quinta-feira, dezembro 20, 2012

O massacre de Newtown - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 20/12


Horrores parecidos com o de Newtown acontecerão de novo, nunca teremos como evitá-los ou preveni-los

NA SEXTA passada, em Newtown, Connecticut, um jovem de 20 anos voltou para sua antiga escola primária e matou 20 crianças, de seis e sete anos, e seis adultos (a diretora, a psicóloga da escola e quatro professoras). Em casa, ele já tinha assassinado sua própria mãe.
Fiquei diante da televisão durante boa parte do fim de semana. O cenário bucólico da região reforçava a insensatez do acontecido.
1) Poucas horas depois do massacre, o dr. Sanjay Gupta, neurocirurgião e "correspondente médico" da CNN, afirmava enfaticamente que precisamos de "uma legislação que permita que as autoridades façam o que deve ser feito". "Essas coisas", ele acrescentou, "podem ser previstas e podem ser tratadas".
Na emoção do momento, Gupta (que, em geral, é competente e prudente) reiterou que sempre há sinais que nos avisam de que algo terrível está para acontecer. Seu exemplo? Veja: "Alguém está irritado e isolado, sofre de alucinações auditivas, tem paixão por armas e frequenta um estande de tiro".
Diante desse quadro, lamentou Gupta, você não tem como chamar a polícia, pois ela não tem os meios legais para intervir. Por sorte, acrescento eu.
Mais tarde, também na CNN, uma psiquiatra declarou que o atirador "era um perigo para sua própria família" (fácil de se dizer, sobretudo DEPOIS de ele ter assassinado a mãe). Segundo ela, fomos longe demais no respeito por doentes e perigosos: temos medo de prender as pessoas. A mesma psiquiatra disse que pessoas como o assassino, infelizmente, se recusam a serem medicadas.
Ou seja, não é que nossos diagnósticos sejam imprecisos e tardios, nem que nossos remédios sejam insuficientes e precários. Também não é que a gente não saiba prever uma explosão de loucura assassina.
Nada disso. Na sexta-feira, segundo a CNN, se tivéssemos os meios legais de internar e medicar à força, teríamos resolvido o problema definitivamente. Eu mesmo adoraria jurar, em cima das tumbas das vítimas de Newtown (e de milhares de outras, mundo afora), que, a partir de suas mortes, tudo mudará. Mas essas são palavras que apenas servem para nos consolar.
2) Sou favorável ao movimento para que sejam verificados a sanidade (até onde possível, que é pouco) e os antecedentes dos que adquirem armas. Sou favorável à proibição da venda das armas de guerra -e talvez até de todas as armas. Mas, por favor, SEM ILUSÕES.
No caso, em Connecticut, o controle já existe, e as armas usadas pelo assassino de Newtown eram devidamente registradas: elas pertenciam à mãe de assassino, uma de suas vítimas.
O Japão tem uma legislação rigorosa contra a posse de armas. Justamente, em 2001, Mamoru Takuma, condenado à forca em 2004, entrou numa escola primária de Osaka e matou oito crianças -com uma faca.
No Reino Unido, depois do massacre de Hungerford, em 1987 (16 vítimas, entre as quais a mãe do assassino -mais o assassino, que se suicidou), as armas automáticas e semiautomáticas foram banidas pelo Firearms (Amendment) Act, de 1988. No massacre na escola de Dunblane, na Escócia, em 1996 (morreram 16 crianças, um adulto -e o assassino, que se suicidou), foram usada duas pistolas e dois revólveres. Em consequência, foi proibida a propriedade privada de todas as armas de mão. Isso não impediu que, em 2010, alguém, no condado de Cúmbria, Inglaterra, matasse 12 pessoas e ferisse mais 11, antes de se suicidar.
Meus amigos caçadores, membros da National Rifle Association, pensam que não é bom proibir as armas: segundo eles, se as professoras, a diretora e a psicóloga de Newtown estivessem armadas e reagissem, o balanço do horror teria sido mais leve. O mesmo argumento poderia ser invocado pelo massacre na escola Municipal Tasso da Silveira, no Realengo, no ano passado. Mas você gostaria que suas crianças frequentassem uma escola em que os professores estivessem constantemente armados?
Minha conclusão é a de que devemos agir, sim: controlar as armas de fogo, melhorar nossos diagnósticos. Mas, por favor, sem mentir para nós mesmos.
Nossas ações acarretarão consequências mínimas: algumas vítimas talvez sejam salvas graças às novas disposições (isso já é muito), mas horrores parecidos com os que mencionei vão acontecer de novo -e nunca teremos como evitá-los, nunca teremos mesmo como preveni-los.
Desculpem-me se o tema da semana foi sombrio. Mesmo assim, boas-festas a todos! http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/84756-o-massacre-de-newtown.shtml

Roubar pelo povo - CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O Globo - 20/12



Intelectuais ligados ao PT estão flertando com uma nova tese para lidar com o mensalão e outros episódios do tipo: seria inevitável, e até mesmo necessário, roubar para fazer um bom governo popular.

Trata-se de uma clara resposta ao peso dos fatos. Tirante os condenados, seus amigos dedicados e os xiitas, ninguém com um mínimo de tirocínio sente-se confortável com aquela história da "farsa da mídia e do Judiciário".

Se, ao contrário, está provado que o dinheiro público foi roubado e que apoios políticos foram comprados, com dinheiro público, restam duas opções: ou desembarcar de um projeto heroico que virou bandidagem ou, bem, aderir à tese de que todo governo rouba, mas os de esquerda roubam menos e o fazem para incluir os pobres.

Vimos duas manifestações recentes dessa suposta nova teoria. Na "Folha", Fernanda Torres, em defesa de José Dirceu, buscou inspiração em Shakespeare para especular: talvez seja impossível governar sem violar a lei.

No "Valor", Renato Janine Ribeiro escreveu duas colunas para concluir: comunistas revolucionários não roubam; esquerdistas reformistas roubam quando chegam ao governo, mas "talvez" tenham de fazer isso para garantir as políticas de inclusão social.

Tirante a falsa sofisticação teórica, trata-se da atualização de coisa muito velha. Sim, o leitor adivinhou: o pessoal está recuperando o "rouba mas faz", criado pelos ademaristas nos anos 50. Agora é o "rouba mas distribui".

Nem é tão surpreendente assim. Ainda no período eleitoral recente, Marilena Chauí havia colocado Maluf no rol dos prefeitos paulistanos realizadores de obras, no grupo de Faria Lima, e fora da turma dos ladrões.

Fica assim, pois: José Dirceu não é corrupto, nem quadrilheiro - mas participou da corrupção e da quadrilha porque, se não o fizesse, não haveria como aplicar o programa popular do PT.

Como se chega a esse incrível quebra-galho teórico? Fernanda Torres oferece uma pista quando comenta que o PT se toma como o partido do povo brasileiro. Ora, segue-se, se as elites são um bando de ladrões agindo contra o povo, qual o problema de roubar "a favor do povo"?

Renato Janine Ribeiro trabalha na mesma tese, acrescentando casos de governos de esquerda bem-sucedidos, e corruptos. Não fica claro se são bem-sucedidos "apesar" de corruptos ou, ao contrário, por serem corruptos. Mas é para esta ultima tese que o autor se inclina.

Não faz sentido, claro. Começa que não é verdade que todo governo conservador é contra o povo e corrupto. Thatcher e Reagan, exemplos máximos da direita, não roubavam e trouxeram grande prosperidade e bem-estar a seus povos. Aqui entre nós, e para ir fundo, Castello Branco e Médici também não roubavam e suas administrações trouxeram crescimento e renda.

Por outro lado, o PT não é o povo. Representa parte do povo, a majoritária nas últimas três eleições presidenciais. Mas, atenção, nunca ganhou no primeiro turno e os adversários sempre fizeram ao menos 40%. E no primeiro turno de 2010, Serra e Marina fizeram 53% dos votos.

Por isso, nas democracias o governo não pode tudo, tem que respeitar a minoria e isso se faz pelo respeito às leis, que incluem a proibição de roubar. E pelo respeito à opinião pública, expressa, entre outros meios, pela imprensa livre.

Por não tolerar essas limitações, os partidos autoritários, à direita e à esquerda, impõem ou tentam impor ditaduras, explícitas ou disfarçadas. Acham que, por serem a expressão legítima do povo, podem tudo.

Assim, caímos de novo em velha tese: os fins justificam os meios, roubar e assassinar.

Renato Janine Ribeiro diz que os regimes comunistas cometeram o pecado da extrema violência física, eliminando milhões de pessoas. Mas eram eticamente puros, sustenta: gostavam de limusines e dachas, mas não colocavam dinheiro público no bolso. (A propósito, anotem aí: isto é uma prévia para uma eventual defesa de Lula, quando começam a aparecer sinais de que o ex-presidente e sua família abusaram de mordomias mais do que se sabe).

Quanto aos comunistas, dizemos nós, não eram "puros" por virtude, mas por impossibilidade. Não havia propriedade privada, de maneira que os corruptos não tinham como construir patrimônios pessoais. Roubavam dinheiro de bolso e se reservavam parte do aparelho do estado, enquanto o povo que representavam passava fome. Puros?

Reparem: na China, misto de comunismo e capitalismo, os líderes e suas famílias amealharam, sim, grandes fortunas pessoais.

Voltando ao nosso caso brasileiro, vamos falar francamente: ninguém precisa ser ladrão de dinheiro público para distribuir Bolsa Família e aumentar o salário mínimo.

Querem tudo?

Dilma consegue aprovar a MP que garante uma queda na conta de luz. O Operador Nacional do Sistema Elétrico diz que haverá mais apagões porque não há como evitá-los sem investimentos que exigiriam tarifas mais caras.

Ou seja, a conta será mais barata, em compensação vai faltar luz.

A revolução americana e o nosso retrocesso - ADRIANO PIRES


O Estado de S.Paulo - 20/12


O mundo vem passando por uma nova revolução energética - revolução mais uma vez capitaneada pelos EUA. Os números anunciados pela Agência Internacional de Energia (AIE) revelam a dimensão do que vem ocorrendo no setor de energia no mercado americano. Em 2015, os EUA vão superar a Rússia como principal produtor de gás natural; em 2017, ultrapassarão a Arábia Saudita na produção de petróleo; e em 2035 se tornarão exportadores de petróleo. Qual é a política energética que está por trás desse extraordinário sucesso?

O principal pilar da política energética americana é o respeito às regras de mercado. Ao contrário do que praticamos no Brasil, nos EUA os preços da energia flutuam de acordo com o mercado. Isso permitiu o crescimento da oferta pelo fato de o preço do petróleo ter subido bastante a partir do início dos anos 2000. Além de incentivar o crescimento da oferta, também acaba por conduzir a um consumo mais eficiente de energia. Num segundo momento, com o crescimento da oferta, os preços começam a cair e, caso o governo não crie incentivos para o uso eficiente da energia, perde-se esse benefício.

No passado, o governo americano não se preocupava com a questão do uso eficiente da energia. Daí os EUA terem se transformado em grandes desperdiçadores de energia. Na atualidade, o que mudou é que, mesmo com o crescimento da oferta e a queda de preços, o governo mantém incentivos para o aumento da eficiência no uso da energia. Por isso, quando olhamos cenários, por exemplo, de consumo de gasolina nos EUA, verificamos um menor crescimento. Esse menor crescimento é em função do aumento da mistura de etanol na gasolina e de motores de veículos mais eficientes. Essa política americana mostra que preços competitivos de energia só são alcançados quando as políticas de governo respeitam as leis de mercado, leis essas que acabam por incentivar o uso eficiente da energia e a segurança de abastecimento.

Enquanto isso, no Brasil, o governo se utiliza das empresas estatais de energia como instrumento de política econômica e para promover práticas populistas. Na realidade, atualmente, no Brasil, quem governa as duas principais empresas estatais, Petrobrás e Eletrobrás, é o Ministério da Fazenda, cuja única preocupação é com o controle da inflação.

Por exemplo, com a Medida Provisória 579, do setor elétrico, o governo aumenta a intervenção no setor, a exemplo do que já vinha acontecendo no setor de petróleo. Neste, os resultados desastrosos da intervenção já começaram a aparecer: queda de produção e prejuízo na Petrobrás; ausência de licitações e redução da área exploratória; dificuldade de financiamento pelas empresas; necessidade de capitalização da Petrobrás; não cumprimento dos planos de investimentos e das metas de produção; e importações crescentes de diesel e gasolina pela empresa.

Como toda solução populista, a redução de tarifas do setor elétrico no curto prazo será comemorada. Porém, da forma como está sendo feita, levará à queda na qualidade dos serviços e a apagões no futuro. No caso do setor elétrico, não dá para importar energia no curto prazo, como ocorre no setor de petróleo, e, consequentemente, a energia mais cara é aquela que não está disponível, pois impede o crescimento e o desenvolvimento econômico.

Até quando vamos ter de conviver com a utilização das estatais como meros instrumentos de política econômica? Até quando vamos ver o governo desrespeitando completamente os interesses dos acionistas minoritários das estatais? Até quando as agências reguladoras continuarão a não ter autonomia e independência? Até quando o governo iludirá a sociedade brasileira com seus planos improvisados e atrapalhados de curto prazo? Até quando as discussões sobre o setor de energia, tão importante para o crescimento da economia, como para a geração de emprego, ficarão restritas a um debate exclusivamente político, deixando questões técnicas e econômicas completamente de lado? Até quando vamos conviver com o retrocesso?

O Sarney bolivariano - TUTTY VASQUES


O Estado de S.Paulo - 20/12


O bigode de Nicolás Maduro, vice de Hugo Chávez, lembra um pouco, de fato, o de José Sarney na época de sua posse no Palácio do Planalto. Mas talvez parem por aí as semelhanças entre a agonia da Venezuela de agora e o Brasil de Tancredo Neves.

A começar por uma diferença básica na Constituição bolivariana: na impossibilidade de o presidente eleito - no caso deles, reeleito - tomar posse no próximo dia 10, seu vice terá de disputar eleições para assumir a Presidência!

E olha que, ao contrário de Sarney em 1985, Maduro é vice de um presidente (re)eleito pelo voto popular. Sarney, para quem não está bem lembrado, veio na aba de Tancredo escolhido pelo Colégio Eleitoral do Congresso.

Virou presidente interino com a internação do titular na véspera da posse, assumindo o cargo em definitivo após a morte do avô do Aécio no dia 21 de abril, dois meses depois do carnaval.

Entre uma coisa e outra, o brasileiro rezou e por fim chorou nas ruas de um jeito muito parecido com as imagens que chegam das manifestações populares em Caracas.

Fora isso e o detalhe do bigode dos vices, não cabem comparações: cada país tem o Tancredo Neves que merece!


Reforço de peso

O atacante Pato pode chegar depois do Natal para assumir a vaga de Adriano no departamento médico do Corinthians!

Fogo amigo

Expelido pelo ladrão da Agência Nacional de Águas, o ex-diretor Paulo Vieira entrou na disputa com Carlinhos Cachoeira e Marcos Valério pelo título de maior 'garganta profunda' do PT.

Marzão besta

Os últimos tremores de terra em Montes Claros reacenderam na população do norte de Minas a esperança de que um dia um tsunami decorrente dos abalos sísmicos leve o mar até aquela região.

Dosimetria global

Se o hacker que roubou fotos de Scarlett Johansson pegou 10 anos de prisão em um tribunal da Califórnia, francamente, até que o STF pegou leve com o José Genoino. Em outros tribunais, 6 anos e 11 meses é dosimetria para crime menor de voyeurismo na internet.

Poder de síntese

Do relatório inicial de 5 mil páginas, sobrou 1,5 página para contar a história da CPI do Cachoeira. A conclusão, a rigor, caberia em uma mensagem do Twitter, mas a turma resolveu mostrar trabalho.

Calma!

Falta ainda um dia inteirinho para o fim do mundo: aproveite!

Banana do Dinamite

As bananas que a torcida do Vasco está atirando no clube em protestos contra seu presidente não são, evidentemente, ato de racismo. Os caras estão danados com o banana do Dinamite!

Nação Corinthians

Revoltado com as críticas que recebeu em seu país ao estabelecer residência fiscal na Bélgica, o ator Gerard Depardieu vai deixar de ser francês. Capaz de virar corintiano!

Ueba! Quero um Propinetone! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 20/12


E eu só gosto da Cármen Lúcia. Porque é o clone do Mister Bean. E o Barbosa parece a minha sogra


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Cachoeira não é indiciado na CPI do Cachoeira". Rarará! Síndrome de abstinência: faz quatro dias que o Corinthians não é campeão de nada!

E amanhã é o Fim do Mundo. E o Itaquerão não ficou pronto! Capa da "Caras": "Xuxa aguarda o fim do mundo na Ilha de Caras". Manchete do Sensacionalista: "Teto de seita que prega o fim do mundo desaba e mata 22 pessoas em São Paulo!". Rarará! E o kit de Natal: um CD da Simone + um litro de álcool + uma caixa de fósforos! BUM!

E esta aqui: "Berlusconi vai casar com namorada de 27 anos e de valores morais sólidos". E ela vai casar com um de 76 e sem moral. Rarará! Tudo culpa do Viagra. Bunga-bunga na base do Viagra!

E sabe o que você podia dar de Natal pra sua mãe? Um Viagra pro seu pai! Faça sua mãe feliz! Dê um Viagra pro seu pai!

E Datapanetone informa: ninguém aguenta mais panetone. Nem porteiro de prédio aguenta mais ganhar panetone! Panetone dá azia! E em Brasília lançaram o panetone dos políticos, o PROPINETONE! Fabricado com farinha de propina!

UFA! UFA! Tamo livre! Acabou o mensalão! A Turma da Naftalina entrou em recesso! Agora os tiozinhos vão botar aquelas capas de morcego pra lavar? Já imaginou um varal de capas de morcego? E o ministro Marco Aurélio: "Afastamento da vida social projetado no tempo". Tucanou a cana, o xadrez, o xilindró! E o Barbosa disse que o julgamento está na reta final. Eu acho que está no reto final. Dos mensaleiros. Rarará!

E o Marco Aurélio não gostou do Barbosa, no final do julgamento, ter agradecido aos colaboradores. O Barbosa tá certo! O julgamento do mensalão não foi um espetáculo midiático? Então tem que passar a ficha técnica no final. Rarará!

E eu só gosto da Cármen Lúcia. Porque é o clone do Mister Bean. E o Barbosa parece a minha sogra: ranzinza e não deixa ninguém falar! É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Placa na garagem em Diadema: "Estacionamento Proibido! Sujeito a Guindamento e/ou Esvaziamento de Pneus". Adorei o "guindamento". E gosto muito de placas que têm "e/ou". Como esta: "Quem pichar esse muro é corno e/ou viado". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

O inimputável - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 20/12


Eis a palavra de ordem: Luiz Inácio Lula da Silva paira acima da Justiça, e o seu detrator, o publicitário Marcos Valério, é um desqualificado. Desde que, na semana passada, este jornal revelou que o operador do mensalão, em depoimento à Procuradoria-Geral da República, em setembro último, acusou o ex-presidente de ter aprovado o esquema de compra de votos de deputados e de tirar uma casquinha da dinheirama que correu solta à época do escândalo, o apparat petista e os políticos governistas apressaram-se a fazer expressão corporal de santa ira: "Onde já se viu?!".

Apanhado em Paris pela notícia da denúncia, Lula limitou-se a dizer que era tudo mentira, alegou indisposição para não comparecer a um jantar de gala oferecido pelo presidente François Hollande à colega brasileira Dilma Rousseff e, no dia seguinte, fugiu da imprensa, entrando e saindo dos recintos pela porta dos fundos - algo não propriamente honroso para um ex-chefe de Estado que se tem em altíssima conta. Em seguida, usando como porta-voz o secretário geral da Presidência, Gilberto Carvalho, declarou-se "indignado". Outros ministros também se manifestaram. Como nem por isso as acusações de Valério se desmancharam no ar, nem o PT ocupou as praças para fulminá-las, os políticos tomaram para si a defesa do acusado.

Na terça-feira, um dia depois do término do julgamento do mensalão, oito governadores se abalaram a São Paulo em romaria de "solidariedade" a Lula, na sede do instituto que leva o seu nome. De seu lado, a bancada petista na Câmara dos Deputados promoveu na sala do café da Casa um ato pró-Lula. Foi um fracasso de bilheteria: poucos parlamentares da base aliada (e nenhum senador) atenderam ao chamado do líder do PT, Jilmar Tatto, para ouvir do líder do governo Dilma, Arlindo Chinaglia, que Lula "é (sic) o maior presidente do Brasil", além de "patrimônio do País", na emenda do peemedebista Henrique Eduardo Alves, que deve assumir o comando da Câmara em fevereiro. Não faltaram, naturalmente, os gritos de "Lula, guerreiro do povo brasileiro".

Já a reverência dos governadores - aparentemente, uma iniciativa do cearense Cid Gomes - transcorreu a portas fechadas. Havia três petistas, dois pessebistas (mas não Eduardo Campos, que se prepara para ser "o cara" em 2014 ou 2018), dois peemedebistas e um tucano, Teotônio Vilela Filho, de Alagoas, autodeclarado amigo de Lula. Seja lá o que tenham dito e ouvido no encontro, os seus comentários públicos seguiram estritamente a cartilha da intocabilidade de Lula, com as devidas variações pessoais. Agnelo Queiroz, do PT do Distrito Federal, beirou a apoplexia ao proclamar que Valério fez um "ataque vil, covarde, irresponsável e criminoso" a Lula. "Só quem confia em vigarista dessa ordem quer dar voz a isso."

Não se trata, obviamente, de confiar em vigaristas, mas de respeitar os fatos. Valério procurou o Ministério Público - não vem ao caso por que - para fazer acusações graves a um ex-presidente e ainda figura central da política brasileira. Não divulgá-las seria compactuar com uma das partes, em detrimento do direito da sociedade à informação. Tudo mais é com a instituição que tomou o depoimento do gestor do mensalão, condenado a 40 anos. Ainda ontem, por sinal, o procurador-geral Roberto Gurgel, embora tenha mencionado o contraste entre as frequentes declarações "bombásticas" de Valério e os fatos apurados, prometeu examinar "em profundidade" e "rapidamente" as alegações envolvendo Lula.

Não poderia ser de outra forma. "Preservar" o ex-presidente, como prega o alagoano Teotônio Vilela Filho, porque ele tem "um grande serviço prestado ao Brasil", é incompatível com o Estado Democrático de Direito. O que Lula fez pelo País pode ser aplaudido, criticado ou as duas coisas, nas proporções que se queiram. O que não pode é torná-lo literalmente inimputável. Dizer, por outro lado, como fez o cearense Cid Gomes, que Valério não foi "respeitoso com a figura do ex-presidente e com a memória do Brasil" põe a nu a renitente mentalidade que evoca a máxima atribuída ao ditador Getúlio Vargas: "Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei".

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA


O GLOBO - 20/12


Mérito
O triste espetáculo em torno da votação dos vetos de Dilma à lei de redistribuição dos royalties não tirou do STF o foco no mérito. A briga de verdade é a quebra de contratos vigentes, que prejudica Rio, Espírito Santo e São Paulo. Um observador privilegiado garante que a mudança de regra, se passar pelo Congresso, será derrubada pelo Supremo.

Porto Alegre
O fundo de investimento NSG Capital, do Rio, assumiu 39% do Porto Cais Mauá (RS). A meta é investir até R$ 400 milhões no plano de revitalização da zona portuária da capital gaúcha. As obras começam em março de 2013. Devem ser concluídas antes da Copa. O controle é da espanhola GSS.

Crédito próprio
A BgmRodotec, de gestão para transporte, lançou linha própria de financiamento. Clientes vão poder comprar softwares, de R$ 120 mil a R$ 450 mil, em até 24 vezes, com taxas a partir de 0,7% ao mês. A empresa quer dobrar o faturamento em três anos. As receitas vão bater R$ 32 milhões em 2012.

Em alta
A grife Animale está fechando as contas de 2012. Vendeu mais de 1,3 milhão de peças no ano. É alta de 39% sobre 2011. Na comparação com as mesmas lojas de um ano antes, as vendas subiram 24,31%. Em 2013, planeja abrir oito e faturar 40% mais.

ENDIVIDAMENTO CAI NO RIO E SOBE NO PAÍS
Inadimplência em contas fixas atingiu em novembro o menor nível desde o ano 2000, diz Fecomércio-RJ
A inadimplência das famílias do Grande Rio com contas fixas caiu, em novembro, para o menor nível desde o ano 2000, informa a Fecomércio-RJ. No mês passado, 13,3% dos consumidores consultados disseram estar com aluguel, condomínio, mensalidade escolar e contas de serviços públicos em atraso. A proporção ficou quase quatro pontos percentuais abaixo de novembro de 2011 (16,8%). Na comparação com o mesmo mês de 2007 (21,8%), pico do calote, a queda encosta em dez pontos. “Aparentemente, o aumento da renda, a estabilidade do mercado de trabalho e o pagamento da primeira parcela do décimo terceiro ajudaram no equilíbrio orçamentário das famílias. O nível de inadimplência nas contas domésticas ainda é alto, mas sua queda ao longo deste ano 38,3% deve ser festejada”, diz Christian Travassos, economista da Fecomércio. Na pesquisa nacional que a CNC divulga hoje, a proporção de inadimplentes aumentou entre novembro e dezembro: de 21% para 21,7%. A entidade estima que 60,7% das famílias têm dívidas. No Rio, diz a Fecomércio-RJ, a proporção é menor: 47,7% dos lares da Região Metropolitana têm financiamento. Há um ano, eram 52,6%.

NÃO PAGARAM A LUZ
A conta de energia é líder em atraso nas famílias inadimplentes. Em segundo lugar, diz a Fecomércio-RJ, aparece a conta do telefone fixo. Entre os inadimplentes, 35,7% não pagaram o telefone.

É FESTA
A Martu, grife feminina, põe nas redes sociais hoje seu primeiro catálogo de fim de ano. Lucas Bori fotografou a modelo Winie Lourenço.

A estilista Marta Macedo criou três dezenas de peças para as festas de Natal e réveillon. Foram feitas em linho e seda, com bordados geométricos.

A marca fecha 2012 com alta de 25% nas vendas.

COLEÇÃO CAMPESTRE
A M. AP lança hoje coleção de alto verão com 30 peças. Fotografou o catálogo em uma fazenda de café centenária em Secretário (RJ). O clima do campo serviu de inspiração. As imagens vão circular também em mídias impressa e digital. Lucas Landau assina. A grife espera aumento de 40% nas vendas da loja, no Leblon.

É réveillon 1
Bradesco, Light, Petrobras Claro/Embratel, Coca-Cola e Skol são os patrocinadores do réveillon de Copacabana este ano. A festa vai custar R$ 17 milhões. A SRCom organiza.

É réveillon 2
Esgotou o estoque de lingeries da Duloren para o fim de ano. As vendas tiveram alta de 55% sobre o mesmo período de 2011. A cor mais procurada é a amarela. No último réveillon, o branco fora o campeão.

Do Peru
A Toulon investiu R$ 250 mil em camisetas de algodão Pima. O fio vem do Peru. Quer vender 15% mais neste Natal.

NA TORCIDA
A Mastercard anuncia hoje, com vídeo estrelado por Sabrina Sato, a etapa carioca da promoção que dará dois pares de ingressos para o amistoso Brasil e Inglaterra, em Londres, dia 6 de fevereiro. O filme com o passo a passo da ação estará no Facebook. A agência R/GA assina.

Na luta
A Integralmédica renovou o patrocínio com o UFC por mais um ano. Ao todo, vai destinar R$ 8 milhões ao MMA. A cifra inclui aporte a seis lutadores, entre eles, José Aldo. A empresa exibirá a marca nos sete eventos no Brasil. Participa também do reality “The ultimate fighter”, da TV Globo.

Na folia 1
A Hering produziu 4.480 camisas para o Monobloco. Três mil vão ser vendidas na web. A parte restante será usada por ritmistas. A Espaço Z assina. 

Na folia 2
A Orquestra Voadora fará campanha no site Cultivo. Busca verba para financiar desfile, livro e DVD. O projeto, aprovado na Lei Rouanet, soma R$ 375.240. É permitida dedução no IR.

Livre Mercado
Trinta alunos da Universidade de Stanford (EUA) estão em imersão no Brasil esta semana. Reuniram-se com Eike Batista (EBX) e Pedro Moreira Salles (Itaú Unibanco).

Criado em 2009, o Fundo Vale encerra 2012 com R$ 63 milhões em ações sustentáveis. Aliou-se à Fundação Avina para sua 1ª ação no exterior; no Equador.

A TV Azul, canal a bordo da companhia aérea, vai exibir três minutos de filmes do movimento #RioEuTeAmo nos voos. Quem produz é a Conspiração Concept.

A Nasajon passa a oferecer versões gratuitas dos softwares de contabilidade, escrita fiscal, gestão financeira de serviços. A intenção é qualificar jovens. O site é o nasajonestudante.com.br.

Omo e Comfort serão parceiras do Bazar da Preta (Gil), no sábado. A Cross Networking intermediou. A renda vai para famílias do Alemão.

A Santa Unha abre quiosque de esmaltes amanhã no Shopping da Gávea. Investiu R$ 60 mil.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 20/12


Empresa lança shoppings no Rio e em Cotia (SP)
A Vértico, empresa de shopping centers do grupo WTorre, lançará dois novos empreendimentos em 2013. Um deles será em Cotia, região metropolitana de São Paulo, e o outro, na cidade do Rio de Janeiro.

"Nós vamos investir R$ 300 milhões nos dois shoppings. No do Rio de Janeiro, serão aplicados R$ 230 milhões e, no de Cotia, outros R$ 70 milhões", afirma Dante Colluci, sócio e diretor de novos negócios da Vértico.

O início de ambas as obras está previsto para o segundo semestre do ano que vem.

"No primeiro semestre de 2013 faremos o lançamento dos dois empreendimentos", diz o executivo.

O executivo não revelou o local onde a unidade carioca será erguida, mas afirmou que não será na Barra da Tijuca. A inauguração aindanão foi definida.

O projeto de Cotia, que será em uma região central, está previsto para 2014 e atenderá também os moradores de Itapevi.

No próximo ano, a companhia inaugura outros dois shoppings: em Limeira (SP), que consumiu R$ 255 milhões (somados os investimentos dos lojistas), e em Três Lagoas (MS), com custo de cerca de R$ 104 milhões.

R$ 300 milhões é o que a companhia irá investir nos shoppings do Rio de Janeiro e de Cotia (SP)

R$ 104 milhões foi o aporte demandado pelo primeiro centro de compras da empresa, o Nações Bauru (SP)

R$ 409 milhões é quanto a construtora aportará nos empreendimentos de Limeira (SP), Três Lagoas (MS) e Araguaína (TO)

ENTRA E SAI
Como parte de uma reestruturação que teve início há cerca de dois anos, o escritório Demarest e Almeida Advogados vai renovar a equipe de sua área contenciosa trabalhista.

Após contratar uma consultoria especializada para orientar o planejamento estratégico, adotou um sistema de metas para todos os integrantes do escritório.

A partir de hoje, os especialistas Maurício Levy e Paulo Valed Perry Filho chegam para integrar o time na condição de novos sócios.

Ainda não está definido se levarão com eles outros nomes para ampliar os quadros do Demarest.

Novas mudanças não estão no radar no curto prazo, de acordo com Mário Roberto Nogueira, sócio-diretor do escritório.

"Por enquanto, o processo de reestruturação está finalizado. Com essas mudanças, o quadro se consolida."

O escritório não confirma os nomes dos que estão saindo. Além de outros quatro advogados, os sócios Márcia Pelella Mélega e Geraldo Baraldi Júnior deixam o Demarest. Eles não foram encontrados ontem no escritório para comentar.

CIDADE-SEDE
Até o final deste mês, a cidade de São Paulo terá recebido 2.051 eventos durante o ano -crescimento de 4% na comparação com 2011, de acordo com levantamento do São Paulo Convention & Visitors Bureau.

A alta é a menor dos últimos quatro anos. Em 2011, a expansão foi de 13%, em relação a 2010. Em 2009, a elevação chegou a quase 27%.

"O mercado está mais maduro e, também, diminuiu o volume de eventos organizados por instituições europeias por causa da crise que se vive lá", afirma o presidente-executivo da entidade, Toni Sando.

"Também tem acontecido de não haver disponibilidade de hotéis e de espaços para feiras e congressos em determinadas datas. O número de eventos só irá crescer se houver mais oferta."

Para 2013, a expectativa é que haja uma expansão de 5%. "Esse é um patamar mais real para o mercado."

CANCELA AUTOMÁTICA
O Sem Parar/Via Fácil vai investir R$ 6 milhões no ano que vem para alcançar 200 estacionamentos conveniados no Brasil.

A companhia está presente em mais de 150 estacionamentos atualmente.

O mais novo contrato fechado pela empresa para oferecer o serviço de passagem eletrônica em cancelas de garagens é o do aeroporto de Guarulhos.

Telefone... 
A Vocalcom Brasil, empresa de tecnologia da área de call center, irá investir R$ 4 milhões em seus departamentos comercial, de canais e de marketing.

...tecnológico 
Também para reforçar a área comercial, a companhia contratou um novo diretor: José Oshiro, que trabalhava na Avaya.

Caça... 
As contratações que tiveram maior destaque neste ano, segundo a Asap, consultoria de recrutamento, estão na indústria (39%), seguidas por mercado financeiro (32%), bens de consumo (15%) e TI/telecom (14%).

...talentos 
O setor siderúrgico concentrou o maior número de projetos de recrutamento e seleção da indústria, com quase 20%.

Alavanca 
Construção, engenharia e infraestrutura continuam sentindo o efeito de grandes eventos esportivos no país, segundo a empresa. Os três setores representaram 15% da demanda de executivos da Asap para o segmento industrial.

39% foi a parcela nas contratações representada pela indústria, setor que teve maior destaque neste ano

32% foram as contratações no mercado financeiro

15% foi quanto representou o setor de bens de consumo nas contratações

A inflação está viva - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 20/12


Na ânsia de passar confiança, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai tropeçando em contradições. Primeiramente pede, como ontem, para esquecer este ano: "2012 já se foi; não olhem para trás". Logo em seguida também proclama que a condução da política econômica deste ano foi um sucesso, porque gerou pleno emprego: "A população está feliz; nunca viajou tanto..."

O avanço do PIB foi mesmo um fiasco, mas, concordemos com o ministro: este não foi um tropeço apenas verde-amarelo. Tropeço quase exclusivo da economia brasileira é a soltura da inflação.

Os primeiros números de dezembro são desalentadores. No período de 30 dias terminado no dia 15 de dezembro, o custo de vida medido pelo IPCA saltou 0,69%. A partir dessa magnitude, dá para projetar a inflação de 2012 em pelo menos 5,8%.

Este é um resultado mais grave do que o fracasso do crescimento. Não dá para culpar a economia mundial por mais essa - como o governo tentou fazer ao longo deste ano. Os presidentes dos bancos centrais são quase unânimes em atestar que, nas telas de seus radares, não há sinais de inflação. Por toda parte, o avanço dos preços segue rastejante. Em alguns países, o medo predominante é que prevaleça a deflação. Enfim, nesse particular, o Brasil é uma exceção.

Não dá mais para dizer que a alta provém da estocada nas cotações das commodities agrícolas. Embora contribuam para a esticada, os preços dos alimentos nada têm a ver com o comportamento do mercado internacional. Os maiores saltos ocorreram na farinha de mandioca (mais 84,9%); no arroz (mais 37,0%); e no feijão carioca (mais 37,7%), mercadorias não negociadas na Bolsa de Chicago.

A alta também foi notável nas áreas dos serviços pessoais e dos transportes, mas o índice mais relevante é o que aponta o quanto a inflação está espalhada no mercado varejista (índice de difusão): nada menos que 67,9% dos itens que compõe o cestão de consumo do brasileiro mostraram elevação de preços.

É um equívoco culpar a flacidez da política dos juros (política monetária) pelo desarranjo. Ele é consequência da política perdulária do governo na condução das despesas públicas em ano eleitoral. A leniência fiscal não foi suficientemente compensada nem pela política de juros, que, ao contrário, foi expansionista; nem pela política cambial, que contribuiu para encarecer os importados; nem tampouco pelos artifícios que seguraram reajustes relevantes, como os dos combustíveis.

Nas últimas semanas, os dirigentes do Banco Central pareceram especialmente empenhados em conter a disparada do dólar no câmbio interno. Seu objetivo indisfarçado é evitar uma disparada ainda maior dos preços que complique a estratégia de convergência da inflação para meta (de 4,5% ao ano) - "ainda que de forma não linear". E não escondem o desconforto que lhes causa o jogo das autoridades da Fazenda, conformadas demais com o descumprimento das metas do superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida).

Hoje sai o Relatório de Inflação. Quem sabe o Banco Central tenha algo de novo a dizer sobre tudo isso.

As contas da conta de luz - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 20/12


Do ponto de vista do consumidor, a notícia não é tão boa quanto parece; do ponto de vista das empresas, é ruim o suficiente. A Eletrobras, se continuasse sendo remunerada até 2015 pelo valor do contrato atual, a R$ 90 o MWh, em média, receberia R$ 20 bilhões a mais do que na proposta de antecipação das concessões. Já o consumidor não terá em 2013 a queda que espera na conta.

Quem consome serviços da Light recebeu este mês a conta com o aviso de que a Aneel autorizou alta de 11,8%. Quando se comparar a tarifa média de 2013 não será 16% a menos do que este ano. Será menor, mas não no tamanho anunciado. A Light e outras distribuidoras que compram energia de Itaipu repassarão para o consumidor o aumento provocado pela alta do dólar. A energia fornecida pela binacional é corrigida pelo câmbio. Há também o repasse do custo do uso das termelétricas. A conta é complicada.

Não é difícil entender por que o valor das ações da Eletrobras evaporou. Os executivos da estatal abriram mão de bilhões em receita. A Moody"s ontem rebaixou o rating da companhia, entre outros motivos, porque a geração de caixa nos próximos anos não será suficiente para cobrir custos operacionais. A empresa que fizer a renovação tem a vantagem de assegurar mais 30 anos de contrato, mas aceita receber um valor bem menor daqui até lá. Foi o que fez a ação despencar. Inúmeros sócios venderam os papéis; o custo para o Tesouro aumentou, será necessário um aporte na empresa que ontem teve sua dívida rebaixada.

Para que a conta de luz caia, o Tesouro terá que injetar dinheiro - o nosso - na Eletrobras. Como a carga tributária sobe há 20 anos, pagaremos menos na conta de luz, mas continuaremos mandando cada vez mais recursos para o governo.

As federações das indústrias fizeram campanha para apoiar a MP 579, acusando críticos da medida de serem contra interesses dos consumidores. Populismo. Eles sabem que há muito tempo se luta pela queda da conta de luz, com a redução das inúmeras taxas, impostos e encargos. O que aconteceu na MP, explica o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, foi que o governo tinha várias propostas boas para baixar a conta de luz. Mas, na pressa, improvisou um caminho que criou distorções.

O governo se comprometeu a remunerar o custo do dinheiro das indenizações que as empresas de transmissão receberão parcelado, em 30 anos. Mas não formalizou a decisão. No papel, está dito que a correção será apenas pelo IPCA.

- A proposta corrige o capital pela inflação, mas não traz rendimento adicional que as empresas teriam com investimentos. Cemig e Cetep aceitaram porque integrantes da Aneel, do Ministério das Minas e Energia e do Tesouro disseram, de boca, que vão remunerar também o capital. Mas isso é um improviso, não está oficializado - explicou Sales.

O governo deu às empresas um prazo de 60 dias para decidir sobre as novas regras. Mas os contratos têm até 30 anos de duração. Houve pouco tempo para se tomar uma decisão de longo prazo. As regras já foram mudadas no passado recente, mas com tempo para o entendimento do impacto da proposta.

Os impostos continuam altos. De cada R$ 100 da conta, R$ 45 são impostos, contribuições e encargos que vão parar nos cofres dos governos federal, estadual e municipal. A MP 579 tira apenas R$ 7 de impostos e encargos da conta. Os outros R$ 13 - para se chegar à queda média de 20% prometida pela presidente Dilma - saem das empresas. Com menos caixa, as companhias reduzirão investimentos. Isso aumenta o risco do sistema. Imagina quando o Brasil estiver crescendo!

O mercado de energia elétrica em 2012 - ADRIANO PIRES

BRASIL ECONÔMICO - 20/12


O mercado de energia elétrica em 2012 foi influenciado por eventos como mudanças regulatórias, apagões, acionamento de usinas térmicas devido ao baixo nível de reservatórios, e cancelamento de leilões por conta da sobrecontratação das distribuidoras.

O destaque foi a edição da Medida Provisória nº 579, que instituiu a prorrogação das concessões dos contratos de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, vincendos a partir de 2015, com o objetivo de reduzir as tarifas já em 2013.

A contrapartida para a prorrogação foi o aceite, por parte dos concessionários, de uma tarifa restrita à remuneração da operação e manutenção, além do pagamento de indenização pelos investimentos não amortizados.

Este novo marco regulatório privilegiou a modicidade tarifária em detrimento da segurança do abastecimento, uma vez que a capacidade de investimento das empresas na expansão do sistema ficará seriamente comprometida.

Com a MP 579, o governo objetivou a redução média da tarifa de energia em 20,2%, o que não foi atingido porque a Cesp, Copel, Celesc e Cemig optaram pela não renovação dos contratos de geração.

Assim, do total de 25,5 GW por vencer, apenas 15,3 GW serão renovados, o que garante uma redução média de 16,7% na tarifa. As recentes declarações do Governo são de que o Tesouro vai bancar a diferença, ou seja, o contribuinte.

O ano também foi marcado por interrupções no fornecimento de energia elétrica, que inicialmente tratadas como fatos pontuais, tornaram-se frequentes nos últimos meses de 2012, levando o governo a criar um grupo de trabalho para examinar a fundo as perturbações ocorridas.

Os motivos dos "apagões" de 2012 distanciam-se do ocorrido em 2001, cuja causa estava na geração, pela escassez de energia.

Desta vez, as causas se devem a problemas na transmissão e na distribuição de energia elétrica, que por decorrerem do reduzido nível de investimento em manutenção e da fiscalização insuficiente do setor.

Agora, a principal preocupação é de que, com as empresas de setor sendo remuneradas apenas pela operação e manutenção das usinas e das linhas de transmissão, o investimento em manutenção ainda se reduza mais, o que certamente vai comprometer a segurança do sistema.

No final do ano, o regime de chuvas abaixo da média levou os reservatórios das principais usinas hidrelétricas a registrar o menor nível desde 2001. Assim, o ONS acionou as usinas térmicas para garantir o suprimento de energia.

Esse tipo de ocorrência tende a se tornar cada vez mais frequente, com a expansão do sistema hidrelétrico se dando por meio de usinas a fio d'água, que não mantem reservatórios plurianuais.
Todos esses eventos mostram a desorganização na qual se encontra o setor elétrico brasileiro.

Tais fatos ampliaram o risco regulatório do país, o que afastará os investimentos necessários ao funcionamento adequado e a expansão do sistema.

Ao invés de incentivar o aumento da oferta de energia, a concorrência e o abandono da visão do setor como arrecadador de impostos, o governo optou pela maior intervenção do Estado no setor energético.

O desafio do comércio - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 20/12


O Brasil deve fechar o ano com superávit comercial de US$ 19 bilhões, segundo a nova estimativa do Banco Central (BC). Em 2012, mais uma vez o setor manufatureiro teve desempenho ruim na disputa com os produtores estrangeiros. Ficou em desvantagem tanto no exterior quanto no mercado interno e novamente as contas foram salvas pelas exportações de produtos básicos, principalmente do agronegócio, embora as cotações dos alimentos tenham recuado nos últimos meses. O País precisa de um grande superávit comercial para compensar, pelo menos em parte, o déficit estrutural na conta de serviços. O governo deveria pensar mais seriamente numa política de comércio exterior e rever, entre outros pontos, a estratégia de acordos e parcerias.

Do começo do ano até a segunda semana de dezembro, as exportações totalizaram US$ 233,09 bilhões, 2,9% menos que em 2011. Pelo critério das médias diárias, porém, o recuo foi de 4,9%. As importações evoluíram com muito mais firmeza e chegaram a US$ 215 bilhões, com aumento de 0,3% em relação ao resultado de igual período de 2011. Comparadas as médias diárias, no entanto, houve um recuo de 1,8%. Pelos dois critérios, o resultado das vendas foi muito pior. O saldo acumulado no período foi de US$ 17,99 bilhões, 31.l% menor que o do período anterior, na comparação dos valores diários.

A receita com os produtos básicos, US$ 104,64 bilhões, foi menor que a alcançada em 2011 até a segunda semana de dezembro, US$ 112,44 bilhões. Ainda assim, o superávit comercial dependeu essencialmente das vendas de um grupo de commodities.

A contribuição do agronegócio. Os números das duas primeiras semanas de dezembro ainda são pouco detalhados, mas os dados até novembro são claros quanto à contribuição do agronegócio. De acordo com levantamento do Ministério da Agricultura, o agronegócio exportou de janeiro a novembro mercadorias no valor de US$ 88,65 bilhões. Esse valor foi apenas um por cento maior que o de igual período de 2011, porque a crise em vários grandes mercados compradores afetou as cotações e os volumes negociados. Ainda assim, o superávit comercial do agronegócio alcançou US$ 73,56 bilhões.

O complexo soja produziu no período uma receita de US$ 25,5 bilhões, com alta de 11,1% em relação a um ano antes. As vendas de carnes renderam US$ 14,34 bilhões, 0,6% menos que de janeiro a novembro do ano passado. Barreiras sanitárias em países importadores podem criar problemas nos próximos meses. Seis países já suspenderam as compras de carne brasileira, depois de noticiada a identificação da proteína príon, agente da doença da vaca louca, num animal morto em 2010 no Paraná.

Segundo o Ministério da Agricultura, o surgimento da proteína resultou de uma mutação espontânea e os indícios permitem descartar a hipótese de um foco da doença. Falta convencer disso aqueles importadores ou, em caso extremo, recorrer a um processo, em geral demorado e trabalhoso, na Organização Mundial do Comércio (OMC).

As dificuldades da indústria. Mas esse problema é pouco significativo, diante das fraquezas estruturais da economia brasileira. O agronegócio ainda tem um poder de competição suficiente para compensar, em parte, os altos custos do transporte interno, as ineficiências do sistema portuário e as dificuldades para investir e inovar. Esses e outros fatores negativos, como o péssimo sistema tributário, têm causado danos bem mais sensíveis à indústria, dificultando seu avanço no mercado internacional e facilitando a conquista de fatias do mercado interno por estrangeiros. No ano 2000, segundo estatística da ONU citada em relatório da Confederação Nacional da Indústria, a produção industrial brasileira correspondia a 8% do total dos países em desenvolvimento. Em 2010, estava reduzida a cerca de 5%. No mesmo período, a fatia da China aumentou de 32% para 47%.

Apesar dessas dificuldades, a exportação de manufaturados recuou menos que a de produtos básicos, de US$ 84,16 bilhões em 2011 para US$ 83,76 bilhões em 2011, no período até a segunda semana de dezembro. As vendas ao mercado americano explicam boa parte desse resultado. No entanto, o setor carrega enorme déficit no comércio internacional. Chegou a uns US$ 90bilhões no ano passado e deve passar disso neste ano. A promessa do governo de promover a redução de custos cria alguma esperança para 2013 e os próximos anos. Falta ver se haverá alguma eficiência no cumprimento da promessa.

Desejos para 2013 - MARCELO MITERHOF

FOLHA DE SP - 20/12


Que a indústria vire prioridade, o casamento gay seja legalizado e um defensor público vá ao STF


Aproveito a última coluna do ano para fazer três pedidos para o país em 2013: um na economia, outro sobre direitos civis e o terceiro na política.

Começando pela economia, desejo que a indústria de transformação vire prioridade nacional. Sem ela, o Brasil terá dificuldade de sustentar um crescimento para atingir renda per capita de país desenvolvido.

Em 2012, o país avançou sobremaneira com a queda dos juros, que convergem mais rapidamente para o padrão global. A desvalorização do real acompanhou a queda dos juros. Juntos, tais processos deverão dar frutos mais evidentes em 2013, melhorando a competitividade da indústria. Assim, a novidade é a possibilidade de alinhar a política macroeconômica aos objetivos da política industrial.

Nesse sentido, o governo também tem mostrado disposição para reduzir o custo de produzir localmente, com as medidas de desoneração da folha salarial e com sua decisão de reduzir o preço da luz em até 20%.

Contudo, é preciso mais do que isso. A queda dos juros abre a possibilidade de relaxar a política fiscal para impulsionar a demanda interna, de forma a fazer com que as empresas tenham estímulo a aumentar a taxa de investimento e, assim, melhorar a produtividade da indústria brasileira.

O segundo pedido é que o Brasil legalize o casamento gay. No sábado passado, pela primeira vez fui a uma cerimônia de união civil estável entre pessoas do mesmo sexo. Como ressaltou a escrivã, essa foi uma medida para garantir um direito humano básico, que é o de ter amparo legal para as relações afetivas.

Em 2012, o STF reconheceu a união homoafetiva. No entanto, a união civil estável é um processo que exige tempo para garantir todos os seus direitos. Por exemplo, para a inclusão de um(a) companheiro(a) como dependente na assistência médica de empresas, costuma-se exigir a comprovação de um período de coabitação, algo como dois anos, mesmo que a relação exista há muito tempo e tenha sido formalizada em cartório. O casamento é um ato, cujos efeitos são imediatos, bastando mostrar sua certidão.

O documentário "Mulheres, uma Outra História", de Eunice Gutman, mostra o depoimento da líder feminista Carmen Portinho destacando que o voto de mulheres foi instituído relativamente cedo no Brasil, em 1932/34, porque Getúlio Vargas era a favor dele. Se dependesse do Congresso, não seria aprovado. A democracia brasileira tem avançado a passos largos e não precisa contar com subterfúgios como a vontade de um ditador ou apenas com decisões legais do STF para garantir direitos às minorias. O Congresso precisa aprovar o casamento gay.

Por fim, um desejo na política: que um defensor público seja indicado para juiz do STF. A diversidade entre seus membros é um requisito fundamental para que as decisões do principal tribunal do país sejam equilibradas e representativas, ou seja, justas. Nos últimos anos, o Brasil tem avançado no que se refere à raça e ao gênero.

Um defensor público no Supremo ajudaria a dar peso para as teses "garantistas" (dos direitos individuais), que às vezes são tratadas como se fossem privilégios de ricos e poderosos. Defensores têm como principais clientes "pretos, pobres e putas", como os próprios às vezes definem seu trabalho. Será bom que o ponto de vista desses cidadãos esteja representado no STF.

Seria também um jeito de fortalecer as defensorias públicas como instituição. No Brasil, defensores em geral ganham significativamente menos que os promotores de Justiça. Além disso, os Ministérios Públicos têm o status constitucional de instituição independente, enquanto há Estados, como Santa Catarina, que nem sequer mantêm uma defensoria, preferindo estabelecer convênio com a OAB local. Quer dizer, as promotorias costumam ser mais bem preparadas, o que é ruim para quem depende de um advogado pago pelo Estado para se defender.

O ano de 2013 para mim vai começar com a chegada de minha primeira filha, a quem dedico esta coluna, que nada mais é do que um pequeno recorte das muitas aspirações que carrego para que ela cresça e viva num país ainda melhor. Se esses desejos não forem atendidos em 2013, espero que possamos realizá-los até que ela possa ler este texto.

Feliz natal a todos e um ótimo 2013! Volto em janeiro.

CHEIAS DE ARTE - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 20/12

Mais uma megaexposição chega ao Brasil: "ELLES@ - Mulheres Artistas na Coleção do Centro Georges Pompidou", de Paris, reunirá 125 obras produzidas só por mulheres entre 1909 e 2007. Entrará em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, em abril.

CHEIAS DE ARTE 2
A mostra terá trabalhos de Louise Bourgeois, Frida Kahlo, Valérie Belin e Suzanne Valadon, além das brasileiras Lygia Clark e Lygia Pape. O orçamento aprovado pelo Ministério da Cultura, dentro da Lei Rouanet, é um dos mais altos para uma mostra de arte dessa proporção: R$ 11,2 milhões. O projeto também prevê uma passagem pelo CCBB de Brasília.

FÉRIAS
Dilma Rousseff é convidada de honra -mas não virá à posse de Fernando Haddad na prefeitura, no dia 1º. Já Lula confirmou presença.

ELE MANDA
Dilma estará na Bahia celebrando o novo ano com a filha, Paula, e o neto, Gabriel, 2. "Aí ninguém concorre", afirma interlocutor da presidente.

RSVP
A equipe de Haddad já fez uma lista de 1.200 convidados para a posse. Como ele ainda não tem equipe de cerimonial, quem está acompanhando tudo, até aprovando o texto dos convites, é a primeira-dama, Ana Estela.

TUDO EM REDE
O Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) inicia em 2013 um acordo de cooperação técnica com a Associação Brasileira de Franchising. A entidade pretende ampliar o espaço das franquias entre os pequenos negócios, hoje comuns em empresas de porte médio. Segundo Luiz Barretto, presidente do Sebrae, o setor é um dos menos arriscados para novos empreendedores. "A taxa de 'mortalidade' na área de franquias é de apenas 5%", diz.

IMPORTADA
A trilha do longa brasileiro "Tainá - A Origem", que estreia em fevereiro, foi gravada por 52 músicos da Orquestra de Praga.

DE UMA VEZ
Réus do núcleo financeiro do mensalão estudavam ontem se oferecer para já começar a cumprir suas penas de prisão. Seria um fim na aflição da espera de uma deliberação do STF (Supremo Tribunal Federal). Como a corte entrou em recesso, a decisão será do presidente Joaquim Barbosa. Ele pode tanto determinar a prisão nos próximos dias quanto aguardar o fim do julgamento dos recursos que serão apresentados pelos advogados para tentar amenizar algumas punições, em meados de 2013.

CONTORNO
A maioria dos ministros do STF é contrária à prisão imediata. E pelo menos quatro revelaram a interlocutores estranhamento com o fato de Roberto Gurgel, procurador-geral da República, ter preferido esperar que saíssem de férias para apresentar o pedido de prisão.

MÃOS DADAS
Caso Barbosa determine a prisão imediata, os advogados poderiam apresentar habeas corpus que seria julgado pelo relator, Ricardo Lewandowski, vice-presidente do STF. Se isso ocorrer, no entanto, ele deve aguardar a volta das férias do Supremo para levar a questão ao plenário da corte.

NA AMÉRICA
O cineasta Walter Salles está nos Estados Unidos participando de uma série de debates sobre seu longa "Na Estrada", que estreia naquele país amanhã. Ele passará por Los Angeles, Seattle e Nova York.

ARTEIROS

O livro "AtraQue", sobre a obra de Rodolpho Parigi, foi lançado anteontem na galeria Nara Roesler. A cantora Luisa Lovefoxxx, a empresária Chris Bicalho, o guitarrista Gustavo Riviera, o florista Vic Meirelles, a joalheira Francisca Botelho, o galerista Daniel Roesler e a estilista Natália Marques estavam lá.

OBRA ABERTA

O livro "Planos de Fuga - Uma Exposição em Obras", com fotos do artista Mauro Restiffe, foi lançado anteontem no Centro Cultural Banco do Brasil. O curador Rodrigo Moura circulou pelo centro cultural.

CURTO-CIRCUITO

A Orquestra Jovem do Estado encerra o ano com concerto na Sala São Paulo, às 21h. O pianista Arnaldo Cohen participa.

O Trio Ternura, com Thiago Martins, faz show hoje no Royal Club. 18 anos.

A Casa 92 promove sua festa do fim do mundo. 18.

A Secretaria das Subprefeituras de SP inaugura hoje, às 14h30, galeria de fotos de titulares da pasta.

O hospital Dr. Moysés Deutsch - M'Boi Mirim ganhou selo de "acreditado pleno" da Organização Nacional de Acreditação.

Flávio Rocha, da Riachuelo, é o novo presidente do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo).

Sofrida, a vida - SONIA RACY


O ESTADÃO - 20/12


Depois da conferência via web com os trabalhadores da Petrobrás, em que anunciou corte de R$ 8,025 bilhões por ano até 2015–conforme antecipado ontem no Broadcast pela coluna –, Graça Foster conversou com um grupo mais próximo.
Segundo fonte da estatal, a presidente teria se lamentado: “Não podemos perder o investment grade”.

Fora... dos autos
Pessoas próximas a Ricardo Lewandowski garantem: embora seja revisor da ação do mensalão, ele não recebeu cópia do bombástico depoimento de Marcos Valério ao MP.

Nem do ofício em que o pivô do escândalo pediu proteção ao STF em troca de informações.

Timing
Embora o PSD já tenha optado por apoiar a reeleição de Dilma, a direção do partido só oficializará a decisão em abril.
Antes, quer realizar consultas nos diretórios estaduais.

No approach
Delegados da Polícia Federal e juíze s federais têm uma queixa em comum neste fim de ano: não conseguem ser atendidos por José Eduardo Cardozo de jeito nenhum.

Indagou um gaiato: seria reflexo das recentes operações envolvendo petistas?

A conferir
Dois nomes têm sido mencionados nos corredores da AGU para o comando do órgão caso Luís Inácio Adams saia do cargo na minirreforma ministerial de fevereiro.

São eles Eliana Calmon (excorregedora nacional de Justiça) e Jorge Hage (ministro-chefe da CGU).

Quanta...
Relatório da Abin sobre as falhas do sistema de energia elétrica diz que, em média, cada casa brasileira fica até 10 horas por ano sem luz.

...diferença!
Em países desenvolvidos, é considerada normal a falta de energia por apenas alguns... minutos ao ano.

Marido e mulher
E o último casamento no Mosteiro de São Bento – antes da derradeira etapa da ampla reforma iniciada no ano passado – acontece sábado.

Serão recuperados, agora, o teto e os três vitrais da nave. As obras devem terminar somente no fim de 2014.

Vandalismo
Banca de jornal na Rua Oscar Freire, nos Jardins, foi incendiada na madrugada de domingo. Localizada em frente ao tradicional restaurante Frevo, teria sido alvo de torcedores do Palmeiras. Que recentemente, também picharam a parede da casa – cujo dono é o vice-presidente do clube, Roberto Frizzo. Com a frase “A culpa é do presidente. Feliz Natal”.

Curiosidade: Arnaldo Tirone, presidente do Verdão, é dono do restaurante Yellow Giraffe –quase uma réplica do Frevo.
Ser ou não ser?

Nem o título mundial adoçou a boca da oposição no Corinthians. À coluna, conselheiros detonaram a administração de Mario Gobbi por só pensar em contratar estrelas para o time (como Pato e Dedé).

“Tem muito empresário no clube”, comentou um deles.

Nação
E os corintianos “causaram” em voo Munique-SP, anteontem. Tanto que os comissários tiveram de pedir aos torcedores que parassem de batucar nos tambores.

Sobrou até para uma aeromoça, que ganhou apelido de... “Dilma”.

De joelhos - VALDO CRUZ

FOLHA DE SP - 20/12


BRASÍLIA - Diz o dito popular que, ajoelhou, tem de rezar. Pois bem, posto de joelhos pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o Congresso até que tentou ir até o fim e votar, no rodo, nada menos do que 3.060 vetos presidenciais esquecidos nas gavetas, alguns desde 2000.

Manobra articulada para escapar do castigo imposto pelo Supremo, que obrigou o Legislativo a desistir de votar, em separado, o veto da presidente Dilma sobre a distribuição de royalties do petróleo.

É bom lembrar que partiu do próprio Congresso, em recurso encaminhado ao STF, a definição de que o Legislativo ficou de "joelhos frente a outro Poder" após ser impedido de adotar a operação fura-fila -tentativa de deixar para trás 3.059 vetos.

Se ficou genuflexo, foi por conta e obra própria. Não por culpa do Supremo, que apenas lembrou ao Congresso sua obrigação de seguir seu regimento. Lá está escrito que vetos devem ser apreciados por ordem cronológica, em 30 dias.

Vetos que se acumulam por causa da ineficiência do Legislativo e de interesses do outro Poder, o Executivo, que muitas vezes prefere vê-los engavetados a correr o risco de serem derrubados.

Sem falar que a cúpula do Congresso adora ter na gaveta um veto complicado, com grandes chances de cair, para usá-lo como arma na busca de benesses federais.

No caso em questão, o veto gera uma guerra entre Estados produtores e não produtores de petróleo na divisão dos royalties. Estes últimos, maioria no Congresso, serão os beneficiados se ele cair. Resultado: a sessão de ontem virou uma batalha regimental e não vingou.

Foi uma confusão só. Congressistas com cédulas de votação de 463 páginas, com mais de 3.000 vetos, a serem preenchidas manualmente. Tudo preparado para ser feito de afogadilho, numa tentativa de fazer num dia algo que deveria ter sido feito ao longo de 12 anos. Nem com reza brava. Sem palavras.

Niemeyer, a arquitetura da destruição - DEMÉTRIO MAGNOLI

O GLOBO - 20/12


‘Nunca escondi minha posição de comunista. Os governantes compreensivos, que me convocam como arquiteto, sabem da minha posição ideológica. Pensam que sou um equivocado e eu deles penso a mesma coisa’, escreveu Niemeyer



Num documentário dos anos 1920, pode-se ver Le Corbusier esfregando um lápis preto grosso sobre uma vasta área do mapa do centro de Paris, “com o entusiasmo do Bombardeiro Harris planejando a aniquilação de uma cidade alemã na Segunda Guerra Mundial”, escreveu Theodore Dalrymple em um saboroso artigo no “City Journal”. O célebre arquiteto esquematizava a fantasia totalitária do Plano Voisin, uma coleção geométrica de 18 torres de escritórios cruciformes de sessenta andares, completadas por conjuntos habitacionais delimitando superquadras. Você pode gostar do Palácio Capanema (eu gosto), da Catedral de Brasília (adoro), do Itamaraty (é lindo), da sede do PCF (não gosto) e até do Memorial da América Latina (detesto) ou do MAC de Niterói (acho ridículo), mas não tem o direito intelectual de separar a obra de Oscar Niemeyer de suas raízes doutrinárias. Niemeyer inscreve-se na matriz de Le Corbusier, o fundador de uma arquitetura da destruição que, consagrada à estética do poder, odeia a história, o espaço público e as pessoas comuns.

Certamente Niemeyer não é um simples epígono de Le Corbusier, com suas “grandes caixas sobre varetas” (Frank Lloyd Wright), uma “marca registrada vulgar da forma moderna” (Lewis Mumford). O brasileiro foi um inventor: seu traço curvou sinuosamente o concreto, tropicalizando a arquitetura moderna. Contudo, suas estratégias compositivas e seu repertório fechado de formas não derivam de supostas inspirações renascentistas ou barrocas, mas dos princípios neoclássicos, que são os de Le Corbusier. Para além disso, Niemeyer compartilhou com seu mestre a crença fundamental na “missão civilizatória” do Estado — isto é, no privilégio estatal de mobilizar ilimitadamente a terra urbana para esculpir a cidade (e a sociedade) segundo os ideais da elite dirigente. Os dois arquitetos solicitam o patrocínio de tiranos — ou melhor, de tiranos com uma Visão.

Na imprensa brasileira, a morte de Niemeyer foi acompanhada por dois tipos predominantes de avaliações. De um lado, afirmou-se que sua obra é genial pois reflete seu “pensamento humanista” — uma opinião abominável, mas coerente. De outro, afirmou-se que sua obra, genial, deve ser separada de suas deploráveis convicções políticas — um diagnóstico incoerente e inconsequente. A arquitetura de Niemeyer, como a de Le Corbusier, não é apenas uma derivação de suas inclinações ideológicas, mas também uma plataforma para sua desejada aliança entre os arquitetos e o poder político. Le Corbusier serviu tanto a Stalin quanto ao regime colaboracionista de Vichy. “A França precisa de um Pai”, clamou o arquiteto pouco antes da publicação de “A Cidade Radiosa”, em cujo frontispício lia-se: “Este livro é dedicado à Autoridade”. Eis a chave para decifrar as suas obras — e as de Niemeyer.

A Piazza della Signoria, que não tem nenhuma árvore, é uma maravilha do espírito humano. Não é preciso reproduzir a crítica romântica, que condena o “concreto” e exige o “verde”, nem é necessário aderir aos princípios da arquitetura orgânica para repudiar o monumentalismo brutal dos sacerdotes do Templo Moderno. “O plano deve governar. A rua deve desaparecer”, escreveu Le Corbusier em 1924, indicando o rumo que seria adotado por Niemeyer. O impulso destrutivo está contido em cada uma das intervenções arquitetônicas de ambos, inclusive nas mais belas.

Uma edificação de Niemeyer jamais se relaciona significativa ou funcionalmente ao entorno construído, que ele despreza, pois não emergiu de seu traço. Os espaços residuais entre volumes projetados pelo arquiteto nunca adquirem identidade e servem somente para a contemplação de seus monumentos à Autoridade. Quanto maior é a escala do projeto, mais evidente se torna a “modernidade anacrônica” de Niemeyer. “O papel ordenador do espaço aberto, com suas ruas, praças, pontos de encontro e mercados” dilui-se, em Brasília, “num espaço sem limites e sem outra função que a de emoldurar edifícios isolados e esculturais” (J. C. Durand & E. Salvatori).

A estética de Niemeyer é uma declaração política. Em Brasília, como registrou James Holston, o contraste tipológico entre os edifícios públicos, “objetos excepcionais, figurais, de cunho monumental” e os edifícios residenciais, “objetos seriais, repetidos, que são cotidianos”, representa a utopia regressiva almejada pelo arquiteto. Tinha razão Alberto Moravia quando escreveu para um jornal italiano que a capital recém-inaugurada fazia as pessoas se sentirem “como os minúsculos habitantes de Lilliput” e procurarem “no céu vazio a forma ameaçadora de um novo Gulliver”.

“Nunca escondi minha posição de comunista. Os governantes compreensivos, que me convocam como arquiteto, sabem da minha posição ideológica. Pensam que sou um equivocado e eu deles penso a mesma coisa”, escreveu Niemeyer, num exercício de cínico ilusionismo. Você sabe qual é a espessura média de concreto por metro quadrado no Memorial da América Latina? Nenhum “governante compreensivo” se equivoca ao convocar o “arquiteto comunista” cujos projetos oferecem as melhores oportunidades no jogo do superfaturamento de obras públicas.

Vivemos em tempos de ressurgimento de um verde-amarelismo satisfeito, balofo e triunfalista. Felipão, Lula, Eike Batista, José Sarney cristalizaram-se como patrimônios da nacionalidade. Na hora da morte de Niemeyer, uma gosma indiferenciada de bajulação asfixiou o debate público e as páginas dos jornais se fecharam à diversificada crítica à arquitetura totalitária formulada por urbanistas, arquitetos, sociólogos, antropólogos e filósofos.

A discussão, tão necessária, sobre a cidade e a história, o Estado e a sociedade, a forma moderna e a vida urbana foi interditada pelo coro ruidoso das sentenças ornamentais do senso comum. “Brasil, ame-o ou deixe-o”: quanto demorará para alguma estatal restaurar o slogan de Emílio Médici?

Negócios internos - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 20/12


O antropólogo Roberto Da Matta faz uma indagação precisa no fecho de seu ar­tigo ontem no Estado: É o jornai que forma a quadrilha ou é a quadrilha que faz a notícia do jornal?

Desde Roberto Jefferson e seu re­vide que virou processo e resultou em condenações, todas as agruras vividas pelo governo foram produ­zidas no departamento de negócios internos e em si já desmoralizam o velho truque de culpar o mensagei­ro pelo desagradável conteúdo da mensagem.

Desnecessário repetir a lista longa e sobejamente conhecida de exem­plos. À imprensa como culpada por tudo que de ruim envolve o nome do PT e adjacências, juntou-se agora o Supre­mo Tribunal Federal a compor o que genericamente é denominado de "eli­tes" movidas pelo ódio.

Ontem Lula se pronunciou mais lon­gamente na posse do novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC desde os últimos acontecimentos envol­vendo o nome dele.

Como sempre, não tocou no essen­cial, preferindo atacar um sujeito ocul­to desta vez chamado de "Vagabundo", e anunciar que volta com força total à política em 2013.

Refugiou-se no palanque, sua zona de conforto. O "Vagabundo" supõe-se que seja Marcos Valério, que não é jornalis­ta nem ministro do Supremo, mas facili- tador dos empréstimos fraudulentos ao PT e guia da antiga cúpula do partido pelas veredas da corrupção na adminis­tração federal.

A outra personagem "da hora", Ro-semary Noronha, não foi posta na che­fia da representação da Presidência da República; por iniciativa de algum chefe de redação ou magistrado mal intencionado,

Foi de Lula a indicação e a responsabi­lidade sobre a manutenção da moça hoje indiciada por corrupção, tráfico de in­fluência, peculato e formação de quadri­lha. Dessa e de outras que fizeram notí­cia e por isso foram parar nos jornais.

Aos veículos de comunicação se atri­bui culpa por fazer jus à função de comu­nicar os acontecimentos. Ao STF impu­tam-se acusações de arbitrariedade por cumprir seu papel de árbitro maior dalei.

Tudo dentro dos conformes, mas o PT se revolta e agora propõe duas refor­mas: uma que enquadre a imprensa à concepção propagandística que partido e governo têm do jornalismo- já explicitada na proposta da criação do tal de "controle social da mídia" - e outra que "pegue" o Judiciário tido como "conservador" - sugestão ainda não detalhada por seus autores.

Nenhuma das duas propostas tem chance de prosperar, por contrárias à ordem democrática. Resta, então, uma única e definitiva saída para que se ame­nizem as críticas: a redução substancial na produção de escândalos.

Se no lugar de reclamar do alheio o PT, Lula, governo e companhia juntas­sem esforços numa chamada geral em prol da legalidade e da boa conduta, as "elites" não teriam matéria-prima. E ainda cairiam no ridículo se caçassem fantasmas ao meio-dia como fazem o PT, Lula governo e companhia,

Coisa feita. Advogados dos conde­nados não têm apenas como certo que o presidente do Supremo, Joa­quim Barbosa, decretará a prisão ime­diata de seus clientes no período de recesso da Corte.

Suspeitam fortemente de que já esteja tudo combinado entre Barbo­sa e o procurador-geral, Roberto Gurgel, porque ele não apresentou o pedido ao plenário alegando a ne­cessidade de fundamentar melhor a solicitação.

De fábrica. Há algo de errado quan­do o Palácio do Planalto decide quem será o líder do PMDB na Câmara dos Deputados.

Há algo de mais errado ainda quando o presidente e o líder do partido, Michel Temer e Henrique Eduardo Alves, aceitam de bom gra­do a ingerência.

Se o governo interfere porque o preferido da bancada não é flor que se cheire, o defeito de origem é do partido.

Ações de marginal - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 20/12


Fraude da apreciação dos 3.059 vetos é o escancaramento, pelo próprio Congresso, de sua marginalidade constitucional


O CONGRESSO está em situação inconstitucional há mais de dez anos e, com isso, fora do Estado de Direito.

O golpe legislativo planejado entre suas lideranças, para votar por meio fraudulento 3.059 vetos presidenciais, não é causa, é apenas efeito e confirmação da proposital marginalidade do Congresso em relação à Constituição.

Foi o Congresso mesmo que, em 2001, desgastado pelas gritantes trapaças com vetos e medidas provisórias, durante o governo Fernando Henrique aprovou a inovação constitucional de 30 dias de prazo para apreciar os vetos presidenciais em parte ou no todo de projetos aprovados pelo Legislativo. O não cumprimento do prazo exige a paralisação automática da pauta de votações.

Desde que se negou a apreciar vetos e ao consequente "trancamento da pauta" -há vetos com 12 anos de espera-, o Congresso optou pela inconstitucionalidade.

Tornada o seu estado permanente, com a continuada deliberação de relegar os vetos até este imoral acúmulo de 3.059. Os vetos sem decisão legislativa incluem inúmeros casos que se traduzem como traições congressistas a ansiedades da população e necessidades da vida nacional.

A fraude da apreciação conjunta dos três milhares de vetos pendentes é o escancaramento, pelo próprio Congresso, de sua marginalidade constitucional. Já à primeira vista, por tratar como normalidade do Poder Legislativo a recusa sistemática e cumulativa de cumprir o preceito constitucional relativo aos vetos.

Também por propor-se a uma represália ao reconhecimento pelo ministro Luiz Fux, do Supremo, de que o artigo 66 da Constituição induz a apreciação de vetos presidenciais em sua ordem cronológica, não permitindo que os vetos de Dilma Rousseff, no caso dos royalties do petróleo, passassem à frente dos milhares estagnados. Por fim, obra ainda da marginalidade, o golpe legislativo como solução.

A fraude da votação conjunta dos 3.059 vetos pendentes mostrou-se já no catálogo que os juntou, a título de cédula, para marcações com "x" por cada congressista em aprovação, recusa ou abstenção. Quem teria tempo de examinar cada uma das 463 páginas impressas desse catálogo de vetos, refletir sobre assuntos muitos deles inertes há anos, e registrar suas 3.059 opções? Tudo em menos de um dia.

Além disso, as normas regimentais do Congresso exigem que a votação dos vetos a cada projeto seja precedida de um parecer próprio, elaborado por comissão específica. Logo, indispensável a votação em separado. Mas, tratando-se esta de mais uma norma a ser descumprida, o deputado Paulo Cesar Lima, piauiense da patota de Gilberto Kassab, recebeu a incumbência de dar a cara para o papel de relator dos 3.059 vetos de uma só vez, considerando todos aprovados com exceção, apenas, do que manteve os royalties do petróleo em conformidade com os contratos vigentes. Mais uma contribuição do PSD de Kassab à degradação política.

Cada catálogo é, inteiro, o voto a ser posto em um dos caixotes feitos para passar por urna. Mas qual era a garantia de não haver trocas por catálogos impressos a mais, para tramoias? Nenhuma. Congressistas informavam que outros estavam recebendo catálogos já marcados, segundo determinados interesses, para trocar pelo seu. Indicação de que havia catálogos em excesso para possíveis trocas entre a votação e o final da apuração.

Apuração? Isso exigiria a verificação de 1.817.040 quadrinhos de "xis", considerando-se as opções (ainda que em branco) dos 594 congressistas multiplicados por 3.059 vetos. Mais uma colaboração da fraude para o golpe legislativo.

Não por acaso, o motivo da combinação de golpe e fraude, no Congresso que renegou sua legitimidade e portanto o Estado de Direito, é dinheiro.

PRESENTES

Os preços, em geral, de possíveis presentes estão assaltantemente aumentados. Livros resolvem, e fazem bem. Por exemplo, "Primeiras Leituras", do talentosíssimo Paulo Mendes Campos, aí como o cronista que tanto ombreou com Rubem Braga. Ou "O Velho Graça", de Denis Moraes, precursor da moderna biografia brasileira, outra vez brilhante, com Graciliano Ramos.

Ou, claro, "Marighella" de Mario Magalhães, o melhor jornalismo -em todos os sentidos, desde a precisão minuciosa à inteligência expositiva- a serviço da história e suas verdades.