terça-feira, dezembro 13, 2011

A bala que derrubou o ministro blindado - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

Os bastidores da agonia de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho mostram, bastante bem, para onde o Brasil está indo. O governo estava decidido a mantê-lo no cargo a todo custo. A diretriz fora dada por Lula e encampada por Dilma. Lupi foi para o front com essa garantia – daí o festival de bravatas do tipo "só saio à bala". Ele tivera a promessa do Olimpo petista de que ia sobreviver. Isso se tornara ponto de honra para o governo Dilma. Por quê?

Os movimentos palacianos nos dias que antecederam à inevitável queda do ministro do Trabalho falam por si. Lula entrou em campo decidido a enquadrar a Comissão de Ética Pública da Presidência, que recomendara a demissão de Lupi. Articulou o incrível "pedido de explicações" de Dilma à Comissão, praticamente um deboche ao trabalho da instituição. Enquanto isso, iniciou o jogo de pressões para que os integrantes da Comissão de Ética "pensassem melhor" no que haviam recomendado.

Foi uma atitude típica do ex-presidente – e de sua concepção de poder. Quando eleito para o Planalto, em entrevista sobre agências reguladoras, ele já indicava sua sensibilidade para com o livre funcionamento das instituições. Na ocasião, Lula declarou que não podia, como presidente, abrir o jornal de manhã e descobrir "que um filho da mãe" mudou um preço público. Depois, foi coerente: nos oito anos seguintes, dizimou a independência das agências reguladoras, entregando-as aos companheiros.

A sobrevivência de Lupi era fundamental para o governo. Mas a revanche contra a imprensa deu errado...

Enquanto Lula torpedeava a Comissão de Ética em defesa do companheiro Lupi, seus fiéis escudeiros tentavam legitimar a virada de mesa. José Dirceu espalhava que o ministro não cairia no grito, que isso era um atentado ao estado de direito, e que era preciso aguardar as explicações da Comissão – as de segunda mão, naturalmente, depois do corretivo de Lula.

De Caracas, Dilma Rousseff dava, no sábado, a declaração mais original já ouvida de um chefe de Estado brasileiro: "Qualquer situação referente ao Brasil vocês podem ter certeza que resolvo a partir de segunda-feira".

Nunca antes na história deste país um presidente da República se declarara de folga para assuntos referentes ao Brasil. Nesse caso, Dilma passaria o fim de semana na Venezuela tratando de situações referentes a que país? Teria sido emprestada por dois dias a Hugo Chávez, para algum tipo de consultoria não governamental?

Provavelmente não. Deve ter sido só o jeito dela de mandar a imprensa calar a boca, enquanto sua tropa tentava reanimar o cadáver do ministro Lupi.

Como se sabe, isso não foi possível. A partir de segunda-feira, quando a presidente do Brasil voltou a resolver situações referentes ao Brasil, o cargo do companheiro trabalhista já estava vago. Apesar do cerco montado por Lula, a relatora da Comissão de Ética foi logo avisando publicamente que não mudaria suas conclusões. (Espera-se que ela tenha boas alternativas de trabalho em outro ramo. E bons advogados.)

E ficou difícil adiar o Brasil para segunda-feira porque, naquele momento, emergiu mais um dado do vasto currículo de Carlos Lupi: o acúmulo de cargos na Câmara dos Deputados, em Brasília, e na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. Esse excesso de malandragem acabou dificultando a mordaça na Comissão de Ética – e o ministro osso duro de roer virou pó.

Mas por que, afinal, a sobrevivência dele era ponto de honra para o governo popular?

Porque esse era o momento convencionado pelo estado-maior petista para iniciar a revanche contra "eles". E quem são "eles"? São o inimigo número um do povo: a imprensa burguesa e golpista, que insiste em se meter nos negócios privados dos companheiros dentro do poder público. Depois da queda do sexto ministro de Dilma no primeiro ano de governo, Lula anunciou o basta: dali para a frente seria "casco duro" contra o "denuncismo".

O sentido profundo do basta era evidente: ninguém pode parasitar o Estado em paz com um bando de jornalistas abelhudos mostrando isso para todo mundo.

Não deu certo porque, com imprensa livre, o cadáver moral começa a cheirar mal – e aí ninguém aguenta. Por isso é que o PT acaba de realizar mais um seminário sobre a "democratização dos meios de comunicação" (mordaça). É o único jeito de acabar com essa invasão de privacidade no Ministério de Dilma.

A taxa de câmbio no desequilíbrio fiscal - ANTONIO DELFIM NETTO

VALOR ECONÔMICO - 13/12/11

No território ocupado pela Eurolândia (17 países, entre os 27 da Comunidade Europeia que adotaram o euro como moeda), há registro de 25 séculos de graves conflitos. A destruição intermitente de vidas e do patrimônio físico acumulado ao longo desse tempo foi tão grande que justifica qualquer esforço para construir uma organização social que harmonize os interesses das partes e elimine a tentação da arbitragem militar.

A construção da Comunidade é obra política da maior importância, mas extremamente ambiciosa. Pretende estabelecer uma "paz perpétua" num continente construído pelos mesmos homens que deixaram a África há 150 mil anos. Com o tempo foram se separando em grupos hostis, devido à propensão à posse e à defesa do território que ocuparam e tenderam a ampliar. Descobriram há 12 mil anos a agricultura, domesticaram animais e começaram a organizar-se em torno de centros urbanos para obter de forma eficiente a sobrevivência.

Trata-se de uma construção política formidável, mas apoiada numa integração incompleta e controlada por regras insuficientes, o que lhe dá imensa fragilidade econômica. Às vésperas de sua fundação, apoiados em bons princípios teóricos, 150 notáveis economistas alemães num manifesto cáustico condenaram especialmente a prematura introdução da moeda única, o que, no longo prazo, poderia vir a destruir o sonho da comunidade.

Integração monetária não leva à igualdade entre os países
A crise do Lehman Brothers, a recessão americana e a fraqueza descoberta no sistema bancário mundial, acabaram por colocar luz sobre os problemas escondidos na estrutura da Eurolândia, devido: 1) ao simultâneo descumprimento das regras ajustadas em Maastricht; 2) ao fantástico efeito produzido pela credibilidade alemã nas taxas de juros dos papéis soberanos dos outros membros; 3) à expansão do crédito produzida pelo aumento da alavancagem do sistema financeiro, gerado pela crença que dispunha de fórmula segura para a estimação dos riscos; 4) à disposição dos poderes incumbentes de falsificarem a contabilidade; e, por último, mas não menos importante, 5) à "benção" das agências de riscos que, como os bancos centrais, não entenderam o terremoto que se estava construindo.

As dificuldades estavam ínsitas na construção do próprio euro quando se fixaram, em 1999, "para sempre e de maneira irretratável", as taxas de câmbio dos países-membros, sem integração fiscal verdadeira.

Para entender o que aconteceu de 1999 a 2010, é preciso verificar o que ocorreu internamente no euro, com as taxas de câmbio "virtuais". Tomemos o próprio euro, que valorizou-se em 12%, e dentro dele a dracma. Como se sabe, a melhor estimativa para a taxa de câmbio real é a relação taxa cambial nominal/custo unitário do trabalho. Em 12 anos, o custo do trabalho na Grécia cresceu 35%. Logo, a taxa "virtual" da dracma foi reduzida de 340,75 para 252,41 (340,75/1,33), para todas as exportações e importações gregas provenientes da própria Eurolândia, valorizando-se, "virtualmente", 26%.

Nas operações fora da Eurolândia, a dracma valorizou-se, também, 12% do euro, ou seja, passou de 340,75 para 225,36 (252,41/1,12). Logo, a taxa "virtual" da dracma valorizou-se 34%. No período as exportações físicas mundiais cresceram 82%, enquanto as gregas cresceram apenas 52%.

Tomemos a Alemanha. No mesmo período, a variação do custo unitário do trabalho foi de apenas 2%, de forma que a variação do valor do marco dentro do euro praticamente foi nula. Para operações fora da zona do euro, valorizou-se 12%. As exportações físicas cresceram 126% (contra 82% das exportações mundiais)!

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O gráfico mostra que, considerada em si mesma, a Eurolândia tem equilíbrio em conta corrente, com dramáticos superávits internos (Alemanha e Holanda) e déficits (França, Itália, Grécia, Espanha e Portugal), pelo menos em parte induzidos pelos desequilíbrios cambiais semeados pela evolução das próprias economias. Como financiar os déficits sem um aumento do endividamento ou uma redução de crescimento?

A integração monetária não leva à homogeneização dos países. Quando não há mais o risco do câmbio, as regiões se especializam e se diferenciam cada vez mais. Quem se expande em bens e serviços não transacionáveis não tem como financiar déficits, a não ser reduzindo crescimento ou aumentando endividamento. O problema cambial escondido na Eurolândia foi causa eficiente da questão fiscal.

