sexta-feira, maio 29, 2015

O chefe da polícia pelo telefone manda me avisar... - JORGE PONTES

VALOR ECONÔMICO - 29/05

JORGE PONTES - É delegado de Polícia Federal e foi diretor da Interpol do Brasil.


O Brasil vem assistindo, atônito, ao recrudescimento da violência no Rio de Janeiro, sob a forma de notícias diárias acerca de tiroteios entre traficantes ocorridos em comunidades até então ditas como "pacificadas". As manchetes focam a efervescência dos crimes de rua, e também ataques a faca a turistas, tendo como palco os quatro cantos da cidade.

O que vem sendo noticiado põe em risco a tal "sensação de segurança", duramente conquistada nos últimos oito anos, a partir da implantação do projeto das UPPs, com merecida celebração por parte da mídia e dos contribuintes cariocas, até porque a viabilidade econômica do Rio depende das políticas de segurança pública implementadas para a cidade.

É lamentável perceber que o projeto das UPPs pode estar de fato derretendo aos olhos da população do Rio. Se essa tendência se confirmar, há três pontos nos quais podemos buscar explicações para entendermos o seu declínio e o aumento da criminalidade que vem sendo registrado na nossa cidade.

O primeiro é nodal e muito simples: a conjugação do verbo "avisar" no planejamento operacional da tomada dos territórios. Quem avisa, amigo é, e, na atividade policial não se avisa, em hipótese alguma, sobre qualquer ação repressiva a ser deflagrada contra quem quer que seja. É sabido por todos que, a cada tomada dos morros, o comando da operação alertava com antecedência, de pelo menos uma semana, o dia e a hora da ação policial. Com isso, os criminosos de alta periculosidade, que comandavam o tráfico, tinham todo o tempo do mundo para sair de seus bunkers, levando com eles suas armas pesadas. Decerto, não deixavam o morro para trabalhar no comércio, nem tampouco faziam concurso para o Banco do Brasil ou para a Caixa Econômica.

Foram para outras paragens, levar o terror de suas ações criminosas, como fizeram com o interior fluminense, em cidades que nunca tiveram registros de crimes e agora encontram-se assombradas pela delinquência. Mas foram, igualmente, planejar e arregimentar os meios para a retomada do território perdido nas favelas, como de fato o fazem agora. Esse erro foi fatal e para consertá-lo, só voltando no tempo.

O segundo erro foi o número das UPPs inauguradas no período de oito anos. O Rio é imenso e complexo, e demanda muito trabalho para a sua já assoberbada Polícia Militar. O número de trinta e oito UPPs foi demais para o cobertor da PM. O correto, talvez, fosse um número três vezes menor, cuja ampliação aguardasse sempre a sedimentação das UPPs já implantadas. A atuação maciça da PM nas UPPs abriu inúmeros flancos no restante da cidade. Foram muitas frentes para uma só polícia.

O terceiro ponto, repetido como um mantra pelo delegado federal José Mariano Beltrame, é que a polícia está longe de ser a solução para o problema social enfrentado pelas comunidades, e que a presença da PM nos morros não resolverá as causas do abandono social, que é um dos gatilhos para diversos males, inclusive, a perda de jovens para o tráfico. Para recuperar o território outrora ocupado pelo crime, seria necessária uma ação que embarcasse assistência social de verdade, e que trouxesse a cidadania aos favelados. Só o posto da polícia não resolve, como de fato não resolveu.

As três falhas capitais ora apontadas foram, certamente, frutos da fraqueza política dos tomadores de decisão, em outras palavras, dos governantes.

Na primeira, não quiseram correr o risco de arcar com possíveis danos colaterais, isto é, a chance de perdas de vidas, como se um problema dessa dimensão, gerado por equívocos políticos que já contam cinquenta anos, pudesse ser solucionado sem que bandidos fossem feridos ou mortos. Definitivamente, não seria possível fazer esse omelete sem quebrar os ovos. O que se vê, agora, são vidas sendo ceifadas por aqueles que foram poupados, e quem poupa o lobo acaba sendo o responsável pelo sacrifício das ovelhas.

O segundo erro foi de natureza eleitoreira, isto é, aproveitaram-se de um momento, surfando irresponsavelmente na onda do sucesso das primeiras UPPs. A partir daí, criaram um cronograma de implantação de três dezenas de unidades, com foguetório e larga cobertura de mídia. Essa manobra deu certo, do ponto de vista eleitoral, pois o governo idealizador do projeto se reelegeu duas vezes, colhendo os louros de um programa sobre o qual o tempo ainda não havia operado seu inexorável julgamento.

A terceira falha é fruto da falta de comprometimento político, a longo prazo, com o projeto, o que é bem típico dos nossos políticos. Essa letargia tem cobrado um preço caro à PM, como instituição, e custou profundo e injusto desgaste a José Mariano Beltrame.

As autoridades de segurança pública deste país, tanto federais como estaduais, sabem, há sete longos anos, que teremos os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016 - daqui a pouco mais do que um ano. Tiveram todo esse tempo para agir planejadamente.

Oxalá essa onda de criminalidade seja contida no lapso que nos resta, de forma que consigamos realizar o evento sem ocorrências que ponham em risco turistas e atletas, e, em última análise, a imagem do Brasil.

Mas, ao que tudo indica, corremos o risco de assistirmos um replay da Rio 92, quando as Forças Armadas foram para as ruas do Rio com seus tanques e jogamos a sujeira da criminalidade para debaixo do tapete, literalmente, "para inglês ver".

Nunca é demais lembrar que o sucesso inicial do projeto das UPP´s foi fundamental para, em 2009, o Rio vencer Tóquio, Chicago e Madrid na disputa para sediar os Jogos de 2016. As UPP´s venceram o que mais trazia rejeição ao nome do Rio, seu histórico de insegurança, causado pela alta incidência de crimes de rua e pela presença de armas pesadas nas favelas, incrustadas no coração da cidade.

Passando o evento, tudo voltará ao normal, com os políticos dando as cartas da segurança pública, movidos por interesses eleitorais e pela costumeira falta de comprometimento em fazer o que é certo.

O e-mail bomba - NELSON MOTTA

O GLOBO - 29/05

Por que não escrever um e-mail sincero e educado, pensado e refletido, expressando os seus sentimentos e os motivos para acabar o namoro
?


“Nunca é fácil separar, então vamos fazer o seu trabalho sujo. Por que se preocupar dizendo adeus ao seu amor? Quem precisa de dor e quem tem tempo? Por que olhar nos olhos dela ou dele? Ninguém quer lidar com toda a gritaria, choro e apelos emocionais de ‘apenas mais uma chance’”.

É chocante, mas tem gente que acredita e paga por isso: um site da Austrália se oferece para acabar namoros por e-mail, SMS ou telefone, por módicos cinco dólares.

Pensando bem, o e-mail não é uma ideia tão absurda assim. Homens têm muita dificuldade de acabar namoros, têm medo de enfrentar mulheres chorando e gritando, ou tomadas por fúria infernal, e vão empurrando com a barriga, arriscando relações paralelas, e às vezes são eles que acabam levando um pé na bunda. E aí, com o orgulho macho ferido, o otário descobre que aquela é a mulher que quer, e que vai reconquistá-la a qualquer preço, numa receita segura de infelicidade absoluta.

Por que não escrever um e-mail sincero e educado, pensado e refletido, lido e relido, cortado e reescrito, usando a razão para expressar os sentimentos e os motivos que levam àquela decisão? Quanto menor e mais conciso, melhor.

Você tem vários dias para escrever e para pensar antes de mandar, e pode até não mandar. Tem a segurança de ler e reler o que escreveu, de “ouvir” o que você mesmo está dizendo, de poder mudar, de escolher e pesar bem cada palavra para evitar mal-entendidos ou dar margem a dúvidas e ambiguidades que complicam e esticam ainda mais a história.

E, por incrível que pareça, sim, tudo isso pode ser feito com emoção.

A vantagem de expressar por escrito as suas razões tem como contrapartida a responsabilidade de ser cobrado por cada palavra. A pessoa pode ler mil vezes, analisar, entender e sentir o que você diz, e dar o caso por encerrado. Fim de jogo.

Claro, escrever bem ajuda a otimizar o método, o que dá certa vantagem a profissionais da escrita, mas não garante o sucesso: você pode ser acordado no meio da madrugada por telefonemas ameaçadores ou com alguém esmurrando a sua porta e gritando que você é um cafajeste que acaba namoro por e-mail.

O Brasil precisa da energia que vem do Norte - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 29/05

O desafio de governar é a leitura do tempo. Exige-se do mandatário e das instituições que comanda a sintonia com o presente para que possa antecipar-se ao futuro. Sem conectar-se com o contemporâneo, condenará os governados à pobreza e ao atraso.

Respostas antes adequadas envelhecem. Tornam-se obsoletas. O dinamismo dos fatos impõe novos paradigmas. É o caso da energia. Os apagões que devolvem o Brasil ao século passado acendem sinal vermelho para o desenvolvimento nacional. Há carência do insumo.

Sem os investimentos aptos a afugentar a crise energética, afugentaremos o capital interessado em fincar raízes no país. O empreendedor só aplica nesta ou naquela região se tiver cenário favorável a longo prazo. É ingenuidade imaginar que promessas substituem obras.

Três grandes usinas indispensáveis ao salto no fornecimento energético estão com o andamento emperrado. Santo Antônio e Jirau, localizadas em Rondônia, e Belo Monte, no Pará, sintetizam os dilemas que se apresentam ao setor no desafio de ampliar a infraestrutura de abastecimento do país.

Os entraves se repetem apesar da virada do século e das urgências impostas por nova realidade. Desde a assinatura dos contratos, multiplicam-se os problemas em razão de demora na liberação de licenças ambientais, movimentos grevistas injustificáveis e ocupação dos canteiros de obra por populações indígenas.

Como diz o conselheiro Acácio, as consequências vêm depois. O personagem de Eça de Queiroz se notabiliza por dizer o óbvio - óbvio que a cegueira institucional teima em ignorar. A urbanização acelerada, o crescimento do parque industrial e a inserção no mundo globalizado forçaram mudanças estruturais cuja concretização não pode ser procrastinada.

O Brasil precisa de energia para crescer. Juntas, Santo Antônio e Jirau terão capacidade instalada de 6.450MW - praticamente a metade da gerada pela usina hidrelétrica de Itaipu. Especialistas não hesitam em afirmar que se trata de caminho certo para solucionar a tragédia decorrente do racionamento de energia no país.

Investimentos do porte exigido pelas três megausinas não podem ficar reféns de decisões rígidas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e da Fundação Nacional do Índio (Funai). As instituições têm de sintonizar o contemporâneo. Em bom português: administrar as adversidades com novos paradigmas. Os tempos são outros. A realidade é outra. Os desafios são outros.

Em busca da saída - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 29/05

Uma das grandes dificuldades da economia é enfrentar a conjuntura como a que o Brasil vive este ano. Hoje, sairá o dado do PIB do primeiro trimestre, mas não precisamos de um número para saber que a economia está fria. Neste ambiente, o círculo da economia fica viciado em notícia ruim. A queda da atividade leva ao desemprego, que reduz o consumo e diminui a atividade.

Romper isso exige estímulo ao investimento, mas como incentivar as empresas, se o orçamento está sendo cortado e os mecanismos de financiamento se esgotaram? Por terem sido usados até a exaustão, fundos como o FAT, o FGTS, fundos regionais, programas como o PSI (Programa de Sustentação de Investimento, que implica em gasto público para subsidiar os juros), já não têm recursos. Mais recentemente, o Congresso decidiu que os depósitos judiciais podem ser usados para investimentos nos estados. As empresas de construção pedem para que seja ampliada a liberação dos compulsórios ao Banco Central, mas também lá não é possível.

O ministro da Fazenda avisou que o dinheiro acabou. E quando falou isso se referia a todos esses potes de recursos aos quais o setor privado costuma recorrer através de propostas de políticas setoriais. Veja-se o compulsório. Se o governo aceitasse a pressão por ampliar o volume de dinheiro que pode ser liberado através da rede bancaria para o crédito à habitação, aconteceriam três coisas: a Caixa aumentaria seus empréstimos, como sempre; os bancos privados encontrariam um jeito de usar os recursos liberados de forma mais rentável; a medida anularia parte do efeito da alta dos juros.

Esse último ponto é uma insensatez. Se mais compulsório for liberado, o próprio governo estará neutralizando a parte boa dos juros altos, que é o combate à inflação, e ficará só com a parte ruim, que é a elevação das despesas financeiras do governo.

Vamos supor que houvesse recursos nos fundos e nos mecanismos de financiamento com recursos públicos. O governo não poderia estimular a economia, porque tem que combater a inflação que está em 8%. E ela está nas alturas porque a nova equipe econômica decidiu corrigir as distorções de preços relativos causadas pela intervenção no setor de energia. O tarifaço é amargo para as famílias, mas tem a vantagem de reequilibrar as empresas e trazer o realismo para um mercado que estava totalmente artificial desde a MP 579.

Quando o governo está diante desses dois problemas - inflação e ambiente recessivo - é difícil saber qual é o tratamento certo, porque o remédio para um piora o outro. Se, além de tudo, há uma crise fiscal, o quadro fica mais complicado, porque o governo toma medidas que aprofundam o clima de baixo ritmo de atividade econômica, como cortes de gastos, redução de investimentos e aumento de impostos.

Uma conjuntura assim, cheia de asperezas e desconfortos, derruba a popularidade de qualquer governo. Piora muito se o governo em questão já estiver enfrentando uma onda de rejeição por uma campanha eleitoral desastrada, em que prometeu o que não poderia cumprir, investiu contra adversários com falsas acusações e usou truques de marketing.

Isso seria suficientemente ruim por si só. Mas há também o vento contra que vem de fora. Os preços dos produtos que o país exporta caíram, e há no horizonte risco de que os capitais saiam de países emergentes em busca de portos mais seguros. O dado divulgado esta semana pelo BC mostra que, de janeiro a abril, foi 36% menor o investimento estrangeiro direto, e ele só cobriu pouco mais da metade do nosso déficit externo.

O Brasil está enfrentando tudo isso ao mesmo tempo: crise fiscal, desaceleração econômica, inflação alta e ventos adversos.

A briga intestina do PT, entre a atual governante e seu antecessor, ou seja, entre criador e criatura, produziu uma facção que defende a troca do ministro da Fazenda como caminho para uma nova política econômica que evitará todos esses problemas através de remédios indolores. Ilusão.

Os dois juntos, criador e criatura, nos trouxeram até aqui. O ex-presidente Lula produziu uma bolha em 2010 para eleger sua sucessora, que não quis ajustar a economia enquanto teve tempo e era mais fácil. Com ou sem Levy, o ajuste é inevitável. A briga interna só piora a conjuntura.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

ANDRÉ VARGAS FEZ LISTA DAS PROPINAS QUE RECEBEU

A Polícia Federal apreendeu no computador pessoal do ex-deputado André Vargas (ex-PT-PR) uma planilha com as empresas suspeitas de pagar propina ao político desde dezembro de 2011, durante seu mandato, e até 28 de março de 2014, onze dias depois da Operação Lava Jato. No total, 193 empresas pagaram à LSI Solução em Serviços Empresariais Ltda, de Vargas, um total de R$ 3.170.292,02.

PROPINA COM NOTA FISCAL

Parte da lista da corrupção é de fornecedores que pagavam à LSI, de André Vargas, as comissões devidas à Borghi/Lowe Propaganda.

LOBBY PODEROSO

A suspeita na Lava Jato é que a agência de propaganda Borghi/Lowe obteve contrato milionário na Caixa graças ao lobby de André Vargas.

TEM DE TUDO

Entre as empresas da planilha de André Vargas estão fornecedoras da Borghi/ Lowe e também outras empresas com interesses no governo.

ACUSAÇÕES

André Vargas, ainda preso, foi denunciado pelo Ministério Público, este mês, por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

TC: ROLLEMBERG ENCONTROU R$ 1,4 BI EM CAIXA

O Tribunal de Contas pegou o governo do DF na mentira. Auditoria contábil-financeira constatou que a disponibilidade de caixa, no início do governo, era de R$ 1,4 bilhão, e não R$ 64 mil, que o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) citou para ilustrar o “desgoverno” de Agnelo Queiroz (PT), o antecessor. Na época, o portal DiáriodoPoder.com.br apurou e divulgou o saldo correto, destaca o relatório do TC-DF.

ELEGÂNCIA

Apesar do flagrante, o relatório do TC foi elegante com o governo: atribui o erro a “equívoco metodológico”.

ERA VERDADE

O deputado Chico Vigilante (PT) apontava o saldo bilionário, quando Rollemberg assumiu. O TCDF atestou que ele dizia a verdade.

PRETEXTO OFICIAL

Rollemberg disse que não encontrou dinheiro em caixa ao justificar o não pagamento de salários, do 13º e de fornecedores do governo.

NOVA INDICAÇÃO PARA OEA

O governo articula no Senado a indicação da ministra Izabela Teixeira (Meio Ambiente) para chefiar a missão do Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA), após a rejeição de Guilherme Patriota.

FIM DA NORMA

A ministra Izabela Teixeira é do tipo gente boa, mas sua eventual indicação à OEA pode criar problemas no Itamaraty, que se orgulha de uma conquista, estabelecida no governo Lula, de indicar só diplomatas de carreira para cargos de representação do Brasil no exterior.

PORTAS DO INFERNO

O Planalto, que aposta na briga da dupla, anda borocoxô com a súbita aproximação de Renan Calheiros (AL) e Eduardo Cunha (RJ). Dilma sabe que, juntos, eles podem abrir as portas do inferno para o governo.

ADMITE, MAS NÃO GOSTA

João Rodrigues (PSD-SC) causou constrangimento na Câmara: foi flagrado curtindo vídeo pornô em plena discussão da reforma política. Ele admitiu ter visto as imagens, mas reclamou do SBT, que o flagrou.

NOVA GERAÇÃO

A direção nacional do PSDB concentra as esperanças da oposição na nova geração de políticos, na qual se destaca o prefeito de Maceió, Rui Palmeira. É filho de Guilherme Palmeira, ministro aposentado do TCU.

FIM DAS EMENDAS?

Jerônimo Goergen (PP-RS) quer o apoio de prefeitos à PEC que acaba com as emendas parlamentares, transferindo o recurso para o Fundo de Participação dos Municípios. Ele prometeu falar na Marcha dos Prefeitos.

DINO CONTINUA INVICTO

O clã Sarney deixou o governo estadual, mas mantém influência no federal, apesar de José Sarney e a filha Roseana não terem mandato. O governador Flávio Dino (PCdoB), que os derrotou, não conseguiu indicar ninguém para cargo federal do Maranhão.

KASSAB EMPAREDADO

O PMDB avalia que Eduardo Cunha conseguiu o que mais queria na reforma política: deixou uma só janela de transferência para políticos trocarem de partidos e emparedou o ministro Gilberto Kassab.

PENSANDO BEM...

...durante a campanha presidencial, a única afirmação de Dilma confirmada pelos fatos foi a de que seu governo seria “padrão Fifa”.


PODER SEM PUDOR

EGO DE BANQUEIRO

O general João Figueiredo não gostava de banqueiros, especialmente do dono do Banco Itaú, Olavo Setúbal. Achava-o arrogante, embora sua gestão na prefeitura paulistana o credenciasse para seu ministério. Atendendo a uma indicação da Arena paulista, Figueiredo convidou Setúbal para a presidência do Banco Central, mesmo sabendo que o banqueiro jamais aceitaria um cargo secundário, subordinado ao ministro da Fazenda. O general só não contava com a resposta curta e grossa de Setúbal:

- Banco por banco, presidente, fico no meu.

Sobre almoço grátis - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S. PAULO - 29/05

Com a credibilidade já comprometida pelas mentiras que sustentou durante a campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff deveria pensar duas vezes antes de se expor ao ridículo de garantir que não há desentendimento entre os dois principais membros da equipe econômica a respeito das propostas de ajuste fiscal. Em entrevista à imprensa na Cidade do México, a presidente da República garantiu que os ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa, mantêm uma relação “extremamente estável”, sem divergências.

Seria mais sensato ela admitir o que todo mundo sabe: Levy e Barbosa, pela boa razão de que representam pensamentos econômicos diferentes, o primeiro “ortodoxo” e o segundo “desenvolvimentista”, divergem, sim, a respeito de medidas necessárias ao saneamento das contas públicas. No entanto - e aí a presidente da República estaria afirmando sua autoridade sem ter de mentir -, acima das eventuais divergências entre os dois ministros está a posição do governo claramente definida nas propostas do ajuste e é essa que prevalece. Até porque, ao que tudo indica, a presidente está efetivamente determinada a assumir agora o ônus de medidas impopulares, para recolher, até o fim do mandato, o bônus da retomada do desenvolvimento econômico e da ampliação dos programas sociais. Resta saber se terá competência para tanto.

Provavelmente muito antes de sua reeleição Dilma já sabia que, se permanecesse no Planalto, teria de fazer exatamente o oposto daquilo que o marketing eleitoral petista a obrigava a dizer e conformar-se em adotar medidas duras de saneamento das contas públicas para tirar o País do buraco em que ela própria o metera com a gastança desenfreada no primeiro mandato. E é claro que, até para conferir credibilidade a essa reviravolta, teria de vencer as resistências de seu próprio partido e colocar à frente da equipe econômica alguém com perfil compatível com a tarefa. E Joaquim Levy se tornou ministro da Fazenda.

O PT, como era de esperar, reagiu com grande contrariedade à nomeação de um “liberal” para o comando da equipe econômica e exigiu a presença de um dos seus no Planejamento. E Dilma convocou Nelson Barbosa. Com o passar do tempo, as óbvias divergências entre os dois e o acirramento das discussões em torno da votação do ajuste fiscal no Congresso estimularam alguns petistas, movidos por razões diversas, a levar a público as contradições entre as propostas do governo e as bandeiras partidárias.

Num ambiente político em que predominam os interesses imediatos de um patrimonialismo secular e, marginalmente, o sectarismo ideológico a serviço da utopia, seria demais imaginar que o PT se dispusesse a parar de pensar por um momento em seu projeto de poder para se preocupar com o futuro do País à beira do colapso econômico. O máximo que um pragmatismo irresponsável tem conseguido dos petistas - e eles passaram a impor ao governo - é que, em troca do apoio necessário à aprovação no Congresso do ajuste fiscal, seja tolerado que eles mantenham em público a retórica populista de “defesa dos interesses dos trabalhadores”. É uma contradição, claro, mas certamente a maioria dos petistas confia, com base na experiência de 12 anos no poder, em que a retórica tem maior poder de persuasão do que os fatos. Não é o que, felizmente, indicam as mais recentes pesquisas de opinião.

De qualquer modo, é alentador saber que Dilma Rousseff estaria efetivamente decidida a, numa eventual queda de braço com o PT, bancar a manutenção de Joaquim Levy e sua política de austeridade no comando da equipe econômica, segundo informação do jornal Valor. “Hoje, se ela tiver que decidir entre o Levy e o Nelson, não tenha dúvida, sai o Nelson”, declarou ao jornal fonte autorizada do alto escalão petista. Faz sentido. Afinal, a gravidade da crise de gestão que o governo enfrenta não deixa alternativa senão a adoção, tão rápida quanto possível, de medidas de rigor fiscal que permitam, na melhor das hipóteses no médio prazo, reverter a situação e iniciar a retomada do crescimento econômico. O choque de impopularidade que Dilma tem experimentado nos últimos meses pode tê-la convencido de que ela não tem mais nada a perder, e o Brasil tem tudo a ganhar, se começar a levar a sério um aforismo que a esquerda abomina: não existe almoço grátis.

Inventar para o bem ou para o mal - FABRÍCIO CARPINEJAR

O GLOBO - 29/05


Temos a responsabilidade pelo jeito como os amigos e familiares enxergam quem a gente ama.

Nós é que definimos a olhar de nossos próximos para o bem e para o mal.

Estava em papo à toa com Mariana e destacava o quanto fui feliz com sua mãe enquanto namorávamos na universidade. Não havia partilhado com a filha as minhas experiências do meu início universitário.

- Como, pai? Ela é totalmente diferente de você: objetiva e seca.

- Não, Mariana, ela usava muitas metáforas, ela cantava Maria Bethânia, escrevia cartas de amor.

- Não é possível, você está falando de alguém que não conheço.

Fui obrigado a citar duas ou três expressões que a sua mãe usava comigo. E ela se calou durante o resto do trajeto.

Dois dias depois, Mariana descarrega uma pesada artilharia de mensagens em meu celular, com aspas, prints e citações

- Pai, revi meus diálogos com a mãe e encontrei várias expressões poéticas e sensíveis, comparações estranhas, eu só olhava um lado de sua personalidade e não a enxergava inteira.

Eu não contive o contentamento, o riso de quem deixou sua filha alforriada das minhas limitações (que ela tenha as próprias limitações, não as minhas).

Ajudei, inconscientemente, a estabelecer uma imagem de sua mãe fria, casmurra e distante. Nem de um modo direto, mas por poucas e pobres observações sobre desentendimentos caseiros, tipo "era de se imaginar" ou "ela sempre foi assim e jamais será diferente". Sentenças que não permitiam que a minha filha entendesse a complexidade e a pluralidade da figura materna. Reduzia a minha ex a uma caricatura que me interessava, e que acabava beneficiando às minhas qualidades.

Se o marido é odiado pelas suas amigas, se sua esposa é recusada pela sua família, se um colega é malvisto pela sua turma no trabalho, é você que edificou a indisposição por sucessivas queixas. Não foi obra do destino e uma manifestação espontânea dos acontecimentos. Ninguém foi desmascarado, nós que impomos as máscaras verbais naquele que criticamos de acordo com as circunstâncias, pelo medo de não ser amado, pela desconfiança e pela insegurança. Nós é que maquiamos o cadáver ou borramos os seus traços em plena juventude.

Erramos o peso da boca: ao desabafar, julgamos e condenamos. E não há como ser justo na catarse. Catarse é faxina, é colocar para fora sem nenhuma hierarquia de importância.

Tanto que na paixão desaparecemos para os amigos para ressurgir apenas quando irrompe a primeira decepção. E os amigos ficam conhecendo o rol de frustrações amorosas, e não o que gerou o encantamento.

Sempre temos a chance de consertar as nossas distorções e avaliações de terceiros, de retroceder no inquérito e suspender as censuras. Até porque as pessoas mudam, e também mudam a nossa perspectiva e as nossas prioridades.

É só chamar para uma conversa os envolvidos e desfazer os condicionamentos com a simples poção mágica de palavras "eu me enganei" e demonstrar o quanto aquela companhia vem sendo fundamental em nossa trajetória e rotina.

Ler é interpretar, viver é escrever por cima. Somos marcadores de textos dos defeitos e virtudes do outro.