Um deles ainda pendurou um amuleto grande na porta do gabinete.

Em casa Diante da recusa de Eunício Oliveira de aceitar a Integração Nacional, auxiliares do governo dão como certa a manutenção de Francisco Teixeira, ligado a Cid Gomes (Pros), na pasta.

Hora da... Enquanto a indefinição paira sobre a reforma ministerial, uma das poucas trocas já decididas por Dilma é postergada a pedido do titular, Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário).

... xepa O petista, que deixará a pasta para concorrer a deputado e será substituído por Miguel Rossetto, pediu para ficar no cargo até a Festa da Uva de Caxias do Sul, sua base eleitoral, que acontece na quinta-feira.

Via rápida O Planalto vai tentar acelerar o licenciamento ambiental das obras de ferrovias e portos que serão concedidos à iniciativa privada em 2014. O modelo repetirá o aplicado em rodovias leiloadas no ano passado, que permite o início das obras antes do cumprimento de requisitos mais rigorosos.

Asfalto Assim, o governo espera aproveitar o humor do empresariado após concessões, consideradas bem-sucedidas, de estradas e aeroportos no segundo semestre.

Meio vazio O Planalto também organizará reuniões para cobrar o andamento de obras de linhas de transmissão. O governo avalia que a geração de energia está garantida, diante da previsão de chuva e aumento do volume dos reservatórios, mas a transmissão preocupa.

Garapa Em tentativa de se aproximar do eleitorado paulista, Aécio Neves (PSDB) incluiu no roteiro de sua visita a Santos na quinta-feira uma passagem por um café onde o tucano Mário Covas costumava comer pastéis.

Agora vai? Para auxiliares de Geraldo Alckmin, a saída do PSB da órbita tucana em São Paulo pode deixá-lo mais livre para se aproximar da campanha de Aécio. Enquanto a aliança com pessebistas era possível, avaliam, Alckmin evitava melindrar Eduardo Campos.

Visitas à Folha Alceu Duílio Calciolari, CEO da Gafisa, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava com Sandro Gamba, diretor-executivo da empresa, e Rosa Vanzella e Fernando Kadaoka, assessores de comunicação.

Luiz Lara, publicitário e presidente da Lew'Lara, visitou ontem a Folha.

TIROTEIO
"Ao propor amordaçar os trabalhadores com a Lei Antimanifestação, Dilma deixa de ser a mãe do PAC para ser a mãe do AI-5 versão 2."

DE MIGUEL TORRES, presidente da Força Sindical, sobre projeto de lei em gestação pelo Palácio do Planalto para punir excessos em manifestações.

CONTRAPONTO


Quem viver verá
Na cerimônia de posse do diretor-geral da Aneel, Reive Barros dos Santos, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) brincou com a longevidade no governo de José Antônio Muniz, dirigente da Eletrobras.

--Ele tem longa carreira no setor. É uma espécie de Jequitibá do sistema elétrico brasileiro --disse Lobão, em referência à árvore que pode viver mais de 3.000 anos.

Em seguida, o ministro fez piada consigo mesmo.

--Ele foi tudo menos diretor da Aneel e ministro de Estado. Não sei se ainda vem para o meu lugar, mas terá de esperar bastante tempo ainda!

OS BLACK BANDIDOS - SEBASTIÃO NERY

SITE SEBASTIÃO NERY


RIO – Morto Lampião, Ângelo Roque, o “Labareda”, cangaceiro, terceiro na hierarquia do bando, logo depois de Virgulino e Corisco, entregou-se às autoridades de Geremoabo, no sertão da Bahia. Foi a Júri. Tarcílo Vieira de Melo, o promotor, depois líder de Juscelino na Câmara Federal, acusou-o com agressividade. Oliveira Brito, Juiz, depois ministro do governo João Goulart, chamou-o de “desordeiro”.Labareda” levantou-se do banco de réu:

- Desordeiro, não. Os senhores me respeitem. Não sou um desordeiro, sou um cangaceiro. Não fui pegado no mato. Cheguei aqui de armas na mão, com minha cara limpa, meu corpo e minha vontade e me entreguei, confiando na palavra das leis.

Ninguém mais o agrediu.


LABAREDA

“Labareda”, pequenininho e valente, não disse mais palavra. Quando acabou tudo, condenado, ele se queixou ao meu amigo o tenente e advogado João Nô, que o prendera nos sertões da Bahia:

- Tenente, perdi meu tempo no cangaço. Eu pensava que a pior coisa deste mundo era soldado de polícia. Passei a vida empiquetando (emboscando) soldado de polícia Hoje, chego aqui preso, os soldados me tratam bem e não disseram uma palavra contra mim. Mas aquele promotor falador e aquele juiz magrelo me disseram tudo quanto foi desaforo. Se eu soubesse, tinha passado meu cangaço empiquetando promotor e juiz.


LAMPIÃO

Cangaceiro era desordeiro, era criminoso, mas tinha caráter. Lutava com a cara de fora. Jogava a vida nas estradas.

Não viviam escondidos atrás de mascaras, como esses “Black-Blocs” nazifascistas, andróginos, sem ideologia e sem projeto, cuja histeria é sair quebrando tudo, janelas e vitrines comerciais, sinais de transito e placas de rua, prédios públicos e privados, seculares monumentos nacionais, Palácios, sedes de Governo, Câmaras e Assembleias.