CARTA DA VAGABUNDA DILMA PARA SR. NOEL


Setor elétrico - Agenda 2012 - ADRIANO PIRES e ABEL HOLTZ

O ESTADÃO - 13/12/11

O ano de 2011 foi caracterizado pelo total imobilismo do governo no setor de energia elétrica.Por consequência,a Agenda 2012 está repleta de questões que precisam ser resolvidas, caso contrário estaremos pondo em risco novos investimentos e a própria segurança de suprimento de energia elétrica no País.

As principais questões são: contratação da"energia velha"(contratos vencendo em 2012/2013); renovação das concessões; impactos socioambientais;e o Terceiro Ciclo de Revisão Tarifária.

A possibilidade de as geradoras venderem a "energia velha" em contratos de três anos,como sugeriu o governo, é uma solução de pouca aceitação quando se verifica que, mesmo no mercado livre,a maioria dos contratos tem vigência superior a quatro anos. Assim, se as geradoras fossem por esse caminho, a tendência seria a venda da energia ao valor do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), hoje de R$ 40/MWh, e não seria crível imaginar que os acionistas o aceitem, pois seria o mesmo que decretara insolvência das empresas.As suas receitas não estariam visíveis além de 2015. Mesmo se seguissem essa sugestão simplória, não poderiam se endividar para os necessários investimentos, pois os bancos, mesmo os oficiais, exigem garantias de receitas de no mínimo oito anos para empréstimos.

O tema renovação das concessões já foi muito explorado por diferentes agentes e analistas, e agora o mercado só espera ansiosamente a decisão do governo federal.

Cabe registrar o vencimento da concessão da Cespna Usina Hidrelétrica Três Irmãos, ocorrido em novembro deste ano e que poderia ser aditado por mais 20 anos.

As inadequadas e exageradas exigências ambientais no caso da geração e da transmissão - é sempre bom lembrar a submissão do planejamento e do investimento a interesses nem sempre claros ou pueris, aos quais infelizmente estamos nos curvando - nos levam a construção de hidrelétricas sem reservatórios, impedem a construção de termoelétricas a carvão, criam anteparos às nucleares e atrasam a construção das linhas de transmissão. Com isso, perdemos cada vez mais competitividade em nível mundial, apesar de termos geração renovável com preços dos mais baixos do mundo até pouco tempo. Enquanto isso, outros países continuam prometendo enquadrar suas emissões nos níveis discutido sem fóruns ambientais e pouco fazem de concreto; ao contrário, seguem construindo térmicas centrando sua decisão no atendimento das metas de crescimento econômico.

No caso das hidrelétricas, há ainda o risco estabelecido no marco temporal para a definição de nova regra nos contratos de concessões assinados antes da MP2.166-67/2001, que passou a exigir a aquisição ou desapropriação das áreas no entorno dos reservatórios. Essa exigência, num cálculo raso do custo embutido nas "novas APPs ao setor elétrico" de R$ 7 bilhões para a aquisição,recomposição e segregação de cerca de 100 mil km de perímetro em 130 grandes usinas hidrelétricas, mais a indenização de cerca de 60 mil edificações hoje inseridas nas áreas que deveriam ser segregadas, teria custo superior a R$15 bilhões.

A agenda da expansão e da operação do sistema elétrico também passará pela consolidação da estrutura do Terceiro Ciclo da Revisão Tarifária, tema de importância para o elo da cadeia representado pelas distribuidoras. O tema aprovado na agência reguladora é objeto de contestação pelas empresas quanto a algumas considerações e,como declarou o diretor- geral da agência, vai reduzir ofluxo de caixa das empresas.

Entendemos que a dedicação do governo a esses quatro temas, por si só, se constituiria numa agenda trabalhosa e complexa,que demandaria a conceituação e a elaboração de decisões que poderão exigir mudanças constitucionais, novas leis, regulamentações e outros dispositivos para encetar as ações para o encaminhamento de soluções de fato.

Isso vai exigir concentração em 2012 - ano de eleições municipais -, e sua procrastinação poderá levar a demandas judiciais sem fim previsível.

Futurologias - JOSÉ PAULO KUPFER

ESTADÃO - 13/12/11

As bolas de cristal dos economistas estão a toda, como sempre, nesta época do calendário. É hora de fazer o balanço dos erros e acertos das previsões para o ano que se encerra e de rodar os modelos de previsão para o ano que se inicia. Não há muita surpresa no fato de que houve desvios - e alguns bem grandes - nas projeções, em relação ao que realmente se verificou em 2011. Mas é de certo modo surpreendente o otimismo que surge nas telas dos computadores dos videntes econômicos, quando aparecem as projeções para 2012.

Para os especialistas dos departamentos de pesquisas dos grandes bancos e das consultorias de maior porte, a evolução da economia em 2012 será uma espécie de espelho invertido do que se assistiu em 2011. Ritmo lento no primeiro semestre, maior aceleração no segundo, para fechar o ano com expansão de pelo menos 3,5%.

A marcha, trimestre sobre trimestre, segundo os modelos de projeção, aponta para um crescimento gradual e crescente no próximo ano, No exercício futurológico dos economistas, o PIB avançará em torno de 1% de janeiro a março, alcançará entre 1,3% e 1,5% no segundo trimestre, acelerará para um pico perto de 2% de julho a setembro, e repetirá a dose, com ligeiro viés de acomodação, nos três últimos meses de 2012.

Maior surpresa ainda fica com as previsões para 2013. A curva projetada para a evolução do PIB pelos departamentos de análises econômicas de dois dos maiores bancos brasileiros é uma ladeira acima. Na comparação com os 12 meses anteriores, o PIB crescerá acima de 4,5% no primeiro trimestre, subirá para 5,5% no segundo, e escalará até 6% entre julho e setembro, fechando o ano com expansão de 5,5%.

Previsões desse tipo, com suas pretensões científicas, na verdade, são mais úteis como referência para delimitar o "estado de espírito" não só do ambiente econômico, mas também de um importante grupo de formadores de opinião - capazes em alguma medida de influenciar, com suas profecias, o próprio rumo dos acontecimentos. Mas estão sempre sujeitas às chuvas e trovoadas metodológicas e aos percalços dos modelos de projeção utilizados.

Ano passado, nesta mesma época, a mediana das previsões para 2011 coletadas pelo Boletim Focus - divulgado semanalmente pelo Banco Central, com base nas estimativas do mercado financeiro - apontava um crescimento do PIB de 4,5%, e não vai dar mais de 3%. A inflação, medida pelo IPCA, por sua vez, ficará em torno de 6,5%, mais de 1 ponto acima dos 5,21% previstos. E os juros básicos fecharam 2011 em 11% ao ano, bem menos que os 12,25% projetados.

Também não chegaram perto do alvo as previsões de crescimento industrial, que mal passará de 2%, quando estava projetado em 5,35%. Sem falar nos costumeiros e mais fortes desvios nas projeções para as contas externas. O saldo da balança comercial será quatro vezes maior do que o previsto no fim do ano passado, o déficit em conta corrente U$ 10 bilhões menor do que o estimado e o volume de investimento externo direto, o dobro do projetado há um ano.

Condicionante especial - o desenrolar da crise do euro ao longo do ano - está na base das previsões para a economia brasileira em 2012. São três os cenários principais: 1) a crise do euro não será inteiramente superada nem ocorrerá uma ruptura do sistema do euro; 2) a situação chegará ao ponto de ruptura; e 3) o Banco Central Europeu (BCE) adotará posição mais agressiva no socorro às economias encalacradas da região.

A hipótese número 1 - um cenário do tipo "empurra com a barriga" - é considerada a mais provável. Nesse caso, os estímulos à disposição do governo brasileiro serão suficientes e capazes de compensar o impacto negativo que viria da economia internacional, permitindo a recuperação prevista nas projeções otimistas.

Um rompimento da zona do euro, de outro lado, jogaria a economia brasileira numa situação semelhante à de 2008, com rápida trajetória para a recessão e o uso acentuado dos instrumentos de alívio fiscal e monetário. Já a alternativa de rápida reversão da crise na Europa traria expansão mais forte e mais acelerada à economia brasileira, trazendo o risco de pressões inflacionárias, se a política econômica não for recalibrada a tempo.

Um arranjo virtuoso de juros mais baixos, aumento dos investimentos público e privado, corte de impostos ou isenção temporária de tributos e estímulos ao crédito, revertendo travas macroprudenciais, está na base da lógica macroeconômica que sustenta as otimistas futurologias econômicas do momento.

Encaixar tudo isso numa equação que não extrapole as metas de inflação e de superávit fiscal é que são elas. Mas algum transbordamento também já está previsto e não parece ser motivo para ninguém querer arrancar os cabelos.

O número um - DENISE ROTHENBURG



Correio Braziliense - 13/12/11


Muitos países têm lá algumas questões sobre as quais, quando falam, todos param para ouvir. O Brasil tem agora a chance de ocupar esse lugar em temas ambientais



Salva pelo gongo com um acordo que só produzirá efeitos práticos depois de 2020, a Conferência sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), em Durban, na África do Sul, mostrou que, entre a crise econômica internacional e o investimento numa "economia verde", os países preferem trabalhar para tentar sair do redemoinho econômico e, depois, pensar no "resto". O tal Fundo Verde, criado na Conferência de Cúpula, em dezembro de 2010, em Cancún, continua como uma promessa distante.

