sábado, dezembro 29, 2012

Negócio do ano - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 29/12


De um sábio, convencido de que Edson Bueno fez o negócio do ano ao vender a Amil para a UnitedHealth por US$ 4,9 bilhões:
— O grupo americano esqueceu que este setor é quase estatal. A performance da empresa depende muito da boa vontade do governo.
Faz sentido.

É dos carecas que...
Belo, o pagodeiro e falso louro que, como saiu aqui, está à procura de um prótese capilar, entregou, outro dia, numa roda, o colega Jorge Vercillo:
— O Vercillo também usa prótese capilar, e ninguém nota...

Invasão brasileira
Ontem, às 3h da madrugada, tocou o alarme de incêndio no hotel Stonebridge Inn, em Snowmass, Colorado. Do lado de fora, 15 graus negativos. Mas... era rebate falso. Pelo menos uns dez que saíram apressados dos seus quartos de pijamas eram... brasileiros.

Piores anos
A Sextante lança em janeiro agora “Escola — Os piores anos da minha vida”, primeiro título infantojuvenil do best-seller americano James Patterson. Ele é conhecido por suas história de suspense e já vendeu 260 milhões de livros em cem países.

Agora tudo bem
Joel Barcellos, 76 anos, avisa que já está bem e descansa em casa.
Há duas semanas, desmaiou dentro d’água, em Rio das Ostras, RJ, quase se afogou e foi salvo por pescadores.

Aliás...
O ator bem que poderia repetir MarkTwain (1835-1910), o escritor americano, quando disse “as notícia sobre minha morte são exageradas”. É que, na época do acidente,noticiaram que ele tinha morrido.
A Casa da Palavra lança no mês que vem uma fotobiografia de Cartola (1908-1980), o grande compositor mangueirense.
O livro de Denilson Monteiro terá prefácio de Sérgio Cabral, pai. A obra virá ainda com um CD com oito clássicos do último disco do sambista, “Cartola — Documento inédito”.

Acabou o amor
Vágner Love, que até outro dia fazia juras de amor ao Flamengo, tem dito a amigos que não tem mais vontade de jogar pelo clube.
A conferir.

Angra 1 e 2
A Eletronuclear vai investir, ano que vem, R$ 15 milhões na compra de equipamentos que vão reforçar o sistema de resfriamento dos reatores e das piscinas de combustível.
A medida faz parte do Plano de Resposta a Fukushima.

Segue...
Trata-se de um pacote de ações que aumentam a segurança nas usinas brasileiras.
Tudo para não repetir aqui os acidentes da usina japonesa.

Desistiu
A Natura, a firma de cosméticos, vai retirar sua marca da Estação Natura/Itararé, no teleférico do Complexo do Alemão.

Corte e costura
A Rádio Costureira diz que o Pactual negocia a compra das grifes Animale e Farm, que já trabalham juntas.

Trégua durou pouco
Um atrás do outro, helicópteros voltaram, desde o fim de semana passado, a sobrevoar o Leblon — e a baixa altitude, ao contrário do que ficou combinado com as autoridades aeronáuticas.

Mãos ao alto
Um estacionamento rotativo, ao lado de um hotel na Rua Xavier da Silveira, em Copacabana, no Rio, colocou uma placa anunciando o valor de seu serviço na noite de réveillon: “Período único: R$ 250.”
Parece roubo. E é.

Corpo estranho - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 29/12


RIO DE JANEIRO - Há 60 anos, um conjunto recém-surgido nos EUA começou a mudar as relações entre o jazz e o público: o Modern Jazz Quartet. Numa época em que o swing e o bebop ainda competiam sobre quem tocava mais rápido ou mais alto, o MJQ propunha um jazz de câmara, classudo, que só requeria atenção. Aliás, movido a piano, vibrafone, contrabaixo e bateria, ele tinha de ser assim.

John Lewis, seu pianista e líder, exigia respeito à música e ao público. Os quatro se apresentavam quase hieráticos, de terno ou smoking, sem caretas, contorcionismos ou conversa fiada. Só a música importava. Se a plateia estivesse falando alto, o MJQ tocaria ainda mais baixo, até ela se mancar. Se isso não acontecesse, eles terminariam o número e apenas deixariam o palco, sem brigas ou chororôs.

Bem, o MJQ venceu. Milhares, no mundo inteiro, aprenderam a escutá-los e a fazer psiu uns para os outros. Seu vibrafonista Milt Jackson era genial sem levantar uma sobrancelha ou emitir um único decibel fora da lei. Com o MJQ, o jazz foi sussurrar nas salas de concerto sem deixar de ser jazz.

Mas isso é anterior ao verdadeiro Big Bang -o da tecnologia. De 1980 para cá, o silêncio no mundo acabou. Não importa se em ambiente fechado ou ao ar livre, a amplificação do som chegou a volumes inenarráveis. E, nesse item, nada supera os trios elétricos. Numa recente passeata no centro do Rio, em defesa dos royalties do petróleo, havia três deles tocando ao mesmo tempo na avenida Rio Branco. Um trio engolia o outro, e cada qual tornava a vida intolerável por quarteirões. A única comunicação entre as pessoas era por mímica. Muitas foram embora antes do comício -para não enlouquecer.

Trios elétricos são um corpo estranho no Rio. Mas existem. E não adianta calafetar as janelas, os ouvidos e a alma. Eles penetram do mesmo jeito.

O velho e os gatos (de 6 dedos) - MARCELO RUBENS PAIVA


O Estado de S.Paulo - 29/12


O governo federal americano resolveu "tombar" os gatos de Ernest Hemingway e transformá-los em patrimônio nacional.

São 50 gatos herdeiros legitimados em testamento pelo Prêmio Nobel de 1954, estrelas de livros como Hemingway's Cats (Pineapple Press), que moram no 907 da Whitehead Street, em Old Town Key West, pequena ilha cercada pelo mar azul-turquesa da Flórida, na antiga casa feita de pedras nativas. Hemingway viveu de 1931 a 1940, bebeu e escreveu neste sobrado em estilo colonial espanhol pé na areia cercado por um jardim tropical e decorado por móveis antigos e animais empalhados (não gatos), hoje The Ernest Hemingway Home & Museum.

Alguns dizem que foi o período mais produtivo do autor de O Velho e o Mar, inventor do romance moderno que embola vida pessoal e ficção permeada por diálogos que causam efeitos na narrativa. Imitado por muitos de nós. Por mim, com certeza. Escrevia em pé na companhia de gatos de seis dedos. Normalmente eles têm cinco dedos na frente e quatro atrás.

Foi o capitão de um barco de Boston quem presenteou Hemingway com um gato da raça Maine Coon branco de seis dedos, Snowball. O bichano tendo em quem se inspirar achou que Key West era sempre uma festa e saiu espalhando o sêmen e o problema genético conhecido como polidactilia, depois de golinhos de leite e sobras de rum.

Hoje, os herdeiros são tratados e vacinados pelo veterinário Edie Clark e cercados por uma tela inclinada para dentro para impedir a fuga. A companhia farmacêutica Pfizer garante remédios para o bem-estar dos felinos, livres de pulgas e outros parasitas. A contrapartida é que os usa em anúncios.

Hemingway dava nome de pessoas famosas a seus gatos, como Picasso e Simone de Beauvoir. A tradição é seguida. Quer apostar que tem um Roth lá, gato velho e tarado, resmungando de dores no reto?

Se Snowball vadiou bastante pela ilha, calcula: os gatos que vivem lá e são tombados são da décima geração dos que se enrolaram pelos pés de Hemingway, ronronaram para ele, passearam entre seus papéis e lamberam seus beiços lambuzados de mojito. O velho Roth é pra lá do octaneto do escritor.

Não conheceram "Papa", no entanto exercem um fascínio peculiar. Fãs, leitores e turistas em busca dos cruzeiros caribenhos dão uma paradinha para vê-los. Lá estão os tataranetos dos tataranetos daquele mulherengo beberrão que gostava de caçar, pescar e de touradas, lutou em três guerras e deu um tiro de fuzil na boca.

Melhor blindar os peludos da ira dos flashes.

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Gatos domésticos vivem mais que os de rua, que morrem em brigas de gangue, xavecando felina do vizinho, em atropelamentos, envenenamentos, viroses e ataques de predadores, como fabricantes de tamborim e vendedores de churrasquinho de origem desconhecida. Sem contar que ninguém sai com uma seringa na mão procurando bichanos arredios para colocar a vacinação em dia. Dos felinos.

Vivem de 6 a 8 anos, enquanto seus colegas caseiros de 12 a 15 anos. É como comparar um homem solteiro-boêmio com um casado-caseiro. Gatos podem desenvolver doenças renais, cardíacas, diabetes, câncer, entre outras. Como nossos amigos que costumam fechar bar.

Castração traz vantagens aos bichinhos, já que muitas viroses, inclusive uma tal aids felina, são transmitidas sexualmente e pelo sangue, contágio que acontece em brigas e acasalamentos. O veterinário Diego Farjat diz que um gato alimentado, castrado e vacinado corretamente pode viver até 30 anos.

Sou do tempo em que comida do gato era pires com leite C, sobra do almoço, evitando-se osso de galinha que, diziam, entala, e sardinha em dia de feira.

O ideal hoje é ração específica para a raça, idade, peso e ambiente. Pode ser diet, natural, orgânica, para abaixar colesterol, queda de pelo, seca, molhada, premium, superpremium, para gatos com propensão a obesidade e diabéticos, com problemas renais crônicos, pelo longo ou para prevenção de recidivas na urolitíase. E, aprendi na marra, apesar de adorarem derivados do leite, eles não o digerem bem, ficam enjoados e têm diarreia. Eu ainda dava sobras de Activia aos meus coitados.

Gatos polidácteis foram no passado associados a bruxaria e eram mortos. No entanto, como trevos, pés de coelho, ferraduras, eram considerados sinais de boa sorte por marinheiros. Como esse dedo a mais da polidactilia não é usado, a unha a mais não é gasta, pode crescer muito e, por causa da curvatura, entrar na pele. Eles têm mais dificuldades em aprender a andar. Quem já tomou um porre daqueles sabe como é.

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Foi John Dos Passos quem apresentou Key West a Hemingway. O amor e ódio entre os amigos que participaram juntos da Guerra Civil Espanhola e depois nunca mais se falaram é um dos plots do telefilme Hemingway & Gellhorn, que não entrou em cartaz, só passou na HBO.

Filme decepcionante do grande Philip Kaufman (Os Eleitos), que usa imagens reais do conflito espanhol e fala do romance entre Hemingway (Clive Owen) e a correspondente de guerra Martha Gellhorn (uma Nicole Kidman deslumbrante), que virou sua terceira mulher, os debates sobre os rumos da revolução e a influência soviética, o caso dúbio entre John Dos Passos e o herói republicano Paco Zarra, vivido pelo nosso Rodrigo Santoro. A casa e os gatos de Key West aparecem.

Muitos filmes históricos hoje em dia parecem baseados no Wikipédia. Este é mais um, que se perde em reducionismos. Como a bronca que Ernest dá na mulher: "Escreva com o coração!". Eles transam ardentemente no hotel que é bombardeado. Tá bom. Era um bêbado insaciável ou um idiota?

É o terceiro telefilme de três horas e dividido em três partes que assisto nesse ano na TV: a maravilhosa produção franco-alemã Carlos, de Oliver Assayas, sobre o terrorista Carlos O Chacal (ganhou o Globo de Ouro e até o Prêmio da Crítica da Mostra SP), Hatfields & McCoys, produzido pelo History Channel, drama shakespeariano demorado que fala da guerra entre dois clãs antes unidos na Guerra da Secessão (Kevin Costner ganhou o Globo de Ouro de melhor ator), e Hemingway & Gellhorn.

O gênero não é telefilme, não é série, que costuma ter oito (Veep), dez (The Newsroom) ou 13 episódios (a maioria delas), é exclusivamente para a TV e dividido em três partes. Pelo jeito, uma nova tendência do veículo que sempre se renova. Aí, tem...

A casa dos sonhos - CLÁUDIA LAITANO

ZERO HORA - 29/12


Tem dessas casas que a gente olha de fora e se imagina dentro – como dono. Pode ser um pequeno sobrado escondido numa praia remota, uma construção sólida em uma rua cheia de árvores na cidade ou mesmo um palácio de dimensões continentais no lugar mais caro do mundo. (Certa vez, visitando o Museu Rodin, em Paris, me ocorreu que se eu fosse uma aristocrata francesa do século 18, ou uma escultora atormentada do início do século 20, era exatamente ali que eu teria escolhido morar – o que deve ser mais ou menos o equivalente imobiliário de uma paixão platônica pelo Brad Pitt.)

Essas fantasias de janelas de frente para o mar, palácios rococós e cabanas no topo de uma montanha povoam todo um bairro imaginário de lugares onde nunca vamos morar. Enquanto aquela casa que se encaixa no lote de realidade que nos coube viver é regida pela lógica dos financiamentos, das prestações, das reformas emergenciais e dos vizinhos barulhentos, a casa dos sonhos permanece imaculada no reino das abstrações, sem infiltrações do caráter perecível de tudo o que o homem constrói com tijolos.

Alguns poucos terão a sorte de poder comprar, construir ou mesmo herdar a sua casa dos sonhos, mas basta o caminhão da mobília descarregar seus pertences na casa imaginada para que ela imediatamente se evapore como fantasia para reencarnar como bem imobiliário. O alicerce da casa dos sonhos é o desejo ainda não realizado.

Casas e apartamentos nos conquistam mais ou menos como as pessoas: um tanto pela razão, outro tanto pelo arrebatamento. Nem todas as casas grandes e bonitas nos atraem, assim como nem todas as construções antigas e malcuidadas perdem seu encanto. É possível, portanto, percorrer uma rua desconhecida olhando para cada construção como quem explora um salão de baile cheio de pretendentes.

A beleza sempre é um elemento a ser levado em conta, mas só os muito tolos escolheriam um lugar para morar olhando apenas para a fachada. Para despertar nosso desejo de intimidade e convivência é preciso que a casa nos ofereça algo que ultrapassa a mera dimensão dos cômodos e o prestígio da vizinhança.

Algumas casas capturam nossa atenção porque são simpáticas e acolhedoras de um jeito particularmente anacrônico. Nenhum sinal de reforma recente, nenhum item da moda na decoração, nenhum arranjo de plantas que pareça receber cuidados profissionais. São casas em que não me imagino como dona, mas como visita de alguém que sempre estaria me esperando.

Porque nem todas as casas dos sonhos estão instaladas naquele futuro cheio de possibilidades onde pretendemos construir o espaço físico que melhor nos reflete e traduz. A casa dos sonhos, às vezes, não é exatamente um endereço, mas uma geolocalização existencial: um lugar de onde a gente saiu e para onde sempre sabia que poderia voltar.

Expansionismo a qualquer custo - FELIPE SALTO


O Estado de S.Paulo - 29/12


O resultado do governo central de novembro, divulgado pelo Tesouro Nacional, deixou claro, definitivamente, que o compromisso com as metas fiscais foi abandonado pelo governo Dilma. Até então, imaginava-se que seriam mantidas as aparências, como vinha sendo feito em anos anteriores.

Com o resultado negativo apresentado em novembro, no entanto, o governo federal sinaliza que o compromisso com a austeridade fiscal, ao menos nos moldes definidos pelo sistema de metas de superávit primário, foi ainda mais flexibilizado.

O dado preocupa, já que a distância entre a meta anual deste componente do setor público e o resultado acumulado no ano está em 0,6 ponto porcentual do Produto Interno Bruto (PIB). Some-se a isso o fato de que os governos regionais também estão apresentando resultados inferiores à sua parcela na meta total.

O desconto dos gastos com o Programa de Aceleração do Crescimento poderá ajudar a fechar a conta, em dezembro, bem como a receita de dividendos, conforme declaração dada pelo Secretário do Tesouro para a Agência Estado.

O esforço primário deve ficar abaixo do projetado, mas a estratégia para evitar o descumprimento da meta, até mesmo quando descontada do PAC, será idêntica àquela que temos condenado há vários anos: contabilidade criativa, agora com foco nas receitas de dividendos pagos pelo BNDES.

O compromisso com a geração de superávits primários está totalmente relegado a segundo plano. A ordem é o expansionismo e o objetivo é bastante claro: promover o aumento da taxa de crescimento do PIB, no curto prazo, a qualquer custo. Definitivamente, ao assumir que os dividendos é que vão ajudar na conta de chegada, aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, o governo termina de enterrar qualquer esperança a respeito da manutenção da responsabilidade fiscal.

A solução não é ficar mexendo nas leis - LUIZ FLÁVIO GOMES


FOLHA DE SP - 29/12


Nas sociedades de risco tecnologicamente avançadas, tal como descritas pelo sociólogo alemão Ulrich Beck, como podemos evitar ou minimizar os riscos decorrentes dos processos de modernização, especialmente na área do trânsito? Como reduzir drasticamente o trágico número de mortes nesse setor?

A União Europeia descobriu o caminho correto e passou a levar a sério um dos mais eficientes programas mundiais de prevenção de acidentes e mortes no trânsito, cumprindo rigorosamente uma lista com mais de 60 itens.

Eles envolvem uma ampla gama de aspectos: educação, engenharia (das estradas, das ruas e dos carros), fiscalização, primeiros socorros e punição. A taxa média anual de redução no número de óbitos no trânsito da União Europeia é de, aproximadamente, 5% (calculada com base nos dados de 2000 a 2009). Contrariamente, a taxa brasileira de aumento (de 2001 a 2010) foi de 4,06%.

Em 2010, registramos 42.844 mortes no trânsito, contra 32.787 da União Europeia. Mais de 10 mil mortes menos que no Brasil, mesmo tendo uma frota de veículos quatro vezes maior que a nossa.

O que o Brasil tem feito? Responde ao flagelo mortífero com novas leis, sempre mais duras e com a promessa de que agora vai resolver.

Essa política da enganação começou sistematicamente com o Código de Trânsito brasileiro em 1997, quando o Datasus registrava 35.620 mortes no trânsito. Como já não estava surtindo o efeito desejado, modificou-se o CTB em 2006, quando já contávamos com 36.367 mortes. Não tendo funcionado bem, veio a lei seca de 2008, quando alcançamos o patamar de 38.273 mortes.

De 2009 a 2010, logo após a ressaca da lei seca de 2008, aconteceu o maior aumento de óbitos no trânsito de toda nossa história: 13,96%.

Foi com aumento notável na frota de veículos, sobretudo de motocicletas, frouxidão na fiscalização, morosidade na punição e erros crassos da lei, tal como a exigência de comprovação de 6 decigramas de álcool por litro de sangue, que chegamos em 2010 a 42.844 mortes (dados do Datasus).

A projeção que fizemos no nosso Instituto Avante Brasil, para 2012, é de mais de 46 mil óbitos. Para dar satisfação simbólica à população, o que o legislador e a Presidência da República acabam de fazer? Nova lei penal, mais rigorosa que a anterior.

Sem severa fiscalização e persistente conscientização de todos, motoristas e pedestres, nada se pode esperar de positivo da nova lei.

O legislador, diante da sua impotência para resolver de fato os problemas nacionais, usa sua potência legislativa e com isso se tranquiliza dizendo que fez a sua parte.

Isso se chama populismo penal legislativo, porque se sabe, de antemão, que a situação não vai se alterar. Ao contrário, vai se agravar, porque a adoção de novas leis penais sempre ilude a população e adia o enfrentamento correto do problema.

O buraco do trânsito é muito mais profundo. Dessas políticas enganosamente repressivas e inócuas já estamos todos enfadados. A Europa descobriu há duas décadas o caminho correto. Vem colhendo excelentes frutos com essa iniciativa civilizada indiscutivelmente acertada.

Nós ignoramos completamente tudo que a fórmula europeia sugere e aprovamos, de tempos em tempos, novas leis penais, sempre mais duras. Pura enganação, em termos de prevenção da mortandade, embora sejam acertadas e necessárias algumas alterações legislativas.

Continuamos indiferentes com tudo aquilo que efetivamente deveria ser feito. Tiririca, ao se candidatar a deputado federal em 2010, dizia: "Pior que está não fica". O Brasil, no entanto, está conseguindo diariamente ficar pior, e bem pior, em vários setores.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 29/12


"Pibinho"
O ano de 2012 chega ao fim como o de menor crescimento econômico desde 2009.O PIB, estimado em 3,3% pelo mercado um ano atrás, não vai crescer mais de 1%. A indústria e o investimento não reagiram às ações de estímulo do governo. Até outubro, a produção industrial caía 2,7%, segundo o IBGE. A formação bruta de capital despencou 3,9% em três trimestres. O `Pibão' ficou para 2013.

Royalties
Terminou sem acordo a batalha dos estados pelos royalties do petróleo. Câmara e Senado aprovaram texto que repartia entre produtores e não produtores a renda de campos licitados. Dilma Rousseff vetou o artigo, para evitar ação no STF. Parlamentares articularam, sem sucesso, a derrubada do veto. O desfecho ficou para 2013, quando o governo sonha fazer dois leilões, um no pré-sal. O último foi em 2008.

Nova direção
Por quase R$ 10 bilhões, a UnitedHealth levou a Amil, de planos de saúde. Edson Bueno, fundador da brasileira, ficou CEO e presidente do conselho. No varejo, Abílio Diniz deixou o comando do Pão de Açúcar. O grupo francês Casino ficou com a empresa, dona também das redes Extra, Ponto Frio e Casas Bahia. Diniz terminou o ano brigando com o sócio na Câmara de Comércio Internacional.

Turbulência
Pouco mais de um ano após comprar a Webjet por R$ 310,7 milhões, a Gol decidiu fechar a empresa e demitir seus 850 funcionários. A Azul incorporou a Trip. A concentração aumentou na aviação brasileira. No fim do ano, o preço das passagens dispararam. Guarulhos, Campinas e Brasília terminam 2012 sob gestão privada. Em 2013, o governo vai licitar Galeão e Confins. Estima investimentos de R$ 11,4 bi.

Em queda
Nas contas da Economatica, até anteontem, a Eletrobras valia quase um terço de um ano atrás. Os investidores não perdoaram a adesão da estatal ao corte tarifário do governo. A Petrobras revisou o plano de investimentos e ficou sem reajuste na gasolina. Perdeu 10% do valor. Foi ultrapassada pela Ambev. A OGX, braço de óleo e gás do grupo de Eike Batista, despencou 68%. Seis empresas da EBX na bolsa caíram à metade.

Regulação
Anatel e ANS agiram contra abusos e ineficiências de operadoras de telefonia e saúde. TIM, Oi e Claro chegaram a ter venda de linhas suspensa, até a apresentação de programas de investimento. A ANS proibiu a venda de 268 planos de 37 empresas e mantém 141 sob intervenção. Já Aneel e Anac ficaram devendo atuações semelhantes em energia elétrica e aviação.

Ladeira abaixo
Por pressão da presidente Dilma, Banco do Brasil e Caixa lideraram os cortes nos juros dos empréstimos, das taxas de administração dos fundos e das tarifas bancárias. Sob o risco de perderem mercado, bancos privados seguiram a receita. Em novembro, o juro médio para pessoa física estava em 35,4% ao ano, o menor nível desde 1994, diz o BC. A Selic, taxa básica, também é a mais baixa da história: 7,25%.
Em alta
O dólar alcançou o nível de R$ 2. E nele ficou. Subiu 9,4% no ano, mas ajudou pouco as exportações, abatidas pela desaceleração mundial. A cotação estabilizada da moeda manteve o apetite por viagens ao exterior. Até novembro, os brasileiros gastaram US$ 20,2 bilhões lá fora. A alta no preço de alimentos e serviços manteve a inflação acima do teto da meta. O IPCA fechará 2012 em 5,7%. É muito.

Calote
A inadimplência disparou na 19 metade de 2012. Quase metade (47%) da classe C ficou sem condições de pagar dívidas nascidas do crédito farto, dado da CNDL. Igual proporção usou o 139 para saldá-las, diz a Fecomércio-RJ. Emprego e renda ajudaram.

Gigantes
A Apple vendeu, em três dias, cinco milhões de unidades do Iphone 5. Fez boa estreia, mas a liderança mundial em smartphones é da Samsung. O Facebook pagou US$1 bilhão pelo Instagram. Mas patinou na chegada à bolsa de valores.

Perdeu
A Delta sucumbiu ao caso Carlinhos Cachoeira. A CGU a considerou inidônea. Número um do PAC, perdeu obras do Maracanã e da Transcarioca. Está em recuperação judicial.

Saudade
De Aloisio Teixeira, Chico Anysio, Eric Hobsbawm, Gilberto Velho, Hebe, Ivone Kassu, J. Paulo, Joelmir Beting, Luiz Gazzaneo, Millôr, Oscar Niemeyer...

‘FELIZ ANO NOVO’ PARA ZÉ DIRCEU? - JORGE BASTOS MORENO - nhenhenhém

O GLOBO - 29/12

Zé Dirceu está se despedindo da liberdade para passar 2013 todo na
cadeia.
Por isso, foi-me difícil desejar-lhe feliz ano novo.
Localizei Zé no interior de Minas, numa verdadeira farra gastronômica de fazer inveja a qualquer apreciador da boa comida.
— Hoje, comi costelinha de porco frita na panela, com couve à mineira, torresmo e ovo frito em caçarola redonda, que é para ele sair redondinho também — descreveu.
Estraga prazer, como todo
repórter, interrompo o relato hedonístico do condenado e pergunto sobre a entrevista de Tarso Genro a Felipe Bächtold, na qual o governador gaúcho afirma que, com a exceção dele e de Genoino, as outras punições do mensalão foram justas.
— Não li. Li a do Márcio Thomaz Bastos e gostei. Até o dia 10, eu não comento nada.
— Por que dia 10? O que vai acontecer no dia 10? — quis saber.
Zé demorou para responder: — Nada. Foi o prazo que me dei como fim de férias.

Au-au!
Zé Dirceu pode se queixar da pouca atenção de Lula, mas, no caso da Dilma, é só amor e carinho. A presidente, vocês sabem, já está em Salvador, para passar o Ano Novo. Só que, na hora de embarcar, surgiu um problema gravíssimo: Nego, o labrador do Zé Dirceu sob sua guarda, se apegou tanto à presidente, que sente quando ela viaja e desanda a chorar.
Dilma só é insensível ao choro do Gabrielli. Ela se comoveu toda com choro do cachorro do Zé Dirceu. Quase desiste.
Resultado: Nego foi junto.

Será?
Abriu-se a bolsa de apostas: oficialmente, segundo a agenda presidencial, Dilma fica na Bahia até o dia 11, mas a maioria dos apostadores acha que dia 4 ela já estará de volta.Para dar a primeira bronca de 2013 no Patriota.

Cultura
Dilma voltou da Rússia encantada com os três bailarinos catarinenses do balé Bolshoi.
Por isso, desde que voltou, tem azucrinado as vidas de Graça Foster, Jorge Hereda e Aldemir Bendine para patrocinarem a filial brasileira do Bolshoi, em Santa Catarina.

O que vem aí!
Só mais uma da Dilma, prometo, para ninguém perceber que esta coluna é governista. Aos ministros que reclamam que o governo tem apanhado muito da mídia e da oposição, a presidente tem respondido: “Só vai piorar”.

Espantalho
Desculpem-me, mas esta não posso deixar de dar. Sabem qual o critério da Dilma para nomear novos ministros? Que eles não sejam candidatos em 2014.
E ministros de um ano só.

Fofo, ele!
Lobão liga para dizer que ministro só sai por ordem da presidente ou por vontade própria:
— A Dilma não quer me demitir. Nem eu quero sair!

O intérprete
Enfim, vamos à oposição. Vejam que nota importante:
Estava eu jantando com uma bela morena alemã que, como eu, também fala mal o português e eis que me aparece FH para me socorrer:
— Eu nasci em Berlim!
E os dois começaram a conversar animadamente em alemão.
— Ela não quer nada contigo! Alemães não gostam de brancos — avisou-me.
A alemã deu uma gargalhada, o que me fez duvidar da nacionalidade dela, também. Mas agradeci e propus:
— Seria o cúmulo da decadência eu convidá-lo para almoçar?
— Não, apenas o início! 

Fim do Mundo
Esta sim é a verdadeira desmoralização da moralização pública:
Os homens de bens torcem para Mabel derrotar Cunha n disputa pela liderança do PMDB na Câmara.

Em boas mãos
Com as férias da Dilma, o Palácio do Planalto ficará sob os cuidados da Ideli, já que Gleisi deu plantão no Natal.

Perda
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, começa o segundo mandato com duas grandes baixas.
A jornalista Marcella Müller está deixando a coordenação de Comunicação Social da prefeitura.
E, Rafael Lisbôa, também jornalista, a de assessor de imprensa do prefeito.

PERIGUETE SÓ NA TELA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 29/12

A atriz Bruna Marquezine, 17, não leva para casa o figurino de funkeira de Lurdinha, sua personagem na novela "Salve Jorge", da Globo. "Até uso minissaia, mas nada vulgar. Não gosto de jeans justo e em raríssimas vezes uso vestidos mega-apertados", diz ela à revista "Looks Mais" de janeiro.

PÉ NO BREQUE

Dilma Rousseff viaja de férias com uma preocupação na cabeça: o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo. O reajuste terá impacto direto na inflação de 2013. A presidente já transmitiu a apreensão à equipe do prefeito eleito Fernando Haddad.

TETO

O aumento é considerado inevitável, já que as passagens estão congeladas há dois anos. Haddad tem reafirmado que já estabeleceu um teto: a inflação do período, ou algo em torno de 10%.

NO CENTRO

Marcos Barreto comandará a Subprefeitura da Sé, a mais poderosa de todas.

Ex-secretário de Habitação na administração Marta Suplicy (PT-SP), ele é do grupo do deputado federal Paulo Teixeira, a quem sucedeu naquela época no comando da pasta.

VASSOURA

O programa Cidade Limpa recolheu, neste ano, 2,8 milhões de propagandas irregulares nas vias de São Paulo. O número é quase 400% superior ao volume de 2011, quando 587 mil publicidades foram retiradas das ruas.

LIMPA

Lambe-lambes foram a maior apreensão de 2012: 2,5 milhões, segundo a Secretaria das Subprefeituras. Outros materiais, como placas, faixas, banners e cavaletes de toldos, somam 282.459.

VEM QUE TEM

O site Work in Brazil, criado para ajudar estrangeiros que querem trabalhar no país, recebeu 250 inscrições desde seu lançamento, em outubro. Metade dos interessados são de Portugal, Espanha ou Grécia. Têm ensino superior e interesse em atuar no mercado financeiro, em direito, em marketing e em comunicação.

CLIMA FRIO

Na festa de aniversário de Bia Antony, no dia 3 de novembro, Ronaldo circulou entre os convidados somente enquanto gravava o quadro Medida Certa do "Fantástico" -a ideia era mostrar a dieta que ele fazia.

Depois, o Fenômeno se recolheu com alguns amigos para outro ambiente da casa.

INTERCÂMBIO

A galeria britânica White Cube, que recentemente inaugurou um espaço em SP, representará a brasileira Jac Leirner na Europa e na Ásia.

E prepara uma mostra individual da artista no ano que vem, em Londres.

MIÁ AO MAR

A humorista Miá Mello, recém-dispensada de "Casseta & Planeta", vai passar o mês de março gravando o filme "Meu Passado me Condena" em um navio de cruzeiro.

"A equipe vai ter de ser pequena e tomar remédio para não ficar mareada", diz ela.

Ó O OTTO AÍ

O cantor pernambucano Otto fez show do disco "The Moon 1111" anteontem. A estudante Gabriela do Amaral, a professora Alessandra Prado e a química Mariana Coutinho foram ao Sesc Belenzinho para ver a apresentação.

PALMAS

A advogada Livia Gonella foi à festa vespertina de Natal We Clap!, no Butantã. Thallita Serafim, Carolina Raucci e Katharine Pereira também estiveram na balada.

CURTO-CIRCUITO

O grupo circense The Pambazos Bros apresenta os espetáculos "Porongo Vaudeville" e "MagiKamerluza". Hoje e amanhã, no Sesc Pinheiros, às 16h, com entrada franca. Livre.

A balada Revolver faz sua última edição do ano hoje, com Johnny Da Cruz. No The Society. 18 anos.

A festa fetichista Luxúria Sete Pecados acontece hoje, no Mini Club, na Consolação. 18 anos.

O projeto Green Invasion leva hoje, a Fernando de Noronha, os DJs Yves Larock (Suíça), Dave Lambert (Bélgica), Felix Nagorsky (Israel) e Marco Hanna (Brasil). 18 anos.

Bruno Chateaubriand e André Ramos fazem festa de Réveillon na segunda, no Rio, na Gávea.

Sob nova direção - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 29/12


Fernando Haddad concluiu a montagem de seu time de 31 subprefeitos, colocando fim à era dos coronéis nas administrações regionais de São Paulo. Além do ex-secretário Marcos Barreto, escalado para a Sé, os outros selecionados pelo petista são engenheiros e arquitetos de carreira. A triagem levou em conta as características e demandas dos bairros. O prefeito eleito reunirá hoje a equipe completa para as instruções iniciais, com foco nas providências para o período de chuvas.

Escanteio 

A despeito da pressão de aliados, Haddad vetou também indicações de vereadores para funções consideradas técnicas nas subprefeituras, como supervisão de obras, finanças e setor jurídico. O prefeito eleito reservou cota de cargos para preenchimento político nas áreas de esporte, cultura e atendimento comunitário.

Santo de casa 

A medida contrariou sobretudo o PT, que chegou a aprovar lista de candidatos a postos de direção em cada zonal da capital. Petistas percorriam as subprefeituras desde o final do segundo turno da eleição apresentando o que seriam os futuros supervisores e administradores no novo governo.

Meteorologia 

Em longa reunião, anteontem, Gilberto Kassab exibiu a Haddad o sistema de acompanhamento de metas e serviços de zeladoria da prefeitura, que funciona em tempo real. O QG haddadista se mostra preocupado com os planos preventivos para áreas de risco.

Presente... 

Caberá ao tucano Eduardo Gomes (TO), primeiro secretário da Câmara, empossar na próxima quarta-feira, 35 deputados que assumirão mandatos no lugar de parlamentares eleitos prefeitos e indicados para secretarias municipais.

... de grego 

Entre eles estará o petista José Genoino, condenado no mensalão, que herdou a vaga de Carlinhos Almeida. Gomes foi escalado por Marco Maia (PT-RS) por ser o integrante da Mesa que mora mais perto de Brasília, o que facilitaria o deslocamento em pleno recesso.

#tamojunto 

Apesar da disputa acirrada pela liderança do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN) garante que os candidatos fecharam acordo para que, independentemente do resultado, o vencedor tenha unidade da bancada. "Com a minha colaboração, do partido e de Michel Temer", diz.

Liberado

Estão no páreo Eduardo Cunha (RJ), Danilo Fortes (CE), Sandro Mabel (GO), Osmar Terra (RS) e Saraiva Felipe (MG). Peemedebistas acusam Alves de boicotar Cunha, que não teria a simpatia do Planalto. O líder afirma que não há veto.

Meridional 

Derrotado, o prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, atuará para turbinar o PSB no Sul. A pedido de Eduardo Campos (PE). percorrerá a região para divulgar vitrines de sua administração.

Verão... 

Ao analisar artigo de Márcio Thomaz Bastos, criticando a Justiça e a "tendência repressiva", um ministro do STF lembra que foi o próprio advogado, quando esteve à frente do Ministério da Justiça de Lula, quem incentivou a PF a realizar megaoperações e investigações.

... passado 

"Quem começou com Estado perseguidor foi o próprio. Ele se queixa de algo que estimulou", diz o integrante da corte.

No escuro 1 

A Infraero admite que o apagão de quarta-feira no Galeão (RJ) pode ter sido causado por falha humana. Sindicância aberta pela estatal para apurar eventuais erros na operação dos equipamentos de geração emergencial de energia deve ficar pronta em 15 dias.

No escuro 2 

Para a revisão do sistema de redundância, espécie de reserva de geração do aeroporto internacional, a previsão é de solução em seis meses. É o tempo para conclusão de licitação estimada em R$ 45 milhões.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
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TIROTEIO

"Dilma acerta no diagnóstico do apagão. Este é o governo da falha humana. Falha humana na saúde, na educação, na segurança."

DO SENADOR ALOYSIO NUNES (PSDB-SP), sobre a presidente ter dito que os recentes blecautes não têm como causa atraso em obras de infraestrutura.
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CONTRAPONTO

Guerra dos sexos

Durante evento realizado no Palácio dos Bandeirantes, no início do mês, em que assinou lei permitindo a nomeação de mais 400 defensores públicos do Estado, Geraldo Alckmin mostrou-se impressionado com a quantidade de mulheres aprovadas, cerca de 70% do total. O governador tucano disse:

-Logo, logo, vamos ter que criar o nosso Dia Internacional do Homem!

Em seguida, diante das gargalhadas da plateia feminina, Alckmin, católico praticante, completou:

-E já tem até uma data! Eu defendo que seja no mesmo dia de "Todos os Santos".

A fonte de novos apagões - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 29/12


O Brasil parece condenado a sofrer com os apagões. Novas interrupções do fornecimento de energia para extensas regiões do País, como as que têm ocorrido com frequência desde setembro, podem ser uma das consequências práticas danosas da Medida Provisória (MP) n.º 579, que trata das concessões do setor elétrico e das tarifas de energia.

Pelo menos é o que se pode concluir das declarações do presidente do Operador Nacional do Sistema (ONS), Hermes Chipp, segundo o qual o País precisa "conviver com certo nível de risco" no fornecimento de energia por falhas no sistema. Para eliminar todos os problemas, reduzindo os riscos ao mínimo, segundo ele, seria necessário fazer investimentos em bloco, o que acabaria sendo repassado para a conta de luz. Como a tarifa não pode aumentar em razão da política instituída pela MP 579, os investimentos não serão feitos no volume e no ritmo correspondentes às necessidades do País.

Se essa política funcionar, o consumidor deverá pagar menos pela energia, mas não terá a garantia de fornecimento regular, uma vez que as concessionárias, descapitalizadas, não terão recursos para investir no sistema, que continuará sujeito às falhas que provocam os apagões.

Para a presidente Dilma Rousseff, no entanto, as causas dos apagões são outras. Na maioria das vezes, segundo ela, as interrupções decorrem de falhas humanas. De fato, a baixa credibilidade do sistema elétrico, que a MP 579 corrói ainda mais, resulta, entre outros fatores, do despreparo dos operadores para agir em casos de emergência.

Reportagem do Estado (24/12) mostrou que, no apagão de fevereiro de 2011, quando oito Estados do Nordeste ficaram sem luz por horas, operadores não sabiam o que fazer, desconheciam itens essenciais dos manuais de operações e, quando tentaram agir em algumas circunstâncias, encontraram portões trancados, aparelhos fora de operação, disjuntores fechados e orientações discrepantes.

Para o consumidor que fica sem energia, porém, pouco importa saber se a causa foi ou não falha humana. Ele quer um sistema que lhe garanta fornecimento regular de energia. Mas o que se vai constatando na prática é que, ao mudar a regulamentação do setor elétrico com a MP 579, o governo poderá tornar o sistema mais suscetível a apagões, pois as alterações afetaram não só os investimentos futuros, mas também os que estavam em curso.

Como noticiou o jornal Valor (19/12), a Alstom, fabricante de equipamentos para o setor elétrico, teve congelados R$ 160 milhões relativos à parte que lhe caberia no programa de modernização da Usina de São Simão, da Cemig. Outra reforma suspensa pela concessionária é a da Usina de Volta Grande, com investimentos previstos de R$ 321 milhões, dos quais R$ 248 milhões em equipamentos a serem fornecidos pela Voyth Hydro.

Os planos da Cemig previam investimentos de R$ 1,6 bilhão na reforma de usinas nos próximos 15 anos, incluindo a de Salto Grande. Todas essas usinas entraram em operação há décadas - São Simão em 1978, Volta Grande em 1974 e Salto Grande em 1955 - e seus equipamentos já se tornaram obsoletos. Por isso, precisam ser trocados para que as unidades ganhem eficiência e mais potência.

O Brasil necessita de investimentos em infraestrutura, como reconhece o próprio governo, razão pela qual não faz sentido interromper programas em execução em um setor-chave, como o de energia hidrelétrica. Mas, como outras concessionárias, a Cemig não se sente em condições de dar garantias aos fornecedores, pois seus dirigentes ignoram qual será o cenário depois de a MP 579 entrar em vigor. "Como não temos segurança de que os próximos investimentos serão reconhecidos, eles acabam suspensos", disse Wantuil Dionísio Teixeira, superintendente da Coordenação Executiva para Modernização de Usinas da Cemig.

O problema é de extrema gravidade e não pode ser resolvido da forma autoritária como o governo tem conduzido a questão da redução das tarifas. Este é um item importante para dar mais competitividade à indústria nacional, como pretende o governo, mas é absurdo falar em ganhos de produtividade sem energia suficiente para atender à demanda do País.

Contas no vermelho - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 29/12



As contas públicas estão em rápida deterioração. O Banco Central é o único organismo do governo que vem alertando para isso. Ainda assim, não vem sendo capaz de expor as reais dimensões do problema.

Ontem, o relatório do Tesouro Nacional mostrou em novembro um rombo de nada menos de R$ 4,3 bilhões na condução das finanças do governo central, o primeiro resultado negativo desde o meio de 2011. O Banco Central, por sua vez, incorporou os balanços fiscais dos Estados e dos municípios e concluiu que, em 12 meses, a meta do superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) ficou em apenas 1,9% do PIB, quando deveria ser de 3,1% do PIB.

O diretor do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, reconheceu que o déficit nominal (incluídas as despesas com juros) do setor público em novembro foi o mais baixo desde 2009. Mas, ainda assim, fez o jogo do contente: disse que, diante da crise internacional e das circunstâncias, o resultado fiscal do setor público está apresentando desempenho satisfatório.

Mas o que é que vai acontecendo? Aturdido com o pífio comportamento da atividade econômica (crescimento do PIB provavelmente não superior a 1%), o governo Dilma passou a dar prioridade a produzir resultados imediatos. Por isso, afrouxou os controles.

Nessa tarefa, já não olha nem para questões institucionais. Quarta-feira, a presidente tomou decisões que atropelam o Legislativo e também o entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre a matéria.

Diante da decisão do Congresso de postergar para fevereiro a votação do Orçamento, a presidente Dilma não vacilou em editar medida provisória que abre crédito extraordinário de R$ 42,5 bilhões para gastar nos primeiros meses de 2013.

A Constituição proíbe taxativamente esse tipo de expediente. Um precedente foi declarado inconstitucional pelo Supremo em 2008.

O ponto de vista do Congresso é frontalmente contrário ao da presidente da República: o exame do projeto de lei orçamentária não é matéria imprevisível e urgente, dois pré-requisitos de uma medida provisória sobre "questões de orçamento e créditos adicionais suplementares".

A presidente Dilma parece contar com a omissão do Congresso Federal e da oposição. Não acredita que possam reverter o fato consumado em meio à temporada de recesso. Resta saber se políticos da oposição estão mesmo dispostos a questionar a decisão tomada no Supremo.

E há as questões puramente econômicas. O desequilíbrio das contas públicas leva o risco de atiçar ainda mais fortemente a inflação, que também não conta com ajuda da política monetária (política de juros), porque a decisão do governo foi também soltar as rédeas das emissões de moeda.

O prejuízo maior pode ser a percepção de que os desequilíbrios da economia se aprofundem e, com eles, se fragilize ainda mais a confiança na política econômica. A presidente Dilma, por sua vez, parece disposta a correr os riscos. Imagina que possa gastar um pedaço do seu atual capital em popularidade e aprovação de seu governo.

Abismo político - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 29/12


Os Estados Unidos chegaram ao último dia útil do ano com os pés em falso, na beira do abismo. O país enfrenta uma crise sem precedentes. Só que não é econômica, nem fiscal, como normalmente é apresentada. A crise é política. O sistema não consegue construir consensos, estressa o país e impõe riscos extremos a todos. Tem dado mostras de que não está funcionando.
Com que artefato os parlamentares americanos brincam à beira do abismo enquanto o ano termina? Com a credibilidade dos títulos de maior confiança do mundo. Eles tiveram o primeiro rebaixamento da sua história, mas quando há incerteza no mundo, mesmo que a origem seja a economia americana, os capitais correm para a dívida dos Estados Unidos. Até quando a credibilidade dos Treasury Bills continuará alta?
Em qualquer sistema político há momentos de impasse, mas o que está acontecendo agora nos Estados Unidos vai além disso. Virou um bloqueio completo. Quando há uma crise política, a análise mais sensata sempre mostrará culpados em ambos os lados. Neste caso, a culpa é integralmente do Partido Republicano.
Isso tem sido dito cada vez mais nos Estados Unidos por especialistas. Em abril, os cientistas políticos Thomas E. Mann, do Brookings Institution, e Norman Ornstein, professor do American Enterprise Institute, publicaram um ensaio sobre o problema no Washington Post. Juntos, eles escreveram o livro “É pior do que parece: como o sistema constitucional americano colidiu com a nova política do extremismo”.
Os dois disseram que sempre mostraram as culpas de cada um dos partidos americanos, mas agora se rendiam ao fato de que há um culpado pelo bloqueio: o Partido Republicano.
O que tem se visto nos conflitos em torno da economia nos últimos dois anos confirma a impressão dos acadêmicos. Em meados de 2011, os republicanos levaram o impasse além do razoável na discussão da elevação do teto da dívida americana. Nos últimos dias, até o líder republicano John Boehner teve seu plano B bombardeado pelos seus liderados. Ontem, o presidente Barack Obama passou a tarde reunido na Casa Branca com líderes políticos tentando dramaticamente um acordo.
Não tem havido espaço para negociação na política fiscal, mudança climática, energia, políticas sociais ou qualquer tema. Os dois cientistas políticos aconselham a imprensa a abandonar o tradicional método de pesar igualmente argumentos dos dois lados e pedem que os jornalistas se perguntem quem está fazendo reféns, com que riscos, e com que objetivos.
Dois cientistas políticos, Keith Poole e Howard Rosenthal, que pesquisam tendências históricas de polarização política, concluíram, com base nos estudos dos votos, que os republicanos estão agora na posição mais conservadora em um século.
A radicalização teria começado, segundo Mann e Norquist, com Newt Gingrich, em 1995, mas o evento mais recente é o da facção de extrema-direita formada pelo Tea Party. Batida nas urnas, ela, no entanto, tem conseguido empurrar todo o Partido Republicano para uma posição de intolerância fundamentalista.
O sistema político não tem funcionado. Os moderados da centro-direita desapareceram ou foram empurrados para posições mais conservadoras.
O deputado republicano da Flórida Allan West foi flagrado em vídeo dizendo que 78 a 81 deputados democratas são comunistas. Uma sandice assim não se ouvia desde os tempos do macartismo, mas nenhum republicano o contestou.
O extremismo republicano tornou o sistema político americano disfuncional. Isso é maior, mais importante e mais perigoso do que o abismo fiscal.
“Em qualquer sistema político há momentos de impasse, mas o que está acontecendo agora nos Estados Unidos vai além disso.”

Os tropeços e o tombo do '(Des)Acordo Ortográfico' - PASQUALE CIPRO NETO

FOLHA DE SP - 29/12


O "(Des)Acordo Ortográfico" foi parido em Lisboa, em 1990, com o objetivo de unificar a grafia dos países de língua portuguesa. O artigo 2º dizia que até 1/01/1993 os Estados signatários tomariam as providências necessárias para a elaboração de um vocabulário ortográfico comum. O artigo 3º dizia que o "(Des)Acordo" entraria em vigor até 1/01/1994.

As duas datas chegaram, e nada disso aconteceu. E tudo foi para a gaveta. Depois de marchas e contramarchas, em 29/09/2008, Luiz Inácio Lula da Silva assinou o Decreto 6.583, que estabeleceu o dia 1/01/2009 para o início da vigência do "(Des)Acordo" no Brasil e o dia 31/12/2012 para o fim da coexistência das duas grafias (a "velha" e a "nova").

Com o decreto de Lula, as editoras correram para publicar livros que pudessem receber o selo "Conforme o Acordo Ortográfico". Pois era aí que estava o nó da grande lambança. Impreciso em muitos itens, o texto do "(Des)Acordo" -um verdadeiro horror- pôs em maus lençóis os profissionais das editoras. Foram muitas as interpretações opostas de alguns dos itens da peça oficial.

A própria Academia Brasileira de Letras, responsável pela elaboração do "Vocabulário Ortográfico", caiu na arapuca quando publicou um dicionário escolar em cujas páginas iniciais havia explicações relativas ao "(Des)Acordo", com exemplos que ilustravam as modificações por ele instituídas. Detalhe: nas páginas internas desse dicionários, os tais exemplos apareciam com grafia diferente... Surreal! Dinheiro público e privado pelo ralo!

Só em 2009, com a publicação do "Vocabulário Ortográfico" (brasileiro), foram eliminadas as dúvidas causadas pelo péssimo texto do "(Des)Acordo". Detalhe: as dúvidas foram eliminadas porque se adotaram soluções arbitrárias, muitas delas em choque com o texto oficial.

Fiz minha parte. Gritei, esperneei, escrevi na Folha, falei no "Nossa Língua Portuguesa" (da TV Cultura), no meu boletim diário na Rádio Globo e nas inúmeras entrevistas e palestras que dei país afora. Em abril deste ano, a Comissão de Educação do Senado me chamou, para que eu lá dissesse o que penso do "(Des)Acordo". Depôs também o ilustre professor Ernani Pimentel, um dos que (desde sempre) se opõem a essa grande aberração.

O empenho de gente do Senado, como Júlio Linhares e alguns bravos senadores, fez o nosso barulho chegar à Casa Civil e à presidente Dilma, a qual acaba de decretar o adiamento da entrada em vigor do "(Des)Acordo". A expectativa é, sobretudo, pela rediscussão do tema, a revisão do texto oficial e, consequentemente, a eliminação das aberrações. Valeu o esforço! É isso.

Gota d’água - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 29/12


COM SIMONE IGLESIAS


Os apagões nos dois aeroportos do Rio foram a gota d’água para a presidente Dilma decidir que está mais do que na hora de trocar o ministro Wagner Bittencourt (Secretaria de Aviação Civil) e o presidente da Infraero, Gustavo do Vale. Os dois estão no sal, mas as demissões vão ocorrer somente entre o fim de janeiro e o começo de fevereiro, na minirreforma ministerial.

Problemas previsíveis
A presidente Dilma está descontente com o ministro Wagner Bittencourt (Aviação Civil) desde que ele bateu o martelo para abrir as licitações dos novos operadores dos aeroportos de Brasília, Viracopos e Guarulhos com experiência mínima de 5 milhões de passageiros/ano. O Planalto pensava em algo em torno de 17 milhões. Pesa também para Dilma a falta de capacidade do ministério e da Infraero de resolverem problemas previsíveis, como a necessidade de manutenção da rede elétrica dos aeroportos. A irritação presidencial se estende à cúpula do Ministério de Minas e Energia, mas o ministro Edison Lobão não cai.

Pito presidencial
Insatisfeita com apagões país afora, a presidente Dilma chamou ao seu gabinete o ministro Edison Lobão; o secretário-executivo, Márcio Zimmermann; e o diretor da Aneel, Nelson Hubner. Determinou que resolvam o problema.


“Algo está muito mal quando as pessoas de boa vontade consideram que para viver em paz épreciso estar armado”
Cristovam Buarque Senador (PDT-DF)


Tó fora
A prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), não vai transmitir o cargo para o seu sucessor, Roberto Cláudio (PSB). Ela justifica que a cerimônia de posse é uma tarefa da Câmara Municipal. A eleição em Fortaleza foi uma das mais acirradas do país. O candidato de Luizianne, Elmano de Freitas (PT), ficou em segundo lugar.

O mensalão não existiu
Caderno de formação para novos filiados disponível na sede nacional do PT conta a história do partido, fala dos governos Lula e Dilma, dos direitos e deveres dos filiados, mas ignora o envolvimento de petistas no mensalão.

Pura empolgação
Carlos Alberto Parreira, novo coordenador técnico da Seleção Brasileira, está confiante. Nas cerimônias oficiais da Copa do Mundo de 2014, tem relatado que sente a esperança do torcedor brasileiro com a volta de Felipão ao comando. Parreira conta: “Os torcedores cumprimentam a gente dizendo: agora sim, com vocês, acredito que vamos ganhar a Copa no Brasil".

A boa política
Oposição ao prefeito Eduardo Paes, o deputado Alessandro Molon (PT-RJ) resolveu empenhar 99,9% das suas emendas (R$ 5,97 milhões de R$ 6 milhões) na construção e manutenção de creches na cidade do Rio.

Não para nunca
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) está tão pilhado com a candidatura a presidente da Câmara que já está pedindo votos para os suplentes que assumirão os mandatos nos próximos dias, no lugar dos prefeitos eleitos.

APAGÃO VIROU MODA. 

O governo do Distrito Federal está entregando o novo bairro de Brasília, classe A, sem energia elétrica nas ruas.

Um marco na Justiça de 2012 - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 29/12


Foi o semestre de Joaquim Barbosa, ministro relator do mensalão, que empenhou-se em finalizar as condenações


Nos assuntos jurídicos é muito difícil afirmar que um semestre de decisões judiciais define as mudanças no rumo do direito aplicado. O enquadramento é discutido, em breve balanço do que houve de mais relevante neste ano de 2012, nas lutas pelo direito e por direitos.

Quem se arriscar a selecionar um período de seis meses em um ano do século 21, dificilmente escapará do semestre que termina segunda-feira próxima. As sessões nas quais o STF (Supremo Tribunal Federal) julgou acusados no mensalão concentraram a atenção do país.

Foi o semestre de Joaquim Barbosa, ministro relator do processo, hoje presidente da corte. Empenhou-se em finalizar as condenações formalizadas. Dentre seus colegas, do decano Celso de Mello à recém-chegada Rosa Weber, com Gilmar Mendes e Marco Aurélio, também vigorosos na defesa de suas convicções.

Carmen Lúcia brilhou duas vezes, nesse caso e nos muitos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), sob sua presidência. A contribuição do revisor no STF (hoje seu vice-presidente) Ricardo Levandowski não pode ser esquecida, em votos nos quais atuou como se fosse mais um relator. Remou, destemido, contra a boa parte dos colegas e, de acordo com a mídia, contra a maior parte do povo. Toffoli o acompanhou. Luiz Fux chegou à corte atento e participativo e Teori Zavascki não atuou nesse processo.

O ano também trouxe a presença de Eliana Calmon nas competências do CNJ (Conselho Nacional da Justiça). Grandes e pequenos tribunais se impressionaram com seu trabalho, tanto que as resistências amainaram no curso dos meses. Já o próximo ano será percorrido com o CNJ sob nova direção.

A débito do Poder Legislativo, houve o passivo do esquecimento dos milhares de vetos presidenciais, que subsistem sem serem discutidos, aprovados ou repelidos. A tentativa de ultrapassagem por fora da pista da Constituição e do bom nome das duas Casas foi obstada na bacia das almas desse julgamento.

Ao menos impediu o agravo final da desmoralização parlamentar. Foi marca no semestre, mas precisa ser retomada com a quebra dos atrasos na avaliação final de cada veto. Apesar do saldo devedor dos congressistas, seria pior a votação simultânea, sem mínima avaliação de mérito nos temas vetados.

O enfrentamento sério da principal missão do Congresso será a criação de leis fundamentais, que passou longe das duas Casas em 2012. Está prometido para 2013 o encaminhamento de reformas necessárias. Tomo o exemplo das questões penais que assustam a cidadania, com a colcha confusa de retalhos da legislação criminal, nos delitos mais repetidos. Alguma forma de legislação apta a unificar aspectos das leis comerciais e dos negócios a elas vinculados parece imprescindível depois que o código de 1850 (sim, 1850) foi posto a nocaute.

Falta uniformizar as normas eleitorais e também enfrentar os problemas resultantes da lentidão gerada pelo processo criminal, cuja principal fonte originária ainda vem do tempo do Estado Novo de Getúlio Vargas.

O ano próximo colocará os poderes da República em foco, ante perspectivas de momentos mais difíceis da economia. Lembremos que as condições sociais se agravam, quando se torna mais difícil, sob leis confusas, a conquista do pão nosso de cada dia.

A Justiça que tarda - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 29/12


BRASÍLIA - O ano está acabando e o processo do mensalão vai ficando para trás. Será uma pena se a sensação geral for apenas a de um grande sucesso pelo fato de políticos e empresários corruptos terem sido condenados, algo raro quando se trata da elite do país.

Ocorre que o mensalão é de 2005. As penas serão executadas só a partir de 2013 (com sorte) ou 2014. É muito tempo: até nove anos entre a descoberta do crime e a punição. Há algo de anômalo numa democracia cuja Justiça oferece tantas manobras protelatórias para a defesa -que sempre joga tudo no mesmo balaio do "amplo direito ao contraditório", uma falácia tão brasileira como a jabuticaba.

Um caso recente na Alemanha envolvendo um cidadão do Brasil oferece elementos para reflexão. O jogador de futebol Breno, que atuou pelo Bayern de Munique, foi condenado por ter colocado fogo na casa em que morava. O crime ocorreu em setembro de 2011. A sentença foi fixada em três anos e nove meses de prisão. O atleta já está cumprindo a pena em regime fechado.

No Brasil, Breno não teria ido para a cadeia. Se fosse condenado a três anos e nove meses de prisão, desfrutaria de um regime flexível -sem a necessidade de passar o tempo todo encarcerado. Aqui, só penas acima de oito anos precisam começar a ser cumpridas com privação da liberdade.

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Cezar Peluso, que presidiu a Corte até abril deste ano, defendia uma reforma constitucional para eliminar algumas fases recursais nos processos judiciais brasileiros. Peluso fez 70 anos, aposentou-se e o tema saiu da agenda.

O mensalão voltará com força ao noticiário quando alguns dos condenados forem para a prisão. Será um bom momento para o país pensar sobre a lentidão da Justiça. Até porque, quando a Justiça tarda, necessariamente já estará falhando.


Alá-lá-ô, ô, ô - ZUENIR VENTURA


O GLOBO - 29/12

Se o extraordinário calor que fez esta semana não teve precedente desde 1915, quando a temperatura ambiente começou a ser medida por agências de meteorologia, é o caso de se especular se antes já teria havido algo parecido, sabendo-se que em 1984 os termômetros do Rio marcaram 43,1º, apenas um décimo abaixo do recorde de agora. Em suma: devemos continuar atribuindo o desequilíbrio climático ao aquecimento global, ou o buraco na camada de ozônio é inocente? - como admitem alguns cientistas, afirmando que os gases poluentes na atmosfera não prejudicam em nada a tal camada.

Será que o aquecimento do planeta começou há muito tempo? Fotos antigas mostrando as mulheres cobertas até o pescoço e os homens vestidos de paletó, gravata, colete e chapéu parecem indicar que a cidade do começo do século passado, com menos construções, menos asfalto e cimento, era mais amena ou as pessoas menos calorentas. Textos de época, porém, já reclamavam do calor. No carnaval de 1941, cantava-se (não eu, que ainda era pequeno) a marcha "Alá-lá-ô" de Haroldo Lobo e Nássara, falando de outras terras quentes, mas certamente pensando no Saara carioca. "Viemos do Egito/E muitas vezes/Nós tivemos que rezar"

Em 1955, com o clima político fervendo por causa da eleição de JK e de um movimento golpista para impedir sua posse, o filme "Rio 40 graus" de Nelson Pereira dos Santos, foi censurado pelo então chefe de polícia, coronel Geraldo de Menezes Cortes, que proibiu a exibição da obra em todo o território nacional. Além de ser acusado de promover "a desagregação do país" por ser comunista e apresentar apenas os "aspectos negativos da capital brasileira""Rio 40 graus" marco precursor do Cinema Novo, era chamado de "mentiroso" pelo militar, alegando que aqui a temperatura nunca ultrapassar a 39°. O ato truculento e ridículo provocou uma das maiores ondas de protesto de artistas e intelectuais, liderados por Jorge Amado.

Os tempos agora sãos outros, e mais recentemente Fernanda Abreu cantou:

"Rio 40 graus

Cidade maravilha

Purgatório da beleza

E do caos"

Ah, se o coronel te pega! Onde já se viu chamar a cidade maravilhosa de purgatório do caos? Pior foi O GLOBO, que estampou no alto da primeira página a foto de um relógio marcando 46?, ainda por cima com o título de "Um inferno carioca" E nada aconteceu, pelo menos até agora. De um século para o outro, alguma coisa mudou para melhor.

O fim do mundo e a judicialização da política - LUIZ WERNECK VIANNA


O Estado de S.Paulo - 29/12


O fim do mundo até que pode estar próximo, mas não será agora, já deixada para trás a presumida data fatídica do calendário maia. E se a sociedade brasileira está fadada a conhecer grandes tumultos, prestes a converter a multidão em potência demiúrgica de uma grande transformação, ainda não foram registrados os indícios promissores de evento tão espantoso, nem se deram a conhecer os seus profetas. Por toda parte, dos sertões mais remotos às periferias dos grandes centros urbanos, de Sinop a Lucas do Rio Verde, ao Complexo do Alemão, dos intelectuais enredados em seus afazeres e rotinas cinzentas do mundo acadêmico, dos movimentos sociais ao sindicalismo, nem as antenas mais sensíveis têm sido capazes, até então, de captar, vindos daí, sinais da tormenta anelados pelos que em desespero com o atual estado de coisas no mundo preferem qualquer outro a este aí.

Desejos fortes, quando contrariados, podem dar asas à imaginação, que passa a ver o seu objeto mesmo onde ele não está, tomando-se a nuvem por Juno, que, ao menos, na mitologia condena o seu autor a um resultado infeliz. Assim é que alguns pintam com cores fortes a controvérsia entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados sobre os efeitos da decisão condenatória emanada na conclusão da Ação Penal 470 como uma crise institucional a semear impasses catastróficos nas relações entre os Poderes Legislativo e Judiciário - o gatilho tão esperado para o "fim do mundo"? -, como se não coubesse a este último o papel de intérprete constitucional da lei.

De fato, sem que se incorra aqui na prática que se dissemina no nosso colunismo político de se arvorar, mesmo quando pagão no tema, nas artes intrincadas dos julgamentos nos tribunais, houve, sim, uma intervenção hermenêutica do STF, necessária, nas claras palavras do seu decano, o ministro Celso de Mello, a fim de harmonizar o sentido de diferentes disposições legais da Carta de 88 e do Código Penal quanto à perda de mandatos eletivos. Por maioria, como se sabe, aquele tribunal julgou incompatível com o exercício de um mandato político o parlamentar que, por meio de uma sentença criminal, seja destituído dos seus direitos políticos.

Diante da decisão, vozes interessadas em degradar o histórico julgamento da Ação Penal 470, no curso do qual se fizeram ouvir razões fortes em defesa da República e de suas instituições com uma ênfase desconhecida nos tempos presentes, acusam-no de fazer parte de mais um capítulo da judicialização da política, uma vez que por meio dela o Judiciário estaria usurpando prerrogativas do Legislativo e desobedecendo ao que seriam as rígidas fronteiras a discriminarem os territórios próprios a eles. O refrão do bardo seria bem lembrado: chamem o ladrão, pois nessa versão é o STF que atenta contra a República.

Com efeito, o tema da judicialização da política é perturbador, especialmente na sociedade brasileira, em que esse fenômeno especificamente contemporâneo já afeta a quase totalidade das relações sociais, da saúde às questões ambientais, passando pelos direitos das minorias - vide a decisão do STF sobre as relações homoafetivas -, e, sobretudo, no desempenho da Alta Corte nas ações levadas a ela para a avaliação da constitucionalidade das leis, quando se confronta com a decisão do legislador. O senador José Sarney, em rompante manifestação feita no recinto do Senado, atribuiu a voga do processo da judicialização a uma autoria certa. Em suas palavras, a que não faltam boas razões, "quem inventou isso foi o PT, que na oposição a qualquer problema batia na porta do Supremo", e que estaria, agora, provando do seu veneno (O Globo, 20/12, página 38).

Sobre a matéria, o deputado Miro Teixeira, no seu décimo mandato pelo Rio de Janeiro, é mais reflexivo, conferindo à chamada judicialização da política um caráter positivo, dado que "serviria de contraponto aos grandes grupos que controlam o parlamento". Mais que isso, indo ao cerne do problema, identifica que na raiz do fenômeno da judicialização estaria a "servidão voluntária" a que se teria sujeitado o Congresso Nacional ao Poder Executivo, "em uma renúncia evidente ao poder que lhe foi conferido" (in coluna de Rosângela Bittar, Valor, 19/12).

Nessas reações de dois políticos relevantes, são suscitadas topicamente as questões que são objetos da bibliografia clássica sobre o assunto: o da agenda da igualdade e dos novos direitos a ela associados, e o das novas relações entre o Executivo e o Legislativo vindas à tona desde que, no segundo pós-guerra, se institucionalizou no Ocidente o sistema do Welfare State (Estado de bem-estar social). Foi, de fato, o PT que difundiu entre nós a agenda igualitária, não se furtando à sua judicialização, como no caso das ações civis públicas em questões de saúde, educação e meio ambiente, com frequência em associação com o Ministério Público, assim como tem sido ele, para os fins dos seus propósitos partidários, quem avassalou o Legislativo, tal como dá noticia a Ação Penal 470.

Como nas lições de Mauro Cappelletti, o Judiciário como Terceiro Gigante nasce dessas grandes transformações (Juízes Legisladores?, Porto Alegre, Sergio Antonio Fabris Editor, 1993), a que, evidentemente, não fomos imunes. Não estamos à beira do fim do mundo, mas de um recomeço dele, inclusive no campo das relações entre os Poderes, cuja marca nova é a da colaboração, e não a do insulamento, e devemos reconhecer com John Forejohn, cientista político americano bem conhecido dos nossos acadêmicos, que, sob as novas circunstâncias do século, "é simplista demais restringir a política ao processo legislativo" (Judicializing Politics, Politicizing Law - in 65, Journal of Law and Contemporary Problems, 41, 2003).