segunda-feira, agosto 06, 2012

Olimpíada, Bolívia, Gore Vidal etc. - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA


O Hino Nacional vive seu grande momento em Olimpíadas. Não há ocasião em que venha mais a propósito. Talvez isso não seja tão evidente para americanos, chineses, russos ou ingleses, acostumados a ouvir seus hinos muitas vezes, na competição. Para os brasileiros, que pouco ouvem o seu, a raridade ressalta a especificidade do momento. Não é que o Hino Nacional engrandeça as Olimpíadas. Ao contrário, as Olimpíadas é que engrandecem o Hino Nacional. Naquele momento, ele recupera seu significado e justifica sua razão de ser.

O pior momento do Hino Nacional é quando é tocado antes dos jogos dos campeonatos disputados rotineiramente no Brasil. Por efeito de estúpida lei estadual que, salvo engano, primeiro foi baixada em São Paulo, e em seguida copiada em outros estados, o hino tem de ser executado antes de qualquer competição esportiva- Não se tinha inventado ainda maneira mais segura de torná-lo banal e inoportuno. Hino Nacional é ferramenta para ser utilizada com parcimônia. As Olimpíadas oferecem um momento adequado e justo para que ele provoque os efeitos de que é capaz.

O mensalão não é o primeiro escândalo a envolver pessoas situadas no coração do poder, no Brasil, mas é o primeiro cujo julgamento transcorre sem que se anteveja o abalo das instituições. Ao atentado da Rua Tonelero, em 1954, em que morreu o major Vaz e foi ferido o jornalista Carlos Lacerda, por obra de agentes subalternos do governo Getúlio Vargas, seguiram-se um inquérito ilegalmente conduzido por militares e uma gritaria da oposição que preparavam o golpe. No processo de impeachment de Fernando Collor, em 1992, pairavam desconfianças de que o caso pudesse desandar em ameaça às recém-conquistadas liberdades. O fato de não se preverem catástrofes semelhantes para o atual julgamento representa uma coisa boa, a contrastar com as tantas ruins que o episódio evoca

Uma frase do ministro das Relações Exteriores da Bolívia, David Choquehuanca, causou confusão na semana passada. Ele fez votos para que o dia 21 de dezembro, o último do calendário maia, marque o fim da Coca-Cola na Bolívia e o início do mono- cochinche, uma bebida popular no país. O ministro tomava carona nos augúrios do calendário maia para profetizar "o fim do egoísmo, do individualismo e da divisão do país", simbolizados na troca da Coca-Cola pela bebida nacional. Era uma alegoria, mas foi interpretada como notícia de que o governo iria proibir a Coca-Cola na Bolívia, e como tal circulou em sites brasileiros. 0.k., houve engano. Mas as palavras do ministro indicam que a Coca-Cola continua no centro das fantasias bolivarianas do governo Evo Morales.

É curioso que a declaração do boliviano venha à luz na mesma quadra em que o novo presidente da Coreia do Norte, o jovem Kim Jong-un, surpreendeu o mundo com uma festa em que dividia as atenções com Mickey Mouse, Branca de Neve e o ursinho Puff. O fim do calendário maia pode estar indicando que os dois países se preparam para permutar posições. Enquanto a Bolívia imbica no rumo de tornar-se uma Coreia do Norte dos Andes, a Coreia do Norte apresta-se para tomar-se, pelo menos, uma Bolívia do mar da China.

Grande Gore Vidal. O escritor americano falecido na semana passada tinha a veia dos grandes provocadores. "O grande e nunca mencionado mal no centro da nossa cultura é o monoteísmo", defendeu, numa palestra de 1992, em Harvard. Um "Deus do céu" está no centro das grandes religiões monoteístas. "Elas (essas religiões) são literalmente patriarcais —Deus é o pai onipotente —, daí o desprezo pela mulher por 2000 anos nos países afetados pelo Deus do céu e seus delegados machos na terra. O Deus do céu é ciumento, claro. Requer total obediência. (...) Em última análise, o totalitarismo é a única política que serve aos propósitos do Deus do céu. Qualquer movimento de natureza liberal ameaça sua autoridade e a de seus delegados na teira. Um Deus, um rei, um papa, um chefe na fábrica, um pai-líder na casa da família." Os grandes provocadores assacam com espantosa sem-cerimônia contra as verdades estabelecidas, e nisso Gore Vidal era um campeão. (O colunista agradece ao amigo José Roberto Whitaker Penteado por lhe ter revelado a palestra de Gore).

Um bye-bye para o Mercosul? - MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA


A entrada da Venezuela no Mercosul, agora oficializada, poderá ser o prego que faltava nesse caixão. Em circunstâncias normais, o alargamento seria positivo para o bloco, pois reforçaria a integração regional, promovendo o comércio e o desenvolvimento nos países- membros. Acontece que neste momento a presença da Venezuela poderá agravar os problemas do Mercosul. que já sofre os efeitos negativos da frequente violação de suas regras, do ressurgimento da cultura protecionista e da volta da instabilidade macroeconômica. A Argentina, o caso mais extremo, tem padecido também de um intervencionismo estatal exacerbado, que se agrava com a manipulação de índices de preços e a perda de autonomia do banco central. Além disso, ficará mais difícil celebrar acordos bilaterais de comércio, que exigem aprovação unânime. O único acordo em vigor, o assinado com Israel, poderá ser prejudicado, pois a Venezuela não mantém relações diplomáticas com esse país.

A ideia do Mercosul começou a surgir com a democratização regional dos anos 1980. A Argentina e o Brasil se reaproximaram sob a diplomacia presidencial de Raül Alfonsín e José Sarney. Na Declaração do Iguaçu (1985), os dois lançaram a ideia de integração política e econômica do Cone Sul. da qual deveriam participar também o Uruguai e o Paraguai. Vem daí o Tratado de Assunção (1991), que criou o bloco. Adotava-se o exemplo de integração da Comunidade Econômica Europeia (CEE), hoje União Europeia (UE). Antes do Mercosul, havia nascido a Associação Latino- Americana de Livre-Comércio (Alalc, 1960), depois substituída pela Associação Latino-Americana de Integração (Aladi, 1980). Nenhuma delas contribuiu muito para a integração.

Como se vê agora, o projeto de criar uma união aduaneira, que pressupõe uma tarifa externa comum, era excessivamente otimista. Seria difícil reeditar a experiência da Europa, movida pela necessidade de eliminar o motivo básico de suas terríveis gueixas (a conquista territorial) e promover a democracia, o respeito aos direitos humanos e o bem-estar. No caso da Espanha, a busca de sua incorporação à CEE ajudou na transição política iniciada com a morte do ditador Francisco Franco (1975). O país não seria aceito sem inequívoca estabilidade política e econômica. A lembrança da guerra civil (1936-1939) estimulou a aprovação das reformas necessárias.

No começo, o projeto andou bem. A Argentina e o Brasil desarmaram as desconfianças mútuas que nos seus regimes militares motivaram programas nucleares e projetos não confessados de construir a bomba atômica. Caíram preconceitos e barreiras que inibiam o florescimento do comércio entre os dois países. O comércio se expandiu vigorosamente. A Argentina se tomou o terceiro maior mercado exterior do Brasil. O investimento entre os membros do bloco explodiu. Empresas dos respectivos países — particularmente da Argentina e do Brasil — se instalaram ou se expandiram fortemente na região. O êxito inicial justificou propostas para que a região evoluísse na direção de formas mais ambiciosas de integração.

Infelizmente, as ideias originais ficaram para trás. As exceções à tarifa externa comum se tomaram permanentes e agora se discute duplicar a respectiva lista, de 100 para 200 casos. O comércio intrabloco caiu de 21% para 14% do total. Em meio a tudo isso, veio a suspensão do Paraguai do Mercosul, sob o argumento de que o impeachment do presidente Fernando Lugo teria violado a cláusula democrática do bloco. O vácuo foi lamentavelmente utilizado para aprovar a adesão da Venezuela, em processo-relâmpago. Especialistas respeitados dizem que a manobra foi feita ao arrepio dos tratados. A natureza da mudança de governo no Paraguai é objeto de controvérsia, mas esta quase não existe quando se examina a forma como o novo membro foi admitido no bloco.

Com o ingresso da Venezuela, em má hora orquestrado pelo Brasil e pela Argentina, a instabilidade do Mercosul tende a piorar. O bloco não vai desaparecer, mas sua concepção inicial ficará cada vez mais distante. A saudação comemorativa de Hugo Chávez pode também ser interpretada como um bye-bye para a sonhada união nos moldes europeus

Choque elétrico - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 06/08

Jerson Kelman, presidente da Light, despede-se hoje da empresa.
O executivo enviou a diretores e gerentes, ontem à tarde, um e-mail curto em que diz: "Fui informado sexta-feira que, na terça, o Conselho de Administração se reunirá para escolher um novo presidente.”

Assim caminha a...
Ziraldo, talvez em causa própria, lembra que, antigamente, para se referir a um sujeito "vivido e vistoso” todos diziam: "É um belo quarentão!” Exemplo dessa geração foi Carlinhos Niemeyer (1920-1999), do Canal 100.
Depois, com a expectativa de vida maior, "vivido e vistoso” passaram ser os sessentões. Mário Andreazza (1918-1988) foi modelo dessa época.

Segue...
Agora, conclui Ziraldo, adentra o recinto a primeira geração brasileira de... oitentões "bonitos e vistosos”

Oito de 80...
Aliás, Ziraldo, de apenas 79 anos, é o caçula de oito brasileiros de 80 ou mais que receberão hoje homenagem da Associação Comercial do Rio.
Os outros: Israel Klabin, 85; Roberto Paulo Cezar de Andrade, ex-Brascan, 84; Chaja Raquel Schulz, empresária, 83; Paulo Casé, 81; Zuenir Ventura, 81; Fernanda Montenegro, 82; e Marcílio Marques Moreira, ex-ministro, 80.

Cine Dilma
Dia 16 agora haverá uma sessão especial para Dilma de "Heleno” o filme de José Henrique Fonseca.
O longa vei tentar o mercado americano a partir de novembro, com a distribuidora Screen Media.

Morro do Alemão, o filme

José Padilha vai dirigir em 2013 uma adaptação do livro que Rodrigo Pimentel e Gustavo Almeida escrevem sobre a ocupação do Alemão, no Rio.

CALMA, GENTE
Uma polêmica movimenta a pequena Santa Maria Madalena, terra de Dercy Gonçalves, no Noroeste fluminense. Corre no Iphan um processo para tombar o conjunto paisagístico do centro do município, e um grupo de moradores iniciou uma intentona contra a preservação. Alguns até puseram faixas na frente de suas casas. Alegam que, com o tombamento, não seria possível, por exemplo, construir novos andares. A área que o Iphan analisa tem imóveis dos áureos anos do ciclo cafeeiro, no século XIX, e compreende duas praças e oito ruas. O professor de arquitetura e urbanismo da UFF Sérgio Bahia, que participa de projeto de educação patrimonial na cidade, aprova o tombamento: “Ganha a cidade, o morador, o comerciante. Hoje, não há estrutura para turismo, mas há potencial. A preservação é um passo importante para que esta estrutura seja criada.” Eu apoio •

Tesouro leiloado
Parte do acervo de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) vai a leilão dias 10 e 11 agora, no Rio.
À frente, o leiloeiro Raul Barbosa.
São livros com anotações do autor de "Morte e vida severina” manuscritos de originais, cartas trocadas com amigos como Drummond etc.

Segue...
Pesquisadores acham que o material deveria ficar com um acervo público.
Na França, aliás, uma lei dá preferência ao Estado em leilões do tipo.

Última batalha

O selo Primeira Pessoa (Sextante) vai relançar a biografia de Anderson Silva sem citações (como mandou a Justiça) a Rudimar Ferdigo, dono de academia em Curitiba, acusado pelo lutador, no livro censurado, de "pessoa do mal”.
Mas a nova edição trará um capítulo inédito sobre a "luta do século’,’ contra Chael Sonnen, em Las Vegas.

Em tempo...
Estranho o silêncio de muitos escritores com o avanço da censura. Não é um caso isolado. Para citar mais dois, ocorreu com livros sobre Garrincha e Roberto Carlos.

Poder feminino
A Rádio Corredor do Itamaraty diz que Maria Luíza Viotti, hoje representante na ONU, vai assumir nossa embaixada em Washington, no lugar de Mauro Vieira.

Fantasia premiada
Eduardo Spohr, 36 anos, autor carioca de romances da chamada literatura de fantasia, ganhou o Prêmio Fundação Luso Brasileira na categoria Revelação. Receberá em novembro, em Lisboa.
Autor de "A batalha do Apocalipse” e "Filhos do Eden” (Verus), Spohr já vendeu mais de 400 mil livros no Brasil.

Gois em Londres
Não foram só os nativos que abandonaram Londres durante os Jogos, para o lamento do comércio local.
Deu no "Financial Times” que as Olimpíadas atraíram pouco mais de 100 mil turistas. Segundo o jornalão, todo ano, neste período, a cidade recebe uns 300 mil visitantes. Imagina na Copa...

Gordinho simpático
A Reserva, grife carioca que, na contramão da idolatria dominante, usou uma imagem de Che Guevara com nariz de palhaço, agora lança uma nova linha de roupas tamanho GGG.
O garoto-propaganda será nosso músico Léo Jaime. Faz sentido.

Cena carioca
Sábado, por volta de 17h, o motorista do táxi Fox KZL 0107 pôs o, digamos, Tufão para fora em pleno Posto BR da Av. Sernambetiba, perto do Golden Green, na Barra, e... mijou sem cerimônia.
Há testemunhas.

Nina 1x0 Carminha
Sexta, no bar Clipper, no Leblon, onde torcedores do Fla costumam festejar as glórias do time (faz tempo), a turma, de repente, começou a gritar como num gol de Vagner Love (faz tempo também).
Acredite. Era comemoração por mais uma vitória de... Nina sobre Carminha na novela "Avenida Brasil’,’ da TV Globo, que era exibida nos aparelhos do boteco.

Como se sabe...
No capítulo de sexta, Carminha acusou Nina de ter furtado suas joias e passou por maluca. Estava tudo no lugar.

Ser e não ser - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 06/08


RIO DE JANEIRO - Coluna da semana passada ("Pode crer", "Opinião", 30/7) levantou o sobrolho de alguns leitores (alguns de meus leitores ainda levantam o sobrolho). Duvidaram de que Dorival Caymmi não soubesse nadar ou de que Beth Carvalho um dia tivesse cantado bossa nova. Encaminhei-os aos respecti vos documentos. E, para mostrar que nem tudo foi como pode parecer, eis mais alguns exemplos.

Sir Winston Churchill, grande orador e cuja eloquência ajudou a derrotar Hitler, era gago na infância. Já Nelson Gonçalves foi gago a vida toda, exceto cantando -ouça-o em "Renúncia" e constate o milagre. Elvis Presley era louro e tingia o cabelo de preto- já Marilyn Monroe, Brigitte Bardot e Kim Novak tinham cabelo preto e o tingiam de louro. E, desde o primeiro filme, "O Satânico Dr. No", Sean Connery nunca interpretou 007 sem peruca.

Carlos Gardel, o maior portenho da história, era francês de nascimento. Já o ultrafrancês Yves Montand nasceu na Itália. Irving Berlin, autor do hino extraoficial americano ("God Bless América") e da sua maior canção de Natal ("White Christmas"), era judeu-russo. E a carioquíssima Carmen Miranda nasceu em Portugal e veio para o Brasil aos nove meses.

Juscelino Kubitschek detestava a toada "Peixe Vivo", com a qual era recebido em todo lugar -pensavam que ele gostava. Fred Astaire, raramente visto na tela sem fraque e sem cartola, não os tolerava na vida real -aliás, ao estrear um terno, Astaire jogava-se ao chão e o amarrotava até que parecesse "usado". E quem diria que, na parceria "Viola Quebrada", de Villa-Lobos e Mário de Andrade, foi Villa quem fez a letra e Mário, a música?

Tudo isso para dizer que, muitas vezes, é possível ser uma coisa e, sem querer, parecer outra. Veja os mensaleiros. Nunca tantos inocentes produziram tantas provas contra si mesmos.

Populismo democrata - EDITORIAL FOLHA DE SP

Folha de S. Paulo - 06/08


Barack Obama investe pesado em anúncios de ataque direto ao republicano Mitt Romney e consegue dianteira em Estados decisivos

Apesar da lenta recuperação após o mais forte e longo declínio da produção, do emprego e da renda nos EUA desde os anos 1930, o presidente Barack Obama tem conseguido ampliar a sua vantagem sobre o rival republicano, Mitt Romney, em três Estados-chave para a eleição de novembro.

Dados divulgados na sexta-feira revelaram um saldo de 163 mil novos postos de trabalho em julho, um acréscimo ainda insuficiente para fazer a taxa de desemprego cair. Com efeito, ela oscilou de 8,2% para 8,3% da população economicamente ativa, um número alto para os padrões americanos.

Pesquisas de intenção de voto da semana passada indicavam, contudo, boa vantagem para o democrata, candidato à reeleição, nos chamados Estados-pêndulo.

No sistema americano de votação indireta para a Presidência, o postulante que recebe a maioria dos sufrágios em determinado Estado tem, em muitos casos, direito a todos os votos daquela unidade da Federação no colégio eleitoral. Assim, as campanhas de republicanos e democratas tendem a se concentrar nos Estados em que a preferência partidária pode mudar a cada eleição.

Segundo os números mais recentes, a vantagem de Obama sobre Romney na Flórida e em Ohio, dois importantes Estados-pêndulo, é de seis pontos percentuais. No terceiro, Pensilvânia, o democrata abre uma frente de 11 pontos. As mesmas pesquisas mostram que a maioria dos eleitores desaprova o que vê como desinteresse de Romney com os problemas da classe média.

O resultado indica o sucesso da milionária propaganda democrata na TV. O investimento de Obama tem buscado caracterizar o candidato republicano, ex-administrador de uma empresa de investimentos, como um milionário desconectado da realidade da maioria da população.

Por sua vez, Romney tem insistido num discurso ultraconservador, que não se coaduna com sua trajetória como governador de Massachusetts, um Estado progressista para os padrões americanos.

Mais pronunciada parece a guinada de Obama. Há quatro anos, o democrata se apresentava como único político capaz de superar as profundas divisões ideológicas do país e unir a "América" sob o signo da esperança num futuro melhor, em meio à crise financeira que eclodiu no final da Presidência do republicano George W. Bush.

Agora, o postulante à reeleição aposta justamente na polarização, com ataques diretos ao retrospecto empresarial de Romney.

O que em 2008 eram promessas vagas de redenção e grandeza cedeu lugar para boa dose de populismo convencional, numa investida pragmática do democrata para tentar vencer a disputa apertada e, com rigor, ainda indefinida

No cativeiro estatal - VINICIUS MOTA

Folha de S. Paulo - 06/08


SÃO PAULO - Não há anomalia no apoio de Paulo Maluf ao PT em São Paulo; tampouco na adesão do PR, de Valdemar Costa Neto, ao PSDB. Petistas e tucanos, que polarizam as principais disputas no país há 18 anos, absorveram as regras do jogo.