Para refrescar a memória, há um ano, representantes de 193 nações definiram a criação de um fundo de US$ 100 bilhões anuais disponíveis a partir de 2020 para auxiliar os países não desenvolvidos a preservar o meio ambiente. Mas ficou aí. Não se fixou a fonte de receita, a partir de quando os recursos serão arrecadados, quem iria gerir e quem terá direito a receber. Ou seja, o lado prático da vida ficou para ser estudado e os tomistas consideraram que, em Durban, seria possível clarear mais essas questões.

A Conferência sul-africana chegou e nada foi feito. Parte da delegação brasileira, em especial, a parlamentar, saiu meio frustrada com a falta de decisões. A única vantagem da Cop-17, avaliam especialistas, foi o fato de a China e os Estados Unidos terem assinado o acordo e se comprometido com as reduções futuras. Para uma conferência que muitos apontaram como fadada ao fracasso, por conta da falta de pré-acordos ao longo do ano, foi a salvação da lavoura ou, melhor, da floresta.

Os presidentes de vários países dispensaram a reunião de Durban. Só o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, abriu o encontro e, ainda assim, o discurso preparado ficou pela metade porque as folhas estavam fora de ordem e Zuma, cioso da importância do tema, se viu obrigado a optar pelo improviso. Do governo brasileiro, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, não pôde acompanhar todos os debates por causa da votação do Código Florestal. Mas, ainda assim, sua equipe estava lá desde o início e o Brasil fez sua parte defendendo o Protocolo de Kyoto, prorrogado até 2017.

Janela
O Brasil fala do alto de quem está no topo da lista no quesito redução de emissões de gases tóxicos. Os brasileiros que participaram da conferência do clima, em Durban, caso da senadora Vanessa Graziotin (PCdoB-AM), voltaram para casa certos de que o Brasil não pode perder a chance de ser o primeiro nessa questão do meio ambiente. Muitos países têm lá algumas questões sobre as quais, quando falam, todos param para ouvir. Quando a Inglaterra fala sobre bancos, ou quando os Estados Unidos falam sobre tecnologia, todos escutam. O Brasil não tem essa posição em nenhum tema. Talvez no futebol ainda carregue essa marca de ser o primeiro, por causa do número de títulos mundiais que tem — uma posição que rendeu o slogan "todo mundo tenta, mas só o Brasil é penta".

Vencer no futebol, no entanto, é pouco para quem deseja um lugar de destaque e respeito em todo o mundo. Houve um lampejo de liderança ainda no combate à fome quando o presidente Lula, no início de seu primeiro mandato, propôs a todos um programa mundial. Depois, entretanto, até o tal programa ficou a ver navios. Agora, mais uma janela se abre: o país, dizem alguns, ainda tem algum colchão para tentar escapar da crise econômica internacional, apesar do crescimento econômico zero registrado no último trimestre. Portanto, há folga para tentar jogar pesado em favor da chamada economia verde.

A ideia é aproveitar a Conferência de Desenvolvimento Sustentável da ONU, a Rio+20, daqui a seis meses, para se colocar como protagonista nessa área. Mas, para isso, a presidente Dilma Rousseff tem de começar a trabalhar já, dentro de um projeto nacional de desenvolvimento sustentável que ainda não apareceu. Se não vier até julho do ano que vem para ser exibido na Rio+20 e na largada da eleição municipal, essa chance de ocupar o alto do pódio pode escorrer pelos dedos. Afinal, se Durban foi apenas uma carta de boas intenções, é sinal de que o mundo ainda não está muito ligado nesse tema. E quem se ligar e agir primeiro levará vantagem no futuro.

Por falar em Dilma...
Os políticos que quiserem cumprimentar pessoalmente a presidente Dilma pelo seu aniversário, nesta quarta-feira, devem correr. A presidente decidiu apagar as velinhas em Porto Alegre ao lado do neto, Gabriel. Ela vai hoje para um evento e fica por lá até amanhã.

Escolher melhor - LUIZ GARCIA


O Globo - 13/12/11


Muita gente boa acredita que a sabedoria é irmã da honestidade. Pelo menos, que deveria ser. Minha geração, pelo menos, escapou dessa forma de ingenuidade graças ao que aprendíamos desde cedo no principal instrumento cultural à nossa disposição naqueles anos sem televisão: as histórias em quadrinhos.

Nelas, os heróis podiam ser fortes como ninguém e até voar, mas não faltavam vilões de alta sabedoria, cientistas loucos que inventavam sofisticadíssimas armas de destruição, quando não criavam monstros tão horríveis quanto fortões, que ganhavam todas as paradas contra os mocinhos bonitões.

Exceto no último quadrinho ou no último episódio da fita em série, naturalmente.

Com o passar dos anos, a gente vai deixando para trás as lições da infância - o que talvez seja uma leviandade - e é surpresa desagradável descobrir no jornal de domingo que, como nos quadrinhos de antigamente, a sabedoria nem sempre anda de mãos dadas com a honestidade.

Ficamos sabendo que em pelo menos 16 universidades federais, espalhadas por 13 estados, descobriu-se que reitores e outros dirigentes estão sendo investigados ou processados por manterem relações indevidas com recursos públicos.

O campeão do mau comportamento parece ser o reitor da Universidade do Piauí, Luiz de Souza Santos Júnior, que responde a sete processos disciplinares e mais ações na Justiça e inquéritos no Ministério Público Federal e na Polícia Federal. Mas não se pense que a farra do boi acontece apenas em estados modestos: há reitores sendo investigados ou já respondendo a processos em Brasília, São Paulo e no Rio. Ao todo, problemas acontecem em 16 universidades. Como se dizia antigamente, do Oiapoque ao Chuí.

Investigações e processos estão sendo tocados, ao que parece, com a necessária energia. O que é muito bom, mas não basta. Falta averiguar algo essencial: por que as reitorias, do Chuí ao Oiapoque, são tão vulneráveis à corrupção?

Seria ingenuidade acreditar que em todas elas as tentações sejam tão poderosas que provoquem a desonestidade em educadores previamente honradíssimos. O problema pode ter raiz no processo de seleção. Nada impede, de forma alguma, uma enérgica temporada de caça aos maus educadores. Mas tudo aconselha um exame severo nos critérios de seleção de novos reitores.

GOSTOSA


Mulheres e livros - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 13/12/11

Com a eleição de Ana Maria Machado para presidir a ABL, o setor de livros virou uma espécie de clube da luluzinha. Sônia Machado Jardim dirige o Sindicato Nacional dos Editores de Livros e Karina Pansa, a Câmara Brasileira do Livro.

Conselho do Rio

Eduardo Paes lança quinta o Conselho da Cidade formado por 200 pessoas apaixonadas pelo Rio. Vão discutir o futuro da cidade até 2030. Entre eles, o alagoano Cacá Diegues, o maranhense Ferreira Gullar e o cearense Luiz Carlos Barreto.

Samba no cemitério

Uma ala da Beija-Flor ensaiará no cemitério. Serão 70 componentes, que lembrarão Ana Jansen, descendente da nobreza europeia que virou alma penada, segundo o folclore de São Luís. A ala “Assombrosa tirania” terá 32 zumbis que mostrarão a energia dos mortos. Por isso, Hilton Castro, coreógrafo da escola, levará os componentes para ensaiar entre as sepulturas: — É um laboratório, para captarmos a energia das tumbas. É. Pode ser.

Chapéu preto
Lula tem usado um chapéu preto que lembra um pouco o de Padre Cícero. No mais: que nosso “Padim” proteja o ex-presidente, e a nós não desampare.

Tripa lombeira
O Samba Book de João Nogueira sai em março, pelo selo Musickeria, com muitas histórias do saudoso músico. João era fã da macarronada da Marrom e ia até Oswaldo Cruz para traçar a tripa lombeira temperada pela Tia Surica.

O SANTO INÁCIO, tradicional colégio católico que fica em Botafogo, no Rio, está restaurando um importante conjunto escultório do calvário, repare nas imagens. As obras pertenciam à primeira igreja dos jesuítas construída no Rio, no Morro do Castelo, em 1567, e estão no colégio desde 1922. A previsão é que fiquem novinhas em folha em março de 2012. Amém

Descoberta do Brasil
Os gringos que desembarcarem no Galeão, no Rio, semana que vem, serão recebidos por dançarinos e vão ganhar mimos com as cores do Brasil. É a Embratur celebrando a marca inédita de 5,4 milhões de turistas estrangeiros no país em 12 meses.

Musical dos milhões

O Ministério da Cultura autorizou os produtores desta nova edição do espetáculo “Hello, Dolly”, com Marília Pêra e Miguel Falabella, a captarem R$ 4.462.600.

Petróleo é nosso

Os Correios, em parceria com a Petrobras, lança amanhã um selo para comemorar os 70 anos de início da produção do primeiro poço de petróleo economicamente viável do país. É o Candeias-1, no Recôncavo baiano.

Semelhança... O Espírito Santo gera polêmicanas redes sociais.Tem gente que diz que a logomarcado governo estadual (àdireita) seria plágio da ogo dacidade de Berlim (à esquerda).

É muita gente

O maior desafio do Comitê Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude 2013 é achar no Rio um lugar para reunir umas 2,5 milhões de pessoas ou umas... 15 Copacabanas.

Portinari a giz

A Mocidade Independente levará à Sapucaí um setor inteiro pintado com giz de cera. Serão cinco alas com 80 componentes cada e um carro alegórico com uma escultura de Dom Quixote. Alexandre Louzada, o carnavalesco, vai consumir 7.800 gizes na pintura. O enredo homenageia Cândido Portinari.

Meningite

A Secretaria estadual de Saúde identificou cinco casos de meningite na localidade de Jacaré, em Cabo Frio. Amanhã, fará vacinação na comunidade.

Grande Hotel

A prefeitura do Rio publicou no DO de ontem a autorização de construção do Hotel Well Sunflower no Recreio. É um quatro estrelas com 279 quartos.

Preços salgados

Sabe quanto custam a cerveja e o peixe nas praias de Búzios? A Itaipava long neck sai por R$ 5 e o peixe, uns R$ 90. E o verão ainda nem chegou.


CHRISTIANE TORLONI, a bela e chiliquenta Tereza Cristina, em “Fina estampa”, da TV Globo, posa em evento dos designers Marzio Fiorini e Francesca Romana Diana, que lançaram a coleção Magia e Desejo, no Rio

O “HARÉM” DO
 nosso Jorge Bastos Moreno: Maria Fernanda Cândido, Preta Gil, Carolina Dieckmann, Maria Ribeiro e Camila Morgado

SÉRGIO CABRAL dirige um carro elétrico em Visconde de Mauá, no Rio, e, repare na foto, dá carona ao seu vice, Pezão, e ao secretário Carlos Minc. Não é fofo?

O show precisa continuar - RODRIGO CONSTANTINO


O GLOBO - 13/12/11

Tudo que um governante mais deseja é uma desculpa para aumentar gastos. Quando ela vem embalada por uma teoria econômica, melhor ainda. Eis o que explica a popularidade do "desenvolvimentismo". Ninguém gosta de austeridade quando está no poder.

A economia brasileira ficou estagnada no terceiro trimestre, e deve crescer menos de 3% este ano (o ministro Guido Mantega previa 5,5%). Falta ao país uma dinâmica sustentável de crescimento. Mas, como o governo não faz reformas estruturais que permitiriam um vôo de águia, resta retomar os estímulos artificiais e produzir novo vôo de galinha.

Os "desenvolvimentistas" apontam apenas em uma direção. Nunca se lembram do termo "anticíclico" na era da bonança. É raro ver um deles pregando redução de gastos públicos ou aumento de juros durante os momentos de rápido crescimento e risco inflacionário. Nestas horas eles somem. Quando a economia ameaça esfriar, eles voltam demandando estímulos. O foco é sempre no curto prazo. Como disse o grande guru deles, "no longo prazo estaremos mortos". Esquecem que hoje é o longo prazo de alguns anos atrás.

O governo Dilma já anunciou novos pacotes de estímulos e mais aporte de capital nos bancos públicos. Onde foram parar aqueles "cortes" prometidos de R$50 bilhões nos gastos públicos? E a redução dos empréstimos do BNDES? A "Bolsa-Empresário", ao contrário, vai receber mais recursos! O problema é que cada novo estímulo produz mais inflação que crescimento. O resultado pode ser a conhecida estagflação.

O governo brasileiro parece mirar no modelo chinês, mas ignora diferenças cruciais. A China pratica a maior arbitragem de mão de obra da história, mergulhando tardiamente em sua revolução industrial, com um exército de chineses dispostos a trabalhar 18 horas diárias por salários pífios. O investimento passa de 40% do PIB, mais que o dobro do Brasil.

Mesmo assim, há claros sinais de esgotamento do modelo chinês. A inflação incomoda e houve péssima alocação de capital, pois as decisões são políticas, com desrespeito ao livre mercado. O governo realizou um gigantesco programa de estímulo após a crise de 2008, mas a conta chegou. Será inviável continuar crescendo 10% ao ano. A desaceleração chinesa vai gerar impactos negativos em nossa economia, dependente da exportação de recursos naturais.

O modelo mais parecido com o nosso pode ser, na verdade, o argentino, com acelerada inflação, controle estatal crescente e perda gradual de competitividade. O governo populista de Kirchner tenta quebrar o termômetro em vez de consertar os rumos da economia. O IBGE de lá, que calcula a inflação, foi politizado e perdeu totalmente sua credibilidade. Ainda não estamos nesse estágio. Mas quem garante que o governo, no desespero de salvar o crescimento imediato a qualquer custo, não vai seguir esta trilha? O risco claramente existe.

A conta das políticas "desenvolvimentistas" vai chegar cedo ou tarde, com juros. Enfrentar a dura realidade não será tarefa fácil. O crescimento sustentável depende de investimentos em capital físico e humano, além de um ambiente favorável aos negócios. Tudo aquilo que nos falta. O governo brasileiro expande o crédito público, reduz os juros na marra, sobe o salário mínimo por decreto, arrecada imposto demais, e gasta muito mal. Trata-se claramente de um modelo insustentável, com foco demasiado no curto prazo.

A economia brasileira ganhou na loteria chinesa e está gastando por conta, hipotecando seu futuro. Parece uma cigarra irresponsável, acreditando que o verão será eterno. Mas o inverno inexoravelmente chegará. O governo não tem como impedir este fato com mais estímulos. Isso pode apenas postergar um pouco o encontro com a realidade. Em contrapartida, aumentará o sofrimento futuro também. Não existe almoço grátis.

O "desenvolvimentismo" nunca conseguiu produzir prosperidade de forma sustentável. Ele ignora as verdadeiras causas da riqueza das nações. Ao focar somente no curto prazo, e ao depositar uma fé ingênua na capacidade do governo de atuar como locomotiva da economia, a cartilha "desenvolvimentista" estará sempre fadada ao fracasso. Não será diferente desta vez.

O Brasil pode estar na moda. Mas moda passa. Melhor aproveitar enquanto a festa continua, pois depois virá a ressaca e não vai adiantar culpar o "mercado" (vide a Europa). As sementes da próxima crise foram plantadas pelo próprio governo. Mas quem liga? O show precisa continuar. Afinal, vem eleição aí...

RODRIGO CONSTANTINO é economista.

Inglaterra, depois do 'não' - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 13/12/11


O primeiro ministro britânico David Cameron não tem nenhuma semelhança com Winston Churchill. Falta a truculência, a fisionomia jovial e colérica, a desenvoltura provocante de Churchill. Com uma aparência de jovem bem educado, bem nutrido, gentil e elegante, distinto, traços finos, ele não intimida os adversários como o grande Churchill, que era respeitado por personagens temíveis como Roosevelt, Stalin ou o general de Gaulle.

David Cameron também não se parece com Margaret Thatcher, a ex-primeira ministra da guerra das Malvinas que, nas reuniões de cúpula europeia, batia na mesa com sua bolsa e gritava: "Meu dinheiro! meu dinheiro!", que, aliás, permitiu que ela conseguisse em 1984, da parte da Comunidade Europeia, o "famoso desconto britânico".

Cameron não grita. Tem a voz apagada da "nobreza" britânica. Quando o vemos, procuramos vagamente em volta um grande parque, um gramado e um equipamento de caça de raposas ou cervos saídos da Idade Média.

Mas é bom não confiar nas aparências: ao se colocar contra os 26 países da União Europeia, Cameron adotou a postura preferida pelos britânicos: solitário, teimoso, inflexível. "Somos uma nação insular, uma nação guerreira e estamos muito melhor sozinhos", exultou o Financial Times.

A população britânica aprova esse comportamento. Os ingleses não temem o "esplêndido isolamento". Estão tranquilos. Uma porcentagem de 62% dos britânicos aprovaram a decisão de Cameron de vetar o plano Merkel/Sarkozy, contra 19% apenas que acham que ele está errado. O problema é que, entre esses 19% estão os "liberais democratas", pró-europeus apaixonados e que pertencem à coalizão liderada pelo premiê.

O chefe dos "lib-dem", o vice-premier Nick Clegg, que inicialmente pareceu aceitar a posição de força do seu chefe David Cameron, voltou atrás depois de levar uma bronca dos seus amigos pró-europeus.

"Estamos isolados na Europa e diminuídos à vista de Washington", vociferou o influente Paddy Ashdown. E a liberal democrata Shirley Williams foi mais além: "Isso vai reduzir nossa influência em Washington, Pequim, Nova Délhi, e em todas as capitais que valorizam a influência que acreditam que temos em Bruxelas".

Os conservadores rejeitam a alto e bom som tais frivolidades.

Detestando a União Europeia desde a Guerra dos Cem Anos, olhando com desdém esse "conglomerado de hordas selvagens" que se agita entre o Vístula e a França, estão exultantes. Ao chegar a um jantar oferecido por seus amigos Tories, Cameron foi recebido com uma longa ovação, ritmada por 50 mãos batendo nas mesas.

