segunda-feira, setembro 12, 2011

O maior roubo de joias do Brasil - Revista Veja


O maior roubo de joias do Brasil
REVISTA VEJA

Bandidos entram no setor de cofres particulares de uma agência do Itaú na Avenida Paulista e levam um tesouro em pedras preciosas, ouro e relógios avaliado em 100 milhões de reais, no mínimo.

Com reportagem de Adriana Dias Lopes, André Eler, Giuliana Bergamo, João Batista Jr, Kalleo Coura e Laura Diniz

Diamantes do tamanho de bolas de gude, esmeraldas raras, lingotes de ouro puro, colares cravejados de dezenas de rubis, coleções de relógios que custam mais do que um apartamento de luxo, maços de notas de 500 euros. Essa é uma pequena fração do inventário de perdas do maior roubo a cofres particulares já feito no Brasil. O crime ocorreu há duas semanas, no coração de São Paulo, mas o caso passou dias na penumbra. Só na semana passada seus contornos começaram a vir à luz. A cada novo detalhe revelado, a trama torna-se mais surpreendente. O centro da ação foi o subsolo de uma agência do ltaú localizada na Avenida Paulista, na esquina com a Rua Frei Caneca. Lá, o banco mantém uma caixa-forte com 2 500 cofres alugados a seus clientes vips. Para chegar até eles, é preciso passar por guardas e por duas portas: uma gradeada e outra de aço. O aparato de proteção conta com áreas vigiadas por câmeras e sensores de movimento. Trata-se, portanto, de um local de altíssima segurança. No entanto, às 23h50 de 27 de agosto, um sábado, doze homens uniformizados com jaleco cinza-claro invadiram o local sem disparar um só tiro. Arrombaram 138 cofres, pertencentes a 120 clientes. Dez horas depois, na manhã de domingo, partiram com uma fortuna avaliada, por baixo, em 100 milhões de reais. Nenhum alarme soou.

Os bandidos entraram na agência graças a um disfarce: dois deles chegaram ao edifício em um furgão. Foram para a garagem. Desceram a rampa que dá para o estacionamento e encontraram o vigia noturno. Vestidos com os jalecos, informaram que faziam parte de uma equipe de manutenção que trocaria alguns móveis da agência. O vigia não desconfiou, pois a agência passava mesmo por um período de reformas e havia recebido um aviso sobre obras que seriam feiras naquela madrugada. Com a passagem liberada, os homens tomaram elevadores até o térreo. Na área principal da agência, dominaram o único vigilante armado de plantão. Sob a mira de pistolas, ele foi obrigado a fazer contato com a central de monitoramento e a recitar uma senha de segurança que autoriza o desligamento total dos alarmes. Em seguida, os bandidos fizeram com que o vigilante abrisse as portas que dão para a Avenida Paulista. Mais dez homens entraram, enquanto outros cinco ficaram do lado de fora, para avisar o resto do bando de algum problema. Alguns se dirigiram à garagem e descarregaram o furgão. Várias caixas de papelão foram levadas para o setor de cofres. Nelas, havia inúmeras ferramentas, desde as mais simples, como arco de pua, pé de cabra e mrreta, até equipamentos modernos, como uma furadeira magnética, capaz de varar aço, uma serra sabre elétrica e um martelo eletropneumático, utilizado para demolir paredes. Com esse arsenal, foi fácil alcançar o tesouro dos cofres. O vigia da noite e seu colega do turno da manhã, também rendido ao chegar ao trabalho, às 6h45 do domingo, só puderam dar o alarme depois que a quadrilha havia sumido.

Quando a notícia chegou à direção do Itaú, um gabinete de crise foi montado. Para a imagem de um banco, o roubo milionário de dezenas de cofres tem o mesmo impacto de uma queda de avião para uma companhia aérea. Um grupo de quarenta gerentes recebeu ordens para deixar de lado suas atribuições habituais e dedicar-se a avisar pessoalmente os clientes de que seus cofres haviam sido roubados. É uma tarefa delicada. Bancos garantem a seus clientes todos os valores depositados em contas-correntes ou aplicados em fundos . Roubos pela internet e em caixas eletrônicos também são ressarcidos. Em relação a cofres, a história é outra. É um sistema ultrapassado, em processo de extinção, em que nenhum cliente é obrigado a declarar o conteúdo do que é guardado. Por contrato, o Itaú garante o ressarcimento de 15 000 reais por cofre. Quem mantém valores maiores pode adquirir uma apólice de seguro. Até 200 000 reais, é possível fazer um seguro com o próprio Itaú. Se o valor superar esse montante, deve-se buscar outra seguradora. A maioria dos clientes, no entanto, não se preocupa com isso.

Uma das vítimas que não tinham seguro é Therezinha Maluf Chamma, de 82 anos, irmã do ex-governador e atual deputado federal Paulo Maluf. Havia mais de trinta anos, ela alugava um cofre no Itaú onde guardava duas caixas: uma com suas joias e outra com as de suas duas filhas, Maria Tereza e Nelly. Tudo foi levado. "Perdi bens que ganhei do meu bisavô, avô, mãe, marido. Jamais conseguirei comprar peças comparáveis, elas nem são mais produzidas", lamenta. Entre outras preciosidades, Therezinha tinha um colar de brilhantes da joalheria francesa Van Cleef & Arpels e um anel cuja pedra de brilhante era do tamanho de uma cereja graúda. Especula-se que o prejuízo da família supere facilmente 1 milhão de reais.

As irmãs Vera Lúcia Atallah Salem, Maria Cristina Atallah Gabriel e Rose May Atallah também estão inconsoláveis. "Dias antes do roubo, fui viajar e, com medo de que minha casa fosse invadida, levei tudo para o nosso cofre. Deu no que deu", ressente-se Rose May. Nervosa com as perdas, sua irmã Vera Lúcia, que sofre do coração, teve de tomar remédios.

O dono de um conjunto de diamantes e rubis da joalheria americana Tiffany, lapidados na década de 30, que incluía gargantilha, bracelete, brincos, anel e aliança, também precisou ser medicado ao saber que estava alguns milhões de reais menos rico. Duas coleções de relógios Rolex desapareceram. Uma delas, com 110 peças históricas, estava avaliada em
2 milhões de reais. A outra contava com setenta relógios da marca mais cobiçada pelos ricos brasileiros.

Diante da dimensão do roubo, era de esperar que a polícia tivesse iniciado a investigação imediatamente. Não foi o que aconteceu, apesar de o Itaú ter acionado os policiais logo depois de ter recebido a notícia traumática. Após o registro do boletim de ocorrência e as providências de praxe (perícia fotográfica, recolhimento de impressões digitais), o caso estranhamente hibernou. A Delegacia de Repressão a Roubo a Bancos levou uma semana para começar a investigar o assalto, e só interrogou os vigias rendidos na última quinta-feira, onze dias depois da invasão do cofre. Perdeu-se, assim, a oportunidade de intensificar a investigação nas primeiras 48 horas subsequentes ao crime, cruciais na coleta de evidências. "Houve falhas operacionais. Não foi notada a importância da ocorrência", admite o delegado-geral, Marcos Carneiro. Essa é uma visão, no mínimo, otimista. Quem conhece a polícia sabe que, em casos dessa magnitude, os agentes costumam agir com rapidez. Se policiais demoram para tomar providências, é um mau sinal. Há o risco de que eles estejam interessados em chegar aos bandidos de forma "extra oficial", para chantageá-los e ficar com parte do que foi roubado. A polícia de São Paulo tem antecedentes. Alguns de seus integrantes extorquiram os megatraficantes colombianos Juan Carlos Abadía e Ramón Manuel Penagos, conhecido como EI Negro. Também tomaram uma pequena fortuna de bandidos envolvidos em roubos a banco nos últimos anos. É preciso apurar se essa vergonha se repetiu. É o que o secretário de Segurança Pública do estado, Antonio Ferreira Pinto, está fazendo com a presteza habitual.

Como os bandidos tiveram uma semana de dianteira, pode ser que muitas das joias roubadas tenham sido derretidas ou contrabandeadas para fora do país. A missão imediata é encontrar os autores do crime. Essa tarefa será possível graças ao único deslize cometido pelos ladrões: eles destruíram boa parte das câmeras de vídeo do circuito interno de gravação da agência e desligaram outras, mas alguns dos equipamentos passaram despercebidos. Com isso, foi possível obter imagens do rosto dos doze assaltantes que entraram no edifício. Boa parte deles está prestes a ser identificada – suas feições estavam em arquivos da polícia e de empresas de segurança privada porque eles já haviam participado de roubos a banco. Durante a análise das faces, uma hipótese se formou e ganhou peso: é alta a probabilidade de que o núcleo duro da quadrilha que invadiu o Itaú seja o mesmo que planejou e executou, há seis anos, o assalto ao cofre-forte do Banco Central, em Fortaleza, no qual foram roubados 164 milhões de reais, no maior crime desse tipo cometido na história do país – pelo menos, até agora. Isso teria sido possível graças a um dos muitos absurdos brasileiros: dos 125 envolvidos naquele roubo, cinco estão foragidos e 81, incluindo os que ajudaram a lavar o dinheiro, estão em liberdade. O crime do Banco Central de Fortaleza virou filme.

Só nos seis primeiros meses do ano, 239 agências bancárias foram assaltadas, com perda de 31 milhões de reais. Se, de fato, foi a mesma quadrilha que assaltou o Itaú, cabe à policia paulista fazer com que uma eventual sequência cinematográfica termine com os bandidos" na cadeia. Seria um primeiro sinal de reação contra o crime organizado e especializado em atacar bancos.

O despertar das consciências - Revista Veja


O despertar das consciências
REVISTA VEJA

A indignação, que se encontrava em estado de letargia desde o governo Lula, deu sinais de vida – e levou milhares de brasileiros às ruas para protestar contra a corrupção

Daniel Pereira
Na última década, o Brasil testemunhou uma escalada sem igual de escândalos de corrupção. Vampiros, sanguessugas, mensaleiros – entre outras máfias menos afamadas – surrupiaram dos cofres públicos de 41 bilhões a 69 bilhões de reais por ano, segundo estimativa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Sobre esses valores paira a percepção de que o sistema político brasileiro serve mesmo é ao enriquecimento pessoal de autoridades e ao financiamento de máquinas partidárias. Apesar da gravidade do quadro, a sociedade atravessou o período em estado de letargia. Quanto maiores as cifras desviadas, mais tímidas eram as vozes a se levantar contra os malfeitos. Tem sido assim. Uma pasmaceira entrecortada por alguns espasmos de indignação. Na semana passada, de maneira totalmente espontânea, valendo-se das redes sociais como plataforma de organização, milhares de brasileiros reagiram nas ruas. Em diversas capitais, eles, a maioria jovens, fizeram demonstrações paralelas aos desfiles oficiais do Dia da Pátria. Algumas características dessa ira santa dão esperança de que, desta vez, não se trata apenas de um espasmo. Os manifestantes mostraram total autonomia em relação a partidos políticos e,
sem se questionar sobre suas predileções políticas, empunharam a mesma bandeira: "Chega de corrupção!". Nas redes sociais, no dia seguinte, eles avaliaram como razoável a primeira incursão organizada às ruas e já marcaram uma nova manifestação para o próximo dia 12 de outubro.

Brasília, cidade acostumada a assistir pela janela a manifestações artificiais patrocinadas por sindicatos ou por partidos políticos, sediou a demonstração de força mais vistosa: cerca de 12000 pessoas empunharam bandeiras contra a corrupção, protesto que reuniu estudantes, empresários, profissionais liberais, famílias e até funcionários públicos – categoria que costuma testemunhar passivamente os desmandos que se passam dentro dos gabinetes de seus chefes e que quase sempre se cala por conivência ou receio de perseguição. O fato é que, pela primeira vez em muitos anos, a capacidade de indignação parece ter saído de um coma induzido pelos recorrentes exemplos de impunidade e de maus hábitos dos políticos. Nos últimos tempos, a corrupção foi vulgarizada a ponto de parecer uma coisa corriqueira, quase natural, merecedora de um conveniente consenso de que ela também é inevitável e inimputável. As manifestações mostram que tem muita gente que não pensa assim.

Na década de 90, quando brilhava na oposição, o PT comandava grandes mobilizações ao lado de entidades civis e movimentos sociais. O partido protagonizou, por exemplo, ações que minaram politicamente o então presidente Fernando Collor de Mello, apeado do poder ao cabo de um processo de impeachment. Ao subir a rampa do Palácio do Planalto, o PT enrolou a bandeira da ética e, por meio de generosas verbas públicas, empalhou junto com ela os setores outrora aguerridos. Caso da União Nacional dos Estudantes (UNE) e das centrais sindicais, que, obviamente, não participaram das marchas anticorrupção da semana passada. No poder, Lula se mostrou benevolente e complacente com companheiros e auxiliares pilhados em irregularidades. Tornou-se o anestesista-geral da nação. Agora, sem a faixa presidencial, empenha-se numa cruzada para tentar convencer os incautos de que o mensalão não passaria de uma conspiração da oposição, com o apoio de setores da mídia, para satanizar seu próprio governo e companheiros petistas – principalmente aqueles que respondem por formação de quadrilha e corrupção no processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), como o ex-ministro José Dirceu. Lula continua com sua pregação, o PT continua no poder, os movimentos sociais continuam mudos e se empanturrando de dinheiro e denúncias de corrupção continuam pipocando com antes. Tudo, portanto, aparentemente igual, exceto pelas manifestações populares de indignação que começam a se espalhar por todo o país.

Para o cientista político Albeno Carlos Almeida, diretor do Instituto Análise, a troca de comando na Presidência da República foi um dos dínamos das manifestações da semana passada. Desde que assumiu o mandato, Dilma Rousseff demitiu três ministros acusados de irregularidades que vão do enriquecimento ilícito à corrupção. Caíram o petista Antonio Palocci (Casa Civil), o "republicano" Alfredo Nascimento (Transportes) e o peemedebista Wagner Rossi (Agricultura). “O fato de a presidente se comportar assim ajuda muito porque as pessoas começam a notar que alguém importante está sensível à causa do fim da corrupção. As pessoas incorporam a sensação de que
a mobilização pode provocar algum impacto em Brasília", diz Almeida. No pronunciamento oficial de Sete de Setembro, Dilma fez questão de reforçar o compromisso com a moralidade. "Um país que com o malfeito não se acumplicia jamais. E que tem na defesa da moralidade, no combate à corrupção, uma ação permanente e inquebrantável", prometeu.

O discurso presidencial está em linha com os humores da população detectados em pesquisas. Auxiliares de Dilma dizem que, segundo sondagens recentes, o combate à corrupção é um tema em ascensão na agenda do brasileiro – apesar de ainda figurar atrás de saúde, educação segurança pública. Mais importante: o tema começou a sensibilizar a chamada nova classe média, o contingente que deixou a pobreza e a miséria nos últimos anos e agora é perseguido como ouro pelos partidos políticos. "Fica claro que, neste novo momento, a população não dará apoio aos lenientes e àqueles que querem apenas pegar carona no discurso de combate à corrupção", diz um integrante do núcleo duro do governo. Exemplo disso ocorreu na marcha de Brasília. Políticos
e partidos que tentaram se integrar ao movimento foram hostilizados pelos manifestantes. As pesquisas à disposição do Planalto também dão fôlego ao combate à corrupção. Primeiro, por mostrar apoio popular à faxina realizada. Segundo, ao apontar Dilma como a principal depositária da esperança de diferentes segmentos de ver um país livre da roubalheira e da impunidade. "Para a população, não há a percepção de que houve recuo no combate à corrupção. Pelo contrário, avalia-se que a presidente está levando a situação com jeito", conta um auxiliar.

Além do bom exemplo que vem de cima, outros fatores influenciaram as marchas da semana passada. Para o cientista político Paulo Kramer, professor da Universidade de Brasí1ia (UnB), "a bem-vinda reação" decorre do descompasso crescente entre as áreas econômica e social, de um lado, e as instituições políticas, do outro. O Brasil hoje vive com inflação sob controle, respeita contratos firmados, tem peso crescente no comércio internacional e resgata milhões de pessoas da pobreza para a classe média. Nesse campo, faria jus, portanto, ao status de emergente. Já na seara política ainda convive com práticas dignas de nações africanas subdesenvolvidas. Basta olhar para o Congresso, onde ainda reina, por exemplo, o senador José Sarney, e onde pode transitar com tranquilidade o deputado Paulo Maluf, que consta na lista de criminosos procurados pela lnterpol. Se ele sair do Brasil, vai preso. Aqui, elabora leis. "A corda esticou demais. O Brasil já não suporta mais esse sistema político em que a corrupção é endêmica", diz Kramer. Aliás, a ideia da marcha ganhou força exatamente por mais uma demonstração explícita de escárnio dos políticos quando o tema é corrupção.

Uma semana antes do ato em Brasília, 5000 pessoas haviam se mostrado dispostas a passar o feriado protestando. A absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PMN) pelo plenário da Câmara dos Deputados, há duas semanas, estimulou uma onda de adesões. Jaqueline é filha do ex-governador Joaquim Roriz, um populista que, à moda dos velhos coronéis, fez da política um negócio de família. Ela foi processada depois de aparecer em um vídeo embolsando propina. Apesar disso, 265 parlamentares decidiram que não havia motivos para puni-Ia, uma vez que a propina fora recebida antes de ela tomar posse. É um exemplo visível da capacidade de resistência da corrupção e dos corruptos. Há outros menos visíveis, porém muito mais poderosos. Diante da disposição de Dilma Rousseff de limpar áreas historicamente contaminadas, os próprios partidos aliados estrilaram e ameaçaram retaliar o governo em votações no Congresso. PP e PMDB pegaram em lanças a fim de impedir as demissões dos titulares das Cidades e do Turismo, cujas pastas estão há semanas no centro do noticiário devido a uma série de denúncias de irregularidades. Ciente do clima de ebulição entre os parlamentares, a presidente Dilma chegou a anunciar que a faxina ética não era meta do seu governo. Sua prioridade seria o combate à pobreza. A classe política, por incrível que pareça, gostou do que ouviu. Os jovens, não. "Se ficarmos calados, seremos coniventes", diz a brasiliense Lucianna Kalil, vendedora autônoma, de 30 anos, sem filiação partidária, que, com a ajuda da irmã e de um amigo, lançou, pela internet, a ideia da manifestação. A segunda onda de protestos, marcada para o dia 12 de outubro, vai ser decisiva para reafirmar a sensação de que o grito dos jovens no dia 7 de Setembro não foi apenas um espasmo. Torçamos!

Com reportagem de André Eler, Érico Oyama, Gustavo Ribeiro, Helena Borges, Heloísa Brenha, Marina Yamaoka, Paulo Celso Pereira e Renata Betti

EDITORIAL - Correio Braziliense - Falta de competitividade envergonha


Falta de competitividade envergonha
EDITORIAL
Correio Braziliense - 12/09/2011

Dois chavões teimam em acompanhar a história do Brasil: o de que este é um país do futuro e também de contrastes. Pois embora sejamos hoje a sétima maior economia do mundo e tenhamos nos tornado a bola da vez na atração de investimentos, acabamos de ser classificados na vergonhosa 53ª posição num ranking de competitividade que incluiu 142 nações. Outro vexame é não termos uma única universidade entre as 100 melhores do planeta. Isso, apesar de estarmos no top 10 dos mais relevantes na produção de conhecimento científico e de relevância internacional. E de termos chegado praticamente ao pleno emprego, com renda em alta, mercado interno em forte expansão, instituições financeiras sólidas e economia estável.

Passa da hora, pois, de superar os atrasos e relegar ambos os chavões ao passado. Um país com o potencial de crescimento econômico do Brasil não tem por que demorar tanto para chegar ao Primeiro Mundo. A lentidão, contudo, tem explicação: não se fará tal caminhada sem dor. A elite dirigente precisa entender que o avanço implica cortar na própria carne, realizando profunda reforma política, capaz de recuperar a credibilidade da classe. A partir daí será menos complicado melhorar a gestão governamental, o que significa tratar com a devida decência os impostos recolhidos pelo cidadão. Ou seja, qualificar os gastos e os investimentos públicos, sobretudo suprindo as deficiências na educação, na saúde e na infraestrutura.

Mais bem qualificados, espera-se que os políticos não se furtem a coordenar as necessárias e sempre adiadas reformas estruturais. Uma delas, a previdenciária. O sistema não acompanhou o ganho brasileiro com o aumento da expectativa de vida. A formalização do mercado de trabalho (e aqui abre-se parênteses para lembrar a necessidade de reduzir os custos da mão de obra) não tem sido suficiente para assegurar a saúde da Previdência Social. Outra, a tributária. A carga elevada e a complexidade provocada pela grande quantidade de impostos e contribuições são embaraços à competitividade. Mais uma: a desburocratização. A intrigada legislação causa insegurança jurídica e complica tanto a abertura quanto o fechamento de empresas no país.

Falta pensar grande. Por exemplo, incentivar a pesquisa e a inovação; fazer planejamento de longo prazo, assumindo firme compromisso com programas e metas (vejam as obras para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, para citar evidências de atraso recente); dar celeridade à Justiça. O custo Brasil tira a competitividade da produção nacional também pela valorização do câmbio, mas esse até é um problema — embora importante — menor, por ser sazonal. Questões de fundo, históricas, é que não podem seguir se enraizando na cultura nacional, como a precariedade do transporte (as malhas rodoviária e ferroviária são precárias e a hidroviária praticamente inexistente), do armazenamento e dos portos; o alto custo da energia (embora a boa qualificação da matriz do ponto de vista ecológico) e outras carências de infraestrutura.

DAVID KUPFER - Meu nome é Bond


Meu nome é Bond
DAVID KUPFER
Valor Econômico - 12/09/2011

Treasury Bond. Assim como o James, o famoso personagem 007 dos livros e filmes que Ian Fleming concebeu como invencível, os títulos do tesouro americano deram mais uma exibição de força ao se valorizarem em resposta ao seu próprio rebaixamento, no desastrado episódio promovido pela agência de classificação de riscos Standard & Poor"s no início de agosto último. O problema é que essa demonstração de força não necessariamente traz boas notícias para os EUA e muito menos para outros países, que vem sendo obrigados a arcar com os custos cada vez maiores impostos pelo confuso, para não dizer errático, processo de ajustamento que a economia americana vem percorrendo.

Na virada desse segundo semestre de 2011, diversos analistas brasileiros ainda vinham reproduzindo mecanicamente o diagnóstico dominante na mídia internacional de que o epicentro de um possível segundo mergulho da economia mundial estaria na União Europeia, em consequencia do imbróglio fiscal que lá se armou. Para esses, os EUA enfrentavam um cenário que, mesmo longe de benigno, não se mostrava suficientemente sombrio para suscitar maiores preocupações. O problema com esse tipo de diagnóstico não é exatamente a sua pertinência mas o fato dele estar a anos luz do cerne da questão. O mergulho da economia mundial que poderá vir a ocorrer não é simplesmente mais um desdobramento da crise financeira que irrompeu em 2008: é a verdadeira crise mostrando a sua cara, após o estouro de uma onda secundária que estava mascarando os impactos recessivos das profundas transformações já ocorridas na economia mundial. Dados da Unido sobre a participação dos diversos países na geração do valor adicionado industrial ajudam a perceber essas tensões: em 2000, os EUA respondiam por 26,6% e a China por 6,6% do total do valor adicionado gerado pela indústria mundial. Em 2009, os números modificaram-se para 18,9% e 15,6%, respectivamente. Os dois países em conjunto praticamente mantiveram a participação (de 33,2% para 34,5%), evidenciando a extensão com que se deu a transferência de atividade industrial dos EUA para a China. Esse processo evidentemente não tem volta e aí reside a principal das dificuldades com que a economia americana precisa lidar no presente.

Os EUA estão às voltas com um processo de deflação de ativos como o que levou o Japão a anos de estagnação

Esses analistas agora se mostram surpresos com a tendência estagnacionista revelada pela economia americana. A despeito do trilhão e pico de dólares já injetados pelo FED (banco central americano) em sucessivas rodadas da política de afrouxamento monetário (quantitative easing), o fato é que a armadilha da liquidez, tão enfaticamente prevista pelos economistas keynesianos, prevaleceu: os EUA estão às voltas com um processo de deflação de ativos semelhante ao que condenou o Japão a uma década ou mais de estagnação. Os bancos não repassam a liquidez para os agentes econômicos simplesmente porque não há investimentos a realizar. O mercado imobiliário não se recuperou nem dá sinais de que irá fazê-lo tão cedo enquanto o mini-ciclo que havia se instituído no mercado de bens duráveis de consumo (veículos, gadgets eletrônicos) já deu sinais de esgotamento.

Já os investimentos produtivos não saem do papel porque a economia mostra-se pouco capaz de conferir rentabilidade e segurança a essas inversões. As fichas agora estão depositadas no pacote de estímulos fiscais para a geração do emprego, de quase US$ 500 bilhões, apresentado pelo presidente Obama ao Congresso na quinta feira passada.

Para o Brasil, a mais importante consequência desse torneio entre União Europeia e Estados Unidos para se ver quem vai ficar em maior recessão e por mais tempo é a certeza de que o país vai depender mais do que nunca da qualidade da sua política econômica para navegar nos turbulentos anos que vem pela frente.

No caso do controle da inflação, dentro do arsenal de medidas disponíveis, a taxa de juros é sabidamente um instrumento vocacionado para atuar sobre a demanda agregada, quer dizer, tende a ter eficácia quando os índices estão sendo puxados pelos preços de bens e serviços de consumo que se mostrem elásticos em relação à renda ou pelos preços de bens e serviços intermediários cujo ritmo de produção esteja próximo do limite dado pela capacidade instalada existente. Uma inflação de alimentos, que é hoje a principal origem da alta de preços no Brasil, dificilmente pode ser combatida adequadamente pela elevação da taxa de juros. Idem para os preços de insumos que são commodities cotadas em mercados internacionais, outro grupo de produtos que vem contribuindo fortemente para o recente repique inflacionário.

Talvez antes de perguntar se o Banco Central errou ao reduzir os juros em 0,5 ponto percentual na última reunião do Copom, caberia questionar se o erro não foi o de elevar esses juros em 0,25 na reunião de julho. A boa política macroeconômica está assentada na arte de conjugar nível e variação dos parâmetros de controle da economia. É evidente que um olhar exclusivamente focado no comportamento da inflação faz parecer ilógico não aumentar ou, que dirá, diminuir a taxa de juros. Mas quando se abre os olhos e se enxerga mais amplamente o conjunto da economia, brasileira e mundial, parece igualmente ilógico manter o nível da taxa de juros nos valores estratosféricas de 12% atuais.

O maior problema com que a economia brasileira se defronta nesse momento é a rigidez da taxa de investimento. Na medida em que não se consiga retomar o dinamismo pré-crise (de 2008) essa sim poderá contribuir no futuro próximo para tornar crônicas as tensões inflacionárias que hoje ainda podem ser consideradas pontuais ou episódicas. As autoridades econômicas não podem desconsiderar esse dado da realidade.

David Kupfer é professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Indústria e Competitividade (GIC-IE/UFRJ. Escreve mensalmente às segundas-feiras. E-mail: gic@ie.ufrj.br)

GORDON BROWN - Divididos, tombaremos!


Divididos, tombaremos!
GORDON BROWN
Valor Econômico - 12/09/2011

Apolítica atropelou o pensamento econômico sensato nos EUA, neste verão (hemisfério norte), quando o Congresso e o presidente Barack Obama não conseguiram um consenso em torno de impostos, direitos sociais, déficits ou estímulo a investimentos. Os líderes europeus também mostraram-se paralisados - descartando tanto defaults e desvalorizações como déficits e estímulo. E, tendo assumido taxas de juro reais negativas, imprimido dinheiro, injetado liquidez e subsidiado bancos varejistas, os presidentes de bancos centrais em todo parte - mais recentemente, Ben Bernanke, do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) - parecem ter concluído que também atingiram o limite do que podem fazer.

Como resultado, poucas pessoas duvidam, hoje, de que o mundo está à deriva - sem rumo e sem liderança -, rumo a uma segunda recessão. O debate de pré-verão sobre se estamos em uma "nova normalidade" de crescimento mais lento foi resolvido: nada agora parece normal. Empurrar com a barriga não deu certo. Incapaz de concluir um acordo de comércio mundial, um acordo para enfrentar as mudanças climáticas, um pacto de crescimento ou mudanças no regime financeiro, o mundo provavelmente mergulhará em um novo protecionismo na forma de desvalorizações competitivas, guerras cambiais, restrições ao comércio e controle de capitais.

Mas este não é um momento para derrotismo. Os países que alegam ter atingido o limite do que podem fazer querem, na realidade, dizer que atingiram o limite do que podem fazer individualmente. O caminho para futuro crescimento e emprego sustentados não passa por uma enxurrada de iniciativas nacionais pontuais extraordinárias, mas sim por uma coordenação política mundial.

Esse era o objetivo em abril de 2009, quando o G-20 fixou, para si, três tarefas cruciais. A primeira, evitar uma depressão mundial, teve êxito. As outras duas - um pacto de crescimento, sustentado por um sistema financeiro mundial reformulado - deveriam ser, agora, os principais itens na agenda do G-20, quando o grupo se reunir.

Há dez anos o motor econômico americano podia impulsionar a economia mundial e daqui a 10 anos, a partir de hoje, os países de mercados emergentes deverão assumir esse papel, particularmente dado o poder de compra crescente de suas classes médias.

Em 2010, estima o Fundo Monetário Internacional, uma abordagem macroeconômica, comercial e de políticas estruturais coordenadas poderia resultar em um PIB mundial 5,5% maior, criar até 50 milhões de novos empregos e tirar 90 milhões de pessoas da pobreza. Mas um pacto de crescimento mundial parece mais indispensável hoje, em vista dos problemas estruturais da economia mundial e dos enormes desequilíbrios entre a produção e o consumo.

Pode parecer estranho descrever a maior crise financeira desde a década de 1930 como sintoma de um problema maior. Mas, quando os historiadores considerarem retrospectivamente a onda de globalização que se ergueu após 1990 - e trouxe dois bilhões de novos produtores para a economia mundial - encontrarão um ponto de inversão em torno de 2010. Pela primeira vez em 150 anos, o Ocidente (EUA e União Europeia), em comparação com o restante do mundo, registrou menor produção, menores exportações, menos comércio e menores investimentos.

De fato, entre o início e meados da década de 2020, o mercado consumidor asiático terá o dobro do tamanho do mercado americano. Hoje, porém, Ocidente e Ásia continuam mutuamente dependentes. Dois terços das exportações asiáticas ainda desaguam no Ocidente e o comércio sul-sul responde por cerca de 20% do volume de negócios em todo o mundo.

Dito de outra forma, há dez anos o motor econômico americano podia impulsionar a economia mundial e daqui a 10 anos, a partir de hoje, os países emergentes vão assumir esse papel, dado o poder de compra crescente de suas classes médias. Mas, por ora, EUA e Europa não podem expandir seus gastos com consumo sem aumento das exportações, ao passo que a China e os mercados emergentes não podem expandir sua produção ou consumo sem a garantia de saudáveis mercados ocidentais.

Assim, em primeiro lugar, precisamos restaurar a visão ampla de cooperação mundial contida no pacto de crescimento do G-20. Porém uma agenda mais ampla e profunda é necessária: a China deveria aceitar um aumento dos gastos por suas famílias e importações de bens de consumo; a Índia deveria abrir seus mercados para que seus pobres possam beneficiar-se de importações baratas; e a Europa e os EUA deveriam aumentar sua competitividade para aumentar suas exportações.

O G-20 também foi insistente, em 2009, em que a futura estabilidade necessitaria um novo regime financeiro mundial. David Miles, do Banco da Inglaterra (BoE, em inglês), prevê mais três crises financeiras para as duas próximas décadas. E, se Andrew Haldane, do BoE, tem razão em afirmar que as crescentes pressões na Ásia criam um risco de turbulência futura, o Ocidente irá se arrepender de sua incapacidade de consolidar os padrões mundiais de adequação de capital e de liquidez e um sistema mais transparente de alerta antecipado.

O problema já é evidente. Os passivos do setor bancário europeu já são quase cinco vezes maiores do que nos EUA, equivalentes a 345% do PIB. A alavancagem dos bancos alemães é de 32 vezes o montante de seus ativos.

Devemos nos basear nas propostas de Robert Skidelsky envolvendo um banco nacional de investimentos para equipar nossa infraestrutura - bem como nosso ambiente - para enfrentar desafios futuros e estimular o crescimento e a criação de empregos. Um modelo para isso é o Banco Europeu de Investimentos, que, com €50 bilhões de capital, foi capaz de investir €400 bilhões. Mas há, possivelmente, um acordo a ser pactuado com os chineses, sobre o investimento de suas reservas, e com as multinacionais ocidentais, sobre o tratamento tributário para lucros repatriados.

Por fim, como mostrou o economista Michael Spence, laureado com o Prêmio Nobel, crescimento é, agora, uma condição necessária, embora insuficiente, para a geração de emprego. O pacto G-20 em defesa de crescimento deve ser também um pacto pela geração de empregos.

O G-20, que representa 80% da produção mundial, revelou-se útil, em 2009, como o único organismo multilateral capaz de coordenar a política econômica mundial. Infelizmente, seus Estados membros logo abandonaram esse objetivo e partiram para soluções nacionais. Previsivelmente, tentativas de soluções individuais revelaram-se impotentes para assegurar uma recuperação econômica. Novamente, chegou a hora e a vez do G-20. Quanto mais cedo o presidente francês, Nicolas Sarkozy, conclamar o G-20 a atuar em conjunto, melhor será. (Tradução Sergio Blum)

Gordon Brown foi primeiro-ministro do Reino Unido. Copyright: Project Syndicate, 2011.

ANCELMO GOIS - Trabalho mal feito


Trabalho mal feito 
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 12/09/11

Eduardo Paes perdeu apaciência com a noviça empresa de telecomunicações GVT, controlada pela francesa Vivendi: suspende hoje o licenciamento da concessionária para novas intervenções no Rio.
A GVT terá 48 horas para regularizar a área sem licença "sob pena de remoção de seus cabos nos postes da cidade".

É que...

Para Carlos Osório, secretário de Conservação, a empresa tem que corrigir "os problemas gerados por trabalho de má qualidade na recomposição das vias públicas". Este ano, a Prefeitura já emitiu contra a GVT 146 notificações e 119 autos de infração.

Discurso de Dilma

Há certa tensão no Planalto com o discurso de Dilma na ONU, dia 21, em Nova York.

É que, ao contrário de Lula, o histórico dos pronunciamentos importantes da presidenta inclui muita checagem de detalhes e uma aprovação final apenas na última hora.

Abaixe essa arma

Começa hoje a nova etapa da Campanha Nacional do Desarmamento 2011, do Ministério da Justiça. Desde maio, fo-ram recolhidas 22 mil armas, ao custo de R$ 2 milhões.

No mais

É como diz o poema saudosista escrito em plena Segunda Guerra pelo nosso Drummond e lido sábado pelo poeta Robert Pinsky, na Pensilvânia, na homenagem às vítimas do voo 93 que enfrentaram os terroristas de 11 de Setembro: "Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!".

Cuidado redobrado

Todo cuidado é pouco depois que a PF andou desmantelando um esquema de corrupção no setor. O Ministério do Turismo dá posse este mês a 56 concursados. Mas antes o grupo passa por um treinamento na CGU sobre prestação de contas.

Fator Odebrecht

Se para fazer negócios na Líbia pós-Kadafi épreciso pedir abênção aos franceses, novos amiguinhos do governo local, a Odebrecht não deve enfrentar dificuldades.

A empresa, que entre outras obras gigantes, constrói o novo aeroporto de Trípoli, também tem fortes laços na França.

Uma mão lava a...

A Odebrecht ajudou a gigante estatal francesa DCNS a desembarcar no país de Dilma. Juntas, em Itaguaí, no Rio,erguem um estaleiro para construir submarinos com tecnologia francesa. É negócio de uns US$ 7 bilhões.

D. Pedro I em Paris

Autora de "D. PedroI -um herói sem nenhum caráter", da Cia. das Letras, a historiadora Isabel Lustosa aprofundará o capítulo sobre um período pouco conhecido da vida do imperador saliente: os seis meses que viveu em Paris, entre 1831 e 1832.

O MPB na ABL homenageia quarta Assis Valente com show de Marcos Sacramento.

Dia 16, será aberto o I Seminário Envelhecimento Ativo, da Associação Brasileira de Medicina de Grupo.

Saturnino Braga comemora hoje 80 anos, em seminário no Oi Casagrande.

Terence Talbot dá palestra no XVII Forum de Logística no Intercontinental, quarta.

A casa de festas Espaço 45 lança festas temáticas de 18 anos.

Ronaldo Helal coordena a 2ª edição do curso "Brasil pentacampeão e perspectivas para a Copa de 2014", mês que vem, na Uerj.

A Colher de Pau lança Mil Folhas de chocolate com profiteroles de brigadeiro.

Caso Acioli

A Polícia do Rio espera divulgar esta semana os nomes dos algozes da juíza Patrícia Acioli.

Nova York aqui

O Central Park de Nova York é inspiração para o projeto do Parque de Madureira, imensa área de lazer em construção pela Secretaria municipal de Obras na Zona Norte carioca.

A área ganhará um local para convenções semelhante ao centro de visitantes do par-que americano.

Sorvete de iogurte

No lugar da sorveteria Yogo-berry da Visconde de Pirajá, quase esquina da Garcia D'Avila, no Rio, vai ser aberta a primeira loja da Fundição Filomena, uma bijuteria que até hoje só tinha quiosques em shoppings.

Pelo visto, o furacão das lojas de sorvete de iogurte está perdendo força.

Samba na igreja

O projeto Memória do Samba, em homenagem ao mangueirense Nelson Sargento, vai subir os 382 degraus da Igreja da Penha amanhã.

Lá serão gravadas participações de Soraya Ravenle, Luiz Melodia e Beth Carvalho nos CD, DVD e livro de Nelson Sargento que serão lançados este ano.

Tio Patinhas de Piraí

De Dilma para Pezão, o vice-governador que sempre aparece em Brasília com um projeto novo, semana passada:

- Para de me olhar com esses olhos de cifrão. Olho para você e vejo dois cifrões, como nos olhos do Tio Patinhas.

Não é fofo?

PAULO GUEDES - Cavalo de pau


Cavalo de pau
PAULO GUEDES
O GLOBO - 12/09/11
Por que está o Brasil condenado ao mais longo esforço anti-inflacionário da História universal? Por que esta saga nacional de duas ou três décadas, uma luta heroica de um povo por sua moeda, se planos de estabilização bem-sucedidos se consolidam em apenas dois ou três anos? Por que permanecem obscenamente altas as taxas de juros brasileiras?

A resposta é simples: por falta de sólidos fundamentos fiscais. A essência de uma estabilização rápida e com pouco sacrifício da produção e do emprego é a fulminante reversão das expectativas inflacionárias. Um novo regime fiscal, robusto e sustentável, reequilibra a economia a uma taxa real de juros substancialmente mais baixa, facilitando o trabalho do banco central. O desabamento simultâneo das expectativas de inflação e dos juros reais de equilíbrio permite ao BC praticar também juros nominais dramaticamente mais baixos dois ou três anos após o disparo do programa de estabilização.

Nada disso ocorreu no Brasil. O Antigo Regime já afundava em crise inflacionária. E as pressões de uma democracia emergente por maiores gastos sociais exigiam, além da descentralização de recursos fiscais, ajustes na hipertrofiada engrenagem administrativa federal. Em síntese, uma reforma do Estado. Um enfrentamento de interesses e privilégios do Antigo Regime pela Nova República. Coisa que políticos despreparados em matéria econômica e economistas embriagados por assuntos políticos jamais fariam.

O que ocorreu foi uma bem brasileira simbiose entre a social-democracia e o conservadorismo. Disparou a "inclusão orçamentária": não apenas a inclusão social dos mais pobres, mas também a acomodação de novos grupos de interesse nos orçamentos públicos, sem a exclusão de antigos privilégios. Tudo em nome da "governabilidade". Os gastos públicos vão de pouco mais de 20% para quase 40% do PIB desde a redemocratização. Em meio ao descontrole de gastos, torna-se o Banco Central de Gustavo Franco, Armínio Fraga e Henrique Meirelles o verdadeiro herói da saga anti-inflacionária brasileira.

Esse é o pano de fundo para a recente controvérsia sobre o controle de gastos anunciado pelo Ministério da Fazenda e o cavalo de pau que o BC deu nos juros. Se vamos mesmo mudar o rumo em direção a melhores fundamentos fiscais e menor aperto monetário, melhor seria um cavalo de pau nos gastos públicos e alguma prudência na redução dos juros.

ROBERTO ZENTGRAF - Aparências enganam... manifestações também!


Aparências enganam... manifestações também!
ROBERTO ZENTGRAF
O Globo - 12/09/2011

Em épocas de passeatas aqui e manifestações acolá, o sujeito tem que ser muito cuidadoso para não aderir a causas contra seus próprios interesses, ingenuamente ajudando aqueles que, na verdade, estão em campo oposto ao seu. E, mesmo quando o assunto não acirra ânimos a ponto de gerar protestos calorosos, é preciso estar atento para a correta interpretação dos fatos. Claro que aqui em nosso espaço, o foco fica nas finanças pessoais e não na política, ainda que o Movimento Contra a Corrupção (decerto o meu bom e nobre leitor não se opõe a ele!) aproxime os dois conceitos: por exemplo, com verbas que deveriam sustentar hospitais públicos indo parar em bolsos particulares, já se fala na CPMF, o que aumentará a despesa, não é mesmo? Mas voltemos às finanças apenas, e aqui o convido a três reflexões:

(1) Em agosto, a intenção de consumo das famílias brasileiras apresentou alta de 2,5% em relação ao mês de julho, e de 1,9% na comparação com o mesmo período do ano anterior, como revela a pesquisa nacional de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Você tem reagido positivamente a isso, ou seja, tem engrossado a lista dos que estão consumindo mais às custas da própria poupança? Ou ainda acredita que é preciso guardar para o futuro? Lá venho eu de novo, para frustração dos mais gastadores, que tal?

(2) Com o recente cavalo-de-pau dado pelo Banco Central na trajetória da taxa básica de juros - caiu para 12% ao ano -, houve muita comemoração, claro (você ficou feliz?), mesmo que a queda só tenha sido sentida na ponta dos investimentos, pois, para os empréstimos, em alguns casos a taxa chegou mesmo a subir, de acordo com a pesquisa da Fundação Procon-SP, divulgada sexta-feira, 9 (taxa média do cheque especial registrou uma pequena alta em função de um dos bancos pesquisados ter aumentado o percentual de juros). A grande ironia é que, se antes a Selic era maior diante de uma inflação menor, agora o cenário se inverteu, reduzindo a taxa real de juros. Se você é poupador, cuidado ao comemorar: antes poupava-se a 4% ao ano, além da correção pela inflação, e agora não se consegue fazê-lo por mais de 2%, considerando o mesmo nível de risco. Qual é o problema? Para manter o seu projeto de parar de trabalhar honestamente (!) daqui a tantos anos, você precisará aumentar a sua poupança atual, sabia?

(3) Brasileiros e brasileiras ganharam três anos a mais em sua expectativa de vida entre 1999 e 2009, de acordo com pesquisa divulgada pelo IBGE. Que bom, ficaremos mais tempo por aqui! Mas aviso logo: a julgar pelos amigos que tenho encontrado por aí, o acréscimo de vida está vindo acompanhado de qualidade de vida, o que nos coloca diante de novas pressões consumistas. Qual é o impacto? Veja a seguir!

Adiando o início da poupança (o consumo cresceu), vivendo mais, e diante de uma taxa de juros que cai, R$1.000 de complemento mensal de aposentadoria a partir dos 60 anos ficará bem mais caro hoje, pois passará de R$143,02 mensais (início aos 20 anos, vida até os 80 e taxa de 4% ao ano) para R$921,76 (início aos 40 anos, vida até os 90 e taxa de 2% ao ano). E então, já decidiu em qual manifestação você vai?

Um grande abraço e até a próxima!

AQUILES FERRAZ NUNES - O direito de trabalhar


O direito de trabalhar
AQUILES FERRAZ NUNES
O Globo - 12/09/2011

A família é o primeiro espaço de inclusão de pessoas com deficiência. Quando ela se coloca, solidária e positivamente, a favor do indivíduo, as deficiências e limitações quase sempre são superadas naturalmente.

Nos países em desenvolvimento, menos de um por cento das crianças com necessidades especiais está estudando. No Brasil, segundo dados do Censo Demográfico 2000, do IBGE, apenas 7,2% das pessoas com deficiência são alfabetizadas, contra 84,3% dos brasileiros. A taxa de analfabetismo, portanto, é altíssima no grupo que tem algum tipo de limitação física, visual, motora, mental e auditiva. Em 2000, apenas 13,02% das pessoas com deficiência frequentavam creche ou escola, o que correspondia a menos da metade do índice da população em geral, que era de 31,44%.

As principais razões para essa realidade, de acordo com o Censo, são a falta de vagas nos bancos escolares, a precária infraestrutura (física, material e profissional) de estabelecimentos de ensino e a falta de um maior empenho de muitos pais pela escolarização de seus filhos.

Outro dado contundente é do tempo de estudo: enquanto entre os brasileiros apenas 22,87% não possuem nenhuma ou até três anos de instrução, entre pessoas com deficiência esse percentual atinge 48,77%. Ou seja, no país os alunos especiais não conseguem concluir os anos de estudo necessários a uma educação básica, e os que chegam lá têm dificuldades em dar continuidade aos estudos.

Como o tempo de escolarização tem reflexo direto na preparação profissional e nas possibilidades de emprego de um indivíduo, os deficientes físicos levam uma grande desvantagem. Por isso, esforços especiais precisam ser feitos para promover o acesso de pessoas com deficiência ao mercado de trabalho, bastante competitivo. Essa é uma das formas de se combater sua exclusão social, promover sua dignidade e vida independente. Isso requer uma ativa mobilização não apenas de defensores da inclusão social, mas também das autoridades e da iniciativa privada.

Um dos problemas sérios com relação à ocupação é a questão da capacitação profissional das pessoas com deficiência e o receio de muitas famílias de inseri-las no mercado de trabalho, mesmo quando qualificadas. Em muitos casos a pessoa é considerada e mantida improdutiva, não constando sequer nas estatísticas oficiais. E não é por falta de lei, pois a "lei de cotas" nº8.213, de julho de 1991 (completou 20 anos), ainda não é cumprida pela maioria das empresas.

A Constituição assegura os direitos nos mais diferentes campos e aspectos. Deficiência não é sinônimo de doença e não é contagiosa.

AQUILES FERRAZ NUNES é superintendente executivo da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação.

CLAUDIO J. D. SALES - Petrobras abusa do consumidor


Petrobras abusa do consumidor
CLAUDIO J. D. SALES
O Globo - 12/09/2011

O leilão de energia realizado em 17/08 foi bastante disputado, com acentuada concorrência entre empreendimentos de geração a partir de aerogeradores, as chamadas "usinas eólicas". Vence o certame o competidor que oferta a menor tarifa, e a concorrência pressionou os preços para um patamar abaixo de R$100/MWh. Nada mal para uma fonte que há poucos anos era considerada viável apenas com grandes subsídios. Esse avanço decorre, dentre outros motivos, da sobreoferta de equipamentos em função da crise internacional, mas é mérito fundamental dos leilões de energia, que abriram o setor a novos empreendedores num ambiente concorrencial para as diversas alternativas de geração.

Apesar do grande número de empreendimentos eólicos, como a potência instalada individual de cada usina é pequena, a maior parte da energia comercializada no leilão virá de termelétricas a gás natural. Apenas duas termelétricas - uma da Petrobras e outra da MPX - responderam por 52% da energia contratada no leilão. Mas, ao contrário do que aconteceu com as eólicas, a concorrência entre as termelétricas foi prejudicada pela falta de isonomia no fornecimento de gás.

A Petrobras abusou de sua condição de única fornecedora de gás natural para todas as demais termelétricas - com exceção da usina da MPX, que tinha seu próprio gás - e favoreceu o seu próprio empreendimento, a termelétrica Baixada Fluminense.

Apesar da quebra do monopólio legal da Petrobras em 1997, o mercado de gás natural permanece sob o domínio da estatal, que responde pela maior parte da produção e exerce forte influência sobre a produção e preços dos demais produtores. Para agravar a situação, a Petrobras controla praticamente toda a infraestrutura de transporte de gás natural no país. Mesmo a importação de gás natural liquefeito (GNL) fica a mercê da estatal porque os terminais de regaseificação pertencem à Petrobras, que, pela legislação, não é obrigada a permitir acesso de terceiros. Ou seja: a Petrobras é a única opção para a quase totalidade dos consumidores de gás natural.

Os empreendedores de geração termelétrica que o digam. Havia muitos proponentes interessados em participar do último leilão de energia que nem sequer foram habilitados porque não conseguiram assegurar o fornecimento de gás natural. E os que conseguiram concorreram em condições de desigualdade com a termelétrica da Petrobras porque foram forçados a adquirir o gás da estatal a preços mais altos e em condições de operação mais restritivas.

A disparidade ficou evidente com a publicação da Portaria nº 28/2011 do Ministério de Minas e Energia, em 02/08/2011, que reportou a taxa de "Inflexibilidade" e a "Garantia Física" de cada uma das termelétricas habilitadas a participar do leilão. Enquanto a termelétrica da Petrobras gozava de total liberdade para operar com a taxa de utilização anual que lhe proporcionasse o menor custo-benefício, as suas concorrentes foram forçadas a aceitar cláusulas de leve-ou-pague (take-or-pay) de 30% a 70%, forçando-as a operar com Inflexibilidade, reduzindo a sua competitividade nos leilões de energia. Além disso, pela Garantia Física atribuída a cada usina pode-se inferir que o custo do gás natural da termelétrica da Petrobras foi inferior ao preço que esta última ofereceu aos seus concorrentes.

Tal discriminação distorce a concorrência e compromete a eficácia do leilão como mecanismo de seleção dos empreendimentos mais eficientes. E qualquer distorção nos leilões de energia pode provocar grandes prejuízos para o consumidor porque neles são firmados contratos de energia de 15 a 30 anos.

Está em jogo o sucesso do modelo do setor elétrico, baseado em leilões com livre acesso e competição isonômica. As autoridades governamentais e os órgãos de defesa da concorrência precisam atuar. O grande beneficiado seria o consumidor, que pagaria uma tarifa de eletricidade menor devido à maior concorrência.

CLAUDIO J. D. SALES é presidente do Instituto Acende Brasil.

GOSTOSA


ALCIONE ARAÚJO - A implosão moral

A implosão moral
ALCIONE ARAÚJO
FOLHA DE SP - 12/09/11 

Não se sabe como nem onde começou. Depois da enchente que cobriu casas e árvores do bairro, o rumor se espalhou em roda de esquina, ponto de ônibus e mesa de bar. Cada novidade, um susto. A água infiltrou. Viram frincha no cimento. A ferragem apodreceu. O piso mexeu. O pilar tremeu. Veio o pânico: a ponte vai cair! Instado, o prefeito disse: “Qualquer ponte um dia pode cair!”

O povo se alvoroçou. Mendigos que viviam embaixo da ponte foram arrastados com tralhas e trecos. Em cima, liberaram para pedestre; carroça, bicicleta e moto cruzavam juntos. Carro só um a um, e o povo esperava a vez, assustado. Caminhão e carreta, ninguém se atrevia, assistiam da margem, benzendo-se, pescadores tiravam a canoa de baixo, e as lavadeiras corriam barranco acima.

Candidato à reeleição, o prefeito sentiu que a situação poderia beneficiá-lo, e aprovou a ideia do assessor: demolir a ponte num grande evento político. A técnica de implosão começava a ser usada, era atração na TV e certeza de repercussão nacional da candidatura. E a imediata construção da nova ponte seria bela promessa para o novo mandato! A prefeitura contratou a implosão.

Na véspera o bairro parou. Interditaram a ponte, isolaram a área, afastaram canoas e barcos, proibiram pescar, nadar e lavar roupa no rio. O trânsito empacou, turistas lotaram hotéis. Câmeras de TV transmitiam flashes ao vivo.

No dia D, ocupando os lados da ponte e as margens do rio feito estádio cheio, o povo esperava o evento num sol que torrava os miolos. O chefe da implosão, de capacete, óculos protetores e macacão abóbora, parecia saído de desenho animado. Afobado, ia e vinha sobre e sob a ponte. Nos ninhos de dinamite, em furos na estrutura, gesticulava ao séquito, que seguia os fios até o detonador, onde o prefeito, sob a tenda colorida, posava para a TV e acenava à torcida.

O tempo passava, o prefeito suava, a turba chiava e o chefe fazia seu show, quando os mendigos burlaram a guarda e invadiram a área, para alegria da turba, que uivava olé, a cada finta. Desceram aos moquifos, e a turba delirou. Logo, subiram arrastados. A vaia começou, e se estendeu ao prefeito, que pediu pressa ao chefe. Esvaziada a área, a implosão foi autorizada. O prefeito acenou à TV e acionou o detonador. A explosão espantou peixes, pássaros, bichos e homens. O céu, a terra e a água sumiram na poeira e fumaça. Após um silêncio de admiração, ouviram-se gritos, assovios e aplausos de euforia.

À medida que a fumaça subia e a poeira baixava, a turba reconhecia a velha ponte, no mesmo lugar, inteira, intocada, inabalada. O chefe tirou o capacete e coçou a cabeça. Atarantado, o prefeito ouviu a vaia crescer e pedras caindo ao seu redor. Aos poucos, ergueu-se um vozerio ritmado: “A ponte não caiu! O prefeito sem moral vai pra... ponte que caiu”. Não foi. Sem moral, e reeleito!
E a alegre população pagou pela implosão de uma ponte que utiliza até hoje.

GUSTAVO CERBASI - E se o futuro chegasse hoje?

E se o futuro chegasse hoje?
GUSTAVO CERBASI
FOLHA DE SP - 12/09/11 

Esqueça a ideia de poupar para consumir todo seu dinheiro no futuro. 

Você já sabe que, para ter as finanças em equilíbrio, precisa poupar parte do que ganha. O motivo para isso? Garantir condições de desfrutar de um futuro que pode não ser tão abastado quanto hoje, ao menos em termos de oportunidades de trabalho.
Pequenas porções de dinheiro plantadas hoje serão multiplicadas por suas escolhas de investimento e podem se transformar no seu ganha-pão de amanhã. Porém você corre o risco de, uma vez motivado a poupar, entusiasmar-se com os investimentos ou com os negócios e, viciado no processo de enriquecimento, esquecer de viver o hoje.
Em minha experiência como consultor, acompanhei diversos casos de consumidores compulsivos que se transformaram em poupadores também compulsivos. Não ganharam nada com isso, apenas trocaram 8 por 80.
Não há vantagem em poupar em excesso, pois assim você abre mão de um nível de consumo e de conforto que pode lhe trazer bem-estar e contribuir para uma benéfica movimentação da economia.
Além disso, de pouco adiantará ter muito dinheiro amanhã se você se acostumar a viver de maneira exageradamente simples. Porém algo deve ser poupado, e seu desafio é encontrar o equilíbrio entre quanto gastar e quanto poupar.
Não estou propondo nenhuma tese nova ao sugerir que você pondere o quanto vale a pena pensar no futuro. Eduardo Giannetti, em seu livro "O Valor do Amanhã" (Companhia das Letras), discute longamente o assunto e nos explica que tendemos a dar maior importância ao presente do que ao futuro.
Não é preguiça ou negligência, mas sim uma defesa natural. Talvez em um nível não muito consciente, nosso cérebro tenta nos convencer de que é melhor gastar nosso dinheiro já.
Isso será verdade, caso uma fatalidade venha a encerrar nossa vida ainda hoje -um risco real que acomete a todos nós.
Porém vivemos também o risco de sermos abençoados pela evolução da medicina e da educação, tornando viável viver por mais tempo do que nossos pais. Se gastarmos demais, nos arrependeremos.
Consequentemente, temos de evitar gastar a ponto de inviabilizar nossa possível sobrevivência por mais de um século, mas também evitar poupar a ponto de nos arrependermos se o futuro chegar para nós cedo demais. Equilíbrio é a palavra-chave.
O ideal é que você gaste com qualidade o quanto pode hoje, e poupe com inteligência o mínimo de que precisa para que seu interessante padrão de consumo não falte amanhã. Isso é bom para você e para toda a cadeia produtiva que é movimentada pelo dinheiro que você põe para trabalhar.
Rico não é aquele que tem um patrimônio inesgotável, mas sim quem obtém satisfação e sentimento de realização durante a maioria dos minutos de seu dia e com a maioria dos reais que consome a cada mês, ao mesmo tempo em que poupa o suficiente para não perder essa prazerosa sensação, se o futuro demorar a acontecer.
Se for um jovem, talvez esse rico tenha poucas reservas financeiras, mas o suficiente para estar bem se mantiver com disciplina seu ritmo de poupança por toda a vida. Se não vier a viver muito, não deixará muito dinheiro, mas terá vivido bem.
Se estiver feliz com seu trabalho e se mantiver poupando por muitos anos, talvez corra o risco de não consumir o dinheiro poupado.
Mas é aqui que cabe o início de outra importante discussão entre os brasileiros: esqueça a ideia de poupar para consumir todo seu dinheiro no futuro!
Se pensar assim, talvez comece a consumir cedo demais, e vai acabar morrendo de ansiedade pelo esgotamento do dinheiro, e não de causas naturais. Não vale o risco.
Poupe o suficiente para ter certeza de que não faltará dinheiro. Se deixar herança, sorte dos herdeiros. Se viver mais, sorte deles também, de contarem com a rica presença de seu ascendente por mais tempo.
Por esse raciocínio, nada traduz melhor o conceito de riqueza do que a segurança proporcionada pela sustentabilidade de nossas escolhas. Pense nisso, ainda hoje.

ÁECIO NEVES - Mil dias

 Mil dias
ÁECIO NEVES
FOLHA DE SP - 12/09/11 

Na próxima sexta, 16 de setembro, estaremos a exatos mil dias para que a bola comece a rolar na abertura da Copa no Brasil. O que deveria ser motivo de comemoração em um país apaixonado por futebol, infelizmente serve também para confirmar, de forma dramática, a instalação da política do improviso na administração pública brasileira.
Estamos atrasadíssimos e caminhando a passos lentos em direção a um calendário inexorável, apesar de o Brasil ter sido escolhido como sede da Copa em outubro de 2007.
Quatro anos atrás. A dimensão dos problemas que teremos, ao que tudo indica, pode ser mensurada pelo cidadão que já enfrenta congestionamento nos aeroportos ou observa que grande parte das obras nas cidades-sede permanece no papel. Isso a menos de dois anos da Copa das Confederações, a grande avant-première de 2014.
No caso dos aeroportos, cruciais para o transporte num país continental como o nosso, fomos vítimas de uma posição ideológica arcaica do governo, que considerava as concessões e as parcerias com o setor privado (PPPs) quase crime de lesa pátria.
Visão que parece superada com o anúncio feito de concessão de alguns de nossos terminais, embora, acredito, com atrasos já irremediáveis.
Igualmente conhecida é a precariedade das rodovias federais e do transporte coletivo nas capitais que terão jogos. Para explicar esse quadro desolador, há um fator predominante: a má gestão. A ausência de um planejamento eficiente e as falhas nos projetos têm sido, aliás, as primeiras e principais causas das mazelas em obras públicas.
Soma-se nesse contexto a iniciativa do governo de flexibilizar as licitações para a Copa. O novo regime de contratação das obras, RDC, está sendo implantado sem o necessário debate no Congresso e sem a devida análise dos órgãos de fiscalização.
As mudanças nas normas das licitações podem até ter aspectos inovadores, mas serão introduzidas em contratos com cifras vultosas.
A falta de transparência nessas contratações e a urgência nos prazos poderão resultar em desperdício de dinheiro e em chances de corrupção.
Infelizmente, outros dois velhos conhecidos do país. Por fim, não podemos nos esquecer que, durante o maior evento esportivo do planeta, os olhos do mundo estarão voltados para nós. Nossa infraestrutura e serviços de segurança serão avaliados diariamente, e nosso potencial turístico apresentado a milhões de pessoas. O Brasil poderá ganhar ou perder muito.
Em Copa do Mundo, só há um domínio em que o improviso deve prevalecer: nos gramados, quando estiver em campo o talento da seleção. Talento, aliás, que anda meio sumido. Mas, para isso, o Mano ainda tem tempo.

RUY CASTRO - Assalto em surdina

 Assalto em surdina
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 12/09/11 

RIO DE JANEIRO - Às 23h30 do dia 27 de agosto, um sábado, 12 homens invadiram a agência do banco Itaú na avenida Paulista, em São Paulo, renderam o vigia e, pelas dez horas seguintes, dedicaram-se a saquear 170 cofres particulares numa sala do subsolo. O sistema de alarme, inclusive o que protege os cofres, foi desligado pelos bandidos antes da ação, embora o monitoramento desse sistema fique numa central distante da agência (não se informou onde).
Às 9h30 de domingo, os bandidos deixaram o banco levando milhões de reais em dinheiro e joias, com tempo de sobra para passar o dia lavando o carro ou pegar a macarronada na casa da nonna. Ao tomar conhecimento da tragédia, horas depois, o banco registrou queixa no 78º DP (Jardins). As vítimas só foram saber do assalto na quarta-feira, 31 de agosto, três dias depois, aparentemente porque um cliente descobriu e contou a outros.
Mais cinco dias se passaram até que a Polícia Civil encaminhasse o caso ao Deic (departamento da polícia especializado em roubo), a 5 de setembro. E este também esperou até o dia seguinte para ir ao local do crime e iniciar oficialmente as investigações. Do assalto a esse dia, foram, portanto, nove dias para que incontáveis pistas inevitavelmente deixadas por 12 homens durante 10 horas num recinto ficassem comprometidas.
Sherlock Holmes e seus discípulos Philo Vance, Bulldog Drummond, o Santo, o padre Brown, Ellery Queen, Hercule Poirot, Miss Marple, Charlie Chan, Dick Tracy, Nero Wolfe, Lew Archer e outros especialistas em pegadas e impressões digitais teriam ido ao desespero com essa morosidade geral.
O prejuízo dos 170 clientes varia, no mínimo, de R$ 1 milhão a R$ 3 milhões por vítima, o que torna esse roubo talvez o maior da história dos bancos no Brasil. E aquele que ninguém parece ter muita pressa para resolver.

GOSTOSA


VINICIUS MOTA - Cidades opressivas

Cidades opressivas
VINICIUS MOTA
FOLHA DE SP - 12/09/11 

SÃO PAULO - Depressão, ansiedade, medo de sair de casa, hipocondria, paranoia, pânico. Multiplicam-se os nomes de sintomas mentais associados ao estilo de vida nas metrópoles, embora essa seja uma discussão antiga.
Na passagem do século 19 para o 20, o debate urbanístico passou a incorporar o tema. Era como se as decisões de construção e reforma das cidades pudessem influenciar a saúde mental dos habitantes.
O medo de lugares públicos, nessa crítica, era vinculado à desfiguração dos espaços tradicionais, em favor de uma arquitetura homogeneizadora, de largas avenidas, praças a perder de vista, edifícios monumentais e arranha-céus. Um programa que ficou caricato em Brasília e nas nações socialistas.
Na maioria das grandes cidades, contudo, não há predomínio tão claro de um ou outro modo de construir e planejar. Vários deles convivem no mesmo espaço, como heranças justapostas de circunstâncias históricas diversas.
"Medianeras", filme do argentino Gustavo Taretto que entrou em cartaz neste mês, nos lembra como tal mescla de estilos -temperada com desleixo urbanístico, corrupção e escassez de recursos- atinge paroxismos em metrópoles periféricas. Buenos Aires foi a retratada, mas poderia ter sido São Paulo ou a Cidade do México.
A cidade confusa, atulhada de construções e feia, argumenta o roteiro, empurra habitantes para a solidão e os distúrbios psicológicos.
As novíssimas tecnologias das comunicações, segundo o filme, exacerbaria os sintomas mentais e a recusa dos espaços públicos. Do trabalho aos relacionamentos, das compras ao entretenimento, quase tudo, afinal, se pode fazer em casa.
Como a crítica às reformas urbanas no passado, lamentos antitecnológicos atuais recrutam fraca evidência científica e muita ideologia regressista. A experiência de viver em São Paulo indica, ao contrário, que nunca se saiu tanto às ruas.

RICARDO SEMLER - Preto e prata, preto e prat

 Preto e prata, preto e prata
RICARDO SEMLER
FOLHA DE SP - 12/09/11 

Como se camaleões fôssemos, evitamos o realce; estamos protegidos se escolhemos a mesmice


Preste atenção e verá que quase todo carro é preto ou prata. Inclui cinza, digamos. Ando intrigado, nas estradas, pela hegemonia dessa paleta de cores, que soma 86% das escolhas.
Será que o brasileiro é um tanto triste, por isso fica entre nuances cinzentas? Seria diferente em outros países? E essas escolhas teriam relação com a uniformização iniciada na escola?
A DuPont estuda essa questão há 55 anos. Nos EUA há agora a tendência pelo branco. Na Itália e França vence uma cor que aqui não faz qualquer sucesso: o bege. Apenas na China é que o laranja sobressai. Na Escandinávia impera o prata, como em muitas regiões do mundo. Tem a razão leiga, que diz que carros cinzentos e pretos são mais fáceis de revender, e portanto vendem mais. Na linha do vende mais porque é fresquinho, e é fresquinho porque vende mais. Custo de seguro e chance de ser roubado não são muito relevantes.
Se olharmos para executivos num restaurante veremos cores básicas nos ternos e tailleurs. Se subirmos o olhar para a arquitetura de edifícios, veremos o triste e conservador neoclássico, e o bege nas paredes cansadas. Se procurarmos nas escolas algum alívio arquitetônico, seremos oprimidos pela mesmice.
Nas escolas infantis seremos derrotados pelas paredes internas coloridas, o exterior branco, um tanto de verde no paisagismo e um ar pseudofeliz de todos os adultos. As crianças têm e emprestam o animus que acende essa mesmice mesmo quando elas são uniformizadas com a exaustiva roupinha que faz delas um clichê ambulante.
As cores dos carros refletem, sim, um conservadorismo tribal. Como uniformes infantis. Somos criaturas de hábito, e esses hábitos miram a segurança. O alvo é o pertencer. Como se camaleões fôssemos, queremos evitar o realce. Estaremos mais protegidos dos inimigos, do roubo, do acidente, se escolhermos a mesmice. Camuflados pela perda de identidade, podemos relaxar.
Mas isso não é rota para a escola. É hora de começarmos a inovar. Não é outra a razão para a sala de aula, mesmo nestes tempos digitais, ter a mesma cara de 1860. Há muito tempo deveríamos ter abolido as carteiras, a lousa (e seus fac-símiles), e mesmo o edifício da escola como centro da educação.
Está na hora de pensarmos em diminuir a uniformidade que começa no infantil e que forma esses adultos que têm medo de escolher um carro ou roupa mais coloridos.
Centrar a educação em um aluno por vez não passa de clichê. Pensemos no que a escola pode arriscar, para que termine esta linha de montagem igualzinha, que produz estes adultos iguaizinhos para este mercado de trabalho igualzinho.
Mesmo tendo um carro prata, e o da minha esposa sendo preto, conclamo: haja uniformidade, minha gente, haja preto e prata.

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO - Necessário, mas insuficiente


Necessário, mas insuficiente
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
O Estado de S.Paulo - 12/09/11


É possível extrair algo do comportamento do eleitor em 2010 que valha para o pleito municipal de 2012? Uma constatação é que o voto nas capitais foi sensivelmente diferente do voto no interior. No primeiro turno da eleição presidencial, Dilma Rousseff (PT) teve 40% dos votos válidos nas capitais, contra 49% no resto do País. A disputa do governo contra a oposição foi muito mais dura nessas 27 cidades. Entender o porquê ajuda a medir as chances de governistas e oposicionistas em 2012.

Não foi a oposição tucana que dificultou as coisas para a candidata de Lula nas capitais. No primeiro turno, José Serra (PSDB) recebeu proporcionalmente menos votos nessas cidades (30%) do que no resto do País (33%). Quem fez a diferença nesses centros foi Marina Silva (então no PV). Enquanto ela teve apenas 16% dos votos válidos no interior, sua votação chegou a 28% nas capitais. Foi a mais votada em Brasília, Belo Horizonte e Vitória.

Pesquisas do Ibope feitas ao longo da campanha de 2010 indicam que o eleitorado de Marina era dividido entre dois segmentos muito diferentes entre si: de um lado, um eleitor de classe média alta que estudou acima da média e estava desencantado com PT e PSDB; e de outro, evangélicos que desconfiavam das opiniões de Dilma e Serra sobre questões como aborto. Será possível comprovar isso na esfera municipal?

O cruzamento dos resultados eleitorais com as informações de renda do Censo 2010, divulgadas recentemente, e o novo mapa da religião publicado pela Fundação Getúlio Vargas apontam que sim.

Há enormes diferenças de comportamento do eleitor de capital para capital: no primeiro turno, a votação de Dilma variou de 16% em Rio Branco (AC) a 57% em São Luís (MA). E a de Serra, de 7% em Manaus (AM) a 51% em Boa Vista (RR). Para além das peculiaridades regionais, é possível identificar tendências.

Em 3 de cada 4 municípios que não são capitais, quanto maior era a abrangência do Bolsa Família em 2010, maior foi a votação de Dilma. Já nas capitais, a força da correlação entre os programas assistencialistas do governo federal e o comportamento do eleitor foi reduzida à menos da metade. Dois outros fatores diluíram essa influência: renda e religião.

Segundo estudo de Marcelo Neri, da FGV, há maior proporção de evangélicos nas capitais. E, entre elas, há grandes disparidades: de 10% em Teresina (PI) a 43% em Rio Branco (AC). Embora haja exceções, em regra Dilma teve menos votos nas capitais onde há maior porcentual de evangélicos. Sua votação também foi proporcionalmente menor nas capitais com renda per capita mais alta. Essas duas correlações foram mais fortes do que entre voto e Bolsa Família.

Para Marina Silva, as relações foram inversas às de Dilma. Em grande parte das capitais, quanto mais evangélicos, maior sua votação. Mas a conexão mais forte não foi religiosa, e sim de poder aquisitivo. Quanto maior o crescimento absoluto da renda acima da inflação, melhor o desempenho da então candidata do PV. Ou seja: ao menos nas capitais, Marina faturou politicamente mais do que Dilma e Serra os reais extras que os eleitores embolsaram ao longo da década passada.

Como interpretar essas correlações? Do ponto de vista estrito, comprovam-se as inferências do Ibope. Marina teve dois eleitores distintos, um mais rico e outro mais pobre, que votaram nela por motivos diferentes: o primeiro, para criar uma alternativa política ao PSDB e ao PT (e, eventualmente, defender o meio ambiente), o segundo, na candidata da sua fé, que por ser evangélica se mostrou mais confiável contra mudanças como a legalização do aborto no Brasil.

Mas é possível extrapolar os resultados para 2012. A principal constatação é que quando há outros fatores intervenientes, como religião, a influência econômica sobre o voto é amenizada. A segunda é que nos lugares onde a riqueza já era mais alta, os incrementos de renda, por maiores que tenham sido, não foram traduzidos automaticamente em predisposição do eleitor de votar na candidata do governo identificado como o responsável por esses ganhos.

Não bastará ao governo manter a economia crescendo, a inflação sob controle e o Bolsa Família funcionando. Essas são condições necessárias, mas não suficientes para Dilma e sua base aliada vencerem as eleições municipais de 2012. São necessárias obras e políticas com impacto local. E isso só é viável com uma máquina administrativa bem azeitada.

LUIZ FELIPE PONDÉ - Marketing francês

Marketing francês
LUIZ FELIPE PONDÉ
FOLHA DE SP - 12/09/11

A Revolução Francesa (1789-1799) é um fenômeno de marketing. Foi importante para medirmos a febre de um país sob um rei incompetente e não para nos ensinar a vida cotidiana em democracia.

Nada há na Revolução Francesa que tenha a ver com liberdade, igualdade e fraternidade. Essas palavras são apenas um slogan que faz inveja a qualquer redator publicitário.

Esse slogan, aliado ao que os revolucionários fizeram (mataram, roubaram, violentaram, enfim, ideologizaram a violência em grande escala), é uma piada.

É uma aula de marketing político: todo mundo cita a Revolução Francesa como ícone da liberdade.

O marketing da revolução ficou a cargo da filosofia. Primeiro caso na história de um fato claramente ideologizado para vermos nele outra coisa. Os "philosophes" do Iluminismo contribuíram muito para essa matriz do marketing político de todos os tempos, a Revolução Francesa.

Começa com a criação da ideia de que existe uma coisa chamada "povo que ama a liberdade" para além da violência que ele representa quando desagradado.

"Povo" é uma das palavras mais usadas na retórica democrática e mais sem sentido preciso.

A única precisão é quando há violência popular ou quando muitos morrem de fome por conta da velha miséria moral humana.

As "cheerleaders" da primavera árabe têm orgasmos nas ruas de Damasco, Trípoli, Cairo e Tunis. Já imaginam os árabes lendo Rousseau, Marx e Foucault (que, de início, "adotou" a revolução iraniana).

Dançam para esses movimentos como se ali não estivessem em jogo divisões religiosas atávicas do próprio islamismo, quase total ausência de instituições políticas, tribalismo atroz, grupos religiosos fanáticos muito próximos do crime organizado, para não falar do óbvio terrorismo.

De vez em quando, o "povo" mata, lincha, violenta e destrói cidades, a casa dos outros e o diabo a quatro.
Mas como (e isso é um dado essencial do efeito do marketing da Revolução Francesa) pensamos que o mundo começou em 1789, achamos que o "povo" nunca destruiu tudo o que viu pela frente antes da queda da Bastilha.

A historiadora americana Gertrude Himmelfarb, em seu livro essencial "Caminhos para a Modernidade", publicado no Brasil pela É Realizações, chama o iluminismo francês de "ideologia da razão", com toda razão.

Os "philosophes" criaram um fantasma chamado "la raison", que seria a deusa dos revolucionários.

Se no plano bruto "la raison" justificaria assassinatos nos tribunais populares (que deixam as "cheerleaders" dos movimentos populares até hoje em orgasmo), no plano sofisticado do pensamento, seria a única capaz de entender e organizar o mundo desde então.

Esse fantasma da "la raison" nada tem a ver com a necessária faculdade humana de pensar para além dos desejos e medos humanos, que é muito dolorosa e rara.

Ela é uma deusa mítica que ficaria no lugar do Deus morto, dando a última palavra para tudo.

Foram muito mais os britânicos e americanos que nos ensinaram a vida cotidiana em democracia. Mas o iluminismo anglo-saxão não foi marqueteiro.

Nas palavras de Himmelfarb, os britânicos, com sua "sociologia das virtudes", buscavam compreender como as pessoas e as sociedades geram virtudes e vícios. Entre elas, a benevolência e o hábito de respeito à lei comum.

Os filósofos americanos criaram uma "política da liberdade", nas palavras de Himmelfarb.

Eles associavam a qualidade de pensadores a de homens políticos práticos que investigavam a liberdade, não como uma ideia abstrata, mas como algo a ser preservado pela lei da tentativa contínua do homem em destruí-la em nome de qualquer delírio.

Daí as instituições americanas serem as mais sólidas, até hoje, em termos de defesa dos indivíduos contra os delírios do governo e do Estado.

Os britânicos e os americanos nos ensinaram a liberdade que conhecemos e que dá a você o direito de dizer e pensar o que quiser nos limites da lei.

É hora de deixar nossos alunos lerem mais Locke, Hume, Burke, Tocqueville, Stuart Mill, Oakeshott, Berlin, os federalistas e antifederalistas, Rawls, Strauss e não apenas Rousseau, Marx e suas crias.

NOVA CLASSE A
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 12/09/11

O Club Athletico Paulistano, um dos mais caros do Brasil, subiu o preço para o ingresso de novos sócios. Agora, quem quiser fazer parte dos quadros tem que pagar taxa de transferência de R$ 360 mil para a agremiação. E mais R$ 6.000 para o antigo sócio de quem compra o título.

INFLAÇÃO
É a terceira vez em dois anos que o Paulistano reajusta o preço da taxa de transferência. Há pouco mais de um ano, o valor saltou de R$ 180 mil para R$ 220 mil. Mesmo assim, 27 famílias ingressaram no clube. A solução para conter a demanda dos novos endinheirados foi reajustar o preço em julho passado, para os atuais R$ 360 mil.

NÃO TEM PREÇO
Ainda assim, entre julho e agosto, duas famílias apresentaram pedidos para se associar ao clube.

CAMPEONATO
O sindicalista Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, diz que está "pensando seriamente" em disputar a prefeitura de SP. Até agora ele estava conversando com Netinho de Paula (PC do B-SP), a quem pretendia apoiar. "Mas a última pesquisa do Datafolha mostrou que temos o mesmo número de votos (entre 6% e 15%). E eu tenho menos rejeição (23% a 33%)."

SARDINHA
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) se reúne hoje com armadores e agentes de viagens para discutir normas de segurança e higiene nos cruzeiros no verão. Na temporada 2010/2011, foram registradas 718 notificações de problemas de saúde a bordo: 58% eram casos de diarreia e 39%, de gripe.

SARDINHA 2
A Anvisa diz que o número é razoável: de 41 navios que navegam pela costa brasileira no verão, só três tiveram problemas.

MEMÓRIA
O ex-presidente Lula reservou espaço na agenda para ir hoje ao lançamento do livro "Os Últimos Passos de um Vencedor: Entre a Vida e a Morte, o José Alencar que Conheci". Nele, o jornalista José Roberto Burnier, da Globo, narra a luta do ex-vice-presidente contra o câncer.

ACESSO TOTAL
A Defensoria Pública de SP enviou recomendação aos realizadores de concursos públicos do país, como Fundação Carlos Chagas, Vunesp, FGV e Cesgranrio, para que eles disponibilizem intérpretes de Libras, a linguagem dos sinais, para candidatos surdos. Defende a medida para garantir o direito à isonomia, já que é permitido aos cegos receber o teste em braile ou ter uma pessoa lendo o conteúdo para eles.

PRIMEIRA PORTA
O instituto Cetro, que organizou provas para o Ministério dos Transportes, já se comprometeu a seguir a recomendação.

DENTE DE LEITE
Lorenzo, filho de seis meses de Luciana Gimenez e do empresário Marcelo Carvalho, da Rede TV!, vai estrear na telinha.


A apresentadora será a "madrinha" da campanha de doação de leite do Ministério da Saúde que começa no dia 29.

CAI O PANO
O espetáculo "Desconhecidos", dirigido por Gustavo Machado, estreou no Teatro Ruth Escobar, na semana passada. No elenco, Carlos Baldim e Fábio Herford, que também assina o texto da peça.

MULTIMÍDIA
O estilista Fause Haten fez show de lançamento de seu álbum "CDFH", na semana passada, no Studio SP. Cantou músicas próprias e de ídolos como Cazuza, Tribalistas e Reginaldo Rossi. Hoje, ele lança o livro "Algumas Palavras", nos Jardins.

CURTO-CIRCUITO

O ministro Luiz Fux faz palestra no Hospital Israelita Albert Einstein, no Morumbi. Hoje, às 19h.
Reinaldo Lourenço lança hoje, às 18h, sua coleção de verão e nova linha de relógios. Nos Jardins.
O filme "Trabalhar Cansa" terá pré-estreia hoje, às 21h30, no shopping Frei Caneca. 12 anos. A mostra "Todo Muro É uma Porta" abre na quinta, na galeria Tag and Juice.
Eloisa Arruda e Andrea Matarazzo promovem hoje, na Sala São Paulo, o lançamento da Coordenação de Políticas sobre Drogas.
Claudia Proushan lança "Luzes da Galileia" hoje, às 19h, na Livraria da Vila dos Jardins.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

GOSTOSA


RENATO JANINE RIBEIRO - Os partidos como parasitas

Os partidos como parasitas
RENATO JANINE RIBEIRO
VALOR ECONÔMICO - 12/09/11

Uma convicção difundida, entre comentadores da política e cientistas políticos, é que partidos fortes são essenciais para a democracia. Já filósofos e estudiosos da comunicação não se entusiasmam tanto pelos partidos, mas reconhecem sua utilidade. Ora, um mantra da discussão política no Brasil é que os partidos são fracos, representam pouco e tendem a expressar mais os interesses dos políticos que os do eleitorado. Não espanta que nossa legislação seja uma mãe para os partidos. Deixou de regulamentar seu funcionamento interno, o que seria bom, não fosse o fato, revelado pelo Valor, de que vários deles, mesmo importantes, funcionam na base de comissões provisórias nomeadas pela direção nacional, sem democracia interna. Houve momentos, na ditadura, em que a lei fixou um máximo de partidos (dois), determinou que tivessem o "P" de partido em seu nome e até mandou suas convenções se realizarem em Brasília. Bobagem, que passou. Mas continua havendo vantagens para os partidos que, paradoxalmente, talvez expliquem por que são fracos. Não precisam ir à luta, conquistar o apoio do povo. Isso os fragiliza, isso nos fragiliza.
Por que, no Brasil, só partidos podem lançar candidatos? Não é assim na França, Estados Unidos ou Grã Bretanha, três democracias exemplares, fruto de grandes revoluções democráticas. Lá, quase todos os eleitos em nível nacional pertencem aos principais partidos, mas isso não é obrigatório. Os partidos se fortalecem sem serem donos da atividade eleitoral. São fortes porque lutam por isso, não porque a lei lhes dê o oligopólio da política. Já no Brasil só pode concorrer quem se filiou a um partido doze meses antes da eleição - o que exclui do direito de se eleger 95% ou mais da população.
Nossos partidos não militam pela causa da política
Essa oligopolização da política traz um adicional. Você se filia sem a certeza de que será candidato. Entre você e o voto popular, está a cúpula partidária. Itamar Franco se inscreveu no PMDB, em 1998, esperando concorrer à sucessão de FHC. Uma vez filiado, o PMDB aproveitou o ilustre refém para negociar com o governo tucano e liquidou sua candidatura. Mas é legítimo uma pessoa, que pode expressar a vontade popular, ser impedida de ir às urnas porque o partido lhe negou legenda?
Imaginemos que o PSDB se divida entre Serra e Aécio, em 2014. Se um deles notar que não tem chances no partido, sua única saída será mudar de legenda antes de outubro de 2013. Ora, dificilmente um deles saberia disso a tempo. Portanto, digamos que disputem a convenção. Quem perdê-la não poderá apelar ao povo. Na França, Estados Unidos ou Argentina, poderia - e poderia ganhar a eleição. Agora, à pergunta: isso enfraquece o partido? a resposta adequada é: menos que o sistema atual. Hoje, o perdedor na convenção dificilmente dará apoio entusiástico ao vitorioso. Muitos serristas acusaram Aécio de corpo mole na eleição de 2010. Mas, se ambos puderem ir ao povo, o que teremos? Certamente, outras lideranças partidárias - a começar por FHC - tratarão de curar as feridas e negociar um acordo. Para isso, não precisa haver uma lei barrando candidaturas. É melhor a lei ser aberta, e os conflitos se resolverem na prática. Mais maduro.
Em termos municipais, nem se fala. Com raras exceções, prefeitos se elegem em torno de temas locais - no mundo todo. A maior exceção costuma estar à esquerda, mais afeita a propostas sociais, que interferem na vida cotidiana. Mas, até porque em vários municípios as coligações se mostram monstruosas, aliando partidos opostos no plano federal, por que não admitir listas fora dos partidos? É um absurdo o prefeito de S. Paulo precisar criar um partido para continuar na política, com todas as consequências que vimos nas filiações ao PSD.
Em 2010, os tribunais eleitorais difundiram spots publicitários sobre a importância do voto. A intenção era ótima. A ilusão, total. Diziam que o Poder Executivo reduz as desigualdades. Ora, esse é um belo ideal, mas só isso. Mostraram um eleitor sabatinando os candidatos, como se disputassem um emprego. Na teoria, é assim. Na prática, os candidatos dos grandes partidos têm muito mais poder que os cidadãos. No fundo, os spots indicaram um problema de nossa política: que os tribunais eleitorais acabam assumindo um papel que deveria ser dos partidos.
Tomemos os Estados Unidos, onde o voto não é obrigatório - o que leva a um grave problema, que é a abstenção maior entre negros e pobres, que por isso recebem menor atenção dos políticos, o que aumenta o alheamento político de negros e pobres, levando os políticos a lhes darem menos... Mas, lá, se um partido quiser conquistar o voto de negros e pobres, terá de convencê-los de que é importante votar. Ou seja, em vez de um spot abstrato, no qual a Justiça cega e imparcial fala do voto em geral, teríamos spots concretos, em que um partido diz: se quiser combater a corrupção, vote em nós; se quiser eliminar a miséria, vote no partido tal; e assim por diante.
Isso acabaria com um aspecto que a eleição tem hoje: a reserva de mercado. Por lei, os partidos têm o monopólio das candidaturas. Por lei, os cidadãos têm de votar. Daí sucede que, no dia da eleição, muitos votantes não saibam ainda em quem votar e peçam indicações a amigos. Eu o fiz, em 2010, para deputado estadual. Ora, se você não está convencido de um candidato, por que votar nele? Por que votar? Os partidos, oligopolistas da política, têm apenas de disputar em quem você votará. Não precisam militar pela causa da política. Não precisam convencer ninguém da importância do voto. Funcionam como parasitas, não como atores da política. Isso tem de mudar.