A diretriz é maximizar a exposição na TV e no rádio durante o horário eleitoral chamado de gratuito, mas regiamente pago pelos contribuintes. Tudo o mais se coloca a serviço desse propósito.

Lula dispôs-se ao desgaste da pose com o "filhote da ditadura" -epíteto cantado no inesquecível sotaque gaúcho de Brizola em debates de 1989. Como não rasga dinheiro, o aiatolá petista calculou que até esse vexame é menor que o bônus à frente.

Isso ocorre porque, sob a conivência interessada de tucanos e petistas, os partidos brasileiros continuam no cativeiro estatal. Agremiações partidárias, que deveriam ser representantes da sociedade, estão protegidas por um cipoal de regras e tutelas e afogadas em tanto financiamento público que podem praticar promiscuidade política à vontade.

Os reclames no rádio e na TV, por exemplo, são uma benesse do Estado a todos os partidos que aumenta conforme seu peso na Câmara dos Deputados. Compele legendas competitivas a se coligarem às nanicas em todos os rincões. Convida aos acertos espúrios e promove distorções entre representatividade local e nacional.

Como organizações da sociedade, partidos deveriam financiar-se apenas na sociedade e ser autorizados a comprar, dentro de limites, espaço para sua propaganda. Agremiações representativas e organizadas não mais seriam induzidas a aliar-se com siglas irrelevantes. Doutrina, programa e coerência com as bases ganhariam mais peso nas alianças.

Partidos sustentados pela sociedade prestam contas das opções eleitorais às suas bases. As siglas do Brasil, que mamam nas tetas do Estado, giram em torno do próprio eixo. Não devem satisfação a ninguém.

A cultura do sigilo - EDITORIAL - ZERO HORA

ZERO HORA - 06/08


Representantes do Executivo, do Legislativo e, principalmente, do Judiciário vêm se valendo dos mais diversos subterfúgios para driblar a Lei de Acesso à Informação, que determina a divulgação nominal dos salários dos servidores. Trata-se de evidente ilegalidade, que precisa ser examinada pelos órgãos superiores, especialmente pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) no caso do Judiciário. Nada menos de metade dos tribunais ainda resiste à determinação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de divulgarem seus salários. A Câmara e o Senado, que foram os últimos a agendar a publicação dos vencimentos de seus funcionários, acabaram divulgando a lista sem os nomes dos beneficiários, por exigência de uma liminar obtida por sindicalistas. A transparência, que deveria ser generalizada, acaba se revelando restrita.

O que confere relevância à Lei de Acesso à Informação é justamente a sua característica de permitir aos cidadãos acompanhar como o dinheiro que desembolsam sob a forma de impostos é usado para remunerar bem os servidores e assegurar serviços de qualidade aos contribuintes. Como argumenta o presidente doSupremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, “a remuneração dos agentes públicos constitui informação de interesse coletivo ou geral”. E mais: o princípio da publicidade da atuação administrativa “propicia controle da atividade estatal até mesmo pelos cidadãos”. O problema se amplia quando alguns líderes de servidores, a maioria dos quais situados nas faixas mais altas de ganhos, parecem ter mais poder do que outros de sensibilizar juízes a conceder liminares tornando opaco o que era para ser transparente.

O que importa mais, no caso, não é tanto a divulgação individualizada do nome de cada servidor com sua respectiva remuneração. Sob o ponto de vista dos ganhos, a lei sancionada em novembro do ano passado pela Presidência da República e regulamentada em 16 de maio prevê a publicidade do nome do servidor, seu vínculo funcional e ocupação com as devidas remunerações eventuais ou básica, vantagens de natureza pessoal, abono de permanência, descontos obrigatórios e outras parcelas, remuneratória ou indenizatória. Essas condições não são preenchidas quando as relações de vencimentos escamoteiam nomes ou omitem nos valores totais os chamados penduricalhos, por exemplo. E de que vale a sociedade tomar conhecimento de tantos servidores ganhando acima do teto salarial e de variações superiores a 500% entre o menor e o maior salário pagos pelo Executivo se não há como identificá-los nominalmente, como determina a lei recém posta em prática?

Assim como ocorreu com a Lei de Responsabilidade Fiscal, entre outros tantos instrumentos moralizadores, é compreensível que essa fase inicial seja marcada por resistências. Ainda assim, sob o ponto de vista salarial, a Lei de Acesso à Informação só poderá alcançar seus objetivos quando a garantia do conhecimento dos cidadãos sobre dados públicos conseguir se sobrepor a alegações ardilosas de direito à privacidade e à intimidade que são utilizadas mais para proteger privilégios do que para assegurar prerrogativas constitucionais.

Partidários & defensores - DENISE ROTHENBURG

Correio Braziliense - 06/08



Nem mesmo em tempos de julgamento da Ação Penal 470 no Supremo Tribunal Federal (o processo do mensalão do PT), o partido de Lula não consegue se unir. Entra ano, sai ano, a lógica dos campos e tendências volta a imperar em várias discussões. A definição de candidatos às eleições municipais está cheia de exemplos nesse sentido. E, agora, com a campanha em curso, quem foi preterido cuida da vida, sem dar a menor bola para a sorte dos que concorrem nas principais cidades do país ou mesmo o julgamento do STF.

Curitiba é um dos exemplos da lógica petista, onde a disputa interna prevalece sobre qualquer outra coisa. Vale a pena recordar o que ocorreu ali recentemente. O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) integra a Democracia Socialista (DS), um segmento da esquerda partidária que volta e meia tem atritos com a direção do partido e a própria condução do governo. Tentou como ninguém ser candidato a prefeito da capital do estado contra a vontade do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

O casal preferiu apoiar Gustavo Fruet (PDT-PR), ex-tucano e um dos algozes do PT na CPI dos Correios, do que seguir com Rosinha e permitir que o deputado se destacasse ao ponto de lhes comprometer a hegemonia partidária nas eleições de 2014. Agora, lá está Fruet numa campanha espremida entre o julgamento do mensalão e os neoaliados. Nesse cenário, Doutor Rosinha cuida mais do parlamento do Mercosul e passa longe da campanha. Quer mais é que Fruet se exploda. Quanto ao mensalão, sua torcida é apenas que esse período passe logo. Essa ala mais à esquerda do PT não moverá um dedo em defesa do antigo campo majoritário.

Por falar em defesa…

Os advogados dos réus do mensalão entram em cena a partir de hoje no sentido de tentar equilibrar a balança da Justiça. E eles merecem o mesmo tratamento que recebeu o procurador-geral da República no momento em que detalhou a acusação. Na avaliação de alguns publicitários amigos, em tempos de TV Justiça e canais especializados em notícias transmitindo o julgamento ao vivo, advogados de políticos — e ali há vários — não podem se esquecer de que é preciso usar uma linguagem menos rebuscada. Foi-se o tempo em que falavam apenas para os juízes. Hoje, embora a Justiça seja cega e não deva se render a pressões seja para condenar ou absolver, é preciso levar em conta esse detalhe.

O procurador-geral, Roberto Gurgel, por exemplo, ousou, ao se expressar de uma forma mais acessível a qualquer cidadão que tenha um mínimo de conhecimento da língua portuguesa. Fugiu do “jurisdiquês”. Veremos agora se os advogados vão aproveitar a transmissão ao vivo para tentar apresentar seus clientes inocentes perante os telespectadores ou centrarão fogo num linguajar jurídico de costume, focados apenas nos ministros, como de costume.

Se forem à segunda opção, correm o risco de passar ao telespectador a impressão de ser um “Rolando Lero”, o antigo personagem do finado Chico Anísio, na Escolinha do Professor Raimundo. Quer os advogados gostem ou não, hoje tudo é muito instantâneo e não há tempo de traduzir o jurisdiquês posteriormente, para esclarecer tudo ao telespectador. No passado, o que era dito só chegaria ao conhecimento do cidadão comum horas depois, sem a transmissão direta.

Por falar em cidadão comum…

Muito tem se falado da ausência da oposição nas imediações do edifíco do Supremo Tribunal Federal. Mas ninguém se lembra de que os réus, pelo visto, só vão contar mesmo com seus advogados. Em outros tempos, gente simples filiada ao PT estaria em peso na Praça dos Três Poderes, à porta do STF, defendendo a antiga cúpula do partido. Mas, agora, com a eleição municipal nas ruas, ao que tudo indica, prefere não arriscar.

As alas à esquerda do PT não moverão um dedo em prol dos antigos comandantes do partido no caso do mensalão nem de candidatos apoiados por eles nas eleições municipais

Todo poder corrompe - PAULO GUEDES


O Globo - 06/08


"Tolerância religiosa, moderação no exercício do poder, humanismo e benevolência eram doutrinas aceitas durante o século XVIII. Mas nessa refinada sociedade ocorreu desumana revolução. Tudo dependia de um poder central. E a centralização sobreviveu à realeza derrubada, surgindo um poder absoluto de maior ferocidade que o das monarquias", registrava Tocqueville a respeito das ameaças de degeneração dos ideais democráticos. A concentração dos poderes políticos, a hipertrofia do Estado e a centralização administrativa são as maldições de regimes políticos fechados. "O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente", advertia o liberal Lord Acton.

Sofremos ainda desses males, em transição incompleta para uma sociedade aberta. Os petistas estão no banco dos réus no episódio do mensalão. Mas houve também acusações contra os tucanos quando da emenda constitucional que garantiu a reeleição de FHC e do que teria sido o mensalinho na eleição de Azeredo para o governo de Minas. Como surgiu também, logo depois, o mensalão do DEM, com Arruda no Distrito Federal. E agora a CPI do Cachoeira, atingindo o governador Perillo, do PSDB. O infindável ciclo de acusações recíprocas é apenas manifestação epidérmica do Princípio de Gause, uma guerra de extinção entre espécies semelhantes pelo domínio de um mesmo nicho ecológico. O fundamental é que essas práticas políticas degeneradas estão associadas à concentração do poder político, à hipertrofia do Estado e à centralização administrativa. "As piores características dos sistemas centralizados não são acidentais, e sim fenômenos que são suas consequências diretas, mais cedo ou mais tarde. É por isso que os menos escrupulosos e os mais desinibidos são cada vez mais bem-sucedidos nesse ambiente. Em nome dos mais nobres ideais, mergulha-se em uma atmosfera moral deformada, em que os fins justificam os meios e os piores são os que chegam ao topo", alerta o liberal Hayek.

É com esse sentido de necessário aperfeiçoamento de nossas frágeis instituições democráticas que me interessa o julgamento do mensalão. Trata-se, afinal, segundo o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, do "mais ousado esquema de corrupção e desvio de dinheiro público", do "atentado mais grave que já tivemos à democracia brasileira".

A força não resolveu - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 06/08


O combate às drogas no Brasil, desde sempre feito com base em princípios policial-militares, dos quais os Estados Unidos são a grande ponta de lança, afundou em inegável fracasso. Como lá. Mantidos na ilegalidade, o consumo e a venda de entorpecentes produziram números trágicos, e não se logrou conter o avanço do flagelo. Em oposição à política preconizada pelos americanos, países que contrapuseram soluções alternativas, mais flexíveis, para controlar o crescente número de dependentes contabilizam importantes vitórias nesse campo. O exemplo mais visível é Portugal. Lá, no rastro de uma flexibilização legislativa que resultou, na prática, na descriminalização de substâncias ditas mais leves, como a maconha, comemoram-se, dez anos depois dessa virada no tratamento da questão, importantes reversões nos índices de consumo e de mazelas (doenças, violência, corrupção), que a política anterior centrada na criminalização não conseguiu debelar.
Outros países também seguem o receituário alternativo, em busca de resultados mais palpáveis no controle do flagelo. Aqui mesmo na América do Sul, o vizinho Uruguai anuncia uma série de medidas que não só levam à descriminalização, mas correspondem a um passo mais radical nesta guerra - a possível criação de um monopólio legal administrado pelo Estado para a maconha ou qualquer outra substância proibida pela Convenção Única das Nações Unidas sobre Narcóticos de 1961.
O tema preocupa o mundo. Recentemente, a bandeira da descriminalização passou a ser empunhada por personalidades de incontestável representatividade internacional, como o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso e seus colegas Cesar Gavíria (Colômbia), Ernesto Zedillo (México) e Jimmy Carter (EUA), não por acaso ex-mandatários de países onde a questão da droga alcançou níveis de tragédia. Reunidos na Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Violência, FH, Zedillo e Gavíria subscrevem um documento sugerindo que os sistemas de saúde, e não as delegacias, cuidem dos usuários.
No Brasil, a política de big stick resultou em números medonhos. O tráfico de drogas cresceu na clandestinidade e tomou conta do mercado, à custa da potencialização dos índices de violência e criminalidade. Mais recentemente, a legislação se tornou mais condescendente com os usuários, mas de tal maneira que ainda não há uma padronização nacional sobre como tratar o problema.
Isso é terreno do Código Penal. Por isso, é positiva a proposta da Comissão de Juristas do Senado que, ao levantar sugestões para a reforma do CP, incluiu entre as recomendações a descriminalização das drogas, com a definição de usuário e traficante, uma lacuna na lei atual. Trata-se de posição em conformidade com uma tendência mundial, irreversível, de reduzir danos decorrentes do uso de entorpecentes, reservando-se o uso da força para o tráfico.

O que estamos plantando? - ROBERTO P. COELHO


O Globo - 06/08


A aprovação da proposta que descriminaliza o porte e o plantio de drogas para consumo pessoal deu um grande passo de avanço. Avanço em direção a um precipício ou desastre médico psicossocial.

Qual a diferença do crime de usar drogas que continuam ilícitas em locais públicos, frequentados por crianças e adolescentes, daquele cometido dentro de uma casa familiar, onde o usuário, com sua própria plantação, faz uso na frente dos seus familiares? Será que as autoridades apelarão para o bom-senso dos usuários, cujo bom-senso já foi distorcido ou abolido pela droga de consumo ou de abuso?

Até onde o espaço da vida privada de uma pessoa envolvida com o uso de drogas, que a proposta de descriminalização visa a resguardar, não afeta a vida de outras pessoas, que ainda nem começaram a experimentar - como crianças, que, testemunhando a facilidade da nova prática, serão estimuladas a usar, seja mais cedo ou mais tarde?

Se refletirmos sobre o impacto de danos das drogas lícitas em nosso país, como o cigarro e as bebidas alcoólicas, será que não vale a pena perguntar: já não temos drogas legalizadas demais? O que aprendemos sobre e com elas? Descriminalizar novas drogas não seria negarmos o doloroso aprendizado com as drogas lícitas?

A questão fundamental é: por que uma sociedade desejaria estabelecer e financiar um sistema que a torne doente e dependente?

Com o surgimento de novos usuários não ampliaríamos uma clientela de dependentes químicos que não terá condições de ser atendida por um sistema público de saúde que já não dá conta da demanda de usuários envolvidos com acidentes de trânsito, lesões corporais, homicídios, violência doméstica? Desta forma, não se agravaria o colapso já existente neste sistema público? Quem pagaria o custo médico, familiar e social?

Um governo que capitule diante da premissa de "que é inevitável o uso de drogas no mundo", confundindo a população quanto a substâncias úteis à preservação da vida e outras que causam mais danos do que benefícios, estará diante de sua própria incapacidade de orientar os jovens para a vida. A banalização das drogas parece vir acompanhada da banalização da falta de sentido para a vida.

Não precisamos de caminhos sancionados pela Justiça para chegar mais facilmente às drogas, mas sim de uma Justiça que caminhe com uma consciência capaz de ajudar os cidadãos, sobretudo os jovens, a encontrar sua capacidade de fazer escolhas com lucidez e responsabilidade.

Atualize seu vocabulário - LÚCIA GUIMARÃES


O Estado de S.Paulo - 06/08

NOVA YORK - A não ser que você só se comunique com seus semelhantes em grego antigo ou latim, já deve ter sido vítima da evolução semântica, um problema que pode criar embaraços sem fim. Não falo do duplo sentido nem do ato falho, mesmo porque, como bem lembrou Sigmund Freud, às vezes, um charuto é apenas um charuto. Vá tentar convencer o algoritmo do Google disso: quando busquei "charuto" apareceu logo um anúncio de remédio contra a impotência.
Falo dos novos significados de palavras velhas e se engana quem pensa que se trata de uma evolução espontânea, um processo democrático, como gostariam os linguistas. A nossa conversa está cada vez mais contaminada de eufemismos e ambiguidades cunhados por grupos de interesses. O marquetês é o esperanto do nosso tempo mas não é o único responsável pela reciclagem de significados. Ofereço aqui um glossário modesto para quem há muito não passa o espanador no próprio vocabulário.
Algoritmo - O algoritmo é o Big Brother, a quiromante do século 21. A fórmula matemática onipresente, do Google ao Facebook, conhece os seus gostos, antecipa seus desejos e não toca em assuntos desagradáveis. E, ao contrário da Rosicleide, que cobrava R$ 100 por hora naquele sobrado da Lapa para fazer o mesmo, o algoritmo lhe acompanha de graça.
Grátis - É o trabalho que você faz para Mark Zuckerberg, Sergei Brin, Larry Page, Jeff Bezos e outros que, armados de algoritmos, vendem informação sobre seus momentos mais íntimos. Sugiro clicar "sair" de qualquer serviço de email ou rede social antes de comprar um vibrador.
Criador de empregos - Vítima potencial do socialista Barack Obama e sua insistência em usar o detestado arcaísmo fiscal "contribuinte", hoje sinônimo de "cidadão de classe média"; qualquer pessoa que ganhe mais de US$ 1 milhão por ano, não importa se seu único empregado é um equatoriano ilegal.
Ilegal - Volta a ser apenas adjetivo porque, usado como substantivo, é um estigma para os 12 milhões de imigrantes que estão fazendo faxina, cozinhando, lavando roupa e criando os filhos dos criadores de empregos.
Ilegal - O adjetivo passa por uma crise semântica e será tema de conferência "Foucault e Sarah Palin, um Vácuo de Continuidade", em Reykjavik. Exemplo: Ficar embriagado no Central Park é ilegal. Antônimo: legal. Exemplo: Comprar online 6 mil balas para sua metralhadora automática é legal.
Garçom nova-iorquino - Um futuro diretor de cinema ou ganhador de um Nobel de literatura, que está com problemas temporários de caixa. Um especialista em fazer você se sentir socialmente inferior por pensar que "redução" é um prato que ficou menor.
Mensalão - 1. Fabricação espúria da direita; 2. O maior escândalo de corrupção da história do Brasil.
Neurociência - Um novo gênero literário. Uma espécie de autoajuda depois de um banho de loja. Tudo o que você fez e virá a fazer pode ser explicado por alguma região do cérebro. Todos nós, se ativarmos o local certo do córtex, podemos nos tornar Mozarts ou Einsteins, é só assistir a uma palestra do Malcolm Gladwell. Ótima fonte de desculpas: por exemplo, se você for surpreendido na cama com a mulher do seu vizinho, pode dizer que foi parar lá levado por seu receptor de dopamina.
Querologista - Profissão inventada na Califórnia, onde mais? Profissional que cobra US$250 por hora para lhe dizer o que você quer. Esther James é uma querologista em San Jose, Califórnia.
Snoop Lion - neo-rastafariano, antes conhecido como o rapper Snoop Dogg, antes conhecido como Snoop Doggy Dogg, antes batizado como Calvin Cordozar Broadus Jr. Não confundir com Jorge Ben ou Cat Stevens.
Trumped - Verbo usado na voz passiva que logo terá tradução na nossa língua, na vizinhança de trumbicar. 1 Fazer negócio com Donald Trump. 2. A ruína arquitetônica resultante das construções de Donald Trump. 3 Morar numa área ecologicamente idílica que foi descoberta por Donald Trump. 4 Nome do novo filme do jornalista Anthony Baxter sobre o que aconteceu quando Donald Trump decidiu investir na Costa Leste da Escócia.

Pano rápido - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O ESTADÃO - 06/08


Quer dizer que, em menos de uma semana, Oi, Claro e TIM prepararam planos de investimentos de R$ 20 bilhões para imediata execução? E que, em dois ou três dias, os técnicos da Anatel aprovaram tudo, depois de uma análise detalhada e criteriosa?

Um espetáculo de eficiência, não é mesmo? Reparem: não são planos simples. Envolvem desde a instalação de centenas de antenas até a colocação de um cabo submarino Rio-Miami (projeto da Claro). E, claro, melhorias no call center.

Tudo resolvido, a Anatel liberou a venda de novas linhas de celulares, que havia proibido para punir as empresas por falhas no atendimento. O tempo para que as companhias fizessem suas promoções de Dia dos Pais.

A Anatel canta vitória. Deu uma lição nas teles e garantiu, daqui em diante, bom atendimento ao consumidor. As companhias também cantam vitória. Afinal, foram capazes de entregar os planos em poucos dias.

O governo da presidente Dilma também celebra. Dar um pau nas teles rende talvez mais ibope do que atacar os bancos.
Pano rápido. Fecham-se as cortinas e termina o teatro. Alguém poderia perguntar: bom, se era assim, por que não fizeram antes?
Por que a Anatel deixou a situação piorar para só depois cobrar os investimentos?
E os atores responderiam: quanta má vontade!

Mas se os espectadores querem uma dica do que se passam de verdade nos bastidores, aí vai: o grande problema para a ampliação do número de antenas as legislações absurdas e contraditórias que regulam a construção de torres continua sem solução. Parece que o governo está estudando meios de simplificar a coisa, talvez com um projeto de lei ou uma medida provisória. Demora um pouco mais porque, como qualquer um sabe isso é muito mais difícil do que preparar, analisar, aprovar e executar planos de R$ 20 bilhões.

Puro conhecimento
Foi em Cuiabá, no 6.º Congresso Brasileiro de Soja: cientistas apresentaram nada menos que 423 trabalhos. E notem que o Brasil já alcançou a maior produção mundial (80 milhões de toneladas) e a maior produtividade: 2,9 toneladas por hectare, igual à dos Estados Unidos, que era muito superior 20 anos atrás.

Esse êxito dependeu, digamos 10%da natureza e 90% da ciência e tecnologia. Pode-se dizer, sem medo de errar, que a soja brasileira é inventada. E brota em solo corrigido. Ou, se quiserem, em terras igualmente inventadas.

A cultura da soja traz consigo a indústria química, de máquinas, tratores e equipamentos eletrônicos, já que não se planta nem se colhe nada sem tecnologia e sem GPS, por exemplo.

A soja traz também a indústria de alimentos. Sem contar o óleo, é a principal ração de frangos e de suínos, setores em que o Brasil também se torna um grande produtor global. Acrescentem-se aí o biodiesel e as técnicas de integração lavoura, floresta e pecuária – e estamos no campo da sustentabilidade.

E ainda dizem que o Brasil não pode ser apenas um produtor e exportador de alimentos. Precisa de produtos com mais valor agregado, mais tecnologia e tal. Só que, para esse pessoal, parece que tecnologia e valor agregado 
se obtêm com uma “boa entrada”nos gabinetes de Brasília. (Esse texto é baseado em coluna de José Roberto Mendonça de Barros, que sacou a importância do agronegócio quando nem o pop sertanejo estava na moda.).

Agenda perdida
Lembram-se da agenda perdida?
Assim foi chamada uma pauta de reformas microeconômicas com duplo objetivo: conter e dar mais eficiência ao gasto público e melhorar o ambiente de negócio para o empreendimento privado.

No primeiro governo Lula, fez-se muita coisa nessa direção. Depois, a agenda foi perdida de novo. Não é que a presidente Dilma está retomando alguns pontos importantes?
É o que revela reportagem de Claudia Safatle, Edna Simão e João Villaverde no jornal Valor Econômico de sexta-feira passada.

Há duas reformas essenciais: a da Previdência, para introduzir a idade mínima de aposentadoria, que Fernando Henrique Cardoso tentou e não conseguiu, e reduzir benefícios de pensão por morte; e a trabalhista, esta baseada numa tese tão repetida pelo professor José Pastore (o negociado entre empresas e trabalhadores se sobrepõe ao legislado).

A primeira reforma ataca o déficit das contas públicas. A segunda deve reduzir de maneira dramática o custo trabalhista. As duas têm de ser negociadas no Congresso Nacional.

Depois vem o programa para reduzir custos de investimentos, incluindo os burocráticos. Há várias reduções de impostos em estudos, especialmente para a energia elétrica. E mais desoneração da folha de pagamentos, ou seja, a eliminação da contribuição patronal sobre os salários.

E mais o programa de privatização, digo, concessão de rodovias, portos, aeroportos e ferrovias o que depende apenas do governo federal e deve ser o primeiro a sair do forno. A ver.

A agenda é boa. O País não merecia que continuasse perdida. A questão é a capacidade do governo de programar-la.
Há obstáculos na burocracia e na política. Nesta, por exemplo, se inclui a ampla demanda do funcionalismo público por reajustes salariais.

Como combinar isso com as propostas de redução de impostos?
Carga tributária menor depende de gasto público menor o que parece ser muito difícil para este governo. Esse é o maior problema.

TOCAR A OSESP EXIGE MUITA SAÚDE MENTAL - SONIA RACY


O ESTADÃO - 06/08


Arthur Nestrovski fala sobre o maior desafio de sua carreira. E pensa em voltar para a análise

Ele vive da música e para a música – desde janeiro de 2010, quase que literalmente. Foi quando Arthur Nestrovski assumiu o cargo de diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a celebrada Osesp. Aos 52 anos, este gaúcho multifacetado (é compositor, violonista, crítico literário e musical, escritor e editor) se viu às voltas com um desafio de imensa responsabilidade: seguir o legado de John Neschling e manter ascendente a curva desta que é a mais importante orquestra do País. E para acabar de vez com seu tempo livre, este ano Arthur foi também nomeado diretor artístico do Festival de Inverno de Campos do Jordão. Pouco depois do evento, e antes de embarcar com a Osesp para Londres, parte de uma grandiosa turnê europeia, ele concedeu a seguinte entrevista à coluna.

Com o dia a dia corrido da Osesp, você tem tido tempo para compor?
Vira e mexe acaba saindo alguma coisa, hoje em dia num ritmo bem menor, claro. Tenho uma canção nova, com letra do Luiz Tatit, que vamos mostrar no show de lançamento do DVD Tatit-Wisnik-Nestrovski, dias 21,22 e 23 de setembro, no Sesc Santana. E ando matutando se não seria hora de gravar outro CD de violão solo. Quem sabe em janeiro?

E literatura? Tem conseguido escrever? 
Olha, me orgulho muito dos dois Jabutis que já ganhei (o primeiro em 1987, com Debussy e Poe; o segundo, em 2003, com Bichos Que Existem e Bichos Que Não Existem). Em 2009, saiu Agora Eu Era, com ilustrações do Laerte, meu nono livro para crianças. Agora... de lá para cá, entrei para a Osesp e não sobra tempo algum para escrever.

Como foi organizar, pela primeira vez, o Festival de Inverno Campos do Jordão? 
Estamos todos de língua de fora – e com o coração nas nuvens. Afinal, deu tudo certo, né? Os 136 bolsistas vieram (do Brasil, dos EUA, da Holanda, da China...), assim como os mais de 70 professores e solistas. Apresentamos 77 concertos, num nível, modéstia à parte, muito alto.

Falou-se muito bem da orquestra do Festival.
Foi um arraso. Em três programas diferentes, regidos pela Marin Alsop, pelo Giancarlo Guerrero e por Richard Armstrong, e acompanhando solistas como Nelson Freire. Criamos, também, um módulo de regência, com participação de uma orquestra de câmara da Osesp. Atendemos quase quatro mil crianças, em concertos didáticos. Revelamos talentos jovens, como o maestro brasileiro Yuri Azevedo, que levou o grande prêmio do Festival, e o pianista russo Dmitry Mayboroda. Além disso, criamos convênios com cinco conservatórios estrangeiros e fizemos música para cerca de 40 mil pessoas (sem falar nas transmissões pela rádio e TV Cultura). E a lista vai bem mais longe... Basta dizer que o Festival tem condição de se tornar referência mundial, equiparável aos maiores.

Nelson Freire estava claramente emocionado – ao se apresentar com tantos jovens talentosos. Como vê a nova geração de músicos brasileiros?
O panorama da música clássica vem mudando há um bom tempo no Brasil. Dezenas de projetos de inclusão cultural oferecem formação clássica. O resultado foi o que se viu na Orquestra do Festival, tocando num nível impressionante.

O homenageado do ano foi Eleazar de Carvalho. Qual a importância dele para a música erudita no Brasil e para a Osesp?
Por consenso, Eleazar foi o maior maestro brasileiro de todos os tempos.

Titular da Osesp por 24 anos, dirigiu o Festival de Campos do Jordão por quase duas décadas. Todos nós somos devedores do trabalho dele. Ao longo da vida e também depois , Eleazar foi se transformando na Osesp, no Festival, nalguma medida em cada um de nós. No melhor de nós: Eleazar virou música.

O que se pode esperar do Festival em 2013?
Vamos conversar sobre isso com a Secretaria de Estado da Cultura. É cedo para anunciar qualquer coisa, mas, em princípio, teremos a maior alegria de continuar à frente de um projeto desses, que tem tudo a ver com a missão da Osesp e contribui para fortalecer o que a gente já faz no âmbito do Sistema Paulista de Música.

Quais seus compositores eruditos preferidos?
Isso é impossível de dizer. Escuto de tudo e de todos. Incidentalmente, prefiro falar em “música clássica”. Só os especialistas implicam com o termo (porque nem toda música clássica é do período clássico, fins de século 18). Na prática, todo mundo sabe do que se trata: concertos, sinfonias, sonatas, óperas etc. E o termo “erudito” tem um travo preconceituoso.

E da MPB?
Não dá para nomear só dois ou três. Se eu disser Tom Jobim e Chico Buarque (porque gravei o Jobim Violão e o Chico Violão), onde ficam João Gilberto, Caymmi, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho e Caetano Veloso, sem falar em Zé Miguel Wisnik, Luiz Tatit, Tom Zé, André Mehmari etc. etc.? E por que parar na música brasileira? 

Na minha lista entrariam Keith Jarrett, Brad Mehldau, Bob Dylan, Gaiteros de San Jacinto, Mariza, António Zambujo e tantos outros. Não caberia tanta gente na minha cabeceira.

O que costuma ouvir em casa?
Hoje em dia o que mais escuto é música ao vivo: dois ou três concertos da Osesp na Sala São Paulo, para começo de conver-
sa, quase toda semana, além de ensaios. Também ouço música no carro, no trajeto de casa. E como disse: escuto de tudo. A cada temporada é preciso burilar cerca de 60 programas diferentes para os vários quadros da Osesp: orquestra sinfônica, orquestra de câmara, coro, quarteto de cordas, grupos de câmara, recitais. Cada programa tem de funcionar por si, mas também fazer sentido na sequência. E uma regra tácita impede a gente de programar qualquer peça tocada agora nas próximas duas temporadas. Existem questões técnicas (tamanho da orquestra, por exemplo, ou dificuldade de execução) e pessoais (tudo tem de ser combinado com regentes e solistas). É um quebra-cabeças de 1.001 peças.

E como é trabalhar com a regente Marin Alsop?
Muito intenso, muito rápido, e, para mim, muito prazeroso. Trocamos e-mails quase todos os dias quando ela não está aqui. Quando está, para além dos compromissos de concerto e das reuniões coletivas, fazemos algumas reuniões curtas e muito produtivas. Marin está sempre alerta. Tem um temperamento positivo, temperado de ironia. Nos demos bem desde o primeiro encontro, em setembro de 2010.

A Osesp participa, este mês, do BBC Proms. Qual sua expectativa quanto à turnê? Tocar nos Proms tem importância histórica não só para a Osesp, mas para a música brasileira. Forçando um pouco a mão, dá pra dizer que é como Tom Jobim e João Gilberto no Carnegie Hall, em 1962: um sinal incontrovertível de reconhecimento, que ajuda a definir a dimensão do que se faz aqui.

Gosto se discute?
Claro que sim. Mas o crucial, nesse contexto, é distinguir entre opinião e crítica. Opinião todo mundo tem, mais ou menos bem informada. Ela expressa um juízo pessoal. Já crítica é outra coisa. Crítica implica esclarecimento. A crítica deveria, antes de tudo, esclarecer o projeto do artista do ponto de vista do artista; e só então avaliar o quanto foi bem sucedido, nos seus termos, não nos do crítico. Boa parte dos autodenominados críticos não faz crítica: escreve como colunista, dá opinião, encastelada na autoridade do jornal. Alguns criam para si um personagem (“O Provocador”, “O Vanguardista”). Fazem teatro, um gênero involuntário de comédia; mas quem não for muito do ramo, acaba levando a sério...

Acredita em Deus? Acredito em tudo: em Deus, no Diabo e na Terra do Sol.

Faz ou fez terapia?
Fiz duas tentativas breves, em períodos distintos. Não deu certo, não tenho vocação. Mas agora, com esse cargo na Osesp, pensei várias vezes se não seria bom tentar de novo. Tocar uma orquestra exige saúde, energia, persistência, sangue frio, equilíbrio e é um cargo, afinal de contas, solitário.

Competitividade da indústria - MARCELO DE PAIVA ABREU


O Estado de S.Paulo - 06/08


O governo brasileiro vem insistindo na importância de que desalinhamentos cambiais sejam discutidos na Organização Mundial de Comércio (OMC). E mais, que sejam criados mecanismos na OMC que permitam ajuste das tarifas para levar em conta flutuações cambiais que distorcem a competitividade da produção doméstica em relação às importações. O diagnóstico que conduziu a essa iniciativa é incompleto e a escolha de foro para encaminhar a questão é pouco realista.

A preocupação com o aumento da penetração das importações em consequência da apreciação cambial é legítima, mas é preciso abandonar o hábito de transferir a culpa ao estrangeiro. Como ocorre quase sempre, não há só culpados ou inocentes.

Importações são determinadas pelo nível de atividade no Brasil e pela competitividade dos produtos brasileiros em relação aos importados. O custo das importações é resultado da interação dos preços internacionais, da taxa de câmbio e da taxação das importações. O custo da produção doméstica competitiva é o que atende pela alcunha de custo Brasil, tem a ver com salários, carga tributária, logística, em suma, os elementos de custo relevantes no Brasil.

Em circunstâncias normais, os preços das importações brasileiras denominados em moeda estrangeira poderiam ser considerados como dados, em vista do tamanho do mercado brasileiro em relação ao mercado mundial. No mundo atual, esses preços podem estar deprimidos pelas políticas macroeconômicas dos EUA e da China que levam à desvalorização "artificial" das respectivas moedas.

Além disso, o custo das importações em reais é definido pela taxação das importações e pela taxa cambial brasileira. Até as recentes decisões do governo, ao arrepio da OMC, quanto ao tratamento fiscal discriminatório das importações na incidência do IPI, a taxação relevante consistia nas tarifas efetivamente praticadas. Agora, enquanto a OMC não reclamar, deve ser levado também em conta o diferencial de IPI entre produtos importados e produtos competitivos produzidos domesticamente.

O nível da taxa cambial brasileira depende de políticas adotadas no Brasil e pelos principais parceiros do Brasil. A manutenção da taxa de juros num nível extremamente baixo, especialmente pelos EUA, quando combinada a taxa de juros alta, como no Brasil, atrai capitais e resulta em apreciação cambial no Brasil. A variável relevante é o diferencial de juros: se o Brasil pudesse continuar a reduzir a taxa de referência que remunera os títulos públicos, as pressões provocadas pelas distorções geradas pelas políticas macroeconômicas de seus parceiros seriam minoradas.

Em vez de insistir em estratégia com parcas possibilidades de influir nos processos decisórios relevantes, o governo brasileiro poderia minorar os danos causados por tais políticas com o uso de instrumentos sobre os quais, em princípio, tem controle. A pressão dos gastos públicos gera obstáculos à redução da taxa de juros de referência. O governo deveria contrariar a sua natureza e encontrar apetite para tratar prioritariamente da explosiva questão de gastos públicos.

A outra frente relevante é a redução do custo Brasil. O governo, paralisado na sua capacidade de investir, tem tentado remendar essa situação por meio de desonerações fiscais discricionárias. Mas trata das reformas estruturais que poderiam contribuir para reduzir tais custos em bases permanentes como se fossem parte de agenda "neoliberal" a ser exorcizada.

Economistas do Antigo Regime, que agora se destacam como assessores proeminentes, têm contribuído para semear a confusão quanto aos possíveis remédios para os males que assolam a competitividade da indústria brasileira, ao atrelar indevidamente o diagnóstico das distorções cambiais à proposta de remédios na OMC.

Poucos discordariam de que a perda de competitividade da indústria brasileira se deve, em parte, às manipulações cambiais de concorrentes. Mas disso não decorre que o assunto deva ser tratado na OMC. É claro que os grandes manipuladores cambiais têm forte resistência em tratar do tema em qualquer foro, pois pretendem manter graus de liberdade que consideram necessários para tentar transferir o ônus de ajuste ao exterior, "empobrecer o vizinho". Mas será a OMC o foro adequado para tratar do assunto de forma eficaz? O corifeu do Antigo Regime acha que sim, embora há poucas semanas tenha sido irônico com os que "levam a OMC a sério".

Nem só "a mulher é volúvel e muda de tom e de julgamento como a pluma ao vento", como no Rigoletto de Verdi. De meu lado, creio que a OMC deve ser levada a sério e exatamente por isso, acreditando-se em especialização, a sua agenda não deve ser tumultuada com questões cambiais. Pressionar para que o FMI tenha postura mais eficaz quanto ao tema parece menos esdrúxulo, embora seja razoável manter também grande ceticismo quanto à possibilidade de progresso concreto. Pelo menos o assunto é compatível com a agenda da instituição. O governo brasileiro deveria fazer o dever de casa quanto ao custo Brasil e o controle do gasto público. E depender menos de desonerações discricionárias e jogadas de efeito nos foros multilaterais.

"Bonequinha de Luxo" - LUIZ FELIPE PONDÉ


FOLHA DE SP - 06/08

Mulheres burras cansam. Nem só de pernas vive o homem, mas também do verbo feminino

Não sou daqueles que acha o passado melhor que o presente, mas no cinema americano, às vezes, temo que isso seja verdade. Salvo algumas exceções, claro, como Clint Eastwood ou Debra Granik (autora do grandioso "Inverno da Alma", no original, "Winter"s Bone", título maravilhoso), todo mundo só quer fazer filmes para gente com idade mental de cinco anos ou ensinar as pessoas a serem melhores.

Todo artista que quer fazer o mundo melhor com sua arte é mau artista ou mau-caráter. Oscar Wilde suspeitava da poesia sincera e eu, da arte engajada. "Arte do bem" é arte menor e chata.

Revi o maravilhoso "Bonequinha de Luxo", de Blake Edwards, de 1961, com Audrey Hepburn e George Peppard. A última cena, ela arrependida, procurando o gato que abandonara num beco sujo, e, logo depois, os dois se beijando sob uma forte chuva, misturando as lágrimas às gotas que caem do céu, é um louvor ao amor romântico, como redenção de uma vida vazia em meio às ambições de sucesso e reconhecimento social.

Peppard salva a bonequinha de luxo (Hepburn) de uma vida miserável em meio a ansiedade por status e por luxo. A miséria moral é sempre humana, demasiado humana. A grandeza humana, por sua vez, só é verdadeiramente visível diante dessa miséria.

"Bonequinha de Luxo" foge da fórmula idiota dos filmes românticos da atualidade que seguem a chave de sempre ver o homem como um ser insensível, estúpido, mentiroso e incapaz de amar de verdade.

Degrada-se a imagem do homem fazendo dele um macaco inútil. Essa imagem do homem é tão falsa quanto a de que homens gostam de mulheres burras. Mulheres burras, apenas e unicamente quando bonitas, servem para relações curtas, depois cansam. Nem só de pernas vive o homem, mas também do verbo feminino.

O roteiro dessas bobagens é assim: ele se declara, ela se faz de difícil, mas acaba dizendo que o ama, ele se desespera porque ela vai descobrir que ele mentiu em algum momento, ela descobre inevitavelmente sua mentira, o repele sob o signo de que mulheres não suportam mentiras (em si uma mentira) e, finalmente, ele confessa que não presta e ela o aceita de volta sob a promessa dele de que jamais mentirá "again".

Grande exemplo de romantismo para idiotas. O problema com estas fórmulas é que elas humilham o ser humano ao invés de erguê-lo, porque nós só temos alguma dignidade depois de mergulhar no abismo. O abismo (o sofrimento dos heróis) nestes filmes é de brincadeirinha, como tudo mais hoje em dia quando se fala de moral.

Vivemos numa época tomada pela fúria de um "bem idiota". O ser humano só revela o que há de melhor nele quando é esmagado.

A "bonequinha" é uma candidata a amante de luxo nos anos 1960 em Nova York, ansiosa por ser amada, mas no fundo morrendo de medo de amar. Ele, um escritor jovem e desconhecido, é um gigolô sustentado por uma milionária entediada. Portanto, ambos são a mesma coisa. Vivem em festas cabeças de riquinhos que mostram o início dos anos 1960, regadas a muito álcool.

O filme mostra como os anos 1960 foram em grande parte um engodo: supostamente liberal e contra o sistema, mas em grande parte apenas uma festa do cabide em que os liberados fugiam de si mesmos o tempo todo. A vida é quase sempre insuportável, e os anos 1960 inventaram uma forma nova de mentir sobre isso: a revolução sexual.

Ele a salva quando a faz perder o medo de investir no amor que um sente pelo outro. A cena do táxi, segundos depois de ela abandonar seu gato na sarjeta em meio a tempestade, é o ápice da tensão dramática: ela joga seu gato na sarjeta como fazia consigo mesma. Desafiada pela fala dele "você é uma covarde", ela rompe o círculo da futilidade afetiva.

A diferença entre este final feliz e o dos filmes atuais é que "nunca mais minta pra mim" é papo de bobo, enquanto que ter medo de amar é coisa de gente grande que sabe o risco que é o amor.

Tristes tempos os nossos nos quais todo mundo dá gargalhada numa festa contínua, fingindo que sexo é "a" questão, quando o verdadeiro desafio é outro.

Diante do amor, sexo sem amor é para iniciantes.

Concessões: investimento é essencial - GUSTAVO LOYOLA


Valor Econômico - 06/08


Segundo o noticiário, o governo federal deve anunciar para breve uma nova e farta rodada de concessões na área dos transportes. Trata-se de uma boa notícia, notadamente pelas evidentes deficiências da infraestrutura no Brasil e da ineficiência governamental na gestão de obras nesse setor. Porém, as concessões somente cumprirão seus objetivos se delas resultar o aumento dos investimentos e a melhora efetiva da qualidade da infraestrutura à disposição das empresas e dos consumidores brasileiros.

Para tanto, é necessário haver equilíbrio entre a necessária regulação dos serviços concedidos e os incentivos de rentabilidade e segurança jurídico-contratual para as empresas concessionárias. Contratos de concessão mal feitos podem resultar mais onerosos para a sociedade do que a manutenção dos serviços na órbita estatal. Frequentemente, no afã de reduzir os custos no curto prazo para os usuários dos serviços concedidos, o governo opta por estratégias de leilões de concessão que comprimem a tal ponto os preços que tornam inviável a remuneração do investimento necessário à expansão e melhora dos serviços.

No caso de rodovias, por exemplo, a ênfase na menor tarifa do pedágio como critério para a outorga da concessão, sem a preocupação com a exigência de um fluxo mínimo de investimentos para atender com qualidade a demanda presente e futura, tende a congelar a malha rodoviária em seu estado atual que, no caso das estradas federais, já se mostra aquém do exigido pelas necessidades da atividade econômica do país. A ambição nas concessões não deve ser apenas a de assegurar obras de manutenção das estradas, livrando o governo desse tipo de ônus, mas sim a de viabilizar a expansão da capacidade de oferta e a melhora de sua qualidade ao longo do tempo.

Criação de "gatilhos" indica uma maior preocupação com a melhora da qualidade das rodovias

Tudo indica que o governo teria decidido manter, para as novas concessões, o modelo de leilão por menor tarifa de pedágio, sem pagamento de outorga, mas associado a investimentos pré-definidos de ampliação e manutenção das rodovias. Haveria ainda "gatilhos" para novos investimentos quando o volume de tráfego superar certos parâmetros pré-estabelecidos.

Em tese, o modelo escolhido parece o correto. O não pagamento de outorga se justificaria pelo menos por dois motivos principais. O primeiro deles é a presente situação fiscal na qual, considerando hipóteses razoáveis, há uma tendência de queda da relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB, o que diminui a necessidade de receitas extraordinárias para cobrir o déficit público. Trata-se, assim, de situação distinta da enfrentada quando das primeiras concessões federais e paulistas. O segundo motivo é a característica das estradas objeto das concessões, a maioria delas carente de obras urgentes para adequação às necessidades da demanda atual. Nessa situação, a prioridade deve ser a melhora da infraestrutura e não a maximização das receitas fiscais.

Contudo, como se diz, o diabo está nos detalhes. Há o risco de o governo incorrer novamente no equívoco de buscar a minimização das tarifas de pedágio por meio da renúncia da exigência de investimentos que são fundamentais para elevar a qualidade das estradas a mínimos internacionalmente aceitáveis. A propósito, vale citar o caso dos eixos rodoviários São Paulo - Belo Horizonte e São Paulo - Curitiba, ambos objeto de concessão pelo governo federal em 2007. Na época, o governo comemorou com todos os fogos de artifício disponíveis o fato de ter conseguido o "pedágio de um real", contrastando com as "exorbitantes" tarifas das concessões realizadas pelos "tucanos" em São Paulo. É sempre ótimo pagar pouco por um serviço, mas a questão é saber se o volume dos investimentos exigido nessas concessões não poderia ter sido maior, de modo a elevar o padrão das rodovias em questão. Passados cinco anos, observa-se, sem dúvida, uma melhora nas estradas concedidas, mas penso que o governo se equivocou ao ter focado em demasia na ideia de reduzir o custo do pedágio.

De todo modo, a intenção do governo federal de criar, nos novos contratos de concessão, "gatilhos" que disparariam novos investimentos pelos concessionários parece indicar uma maior preocupação com a expansão da capacidade e melhora da qualidade das rodovias no período da concessão, o que representaria um avanço em relação aos leilões anteriores.

Por fim, é interessante registrar o flagrante contraste entre as intenções positivas do governo federal e a desastrada decisão do governo do Rio Grande do Sul de estatizar as concessões naquele estado. A justificativa dada pelo governador daquele estado é que as tarifas de pedágio são muito elevadas para a qualidade das estradas, a maioria não duplicada. Tal argumento é de pobreza franciscana para justificar a estatização, já que o problema apontado poderia perfeitamente ser corrigido na hipótese de renovação das concessões para a iniciativa privada, com a realização de novos leilões competitivos. O que parece ter prevalecido é uma visão ideológica estatizante que, felizmente, não contaminou as decisões recentes sobre concessões adotadas pela também petista administração federal.

Baixa produtividade tira mercados do Brasil - SERGIO LEO


Valor Econômico - 06/08


É espantoso, mas ainda há quem atribua o mau desempenho do comércio exterior brasileiro a uma suposta decisão de privilegiar os mercados do Sul em detrimento dos mercados do Norte. Desprezar a importância do acesso a mercados emergentes, como o da África, é ignorar como andam se travando as disputas nos mercados externos. E, embora haja evidentes benefícios em baixar barreiras no mercado dos EUA, o país já tem tarifas bem baixas, em geral, e, infelizmente, considera "sensíveis" a maior parte dos setores onde o Brasil poderia ter ganho relevante em um acordo comercial. Mas o problema maior dos exportadores brasileiros é outro: será difícil sonhar com acordos comerciais, sem antes olhar para dentro de casa.

Como não cansa de demonstrar a professora Vera Thorstensen, da Fundação Getulio Vargas, a forte valorização do real, por mazelas domésticas, come qualquer vantagem competitiva em matéria de redução de tarifas de importação eventualmente obtida nos mercados desenvolvidos. E o drama do Brasil como ator global é agravado pelo câmbio, mas não se resume nele: a verdade é que, ao lado dos chamados custos "sistêmicos", como a kafkiana tributação brasileira, a deficiente infraestrutura e o alto custo do investimento, vem se tornando dramática outra deficiência brasileira: a perda de produtividade.

"O país caminha para uma situação insustentável", previu o economista Renato Fonseca, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ao comentar trabalho recente de sua equipe sobre a evolução da produtividade do trabalho na indústria brasileira. O ambiente desencorajador para investimentos só agrava a tendência de deterioração da produtividade do trabalho no país, que, depois de um tímido crescimento nos primeiros cinco anos da década passada, estagnou e chegou a 2011 em queda.

Segundo o estudo de Fonseca, a produtividade do trabalho no Brasil aumentou medíocres 4,7% entre 2001 e 2006, e caiu 0,5% de 2006 a 2011. Com isso, nos últimos 11 anos, houve um crescimento de apenas 4,1% na produtividade da mão de obra.

O freio no aumento de produtividade pode ser atribuído, em parte, à recuperação salarial, no embalo do mercado de trabalho aquecido. Para comparar com os outros custos industriais, Fonseca calculou o salário médio real deflacionando os valores pelo índice de preços ao atacado da indústria, e notou que, entre 2001 e 2011, a queda nesse salário médio foi de 9,1%. Na verdade, houve queda de 2001 a 2006, mas seguida de recuperação entre 2006 e 2011.

Houve aumento de produtividade no começo desse período, quando os salários não acompanharam os outros custos da indústria, mas essa situação mudou. Os trabalhadores têm obtido ganhos reais e a carência de mão de obra exige gastos com treinamento por parte das empresas.

O custo unitário do trabalho, que mede o peso da mão de obra sobre cada unidade produzida, caiu 23,4% de 2001 a 2006, mas a falta de investimentos em inovação, para compensar a recuperação salarial desde então, reduziu para 13% a queda no custo unitário do trabalho no período entre 2001 e 2011.

CNI: país caminha para situação insustentável

Essa gradual perda de competitividade brasileira torna-se dramática com a valorização do real, de quase 29% no período, que fez o aumento de custos ser bem maior quando medido em moeda de transação internacional. Segundo os cálculos de Fonseca, descontando a inflação industrial americana de 40,5% e levando em conta a brasileira, de 123%, o custo em dólares com os trabalhadores para se produzir cada unidade de mercadoria só aumentou desde 2001 e quase duplicou deste ano ao ano passado (ver tabela abaixo).

"Mesmo com a recente valorização do dólar, para cerca de R$ 2, o custo unitário do trabalho aumentou em torno de 50% nesses últimos anos", diz o economista. A saída, recomenda ele, é investimento em inovação e aumento da produtividade, atitude difícil de encontrar no meio empresarial nesses tempos de incerteza. Vale também cobrar do governo a solução para problemas na execução dos incentivos à inovação, como a Lei do Bem, que aponta na direção certa, mas deixou indefinições sobre quais investimentos têm direito aos benefícios, o que foi suficiente para desanimar o setor privado.

"Sem definição clara sobre o que é inovação, as empresas que aproveitam o incentivo fiscal para essas atividades estão sujeitas a terem contas glosadas pela Receita e levar multa", indica Fonseca, que também critica a exclusão, do programa, de empresas tributadas por lucro presumido, ou pelo Simples (que simplifica a tributação das microempresas).

O setor privado tem sua culpa por ter se acomodado com a confortável situação de alta no consumo e um mercado disposto a sancionar altas de preços. Com o atual esfriamento do mercado consumidor, a indústria pouco competitiva agora tem dificuldades em buscar clientes externos, e sofre para competir com importados aqui dentro.

A cobrança por negociações comerciais, nessas circunstâncias, tem muito de teatro: tratados de livre comércio despertam pouco entusiasmo em importantes setores organizados do empresariado. O setor privado não pode depender só do governo, tem o dever de forçar uma saída dessa armadilha da baixa produtividade.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 06/08


Empresa do Ceará investe US$ 1,2 bi para substituir importação de aço por produção

A Aço Cearense se prepara para fundar outra empresa nos moldes da Sinobras -siderúrgica que permitiu à companhia deixar de importar aço longo.

Com investimento de cerca de US$ 1,2 bilhão, a empresa pretende prescindir da importação de aços planos, como a que ocorreu no ano passado, de 500 mil toneladas.

"A construção da laminadora começou com a necessidade de trocar a importação de bobinas [de aço] por produção própria no Brasil", afirma o presidente do grupo, Vilmar Ferreira.

Com uma nova usina, a empresa pretende fabricar aproximadamente 1 milhão de toneladas de aço plano por ano no Ceará.

A autossuficiência será garantida quando o grupo unir essa produção com a do projeto Aline, desenvolvido em parceria com a Vale em Marabá (PA) e que também recebe aporte de US$ 1 bilhão. Nesse empreendimento, a Vale detém 25% do capital.

"Com as usinas, seremos autossuficientes e ainda sobrará aço", afirma Ian Corrêa, vice-presidente do grupo.

O projeto Aline, porém, depende de obras atrasadas na hidrovia do Araguaia-Tocantins. Corrêa nega que a empresa pretenda substituir a usina do Pará pela do Ceará.

"São projetos separados, que serão concluídos."

O cronograma de implantação da nova empresa, ainda sem nome, será concluído até o final do ano.

"Depois disso, fazemos as obras em dois anos", acrescenta o executivo.

Todo o aço fabricado pela companhia será destinado ao mercado interno.

"Não vale a pena exportar. Hoje sobra aço lá fora", diz.

Controle na fábrica
A Tetra Pak vai anunciar hoje a aquisição da Genius Automação de Sistemas, brasileira especializada em automação para segurança alimentar.

A empresa já fornecia há cerca de 15 anos para a Tetra Pak serviços como o desenvolvimento de sistemas inteligentes para monitoramento, controle de processos e gestão da fabricação para tornar os produtos rastreáveis.

A Genius atenderá tanto a divisão de processamento como a de envase de alimentos, de acordo com Paulo Nigro, presidente da Tetra Pak do Brasil.

"Essa é uma operação fundamental porque reforça a estratégia global de fornecer sistemas inteligentes de gestão de produção", afirma o executivo.

Shopping estrangeiro

A entrada de estrangeiros no mercado de fusões e aquisições de empresas do setor de shopping centers aumentou o número de operações desse tipo no Brasil no primeiro semestre deste ano.

Entre janeiro e julho de 2012, foram registradas 17 transações, mais que o dobro do mesmo período dos dois anos anteriores, de acordo com estudo da KPMG.

"É a primeira vez que os estrangeiros têm atuação expressiva no setor e foi isso que causou o crescimento, pois os brasileiros mantiveram o ritmo", diz Luis Motta, sócio-líder da companhia no Brasil.

Para este semestre, a KPMG espera que o número de operações fique estável, mesmo com a crise econômica.

Qualificação

Ao menos três em cada quatro alunos das Etecs (Escolas Técnicas) e das Fatecs (Faculdades de Tecnologia) conseguem emprego após o término do curso, segundo o Centro Paula Souza, órgão do governo paulista que administra o ensino profissional.

No caso das Fatecs, equivalentes ao ensino superior, o índice chega a 92%.

Entre os ex-alunos que conseguiram emprego, 71% têm carteira assinada e 18,1% são funcionários públicos.

Nas Etecs, que podem substituir o ensino médio, por sua vez, o percentual de contratados é de 79%.

A entidade entrevistou 1.263 ex-alunos das Fatecs e 7.535 das Etecs.

Creme brasileiro O laboratório espanhol Isdin, um dos maiores do país europeu, pretende passar a produzir todo o seu portfólio no Brasil. A intenção da companhia é exportar seus produtos a partir do Brasil, principalmente os itens cosméticos.

Lanche... A Mr. Mix, rede especializada em milk-shakes, abrirá mais 15 unidades até o final deste ano e chegará a cem lojas em operação no país. O foco principal da expansão será a região Nordeste.

...gelado A companhia também pretende fechar outros 60 contratos para inauguração em 2013. Entre os Estados que receberão unidades neste ano estão Maranhão, Ceará, Sergipe, Pernambuco e Rio Grande do Norte.