Podemos assim imaginar que a coalizão no poder na Grã-Bretanha vai se transformar num campo de rudes batalhas. O ponto de vista das duas alas que formam a maioria de Cameron, longe de se aproximar se afasta a cada momento: os liberais democratas se dizem decididos a restabelecer os vínculos com os países da Europa e consolidar o lugar que Londres ainda conserva dentro da UE, apesar das tempestades do momento.

Os conservadores, pelo contrário, querem "atiçar o fogo". Desejam que o veto de sexta-feira seja apenas o primeiro passo, preparando uma saída de fato da Europa. A sua ideia é organizar um referendo sobre o assunto na Grã-Bretanha, com vistas a uma saída pura e simples da UE.

Podemos calcular os riscos que esses delírios representam para a unidade da coalizão atualmente no governo, que está se dilacerando por causa da Europa. As próximas eleições legislativas estão previstas para maio de 2015. Será muita pretensão acreditar que a atual equipe conseguirá se manter no poder até aquela data. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Tratamento na marra - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 13/12/11

SÃO PAULO - É pena que o plano anticrack do governo, que acerta em vários pontos, como a criação de mais leitos para dependentes químicos (um dos gargalos do SUS) e a ampliação dos "consultórios de rua", retroceda 40 anos ao incentivar internações involuntárias.

Se a ideia, como defendeu o ministro da Saúde, é utilizar o instrumento apenas em situações nas quais há risco de vida imediato para o dependente, a figura jurídica da internação involuntária, prevista na lei n° 10.216/01, é desnecessária.

Basta encaminhar o paciente em emergência relacionada a drogas -que, em geral, está inconsciente- para o hospital e, dois ou três dias depois, quando estiver estabilizado e já não houver perigo iminente, oferecer-lhe a oportunidade de tratamento psiquiátrico. Se ele quiser, submete-se a uma internação voluntária e, se não quiser, volta para casa ou para as ruas, como é mais comum.

É claro que essa não é uma solução perfeita, pois uma das características da compulsão por drogas é não querer afastar-se delas. É até verossímil que exista um grupo de dependentes que, do ponto de vista sanitário, poderia beneficiar-se de tratamento a contragosto. O problema é que há mais coisas envolvidas aqui do que a saúde deste ou daquele paciente.

Em termos institucionais, incentivar o uso de internações involuntárias é perigoso. Trata-se, afinal, do equivalente jurídico de um artefato nuclear, uma ferramenta que permite a um médico qualquer decidir que alguém precisa de tratamento e assim privá-lo de sua liberdade indefinidamente e sem direito a contraditório. Os controles externos são poucos e fracos e, se o sujeito não tem família, não haverá quem represente seus interesses contra o médico.

Seria interessante testar a constitucionalidade da 10.216/01. Ela talvez não passasse incólume pelo STF. Nos EUA, nos anos 1970, várias decisões judiciais limitaram bastante as possibilidades de internação forçada.

Aos fatos - SONIA RACY

O ESTADÃO - 13/12/11

Nas investigações sobre o “sumiço” do cacique guaranikaiowá Nísio Gomes, em 18 de novembro, o Ministério da Justiça já chegou a algumas conclusões: participaram da invasão do acampamento, no Mato Grosso do Sul, somente seis pessoas –- e não 40, como se falou. E as balas usadas eram de borracha.
Até agora, a Justiça nada sabe sobre o paradeiro do corpo. Ou até mesmo se há corpo a ser encontrado.

Boi na linha
Nembem fechou negócio com a BRF, a Marfrig está sendo questionada na Câmara. Carlos Magno, deputado do PP, entrou com pedido na Comissão de Finanças e Controle, solicitando ato de fiscalização.
Quer entender melhor a relação Marfrig-BNDES.

Vai ou não vai?
Suspense: Silvio Santos aceitará convite para ser garoto-propaganda da Devassa?
O apresentador ainda não respondeu à cervejaria e já está de férias em Miami. Só se demonstrar interesse é que será discutido o... cachê.

Sayonara
Nesta eleição para prefeito de SP, “todos são japoneses”.
Foi essa a metáfora usada ontem por FHC, durante entrevista à rádio Estadão/ESPN, para dizer que os atuais candidatos são absolutamente desconhecidos da população.

Corrida de vices?
Háquemavalie que o resultado da pesquisa Datafolha do fim de semana inflacionou o mercado de vices. Celso Russomanno (PP) e Netinho de Paula (PCdoB) agoraterãodesercortejados em dobro para abrir mão da candidatura própria.
Mas petista minimiza a tese. Haddad, no momento, tem como foco principal os partidos com mais tempo na TV: PMDB, PDT e PR.

Os desesperados
Tem gente na Secretaria da Cultura, em São Paulo, arrancando os cabelos. É que Alckmin está demorando para assinar liberação de R$ 14 milhões da renúncia fiscal do ICMS.

Pingos nos is
Maria do Carmo, proprietária da Flor&Forma, esclarece que o buquê do casamento dos Alckmins chegou, sim, ao Emiliano na hora certa. Foi a noiva que desistiu de se vestir no hotel.

Merry Xmas
Vistos almoçando ontem no Parigi, em São Paulo, Fernando Pimentel e Márcio Thomaz Bastos. A conversa deve ter girado em torno de... Papai Noel.
Em outra mesa, Delfim Netto, Flavio e Paulo Maluf.

Off field
Neymar vale quase três vezes mais que o elenco inteiro do Kashiwa Reysol–time que o Santos enfrenta, amanhã, na semifinal do Mundial da Fifa.
O craque está avaliado no mercado internacional em R$ 122 milhões. Os 22 jogadores do time japonês? Menos de R$ 44 milhões.

Ressaca cara
O célebre conhaque Louis XIII passará a ser vendido na loja Tania Bulhões. Amanhã, ela reúne 25 amigas e clientes para, em uma espécie de confraria relâmpago, degustar o precioso líquido.
A bebida é envelhecida por cem anos na região de Grande Champagne, na França. Depois, transferida para garrafas de cristal, ornamentadas com ouro 18k. Preço? R$ 10 mil.

Na frente
FHC autografa, amanhã, livro sobre seus 80 anos. Na Cultura da Paulista.

Fábio Feldmann palestra no lançamento de seu novo livro. Hoje, na Livraria da Vila da Lorena.

Sophia Alckmin e Cris Tamer abrem nova loja Martha Medeiros. Hoje, nos Jardins.

Black Linhares expõe, desde ontem, na Mercearia São Roque, nos Jardins.

LuizAquila abre mostra,hoje, na Patricia Costa Galeria.

Foi notada a boa atuação de Charlene Chagas no filme Desaparecidos. Que estreou no fim de semana.

O Teatro Para Alguém completa 3 anos. Com transmissão, ao vivo pela web, do texto Enquanto Estiver Aqui, de Rafael Vogt Maia.

GOSTOSA


O que é lobby? - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 13/12/11

Sempre considerei o (ainda) ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, um dos bons quadros da política nacional, e escrevi aqui uma coluna, quando ele foi reeleito prefeito de Belo Horizonte, definindo-o como "um petista light" ou, na sua própria definição, "um petista não xiita", que sabe que os avanços da sociedade brasileira fazem parte de um processo de mudança que vem se acumulando ao longo dos últimos anos, consolidado a partir da implantação do Plano Real, em 1994.
Ele, na ocasião, comemorou a reeleição de Lula como um sinal confirmador de que o país rumava para ser uma sociedade menos excludente.
Economista com mestrado em Ciência Política, Pimentel via com otimismo o processo político do país, considerando que, para além das crises do mensalão, dos dossiês, das CPIs, da crise ética que dominava a discussão política, existia uma movimentação subterrânea que muitas vezes não é sentida por quem está envolvido no dia a dia da política, mas que tem uma pujança semelhante aos movimentos políticos dos anos 30 que levaram à modernização do país. Pimentel mantém com o governador Aécio Neves uma relação mais que cordial, de parceria mesmo, e é um dos petistas que defendem a aproximação do PT com o PSDB.
Considera que os dois partidos têm projetos semelhantes para o país, sintonizados com essa busca de uma sociedade menos injusta. Essa união seria necessária para aprovar no Congresso as reformas estruturais de que o país necessita para crescer.
Por isso, surpreendi-me quando o noticiário da campanha presidencial de 2010 o flagrou como o organizador de uma verdadeira tropa de choque no comitê de Dilma, com a contratação de arapongas e jornalistas para espionar adversários de dentro e de fora do partido, e preparar dossiês contra o candidato do PSDB, José Serra, inclusive com a quebra de sigilo de parentes do tucano.
Superada essa crise, que tirou seu protagonismo na campanha mas não na equipe ministerial depois da eleição de Dilma Rousseff, ele confirmou seu prestígio pessoal com a eleita, mesmo que no PT houvesse - e ainda haja - grupos importantes que não lhe perdoam a aproximação com o tucano Aécio Neves.
Encontrei-o meses atrás em um restaurante no Rio, e em rápida conversa, constatei que continuava com o mesmo pensamento.
Estava satisfeito com a carta com que a presidente Dilma cumprimentara o ex-presidente Fernando Henrique pelos seus 80 anos, chamando-o de "estadista", e me disse que a solução para a governabilidade passava por um acordo político com o PSDB, que desse prioridade a programas e não ao fisiologismo. A revelação de que o ministro Fernando Pimentel estava às voltas com "consultorias" mal explicadas me pareceu, no primeiro momento, uma represália política de seus desafetos internos no PT mineiro, tese que continua sendo a mais provável até o momento.
Mas, a cada explicação que Pimentel dá sobre suas "consultorias", mais me convenço de que ele pode ter sido vítima de um "fogo amigo". Mas deu motivos para tal, expôs-se à sanha de seus inimigos.
O mesmo, aliás, ocorreu com o ex-ministro Antonio Palocci, outro petista que, no meu ponto de vista, tinha uma visão política de longo prazo e ajudava no desenvolvimento de um processo político menos selvagem, abrindo chances para o diálogo.
Palocci, no entanto, caiu duas vezes por questões morais que o inviabilizaram para essa tarefa. A quebra do sigilo do caseiro Francenildo Pereira na Caixa Econômica foi um absurdo totalitário inconcebível numa democracia.
Já as "consultorias" deixaram a sensação de que não podiam ser explicadas com provas materiais, o que inviabilizou sua presença no governo.
Com o (ainda) ministro Fernando Pimentel aconteceu a mesma coisa, com pequenas diferenças. A mais notória é a diferença de cifras: R$2 milhões de um contra R$20 milhões de outro.
Seus amigos tentam usar a diferença para minimizar o caso de Pimentel, o que, a meu ver, não faz sentido. O faturamento, não podendo ser explicado por documentos e provas, tem a mesma origem duvidosa nos dois casos e coloca a suspeição de tráfico de influência de dois petistas importantes, dois ex-coordenadores da campanha presidencial.
A mais recente tentativa de reduzir a gravidade do caso de Pimentel é comparar suas "consultorias" a um lobby empresarial, o que não seria crime, mas atuação usual no Congresso.
O fato de ser usual não retira a ilegalidade do ato. Mas o caso chama atenção para a necessidade de regulamentação do lobby, uma função que existe nas democracias e tem nos Estados Unidos a origem do nome e da atividade, totalmente legalizada.
Os lobistas eram aqueles que ficavam no lobby (entrada) do Congresso tentando influenciar os parlamentares com seus argumentos a favor deste ou daquele projeto.
Quando ocupou a presidência da Câmara dos Deputados, no final da década de 70, Marco Maciel instituiu o credenciamento dos "lobistas", apenas para dar um ar de organização a uma atividade que sempre foi exercida nas sombras, mas cujos executores são bastante conhecidos de todos.
Eleito Senador, apresentou em 1983 um projeto de lei para regulamentar a atividade de "lobby" no Congresso Nacional, projeto aprovado seis anos depois e que, desde então, permanece engavetado na Câmara dos Deputados.
No Artigo 1º, diz: "as pessoas físicas ou jurídicas que exercerem qualquer atividade tendente a influenciar o processo legislativo deverão registrar-se perante as Mesas Diretoras do Senado Federal e Câmara dos Deputados".
Para obter o registro, os interessados - pessoas físicas ou jurídicas - deveriam fornecer declaração, entre outros, do capital social e, depois de registrados, ficam obrigados a declarar o recebimento de qualquer doação.
Os lobistas registrados teriam ainda a obrigatoriedade de prestar contas, de seis em seis meses, dos gastos relativos à sua atuação. O objetivo principal era criar condições para "prevenir e expurgar eventuais tentativas de canalização de interesses inadequados e da má influência do poder econômico, que possam distorcer as decisões das duas Casas de representação popular".
Se estivesse em vigor, talvez Fernando Pimentel pudesse provar a lisura de seu procedimento.

Homofobia não é crime - JOÃO PEREIRA COUTINHO


FOLHA DE SP - 13/12/11

É perfeitamente legítimo que um heterossexual não goste de homossexuais, como é legítimo o inverso


É um erro comum: alguém escreve sobre o julgamento de Oscar Wilde em 1895 e o apresenta como o momento infame em que a sociedade vitoriana resolveu reprimir "o amor que não ousa dizer seu nome".
Admito que essa versão faça as delícias das patrulhas, para quem Wilde virou mártir, ou santo. Mas, ironicamente, a perdição de Wilde não começou com a intolerância da sociedade vitoriana.

Começou quando o próprio decidiu limpar o seu nome das acusações "homofóbicas" do marquês de Queensberry, pai do seu amante Lord Alfred "Bosie" Douglas.

Se Wilde tivesse ignorado um mero cartão pessoal do marquês, onde este tratava o escritor por "sodomita", jamais teria ido parar na prisão de Reading Gaol.

Mas Wilde, em gesto inusitado para seu temperamento irônico, não gostou que se dirigissem a ele como homossexual. Partiu para a Justiça, processando o marquês.

Foi no decurso do julgamento que o jogo virou e Wilde, de alegada vítima, passou a réu. Sobretudo quando a defesa do marquês resolveu arrolar como testemunhas alguns rapazes que tinham sido, digamos, íntimos de Wilde.

A Justiça não gostou e condenou o escritor. Não porque ele era homossexual, entenda-se -a "buggery", mais do que um desporto, era até uma forma de iniciação entre "gentlemen" nos colégios de Eton ou na Universidade Oxford. Mas porque agitara as águas de forma demasiado ruidosa numa sociedade que gostava de manter os seus vícios em privado.

Hoje, a condenação de Wilde pode parecer-nos de uma hipocrisia sem limites. Não nego. Mas existe uma outra moral na história: valerá a pena criminalizar a homofobia, como Wilde tentou fazer ignorando os conselhos dos seus amigos próximos, quando se despertam no processo outros abusos inesperados?
Marta Suplicy entende que sim e, em artigo nesta Folha, defende lei para criminalizar o "delito".

Infelizmente, a sra. Suplicy confunde tudo na discussão do seu projeto: homofobia; crime homofóbico e medicalização da homossexualidade. Como diria um contemporâneo de Wilde, Jack, o Estripador, vamos por partes.

Começando pelo fim, ninguém de bom senso defende que a homossexualidade é uma doença mental. Não é preciso consultar a Organização Mundial da Saúde para o efeito. Basta olhar para a história da espécie humana -e, mais ainda, para a diversidade do mundo natural- para concluir que, se a homossexualidade é loucura, então boa parte da criação deveria estar no manicômio.

De igual forma, ninguém de bom senso negará que persistem crimes medonhos contra homossexuais, seja no Brasil ou na Europa, porque os agressores, normalmente homossexuais reprimidos, não gostam de se ver no espelho.

O problema está em saber distinguir o momento em que uma aversão se converte em crime público. Porque a mera aversão não constitui, por si só, um crime.

Por mais que isso ofenda o espírito civilizado de Marta Suplicy, é perfeitamente legítimo que um heterossexual não goste de homossexuais. Como é perfeitamente legítimo o seu inverso.

Vou mais longe: no vasto mundo da estupidez humana, é perfeitamente legítimo não gostar de brancos; de negros; de asiáticos; de portugueses; de brasileiros; de judeus; de cristãos; de muçulmanos; de ateus; de gordos ou de magros. A diferença entre um adulto e uma criança é que o adulto entende que o mundo não tem necessariamente de gostar dele.

O que não é legítimo é transformar uma aversão em instrumento de discriminação ou violência. Não porque isso seja um crime homofóbico. Mas porque isso é simplesmente um crime.

E os crimes não têm sexo, nem cor, nem religião. Se Suplicy olhar para a estátua da Justiça, entenderá que os olhos da figura estão vendados por uma boa razão.

Pretender criminalizar a homofobia porque não se gosta de ideias homofóbicas é querer limpar o lixo que há na cabeça dos seres humanos. Essa ambição é compreensível em regimes autoritários, que faziam da lavagem cerebral um método de uniformização. Não deveria ser levado a sério por um Estado democrático.

Classe média rural - XICO GRAZIANO


O Estado de S.Paulo - 13/12/11


Quando o Estatuto da Terra foi aprovado, em 1964, uma ideia econômica o amparava: era necessário favorecer, por meio da reforma agrária, o mercado interno no campo. Mas havia, também, uma esperta jogada política: entregar os anéis para não perder os dedos.

Na linguagem popular, esse era o significado da Aliança para o Progresso, doutrina de política externa formulada pelos EUA na época. Temerosos com a expansão da revolução cubana (1959), os gringos recomendavam reformas na estrutura agrária concentrada da América Latina.

O distributivismo agrário, ao combater o latifúndio, era, por certo, progressista. O seu intuito, todavia, favorecia a expansão do capitalismo no campo. Com aspirações consumistas, a classe dos novos proprietários frearia a revolução comunista que se desenhava.

Por essa razão, ideológica, os militares, ao darem o golpe em 1964, capturaram a tese da reforma agrária. Num lance sensacional de estratégia política, comandado por Castelo Branco, o Estatuto da Terra recebeu amplo apoio no Congresso Nacional. Foi aprovada uma "solução democrática" contra a perigosa "opção socialista".

A História pregou uma peça na esquerda. A desejada modernização da agropecuária brasileira acabou dispensando a reforma agrária, substituindo-a pelo avanço tecnológico. Com ele o latifúndio se modernizou, elevou a produtividade, virou empresa rural.

Esquecida em seu sentido econômico, a reforma agrária retornou à baila dos anos 1990. Trocou de veste para se transformar na mais onerosa e ineficiente das políticas sociais. Impulsionada pelas invasões de terras e realizada sem nenhum planejamento, desgraçadamente levou os assentamentos a concentrarem a miséria, não o progresso rural. Fora as exceções.

Nada, porém, impediu o avanço do campo. O dinamismo brotou entre os pequenos e médios agricultores familiares, os trabalhadores com terra do Brasil. Um somatório de fatores possibilitou ao produtor tradicional trocar a enxada pelo trator: o crédito rural, a pesquisa agropecuária, a gôndola do supermercado. Os velhos sitiantes encontraram no cooperativismo sua força e no mercado, seu desafio. Na marra, viraram empreendedores.

Parte deles rompeu o núcleo familiar e subiu o Brasil para cultivar o cerrado. Uma verdadeira epopeia, semelhante à conquista do oeste norte-americano, configurou essa magnífica trajetória dos agricultores sulinos e paulistas rumo ao oeste baiano, ao sudoeste goiano, ao nortão mato-grossense, ao sul maranhense. Ninguém, há 30 anos, poderia imaginar tal transformação produtiva.

Nas regiões de agricultura mais consolidada do Sul-Sudeste, as modernas cooperativas passaram a dominar a roça. No Triângulo Mineiro ou na Zona da Mata, no norte ou na serra capixaba, no Paraná e em Santa Catarina, em Mato Grosso do Sul, por onde se anda se encontra uma nova geração de produtores rurais, mais jovens, mais competentes, mais conscientes. E mais ricos.

O impressionante salto da genética e do manejo animal demorou, na pecuária, apenas 15 anos para tornar o País o maior produtor de carnes do mundo. Na fruticultura tropical, no café de qualidade, nas flores e plantas ornamentais, na aquicultura nordestina, importantes personagens do espaço agrário surgiram. E brilharam.

Engana-se redondamente quem pensa que a modernização agrícola favoreceu somente os grandes capitais. No mundo do agronegócio a tecnologia supera o tamanho. Milhares de agricultores tradicionais, com área reduzida e gestão familiar de seus sítios, elevaram sua produtividade e progrediram na vida, integrando-se aos nascentes mercados. O caipirismo globalizou-se.

Carlos Ganzirolli, estudioso da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) nas questões agrárias, atesta que 53,7% dos agricultores familiares no Brasil se vinculam fortemente ao mercado, mantendo elevada renda média. Cerca de 40% do valor bruto da produção familiar no campo se origina nesse segmento, formado por 1,4 milhão de pequenos e médios agricultores. A nova classe média rural, que investiu no conhecimento, prova que inexiste oposição entre ser familiar e participar dos agronegócios.

Operadores de máquinas, técnicos agrícolas, prestadores de serviços, vendedores de produtos, variadas categorias sociais surgiram e cresceram pelo interior afora. Vá conferir o dinamismo em Rondonópolis (MT), Rio Verde (GO), Balsas (MA), Barreiras (BA), Linhares (ES), Dourados (MS), Concórdia (SC), Cascavel (PR), Palmas (TO). Quando o campo se aquece, esquenta junto a cidade.

Há, ainda, muita pobreza no campo, particularmente no bolsão do semiárido nordestino. Mas desde 1993, quando chegou a aposentadoria integral para os trabalhadores da roça, essa situação começou a mudar. Vigorosas políticas públicas aliaram-se aos estímulos da economia para vencer a miséria rural. Em 1995 começou a operar o bem-sucedido Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Logo depois vieram as transferências de renda, hoje Bolsa-Família. Aumentou a escolaridade, os salários subiram. Após 15 anos, operando com a economia estabilizada, é visível, alhures, a ascensão social dos mais pobres.

FHC, ao escrever recentemente sobre a classe média e a política, resvalou num ponto essencial da moderna democracia: o fim do clientelismo. As categorias sociais que começam a vigorar no campo, como as da cidade, rompem antigos laços de dominação que lhes roubavam o livre-arbítrio e, no fundo, perpetuavam sua desgraça.

Isto é o que de mais extraordinário ocorre hoje no campo brasileiro: o progresso material está puxando a emancipação das pessoas. Contra a manipulação política se impõe a dignidade humana.

GOSTOSA


Exclusividade - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 13/12/11

A UNE e a Ubes querem que conste do Estatuto da Juventude, já aprovado na Câmara e em discussão no Senado, que as duas entidades terão exclusividade na concessão de carteiras de estudante. Ontem, os presidentes das entidades, Daniel Iliescu e Manuela Braga, apresentaram o pleito ao líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). O Estatuto, contrariando empreendedores culturais, garante aos estudantes a meia-entrada. A Fifa também não quer saber da meia na Copa de 14.

Serra para vereador
Diante da rejeição do ex-governador José Serra nas eleições para a prefeitura de São Paulo, conforme o Datafolha, alguns de seus aliados avaliam que ele deveria considerar concorrer a vereador na capital paulista. Citam como exemplo decisão do ex-prefeito do Rio Cesar Maia. E os casos do ex-senador Arthur Virgílio e do ex-deputado Fernando Gabeira, que estão avaliando recomeçarem como vereadores em Manaus e no Rio. A rejeição a Serra, de acordo com aliados, se deve ao fato dele ter largado no meio o mandato obtido em 2008, o desgaste da gestão Gilberto Kassab e a fadiga depois de 20 anos de PSDB no governo estadual.

"A prévia para escolher o candidato tucano em São Paulo vai produzir muita energia"
Sérgio Guerra presidente do PSDB e deputado federal (PE), ao defender que o partido tenha candidato próprio.

RIO + 20. No Qatar, onde representa o Brasil no Fórum da Aliança das Civilizações, o vice Michel Temer ouviu promessa do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, de que ele vai entrar em campo para garantir o êxito da Conferência Rio + 20. A crise econômica, mais as campanhas eleitorais nos Estados Unidos e na Europa, se transformaram num obstáculo à presença de chefes de Estado e de governo no primeiro grande evento internacional promovido pelo governo Dilma Rousseff.

Dissidência
Os senadores do PMDB Jarbas Vasconcelos, Pedro Simon, Ricardo Ferraço, Eduardo Braga, Luiz Henrique, Casildo Maldaner e Roberto Requião se reúnem hoje, no almoço, para articular candidatura alternativa de líder da bancada.

Pauta polêmica
Quem pediu para o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), colocar em pauta a proposta que efetiva responsáveis por cartórios que não fizeram concurso público foi o líder do PTB, Jovair Arantes (GO). O governo Dilma é contra.

Metralhadora
Do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) sobre as denúncias contra o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento): "O desejo imoderado de servir aos governos não é privativo de pelegos do sindicalismo de trabalhadores. Existe o peleguismo patronal. Vejam Robson Andrade, atual presidente da CNI e ex da Fiemg: destinou R$ 1 milhão da federação à subsistência de Fernando Pimentel em troca de conversa fiada".

Visão crítica
A Comissão de Direitos Humanos da Câmara cria hoje a Subcomissão de Acompanhamento da Comissão da Verdade, coordenada pela deputada Luiza Erundina (PSB-SP). Ela defende a revisão da anistia aos torturadores.

Fogo amigo
Citado nas especulações sobre reforma ministerial, sempre relacionado à eventual candidatura à prefeitura de Angra dos Reis, o ministro Luiz Sérgio (Pesca) não vai concorrer. Se ele cair na reforma, volta para seu mandato na Câmara.

OS LÍDERES do governo e dos partidos aliados foram convidados para um coquetel de fim de ano no Alvorada na quarta-feira, dia 21. A expectativa é que até lá o Senado tenha aprovado a DRU, a Câmara a Lei Geral da Copa, e o Congresso o Orçamento 2012.

NOVOS ARES. O PSDB realiza seu primeiro Congresso da Juventude neste fim de semana em Goiânia. Na sexta, o ex-governador José Serra será o palestrante e, no sábado, o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

PRIMEIRO foi o DEM, agora quem está se aproximando do ex-governador Anthony Garotinho (PR) é o PSDB. Na pauta, a sucessão no Rio.

Clima do clima - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 13/12/11

O sucesso da reunião de Durban cria as bases para se pensar num acordo global de redução das emissões. O Brasil fez parte da solução, com a ministra Izabella Teixeira quebrando o impasse ao dizer que o país aceitaria metas, e com o embaixador Luiz Alberto Figueiredo encontrando a fórmula que rompeu um dos bloqueios. O Brasil sempre teve papel importante nas reuniões do clima.

Conferências diplomáticas normalmente são mornas, previsíveis e protocolares. As emoções na luta por palavras nos documentos só são entendidas pelos próprios negociadores. Para os outros, tudo parece uma briga semântica, uma disputa por sinônimos. Nas COPs, no entanto, os debates são emocionantes, as discussões acontecem à luz do dia ou sob cansativas vigílias. Até o último minuto um abismo separa fracasso de sucesso. Pessoas choram, delegados dormem em locais públicos estafados pelas horas finais.

Durban, pelo relato dos jornalistas, foi tudo isso em uma intensidade maior. Foi a mais longa das COPs, terminou apenas no domingo, quando estava previsto para acabar na sexta-feira. De Copenhague, em 2009, esperava-se tudo. O que saiu foi considerado nada, mas foi com esses retalhos de acordos, pontos de concordâncias e rascunhos que se costurou um avanço em Cancún, a reunião marcada para ser apenas a ressaca de Copenhague. Para Durban, todos foram desesperançados e, de repente, de lá saíram três boas notícias: a renovação de Kioto; a consolidação do Fundo Verde desenhado em Cancún; as linhas gerais de um acordo global do clima em que haverá metas obrigatórias para todos os grandes emissores, Estados Unidos, China, Brasil e Índia, incluídos. A mais resistente foi a Índia, que sempre põe sobre a mesa o fato de que tem 450 milhões de pessoas sem energia; mas é a Índia que também pode ficar sem as suas monções, em cenários de transformação do clima.

A próxima convenção será em Catar e lá terão que ser dados passos mais sólidos na direção desse acordo, que será fechado até 2015, para entrar em vigor em 2020. No meio do Caminho entre Durban e Catar tem o Rio de Janeiro.

Ontem, no twitter, a comissária da União Europeia para mudança climática, Connie Hedegaard, informou que já estava em Nova York para a última reunião de Painel de Mudanças Climáticas e que a recomendação lá era para que o foco na Rio+20, em junho, seja no acesso à energia sustentável e na preparação para a próxima batalha climática.

Muitos ambientalistas saíram da reunião reclamando e subestimando o que foi conquistado. Esse é o papel das ONGs. Precisam mostrar que o passo dado é insuficiente para o objetivo ao qual se quer chegar. As COPs trabalham para limitar em dois graus celsius o aquecimento global; porém já se sabe que, se todas as metas forem cumpridas, mesmo as que nem foram completamente aceitas, ainda assim o aquecimento do planeta pode superar este nível. Desde 2009, o Met Office, o Inpe britânico, trabalha com cenários de quatros graus ou mais. Portanto, o esforço terá que ser ainda maior.

Essas Conferências das Partes, as COPs, são um esforço impressionante de formação de consensos, avanços milimétricos, encontros de palavras que agradem a todos nos documentos. E por todos, entenda-se quase 200 países que vão dos Estados Unidos, China, aos pequenos países-ilha. Nações que vivem da energia fóssil, como Venezuela e Arábia Saudita, gostam de sustentar posições radicais, que só dos ingênuos esconde a vontade de bloquear as negociações.

Neste ambiente, o Brasil assumiu protagonismo logo no início da discussão, quando ajudou a desenvolver o Mecanismo do Desenvolvimento Limpo, que transformou em medida concreta o que eram apenas ideias teóricas. Durante alguns anos, o Brasil jogou na retranca, aferrado à tese de que todo o esforço de redução das emissões tinha que ser feito por quem emitiu primeiro, os países industrializados. Em 2009, em Copenhague, o Brasil deu o primeiro passo para romper com essa posição histórica à qual se agarravam o Itamaraty e o Ministério da Ciência e Tecnologia e caminhou no sentido de aceitar metas. Se o Brasil quiser conter suas emissões terá que lutar contra o desmatamento. Se parar de queimar floresta, que é a forma mais burra de emissão, poderá conciliar desenvolvimento e as metas que está assumindo. O que pode ser bom para o planeta, mas é melhor ainda para nós mesmos.

Curiosamente a União Europeia, que tem tido um papel de indiscutível liderança, está dividida na economia, mas não no clima. Ontem, a comissária Hedegaard comemorou também o fato de que os analistas viam a atuação unida dos 27 países mais importante do que se eles agissem individualmente.

Os Estados Unidos foram mais cooperativos este ano em que o governo Obama já está chegando ao fim. Para o clima, é melhor um segundo governo Obama do que a eleição de algum republicano fundamentalista que retome a surrada discussão sobre se existe ou não aquecimento global. Uma mudança de governo em Washington colocará a negociação climática em compasso de espera na próxima reunião, como foi a COP-14, em Poznam, na Polônia.

Agora, o que o Brasil precisa é ter políticas internas coincidentes com a posição internacional de conter as emissões. Por enquanto, algumas das decisões tomadas pelo governo parecem ir no sentido exatamente oposto.

FRAGA FORA DA SPFW - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 13/12/11

Após 17 anos desfilando na SP Fashion Week, Ronaldo Fraga está fora da próxima edição da semana de moda, em janeiro. Diz ele: "Tenho convicção de que a moda acabou".

BRAÇO NA BLUSA
Alegando cansaço e vontade de se dedicar a outros projetos, o estilista afirma que hoje se busca "novas funções para arquitetura, corpo, roupa. Não é criando três braços numa blusa que isso vai acontecer". Convidado a falar no museu Victoria & Albert, em Londres, em janeiro, ele depois vai lançar livro com desenhos de várias coleções.

CABECEIRA
O clima entre José Serra e Aécio Neves, do PSDB, que andava ruim há muito tempo, nos últimos dias ficou péssimo.

ANÚNCIO
A pesquisa Datafolha que mostrou no domingo Serra com rejeição de 35% entre os paulistanos jogou balde de gelo em publicitários historicamente ligados ao PSDB que tentavam convencer o partido de que ele seria o melhor candidato.

NA MESMA
Serra disse ontem a interlocutores que continua na mesma: não é candidato.

RELATIVIDADE
O Conar, órgão que regulamenta a publicidade, determinou que a Unip (Universidade Paulista) pare de veicular anúncios em que diga ser a que mais aprova no exame da OAB, como já fez. A universidade terá que dizer que seus dados referem-se aos números absolutos de aprovações, e não ao percentual de aproveitamento.

RELATIVIDADE 2
A Unip teve 230 aprovados no último exame, mas inscreveu 3.020 alunos -aproveitamento de 7,6%. A UnB, com 43 inscritos, aprovou 29 (67,4%). A USP teve 191 alunos aprovados, ou 63,4% dos 301 que prestaram o exame.

A CARA DO PODER
O brasileiro Romero Britto fez um quadro com a imagem do presidente colombiano, Juan Manuel Santos. Britto entregou a obra na semana passada, em Bogotá. E a primeira-dama, Maria Clemencia Rodriguez, encomendou pintura de toda a família.

IVETE E A VOZ
Ivete Sangalo, já apontada como possível jurada da versão brasileira do reality show musical "The Voice" que a Globo pretende produzir, hoje encabeça o páreo para ser a apresentadora do programa. Para o júri, foram sondados nomes como o do produtor Rick Bonadio.

GRÃO EM GRÃO
A TV Cultura bate bumbo por ter alcançado o quinto lugar no Ibope em SP por nove dias úteis seguidos. Sua audiência variou de 1,0 a 1,4 ponto no Ibope, igualando ou superando, por um ou dois décimos, a RedeTV!.

TRABALHO INFANTIL
O garoto João Pedro Carvalho, 11, que fez participações no "CQC", pode ser a nova atração do programa em 2012. A agente dele, Mara Moraes, diz que um contrato com a TV Bandeirantes está em negociação. A emissora afirma que a participação ainda "está sendo avaliada".

ARTE VIP
O Brazil Golden Art, primeiro fundo de investimentos do país com foco em arte contemporânea brasileira, apresenta parte de sua coleção a partir de amanhã na Galeria Estação. Estarão expostas obras de Waltercio Caldas, Tunga, Antônio Dias e Tatiana Blass, entre outras.

ENCONTRO DE PINCÉIS
As artistas Vivian Lembo, Katia Fiera e Thereza Salazar foram à abertura da exposição "Segunda Coletiva", da qual fazem parte. O artista Rogério Borovik circulou pela galeria Smith.

A RECUPERAÇÃO DE GIANE
O ator Reynaldo Gianecchini recebeu alta do hospital Sírio-Libanês, onde se trata de um câncer, e passou a tarde de domingo na Vila Madalena. Tomou sorvete e passeou pela feira de arte. Sorridente, Giane disse que se sente bem. "Estou aproveitando as poucas horas livres que tenho. Mas sou a pessoa mais sem novidades do mundo."

CURTO-CIRCUITO
Fabio Feldmann lança hoje, às 19h, o livro "Sustentabilidade Planetária: Onde Eu Entro Nisso?", na Livraria da Vila da Lorena.

A marca Under faz hoje, às 21h, desfile no Jockey.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY