O que esperamos de Temer e seus aliados, a maior base parlamentar da Velha Política, é que aprovem com urgência as reformas previdenciária e trabalhista
O governo Temer precisa aprovar a reforma da Previdência antes que acabe sua munição. Os principais homens do presidente estão na mira das investigações e caem dos ministérios em constrangedora sequência. Além dos experientes políticos do PMDB, há também importantes apoiadores no PSDB e no DEM entre os alvos das colaborações premiadas. São eminentes articuladores, sobreviventes de uma selva infestada de práticas degeneradas, espécimes aperfeiçoados da Velha Política dos quais depende a eficácia do governo.
Sem essa coluna da reforma previdenciária, desaba o teto de gastos e vem abaixo todo o regime fiscal. A economia voltaria em poucos meses a mergulhar no caos. A perspectiva de controle da expansão dos gastos públicos pela primeira vez em quase 40 anos é a mais importante âncora de um programa anti-inflacionário bem-sucedido e com pouco sacrifício em perda de produção e de empregos. Trata-se da dimensão fiscal que faltou em capengas tentativas anteriores de estabilização. Mesmo o Plano Real teve de botar os juros na Lua por falta dessa mudança de regime fiscal, que veio apenas no segundo mandato de FHC e, ainda assim, de forma branda e à base do aumento de impostos. A ininterrupta expansão de gastos públicos por décadas corrompeu a República e levou a economia à estagnação. A concentração de recursos no governo central enfraqueceu a Federação. O establishment político está em ruínas. É patético que haja congressistas sonhando com o parlamentarismo quando o Parlamento está em seu pior momento desde a redemocratização. A crise de representatividade se aprofunda. Como o establishment perdeu a decência, será avassaladora a renovação pelas urnas nas eleições de 2018.
A independência do Ministério Público, da Polícia Federal e do Poder Judiciário é a grande novidade de nosso traumático, mas inegável, avanço institucional. A revelação de um sistema político degenerado é um inestimável serviço ao aperfeiçoamento de uma democracia emergente. Mas a tarefa de reconstrução caberá às novas lideranças que emergirão das urnas em 2018. O que esperamos de Temer e seus aliados é que aprovem com urgência as reformas previdenciária e trabalhista, antes que seja tarde, pela eventual interdição de seus articuladores à luz das investigações da Lava-Jato.