OAB E SEPE

Causa espanto, vergonha e asco ver entidades que têm deveres com a Nação, como a OAB, SEPE (Sindicato de Professores), jornalistas experientes, vereadores, deputados, partidos políticos, como babás do mal, acoitando, defendendo, protegendo, tentando justificar esses covardes bandidinhos de capa preta.

Em alguns países vivi, em outros estive, onde fascismo e nazismo, brutais ditaduras,começaram. E começaram sempre assim: blocos de ataque escondendo-se atrás de roupas pretas, bonés e mascaras pretas,calças e camisas pretas ou marrons.E cabeças rolando nas avenidas ensanguentadas.

Levianamente desvairadas elites levam suas irresponsabilidades e malditos interesses até um dia acordarem e não dá mais tempo. Seus filhos e netos levantarão muros e museus para chorarem o passado.


IMPRENSA

Escrevi essa coluna ai em 22 de outubro de 2013. Em nenhum instante deixei-me enganar pelo vandalismo dos black-blocs.

Surpreendia-me a estranha ingenuidade ou má fé de alguns colegas da imprensa, a serviço não sei de quem, mas evidentemente daqueles que tinham interesse em detonar as manifestações populares com as máscaras e botas pretas. O nome deles era óbvio: capitães do mato do governo.

Agora estamos todos aqui desolados com o assassinato do Santiago.


HELOISA

Sempre brilhante e lúcida, a jornalista e escritora Heloisa Seixas pôs o dedo na ferida, em artigo no “Globo”:

“- Os black blocs, ou seja lá que nome tenham, vinham dando sinais nos quais devíamos ter prestado mais atenção: havia tintas de neonazistas no comportamento deles, inclusive na hostilidade à imprensa...

Poucos de nós, na imprensa, tivemos coragem de escrever contra eles com a força necessária... Melhor ficarmos quietos, em nome da democracia. Em nome do direito à livre manifestação – mesmo com bombas e pedras. E agora estamos assim, como meu amigo da Bandeirantes. Com esse nó na garganta, essa pergunta presa no peito: será que nosso silêncio constrangido nos faz cúmplices na morte de Santiago?”

PASSO A PASSO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 18/02


A Polícia Federal intimou Antonio Palocci para prestar depoimento no inquérito que investiga a suposta participação do ex-presidente Lula no mensalão. O ex-ministro da Fazenda depôs há mais de uma semana em Brasília. Entrou e saiu da superintendência da PF sem ser notado. Naquele dia, os holofotes estavam voltados para o ex-deputado João Paulo Cunha (PT-SP), que se entregava para ser preso.

PASSO 2
Palocci foi questionado sobre suposta negociação dele e de Lula com a Portugal Telecom para repassar dinheiro ao PT. A denúncia foi feita pelo publicitário Marcos Valério, pivô do escândalo. Certidão anexada ao inquérito mostraria que o suposto encontro com executivos da empresa não consta na agenda nem nos dispositivos de segurança do Palácio do Planalto.

PASSO 3
E o fantasma do mensalão mineiro continua pairando sobre os tucanos: Pimenta da Veiga, pré-candidato ao governo de Minas Gerais pelo PSDB, foi citado no inquérito da Polícia Federal sobre o caso. A informação já circula no Twitter. Ele recebeu R$ 300 mil da SMP&B, agência do publicitário Marcos Valério. "Todos que receberam recursos, de qualquer origem, da agência foram indagados a respeito", diz ele.

PASSO 4
Pimenta diz que, quando recebeu o dinheiro, estava afastado da vida pública, exercendo a advocacia. "Fui contratado pela SMP&B, então uma das empresas mineiras mais conceituadas. Recebi os recursos, declarados no Imposto de Renda, e recolhi os tributos. Só posso ser acusado de ter trabalhado."

VEM COMIGO
Eduardo Campos (PSB-PE) tem ideia fixa: atrair Joaquim Barbosa, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), para concorrer a algum cargo pela coligação que o apoiará na corrida presidencial. Já pediu a magistrados próximos para sondarem interlocutores do ministro.

ATÉ AGORA, NADA
Uma das últimas prospecções foi feita há algumas semanas por Eliana Calmon, ex-ministra do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e hoje pré-candidata ao Senado pela Bahia. Até agora, as sondagens foram inúteis. Interlocutores de Barbosa dizem que ele não será candidato.

SER OU NÃO SER
O próprio ministro, porém, alimenta expectativas ao deixar no ar que pode sair do STF em abril --a tempo, portanto, de concorrer a algum cargo eletivo.

TRIO ELÉTRICO
Nos sonhos de Campos, o ministro concorreria ao Senado pelo Rio. Na prática, teria visibilidade na campanha presidencial, formando um trio junto com o candidato e com Marina Silva.

TÁ NA MÃO
A escritora Rose Marie Muraro, 83, ícone do feminismo no Brasil, vai publicar sua obra na forma de livros digitais. O primeiro a ser lançado é "A Mulher no Terceiro Milênio", que traz na capa foto da intelectual. No ano passado, ela fez um apelo dramático aos amigos pedindo socorro financeiro. O livro chega à loja Kindle Brasil por meio de plataforma da Amazon, que repassa até 70% dos lucros da venda à autora. Outros 11 títulos dela vão sair ao longo do ano, pelo mesmo sistema.

