quinta-feira, julho 21, 2011

ELIANE CANTANHÊDE - À luz do dia

À luz do dia
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 21/07/11

Antigamente, muito antigamente, os funcionários corruptos de vários degraus da hierarquia embolsavam propinas na fase das licitações e depois nos aditamentos, quando os preços acertados só para ganhar a obra se multiplicam em um passe de mágica.

A corrupção foi se aperfeiçoando e está também escancarada, pelo menos no Ministério dos Transportes. Em vez de se contentarem com meras propinas, malas de dinheiro e essas coisas que acabam parando em fotos e filmes de celulares e em investigações policiais, a turma optou por ir direto à fonte.

Explico: eles resolveram criar e alimentar suas próprias empresas, em nome de mulheres, filhos, irmãos e afilhados. O dinheiro é liberado pelo ministério, dá uma voltinha em um governo estadual ou em uma outra empresa e vai cair na dos diretores, assessores e apaniguados. É como dar uma tacada com efeito para encaçapar a bola preta na sinuca dos recursos públicos.

Assim, o filho do ex-ministro Alfredo Nascimento está nadando em dinheiro aos 27 anos, a empreiteira da mulher de um diretor do Dnit embolsou uma bolada dos Transportes via governo de Roraima, a empresa do irmão de um outro diretor abocanhou R$ 26 milhões em obras autorizadas pelo Dnit. E há os que dispensaram os parentes e essas formalidades e são, eles próprios, sócios em empresas que têm polpudos contratos com o Dnit (rodovias) e a Valec (ferrovias).

Isso só pôde ocorrer em tal dimensão, à luz do dia, durante tantos anos e favorecendo tanta gente por causa de duas palavras malditas: facilidade e impunidade. Há sujeira acumulada por todo canto, e Dilma está tendo um trabalhão e resistindo à chantagem para fazer a faxina.

Os demitidos aumentam dia a dia e já são 15. Mas há perguntas que não querem calar. Os esquemas serão, de fato, desmontados? Alguém vai ser preso? O dinheiro vai ser devolvido aos cofres públicos? Sei não...

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - O fim do jogo

O fim do jogo
LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
 O GLOBO - 21/07/11

Tem um pensamento que me consola em casos de vexame, desgosto com a espécie humana, noticiário de Brasília ou derrota do Internacional. Penso: daqui a alguns milhões de anos o Sol vai explodir, a Terra vai virar cinza e nada disto terá muita importância. O perigo, claro, é o consolo se virar contra o consolado, pois se pensar na nossa morte pessoal já nos angustia, pensar na morte de todo o sistema solar, ao qual somos tão ligados, pode angustiar mais. Mas é bom aceitar o risco da angústia terminal, botar tudo em perspectiva e ver nossos infortúnios num contexto maior. Em latim fica mais bacana: “Sub specie aeternitatis”. Do ponto de vista da eternidade, como dizia o filósofo Espinosa, segundo o Google.
Do ponto de vista da eternidade tudo tem o mesmo sentido, ou sentido nenhum. Surpreende que a frase não seja invocada mais vezes, por exemplo, nas crises econômicas. Sob o ponto de vista da eternidade o carrossel das finanças, a gangorra dos juros e das dívidas, o escorregador das falências nacionais e os balanços dos balanços não passam de brinquedos. Tudo é um jogo que só é dramático e afeta a vida de tanta gente porque lhe dão um sentido falso que omite a explosão do Sol, no fim, quando até o ouro virará nada. O fim do jogo, para quem o leva a sério, é um mítico mundo com as economias equilibradas e o mercado redimido e triunfante. Não é. O fim do jogo é o nada.
Os “indignados” que protestam nas ruas da Europa contra as medidas de austeridade que exigem sacrifícios dos já sacrificados para corrigir a safadeza alheia, da minoria culpada pela crise internacional, estão dizendo isto, que a vida é mais importante do que o jogo, que nenhuma promessa de sanidade econômica a longo prazo compensa a miséria humana agora – ainda mais que a longo prazo seremos todos cinza.

E SE?
Já que falamos em vexame... Razão teve o Fernando Calazans, que sempre tem razão.
E se os três substituídos pelo Mano Menezes, Neymar, Ganso e Pato, estivessem em campo para bater pênaltis, o resultado seria o mesmo? Nunca saberemos.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Para mim, esse governo Dilma é uma nau sem rumo”
SENADOR AÉCIO NEVES (PSDB-MG), SOBRE OS 200 DIAS DO GOVERNO DILMA

RIO PAGA CINCO VEZES MAIS POR VIATURA 
O governo do Rio pagará R$ 154.476 por cada nova viatura da Polícia Militar, ou o quíntuplo do valor do modelo Logan, da Renault, o carro escolhido em pregão. No mercado, o completo custa R$ 36 mil. O Estado vai receber 1.508 carros, e alega “adaptações” que encarecem a patrulha. Mas o Logan saiu mais caro que a Toyota Hilux, picape de luxo comprada pelo governo do Ceará, a R$ 150 mil cada, para sua polícia.

CONFORTO 
Os policiais cariocas terão carro com ar e direção hidráulica. As viaturas francesas vão circular na capital e na região Metropolitana. 

FAROESTE URBANO 
Pelo andar da viatura, o governo espera um confronto com guerrilhas. Reservou mais 
R$ 257 milhões para a manutenção por 30 meses.

PISTA DUPLA 
Como revelou a coluna dia 8 de junho, o empresário Eike Batista, amigo do governo, negocia com a Renault sociedade em fábrica de carros no Rio. 

COMENDO POEIRA 
A patrulha Hilux cearense, R$ 4 mil mais barata, além de mais potente, tem banco em couro, roda de liga leve e câmbio
automático.

COMISSÃO ÉTICA ADVERTIU PAULO PASSOS 
Três meses antes de virar ministro interino dos Transportes, o então secretário-executivo Paulo Sérgio Passos recebeu advertência da Comissão de Ética Pública, vinculada à Presidência da República, por descumprir o prazo legal de dez dias, após a posse, da Declaração Confidencial de Informações, discriminando patrimônio, atividades e outras exigências do Código de Conduta da Alta Administração Pública. 

ATABAQUES 
Lula, o pé-frio top da República, desafiou os orixás baianos, visitando d. Canô, 102, mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia. Haja charuto...

PRÉ-OLIMPÍADAS 
Nova APO, o ministro Marcio Fortes embarca para o Rio de Janeiro hoje. Vai conferir o centro de informações do Exército nos Jogos Militares.

DIRETOR “ADITIVADO” 
Depois de suar a blusa para demitir Palocci, Dilma agora transpira em bicas para tirar Pagot. Ele só tem compromisso com o erro dos outros. 

SERRA: BYE, BYE, BRASIL 
O tucano José Serra está de malas prontas para os Estados Unidos, onde deve ficar até 2012 para uma jornada de estudos numa das mais renomadas universidades do país. Serra já morou na América quando teve de deixar o exílio no Chile e não podia retornar ao Brasil.

BANCADA DO ARMÁRIO 
O deputado federal Jean Willys (PSOL-RJ) declarou no programa de Marília Gabriela, no GNT, que pelo menos 30 parlamentares são gays não assumidos na Casa. Entre homens e mulheres. 

BANQUETEIRO 
Festeiro com jantares em seu apartamento, o deputado Fabinho (MG) do PV atingiu o auge. Recebeu o vice Michel Temer e o chefe da Câmara, Marco Maia, terça (12) passada. Mas se irritou com alguns
penetras.

PAISANOS 
Faltou farda nos Jogos Mundiais Militares, no Rio: os comandantes das três Forças não apareceram no camarote presidencial. Fardado de coronel, só o representante da organização internacional dos jogos. 

INQUILINOS DO PODER 
Bastou o governador Agnelo Queiroz (DF) avisar que vai descadastrar todos os candidatos à casa própria, no entorno da capital federal, que invadirem áreas públicas: os movimentos profissionais do setor de invasões mudaram de endereço. Invadiram o Ministério das Cidades.

COLDRE NA GAVETA 
Trinta e três delegados da Polícia Civil de Minas Gerais estão afastados das funções por determinação médica. A situação mais grave é de Betim, Região Metropolitana de BH, onde cinco estão de licença e um de férias.

OS INDIGNADOS 
Teresópolis (RJ) protesta de novo hoje às 18 horas, contra suposta fraude com a verba da enchente que arrasou o município. Os protestos anteriores acabaram em CPI para o prefeito petista Jorge Mário. 

OUTRA DO PAGOT 
O diligente Luiz Pagot é um profeta do caos: insistiu na Câmara dos Deputados, em 2008, que a fiscalização de obras deveria mudar para “evitar paralisações”. O embrião do “regime diferenciado” da Copa. 

ALÔ, 190 
Será que o governador Sérgio Cabral vai apresentar as novas viaturas cariocas no Champs Élysées? 

PODER SEM PUDOR
PASTELÃO MINEIRO 
Muito alto, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) tentou fazer graça ao reclamar da altura dos microfones do plenário no Senado, que estariam, digamos, atrapalhando sua performance.
– Minas não se curva!
Tião Viana (PT-AC), que presidia a sessão, informou secamente:
– O microfone alcança 50 centímetros acima, senador..

QUINTA NOS JORNAIS

Globo: Transportes tira mais três, e PR ameaça retaliar Dilma

Folha: Perícia atesta fraude na criação da sigla de Kassab

Estadão: SP banca custo para estádio do Corinthians abrir Copa

Correio: Seis meses de agonia à espera de um exame

Valor: Vale e Petrobras acertam megaprojeto de potássio

Estado de Minas: Algemados

Jornal do Commercio: Ministro promete recuperar estradas

Zero Hora: Alerta no estado