sexta-feira, outubro 02, 2015

O país da chanchada - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 02/10

Se pegarmos os acontecimentos políticos apenas no dia de ontem, teremos um panorama acurado do ambiente de chanchada que domina o país faz tempo. A começar pela preocupação da presidente Dilma na reforma ministerial que negocia para não perder a Presidência. Dizem que ela não gostou da indicação do PMDB para a Ciência e Tecnologia, pois o deputado Celso Pansera não teria "afinidade" com a área científica e lhe faltaria também "peso político"

O deputado é aquele "pau-mandado" do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que andou provocando calafrios no doleiro Alberto Youssef, que o acusa de tê-lo ameaçado e à família. Mas não foi Dilma quem escolheu para a mesma pasta o deputado Aldo Rebelo, alguém que apresentou projeto de lei para proibir a "adoção, pelos órgãos públicos, de inovação tecnológica poupadora de mão de obra"?

O ministério que deveria ser responsável por políticas de ponta na pesquisa e na inovação nas universidades e na indústria é ocupado até hoje por um comunista que se vangloria de sua "devoção ao materialismo dialético como ciência da natureza" que, por isso mesmo, considera que as denúncias de aumento da temperatura global são produto de um "cientificismo" que pretende "controlar os padrões de consumo dos países pobres"

Mas os pruridos da presidente não resistiram às pressões políticas, e o "pau-mandado" sem afinidade com a Ciência e Tecnologia vai mesmo ser o ministro da área, num país que precisa mais do que nunca da inovação tecnológica para avançar. Isso é um detalhe diante da necessidade de ganhar um pouco de ar, mesmo que seja poluído. Rebelo tem "peso político" e, embora seja do PCdoB, será nomeado ministro da Defesa. Por outro lado, o ministro da Educação, Renato Janine, que não tem peso político, mas sem dúvida tinha afinidade com a área, foi demitido em seis meses do ministério da Educação pela Pátria Educadora, para dar lugar ao preferido de Dilma, Aloizio Mercadante, que no momento está em desgraça com o tutor da presidente, de quem nunca foi próximo.

Tivemos também descobertas assustadoras na Operação Lava-Jato, como o diálogo via WhatsApp do chefe do cartel de empreiteiras, Ricardo Pessoa, com um funcionário da UTC, deixando registrada a contabilidade criminosa para a campanha de reeleição de Dilma.

Eles doavam legalmente ao PT, com registro no TSE, e descontavam o montante do dinheiro que saía desviado da Petrobras. Essa troca de mensagens, que mais uma vez demonstra a certeza da impunidade de todos os envolvidos, é evidência definitiva das ilegalidades que financiaram a campanha presidencial, e só reforça o processo do TSE para a cassação da chapa vitoriosa.

Mas eis que, depois de pedir vista impedindo a continuação do julgamento, a ministra Lucia-na Lóssio simplesmente sumiu de cena, não comparecendo à sessão marcada para retomar o processo. Sumiu e não deu satisfações. A menos que tenha ocorrido uma tragédia, é simplesmente um expediente chanchadístico para protelar a decisão: apertem os cintos, a juíza sumiu.

Outra notícia inacreditável é a da compra literal de uma medida provisória para prorrogar os incentivos fiscais a montadoras de automóveis, ainda no governo Lula. O "Estadão" informa que dois escritórios foram contratados pelas montadoras Caoa e MCC para conseguir a MP 471: SGR Consultoria Empresarial e Marcondes & Mautoni Empreendimentos, que já eram investigados por atuar para as montadoras no esquema do Carf.

A MP foi promulgada, mas o Planalto diz que tudo seguiu uma rotina normal, sem interferências. De duas, uma: ou houve a corrupção, ou o ambiente estava tão contaminado que foi possível a uns espertalhões dizerem que subornaram os agentes públicos por uma decisão que sairia normalmente.

Como efeito colateral, soube-se que Luís Cláudio Lula da Silva, filho de Lula, recebeu R$ 2,4 milhões de um dos escritórios de lobistas que atuaram pela MP 471, que prorrogou incentivos fiscais de montadoras de veículos. A Marcondes & Mautoni fez os repasses à LFT Marketing Esportivo, aberta em 2011 por Luís Cláudio.

O filho de Lula confirmou os pagamentos, mas alegou que realizou "projetos" na área esportiva, sem maiores explicações.

E last, but not least, descobre-se que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o homem que comandará (comandaria?) o processo de impeachment contra Dilma, tem várias contas não declaradas na Suíça, no valor de US$ 5 milhões. É ou não é o país da chanchada?


Preso na armadilha - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 02/10

A análise dos números do Tesouro Nacional divulgados esta semana mostra que o governo está numa armadilha difícil de sair. Há as dificuldades estruturais, as da recessão, e aquelas criadas pelas decisões tomadas no primeiro mandato. Receitas que o governo havia antecipado agora fazem falta aos cofres públicos. O corte de 37% no investimento este ano torna o ajuste de 2016 ainda mais incerto.

De janeiro a agosto do ano passado, o BNDES recolheu R$ 8,6 bilhões ao Tesouro como dividendo. Este ano, não pagou nada porque depois de vários anos antecipando receitas o banco não teve o que recolher. A Petrobras, que era outra fonte de antecipações de recursos ao Tesouro, não está pagando a nenhum acionista. O resultado é que as estatais, que nos oito primeiros meses do ano passado engordaram os cofres em R$ 17,5 bilhões, corrigidos pela inflação, este ano recolheram apenas R$ 5,4 bilhões.

O economista Mansueto Almeida acha que o governo não conseguirá continuar reduzindo investimentos. Este ano já cortou bastante e não poderá simplesmente zerar esse gasto. Isso torna mais difícil o ajuste fiscal no ano que vem, porque as despesas que tiveram a maior contração em 2015 não poderão mais continuar encolhendo.

O Ministério da Saúde cortou R$ 3,2 bilhões de despesas de janeiro a agosto, na comparação com o mesmo período do ano passado, em termos reais. A tesoura no Ministério da Educação foi maior: corte de R$ 4,3 bi. Os investimentos do Governo Federal, que já são baixos, caíram mais 37%, com uma redução de R$ 22 bilhões. O Ministério das Cidades cortou R$ 2,83 bilhões em investimentos, o dos Transportes reduziu em R$ 1,99 bi, e a Educação, em R$ 2,88 bilhões.

O Programa Minha Casa, Minha Vida, que financia moradias populares, ficou mais magro, assim como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em ambos, o governo gastou R$ 23 bilhões a menos este ano. Já as despesas de custeio da máquina pública subiram R$ 4,2 bilhões por causa das desonerações da folha de pagamento.

Ao mesmo tempo, a conta de subsídios dados em anos anteriores chegou muito pesada. Os gastos com o Programa de Sustentação do Investimento, que ficaram congelados por 24 meses por conta de uma determinação do então secretário-executivo da Fazenda Nelson Barbosa, em 2012, estão disparando. Subiram R$ 7,3 bilhões este ano. A equalização de crédito agropecuário subiu R$ 1 bilhão. Ou seja, houve desembolso para reduzir os juros de empréstimos subsidiados para agricultura em anos anteriores. A mesma coisa acontece com a rubrica "Operações de Crédito e Reordenamento de Passivos", que subiu R$ 13 bilhões. Tudo isso é conta antiga, do primeiro mandato, que está sendo paga no governo Dilma II. O governo está "despedalando", depois de ter empurrado despesas e puxado receitas. Além disso, distribuiu subsídios cuja conta pesa agora.

O buraco fiscal que o governo cavou tem quatro elementos: há despesas do primeiro mandato que estão sendo pagas agora; há perdas de receitas porque elas foram antecipadas; há a queda da arrecadação que acontece em toda recessão; há os rombos estruturais que ficaram ainda maiores com decisões tomadas nos últimos anos, como as que se referem à Previdência. Por ação ou omissão, o governo piorou o que já era difícil, e o país está vendo uma escalada do déficit previdenciário.

Alguns problemas pioram a contabilidade pública, como os swaps cambiais, mecanismo através do qual o Banco Central oferece seguro contra a variação cambial. O gasto com os swaps entra no déficit nominal, mas o ganho das reservas só é contabilizado na dívida líquida - indicador do qual desconta-se da dívida os ativos que o país tem. O problema é que ninguém mais olha esse indicador porque o governo o desmoralizou ao incluir como ativos os empréstimos de baixa liquidez como os feitos ao BNDES.

Mansueto Almeida acha que é muito difícil reequilibrar as contas a curto prazo sem recriar a CPMF. Apesar de todos os problemas, ele se diz mais otimista hoje do que no ano passado porque acredita que agora o debate sobre a necessidade de medidas estruturais evoluiu no Brasil. Neste momento, no entanto, ele admite que qualquer proposta que dependa de consenso político para cortes profundos não conseguirá avançar.


A dança dos ministros - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - 02/10

A terceira mudança na pasta da Educação apenas neste início de segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, novamente para contemplar não demandas do setor, mas interesses políticos, compromete definitivamente o slogan Pátria Educadora adotado em janeiro. Menos de seis meses depois de assumir o comando do MEC, já com alguns de seus programas de maior visibilidade em processo de esvaziamento, o professor Renato Janine Ribeiro foi dispensado do cargo. A razão é a necessidade de acomodar um ex-ministro da área — Aloizio Mercadante —, que perdeu a Casa Civil diante da prioridade do Planalto de ampliar o número de votos no Congresso, para aprovar projetos e afastar o risco de impeachment.

Poucas áreas de responsabilidade do poder público dependem tanto de políticas de longo prazo quanto a educação — e a imensa maioria dos países que conseguiram se desenvolver prova isso. Ainda assim, só nos governos Dilma Rousseff, foram cinco mudanças em menos de cinco anos.

A cada alteração ministerial, é preciso aguardar pela confirmação da nova equipe e pela definição de rumos, o que exige algum tempo. É o que ocorre agora, por exemplo, com as incertezas em relação ao Plano Nacional de Educação, e sobre os efeitos de mudanças no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e no programa Ciências sem Fronteiras.

Políticas educacionais precisam de continuidade e não deveriam ser submetidas a um jogo de interesses meramente político-partidários. Qualquer decisão desse tipo, como se constata na atual reforma ministerial, só pode ser considerada como deseducadora.

A primavera lulista - PAULO DE TARSO LYRA

CORREIO BRAZILIENSE - 02/10

Após um mês de negociações, idas, vindas, chantagens e apelos, a reforma ministerial que deve ser anunciada hoje tem como principais derrotados aqueles que, em outubro do ano passado, foram eleitos por 54 milhões de votos para presidir o país por mais quatro anos: a presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer. Ambos foram tragados pela estratégica política do ex-presidente Lula. O criador desenhou a Esplanada atual na justificativa de salvar o mandato da criatura Dilma. O PT queria Lula em 2018. Ele voltou ao poder na primavera de 2015.

Um a um, todos os conceitos e paradigmas idealizados pela presidente após derrotar o tucano Aécio Neves caíram por terra. Ela conseguiu implementar o ajuste fiscal necessário, mas conduzido por um economista mais rigoroso do que ela gostaria: Joaquim Levy. É bem verdade que Lula ainda sonha com Henrique Meirelles na Fazenda, mas, até o momento, vale a máxima de que não se pode ganhar todas.

Mas foi no coração do Planalto que Lula fincou a adaga na presidente. Se, no início do ano, a corrente majoritária do PT reclamava de ter sido escanteada, agora a tendência Construindo um Novo Brasil emplacou o hiperpetista Ricardo Berzoini na Secretaria de Governo. Ele foi ministro da Previdência e do Trabalho de Lula, e presidiu o PT no auge da crise do mensalão.

Jaques Wagner é mais lulista do que petista. Chamado de Galego pelo ex-presidente, foi ministro da Articulação Política durante o escândalo de 2005 - fazia, no Planalto, o mesmo papel de Berzoini no PT: atuou como bombeiro na crise. Lula sempre o quis na Casa Civil. Conseguiu agora, desalojando Aloizio Mercadante da pasta.

E o vice-presidente Michel Temer? Ninguém nega que ele continua sendo consultado. Mas Dilma optou por negociar diretamente com as diversas correntes peemedebistas. Temer deixou de ser o algodão entre os cristais peemedebistas da Câmara e do Senado. Agora, a nova articulação política terá que conversar, sem intermediários, com Renan Calheiros e Eunício Oliveira, no Senado, e Eduardo Cunha e Leonardo Picciani, na Câmara. Se o novo cenário dará certo, só o tempo dirá. Se der, méritos de Lula. Se não, culpa da oposição e da conjuntura internacional. Em nenhuma das hipóteses, Dilma aparecerá na foto.

A Síria é aqui - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 02/10

Ir e vir é direito assegurado pela Constituição. Não significa, porém, que as palavras se transformem em atos. A violência nas cidades é tal que torna letra morta mesmo garantias previstas na Carta Magna. Dados divulgados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública servem de prova. As capitais brasileiras registram um homicídio a cada meia hora. Nada menos que 15.936 pessoas perderam a vida em 2014 - alta de 0,8% em relação ao ano anterior.

No ranking das 10 mais violentas, oito se situam no Nordeste. Fortaleza ocupa o topo - a cada 100 mil habitantes, contabiliza 77,3 vítimas de homicídio doloso e de agressão e roubo seguidos de morte. É assustador. O índice ultrapassa o dobro da média das 27 capitais (33) e o triplo da média nacional (25,2). Maceió, São Luís e Natal ocupam o segundo, o terceiro e o quarto lugar. São Paulo apresenta a taxa mais baixa: 11,4.

Especialistas explicam a concentração de crimes violentos nas metrópoles mais importantes dos estados. Segundo Renato Sérgio de Lima, vice-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o fato se deve a três fatores: o tamanho dos municípios, o grande adensamento urbano e a insuficiente oferta de serviços públicos.

Em síntese, a tragédia tem íntima relação com o país que não soube crescer. A urbanização acelerada exigia planejamento capaz de tornar as cidades aptas a receber os novos moradores. Habitação, transporte, segurança, trabalho, educação, lazer, equipamento hospitalar, acesso a energia e a água deveriam acompanhar o crescimento populacional. Não foi porém, o que se viu.

Daí por que a administração de conflitos escapou das mãos do Estado. Sem inteligência e políticas eficazes, a impunidade parece imperar. Como o poder não suporta vácuos, outros atores entraram em ação. É o caso de traficantes. O secretário de Segurança Pública de Alagoas chama a atenção para a forte entrada de crack nas capitais da região. O consumo e o tráfico de drogas potencializam a violência. O crime organizado, vale lembrar, só prospera em Estado desorganizado.

Em aparente paradoxo, o investimento em segurança pública cresceu 16,6%. Em 2014, estados e União aplicaram, juntos, R$ 71,2 bilhões no setor contra, R$ 61,1 bilhões em 2013. Os números provam que dinheiro é importante, mas não suficiente. Falta estratégia. Segurança pública é processo em contínuo aperfeiçoamento. Deve articular, com coerência e rigoroso acompanhamento, componentes preventivos, repressivos, judiciais, sanitários e sociais. Sem isso, mantém-se o apelo ao jeitinho. E, claro, o enterro de mais cadáveres do que na Síria.

Ambiguidade alimenta incertezas - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 02/10

Nove meses de notícias ruins na economia e na política, cuja degradação do governo Dilma Rousseff é a face visível da crise em que o país se meteu, dificultam um olhar desapaixonado sobre o que foi feito nesse período e que, em condições normais, estaria ajudando a economia a se reerguer. Nem tudo é tragédia. Houve consertos importantes da pesada herança recebida do primeiro mandato de Dilma.

A depreciação da taxa de câmbio no ano se equipara a uma maxidesvalorização do real frente ao dólar. A última cotação (Ptax) de 2014 foi de R$ 2,65 e ontem fechou a R$ 3,97. A moeda doméstica teve depreciação de 33,25% entre dezembro do ano passado e ontem. Com esse preço o país ficou barato e as importações se tornaram proibitivas, o que resulta em um rápido ajuste das contas externas.

Os preços monitorados de energia, gasolina, diesel e transportes urbanos, entre outros, que foram represados até 2014 para segurar a inflação, se encontram hoje alinhados, ainda que tenham levado a inflação para quase 10% em 12 meses e a taxa de básica de juros para 14,25% ao ano.

A desastrada reforma do setor elétrico, que custou ao país mais de R$ 100 bilhões, foi parar na conta de luz do consumidor, que teve aumento, este ano, de mais de 50%. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, promoveu um choque de preços para recuperar as defasagens. O reajuste da gasolina e do diesel, esta semana, seria uma demonstração de que haverá "realismo tarifário", segundo fontes oficiais.

A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) - referência para os empréstimos do BNDES - após ficar estacionada em 5% ao ano em 2013 e 2014, teve quatro aumentos e é de 7% ao ano. Reduziu-se, assim, o tamanho do subsídio com o qual o Tesouro Nacional tem que arcar.

Uma das principais batalhas de Levy foi estancar a sangria de recursos do Tesouro Nacional para o BNDES emprestar a juros módicos. Foram transferidos R$ 571 bilhões para os bancos públicos, de acordo com o Banco Central. Desse total, o BNDES recebeu R$ 516,9 bilhões, cujos empréstimos vão, por anos, gerar uma conta exorbitante em subsídios.

O Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que absorveu boa parte dos recursos do BNDES, passou por uma revisão geral no início do ano. A taxa média para as operações contratadas a partir de janeiro subiu de 3,93% para 7,93% ao ano. Eliminou-se, assim, o custo decorrente da equalização de taxa de juros. Foram aprovadas as medidas que restringiram o acesso ao abono salarial, ao seguro-desemprego e a pensão por morte, que cresciam aceleradamente e sem justificativa razoável.

A desoneração da folha de salário para 56 setores da economia, que tornou-se permanente no ano passado como medida puramente eleitoral, teve que ser revista. Seu custo, como ficou claro, é totalmente desproporcional aos supostos benefícios.

O governo melhorou as taxas de retorno das concessões e ampliou o seu alcance; iniciou as conversas para um acordo comercial com o México, em um passo na direção de maior abertura da economia; e colocou ordem nos programas educacionais como Fies, Ciência sem Fronteiras e Pronatec. Até então esses programas não tinham um orçamento definido nem controles sobre o crescimento da despesa. Atendia-se à demanda.

A faxina promovida nas "pedaladas" das contas do Tesouro de janeiro para cá é notável. Até agosto foram pagos R$ 20,07 bilhões em subsídios e subvenções, sendo R$ 7,498 bilhões por conta do PSI. De janeiro a agosto de 2014, a Fazenda pagou apenas R$ 6,78 bilhões dessa despesa, sendo que, do total, somente R$ 117,2 milhões eram relacionados ao PSI.

No ano passado o Tesouro Nacional estava se apropriando de parte da complementação do FGTS, tanto que só repassou para o fundo R$ 439,4 milhões entre janeiro e agosto. No mesmo período de 2015, o repasse ao FGTS atingiu R$ 4,01 bilhões.

O total da despesa conhecida com a regularização dos pagamentos é de R$ 16,86 bilhões, ou 0,29% do PIB (estimado em R$ 5,797 trilhões). Esse montante é superior ao déficit primário de R$ 14,884 bilhões do governo central de janeiro a agosto. Haveria um pequeno superávit primário se o Tesouro não tivesse regularizado o fluxo de despesas.

Nem tudo, portanto, foi derrota. Avanços relevantes, embora insuficientes, foram obtidos mesmo diante de uma forte recessão que fez as receitas da União minguarem 4,8%, em termos reais. Falta, no entanto, parte importante do ajuste. Não há clareza sobre a trajetória da dívida/PIB nos próximos anos nem certeza de que o governo, que começou concordando com o programa do ministro da Fazenda, persistirá nesse caminho, ou se desviará dele.

Foram muitos os ruídos na direção da política fiscal, idas e vindas, mudanças de metas e a tormenta política que não deu trégua desde a abertura do ano legislativo, em fevereiro. Sem clareza de rumos, a confiança não veio e a recessão se aprofundou.

Nesse momento, o debate sobre buscar atalhos para o crescimento econômico está presente. Mesmo depois da experiência decepcionante que foi a política econômica de 2012 para cá, quando o "desenvolvimentismo" testou seu receituário e levou o país à crise de hoje.

Lula, que conduz as negociações da reforma ministerial em busca de apoio contra o "impeachment" de Dilma, no seu discurso dúbio estimula as incertezas. Fala em expansão do crédito e do consumo para o país sair da recessão. Como se as famílias já não estivessem por demais endividadas e os bancos públicos, usados como instrumento de oferta de crédito nos anos passados, já não estivessem transbordando os seus limites.

Foram as divergências na área econômica do governo e a indisposição do Congresso em garantir o ajuste para 2016 que levaram o país a perder o grau de investimento, segundo decisão da Standard & Poor´s. O risco de as demais agências de rating fazerem o mesmo continua. O país não sairá do atoleiro enquanto prevalecer a ambiguidade.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

AÇÃO PODE CUSTAR R$ 400 BILHÕES À PETROBRAS

A “class action lawsuit”, ação coletiva de acionistas da Petrobras na Justiça dos Estados Unidos, pode custar à estatal até R$ 400 bilhões, ou US$ 98 bilhões, valor exigido pelos sócios da Petrobras na ação. Segundo advogados, o julgamento, previsto para fevereiro, não deve chegar a ser realizado: nunca uma ação coletiva chegou a ser transitada em julgado. As “class action” sempre acabam em acordo.

US$ 20 BILHÕES

O valor do provável acordo entre acionistas e a estatal brasileira não será menor que 20% do que foi pedido, segundo especialistas.

CAPITAL ABERTO

Réus nos EUA, no caso a Petrobras, fogem de sentenças porque a Justiça é duríssima com esquemas em empresas com ações na Bolsa.

PUNIÇÃO À VISTA

A Petrobras, cujas ações são vendidas na bolsa de NY, é acusada de não seguir regras da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA.

LÁ E CÁ

A Justiça dos EUA aceitou pedidos dos acionistas estrangeiros, mas decidiu que os brasileiros devem acionar a Justiça do Brasil.

BLOCO ‘CUNHISTA’ ARTICULA RETIRADA DE LÍDER PICCIANI

Líderes e integrantes do bloco de partidos que elegeu Eduardo Cunha (PMDB-RJ) presidente da Câmara dos Deputados articulam destituir da liderança o deputado Leonardo Picciani (RJ). Os líderes dos partidos que integram o blocão PMDB-PP-PTB-PSC-PHS-PEN colhem assinaturas para destituir Picciani, que também é o líder do PMDB na Câmara. Até raposas peemedebistas ficaram irritadas com Picciani, que se “deslumbrou” com o aceno da presidente Dilma com ministérios.

TOMA LÁ, DÁ CÁ

Dilma procurou o líder peemedebista e do blocão “cunhista”, Leonardo Picciani, para que ele indicasse dois ministros da bancada do PMDB.

ALVO

As principais lideranças peemedebistas não gostaram nem um pouco da ousadia do jovem líder: Picciani virou a bola da vez no partido.

CARTEIRA ASSINADA

“Enquanto o Brasil perdeu 1 milhão de empregos, o PMDB ganhou sete”, disse Osmar Terra (PMDB-RS), que é contra o ‘toma lá, dá cá’.

MOVIMENTO PELO IMPEACHMENT

O movimento criado por 22 deputados da bancada peemedebista na Câmara contra a ‘barganha por cargos’ irritou a presidente Dilma. Encabeçado pelo deputado Lúcio Vieira Lima (BA), tem objetivo de não deixar o impeachment perder força e discutir ‘alternativas de poder’.

PALAVRA DO CHEFE

O ex-presidente Lula passou a quinta (1º) reunido com a presidente Dilma, polindo a reforma ministerial. Assim que saiu do Alvorada, por volta das 16h, assessores de Dilma dispararam ligações para convidar líderes para o anúncio do desenho da Esplanada: será hoje, às 10h30.

PETROLÃO NO PASSADO

O ex-presidente Lula revelou a aliados, orgulhoso, que a reforma ministerial tirou foco do escândalo da roubalheira na Petrobras. Se sente poderoso: ele precisou entrar em campo, de novo, para ‘salvar’ Dilma.

TERRITÓRIO MARCADO

A cúpula do PSB jura que não discutiu ocupar ministério com Dilma. O medo é a rejeição recorde de Madame: o partido prefere continuar na oposição, como defendia Eduardo Campos antes de sua morte.

OLHO GORDO

As confederações que compõem o Sistema S apresentaram ao governo proposta de repasse de R$ 5 bilhões, diz o deputado Laércio Oliveira (SD-SE). Só a CNC vai executar R$ 1 bilhão do Pronatec.

MARTELINHO DE OURO

A Executiva do PSDB de São Paulo refuga antecipar a discussão das eleições e bateu o martelo: as prévias para escolha do candidato tucano à prefeitura de SP ocorrerão somente no início de 2016.

PAPO DE LÍDER

O líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, tentou minimizar o ato de peemedebistas contra a barganha por ministérios. Disse representar a maioria e disparou: “20 deputados não são a maioria”. Segundo o líder, ele ainda recebeu ‘várias ligações’ de peemedebistas arrependidos.

ENCENAÇÃO

É no máximo jogo de cena a revolta de lideranças do PCdoB sobre a possível transferência do ministro Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia) para a Defesa. Leitores desta coluna sabem desde o dia 31 de agosto que a cúpula comunista negocia a cadeira de Aldo com o Planalto.

PENSANDO BEM...

...nesse ritmo, quando for concluída a reforma ministerial, Dilma já vai precisar de outra.


PODER SEM PUDOR

MORFEU, DEUS DO SONO

Benedito Valadares, interventor de Minas, conversava com o amigo Ciro dos Anjos quando, de repente, levou a mão à boca, num longo bocejo:

- Vou dormir, Ciro, entregar-me aos braços de Orfeu!

- Faltou um M, doutor Benedito - corrigiu o amigo.

- Orfeom é instrumento musical, Ciro. Eu estou é com sono mesmo...