domingo, junho 28, 2009

ELIO GASPARI

O Bolsa Viúva tornou-se uma indústria

O GLOBO - 28/06/09

O assalto à bolsa da Viúva conseguiu o que 21 anos de perseguições não conseguiram, avacalhou a velha esquerda

SE ALGUÉM QUISESSE produzir um veneno capaz de desmoralizar a esquerda sexagenária brasileira dificilmente chegaria a algo parecido com o Bolsa Ditadura.


Aquilo que em 2002 f
oi uma iniciativa destinada a reparar danos impostos durante 21 anos a cidadãos brasileiros transformou-se numa catedral de voracidade, privilégios e malandragens. O Bolsa Ditadura já custou R$ 2,5 bilhões à contabilidade da Viúva. Estima-se que essa conta chegue a R$ 4 bilhões no ano que vem. Em 1952, o governo alemão pagou o equivalente a R$ 11 bilhões (US$ 5,8 bilhões) ao Estado de Israel pelos crimes cometidos contra os judeus durante o nazismo.


O Bolsa Ditadura gerou uma indústria voraz de atravessadores e advogados que embolsam até 30% do que conseguem para seus clientes. No braço financeiro do pensionato há bancos comprando créditos de anistiados. O repórter Felipe Recondo revelou que Elmo Sampaio, dono da Elmo Consultoria, morderá 10% da indenização que será paga a camponeses sexagenários, arruinados, presos e torturados pela tropa do Exército durante a repressão à Guerrilha do Araguaia. Como diria Lula, são 44 "pessoas comuns" que receberão pensões de R$ 930 mensais e compensações de até R$ 142 mil. Essa turma do andar de baixo conseguiu o benefício muitos anos depois da concessão de indenizações e pensões aos militantes do PC do B envolvidos com a guerrilha.


O doutor Elmo remunera-se intermediando candidatos e advogados. Seu plantel de requerentes passa de 200. Ele integrou a Comissão da Anistia e dela obteve uma pensão de R$ 8.000 mensais, mais uma indenização superior a R$ 1 milhão, por conta de um emprego perdido na Petrobras. No primeiro grupo de milionários das reparações esteve outro petroleiro, que em 2004 chefiava o gabinete do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh na Câmara. O Bolsa Ditadura já habilitou mais de 160 milionários.


É possível que o ataque ao erário brasileiro venha a custar mais caro que todos os programas de reparações de todos os povos europeus vitimados pelo comunismo em ditaduras que duraram quase meio século. Na Alemanha, por exemplo, um projeto de 2007 dava algo como R$ 700 mensais a quem passou mais de seis meses na cadeia e tinha renda baixa (repetindo, renda baixa). Na República Tcheca, o benefício dos ex-presos não pode passar de R$ 350 mensais.


No Chile, o governo pagou indenizações de 3 milhões de pesos (R$ 11 mil) e concedeu pensões equivalentes a R$ 500 mensais. Durante 13 anos, entre 1994 e 2007, esse programa custou US$ 1,4 bilhão. No Brasil, em oito anos, o Bolsa Ditadura custará o dobro. O regime de Pinochet matou 2.279 pessoas e violou os direitos humanos de 35 mil. Somando-se os brasileiros cassados, demitidos do serviço público, indiciados ou denunciados à Justiça chega-se a um total de 20 mil pessoas. Já foram concedidas 12 mil Bolsas Ditadura e há uma fila de 7.000 requerentes.


Os camponeses do Araguaia esperaram 35 anos pela compensação. Como Lula não é "uma pessoa comum", ficou preso 31 dias em 1979 e começou a receber sua Bolsa Ditadura oito anos depois.

Desde 2003, o companheiro tem salário (R$ 11.239,24), casa, comida, avião e roupa lavada à custa da Viúva. Mesmo assim embolsa mensalmente cerca de R$ 5.000 da Bolsa Ditadura. (Se tivesse deixado o dinheiro no banco, rendendo a Bolsa Copom, seu saldo estaria em torno de R$ 1 milhão.)


O cidadão que em 1968 perdeu a parte inferior da perna num atentado a bomba ao Consulado Americano recebe pelo INSS (por invalidez), R$ 571 mensais. Um terrorista que participou da operação ganhou uma Bolsa Ditadura de R$ 1.627. Um militante do PC do B que sobreviveu à guerrilha e jamais foi preso, conseguiu uma pensão de R$ 2.532. Um jovem camponês que passou três meses encarcerado, teve o pai assassinado pelo Exército e deixou a região com pouco mais que a roupa do corpo, receberá uma pensão de R$ 930.


Nesses, e em muitos outros casos, Millôr Fernandes tem razão: "Quer dizer que aquilo não era ideologia, era investimento?"

DANUSA LEÃO

Vício maldito

FOLHA DE SÃO PAULO - 28/06/09

O fumo é um veneno, e quem fuma vai um dia pagar caro por ter achado alguma graça em acender um canudinho


É INACREDITÁVEL que a medida do governo de São Paulo proibindo o fumo em lugares fechados tenha sido contestada pela Justiça. Isso na contramão do mundo inteiro, que vem fazendo tudo que é possível para coibir o vício do fumo.
O fumo é um veneno, e quem fuma vai um dia pagar caro por ter achado alguma graça em acender um canudinho de papel cheio de porcarias, inalar a fumaça direto para os pulmões e depois soprar de novo a fumacinha; no mínimo, ridículo. Nos anos 40, todos os filmes mostravam os atores e atrizes fumando, e isso fazia parte do glamour da época. Lembro da cena de um filme em que o ator punha dois cigarros na boca, acendia os dois e passava um deles para a atriz com quem contracenava. Quanta burrice; quanta ignorância. Eu também fui burra e ignorante durante anos, e apesar de ter sido alertada por tanta gente, só parei de fumar no tranco, isto é, quando meus pulmões pediram socorro.
Fumar é um vício miserável, mais difícil de ser deixado do que qualquer droga pesada. Porque para comprar cigarros não é preciso subir o morro, procurar um traficante e ainda se arriscar a ser preso. Um maço de cigarros não custa quase nada, pode ser comprado na esquina, e fumar não é crime -ainda. Mas os fumantes já começam a ser olhados com maus olhos, e a verdade é que esse vicio é bem nojento.
Está aí uma coisa de que me arrependo muito: ter sido fumante. Quando vou subir uma escada ou mesmo uma pequena ladeira, e tenho que parar para respirar, sinto muita vergonha. Como eu gostaria de ser lépida e ligeira como já fui; e sei que a culpa disso não tem outra origem a não ser o cigarro. É um suicídio lento, e o pior é que não costuma adiantar dizer aos jovens que não entrem nessa porque é uma roubada. Será que é preciso sentir os efeitos da droga para começar a tentar parar? Eu sei que não é fácil, mas não é possível que só a maturidade ensine coisas tão óbvias.
Ouvi dizer que os cigarros estão custando mais caro; pois deviam custar mais caro ainda. Uns R$ 50 por maço seria um preço razoável. E eu queria saber o que passou na cabeça desse juiz -ou desses juízes- que decidiu ser ilegal a medida do governo de proibir o fumo em lugares públicos fechados. Se os fumantes são uns idiotas -tanto quanto eu fui-, não sei o que dizer dessa Justiça que foi contra a medida. A indústria é poderosa, mas está se ferrando no mundo todo; e tomara que se ferre mais ainda.
Que vergonha eu tenho do tempo em que me achava moderna e rebelde e fazia a apologia do fumo. E que raiva eu tenho de mim mesma, quando quero andar mais rápido e não consigo, porque minha respiração falha. Como é que alguém pode fazer mal a si mesma? Por que, a troco de que, se os primeiros cigarros são tão desagradáveis e é preciso insistir para conseguir fumar, se achando o máximo, glamourosa e adulta?
Quando passo pela porta de um shopping e vejo umas pessoas fumando, já que no interior do shopping é proibido, tenho que me conter para não parar, sacudir uma delas pelos ombros e dizer "não seja idiota, pare com isso antes que seja tarde", mas sou obrigada a me controlar, pois não pegaria nada bem fazer isso. Imagino que, se você me leu até agora, é porque não é fumante; se fosse, já teria passado para outra página do jornal.
Mas imagino também que você seja pai ou mãe de um jovem fumante e que gostaria muito que seu filho ou filha deixasse o vício. E não sei mais o que dizer, pois falar não costuma adiantar.

QUADRILHA NO PLANALTO


JOÃO UBALDO RIBEIRO

Não se salva ninguém


O GLOBO - 28/06/09


Pelo meu gosto, sinceramente, preferia escrever sobre os novos bem-te-vis que têm aparecido aqui no terraço, a visita fugaz do gavião Herculano ou o capenguinha do calçadão, onde nunca mais apareci, fugindo da humilhação impiedosa que ele me infligia. Então por que não escreve? — perguntariam os leitores que também não aguentam mais ler a respeito de como os nossos governantes se desmandam a torto e a direito e como o nosso dinheiro é tungado alegremente pelos que deviam cuidar dele.

Bem, é uma espécie de fraqueza, acho eu. Quando escrevo sobre bemtevis ou sobre o calçadão, fico uma semana sem poder sair nem para ir à padaria, conforme meu costume de provedor esforçado. Sou interpelado ainda pertinho de casa.

— Bom dia — diz-me uma senhora de aspecto severo, assim que dobro a esquina da rua da padaria. — Está indo ao calçadão, assim de havaianas? Você já não anda direito de tênis, imagine de havaiana.

— Não, eu não vou andar no calçadão hoje. Estou dando um tempo a esse negócio de calçadão, não sei se...

— Ainda bem que você está dando um tempo, porque chega de escrever sobre bobagens e futilidades, tem é que descer o malho neles! — Neles? Sim, claro. Mas eu faço muito isso, é que às vezes eu penso que uma mudançazinha de assunto, de vez em quando, é bom.

— É bom para eles! Isso é fugir da sua obrigação! Ou você já se passou para o lado deles? — Para o lado deles, como assim? Não, eu...

— Sei lá, hoje a gente não deve se surpreender com mais nada. Já escreveu a crônica de domingo? — Ainda não, mas é hoje, daqui a pouco.

— Uma ótima oportunidade para se redimir, então. Já estou cansada de defender você na minha turma de pilates. Outro dia me disseram que você já está colocado na Petrobras e por isso só fala agora em calçadão, passarinho, essas coisas. Você não está colocado na Petrobras, está? — Não, de jeito nenhum, não estou colocado em lugar nenhum.

— Bem, eu acredito em você, mas o mesmo não posso dizer de minhas colegas. Vê lá o que você escreve no domingo! Se não for pauleira, você perdeu a defensora! Vê lá, hein, nada de alienação! Prometa! — Mas é que às vezes não é fácil, a gente fica com medo de se repetir, criticando sempre os mesmos, pelas mesmas razões.

— Mas não é preciso se repetir demais! É só cada domingo procurar uma nova área para denunciar. Não se salva nada, nem nenhum deles! Sim, é o que parece hoje, não se salva nada. Agora o foco está no Senado e talvez não saia dele tão cedo, porque chegam a causar abestalhamento os extremos a que se chegou por lá. Com toda a certeza, haverá muito mais a descobrir e não se passa hora sem que o país tome novo susto, embora a reação tenda a tornar-se cínica, nas base do "aqui é assim mesmo, não tem jeito, vai ficar assim até o fim dos tempos".

Nesta época em que se consome tudo, temo até que as denúncias se tornem mercadoria fora da moda e ninguém se interesse por elas. O Senado, deu no jornal, vai fazer uma grande campanha publicitária para melhorar sua imagem e para convencer o povo brasileiro da excelência de suas instituições e do muito que fazem pela coletividade. Tudo mentira, claro, mas a esperança é de que, como sempre acontece, o assunto seja esquecido e tudo volte a ser como dantes no quartel de Abrantes.

Enquanto isso, o Executivo e seus 40 ministros, notadamente na figura de seu Chefe, tiram onda de porreta, como se estivessem acima das críticas feitas ao Congresso. A verdade é que, para manter a famosa governabilidade, o Executivo, desde os remotos tempos do mensalão, explora o que de pior tem a política brasileira, do fisiologismo à corrupção pura e simples. Eleito como reformista, o PT não só demonstrou ser igual ou pior aos que desdenhava e vituperava antes, como não fez reforma alguma, a começar pela política e passando pela tributária. Quanto a esta última, aliás, o presidente, que diz qualquer coisa a qualquer hora, sem a mínima preocupação com veracidade ou coerência, acha que está tudo muito bem como está, pois, afinal, nossa carga tributária sueca proporciona a justiça social e os benefícios que vêm sendo dadivados aos mais pobres. O fato de que a aposentadoria do presidente — bem gordinha para os padrões nacionais — é isenta de impostos e de que ele não paga por nada do que consome com certeza contribui para essa visão.

Se alguém esperava por reformas dignas desse nome, pode ir esquecendo.

O Congresso está promovendo uma atamancação aos trancos e barrancos, sob o acicate das denúncias e entre conflitos de interesse externos e internos. Mas reformar mesmo aquele saco de gatos não parece ser coisa ainda para esta geração, tamanho o porte dos vícios existentes e a influência das pequenas máfias lá incrustadas desde o tempo dos afonsinhos. O Presidente, que continua a beneficiar-se do fato de que a maioria das pessoas presta atenção no que se diz e não no que se faz e põe nas alturas os que já chamou de ladrões com todas as letras, defende Severino, chama os usineiros de heróis, justifica condutas impróprias à base do "aqui sempre se fez assim", vê denuncismo no zelo pela coisa pública e acha justa nossa carga tributária.

Pensando bem, quem não aguenta mais isso sou eu. Nos próximos dias, poderei ser encontrado em Itaparica, na condição de técnico do recém-ressuscitado São Lourenço Futebol Clube.

E vou aproveitar para mandar-lhes um relatório sobre a família de sabiás lá da mangueira do pátio.

TOSTÃO

Distorções de fatos e de conceitos


JORNAL DO BRASIL - 28/06/09

Nunca disse que os treinadores não são importantes. Seria burrice. Quem distorce minha opinião faz por má intenção ou porque não leu. Escrevi, um milhão de vezes, que os técnicos são supervalorizados, nas vitórias e nas derrotas. É bem diferente de não ser importantes.

São os técnicos que organizam os esquemas táticos, escalam, substituem, treinam, formam o grupo e muitas outras coisas. Tudo isso é difícil. Muito mais fácil é ser comentarista.

Isso é uma coisa. Outra é achar que os técnicos são mais importantes que os jogadores, que ganham e perdem partidas por causa de uma substituição, de uma mudança de um jogador dois metros para a direita ou dois metros para a esquerda. Já vi técnico ganhar ou perder jogo, mas isso é raro.

Ao constatar que muitos sonhos noturnos eram consequência de desejos conscientes e inconscientes, Freud quis explicar o mecanismo de todos os sonhos. Nem todos são assim. Do mesmo jeito, comentaristas, por várias razões, constroem, depois da partida, com bons e maus argumentos, uma história irreal. É a obsessão pelo reducionismo. Assim como a vida, o futebol é muito mais complexo. Nós é que tentamos simplificá-lo.

Acontecem muitos detalhes táticos em uma partida que independem da vontade do técnico. Existe ainda um grande número de outros fatores envolvidos no resultado de um jogo, na conquista de um título. Por isso, um treinador pior pode ser campeão mais vezes que um melhor. Geninho já foi campeão brasileiro, e Celso Roth nunca foi.

O acaso está também presente em todos os jogos. O acaso não é sorte nem mistério. São fatos corriqueiros, que não sabemos quando e onde irão ocorrer.

Dunga, mesmo sem ter sido treinador, tem mostrado que é capaz de fazer tão bem, ou até melhor, que badalados e experientes técnicos. Isso é mais um evidência de que os treinadores não possuem nenhuma mágica ou segredo. A maior qualidade de Dunga não é ser um motivador, um estrategista nem ter muita sorte; é ter gana, obsessão pela vitória.

Joel, ridicularizado por ser simplório e não falar inglês, criou enormes dificuldades para o Brasil, como escalar um meia de cada lado para impedir os avanços dos laterais. Já o famoso Marcelo Lippi, técnico da Itália, campeão do mundo, deixou todos os espaços para Maicon atacar, mesmo conhecendo bem o lateral.

A Espanha não perdeu para os EUA porque o técnico americano surpreendeu com um novo esquema defensivo. A Espanha, como faz sempre, dominou o jogo e teve todas as chances de ganhar. Foi uma grande zebra, uma sucessão de detalhes surpreendentes que raramente ocorre.

A deficiência da Espanha nesse jogo, que pode se tornar um problema, é não saber fazer gol feio, esquisito, de bola espirrada ou de canela.

Assim como é raríssimo um raio cair duas vezes em um mesmo lugar, o Senado ter dignidade, não haver desperdício de dinheiro público para a realização da Copa de 2014 e alguns dirigentes esportivos deixarem o poder, é muito difícil, quase impossível, os EUA ganharem, em poucos dias, da Espanha e do Brasil.

GOSTOSA


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VINÍCIUS TORRES FREIRE

Gasto público em ritmo eleitoral

FOLHA DE S. PAULO - 28/06/09


Lula começa a dar primeiros sinais de que governo faz contas públicas pensando nos votos da eleição de 2010

NA SEMANA que passou, Lula provou uma receita de corte de gastos, oferecida por seus ministros. Mandou voltar o prato, com críticas ao cozinheiro, aos ingredientes e ao serviço. O presidente indica, assim, que o gasto do governo entrou em ritmo de eleição. Lula não pretende rever ou adiar o aumento dos servidores públicos.

Por outro lado, não gostou de ouvir que pode ser difícil cumprir a meta já reduzida de superávit primário para este ano. Prefere, pois, cortes de varejo. Porém, deve prorrogar total ou parcialmente a redução de impostos que incentivam o consumo, como os concedidos para a compra de carros, materiais de construção, eletrodomésticos de cozinha e lavanderia ("linha branca") e alguma outra isenção menor, "surpresa".

De resto, as medidas de apoio à indústria de máquinas e equipamentos devem prever um subsídio do Tesouro, que compensaria assim a redução dos juros do BNDES para a compra de bens de capital. Não está claro se haverá algum benefício fiscal para o setor. Pode ser que a TJLP ("juros do BNDES") caia.

O problema não está aí, nesses incentivos. Caso confirmados, os aumentos do funcionalismo terão pleno impacto nas contas públicas de 2010. E, em 2010, há o zunzum de que Lula "não está convencido" de que a meta de superávit primário, reduzida neste ano, deva voltar ao nível de 2008. Se for o caso, até o Fundo Soberano pode entrar na roda a fim de cobrir insuficiências na receita de impostos e evitar, assim, cortes de despesas em ano eleitoral.

No acumulado em 12 meses, o superávit primário do governo federal em abril foi o mais baixo desde 1999. A dívida pública crescerá. Em novembro de 2008, baixara a 35% do PIB, o menor nível desde 1998. Em abril, foi a 38,4% do PIB e deve ter crescido desde então. A dívida crescerá mesmo com a queda da despesa com juros, que o Banco Central estima em 0,9% do PIB em 2009 e outro tanto em 2010, dada a baixa das taxas. Isto é, o governo gasta também a economia com juros. Faz despesas de composição ainda muito ruim (muito gasto corrente, investimento ainda baixo). Quase tudo bem, pois 2009 é um ano de crise. E 2010?

O BC estima que, em dezembro de 2009, a dívida pública terá subido três pontos percentuais. Regrediria no ano seguinte ao nível de 2008, com a volta do crescimento econômico e da receita, desde que, ressalte-se, seja mantida a meta divulgada de superávit fiscal primário, que parece estar em jogo. Mas nada sabemos do PIB e da arrecadação no segundo semestre, que dirá em 2010.

A não ser que o governo enlouqueça, o que é improvável, ou em caso de nova catástrofe econômica mundial, tal aumento da dívida não deve provocar problema crítico. Mas o endividamento extra dificulta outra vez a tarefa de melhorar o prazo/perfil da despesa pública (alongar a dívida e gastar menos com juros), de reduzir mais a taxa de juros ou, quase quimera, reduzir a carga de impostos (ou melhorar a sua distribuição, via reforma tributária). Seriam tarefas mais factíveis se a dívida baixasse à casa dos 30% do PIB.

Sim, parece um assunto tão velho. Que envelhecerá ainda mais, pois aparentemente será empurrado com a barriga, ad aeternum. Ou pelo menos até 2011, quase com certeza.

CARLOS EDUARDO NOVAES

A final americana

JORNAL DO BRASIL - 28/06/09

Deus pode não ser brasileiro – como dizem por aí – mas com certeza nutre uma simpatia especial pelas Américas, do Sul e do Norte. Deixou para Brasil e Estados Unidos a decisão da Copa das Confederações.

Para isso teve que operar milagres nos jogos dos americanos contra o Egito e a Espanha e suar a camisa – ou a bata – para garantir a vitória brasileira – nos minutos finais – contra o Egito e a África do Sul. Quem você pensa que orientou Dunga na substituição salvadora contra os Bafanas? Ao ver o técnico comentar com Jorginho que iria mandar o Pato a campo, Deus cochichou no ouvido do treinador:

– Bota o que tem nome de profeta.

– Quem? – respondeu Dunga sem saber de onde vinha a voz.

– O xará de um dos filhos de Judá. Daniel!

– Mas, Senhor, o Maicon está bem na partida.

– Se vira, meu jovem. Arranja um lugar para ele porque aos 43 minutos vai haver uma falta próxima a área dos africanos...

– Não quero discutir, Senhor, mas tenho bons batedores em campo.

– Sim, mas só Daniel poderá levá-lo ao Juízo (da) Final. Vá!

O Brasil na final não chega a ser uma novidade. O mundo reconhece nossa superioridade e os adversários tremem diante da camisa amarela. Não há uma única seleção que entre em campo com naturalidade para enfrentar o Brasil. Elas se sentem como se estivessem diante de um fantasma, de um gigante, de um time dos deuses. Tal temor facilita a tarefa da Seleção mesmo quando joga mal, como contra a equipe de Joel. Mas será que o Brasil atuou mal ou os africanos foram melhores do que a encomenda, como diria minha avó?

No futebol é raríssimo vermos dois times atuando bem o tempo todo. Quando um fica aquém da expectativa é porque o outro foi além e vice-versa. No caso, os sul-africanos foram além depois de passado o temor inicial (a partir dos primeiros 20 minutos). Joel Santana foi o único dos quatro técnicos que Dunga enfrentou a ver a liberdade com que Maicon evoluía pelo gramado e tratou de fechar a válvula de escape. Os africanos marcaram com competência, jogaram para frente e se tivessem permanecido mais cinco minutos com Nelson Mandela talvez levassem o jogo para a prorrogação. Aí seria um Deus-nos-acuda (Ele acudiu antes) porque a Seleção já dava mostras de estar com o fôlego na reserva. A África do Sul vendeu caro a derrota, vendeu por um preço que quase não conseguimos pagar.

A surpresa da final é a presença dos Estados Unidos, que mudaram da água para o bourbon depois da derrota para o Brasil. Deixando de lado a interferência divina, ficamos sem saber se os americanos chegaram à decisão porque o nível atual do futebol anda muito baixo ou se eles – que aprendem rápido – conseguiram memorizar como se joga futebol nos 90 minutos que estavam em campo com a nossa Seleção. O fato é que só se pode esperar uma vitória dos ianques hoje se Deus for americano.

Meu amigo Evilásio, que não entende nada de futebol, é a única pessoa que conheço que vai apostar nos Estados Unidos. Ele já ganhou uma bolada contra o Egito e a Espanha e vai continuar investindo nos americanos. Não adianta mostrarmos a ele o retrospecto entre os dois países, nem lembrá-lo da atuação pífia dos americanos na derrota de 3 a 0 na fase eliminatória. Evilásio orienta suas apostas por outras razões e declara que se Bush ainda estivesse no Governo não hesitaria em botar suas fichas no Brasil. Como os escândalos agora estão do lado de cá...

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BRASÍLIA - DF

Henrique Alves

CORREIO BRAZILIENSE - 28/06/09

Pressionado pelo PT e a oposição, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), vai substituir todos os representantes da legenda na CPI das Contas de Luz, menos o relator Alexandre Santos (PMDB-RJ), o pivô da discórdia. A CPI foi criada por integrantes da base contra a orientação do governo.

Com medo dos eleitores

Se não renunciar à Presidência do Senado, o risco de José Sarney (PMDB-AP), cujo mandato vai até 2015, pendurar as chuteiras mais cedo, é real. Nem tanto por causa das denúncias contra parentes e agregados do chefe político maranhense, mas sim porque a maioria dos senadores que o apóiam estão em sério risco eleitoral. Sarney não dispõe de tempo de dar a volta por cima e neutralizar os desgastes provocados pela crise ética que se abateu sobre a instituição.

No PMDB, Almeida Lima(SE), Garibaldi Alves (RN), Geraldo Mesquita (AC), Gerson Camata (ES), Gilvan Borges (AP), Leomar Quintanilha (TO), Mão Santa (PI), Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO) vão ter que enfrentar as urnas no próximo ano. Somente Renan, Jucá e Raupp são candidatos com reeleição tranquila. Os demais podem ficar pelo caminho

No DEM, a situação é mais ou menos a mesma. O único bem-posicionado é Agripino Maia (RN). Demóstenes Torres (GO), Efraim de Moraes (PB), Eliseu Resende (MG), Heráclito Fortes (PI) e Marco Maciel (PE) estão em sério risco eleitoral. Romeu Tuma (SP) e Sérgio Zambiasi (RS), no PTB; César Borges (BA), no PR; e Marcelo Crivella (RJ), no PRB, também. A maioria costuma manter a própria cabeça nos ombros e entregar a do presidente Casa, como ocorreu com Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, que renunciaram ao mandato.

Gringos

Os turistas estrangeiros que visitaram o Brasil em maio de 2009 gastaram US$ 354 milhões. Segundo o Banco Central (BC). o valor é 17% menor do que em maio de 2008, quando US$ 426 milhões ingressaram no País por meio do turismo. De janeiro a maio deste ano, os gringos deixaram aqui US$ 2,16 bilhões

Espião

Estados Unidos, França, Inglaterra e China brigam para vender um satélite de observação para o Brasil. O Ministério de Defesa utiliza de um sistema rudimentar para monitorar o território nacional. Os militares querem um satélite militar, capaz de enxergar um homem armado à noite, sob as nuvens ou a floresta.

Pixotes

A Cidade dos Meninos, no Recanto das Emas, projeto social similar ao realizado pelo governador Aécio Neves em Minas, começa a ser construída no dia 6. Será uma parceria entre o Governo do Distrito Federal e a iniciativa privada. O governador José Roberto Arruda (foto) determinou o uso do orçamento público para fazer o pórtico, a escola e as quadras de esporte. Empresários já se comprometeram a doar dez casas para os meninos e oficinas de aprendizagem.

No cafezinho

Alerta / A cúpula tucana entrou em estado de alerta por causa das denúncias contra o prefeito de Curitiba (PR), Beto Richa, cuja candidatura ao governo do Paraná começou a ser minada. O senador tucano Álvaro Dias (PR) continua uma alternativa da legenda para a sucessão do governador Roberto Requião (PMDB).

Daslu / Apesar de sua proprietária, Eliana Tranchesi, acusada de contrabando, ter sido condenada a 94 anos de prisão, a boutique paulista Daslu bombou no mês de julho. Com fila no quarteirão, esgotou o estoque de bolsas e sapatos da Chanel, que continua importando. Advogados da empresária paulista querem reduzir sua pena para 2 anos e 7 meses, no máximo.

Garoa / Marisa Vasconcelos, mulher do presidente do PPS, Roberto Freire, está de mudança para São Paulo. Pretende morar na Rua Pará, em Higienópolis, bairro tradicional da Capital e novo domicílio eleitoral do político pernambucano, que pretende disputar uma vaga na Câmara dos Deputados por São Paulo.

Itaipu / Os ministros das Relações Exteriores, CelsoAmorim, e de Minas e Energia, Edison Lobão (MDB), e o diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek, vão à Câmara terça-feira explicar o contencioso com o Paraguai sobre o acordo da Usina Hidrelétrica de Itaipu. O presidente paraguaio Fernando Lugo, com fama de tarado, afinou.

COISAS DA POLÍTICA

A flauta do Danúbio e o mistério de Michael

Mauro Santayana

JORNAL DO BRASIL - 28/06/09

Coincidiu a morte de Michael Jackson com o anúncio de que uma flauta encontrada nas cabeceiras do Danúbio, na Alemanha, foi produzida há 35 mil anos. A base do instrumento é longo osso de abutre gigante, daqueles séculos finais do Paleolítico, quando um homem das cavernas furou os quatro buracos na haste esguia, para emitir e modular o som. Entre o artista que fez soar o instrumento – e que, provavelmente, o tenha inventado – e o pop star, há toda uma teoria, a de que o homem é, antes de tudo, um animal lúdico. A ideia é desenvolvida por Johan Huizinga, historiador holandês, que os alemães transformaram em refém, e morreu na prisão. Em Homo ludens, Huizinga examina o apego imemorial dos seres humanos às brincadeiras, ao esporte, à dança e à música. Todos esses atos, que são simbólicos, se completam na comunhão com os outros. No fundo, os ritos da alegria convivem com o mistério. Em todas as culturas, a arte é associada aos deuses. Os templos são adornados e neles se cantam hinos sagrados.

O último fim de semana foi o de Michael Jackson. Os jornais divulgaram sua biografia conhecida, desde pequeno. Somente Mozart o precedeu, na idade, como artista, conforme os contemporâneos, porque, aos 4, já executava pequenas peças ao piano e, aos 5, compunha. Michael Jackson foi também um ser humano e, como ser humano, grande mistério. Outros artistas populares, que lhe foram contemporâneos, também tiveram vida trágica, mas menos fechada. Jackson vivia em um casulo. Por mais belas fossem as suas canções, e foram, não traziam o apelo mundano daquelas compostas pelos meninos de Liverpool, nem a forte identidade com a pobreza, como as de Elvis Presley. Elvis não foi intelectual como os Beatles, mas lhes deu os acordes do rock, sobre os quais eles construíram seu compasso. Tampouco foi pesquisador, como os ingleses, que colheram, em canções do mundo inteiro, a inspiração para seu trabalho. Mas foi o precursor. Seus biógrafos e companheiros fazem dele o retrato de um homem tímido, desconfiado do próprio êxito, e temeroso de retornar à miséria da infância. Provavelmente a humildade e a timidez o tenham aconselhado a não se exibir fora da América. Recrutado para o Exército, recusou integrar os grupos de entretenimento das tropas, e serviu como simples soldado na Alemanha.

Presley fora, até a adolescência, um dirt-poor, vocábulo cruel da época da Depressão, que designava a mais dura das pobrezas. Ele morreu logo depois dos 42 anos, obeso, cardíaco e, provavelmente, intoxicado pelas drogas. Aos 40, John Lennon foi assassinado por um louco em Nova York.

Michael Jackson, vindo depois, encontrou o êxito ainda menino. Talvez por isso não se fez adulto. O casamento com a filha de Elvis Presley – que durou tão pouco – provavelmente lhe tenha sido a tentativa de buscar a aproximação com o outro, que, não obstante a timidez, era grande sedutor. Jackson era também muito diferente de John Lennon e dos outros adolescentes de Liverpool. A impressão que dele muitos tiveram era a do menino que não crescera, não saíra dos 5 anos, com sua voz infantil, suas roupas coloridas.

As drogas foram a tragédia desses grandes artistas e de tantos outros de seus contemporâneos. É extensa a lista dos astros mundiais das últimas décadas que morreram de overdose. Tinham tudo, e lhes faltavam tudo. Aparentemente – e de acordo com o depoimento dos que o conheciam de perto, Jackson foi vítima das drogas. Uma coisa é certa: sua hipocondria o levava a usar muitos remédios.

A música explosiva surgida nos anos 50 e 60 substituiu as melodiosas canções norte-americanas e francesas, que encantavam antes os jovens, e passou a embriagar os que as ouviam. O alucinante meneio dos corpos, sob a explosão das luzes dos palcos, realçava – e realça ainda – o clima psicodélico dos imensos shows. Não há dúvida de que o fantástico êxito do moderno show-business contribuiu, quisessem ou não os artistas, para popularizar o consumo de drogas nos últimos 50 anos.

De todos os ícones populares – e alguns deles chegam à senectude com suas guitarras e baterias – ninguém ficará tão fortemente na História de nossos tempos do que esses rapazes nascidos pobres. E, entre eles, o mistério mais inquietante é o de Michael Jackson: um menino que cantava e dançava, e queria sair de si mesmo, ao esconder-se de si mesmo.

VAMOS FUMAR?


MÍRIAM LEITÃO

Lento regresso

O GLOBO - 28/06/09

Nos últimos três meses o mundo viveu um desafogo. Subiram as bolsas, os preços das commodities.

Caiu a aversão ao risco e despencaram os riscos de países e empresas. O dólar enfraqueceu em relação à maioria das moedas. O crédito começou a voltar. Tudo isso fez muita gente sonhar com o começo do fim da crise, mas os economistas estão divididos entre o V e o W.

Os mais otimistas acham que esse é o começo da recuperação da crise e que a economia mundial chegará ao fim do ano — alguns países mais rapidamente que outros — em ritmo de retomada para um 2010 melhor do que este difícil ano que estamos vivendo. Outros acreditam que pode haver uma segunda queda; é o cenário em W.

O que todos concordam: passou o pânico que quase levou o mundo ao precipício no final de 2008; reduziramse muito os riscos de uma grande depressão como a da crise de 1929; diminuíram os riscos bancários, apesar de os bancos ainda não estarem saneados.

Mas acabam aí os consensos.

A turma do W parece mais consistente. Há incertezas demais e artificialismos demais para se acreditar que este é o momento de retomada sustentada e de saída de uma crise dessa magnitude.

Há um enorme descasamento entre a economia real e o clima de carnaval fora de época do mercado.

Esse descasamento faz o mundo caminhar num fio de navalha: basta um dado ruim para precipitar um período de realização, ou seja, uma nova queda. Novos períodos de volatilidade podem ocorrer. Se não houver a rápida recuperação que está sendo prevista no segundo semestre.

Os excessos monetários e fiscais dos países ricos provocarão uma crise mais adiante. O ano de 2011 está marcado em vermelho em alguns calendários como um ano em que se pode enfrentar uma onda de inflação global. Hoje isso parece ficção, porque as economias maduras mal conseguiram afastar o risco da deflação. Mas com a intensidade do relaxamento fiscal e monetário é difícil escapar dessa onda.

Mas há riscos mais imediatos como uma nova onda de queda de ativos. O economista Nouriel Roubini publicou, em um dos seus últimos relatórios, que a economia chinesa pôs um tal volume de recursos à disposição das estatais que elas, sem conseguir alocar todos os recursos, estão estocando matéria-prima muito além de suas capacidades produtivas.

Os brasileiros que voltaram da reunião mundial da siderurgia, e que eu entrevistei no programa da Globonews, Marco Polo de Mello Lopes, do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), e Carlos Loureiro, do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), disseram que as avaliações feitas em Nova York eram de que a recuperação do consumo de aço nos países industrializados será lentíssima.

Eles falaram também que alguns analistas estavam avaliando no Steel Survival Strategies (antigamente o S era de Success) que a China pode estar chegando à maturidade em termos de consumo de aço. Pode parecer estranho, porque a China ainda tem milhões de pessoas para incluir no mercado de consumo, mas o que eles dizem é que o país sobreinvestiu em infraestrutura em 2009, e que nos próximos anos vai naturalmente reduzir o ímpeto desse investimento.

— A China saiu de 98 quilos de aço por habitante/ ano, em 1998, para 340 quilos por habitante/ano, agora. O Brasil está há 20 anos estagnado em 100 quilos — explicou Marco Polo.

Loureiro disse que ouviu de alguns analisas que os Estados Unidos não voltarão, num horizonte visível, aos níveis de consumo de aço de 2008.

Os déficits públicos dos dez países mais ricos do mundo podem levar o endividamento global desses países de 78% do PIB em 2007 para 114% do PIB em 2014, disse a revista “Economist” citando economistas do FMI.

Essa é uma crise de longo curso, com etapas e desdobramentos ainda por vir.
Com possíveis surpresas e reviravoltas, por isso a pior coisa que se pode fazer em relação a ela é subestimá-la.

No Brasil, governo e empresas estão confundindo a recuperação da Bolsa, a queda do risco-país, a queda do spread nos bônus lançados pelas empresas como o fim da crise. Não foi só o Brasil que passou por essa recuperação.

Foi uma onda. Este ano, até agora, a Bolsa da China aumentou 60%; a da Índia, 50%; e a do Brasil, 57%. Tudo isso em dólares.

Não é sinal de saúde. A economia da Rússia, que vai ter uma recessão de grandes proporções, este ano teve uma alta na Bolsa de 51,8%.

Num artigo publicado no “Economists’ Voice”, o Nobel Joseph Stiglitz aconselha conter a alegria: “o otimismo voltou com a primavera, mas a economia americana tem um longo caminho a seguir”, disse ele.

Se houver novos períodos de volatilidade, incerteza e queda de ativos, estará mais bem posicionado quem não subestimar o tamanho dos riscos que ainda existem na economia brasileira.

Há setores que vivem intensidades diferentes da crise, mas ela ainda está se desdobrando. Ainda há muita coisa mal resolvida e mal parada na economia mundial e brasileira.

Os Estados Unidos têm como uma de suas estratégias para sair da crise o investimento na transformação da velha economia intensiva em carbono em uma nova economia de baixo carbono.

Na sexta-feira, essa estratégia avançou mais um pouco com a aprovação na Câmara dos Representantes — por estreita margem — da primeira legislação que estabelece a redução de emissões e estimula a produção de energia limpa. Os republicanos acham que ela vai destruir empregos. O presidente Barack Obama acha que ela será um dos motores da retomada econômica.

CARLOS HEITOR CONY

O mundo continua

FOLHA DE SÃO PAULO - 28/06/09

Senadores tidos e havidos como da turma do “bem” sugerem o afastamento de José Sarney da presidência do Senado. Não faz muito, outros presidentes foram realmente afastados, mas voltaram ao convívio dos pais da pátria e continuam influentes.

No pega pra capar que está varrendo as lixeiras do Senado, poucos são inocentes e todos parecem culpados – foi o que Pedro Calmon disse em recente discurso. O próprio Sarney estendeu a crise a todo o Senado – o que tem lá sua verdade. Fernando Gabeira, que não é senador, mas deputado admitiu uma liberalidade que tomou com o dinheiro público, devolveu-o, pediu desculpas à nação e admitiu que foi envolvido no clima generalizado entre parlamentares que, mecanicamente, quase sem perceber, fazem do patrimônio público um bem particular.

Irã, crise no Senado, gripe suína – a pauta básica da mídia foi superada pela morte de Michael Jackson. A primeira impressão que se teve é que no dia seguinte o sol não nasceria para nos aquecer. Como poderíamos viver sem ele?

A solução parece que será a mesma que foi dada a Elvis Presley, um seu antecessor que até hoje não morreu. Trata-se de um recurso que consola um tipo de viúves sentimental toda vez que um ídolo vai embora deste mundo. Nos anos 60, dizia-se que John Kennedy e Marilyn Monroe não haviam morrido, estavam vivos, curtindo uma eterna lua de mel num rancho do Kansas.

No caso de Michael Jackson, há elementos para se duvidar de sua morte. Foi súbita, ele estava encalacrado financeiramente, com sua capacidade de promover espetáculos públicos e particulares, arranjou um sósia que morreu no lugar dele e se mandou para aproveitar anonimamente o resto do dinheiro que lhe sobrou.

GOSTOSA


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INFORME JB

Lula só defende mesmo o Sarney

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 28/06/09

Luiz Inácio Lula da Silva, quando candidato do PT à Presidência, queria exorcizar o então presidente José Sarney. Agora, beija sua mão. Mas não faz isso com os petistas. Na sexta, 19, ao lançar em Alta Floresta (MT) o mutirão Arco Verde, deixou ao relento a senadora Serys Slhessarenko. Lula aprontava-se para o comício e topou com o governador: "Blairo, quem vai falar no palanque?". Maggi olhou para o deputado estadual José Riva: "Quem vai?". E ouviu: "Falem os federais e a senadora Serys...". E Lula: "Ôh Riva, fala você, que tem voto no povão! Deixa a senadora pro Senado". Riva é do PP; Serys, do PT. Ambos de Mato Grosso. O PP teve origem na Arena, que apoiava os militares. O PT foi criado por Lula, pró-povão. Petistas históricos reclamam. Lula tem conseguido algo inédito na brilhante carreira política: dissociar-se do partido que fundou, e, pelo poder, deixar o PT nas mãos dos rivais.

Micos Preço x imposto

Se o presidente Lula reclama de problemas com licenças ambientais por obras, como as do PAC, agora tem um assunto pertinho do gabinete como pretexto: os micos que foram desalojados de um bosque para as obras de uma via entre o TCU e a Câmara. Os animais devem ir para o zoo.

O líder do DEM, deputado Ronaldo Caiado (GO), apresentou um projeto que propõe discriminar em todas as notas fiscais do país o valor do produto e o da tributação, dissociados. Isso, para conscientizar o consumidor da importância da reforma tributária.

Reforma

A PEC da minirreforma eleitoral, com pacote de sugestões – mais paliativas – para o próximo pleito vai a votação terça-feira na Câmara.

Promessa oficial

O líder da minoria, deputado Otávio Leite, conseguiu incluir emenda que obriga o candidato a cargo majoritário a declarar o plano de governo antes do pleito.

Janela indiscreta

O presidente da Câmara, Michel Temer, diz que a janela para fidelidade partidária é tema para outra PEC. Só para ela.

Moqueca...

O prefeito de Vitória, o petista João Cozer, anunciou apoio ao vice-governador Ferraço (PMDB), que tenta a vaga do governador Paulo Hartung – este disputará o Senado. Cozer fez, assim, o PSB começar namoro com o PSDB.

... estadual

O senador Renato Casagrande (PSB), que tem mandato até 2015, deve concorrer ao governo – ainda busca apoio de Hartung. E, se não houver, nessa parceria PSB-PSDB pode apoiar o tucano Luiz Paulo Velloso para o Senado.

Haja cachaça

A crise no Senado tem um lado curioso – para não dizer bom. Voltou a ser muito pedida nos balcões de beira de estrada, país adentro, a dose da Cachaça Senador (foto). E o preço ficou salgado. A garrafa de 960 ml passou de R$ 20 para R$ 31

Cinquentenário

Outra curiosidade: a cachaça é fabricada há 50 anos – o que José Sarney tem de carreira política.

Chico vive

Um dos roteiros turísticos que serão lançados no Salão do Turismo em São Paulo é Caminhos Chico Mendes, entre Xapuri e Rio Branco, no Acre. A rota lhe permitirá conhecer o dia a dia de um seringal da primeira metade e do século 20.

Diploma

Os deputados Miro Teixeira (PDT-RJ) e Paulo Pimenta (PT-RS) discutem formas de incluir a obrigatoriedade do diploma de jornalistas via PEC.