AS PIONEIRAS
E Rose Marie será homenageada hoje em Brasília pela ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci. Clara Charf, viúva de Carlos Marighella, também será reverenciada "pelo pioneirismo na luta pelos direitos da mulher".

PRÍNCIPE ENCANTADO
Em meio à polêmica após entrevista dizendo não gostar de fazer teatro, Caio Castro dançou valsa na festa de 15 anos de Thais de Lima e Silva, na sexta, nos Jardins. O ator homenageou a aniversariante no Instagram, cumprimentando a "princesa do seu príncipe, Caio". Os pais da debutante, Antonio Renato de Lima e Silva e Eliana Bruno, também estiveram na festa, além do deputado estadual Fernando Capez (PSDB) e sua mulher, Valéria, dos empresários Sérgio D'antino e Denise Ravache, e da advogada Daniella Ferreira Barbuy.

ESQUENTA CARNAVALESCO
A empresária Tatiana Monteiro de Barros foi uma das organizadoras do bloco Movimento de Rua, que reuniu convidados no sábado, no Jockey Clube de São Paulo. A médica Nicole Magarinos, o apresentador André Vasco e a advogada Karina Findeiss estiveram no evento. Rosalu Queiroz também foi ao pré-Carnaval.

CURTO-CIRCUITO
A Zipper Galeria, nos Jardins, abre hoje, às 19h, mostras do artista Marcelo Amorim e do coletivo Garapa.

No MAC-USP, colecionadores de obras de Alfredo Volpi se encontram hoje para visita à exposição do pintor.

Roberto d'Avila, presidente do Conselho Federal de Medicina, dá aula magna hoje na Universidade Anhembi Morumbi.

O transatlântico de luxo Crown Princess, dos EUA, chega ao Rio no dia 1º e segue para Ilhabela (SP).

Aparecida Liberato e Beto Junqueyra lançam o livro "Você & Cia.", amanhã, às 19h, na Livraria Saraiva do shopping Eldorado.

Freio na farra fiscal - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 18/02

Tramita no Senado um projeto de lei para tentar colocar ordem na farra dos incentivos fiscais. A ideia é limitar o teto dos incentivos para atrair empresas: quanto menor o peso econômico dos estados, maior a capacidade para conceder benefícios e atrair investimentos ele terá.

O parâmetro seria o PIB nominal (que inclui a inflação) — calculado pelo Banco Central em dezembro do ano passado em R$ 4,8 trilhões. Pelo projeto, estados com receita de até 3% do PIB nominal (R$ 144 milhões) poderiam conceder até 75% desse valor para fisgar empresas.

Esse percentual cairia gradualmente até os estados com receitas maiores do que 75% do PIB nominal (R$ 3,6 trilhões), que só poderiam dar 30% de incentivos fiscais. Resta saber se os senadores vão prejudicar os próprios redutos políticos em pleno ano eleitoral.

Tensão…Nem segurança na Copa, nem reforma ministerial. A grande obsessão do governo nos próximos dias é definir a meta de superávit do setor público.

…Pré-eleitoral
O mercado espera uma meta entre 1,8% e 2% do PIB. A grande mágica é combinar o equilíbrio econômico com a necessidade de aumentar os investimentos em um país travado e que vai às urnas em outubro.

Vai que
Autor do projeto batizado de lei antiterrorismo, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) não quer deixar nas mãos da Polícia Federal toda a autonomia nas ações governamentais. Quer colocar o Exército também como protagonista, com medo de que a PF cruze os braços no período da Copa.

Teste de fidelidade
O governador do Ceará, Cid Gomes (Pros), mostrou ontem que está, de fato, alinhadíssimo com o governo federal e cada vez mais disposto a contrapor-se ao discurso de Eduardo Campos (PSB). O governador pernambucano tem elevado as críticas à gestão Dilma Rousseff. Mas, ontem, Cid ressaltou que os avanços na educação cearense só foram possíveis porque “houve parceria e compromisso com o Executivo federal desde os tempos do governo Lula.”

Efeitos… / Ontem, quando estava a bordo do ônibus que levava os passageiros do saguão até o avião, no Aeroporto Santos Dummont, no Rio, o deputado Romário (foto), do PSB fluminense, estava sentado em uma poltrona quando uma idosa se aproximou. Prontamente, ele ofereceu o lugar para ela, que agradeceu com um abraço, observada pelo sorridente marido.

…Da maturidade/ Quando ainda jogava no Fluminense, em 2004, Romário desentendeu-se com o então técnico Enderson Moreira, que queria barrá-lo do time. Curiosamente, contrariou com uma metáfora a atitude que tomou ontem. “O cara nem entrou no ônibus ainda e já quer sentar na janela”, disse, em uma alusão à pouca experiência do agora técnico do Grêmio.

O que significa? / Depois de fazer suspense, a presidente Dilma Rousseff acabou aceitando o convite do vice-presidente, Michel Temer, e compareceu ontem ao jantar que o peemedebista ofereceu aos 90 prefeitos da legenda em São Paulo, e ao pré-candidato ao governo estadual Paulo Skaff.

Absolutamente nada/ O PMDB, contudo, não se ilude em relação ao avanço das conversas sobre a reforma ministerial. Para eles, a presença de Dilma no jantar significou, tão somente, que ela não se recusa a frequentar o Palácio do Jaburu.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 18/02

Retaliar os EUA no caso do subsídio do algodão prejudicará a indústria, diz CNI
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) vai se posicionar contra a adoção de medidas de retaliação aos Estados Unidos no caso do subsídio do algodão.

Amanhã, a Câmara de Comércio Exterior (colegiado formado por sete ministros) se reunirá em Brasília e o assunto estará na pauta.

Na análise da entidade industrial, a nova lei agrícola americana --aprovada no início deste mês no Senado-- elimina parte das distorções dos subsídios e abre espaço para negociações.

Os pagamentos que eram feitos diretamente aos produtores americanos de algodão, por exemplo, foram cancelados. Um seguro de safras, no entanto, foi criado.

"A lei não acaba com todos os subsídios, mas permite que haja uma discussão em relação às ajudas financeiras que são dadas aos exportadores --que são justamente as mais danosas ao Brasil", diz Diego Bonomo, da CNI.

"A retaliação pode prejudicar a própria indústria, pois uma elevação dos impostos de importação de produtos americanos pode afetar as empresas que utilizam esses itens como componentes", afirma Bonomo.

"Acompanhamos o assunto há dois anos e sempre consideramos que a retaliação deve ser a última opção. Houve avanço nas negociações, não na velocidade que queríamos, mas houve."

Entre os progressos, Bonomo cita a abertura do mercado americano para a carne suína e o pagamento mensal --cancelado no final do ano passado-- aos produtores brasileiros de algodão.

MAIS ESPUMAS
A rede de lavanderias 5àsec pretende atingir a marca de mil unidades no Brasil nos próximos cinco anos, com foco em Centro-Oeste, Norte, Nordeste, e em cidades do interior.

Hoje, são 430 pontos, o que faz do país o maior, em número de lojas e em faturamento, entre os 32 mercados em que a marca opera.

"O Brasil ainda tem pouca adesão aos serviços de lavanderia, por isso acreditamos em seu potencial de crescimento", afirma Daniel Pascuali, novo responsável pela 5àsec no país.

"Apenas 3% da população se considera cliente frequente de lavanderias, enquanto na França, 70% usam de forma assídua esse serviço, nos Estados Unidos, 65%, e na, Argentina, 25%."

Neste ano,serão 40 novas unidades em todo o país.

Para facilitar o crescimento no interior, a rede se expandirá por meio de lojas mais compactas, e em parceria com grandes redes de supermercados.

BALCÃO DE LOJA
A geração de empregos formais no comércio da Grande São Paulo fechou 2013 com um crescimento de 1,3% em relação ao ano anterior, segundo análise da FecomercioSP, com base em dados do Ministério do Trabalho.

Para o período de 12 meses, a taxa de dezembro foi a segunda pior do ano passado, à frente apenas da registrada em julho, quando a ampliação dos postos de trabalho ocupados ficou em 1,2%.

Apesar da desaceleração, o crescimento no número de vagas ainda é positivo, segundo Júlia Ximenes, assessora econômica da entidade.

"Não dá para considerar o cenário preocupante, mas a gente percebe que existe um fôlego menor", afirma.

No último mês de 2013, o saldo mensal de empregos ficou negativo em 3.673 vagas, resultado de 39.108 demissões ante 35.435 contratações ocorridas no período.

"É normal que haja mais desligamentos que contratações em dezembro, pois é em outubro e em novembro que as empresas se preparam para o fim de ano", afirma.

TROCA DE ENGENHEIROS
A procura por engenheiros no mercado de trabalho cresceu em janeiro, mas as contratações ocorreram sobretudo para a substituição de profissionais, segundo um estudo da empresa de recrutamento Michael Page.

Em 70% dos casos, a demanda por engenheiros no mês passado foi para a troca de funcionários, de acordo com o levantamento.

Apenas 30% das contratações ocorreram para suprir a abertura de novas vagas.

As localidades que mais requisitaram profissionais foram Curitiba, Porto Alegre e a região de Campinas, no interior de São Paulo.

A capital gaúcha registrou um aumento de 250% na procura em janeiro, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Em Curitiba, a elevação foi de 100%. A região de Campinas, por sua vez, teve alta de 75% no mesmo intervalo.

Os segmentos que mais contrataram foram as indústrias automotiva, de bens de consumo e química, além do agronegócio, ainda de acordo com a pesquisa.

Para... A Villarta Elevadores, que inaugurará em março o aumento da planta de Taubaté, prepara outra expansão.

...cima A segunda fase prevê a compra de equipamentos para corte de metal. A empresa também faz escadas rolantes.

Ponto A Vale Presente e o Multiplus fecharam uma parceria para troca de pontos por créditos em cartão pré-pago.

Pessoal A Keko Acessórios, de personalização de veículos, exportará para o seu 32º mercado, a África do Sul.

Transparência de meia tigela - GIL CASTELLO BRANCO

O GLOBO - 18/02

Saber o que comeram os funcionários nos voos da FAB, à custa dos impostos, é questão de segurança nacional



Na semana passada, após pressão da sociedade, 467 deputados federais votaram nominalmente a cassação do mandato do deputado Natan Donadon. Com a cara de pau peculiar à maioria, seis meses depois de considerarem natural manter como “colega” um condenado pelo Supremo Tribunal Federal, mudaram radicalmente de opinião. Certamente, a inversão do comportamento não ocorreu pelo florescer repentino das consciências dos nobres parlamentares, mas sim pelo medo da opinião pública nas próximas eleições. O fato faz lembrar a frase de um juiz americano, Luiz Brandeis, proferida há mais de um século: “A luz do sol é o melhor dos desinfetantes.”

No Brasil, leis recentes ampliaram a transparência da gestão pública. A Lei Complementar 131, de 2009, obrigou a União, estados e municípios a publicarem suas contas na internet. A chamada Lei de Acesso à Informação (lei 12.527/2011) permitiu que qualquer cidadão faça solicitações ao Estado e este seja obrigado a respondê-las ou negá-las por escrito. Na prática, porém, obter esclarecimentos da administração pública — muitas vezes banais — ainda é uma odisseia.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e o BNDES, por exemplo, consideraram confidenciais as condições do financiamento de R$ 1,6 bilhão que o Brasil concedeu ao governo de Cuba para a construção do Porto de Mariel. O valor repassado à ditadura cubana é três vezes maior do que todos os investimentos em 2013 das Companhias Docas, responsáveis por administrar 18 dos 34 portos brasileiros. Somente em 2027, dois anos antes do prazo final para a quitação da dívida, é que a sociedade brasileira conhecerá os termos dessa operação caribenha misteriosa.

A Presidência da República também tem segredos. No ano passado, o Contas Abertas tentou saber o que comiam e bebiam os burocratas e convidados durante as viagens nos jatinhos da Força Aérea Brasileira (FAB). Somente o contrato do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI-PR) com a empresa RA Catering prevê o valor de R$ 1,9 milhão. No cardápio estão guloseimas como coelho assado, costeleta de cordeiro, rã, pato, sorvetes Häagen-Dazs e canapés de camarão e de caviar, entre outras. Como só é pago o que for degustado, foram solicitadas à GSI-PR, por meio da Lei de Acesso à Informação, cópias das notas fiscais e faturas em que estão discriminadas as iguarias que realmente foram consumidas, ao custo de R$ 824.600, desde a assinatura do contrato em outubro de 2013. Em resposta, o Palácio do Planalto considerou a informação “sigilosa” por colocar “em risco a segurança de instituições ou de altas autoridades nacionais ou estrangeiras e seus familiares”. Ou seja, saber o que comeram os funcionários da Presidência da República nos voos da FAB, à custa dos impostos que os brasileiros pagam, é questão de segurança nacional.

Os absurdos não param por aí. Há vários anos, as Leis de Diretrizes Orçamentárias mencionam claramente que cidadãos e entidades sem fins lucrativos podem ser habilitados a consultar diversos sistemas informatizados do governo federal, para fins de acompanhamento e fiscalização orçamentária. Assim, o presidente da OAB, Marcus Vinicius Coelho, solicitou acesso a esses sistemas para uso da Comissão Especial de Controle Social dos Gastos Públicos, do Conselho Federal da OAB. No entanto, o Ministério do Planejamento negou o ingresso aos sistemas com uma desculpa esfarrapada. A meu ver, cabe à OAB recorrer à Justiça para que a Lei seja cumprida.

No caso dos estados e dos municípios, a transparência também caminha à meia-boca. Quanto à Lei de Acesso à Informação, quase dois anos após a sua vigência, sete estados e nove capitais ainda não a regulamentaram. Entre os municípios com mais de cem mil habitantes, apenas 24% — incluindo capitais — já o fizeram. O próprio Supremo Tribunal Federal, em péssimo exemplo, ainda não regulamentou a lei, sob a justificativa de que será objeto de análise pela “Comissão de Regimento”. Em relação aos portais, várias prefeituras não possuem sites ou, se existentes, são de péssima qualidade, inviabilizando o controle social.

Enfim, o que tanto querem esconder os nossos homens públicos? O perigo é que as novas leis de transparência acabem, como muitas outras, restritas aos anais do Congresso, às páginas do Diário Oficial e às estantes dos advogados. Tal como dizia Luiz Brandeis, a luz do sol é um ótimo detergente e a administração pública brasileira — ninguém duvida — precisa ser desinfetada.

Inflação represada - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 18/02

O governo Dilma parece pouco consciente do potencial desestabilizador da economia produzido pelo forte represamento dos preços administrados - os que dependem de autorização do governo.

Nesse campeonato, o Brasil ainda não virou uma Argentina, mas está no caminho. Na entrevista publicada no Estadão no domingo, o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Nelson Barbosa advertiu que "a inflação não cede porque há incertezas sobre se e sobre quando os preços de produtos como gasolina e energia serão reajustados". Ou seja, a economia atua armada porque a qualquer hora podem vir reajustes que puxam todos os preços para cima. Barbosa não é um desses críticos inconsequentes de que a presidente Dilma se queixa. Até junho de 2013, era dos mais taludos da equipe econômica.

Para não ir muito atrás, no ano passado, a inflação dos preços livres saltou para 7,27%. Enquanto isso, a evolução dos preços administrados, correspondentes a 25% da cesta de consumo, não passou de 1,52%. O governo entende que, não fosse esse represamento, a inflação teria transbordado a barragem.

A contenção artificial dos preços administrados produz o efeito cocaína. O governo segura os preços para evitar inflação achando que um pouquinho só não faz mal e, depois, o pouquinho é seguido por outros pouquinhos que, somados, se transformam em poucão e aí a economia já está viciada e exige doses maiores de represamento para não criar nova crise.

A Argentina, por exemplo, está superviciada, o investimento mergulhou porque o empresário não quer mais produzir quase de graça e, se não forem reajustados de acordo com a inflação real passada, assalariados e aposentados mobilizam panelaços. Ou seja, a crise econômica tem potencial para virar crise política e aí é esperar por um salvador ou, simplesmente, pela internação.

Não está claro como o governo federal lidará com este problema neste ano de eleições. O governo do Rio, por exemplo, mesmo correndo o risco de novas manifestações, optou por reajustar as tarifas do transporte público em 9%. O acionamento das termoelétricas a gás, que operam a custos muito mais altos, pode aumentar a conta da energia elétrica em até de R$ 10 bilhões, dependendo do regime das águas.

O Banco Central do Brasil não espera pela normalização. Na última Ata do Copom avisou que, neste ano, trabalha com uma evolução dos preços administrados de 4,5%. O mercado espera 4,06%. São números que aumentam o problema porque não tiram o atraso anterior e não dão cobertura suficiente para o futuro. A inflação esperada é agora de 5,93%, como aparece na Pesquisa Focus, do Banco Central, divulgada ontem.

O represamento dos preços dos combustíveis e da energia elétrica já produziu distorções. Esmerilhou as finanças da Petrobrás e das concessionárias de energia elétrica, corroeu o setor produtor de açúcar e etanol e, como disse o ex-secretário Nelson Barbosa, antecipa remarcações defensivas do setor privado. Ou seja, uma política montada para reduzir a inflação está produzindo efeito contrário: está criando inflação.


Carência de investimentos ameaça mercado de gás - UEZE ZAHRAN

CORREIO BRAZILIENSE - 18/02
O GLP, popularmente conhecido como gás de cozinha, tem enfrentado uma série de percalços motivados pela carência de recursos destinados ao investimento na cadeia de produção, comercialização e distribuição. Uma das principais vulnerabilidades desse mercado é a revenda multibandeiras, que pode vender botijões de várias marcas. Perder o rastro na hora da comercialização abre espaço para a pirataria e para a predação de preços, o que fragiliza o produto final.
 A intenção da regulamentação foi baratear o custo para o consumidor, mas a experiência mostra que isso não acontece. De acordo com dados da ANP, enquanto a margem das revendas cresceu mais de 137% nos últimos 10 anos, quando foi implantado o sistema multibandeiras, a das distribuidoras cresceu cerca de 70%, praticamente metade.

A margem nem sequer acompanhou a inflação do período, que, de acordo com o IPCA, foi de 80%. Entre janeiro de 2003 e agosto de 2013, o valor do produto ao consumidor subiu quase 40%. As companhias precisam ter margem para reinvestir no próprio negócio e, principalmente, na segurança do consumidor. Porém, os custos das distribuidoras com mão de obra, transporte e requalificação (teste nos botijões para evitar vazamentos) só aumentaram. A cada 10 anos de uso, os botijões precisam ser testados.
Os aprovados continuam no mercado para mais uma década. Os reprovados são sucateados e substituídos por novos. Desde que foi implantada no Brasil, em 1997, depois de mais de 20 anos de luta, a requalificação fez que o número de acidentes com botijões diminuísse drasticamente.
De acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), até julho do ano passado, foram testados cerca de 150 milhões de vasilhames, dos quais mais de 25 milhões foram descartados. A operação, segundo o órgão, consumiu investimento de mais de R$ 8 bilhões das distribuidoras. Existe ainda a necessidade de recursos para investimento em automação de processos produtivos e melhoria de condições nas plantas de engarrafamento das empresas, o que acontece em várias partes do mundo. No caso, mais importante que a otimização do sistema é a saúde dos trabalhadores.

Os problemas vão além das questões operacionais e regulatórias do setor. No tocante às distribuidoras, o core business está justamente na entrega do gás em milhares de domicílios pelo Brasil. Por isso, a questão logística possui impacto relevante no orçamento das companhias (cerca de 25%), perdendo apenas para a de mão de obra.

Para piorar a situação, a malha viária é hoje um dos grandes gargalos de infraestrutura do país. Em cinco anos, a alta nas despesas com o transporte do gás está 40% maior. Alternativa que daria mais eficiência, segurança e mitigaria impactos financeiros, bem como ambientais, seria a construção de uma separadora no Centro-Oeste, há anos reivindicada.

O Brasil conta hoje com 42 separadoras, porém nenhuma nesta região. O crescimento da economia trouxe consigo nova onda de demandas: aumento do poder de compra da população, alta no consumo e surgimento de novos mercados. Para que essa engrenagem funcione bem, está mais do que na hora de as políticas públicas e regulamentações serem revistas. O consumidor e toda a cadeia que envolve as empresas do setor de GLP agradecem.

Falta d'água na cabeça - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 18/02

Desleixo com infraestrutura cobra sua conta: falta trem, rua, estrada, porto; pode faltar água etc.


O RACIONAMENTO de energia elétrica de 2001 foi um choque. Foi mais ou menos chocante porque escassez de eletricidade é uma prova de primitivismos: econômicos, políticos e administrativos. Mais ou menos chocante, o apagão de 2001 não foi bem uma surpresa, porém.

O zum-zum chegou a esta Folha, já no início de 2000, quando grandes consumidores de energia, grandes empresas, e engenheiros diziam que a coisa era quase inevitável.

Um racionamento informal, "consensual", um "acordo de cavalheiros" com grandes empresas, começara em maio de 2000, 13 meses antes de o governo jogar a toalha.

O racionamento de 2001 foi resultado de incompetências muito grosseiras, fantasias mercadistas e de um desleixo que não pode ser chamado de criminoso apenas porque não está tipificado nos códigos.

Temos agora problemas críticos no abastecimento de água na Grande São Paulo e outros aglomerados importantes de cidades do Estado, alguns dos quais já sujeitos a racionamento.

As autoridades dizem que a situação é administrável; que não é preciso lançar campanhas de contenção de gasto, embora já existam prêmios para a redução do consumo.

Pode bem ser que não exista risco iminente de racionamento geral d'água. Este jornalista, pelo menos, não conseguiu ainda chegar a conclusão alguma, nem conseguiu ouvir de engenheiros especialistas opinião mais decisiva. De mais comum e menos incerto, ouviu que "o sistema vai estar sem folga até 2017, 2018" (data em que ficariam prontas obras relevantes), a depender demais de chuva.

A gente fica de orelha em pé, ainda mais gente que ouviu autoridades do governo FHC mentirem descaradamente sobre os problemas do setor elétrico em 2000. A mentira era parte do descaso: "Não é preciso fazer nada, pois está tudo sob controle, não vai haver racionamento de energia". Apenas em abril de 2001, um mês e pouco antes do anúncio do racionamento, o governo apareceria com um planozinho de contenção do consumo.

O desperdício de água é normalmente imenso no Brasil. Muita gente gasta demais, em bobagem (logo, o preço da água para os gastadores deve ser baixo demais, na margem). As empresas de saneamento perdem imensidões de água (são, pois, culpadas de ineficiências econômicas diretas e degradação ambiental). Ainda assim, há demanda reprimida (gente que não tem água bastante para o essencial).

Jogamos água fora, pois. Mas, neste momento de seca feia, não seria adequado fazer campanha forte de contenção de consumo? Qual o risco? O de perder votos?

Enfim, o retorno desses mortos vivos, o risco de racionamentos de água ou de eletricidade, lembra-nos o primitivismo das políticas e debates públicos por aqui: deixamos tudo explodir primeiro, para consertar depois, num desleixo infantil. Gostamos do "espetáculo do crescimento" do consumo; agora muita gente nem mais liga para a necessidade de crescimento econômico (o "povo vai bem", dane-se que a "economia vai mal"), sem o que não se paga investimento em infraestrutura.

Mas a conta chegou, de novo, a gente agora pode perceber no dia a dia. "Não vai ter Copa" não é um problema. Problema é que não vai ter porto, trem, rua, estrada, talvez água.

Desenvolvimento rural - ainda é possível? - ANTONIO MÁRCIO BUAINAIN

O Estado de S.Paulo - 18/02

Em artigo publicado neste jornal (15/2), o sociólogo Zander Navarro pergunta-se se seria válido o esforço para promover o desenvolvimento rural no Brasil. Ele indica dois cenários: a "argentinização, com o gradual esvaziamento do campo, a supremacia da agricultura de larga escala e o empilhamento da população migrante em poucas, mas grandes regiões metropolitanas", ou o "caminho europeu, no qual as regiões rurais mantêm alguma densidade social e produtiva, associadas à teia de cidades pequenas e médias espalhadas pelo território". Sugere um conjunto de "medidas corajosas", as quais subscrevo na íntegra, e que permitiriam "sonhar com o vasto interior povoado". Essa política seria possível? Tenho muitas dúvidas.


É preciso entender os motores do esvaziamento rural e desmistificar a associação entre o dinamismo agropecuário, o aumento da desigualdade fundiária e a migração rural-urbana que alimenta o crescimento e a pobreza urbana, como erroneamente sustenta artigo publicado na Nature Climate Change (20/12/2013). Rodolfo Hoffmann, especialista no assunto, comparou os censos desde 1975 e confirmou que as mudanças no sistema de uso da terra não afetaram a distribuição da propriedade, que é concentrada como sempre foi. O mesmo vale para o processo migratório, cujo saldo vem caindo de censo para censo, e já não explica o crescimento urbano.

O esvaziamento se deve à marginalização do campo, ao "fato de o Brasil nunca ter tido uma política de desenvolvimento rural", como afirma Navarro. Se isso não ocorreu quando a população e os eleitores rurais somavam um contingente importante, por que autoridades que tomam decisões em função das eleições, de maneira imediatista e populista, estariam agora interessadas em investir e promover o caminho europeu? O Brasil não tem uma rede de estradas vicinais, que na Europa vem sendo construída desde a Idade Média e que ainda hoje recebe investimentos. E como pensar em estrada vicinal num país que ainda não conseguiu duplicar a BR-101, que interliga as principais capitais e cidades e pela qual transita metade do PIB?

A comparação dos indicadores socioeconômicos dos meios urbano e rural mostra um abismo quase intransponível entre os dois mundos. Educação, saúde, infraestrutura básica, tudo é muito mais deficiente no campo. Por que os jovens rurais, que hoje assistem aos mesmos programas de TV que os jovens urbanos, sonham em comprar sua motocicleta e conquistar o mundo, optariam por permanecer no meio rural, marcado pelo atraso estrutural, trabalho duro, cansaço, pobreza e o abandono do Estado e de governantes, que por lá só passam em época eleitoral? Paradoxalmente, a migração é mais forte onde a agricultura familiar é bem-sucedida, pois os jovens têm melhores condições de vida, nível de escolaridade mais elevado e optam pelas cidades onde encontram mais oportunidades. Os mais empreendedores também saem e no campo ficam os velhos, os analfabetos, aqueles com menor escolaridade e os mais acomodados, que se ajeitam com trabalhos esporádicos, uma bicada da aposentadoria dos pais e avós, uma bolsa qualquer.

Independentemente do cenário, um número cada vez maior de pessoas viverá na cidades, mesmo sendo agricultor, pequeno ou grande proprietário. Poucos ficarão no campo, a maioria por falta de opção urbana acessível. E basta um passeio pelas pequenas cidades para confirmar o empilhamento populacional, que se traduz em desocupação, subocupação, violência e drogas. Nesse sentido, o desenvolvimento rural requer muito mais do que eliminar o "nefasto hibridismo ministerial", como sugere o professor Navarro; requer coordenação e racionalização das políticas públicas e entes locais fortes, com capacidade financeira e operacional para construir e manter estradas, prover educação básica de qualidade, manter um médico no posto de saúde, uma delegacia e seus serviços, implantar locais de lazer público, de esporte e cultura. E basta ver as condições da maioria dos municípios para constatar que o sonho do professor Navarro é quase impossível de realizar.

Lua minguante - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 18/02

Ontem foi dia de novas quedas na confiança na economia brasileira. Essa confiança vem se deteriorando rapidamente tanto no setor financeiro quanto entre os empresários. O preocupante não é a projeção feita pelos bancos, mas a expectativa das empresas. Sendo baixa, não há investimento, e a profecia se cumpre. Um dos fatores desse fenômeno é o temor em relação à energia.

Aprojeção para o PIB feita por bancos consultados pelo Banco Central caiu novamente para este ano e o próximo, e aumentou a estimativa para a inflação. No setor produtivo, a CNI divulgou queda pelo terceiro mês consecutivo do índice de confiança dos empresários. A indústria extrativa mineral é a mais pessimista, e o segundo setor com visão mais negativa é justamente o que foi mais ajudado pela política econômica recente, o automobilístico.

O Boletim Focus divulgado ontem pelo BC mostrou nova redução das projeções para o PIB deste ano e do ano que vem. Caiu para 1,79% a estimativa de 2014 e para 2,1% a de 2015.O que chama atenção é a forte deterioração dos números. O mercado já chegou a prever que o país cresceria 3,8% em 2014, segundo projeção feita em janeiro de 2013. Em maio, achava que seria 3,5% e em nove meses essa mediana foi para menos de 1,8%. Vários formadores de opinião estão apontando para números mais baixos, próximos de 1,5%. A taxa vem minguando pelas sucessivas decepções com a política econômica e com o desempenho da economia, principalmente da indústria. O número para a produção industrial deste ano já foi de 3,9% e agora está em 1,93%.

A questão é que a confiança não está em baixa apenas no setor financeiro. Ontem, a CNI divulgou que houve queda, em fevereiro, pelo terceiro mês consecutivo do Índice de Confiança do Empresário Industrial. O índice caiu para 52,4 pontos e se distanciou da média histórica, de 58,2 pontos. A perda foi maior entre as grandes empresas e oitos setores estão com a
confiança abaixo de 50 pontos, o que indica sentimento de recessão.

Chama atenção a forte perda do setor automobilístico, que já é o mais pessimista entre todos da indústria de transformação e só ganha da extrativa mineral. Seu índice, que media 59,4 pontos em fevereiro de 2013, desabou para 46,5 pontos. A crise na Argentina é um dos motivos para essa piora, porque grande parte da exportação de carros vai para lá. Ontem, o MDIC também informou que a balança comercial ficou mais deficitária no ano: US$ 6 bilhões.

Outra fonte de problemas é o suprimento de energia. A situação dos reservatórios de água continua crítica, mesmo com as chuvas do final de semana. O ONS informou que o nível no sistema Sudeste/Centro-Oeste caiu para 35,54% no domingo. Ao mesmo tempo, como mostrou o “Valor Econômico”, surgem dúvidas sobre a sustentabilidade do uso das termelétricas, que estão operando em carga máxima já por muito tempo.

É difícil combater esse sentimento de desânimo apenas com palavras, ou mesmo a criação de um fórum empresarial, como está sendo pensado na Presidência. Ao contrário do que o governo acredita, não basta uma DR, usando a expressão do ministro Paulo Bernardo, referindo-se à ideia de “discutir a relação”.

Não se chegou a esse ponto de uma hora para outra. Foi o resultado de vários erros, como a intervenção e erros gerenciais no setor de energia, a manipulação de preços públicos, que faz temer aumento futuro da inflação e a situação da maior empresa do país, a dificuldade de conclusão de obras iniciadas. São muitos os elementos que levam às projeções declinantes.