quarta-feira, maio 11, 2011

ENTREVISTA -José Agripino Maia"As digitais do governo estão na criação do PSD"



ENTREVISTA -José Agripino Maia"As digitais do governo estão na criação do PSD" 
Pedro Venceslau
BRASIL ECONÔMICO - 11/05/11


Para ele, a ida de parlamentares de diferentes partidos para a nova legenda foi induzida pelo Palácio do Planalto


O Senador José Agripino (DEM-RN) assumiu o comando nacional do DEM no meio do período mais conturbado do partido. Herdeira do discurso mais conservador da política brasileira, a agremiação, que já se chamou Arena, PDS e serviu de base de sustentação do regime militar, vive hoje um processo de "oferta hostil" inédito na história política nacional. Nesta entrevista, Agripino credita o sucesso da empreitada comandada pelo ex-aliado Gilberto Kassab ao esforço do Palácio do Planalto, que teria encontrado a fórmula ideal para ampliar sua base.

Até agora, qual o tamanho do prejuízo para o DEM com a criação do PSD? Perdemos a parte do partido que não tinha convicção partidária. Essas pessoas saíram por oportunismo, vontade de se aproximar do governo ou conveniências pessoais. Nosso partido diminui um pouco de tamanho, mas a essência permanece. As pessoas que saíram foram eleitas com o tempo de televisão e rádio e com as ideias do DEM. As digitais do governo estão presentes na criação do PSD. Como você acha que tantos parlamentares de legendas diferentes foram para esse partido? Por indução do Palácio do Planalto.

É possível, apesar das mágoas, que seja feita uma aliança entre DEM e PSD nas eleições do ano que vem?
O DEM se aliará aos partidos que hoje fazem oposição ao governo. O PSD, embora tente negar, se filiará à base governista. Sendo assim, não haverá aliança. Em janeiro, o prefeito Kassab lançou a ideia de fundir o DEM com o PMDB e eu refutei na hora. Não para fazer a união de um partido de oposição com outro da base do governo.

E o que acha de uma fusão no campo oposicionista, entre PSDB, DEM e PPS?

A tese da fusão ainda está no campo das hipóteses. Ela terá que ser debatida nos partidos. O balanço dos prós e contras ainda não foi feito.

O prefeito Gilberto Kassab disse que o PSD não é de esquerda, nem de direita, nem de centro. O que achou disso?
É o retrato falado do partido dito por quem tem autoridade para fazê-lo.

Em qual destes espectros se localiza o DEM de hoje; centro, esquerda ou direita?
O Democratas é, acima de tudo, um partido moderno e liberal. O partido prestigia a meritocracia, o capital privado e combate o tamanho gigante do estado. O partido precisa se debruçar agora mais em suas ideias do que em nomes.

Concorda com a tese de FHC, de que conquistar a classe média é o grande desafio da oposição?
Pelo crescimento numérico da classe media emergente, ela é a categoria que precisa ser objeto de atenções políticas, mas sem perder de vista a classe A empregadora e os excluídos.

Como avalia a condução econômica do governo Dilma?

Ela não está agindo para corrigir a gastança do ano passado que produziu a retomada da inflação. O governo tenta impedir a volta da inflação com contenção de investimentos e aumento da taxa de juros. Isso não vai resol-ver. Também não adianta tentar conter a inflação aumentando as importações. O caminho é um só, a diminuição do gasto público de má qualidade. E o governo não está tendo coragem de segui-lo. Combater inflação com importação é um tiro no pé. Quanto maior o gasto público, maior a carga tributária. Dilma faz uma gestão que não ousou e adota remédios tímidos para os problemas que estão surgindo, mas com acertos na política externa.

Quais foram os erros estratégicos cometidos no DEM que levaram o partido à situação que está hoje?
De fato houve umconjunto de erros no passado que prejudicaram a imagem do partido, mas não adianta olhar para eles agora. Se fizer essa avaliação vou ser obrigado a fulanizar os erros e vou querer recuperar um contencioso.
O PSDB continua sendo um aliado preferencial do DEM? Sim, continua sendo.

O melhor candidato à Presidência da oposição em 2014 é o José Serra?
É um grande brasileiro e um grande tucano, mas essa avaliação será feita na hora certa.

O DEM tem quadros para disputar o Palácio do Planalto? Quais?
Temos vários nomes com qualificação, mas citá-los agora seria extemporâneo.Vamos definir isso depois das eleições municipais.

Acredita que a reforma tributária finalmente sairá do papel em 2011?
Eu não confio na determinação do governo de fazer a reforma tributária, porque ele sempre recua ao primeiro embate de integrantes da base governista. Aconteceu antes e deve acontecer agora de novo. Eu vou pagar para ver. Não acho que vai ser diferente do que foi há quatro anos. Isso vale também para a reforma política.
Quando as pessoas perdem, elas se colocam em guarda.

Senador e presidente do DEM

ALON FEUERWERKE - A base, empoderada


A base, empoderada
ALON FEUERWERKER 
CORREIO BRAZILIENSE - 11/05/11

Os assim chamados ruralistas aprenderam nas últimas duas décadas a não se deixar isolar facilmente. O resultado está aí. Não dá para dizer, por exemplo, que PSB e PCdoB sejam siglas "ruralistas", signifique o que significar a expressão

O debate em torno do Código Florestal traz algumas lições. Uma delas é direta. Deve-se olhar com cautela quando a coisa no Congresso Nacional parece muito acirrada. Pois é possível que as diferenças no mérito não sejam tão diferentes assim, que o ambiente de polarização se deva mais a dificuldades políticas.
Nesta reta decisiva, a tensão no Código Florestal convergiu para pequenos detalhes, facilmente resolvíveis num ambiente de boa vontade. Detalhes importantes, mas localizados e suscetíveis de adaptação para o entendimento. O papel de atrapalhar restou para a política, e aí a coisa pega. Mesmo atravessando as turbulências na Câmara dos Deputados, restará ainda o Senado.
E nunca é inteligente subestimar o Senado, que pode trazer problemas para o governo em três situações. Quando a oposição está forte. Quando há equilíbrio e quando a base governista está forte. Ou seja, sempre.
Do ângulo da sociedade, o que interessa são as consequências da decisão. Mas para os políticos, para quem adotou um lado e identificou-se em público com ele, é preciso sair politicamente vitorioso. Ou pelo menos não derrotado.
No processo legislativo da mudança do Código Florestal, o governo deixou-se colher numa armadilha. Para usar uma expressão do universo cultural petista, empoderou a base parlamentar. Sem necessidade. É possível que no fim das contas a base aceite ser publicamente "conduzida" pelo governo, mas vai ser jogo de cena. O jogo em Brasília é sempre combinado. Combina-se principalmente quem vai aparecer como tendo vencido, e como tendo perdido. Desde que, naturalmente, todos ganhem.
Por descuido ou fatalidade, o PT acabou isolado, e precisou recorrer ao governo. O PT é o partido líder do governo, o partido da presidente da República. Não pode ser derrotado. Mas está isolado. Mais ou menos como os rebeldes de Bengazi, antes dos bombardeios da Otan. A diferença é que o governo do PT não tem a opção de se livrar da base, coisa que a aliança franco-anglo-americana anuncia fazer com Muamar Kadafi no menor tempo possível.
O isolamento do PT nos debates do Código Florestal decorre de um método. Que, como todo bom método, costuma dar certo até o dia em que dá errado. O método do PT é debater intramuros no partido e no governo, fechar uma posição e exigir a partir daí a fidelidade da base parlamentar. No máximo, abre-se algum espaço para a participação de organizações sociais, quando simpáticas ao PT. Ou às teses do PT.
O PT não enxerga a base parlamentar como expressão legítima de interesses sociais heterogêneos, e portanto como interlocutor essencial na busca de consensos, ou pelo menos posições majoritárias. É um bom método pois aumenta o poder da legenda. Até o dia em que ela se descobre cercada. Como agora no debate do Código Florestal.
Pois os assim chamados ruralistas aprenderam nas últimas duas décadas a não se deixar isolar facilmente. O resultado está aí. Não dá para dizer, por exemplo, que PSB e PCdoB sejam siglas "ruralistas", signifique o que significar a expressão.

Dilogo
A presidente da República tem o hábito de não se expor em excesso, e está no direito dela. Mas não é habitual esta impressão de alheamento. A palavra e a presença de quem comanda são importantes. Pode ser que as pesquisas digam o contrário, vai saber. Mas pesquisas não são tudo. Quem se torna escravo de pesquisas para de raciocinar. Quando o eleitor escolhe um presidente da República não escolhe só um gerente. Escolhe um líder. Cuja palavra serve de referência, de baliza. E que precisa, na democracia, ter alguma disposição para o diálogo.

Escolha
Só se fala na eleição para prefeito de São Paulo. Será um jogo de xadrez complexo. Em toda eleição os jogadores se movimentam não apenas com o objetivo de eleger alguém. Tão importante quanto é saber quem vão derrotar. Às vezes, como no caso da Prefeitura de São Paulo, pode até ser mais importante.

ROGÉRIO MORI - Inflação e desindexação


Inflação e desindexação 
ROGÉRIO MORI
BRASIL ECONÔMICO - 11/05/11

Recentemente ressurgiu o debate sobre a necessidade de novos avanços em torno da desindexação da economia brasileira. De fato, pouco se avançou nesse sentido nos últimos anos.
Sob essa perspectiva, vale lembrar que até o sucesso da estabilização da inflação em patamar baixo, a partir da implementação do Plano Real em 1994, a economia brasileira era altamente indexada. Isso era um claro reflexo do período de inflação alta com o qual o país conviveu ao longo de décadas, quando o sistema criou dispositivos automáticos de reajustes de preços e salários pela inflação passada.Os dispositivos contribuíampara retroalimentar o processo inflacionário e, conjugados com os equívocos econômicos do passado, tornavam inúteis a utilização de instrumentos convencionais de política econômica para controlar a inflação. Os programas de estabilização da década de 1980 e do início da década seguinte não conseguiram lidar de forma adequada com a problemática da indexação, o que contribuiu para que estes fracassassem e a inflação voltasse com mais vigor. O Plano Real e suas medidas complementares foram relativamente bem-sucedidos em lidar com a indexação, não permitindo reajustes nos contratos comperiodicidade inferior a 12 meses.
No entanto, passados mais de 15 anos, ainda persistem resquícios do período de inflação alta na nossa economia. Inúmeros contratos possuem dispositivos de reajuste automático pela inflação passada, ainda que emperiodicidade anual. Esse tipo de instrumento só temsentido se os agentes não confiarem inteiramente na manutenção da inflação em patamar baixo e desejarem uma espécie de defesa automática contra a aceleração da inflação. Do ponto de vista econômico, porém, a existência de algum grau de indexação na nossa economia impõe um esforço maior do governo no sentido de trazer a inflação a um patamar mais baixo. Nesse contexto, a indexação promove uma espécie de rigidez da inflação, uma vez que uma parcela significativa dos preços e contratos são reajustados pela inflação passada. Fica claro, nesse sentido, que para se reduzir o patamar inflacionário, os preços dos itens não sujeitos à indexação devem variar a um nível mais baixo em relação à inflação passada. Nessa lógica, a comparação relativa com um ambiente econômico onde a indexação não está presente é digna de nota. Na ausência de indexação, o comportamento dos preços reflete de maneira mais clara as condições do mercado (oferta e demanda). Isso significa que, caso o Banco Central deseje derrubar a inflação, uma política monetária contracionista tem efeito sobre o conjunto de preços da economia e não apenas sobre aqueles não indexados (ou conhecidos como livres). Em outras palavras, na ausência de indexação, a tendência é que a inflação caia mais rapidamente e que a políticamonetária não tenha que ser tão contracionista para reduzir o ritmo de alta dos preços (ou pelomenos não por umprazo tão prolongado). O governo reintroduziu o tema da desindexação nas últimas semanas e se move na direção correta. A questão, nesse sentido, é saber se o ressurgimento desse tema é oportuno em um momento em que a inflação medida pelo IPCA em12 meses superou o limite superior dameta estabelecida.

Professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas

GOSTOSA

MERVAL PEREIRA - A cabeça de Obama


A cabeça de Obama 
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 11/05/11

Quem assistir à entrevista do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao programa "60 Minutes" da rede CBS, que está disponível no site da emissora americana, certamente ficará impressionado com a convicção, que ele demonstra, de ter feito a coisa certa. A tal ponto que, a certa altura, diz textualmente: "Se alguém tem dúvidas de que esse assassino em massa em solo americano recebeu o que merecia, merece ter sua cabeça examinada".
Mesmo que não seja verdade que, como noticiou o jornal inglês "The Guardian", logo após os ataques de 11 de setembro de 2001, EUA e Paquistão selaram um pacto que autorizaria Washington a lançar uma operação em território paquistanês contra Osama bin Laden, caso o líder da Al-Qaeda fosse localizado naquele país, o governo americano estava coberto por diversas resoluções, tanto do Congresso dos Estados Unidos quanto da ONU.
Muito embora seja uma política do Estado americano não se submeter a decisões de organismos internacionais quando considera que a integridade do país ou de seus cidadãos está ameaçada, uma marca do poder imperial que continua vigorando mesmo num governo como o de Obama, que se diz multilateralista e não hegemônico.
Uma resolução do Congresso americano, votada por democratas e republicanos, autoriza o presidente a defender o país contra o terrorismo de qualquer jeito, decisão que certamente tem mais peso para qualquer administração, republicana ou democrata, do que as resoluções da ONU.
Mesmo assim, em 28 de setembro de 2001, o Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade uma resolução muito abrangente sobre o combate ao terrorismo. Nela está reafirmado o "direito de autodefesa" reconhecido pela Carta das Nações Unidas quando afirma, em seu artigo 51 do capítulo 2: "Nada nesta presente Carta deve impedir o inerente direito de individual ou coletiva autodefesa se um ataque armado ocorre contra um membro das Nações Unidas, até que o Conselho de Segurança tenha tomado as medidas necessárias para manter a paz internacional e a segurança."
No mesmo texto, está reafirmada "a necessidade de combater por todos os meios, de acordo com a Carta das Nações Unidas, as ameaças à paz internacional e à segurança provocadas por atos terroristas".
A mesma resolução decide que todos os Estados-membros devem "tomar as necessárias medidas para prevenir atos terroristas, inclusive fornecendo avisos a outros Estados através da troca de informações".
Em setembro do ano passado, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução, por consenso, reiterando e revalidando essa estratégia para a implantação de uma política global contra o terrorismo.
A cada dois anos esse documento da ONU, denominado "Estratégia global contra o terrorismo", é revisado, e no ano passado foi reafirmada a inequívoca condenação do terrorismo em todas as suas formas e manifestações.
No capítulo 2, item 15, que trata das medidas para efetivar as decisões estabelecidas pela resolução 1.267 de 1999 do Conselho de Segurança, um dos pressupostos é "continuar trabalhando para aumentar a efetividade do banimento de deslocamento, de acordo com as sanções da ONU contra a Al Qaeda, o Talibã e indivíduos e entidades associados a eles".
A resolução "encoraja" os Estados-membros a compartilhar informações referentes a pessoas incluídas nesse sistema de sanções. O Paquistão, portanto, falhou em cumprir essa obrigação, por inépcia ou propositadamente.
A demanda pelo "devido processo legal" para Osama Bin Laden ou mesmo a lembrança do Tribunal de Nuremberg, onde os criminosos de guerra nazistas foram julgados e condenados, estão indevidamente colocadas, já que não se trata de uma guerra entre Estados soberanos, mas sim contra uma rede de terroristas sem pátria que ataca inocentes de várias nações.
"Devido processo legal" se faz para apurar crimes de cidadãos, nacionais ou estrangeiros, e proporcionar a todos o direito de defesa. Bin Laden, réu confesso em áudio e vídeo, não é cidadão de qualquer país, é um pária. Sequer está protegido pela Convenção de Genebra, porque nunca se tratou de guerra entre dois países.
Com relação ao Tribunal de Nuremberg, ou até mesmo o julgamento do criminoso nazista Adolf Eichmann por Israel, trata-se de situações completamente diferentes, porque interessava aos vencedores da Segunda Guerra Mundial, e a Israel depois, no julgamento de Eichmann, exibir ao mundo os criminosos de guerra e puni-los exemplarmente.
No caso atual, seria impossível julgar Bin Laden em qualquer lugar do mundo sem provocar represálias terroristas. Além disso, como o grande articulador dos ataques suicidas como os que destruíram o World Trade Center em Nova York, como querer que a tropa de elite não o matasse ao mínimo gesto?
Como garantir que não se explodiria levando com ele todos os que lá estivessem?
Como garantir que um mínimo gesto não provocaria a explosão da casa?
O fato é que Bin Laden era um alvo militar legítimo, como foi definido por militares dos EUA.
No famoso discurso de 2007, durante a campanha que o levou à Casa Branca, de que já tratei aqui na coluna, o então candidato Obama anunciou que fazia parte de sua estratégia antiterror organizar uma força militar treinada para rastrear, capturar ou matar terroristas pelo mundo e impedir que eles tenham acesso às mais perigosas armas. "Eu não hesitarei em usar a força militar para atingir terroristas que representem uma ameaça direta à América", garantiu.
Pois bem, uma reportagem recente do "Wall Street Journal" mostra que a promessa foi cumprida à risca. Forças de elite como os comandos da Marinha - conhecidos como Seal - que mataram Bin Laden existem em todas as Forças Armadas dos Estados Unidos hoje.
Desde 2009 essas forças passaram de quatro para 20, cada uma com cem homens. Mil e quinhentos líderes insurgentes foram mortos ou capturados; oito mil insurgentes foram presos, e outros 3.200 foram mortos.

PAULO MALUF - Ampliar Guarulhos ou covardia?


Ampliar Guarulhos ou covardia? 
PAULO MALUF
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/05/11

Os críticos diziam que o aeroporto de Guarulhos "era obra faraônica, desnecessária"; hoje, ele precisa urgentemente passar por uma ampliação O Aeroporto Internacional de Guarulhos começou a ser construído quando eu era governador de São Paulo (1979-1982).
Foi possível fazê-lo porque meu governo fez uma parceria com o Ministério da Aeronáutica.
Aproveitou-se a experiência dos militares, a ampla área existente no lugar onde já funcionava a Base Aérea de Cumbica e os recursos do governo de São Paulo.
O Aeroporto Internacional precisava de 14 milhões de metros quadrados. A base aérea de Cumbica tinha 10 milhões de metros quadrados. Foi preciso desapropriar só 4 milhões de metros quadrados, o que, com o terreno plano, barateou brutalmente o investimento. Como comparação, aeroporto equivalente no Japão custou US$ 26 bilhões. Guarulhos custou US$ 1,5 bilhão.
O governo anterior ao meu pretendia construir o aeroporto no município de Cotia, distrito de Caucaia do Alto, o que só em serviço de terraplanagem dobraria o custo da obra. Refizemos os planos optando pela área de Guarulhos, ao mesmo tempo em que construíamos também a rodovia dos Trabalhadores (hoje Ayrton Senna), permitindo rápida ligação do novo aeroporto à capital paulista.
Mesmo assim, a construção do aeroporto em Cumbica foi alvo de uma enorme campanha negativa.
Houve até uma ação popular contra o investimento. Os críticos diziam que "era uma obra faraônica, desnecessária". E hoje ele precisa ser ampliado urgentemente.
Um vereador de Guarulhos promovia semanalmente um espetáculo midiático, diante das câmeras de TV e jornais, deitando-se diante das máquinas escavadeiras para evitar que elas trabalhassem.
Apesar de tudo, o aeroporto foi feito, e hoje está ultrapassado. Lotado. Com filas e mais filas, a tal ponto que algumas das empresas aéreas pedem a seus passageiros que cheguem para embarcar com quatro horas de antecedência.
Cumbica aproxima-se da situação de Heathrow, em Londres, onde há trafego o dia inteiro, apesar de o aeroporto de Guarulhos ser menor. Entretanto, os planos originais do aeroporto previam uma terceira pista, que meus sucessores não fizeram. O lugar da terceira pista foi invadido. Agora, como opção, fala-se apenas em fazer um terceiro terminal.
Mas é preciso fazer a terceira pista, construindo um projeto Cingapura para os eventuais desalojados.
Dizem que Cumbica, hoje, está com movimento 30% além de sua capacidade. O projeto faraônico se tornou uma miniatura.
Felizmente, temos muitos projetos. O que falta é coragem para realizá-los. O mal de alguns executivos é a covardia em ousar.
Não há mais tempo a perder. Temos que ampliar Guarulhos e viabilizar Viracopos como verdadeiro aeroporto tanto internacional como para voos domésticos. Desafogaria toda a demanda proveniente do interior. E não se use o falso argumento de falta de verbas. Se tem para o trem-bala, não há que faltar para o transporte aéreo.

ZUENIR VENTURA - Musa inspiradora


Musa inspiradora
ZUENIR VENTURA 
O GLOBO - 11/05/11

Num show outro dia, Edu Lobo usou para si o exemplo do compositor americano Cole Porter, que, quando lhe perguntaram sobre sua fonte de inspiração, respondeu que era o telefonema do produtor (com a encomenda de uma música, bem entendido). Tom Jobim disse coisa parecida: "Minha musa inspiradora é o prazo." São opiniões de peso que desmoralizam o preconceito contra as obras encomendadas, como se as limitações de tempo e de tema fossem fatores de empobrecimento delas, quando podem funcionar como estímulos, como funcionaram em vários casos ao longo da história da criação artística.

O que seria do Renascimento italiano se não existisse um mecenas como Lourenço de Médici, o Magnífico, que patrocinou grandes artistas da época? O que seria de Michelangelo sem o Papa Julio II? Provavelmente seria o mesmo gênio, mas não teria pintado a Capela Sistina no Vaticano, cujos afrescos são tidos como um dos maiores tesouros artístico da humanidade. São de uma beleza estonteante e observá-los de perto é uma espécie de delírio de fruição estética. Como o criador do David considerava-se mais escultor do que pintor, diz-se que realizou sua obra-prima pictórica com má vontade. Suspeitava que a encomenda fosse um complô de seus rivais e desafetos para afastá-lo de seu objetivo, que era fazer o mausoléu do Papa. Imagine se ele não tivesse trabalhado contrariado

Essas lembranças me ocorreram durante a Semana Literária do Projac, organizada pela Central Globo de Produção, com a participação de Luis Fernando Verissimo e Lia Luft. A mim coube falar "da encomenda e dos resultados". Aproveitei então para ressaltar que, além do prazo e da encomenda como fonte de inspiração, há outra musa mais recente: o adiantamento. O procedimento é usado na indústria editorial e consiste na antecipação de parte do pagamento dos direitos autorais. Você assina o contrato, recebe a grana e a primeira coisa que faz é gastá-la. Depois, não tem como voltar atrás, a não ser que morra, já que não pode devolver o que gastou. Como se vê, é uma invenção esperta.

O STF apanhou tanto ao beneficiar políticos ficha suja que agora merece todos os aplausos que vem recebendo por ter legitimado a união estável de casais gays. Isso demonstra que é possível conciliar a opinião dos doutos juízes com a de nossa leiga ignorância.

Mais por inexperiência política do que por incompetência, a ministra Ana de Hollanda tem derrapado e sofrido uma campanha traiçoeira. E, o que é mais grave, trata-se de fogo amigo. Ela que se cuide, pois o que o PT mais sabe fazer é oposição, inclusive contra si próprio. O apetite do partido por cargos é tão grande que o leva à prática de voraz autofagia.

"TÔ FUDIDO"

EDITORIAL - O GLOBO - Criação de estados prejudica contribuinte


Criação de estados prejudica contribuinte
EDITORIAL
O GLOBO - 11/05/11

A tradição brasileira de o Estado criar gastos e repassar a conta para o contribuinte não para de ser fortalecida. É em nome dela que, desde a estabilização da economia, com o Plano Real, em 1994, até hoje a carga de impostos sobre a sociedade subiu sete pontos de PIB, de 28,4% para 35% - o mais elevado índice no bloco de países emergentes, superior mesmo ao peso relativo dos impostos cobrados em nações do Primeiro Mundo, como Estados Unidos e Japão. O fato é conhecido, costuma ser criticado por técnicos e até mesmo políticos, mas a tradição se mantém. E está mais viva do que nunca, demonstra agora a descabida aprovação na Câmara de projetos para a realização de plebiscitos sobre o desmembramento do Pará em mais dois estados, Carajás e Tapajós. Não é difícil prever a dimensão do que este tiro de ogiva dupla contra os interesses do contribuinte e da sociedade como um todo significará em termos de gastos adicionais na montagem de Casas legislativas, governos, servidores, mordomias em geral.
A pedido do site G1, o economista Rogério Boueri, do Instituto de Planejamento de Economia Aplicada (Ipea), do governo federal, fez alguns cálculos do custo da farra. Com base em parâmetros de 2008, o economista estima que Tapajós e Carajás teriam de contar com R$2,2 bilhões e R$2,9 bilhões por ano, respectivamente, para se manter. E, projetada a arrecadação dos dois novos estados, restaria um déficit anual de R$2,1 bilhões, a ser devidamente remetido ao Tesouro. Leia-se, aos contribuintes de todas as regiões do país. Este será o preço desses projetos, como os demais do gênero inspirados na intenção de caciques políticos de contar com sua própria máquina burocrática para exercitar o clientelismo, sob os auspícios dos pagadores de impostos. Consuma-se o sonho deste tipo de político: vagas para preencher e dinheiro público para gastar.
Promulgada a atual Constituição, em 1988, foi aproveitada a desconcentração do poder político para a montagem de uma indústria de criação de municípios. Naquele ano, havia 4.180 prefeituras; em pouco tempo, brotaram de conchavos políticos regionais outras mil. Na Era FH, criaram-se alguns obstáculos para conter aquela indústria. Mesmo assim, existem hoje 5.564, a esmagadora maioria de dependentes de repasses da União. Será o futuro dos novos estados, se criados. Com o agravante de alterar, para pior, a representatividade política do Congresso, já desbalanceada pelo Pacote de Abril, do governo Geisel, em 1977, baixado, entre outros objetivos, para acabar com a proporcionalidade entre população e assentos na Câmara. A manobra ampliou a representatividade de estados menos desenvolvidos, onde o partido do regime, a Arena, reinava. A distorção foi mantida e será agravada com a expansão da bancada do Norte.
O desatino é maior, pois há outros projetos de criação de estados. Politicamente inaceitáveis e financeiramente ineptas, estas propostas, se concretizadas, só irão aumentar o já bastante elevado custo do Estado, sem qualquer benefício para a população. Se a multiplicação de municípios não equacionou problemas básicos, o mesmo também não acontecerá caso sejam acrescentados mais estados aos 27 existentes.

ROSÂNGELA BITTAR - Mais uma da carochinha


 Mais uma da carochinha
ROSÂNGELA BITTAR
VALOR ECONÔMICO - 11/05/11

Inexiste qualquer possibilidade de a reforma do sistema eleitoral, uma formulação que andou mais no Senado que na Câmara, sem vantagens por isso, ter um desfecho provável. A Câmara pensa e discute mais a questão, o que dá aos que torcem pela reforma efetiva, mais esperança. O Senado resolveu que a prioridade é aprovar qualquer coisa, desde que rapidamente. Aí está: ontem, concluiu um conjunto de propostas de mudanças para oferecer à formalidade de uma tramitação.
O pacote de projetos não guarda uma coerência que possa lhe dar forma ou sistematização. Está mais para samba do crioulo doido do que para samba enredo, embora este, de aparência mais concatenada, também tudo permita.
Está alí a camisa de força do dono e mandante do partido, com a criação do voto proporcional em lista fechada. O quimérico financiamento público exclusivo foi aprovado. A candidatura avulsa para... vereador, apenas um registro de homenagem a quem propôs essa saída para driblar os proprietários das agremiações, o Senador e ex-presidente Itamar Franco. O fim da reeleição, também aprovado. O fim das coligações, mas apenas nas eleições proporcionais.
A obra não contemplou o que poderia dar um toque de modernidade às eleições brasileiras, um sistema que fosse, na política, tão avançado quanto o é na técnica de votação em país continental. Não se conseguiu a remoção da figura do suplente de Senador, mas apenas um remendo: suplente não pode ser parente. O voto continuou obrigatório. Sequer foram debatidas duas questões que poderiam superar alguns riscos de colapso do sistema em vigor: o voto distrital, este nem colocado como opção às eleições proporcionais com lista fechada (essas disputaram com uma invenção pemedebista, o distritão); e as prévias eleitorais obrigatórias, que poderiam ter contribuído mais para o fortalecimento dos partidos do que todas as medidas de fidelidade impostas pela Justiça.
O voto distrital está muito relacionado ao projeto de um partido, o PSDB, e por esta razão tem caído no buraco negro da disputa política, que não deixa o sistema sair do lugar. Quanto ao segundo tema, capaz de levar algum equilíbrio aos problemas que emperram as organizações, aumentam as divisões internas dos partidos, provocam as lutas fratricidas, multiplicam e fragmentam o quadro partidário, nem de longe foi tocado. Fugiram os políticos brasileiros da instituição das eleições primárias, as prévias, que relutam a implantar por desapreço à democracia interna, mesmo que restrita.
Vistas hoje como salvação, as prévias não só não foram consideradas uma solução importante para os partidos como estão em risco de retrocesso na única legenda que a adota de forma regulamentar, o PT.
O ex-presidente Lula, invejoso do autoritarismo partidário que vê à sua volta, trabalha para o PT evitar as prévias na escolha dos candidatos das eleições municipais de 2012. Na verdade, Lula quer ficar livre de qualquer restrição para fazer o que quiser na sucessão em São Paulo, prefeitura e Estado, que definiu como prioritários na sua cruzada eleitoral pós-governo. Mas o partido ainda não aquiesceu e tem discutido o contrário, o aperfeiçoamento do mecanismo.
A prévia, vista como a única forma de dar bom senso e racionalidade à escolha dos candidatos e de aplacar as disputas internas entre os que consideram inalienável o direito à candidatura, é o que pode evitar a destruição de biografias e reputações, as lutas fratricidas, a fragmentação do partido e a multiplicação de legendas instituídas só para abrigar uma candidatura.
Ao contrário do que defendem os grandes partidos, a forma de resolver o problema não está na cláusula de barreira. O ideal é a eleição primária.
O PT, apesar da força do ex-presidente e a óbvia aceitação de suas teses, vai tentar preservar as prévias em seu novo Estatuto e Código de Ética, conjunto de princípios em fase de análise e revisão por uma comissão de 17 membros do Diretório Nacional.
Já está decidido que as prévias serão mantidas nas regras, com alguns novos critérios. Essas, ensina o partido que melhor as conhece e pratica, no Brasil, não podem ser uma decisão individual. Não pode haver um candidato de si mesmo. Por enquanto, as discussões apontam a exigência de apoio de 40% do partido para que um candidato desafie outro. Ou seja, praticamente tem que a agremiação estar dividida ao meio para justificar-se a disputa.
O Estatuto, feito quando o partido ainda se organizava em núcleos, está anacrônico. A estrutura interna já mudou e outras correções pontuais da legislação eleitoral, já aprovadas ou em processo de aprovação no Congresso Nacional, indicam a necessidade de novas reformulações.
O debate vem sendo travado há dois, três meses, e continuará até o congresso partidário, em setembro, quando os novos princípios serão aprovados. Está certo o PT. Se for esperar pela reforma política, não avança.
Outras regras que o destacam como organização também serão aperfeiçoadas pelo PT. Ainda em discussão, e muito polêmica, por exemplo, há a norma de registro online, em tempo real, de todas as doações de campanha, para todos os candidatos, em todos os níveis. Discute-se a fixação de um tempo máximo de permanência na direção do partido: dois mandatos seguidos, ou três alternados. Lula e José Dirceu, por exemplo, ficaram muito mais tempo do que isso.
O regimento já não está dando conta, também, de determinados processos eleitorais. Em todas as disputas, impugnações as vésperas dos pleitos vão atravessando as instâncias partidárias municipais e estaduais até parar no diretório nacional, sem possibilidade de julgamento antes das eleições. São minúsculas querelas que lotam o espaço nacional do partido.
O PT, considerado o mais orgânico partido do Brasil, está buscando um regimento resumido quanto aos princípios e genérico no processo, para dar modernidade e agilidade à organização e ação. Experiência que poderia servir às demais agremiações que queiram dar realismo e objetividade à reforma do sistema eleitoral, apesar do que se encena no Senado e na Câmara.

GOSTOSA

ANCELMO GÓIS - Estado de direito


Estado de direito
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 11/05/11

Veja como a presença das UPPs em favelas do Rio leva cidadania para as comunidades. No Dona Marta, antes da ocupação, a Light tinha só 80 clientes legalizados. Ainda assim, o índice de inadimplência no morro era de 70%. Hoje, são 1.580 clientes ali, e a inadimplência é de apenas 2%.

Segue...

O estado também passou a recolher impostos. Ainda no caso do Dona Marta, a arrecadação de ICMS nas contas de luz subiu de R$ 1.800 para R$ 128 mil por ano. 

Recado para Ana 
Um enviado de Dilma assegurou à ministra Ana de Holanda que ela não cairá. Mas, para permanecer no cargo, precisa “pacificar” o
Ministério da Cultura. 

Rádio Aeroporto 
Primeiro foi a TAM que comprou um pedaço da Trip. Agora, fala-se que a Gol sonha com um naco da Passaredo, outra miúda. A conferir. 

Tá dominado
De um grande empreiteiro, em defesa de Zé Dirceu, acusado de fazer tráfico de influência no governo a favor da Delta: 
— Todas as grandes construtoras o contrataram, de modo que acho difícil Dirceu favorecer uma em detrimento de outra.Ah, bom!

Samba dos livros

A Portela estuda um enredo sobre a Biblioteca Nacional, que completou 200 anos em 2010.

Cena carioca
Ontem, uma adolescente chorava na clínica veterinária Clav, na Tijuca, triste com a doença de seu cachorro, quando foi confortada por uma moça: “Quer um copo d’água com açúcar?” E a jovenzinha: “Pode com adoçante? Açúcar engorda.”

Sem avião
Até ontem, o Clube dos 13 não tinha honrado o pagamento das passagens aéreas das delegações dos clubes para a primeira rodada do Campeonato Brasileiro, dia 21. A entidade, esvaziada, não tem dinheiro em caixa. O Vasco, por exemplo, vai a Fortaleza enfrentar o Ceará; o Avaí vem ao Rio encarar o Flamengo, e por aí vai. 

A volta dos Cassetas
Os Cassetas voltaram a se reunir para discutir um novo programa de TV. Além do desfalque de Maria Paula, a atração não terá a direção de José Lavigne, que estava com eles há mais de 18 anos. A saída dos dois foi amigável.

Mãos ao alto, meu!
Flávia Sampaio, a namorada de Eike Sempre Ele Batista, foi assaltada ontem em São Paulo. Ficou sem o relógio Cartier de alguns milhares de reais. Deve ser terrível viver numa cidade assim...

Um ‘plus’ a menos

Baixou as portas a Termas Aeroporto, na Av. Beira-Mar, perto do Santos Dumont, no Rio. A casa de saliência tinha 32 anos e foi a primeira na cidade a usar o nome “termas” para camuflar o nheco-nheco. Aliás... A casa foi de um ex-deputado que chegou a ser unha e carne de um antigo governador. 

Palhaçada 
A rede de lojas Renner foi condenada pela 6a- Turma do TRT do Rio a indenizar um funcionário em R$ 8 mil. O vendedor teria sido obrigado a trabalhar vestido de palhaço no shopping Rio Sul. 

Monteiro de Carvalho
Vai a leilão em setembro, promovido pela marchand Soraya Cals, o palacete que pertenceu a Astridinha Monteiro de Carvalho, em Santa Teresa, no Rio, incluindo 2.000 obras de arte. Tem uns 13.000m². No jardim, há mangueiras, pés de sapoti, ameixa, pitanga, quadra de tênis, sauna, piscina e capela. 

Caso médico
Ziraldo, o mestre do traço, passou quatro dias no Pró-Cardíaco, no Rio, com dengue. 

Au, au, au 
O voo 3945 da TAM (Rio-São Paulo) que deveria ter partido às 17h15m, ontem, ficou retido no Santos Dumont porque a pista foi invadida por... um cachorro. Acredite. Três carros do Corpo de Bombeiros foram mobilizados para resgatar o totó. A operação durou 15 minutos.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA


Gôndola social
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/05/11

Em reunião ontem com dirigentes da Associação Brasileira de Supermercados, em São Paulo, a ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social) propôs que beneficiários do Bolsa Família sejam recrutados para trabalhar nas principais redes varejistas. A qualificação da mão de obra se daria pelo Pronatec, programa de ensino técnico recém-lançado pelo Planalto.
O governo também quer que os empresários comprem a produção excedente de agricultores familiares para ampliar a oferta de emprego e a renda no campo. A iniciativa visa consolidar o conceito de inclusão produtiva no "Brasil sem Miséria", programa com anúncio previsto ainda para o primeiro semestre.

Viu? 
De Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), no evento dos prefeitos: "E então, presidente, como vai a saúde?". Resposta de Dilma: "Estou com os exames. Estão todos excelentes".

Segura aí 
O Planalto convenceu José Sarney (PMDB-AP) a cancelar a sessão que apreciaria, hoje, o veto de Lula à distribuição dos royalties de petróleo tal como aprovada pelo Congresso. Principal interessado na manutenção do veto, o governador Sérgio Cabral (PMDB-AP) chegou a ligar para o presidente do Senado.

Vai... 
Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) dirá hoje a Ana de Hollanda que o governo não pretende ceder à pressão dos que querem a cabeça da ministra da Cultura, mas que esta, por sua vez, precisa "conquistar" a pasta.

...que é tua 
O governo não gostou da forma como foi anunciada a devolução de diárias indevidamente pagas à ministra. Ela havia sido orientada a se antecipar à CGU, o que não ocorreu. O órgão acabou anunciando a decisão. Soou como cobrança.

Quebra essa 1 
A ida de Paulo Skaf para o PMDB teve empurrão de Lula. Ele ligou para o governador Eduardo Campos (PE), dono do PSB, pedindo a "liberação" do presidente da Fiesp.

Quebra essa 2 
Para convencer Raimundo Colombo (SC) a trocar o DEM pelo PSD, Gilberto Kassab levou o governador a Eduardo Campos, que lhe garantiu o apoio do PSB à sua reeleição. O tempo de TV da nova sigla é insuficiente para sustentar candidatura competitiva.

Distritais
José Serra (PSDB) pediu audiência hoje com Michel Temer. Defensor do voto distrital misto já em 2012, quer discutir reforma política com o vice-presidente, que advoga o "distritão".

Extrafino 
Em busca de explicação para a inexplicável oferta de vaga a Marco Maciel, nascido e residente em Pernambuco, no conselho da CET, os paulistanos chegaram a uma piada: o ex-senador defenderá a adoção de carros "slim", adequados à sua esquálida figura, colaborando assim para desafogar o trânsito da cidade.

Entre dois amores
O PP-SP está dividido quanto ao namoro com Geraldo Alckmin. Enquanto Paulo Maluf negocia a participação no governo paulista, Celso Russomano, candidato derrotado ao Bandeirantes, defende o alinhamento com Dilma e ameaça recorrer ao comando nacional da sigla.

Falta combinar 
O presidente do PP, Francisco Dornelles (RJ), já avalizou a aliança em São Paulo.

Ficou difícil 
A bancada federal está perdendo a disputa pela secretaria-geral do PSDB-SP. Referendado por aliados de Alckmin e Serra, o deputado Vaz de Lima deve ser desbancado por César Gontijo em reunião marcada para a noite de amanhã.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio


"Para a família, os favores. Para os inimigos, o rigor da lei. A decisão do Itamaraty vem na esteira dessa constatação brasileira."
DO LÍDER DO PSDB NO SENADO, ÁLVARO DIAS (PR), sobre a manutenção dos passaportes diplomáticos de quatro filhos e três netos de Lula mesmo diante do pedido de cancelamento feito pelo Ministério Público.

contraponto

As belas e as feras

A votação da MP que reformula o programa "Minha Casa, Minha Vida" foi interrompida ontem para que os senadores recepcionassem uma delegação de misses. Feitas as honras da casa, José Sarney (PMDB-AP) retornou à cadeira de presidente e tomou a palavra:
-Eu gostaria de agradecer a presença das misses, que honraram a nossa sessão.
Inscrito para discursar, Aloysio Nunes (PSDB-SP) também não resistiu aos encantos das jovens:
-Nós tiramos a aridez da medida provisória depois desse breve e fugaz instante de beleza!

JOSÉ NÊUMANNE - Nobreza civilizada, só um disfarce para vil barbárie



Nobreza civilizada, só um disfarce para vil barbárie
JOSÉ NÊUMANNE 
O Estado de S.Paulo - 11/05/11

O Brasil não é um país só, mas muitos. E opostos! Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) fez as vezes do Congresso Nacional e legitimou a união afetiva entre pessoas do mesmo sexo. Muito além do respeito à opção sexual, o acórdão foi ao âmago do pleno exercício da democracia, ao estabelecer o primado do livre-arbítrio no sexo e na família. Com isso consagrou numa questão profana um conceito sagrado: a igualdade de todos perante a lei. Durante pelo menos um fim de semana a Nação foi autorizada a se considerar civilizada, com irrestrito respeito à liberdade individual.

Mas já na semana posterior à jurisprudência histórica os leitores deste jornal caíram na real desses contrastes ao terem notícia de decisão diametralmente oposta. O Partido dos Trabalhadores (PT), que venceu a eleição presidencial pela terceira vez consecutiva, e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), a principal agremiação de uma oposição meio de fancaria, uniram-se para enfiar a mão no bolso do contribuinte e zerar suas dívidas de campanha arrombando o mealheiro da viúva. Numa manobra de matar de inveja e vergonha os coronéis de antanho, os autodenominados representantes da classe operária e os proprietários locais da sigla que instalou o Estado do bem-estar social na Europa aumentaram em R$ 100 milhões os repasses da União para o Fundo Partidário com o objetivo de calafetar rombos de R$ 16 milhões nos cofres da legenda governista vencedora e R$ 11,4 milhões dos tucanos derrotados. Ao não vetar a gatunagem solidária, aprovada por unanimidade na Comissão Mista de Orçamento da Câmara e que nem chegou a ser debatida em plenário, a presidente Dilma Rousseff acumpliciou-se aos parlamentares, associando-se à arbitrária causa própria de companheiros e adversários, que instituíram o "financiamento público"das campanhas de forma sorrateira, clandestina e abusada, como bem definiu o diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Aldo Fornazieri.

E na mesma página em que noticiou essa maroteira sórdida (a A4 de segunda. 9/5), o Estado registrou um símbolo do convívio entre a nobreza de princípios e a vileza de atividades, ao noticiar a solenidade em que o Ministério da Defesa condecorou o petista José Genoino no Dia da Vitória.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, civil na chefia de uma pasta que reúne sob suas ordens os comandantes das três Forças Armadas, deu uma demonstração pública do respeito de seus subordinados fardados à hierarquia do Estado Democrático de Direito, na homenagem a um ex-combatente. José Genoino nada tem que ver com a campanha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália: nasceu em Quixeramobim (CE) em 1946, um ano depois de a 2.ª Guerra Mundial haver terminado. E "vitória" não é termo que possa ser usado para definir seu destino de militante: os guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) que quiseram instituir a "ditadura do proletariado" sublevando camponeses do Araguaia, ele entre eles, foram dizimados pelo Exército.

De qualquer maneira, digamos que sua presença entre os condecorados pudesse representar o triunfo da tolerância sobre o temor, até por ter ocorrido neste ano em que as comemorações de aniversário do golpe militar de 1964 saíram dos quartéis e se abrigaram nos clubes militares. Há, contudo, lama na medalha que o chefe lhe pendurou no peito. Não consta do noticiário a respeito da solenidade nada que justifique funcionalmente a honraria. Nada que Genoino pudesse ter feito a favor da defesa nacional nestes dias em que está pendurado num cabide de emprego justifica a decisão de Nelson Jobim de escolhê-lo como signo de paz e democracia e prova de que o Brasil não quer retaliar o passado. Sua inclusão entre os 284 homenageados é um coice de mula na Justiça, que o pôs na condição de réu num clamoroso escândalo de corrupção chamado de "mensalão".

Nada, a não ser servilismo, naturalmente. Estranho no ninho do governo petista, o bacharel que adora envergar uniformes militares de camuflagem está sempre disponível para se alistar no "cordão dos puxa-sacos", que, segundo o refrão da canção usada por Sílvio Santos em seus programas de auditório, "cada vez aumenta mais". E não falta a Sua Excelência experiência no ramo. Para servir ao chefe Ulysses Guimarães, emendou o texto da Constituição sem consultar os pares - conforme ele próprio viria a confessar depois. Agora foi a vez de inverter a hierarquia, e o chefe bajulou o subordinado sem sequer ter esperado que este fosse absolvido pela última instância do Judiciário.

Ao condecorar um réu, Sua Excelência mostrou que se foi o tempo dos dois Brasis - o real e o oficial - de Machado de Assis. Há agora muitos Brasis e neles o vilão do Judiciário, rejeitado pelo eleitorado para voltar ao Legislativo, é tratado como herói de guerra pelo Executivo que o emprega. O PT, em que Genoino milita e que Jobim bajula, tem também seu universo à parte. Recentemente "reabilitou" - como fazia Josef Stalin com os camaradas que ousavam dissentir, mas depois se arrependiam contritos, ajoelhados aos pés do chefão - o ex-tesoureiro Delúbio Soares, burocrata insignificante, mas réu importante no mesmo famigerado processo. A respeito da volta do tesoureiro, acusado que nunca foi julgado nem condenado, o secretário-geral da Presidência e porta-voz oficioso do ex-chefe Lula, Gilberto Carvalho, produziu mais uma pérola do cinismo que os petistas aprimoraram neste seu período de donos do poder republicano. "Se ele voltar a errar, o partido, da mesma forma que o recebeu de volta, vai ter que puni-lo de novo", previu o burocrata, com aquele jeitão pio de ser.

Os Brasis truculentos, que tratam ética e lógica como trastes inúteis, esmagam o outro, que insiste em ficar ereto e garantir a igualdade de todos perante a lei, tornando-o assim o que querem que seja: um nobre disfarce.

GOSTOSA

ROBERTO DaMATTA - Rasgando o Brasil (Final)


Rasgando o Brasil (Final)
ROBERTO DaMATTA
O ESTADO DE SÃO PAULO - 11/05/11

Uma perspectiva superficial diz que nada é levado a sério no Brasil. Mas o fato é que temos axiomas sociais imbatíveis. Por exemplo: amigo de amigo é amigo. Inimigo de amigo é inimigo! Curioso como tais expectativas continuem operando, mesmo quando sabemos que esses campos têm fronteiras tênues. Sobretudo quando consideramos que, entre nós, o trabalho era executado por não pessoas: os escravos - cujos fantasmas ainda puxam os nossos pés. Esses eram mortos-vivos e os elos entre eles e seus senhores eram demarcados por um sistema de etiquetas que permanece invisível até que algum gesto do inferior detone algum nervo do sistema, liberando sua esmagadora intolerância. Quando Florestan Fernandes diz que, no Brasil, temos "o preconceito de não ter preconceito", ele fala de um paradoxo profundo. Somos como o cego que usa óculos escuros no cinema.

Vivemos num sistema onde pessoas nos conduzem a pessoas do mesmo modo que os textos se tecem entre si. Desse modo, eu reencontrei a Aracy justamente num momento em que Pérsio curava as feridas da tortura e, por meio do seu texto, eu me deixava ferir por ser parte deste Brasil que torturou.

* * * *

Escrevo esta segunda parte no dia 4 de maio. É dia do nascimento do meu primeiro filho (o filho que me tornou pai), Rodrigo, vindo ao mundo em 1963 e falecido, subitamente, em 2006. Não morreu de tortura infame, como seria o caso do Pérsio. Morreu porque a Varig morreu e o governo Lula queria liquidar a Varig. Ela morreu e meu filho, como um Romeu de uma Julieta errada, morreu com ela no seu último dia de férias; 48 horas antes do meu aniversário de 70 anos. Foi um belo presente, mas conforme tenho aprendido, há coisas piores. No fundo, a gente se ajeita melhor com a morte do que com as pestes incuráveis da alma. Essas que suprimem a fronteira entre viver e morrer, o lembrar e o esquecer. Desse modo, o pai do Pérsio teve a ventura de ser velado pelos seus filhos. Eu achava que isso ia acontecer comigo, mas não vai. O senhor Arida não entrou, que bom para ele, nesse clube de desgraçados ao qual pertenço. Pois conforme ele mesmo dizia: "Enterrar um filho é o que de pior pode acontecer a um pai". Não poderia estar mais correto. Graças a esse amor, ele articulou, mas não realizou, contratar um assassino para matar um militar. Iria passar de Quixote a Monte Cristo e vingar-se pela eventual morte do filho. Assim que li esse pedaço, virei amigo de infância do pai do Pérsio porque, como ele, eu também faço tudo pela minha família.

* * * *

Curioso, mas significativo, que o nome de guerra de Pérsio tenha sido Renato: o que nasce mais de um vez como ocorreu na sua bem-sucedida vida de homem público que, com a subversão do Plano Real que ele ajudou a construir, foi capaz de transformar o Brasil. Eis uma parábola vital. O bem muitas vezes resulta no mal, como o mal resulta no bem. As consequências das nossas ações são imprevisíveis. Poucos sociólogos falaram disso. Mas, como compensação, toda a literatura (senão todas as grandes parábolas religiosas) se funda exatamente nesse terreno do imprevisível e do inesperado. O terreno do milagre ou do ódio dissimulado. No mundo religioso e no romance, eles se compensam. O milagre pelo amor anula o ódio recalcado. Na vida real, a coisa é outra. A intolerância triunfa e só o esquecimento anula o mal que tenta alcançar o nosso coração.

* * * *

Finalmente, uma pequena reflexão sobre a fraternidade. O texto de Pérsio Arida (que, penso, encontrei pessoalmente apenas uma vez, pois moro em Niterói...) provocou um choque com minha experiência de vida. Vivemos num mesmo país e numa mesma época. Eu sou um tanto mais velho, mas somos tributários das mesmas ideias utópicas de um socialismo mal digerido, se é que foi mesmo compreendido entre nós. Um socialismo que reiterava o papel fundamental do estado como motor da sociedade, coisa que os nossos avós portugueses souberam realizar muito bem. Mas é no pertencer enviesado que está o significado de ser contemporâneo. Como tal, compartilhamos uma ligação visceral a um lugar cujo destino nos preocupa e que, certos ou errados, pensamos estar um pouco (ou muito) nas nossas mãos. Eu estava saindo dos determinismos e entrando nos estruturalismos, que eram a miséria da razão, quando Pérsio Arida foi fisgado pelo grande anzol do Grande Irmão. Ele entrou num grupo com todas as respostas, eu - morador em Niterói - acabei descobrindo a antropologia que até hoje faz as mesmas perguntas. Um jovem professor chamado Roberto Cardoso de Oliveira mudou minha vida e imprimiu em mim aquilo que outros negavam naquele (e neste) Brasil que nos rodeia: o interesse pela diferença, a vontade de ser um pesquisador das culturas; um homem capaz de abraçar o diferente. Tive a coragem de me isolar com os chamados "índios" para, apesar de toda diferença, tentar compreendê-los.

A questão não está em saber quem fez mais certo, mas em aprofundar esses cenários montados pelo Brasil. Um Brasil (e um mundo) que nós não inventamos, que prosseguirá sem nós e que vai nos esquecer. O tempo é curto, mesmo quando o labirinto é pequeno e o sofrimento, extraordinariamente grande. Mais vale tentar aprender a pensar com o coração que tem a mesma forma do Brasil e tudo emenda e remenda.

ALEXANDRE BARROS - O PT, o PSDB e o mercado político


O PT, o PSDB e o mercado político
ALEXANDRE BARROS
O Estado de S.Paulo - 11/05/11

Tumulto e apreensão com a sugestão de Fernando Henrique Cardoso para que o PSDB pare de buscar os votos do "povão" e se concentre na classe média. Tentemos entender política como um mercado, como quase tudo na vida moderna. Há mercados para sanduíches, roupas, perfumes, joias, salvação eterna. E também para leis e políticas públicas. O mercado destas duas é a política.

Partidos buscam, como empresas, o aumento de sua fatia de mercado e dos lucros (sem bandalheiras). A vitória é o poder. Mas há uma diferença: a política é um mercado futuro. Os compradores só podem comprar a cada quatro anos no âmbito federal, pagando adiantado.

Partidos oferecem produtos de livre escolha dos consumidores (como religiões diversas oferecem a oportunidade de salvação eterna). Às vezes, mudam os produtos. São apostas no gosto dos consumidores, mesmo depois da eleição. O teste será a eleição seguinte.

Lula fez isso em 2002. Optou por mudar o produto que o PT ofereceria aos seus consumidores. Mudou a agenda econômica para oferecer um produto parecido com o do antecessor (estabilidade da moeda e controle severo da inflação) e mais políticas sociais. Acertou em ambos os casos. Foi reeleito em 2006 e fez a sua sucessora em 2010.

Nesse meio tempo seu principal concorrente, o PSDB, não conseguiu encontrar o produto que os consumidores desejavam. Naufragou com Geraldo Alckmin uma vez e duas com José Serra. Os consumidores rejeitaram os produtos e não gostaram das embalagens.

A Presidência da República é o grande mercado. Há outros menores ou secundários, que são menos importantes, Deles se ocupam o PMDB e, cada vez menos, o DEM. Todos oferecem os produtos que seus marqueteiros e cardeais acham adequados e testam a aceitação.

Depois de três derrotas no mercado presidencial, o conselheiro Fernando Henrique propôs nova estratégia: mudemos nosso público, saiamos do mercado que atende aos interesses do "povão" e nos concentremos no da classe média, porque neste temos mais chances (ou porque é desse que eu gosto mais?).

Algumas marcas fizeram isso. A maioria, entretanto, optou pela identidade de "marca de prestígio", lançando alguns produtos para consumo do "povão". Assim garantiram presença e lucros, sem perder a identidade. Exemplos: a Nikon, a Armani e, em certa medida, a Louis Vuitton. Mas não a Rolex, que manteve seus produtos na elite, ainda que contemplando diversos níveis dessa elite (produz de relógios de aço a outros de ouro, platina e diamantes).

Aqui cessam as semelhanças entre o mercado de bens e o de leis e políticas públicas. É possível sobreviver no mercado de bens e serviços porque uma empresa pode conseguir lucros suficientes para seus acionistas mantendo uma fatia limitada a consumidores de alta renda. No mercado político isso não é factível, porque política é um jogo de números e só há um ganhador. O perdedor fica fora por quatro anos, noves fora o Congresso, que vale muito menos. Na Presidência, quem tem a maior margem de mercado, além de dominá-lo por quatro anos, ainda ganha algumas vantagens para disputar a reeleição.

Parece ser nesse ponto que a estratégia de Fernando Henrique falha. Partidos só são concorrentes eficazes sob certos aspectos. Quando chega a hora em que quem tem a maior fatia do mercado leva tudo, essa comparação deixa de ter valor. Desse ponto de vista, a proposta de Fernando Henrique parece ser suicida: condenaria o PSDB a se tornar um partido marginal (ou regional), que renunciaria a disputar o grande mercado nacional para se concentrar em alguns nichos (Estados) e parte do Congresso, abdicando de pleitear a Presidência.

É uma estratégia como qualquer outra. Pode funcionar com relógios de luxo ou com as quatro únicas coisas que diferenciam os verdadeiramente ricos do restante, em sociedades de consumo de massa: obras de arte originais, iates transatlânticos, grandes jatos privados e fazendas suficientemente grandes para não ser incomodado pelo barulho dos vizinhos. Todos os outros produtos de consumo foram forçados a aceitar as regas dos mercados de massa para sobreviver e prosperar. Hoje, com dinheiro e crédito, qualquer um destes acaba sendo acessível a consumidores de classe média, que terão de fazer mais ou menos sacrifícios, mas acabarão podendo adquiri-los.

Para partidos políticos, entretanto, essa estratégia é suicida porque os condena a ser marginais e, em última instância, ao desaparecimento - ou quase. Assim, do ponto de vista dos peessedebistas, a estratégia proposta por Fernando Henrique condenaria o seu partido a ter uma fatia pequena e irrelevante do mercado, apostando num crescimento da renda e da sua distribuição que as regras de economia e da demografia dificilmente deixarão que ocorra no espaço de nossa vida.

Agora resta saber o que as equipes da empresa PSDB (seus políticos em geral) farão a esse respeito. Se o conselho aceitar a proposta de Fernando Henrique e a adotar, vão testar se a realidade concorda com o ex-presidente. Se não, pode ser obrigada a fechar as portas por falta de mercado ou involuir para se tornar uma "grande empresa de pequenos negócios". A próxima parada pode ser o fechamento ou a falência.

Sei que me arrisco fazendo previsões sobre o futuro (é mais seguro e confortável fazê-las sobre o passado), mas não existe exemplo na História recente (desde o triunfo dos mercados e do capitalismo sobre a aristocracia) em que tal caso tenha ocorrido, salvo se Fernando Henrique pretende escrever outro livro e depois pedir que o esqueçam.

Aqui vale a máxima do Barão de Itararé: melhor dois galos no terreiro do que um na cabeça.

GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO - FICHA CORRIDA


FICHA CORRIDA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/05/11

O processo do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal) tem mais uma rocha no caminho para prosseguir. Advogados de réus da investigação questionam a qualificação acadêmica dos peritos que trabalharam no caso e pedem informações sobre o currículo de cada um. Caso a corte acate o pedido, tudo fica parado até que a Polícia Federal envie a ficha dos profissionais. E os advogados podem depois questionar o trabalho de cada um deles.

FÉ PÚBLICA

O relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, considera que como os profissionais foram aprovados em concurso, têm plena condição de realizar as perícias, não importando a sua formação (advogado, contador etc.). Já outros ministros acham que os advogados têm o direito de se insurgir contra os laudos.

TEMPO DE SOBRA
Detalhe: as perícias foram finalizadas há nove meses.

DIA DO FICO

"Eu não saio do cargo. A não ser que a presidenta [Dilma Rousseff] queira", disse a ministra Ana de Hollanda, da Cultura, à coluna anteontem ao ser questionada sobre as crises em sua pasta. Ela afirma que não sabia que estava recebendo diárias em viagens sem agenda oficial. "Não tem irregularidade, mas vou devolver. Realmente eu estava num dia vago."

FORÇA NESSA HORA

Num evento em SP, Ana recebeu o apoio do diretor José Celso Martinez. "Muita força para combater essa violência, esse absurdo, esse Bin Laden. Você é mais forte que eles, o teatro é mais forte que eles. Seja mais forte."

IOIÔ

Já o ator José de Abreu, que anunciou rompimento com a ministra pelo Twitter, diz que pode "até voltar a apoiá-la" caso ela flexibilize posições em relação à Lei de Direitos Autorais e ao Ecad. "Ela estava irredutível, revogando toda a política cultural do Lula. Agora, percebo que está mais flexível."

DIA DE CIRCO

O Cirque du Soleil retorna ao Brasil no segundo semestre para apresentar o espetáculo "Varekai" em SP, Rio e mais seis cidades.

CONSTANTE FESTA
O publicitário Drausio Gragnani fez anteontem jantar em homenagem ao empresário paranaense Salomão Soifer e à consultora de moda Costanza Pascolato, no seu apartamento, em Higienópolis. Entre os convidados estavam a princesa Paola de Orleans e Bragança e a estilista Isabella Giobbi.

TEMPO DA DELICADEZA
A Galeria Transversal inaugurou a mostra "Armas e Delicadezas", de Ester Grinspum; passaram por lá a museóloga Eugênia Gorini Esmeraldo, o psicólogo Tales Ab'Saber e Rodrigo Monteiro de Castro com a filha, Olivia.

TROCA

A presidência da Embratur (Empresa Brasileira de Turismo) deve trocar de mãos em breve. Mario Beni foi indicado pelo vice-presidente, Michel Temer (PMDB), para ocupar o cargo. "Houve uma indicação formal, mas ainda há muito o que acontecer", afirma Beni, professor de turismo da USP. O atual presidente da entidade, Mario Moysés, está cotado para trabalhar na Olimpíada com Henrique Meirelles.

COMO ANTIGAMENTE
Lobão lança hoje em São Paulo a turnê "Elétrico 2011", no "bom e velho formato baixo, bateria, teclado, guitarra e voz", segundo diz. Além de canções inéditas, como "Song for Sampa" e "Das Tripas Coração", o cantor vai apresentar um repertório repleto de hits como "Me Chama", "Decadence avec Elegance" e "Vida Louca Vida". Os ingressos no Teatro Bradesco variam de R$ 30 (frisas) a R$ 160 (camarotes).

ARTE DE COR

Alastair Duncan, que escreveu mais de 30 livros sobre art decó, vem conferir prédios desse estilo arquitetônico em São Paulo. Visita o Jockey Clube, a coleção de Brecheret da Pinacoteca e prédios residenciais em Higienópolis no começo de agosto. Depois segue para o 11º Congresso Mundial Art Decó, no Rio.

CURTO-CIRCUITO


A SP-Arte começa hoje no Pavilhão da Bienal, no parque Ibirapuera, às 18h.

Giuliano de Luca, Claudia Kassab e Gui Pichi fazem festa fechada no D-Edge hoje.

O fórum de redes sociais "Vitrine do Brasil para o Mundo" acontece hoje na Livraria da Vila do shopping Cidade Jardim às 17h.

O ator Miguel Falabella autografa hoje o livro "Vivendo em Voz Alta" a partir das 18h30 na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

A revista "Unique Magazine" será lançada hoje às 19h no restaurante Skye.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI