CORREIO BRAZILIENSE - 17/10
Aqui, no comecinho do Sudoeste, um posto de gasolina não aceita mais que os fiéis clientes encham os pneus dos carros depois das 22h. Os vizinhos de uma quadra comercial ilegalmente transformada em mista (com mais apartamentos do que lojas, claro) não "aguentam" mais o pipipipi do compressor e ameaçam processar os donos. No fim da quadra 300, uma loja está aberta, com uma plaquinha de aluga-se, há meses. Por que ninguém fechou negócio, apesar da excelente localização? As regras do condomínio não permitem que lá seja instalado um bar, um restaurante ou qualquer empreendimento que possa causar "transtornos" aos moradores. E o prédio, daqueles pequenos, de três andares, tinha como destinação original o comércio.
Onde moro, o uso da cobertura coletiva para receber amigos praticamente foi descartado: a família do morador do andar abaixo teve um filhinho no início do ano - e, obviamente, ninguém "quer" contestar um pai e uma mãe com criança de colo, né? Vejam: aqui não tem nada pessoal, até porque sou mais tranquilo do que nordestino tomando água de coco na praia. Estou apenas levantando esse tema para debater um pouco o fenômeno da convivência em grupo, da falta de tolerância, do isolacionismo em quatro paredes, da patrulha.
Os fumantes, por exemplo, parecem estar com o vírus ebola - ninguém fica por perto. Por falar no vírus que assusta o mundo, o nome dele é a expressão mais citada nas redes sociais - e, na maioria das vezes, associada a "negros" e "pretos". Um amigo mineiro adora churrasco e diz para todo mundo que vegetariano é uma besta quadrada. Se o sujeito é evangélico, logo perguntam: "Da igreja do Malafaia?". Se alguém bebe, aparece uma figura para questionar: "E as blitze? E teu fígado? Você não tem medo de morrer mais cedo?". Se fazem isso com certo amigo meu, ele devolve, na lata: "Ô abstêmio babaca... E tua vida em preto e branco, como está?". Ninguém pode discordar, brincar, soltar uma piada mais infame que é isolado - menos comigo, claro, que sou pernambucano.
O ator Mário Bortolotto disse, recentemente, que pessoas sempre certas costumam ser muito chatas. Portanto, viva o erro, viva a constante possibilidade do erro. De fato, Deus nos criaria bem mais perfeitos se quisesse algo diferente.
Onde moro, o uso da cobertura coletiva para receber amigos praticamente foi descartado: a família do morador do andar abaixo teve um filhinho no início do ano - e, obviamente, ninguém "quer" contestar um pai e uma mãe com criança de colo, né? Vejam: aqui não tem nada pessoal, até porque sou mais tranquilo do que nordestino tomando água de coco na praia. Estou apenas levantando esse tema para debater um pouco o fenômeno da convivência em grupo, da falta de tolerância, do isolacionismo em quatro paredes, da patrulha.
Os fumantes, por exemplo, parecem estar com o vírus ebola - ninguém fica por perto. Por falar no vírus que assusta o mundo, o nome dele é a expressão mais citada nas redes sociais - e, na maioria das vezes, associada a "negros" e "pretos". Um amigo mineiro adora churrasco e diz para todo mundo que vegetariano é uma besta quadrada. Se o sujeito é evangélico, logo perguntam: "Da igreja do Malafaia?". Se alguém bebe, aparece uma figura para questionar: "E as blitze? E teu fígado? Você não tem medo de morrer mais cedo?". Se fazem isso com certo amigo meu, ele devolve, na lata: "Ô abstêmio babaca... E tua vida em preto e branco, como está?". Ninguém pode discordar, brincar, soltar uma piada mais infame que é isolado - menos comigo, claro, que sou pernambucano.
O ator Mário Bortolotto disse, recentemente, que pessoas sempre certas costumam ser muito chatas. Portanto, viva o erro, viva a constante possibilidade do erro. De fato, Deus nos criaria bem mais perfeitos se quisesse algo diferente.