sábado, abril 09, 2011

MIRNA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE - Reflexões ao amanhecer: não há idade para ser feliz

 

Reflexões ao amanhecer: não há idade para ser feliz

MIRNA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE   
jornal do brasil 
Publicado em 28/03/2011 pelo(a) Wiki Repórter mirna_cavalcanti_de_albuquerque, Rio de Janeiro - RJ
Paisagem ideal para pensar, meditar e agradecer a Deus por tudo, principalmente por EXISTIR, por entender, por ser como sou e pela própria VIDA. A Linha do Horizonte, ao parecer unir o Céu ao mar, faz-me sentir a infinitude real do Ser. - Foto: Mirna Cavalcanti de Albuquerque
Neste lindo e maravilhoso domingo que passou,  27 março de 2011, recebi um e-mail que fez com que desenvolvesse um pensamento que tem estado há muito a preocupar-me. 

Ainda há gente que, de forma errada, tem preconceitos mais do que tolos, sem fundamento- como todos os preconceitos, por sinal. Uma grande parte da chamada sociedade ocidental (ao reverso da oriental) pensa que após alguns- ou muitos anos a mais de vida, os longevos perdem seu valor como criaturas úteis: COISA ALGUMA podem mais fazer e tentam enterrá-los- ou desterrá-los- considerando aqui a metáfora-psicológica ,moral, intelctual e sentimentalmente.             

São os velhos punidos pelo Estado (no caso dos valores das aposentadorias e pensões), e muitos - ainda por seus próprios filhos que lhes colocam em asilos (verdadeiros depósitos de gente) e delesfingem esquecer-se – ou realmente esquecem

Na realidade,  atitudes mesquinhas (do Estado ou da familia), se estão alastrando como ervas daninhas, devido aos espíritos egoístas e até mesmo desumanos. Esquecem-se que, se viverem também mais, chegarão à velhice e mais: por sua forma de agir, serão eles não só maltratados, como de forma ainda mais cruel, pois é esse o exemplo que estão a dar a seus filhos. No caso dos filhos: mesmo que não venham, por sua vez a tê-los, parecem desconhecer a indefectível Lei do Retorno e dessa, ninguém escapa: o Destino, Deus, o Juiz dos Juizes: Ele Mesmo, encarrega-Se de executar Sua Sentença.
Os que lerem este, por favor: repensem seus ultrapassados conceitos - se é que os têm. Quanto apreconceitos, desnecessário a eles referir-me, pois significam principalmente, atraso espiritual; 

A VIDA nada mais é do que umn interstício entre o nascimento e a morte: um curto espaço de tempo que aqui passamos (o que significam cem anos para a História?)... 

Pensem! Devemos vivê-la da forma que nossa consciência nos orientar, dentro dos Princípios eValores todos que são os fundamentais para que possamos realmente ser considerados Seres Humanos. Portanto, desde que não magoemos propositalmente os demais, façamos o que quisermos, para tentarmos alcançar o que consideramos seja “felicidade”, cuja busca deve ser nosso objetivo. 

Deus quer-nos felizes – mas temos o livre arbítrio.Cabe a nós escolhermos- e a ninguém mais. Somos responsáveis por todos os nossos atos, sejam bons ou não.

Não foi outro o motivo que levou os Founding Fathers (*) a escreverem a expressão “Pursuit of Happiness“, como objetivo-mor do povo, para constar no documento de Declaração de Independência dos Estados Unidos da América do Norte, há mais de três séculos.(**)

Por outro lado, Marcel Proust escreveu:” À la récherche du Temps Perdu” (À busca do tempo perdido)… Um complementa o outro. É só pensar : fazer ocorram as sinapses pessoais, interpretar consoante a intertextualidade e, acima e além: deixando à alma, à sensibilidade e à própria vivência chegarem às conclusões corretas. 

Todavia, há que ressaltar-se: é lamentável constatar que a sociedade humana é composta por membros, em sua maioria, que agem como verdadeiros rebanhosprecisam ser tangidos ou não sabem que rumo tomar.(***)

Ocorre que muitos se deixam tolher - ou mesmo prender por hipócritas e humanas convenções: o que faz percam chances de serem felizes- nem que por momentos. 

Autenticidade, dignidade, sinceridade, objetividade, devem fazer parte dos que pretendem SER. Os que carecem dessas qualidades, jamais poderão tornar-se criaturas inteiras, mas excrescências – e negativasseres nocivos que infelizmente existem em todos os níveis da sociedade. 

Combatamos esse tipo de gente com as armas do bem; afastêmo-los de nosso convívio, pois são como ervas daninhas. Se, todavia for impossível isso fazer, lutemos contra esses seres das trevascom as armas mencionadas retroo bem, as palavras, as leis, em busca da JUSTIÇA. Ela existe, acreditem-me, quando distribuída por verdadeiros juízes: os que enobrecem as negras togas que envergam. 
Livres então daqueles outros maus cidadãos, libertemo-nos também das idéias preconceituosas, pois ersatz (sucedâneas) da carência de Valores Princípios e, baseados justamente nestes, pois os possuímos, busquemos viver de forma a fazermos a nós mesmos felizes.
Procuremos a tranqüilidade de espírito, a paz de consciência, a alegria que só pode sentir um coração límpo, valente, forte e justo. 

Outrossim, não nos mortifiquemos por erros passados. Somos humanos e pois, passíveis de falhas das quais, após algum tempo, nos arrependemos. Dessarte, arrependamo-nos sinceramente.Contudo, não permitamos ocorram acusações de quem quer que seja. A ninguém é concedido o poder de julgar-nosPor via de conseqüência, temos o dever de impedir suas pretensões atinjam o objetivo colimado: além de juízes, se transformem em nossos algozes. (****)

Mantenhamo-nos firmes em nossos propósitos. Façamos o bem, defendamos nossos direitos quando necessário e jamais temamos os iníquos. Estes não se podem a nós ombrear-se: são vencidos por seus próprios agires (ou não agires, quando deveriam tê-lo feito). Há muito são perdedores, por chafurdarem no lamaçal em que vivem. 

Portanto, amigos leitores, desenhemos a cada amanhecer um sorriso no rosto. Agradeçamos a Deus podermos fazer as coisas mais simples, mas que na verdade, são atos todos
componentes para o bem viver: caminhar, falar, comer, ver e principalmente, possuir sensibilidade para apreciar o que de belo a Natureza nos oferece. Essa sensibilidade é característica fundamental do grau de desenvolvimento de nosso espírito. É ela que deveras nos revela humanos, que faz sintamos solidariedade, bondade, piedade por nossos irmãos menos favorecidos de qualquer sorte, e que nos move para tentarmos considerar seus sofrimentos como se nossos fossem - e realmente o são. Não é isso que nos ensinam todas as religiões? Não é o que nos orienta a Filosofia ?Não é o que toda e qualquer pessoa de bem e do bem, mesmo agnóstica ou atéia pratica?

Não há idade para sermos felizes. 
Ao assistir o vídeo que me foi enviado por um amigo, pus-me a pensar sobre o assunto, pois ele já se encontrava há muito tempo em minha mente. 

Emocionou-me assistí-la, pois enquanto o fazia, esses pensamentos todos expendidos acima passavam como um filme em minha memória, e doíam-me na alma. Além das minhas dores (todos as temos) , sentia e sinto as dores de meus semelhantes. Sei que não é original isto que escrevo, mas nada me preocupa menos do que a originalidade: “Sinto em mim todas as dores do mundo”.
Pois bem: uma senhora inglesa, do alto de seus oitenta anos, Anie Cutler, conseguiu realizar seu sonho... E, ao ser perguntada a razão de haver-se inscrito para cantar, respondeu com bom humor: “Antes tarde do que Nunca"! 
A voz dessa cantora deixa a desejar à de muitos ’cantores’(assim considerados). Sonora, forte, límpida. E, ao considerarmos que o instrumento do cantor são as cordas vocais, essas envelhecem. Não as dela: têm o vigor da juventude e sua interpretação é pura sensibilidade. 

É exemplo a ser seguido. Todos temos sonhos e também podemos realizá-los! Perseveremos! Não nos deixarmos abater por revezes quaisquer que sejam e, alimentados pela fé, continuemos a crer em nós, em nossas potencialidades. 

Anie Cutler e seu cantar corroboram de forma ostensivamente verdadeira – e principalmente feliz, o sentimento que me anima:  nossa vida nesta Terra só acaba quando é exalado o último suspiro e, enquanto aqui estivermos, temos o dever não só de sermos felizes, como fazermos todos o possivel para levarmos a felicidade aos demais.

Estou certa de que é esta a principal missão de todos nós.

Mirna Cavalcanti de Albuquerque, Rio de Janeiro, 27 de março de 2011 

NOTA: acessem, para assistí-la: http://www.youtube.com/watch?v=8ADvp6fkMyQ

(*) Leiam a respeito, em: http://www.archives.gov/exhibits/charters/cons...
(**) http://www.embaixadaamericana.org.br/index.php?action=materia&id=645&submenu=106&itemmenu=110
(***) isso pode ser facilmente constatado nos movimen tos das massas manipuladas por lideres políticos c om intúito de dominá-las . Usam técnicas várias: a História têm-nos registrado. Mais recentemente ( bem-nem tão recentemente: o Nazismo e o Comunismo, bem como todo e qualquer outro Regime de Força, são exemplos do que assevero)
(****) não me refiro aqui a crimes de qualquer espécie.Quanto a esses – há os Tribunais, aos quais recorremos, para que nossos direitos, desrespeitados ou feridos por outrem, sejam devidamente reconhecidos, declarados e reparados, consoante a Legislação vigente.

DATENA: Estrela da Band, Datena é um dos mais bem remunerados da televisão



Estrela da Band, Datena é um dos mais bem remunerados da televisão
REVISTA VEJA SP

Apresentador ganha cerca de 1 milhão de reais por mês, coleciona relógios e está prestes a se mudar para uma mansão avaliada em 3 milhões de reais


João Batista Jr. | 13/04/2011


Datena: 'Se descem o pau em mim é porque incomodo e realizo um bom trabalho'

Mario Rodrigues

O efeito é imediato. Quando José Luiz Datena chega arrastando seu corpanzil de 1,83 metro e 114 quilos pelo estúdio de 90 metros quadrados onde apresenta diariamente o programa policial “Brasil Urgente”, na sede da Band, no Morumbi, a temperatura ambiente de 18 graus parece ficar ainda mais fria. Conhecido pelo temperamento explosivo, o maior astro da emissora, que aparece de terno chumbo, gravata de seda vinho e relógio e pulseiras cintilantes, provoca um clima de tensão.

+ Furos e caneladas de Datena
+ Datena rasga o verbo sobre algumas personalidades

Mario Rodrigues


Em ação no 'Brasil Urgente': programa é lider de audiência na emissora, que com ele tem um faturamento diário de 2,2 milhões de reais em publicidade

A equipe de oito pessoas faz silêncio enquanto ele conversa pelo ponto eletrônico com o editor-chefe, Simão Scholz. Às 16h45, quinze minutos antes de entrar no ar, Datena fica por dentro das reportagens do dia. “Essa entra, essa deixamos de lado”, determina à medida que recebe as informações. A vinheta da atração toca. É o aviso de que pelas próximas duas horas e vinte minutos o homem de voz possante vai falar sobre temas como congestionamento, enchente, roubo e assassinato.

O tom do discurso e o gestual do jornalista de 53 anos variam de acordo com sua irritabilidade e com os bordões que solta, muitas vezes com razão no que diz (“Os impostos neste país são uma vergonha” e “Onde estão os direitos humanos da vítima assassinada?” são alguns dos exemplos). Fala sem seguir roteiro e toma duas doses de café puro em um copo de plástico ao longo do programa. “Depois que assumi o horário, a audiência quintuplicou”, afirma, ao final do trabalho. Sob seu comando desde 2003, o “Brasil Urgente” se tornou a atração mais bem-sucedida da Band, com média de 6 pontos de ibope e picos de 10, o equivalente a 580.000 televisores ligados na Grande São Paulo.

Em sua jornada diária de doze horas de trabalho, o apresentador fica quase metade do tempo no ar. A primeira atração que comanda é o programa de rádio “Manhã Bandeirantes”, entre 10 horas e 11 e meia. Depois de um pequeno intervalo, já está na frente das TVs com o “SP Acontece”, das 13 horas às 14h15. Em todos esses momentos, consegue obter uma audiência acima da média, o que se reflete no faturamento de ambos: o dele e o da Band. Somente o “Brasil Urgente” rende uma receita de 2,2 milhões de reais por dia em publicidade.

Com essas credenciais, Datena é hoje um dos profissionais mais bem remunerados da TV brasileira. Entre salário e merchandising, estima-se que ele embolse 1 milhão de reais por mês. “Acho feio ostentar, por isso não falo em números”, avisa, para, em seguida, cair em contradição. “Recebo mais ou menos o que ganha o babaca do Galvão Bueno”, diz, com muita fineza. O narrador esportivo da Rede Globo também está na faixa de rendimento de 1 milhão de reais por mês.

Mario Rodrigues


Sala principal de sua casa, em Alphaville: quadros de Che Guevara e Jesus Cristo, entre uma série de objetos comprados na Praça Benedito Calixto, em Pinheiros

Embora seja um sucesso de público, Datena volta e meia leva umas espinafradas da imprensa. Na semana passada, por exemplo, ao se referir à série de catástrofes que vem assolando o planeta, o colunista José Simão, da “Folha de S.Paulo”, escreveu que “o mundo datenou”. O apresentador não acusa o golpe. “Tenho meu público, respeito os direitos humanos e as leis de Deus e não passo por cima de ninguém”, afirma. “Se descem o pau em mim, é porque incomodo e realizo um bom trabalho.”

Ele se esforça para fazer jus à fama de ser um dos jornalistas mais truculentos e encrenqueiros da cidade. Certa feita, cansado de ser interrompido pelo apresentador, um entrevistado virou as costas e o deixou falando sozinho no ar. Por causa de suas opiniões fortes, também já bateu de frente com uma série de figuras, como o ex-jogador Ronaldo (na opinião de Datena, ele não passa de “um puxa-saco da Globo”). Seu público vibra a cada uma dessas oportunidades. “Esse cara tem coragem de dizer o que a população pensa”, acredita Natalício Bezerra Silva, presidente do Sindicato dos Taxistas de São Paulo.

Mario Rodrigues

Quadro do artista catalão Isidro Cistaré: consumidor compulsivo

O estilo desbocado não rendeu apenas desafetos. De tempos em tempos, Datena consegue, em primeira mão, notícias exclusivas e relevantes, que repercutem em vários lugares. Em março de 2010, José Serra assumiu numa entrevista a ele que seria o candidato tucano a disputar a Presidência da República. Na semana passada, foi a vez de o técnico Muricy Ramalho escolhê-lo para dizer que vai comandar o Santos. “Ao contrário do Ratinho e do Gilberto Barros, que são uma espécie de animador de auditório, o apresentador tem experiência de três décadas como jornalista”, avalia Eugênio Bucci, autor de diversos livros sobre ética na imprensa. “Mas não podemos esquecer que a base de sua receita é o sensacionalismo puro.”

Filho de uma costureira de bola de capotão e de um segurança, Datena nasceu em uma família de classe média baixa de Ribeirão Preto (SP). Ainda jovem, arrumou um emprego em uma rádio e, aos poucos, seu vozeirão ganhou prestígio na região. Foi convidado para trabalhar como repórter da Globo local e, depois, migrou para fazer exclusivamente jornalismo esportivo, já na Band. “Ele sempre teve o dom da comunicação”, diz a dona de casa Matilde, sua mulher há 34 anos.


Mario Rodrigues


Bússola que indica a direção de Meca, Padre Cícero e fotografias antigas na cabeceira da cama

No fim da década de 80, a convite do atual ministro Antonio Palocci, colega e conterrâneo de Ribeirão Preto, filiou-se ao PT. A ideia dele era transformá-lo em candidato a vereador da cidade. Datena, porém, nem chegou a tentar. “Política não tem nada a ver comigo”, afirma. Mesmo na condição de repórter esportivo da Band entre 1990 e 1996, sua família vivia no aperto. Tentou seguir a carreira na Record, mas, dois anos depois da transferência, a emissora decidiu demitir seus quinze repórteres esportivos. Datena foi o único que escapou do corte, sendo reaproveitado no “Cidade Alerta”, um dos precursores do gênero “mundo cão” na TV. “Caí de gaiato na cobertura policial”, diz ele. Com menos de um ano no ar, virou um sucesso e passou a receber salário de 60.000 reais mensais.

Tal qual um jogador de futebol, seu primeiro investimento foi um carrão. No caso, uma Grand Cherokee branca. De lá para cá, Datena não parou mais de gastar. Estão estacionados em sua casa de 500 metros quadrados, em Alphaville — de onde vai se mudar dentro de dois meses para outra ainda maior, em um condomínio no Morumbi, avaliada em 3 milhões de reais —, dois Audis (Q7 e A8) e dois BMWs (X6 e 550i). Todos blindados.

Os relógios são outra obsessão. Datena tem uma coleção de cerca de cinquenta modelos, entre eles Rolex, Montblanc e Tag Heuer. Ele costuma fazer aquisições de forma compulsiva, assistindo aos canais de leilão em TV por assinatura. Quando acorda no meio da madrugada, desce até a sala principal da sua casa, decorada com imagens de Jesus Cristo e de Che Guevara, e começa a zapear as melhores ofertas. “Insônia é sinônimo de prejuízo”, admite. “Parcelado em dez vezes, um Rolex até que não fica tão caro.”


Mario Rodrigues


Em casa, à paisana: ele tatuou o nome de Cristo no antebraço depois de remover um tumor do pâncreas, em 2006

Volta e meia, quando algum amigo comenta que achou bonito o relógio que brilha em seu pulso, Datena arranca o acessório para dar de presente. “Já ganhei mais de vinte”, diz o amigo e jornalista Jorge Kajuru, conhecido por seus exageros. “Isso sem falar que ele pagou uma dívida minha de 700.000 reais.”

O estilo mão-aberta faz de Datena a alegria dos garçons dos restaurantes em que aparece. “Em média, ele deixa 200 ou 300 reais a quem o atende aqui no Jardim de Napoli”, conta Antonio Buonerba, dono do estabelecimento de Higienópolis. Mas o esquema é toma lá dá cá. Volta e meia, pede por telefone que lhe entreguem em casa — que fica a 23 quilômetros de distância — um prato de polpetone, o carro-chefe do restaurante.

Quando fala fora do ar sobre temas como a segurança pública, suas opiniões podem surpreender. Datena diz ser contra a pena de morte e acha que a questão da criminalidade somente será resolvida com o combate à miséria. Ele só não poupa o tráfico de drogas, um problema que provocou uma tragédia em sua família.

Durante um tempo, Vicente, um de seus cinco filhos, foi viciado em crack, mas se curou depois de um tratamento numa clínica de reabilitação. “Esse inferno acabou há dez anos”, diz o apresentador. “Foi a pior experiência da minha vida.” Hoje, Vicente tem um restaurante próprio em Goiânia. Com “ódio mortal” de traficantes, Datena admite ter provado cigarro de maconha em duas ocasiões, ainda na adolescência. “Detestei e não recomendo a ninguém.”

Os muitos anos de uma rotina estressante, aliados à falta de cuidados com a saúde, estão lhe cobrando um preço alto. Teve um tumor benigno removido do pâncreas em 2006 e convive com uma hérnia na barriga que precisa ser operada, além de sofrer de diabetes. Ele se aplica cinco doses diárias de insulina, no total de 88 mililitros, para controlar sua taxa de glicemia, de 350 miligramas por decilitro de sangue (o normal é entre 70 e 100). Também toma outros quinze remédios para controlar a pressão alta.

O lado bom de todo esse desconforto é ter abdicado de um estilo de vida desregrado. “Não bebo mais feito um doido e hoje sou completamente fiel à minha mulher”, diz. A maior reclamação de Datena é em relação à carga pesada de trabalho. “Não aguento mais apresentar o ‘Brasil Urgente’”, confessa. “Mas aqui na Band não me deixam fazer outra coisa”, finaliza ele, espécie de refém do próprio modelo policialesco que ajudou a criar. E, em contrapartida, o transformou em um encrenqueiro milionário.


O ENCRENQUEIRO MILIONÁRIO

IDADE: 53 anos
PESO: 114 quilos
ALTURA: 1,83 metro
NATURAL DE: Ribeirão Preto (SP)
FORMAÇÃO: fez três anos do curso de direito na Universidade de Ribeirão Preto, sem concluir
SALÁRIO: estimado em 1 milhão de reais por mês
IBOPE: seu programa "Brasil Urgente" é o de maior audiência da Band, com média de 6 pontos de ibope e picos de 10
JORNADA DE TRABALHO: doze horas diárias, das quais mais de cinco horas ao vivo, revezando-se entre rádio e TV
ESTADO CIVIL: é casado com a dona de casa Matilde há 34 anos. Eles ficaram separados entre 1986 e 1987. Nesse período, Datena morou com a jornalista Mirtes Wiermann
FILHOS: Joel, 33 anos, Vicente, 29, e Junior, 22 (filhos com Matilde), e Marcelo, 24, e Letícia, 23 (filhos com Mirtes)
NETOS: André Luís, 10 anos, Bárbara, 8, e Neto, 4, todos filhos de Joel
PROBLEMAS DE SAÚDE: removeu um tumor benigno do pâncreas em 2006. Sofre de pressão alta e diabetes — sua taxa de glicemia é de 350 miligramas por decilitro de sangue (o normal é entre 70 e 100)
VAIDADE: comprar relógios em leilões promovidos por canais de TV por assinatura. Tem mais de cinquenta modelos de marcas como Rolex, Montblanc e Breitling
CARROS: Q7 e A8, da Audi, X6 e 550i, da BMW
CASA: mora em uma casa de 500 metros quadrados em Alphaville, mas vai mudar-se daqui a dois meses para outra em um condomínio no Morumbi cujo valor estimado é de 3 milhões de reais. Tem propriedades em Goiânia, Florianópolis e Guarujá
RESTAURANTES PREDILETOS: Jardim de Napoli, Gero e Novilho de Prata
HOBBY: ler livros sagrados, como a "Bíblia", o "Alcorão" e a "Torá"

FERNANDA TORRES - Baco


Baco
FERNANDA TORRES
Revista Veja - RJ

Em março deste ano, antes de subir para a sacrossanta paz da Serra da Mantiqueira, passei na Lapa para conferir o Carnaval. A noite começou em frente ao Rival, com Leandra Leal comandando um bloco de rua estacionário nas portas do tradicional teatro, patrimônio de sua família. Em meio às centenas de foliões, um rapaz com barba rente e barriga protuberante se destacava entre os piratas e as colombinas. Com cachos de uvas pendurados nas orelhas e toga curta de um ombro só, o jovem Baco pairava entre os presentes tal qual a própria deidade. Vindo do Oriente e adotado pela Grécia como o lado B de Apolo, Dionísio, ou Baco, teria sido um dos primeiros deuses a encarnar em um mortal. Em meio à bacanal, alguém teria gritado: “Eu sou Dionísio!” — e acelerado o efeito catártico da celebração 

a gozos nunca antes experimentados. E não é que o carioca barrigudo de barba rala repetiu o ancestral gesto grego na sexta-feira profana da boemia da Lapa? Não teve para ninguém. Por mim, o Baco do Rival leva o caneco do ano em alegoria.
Saí da Rua Álvaro Alvim e fui consultar o oráculo da Orquestra Imperial, no Circo Voador. Atravessei o formigueiro humano do milagre da ressurreição do entorno dos Arcos a passos largos. Regina Casé diz que tem noção de que o tempo passa cada vez que olha as gigantescas palmeiras em frente ao Circo e lembra que foram plantadas por ela e pelos integrantes do Asdrúbal Trouxe o Trombone assim que Perfeito Fortuna transferiu sua lona do Arpoador para o Centro. A fúria orgiástica da plateia insistia em ignorar o fim do rito enquanto os exauridos músicos da Orquestra, em noite especialmente inspirada, pediam gentilmente para sair. Tomada, entoei aos berros: “Ó Terezinha! Ó Terezinha! É um barato a buzina do Chacrinha!” — e me virei para admirar o povo.
Foi quando tive a visão.
Um homem de seus 40 e tantos anos, todo em Lycra, ornado de cabo a rabo com collant azul-turquesa e shortinho vermelho, vinha escoltado por quatro garotas igualmente vestidas. O gorro e a barba, embora brancos, lembravam o Saci Pererê. Demorei um tempo para entender que era... o “Papai Smurf”! Gênio. Aplaudi a coragem do farrista e abandonei o recinto. Fui para casa quase ao amanhecer, feliz com a noitada e com a volta da doideira santa do Carnaval de rua carioca.
Mas por que esse assunto agora, mais de mês depois da orgia? Talvez porque o gaymado do Posto 9, do qual ouvi falar pela primeira vez nesta semana, tenha me feito lembrar da baderna carnavalesca e dos instintos incontroláveis abençoados por Dionísio. Nunca presenciei uma partida, mas uma amiga que mora em Ipanema diz que entre o Posto 8 e o 9 rola semanalmente um animado jogo de queimado entre machos-fêmeas que atendem por codinomes do tipo Elba, Chica da Silva e Daniela Mercury. A competição é acirrada, e, conforme as peruas, ou perus, se queimam, passam para a linha de trás ao som de: “Poderosa! Perigosa! Necessária!”. No fim, uma e apenas uma gloriosa colega vence a contenda sob protestos e aplausos. E por que lembro dessas fogosas criaturas após mencionar os desvarios de março? Talvez porque o deputado Jair Bolsonaro tenha me impressionado recentemente com sua sinceridade explícita e sua crença de que umas boas bordoadas endireitam o que nunca pediu para ser endireitado.
Torço para que o gaymado do Rio se transforme na próxima modalidade olímpica e para que Jair Bolsonaro se vista de Baco no próximo Carnaval.
Vai ver que quem endireita é ele.

IVAN ÂNGELO - A viagem do beijo


A viagem do beijo
IVAN ÂNGELO
Revista Veja SP



Gosto da ideia de que o beijo se espalhou pelo mundo na rota do cristianismo. A partir de costumes dos antigos judeus, gregos e romanos, costumes que se encontraram, se intercambiaram e se difundiram no Mediterrâneo, o beijo foi ganhando lentamente a Europa, a Ásia Menor, os mundos novos conquistados.

Os bárbaros europeus do leste e do norte, os aborígines do Atlântico Sul, do Índico e do Pacífico, os nativos das três Américas, os africanos — nenhum desses povos tinha o hábito do beijo, fosse como cumprimento social, fosse como gesto amoroso. A novidade espalhou-se por onde se espalharam a cultura mediterrânea e o cristianismo.

Ainda hoje há povos sem beijo: nossos índios do mato fechado (não os aculturados), os lepchas do Himalaia, pigmeus das ilhas ao sul da Índia, vietnamitas, somalianos, tribos de bantos da África Central, povos asiáticos nos escondidos do mundo — mas, aonde chegaram os costumes dos povos cristianizados, chegou o beijo.

Em diversas regiões do globo, havia agrados ligeiramente parecidos com o beijo, como cheiradinhas pelo rosto e esfregadinhas de nariz, não o boca a boca; lentamente, ele foi conquistando territórios cada vez mais longínquos.

No Japão, raros beijos em gravuras do século XIX mostram que os amantes mais escolados se beijavam entre quatro paredes de bambu, mas não havia o costume, e me garantem que os japoneses só ganharam uma palavra única para designar o beijo (kissu, que veio do inglês kiss) após a II Guerra Mundial e a ocupação americana. Nessa longa viagem pelo tempo e pela geografia, o beijo amoroso nunca teve, como agora, tanta liberdade e visibilidade. As artes e os meios visuais funcionaram como propaganda.

Não se busca mais o escondidinho próprio para o beijo, como eram o portão pouco iluminado das casas, a varanda, o carro, os bancos mais discretos da pracinha, o escurinho do cinema — porque os portões se tornaram grades de fortalezas, não há varandas senão para churrasco, carro parado em rua deserta é um perigo, praças foram tomadas por mendigos, cinema é para pipoca.

Não há lugares próprios justamente porque todo lugar se tornou próprio, e nada parece mais próprio hoje em dia do que as estações de bairro do metrô paulistano, ao anoitecer. Beija-se aí mais do que nos parques, acreditem. E não é que alguém esteja partindo, adeus, adeus, meu amor. Nada disso. É beijo bem beijado, de encontro marcado. As ruas tornaram-se perigosas; namorar ali é mais seguro.

Beijo é linguagem. Emite sinais diferentes em cada situação: amizade, respeito, submissão, interesse, compromisso, amor, licença para avançar, paixão, entrega, volúpia. Ultimamente, por estimular no organismo a produção de substâncias que provocam sensações agradáveis, o beijo entre os muito jovens tornou-se um fim em si mesmo. Basta beijar bastante, nem é preciso ir em frente.

Por que dizem que a mulher se lembra do primeiro beijo e o homem mal se lembra do último? Essa me vai parecendo uma ideia ultrapassada. É certo que ele era mais banal para os homens, porque as mulheres relacionavam os beijos ao amor e os homens os relacionavam à oportunidade. Em consequência, conseguiam beijar mais do que elas.

Eles inventaram o beijo roubado para atropelar a relutância romântica delas. Leis modernas transformaram em crime de assédio o beijo roubado, que enfeitou poemas, canções e folhetins de séculos passados. Na verdade, ele veio perdendo prestígio porque, também para elas, beijar se tornou uma questão de oportunidade. O beijo se libertou do amor.

Não me entendam mal. O beijo se libertou do amor, mas o amor não se liberta do beijo.

TUTTY VASQUES - Sabe a OEA?

Sabe a OEA?
TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/04/11

Juízo de valor sobre a tal hidrelétrica de Belo Monte absolutamente à parte, o governo brasileiro está fazendo tempestade em copo d"água com o pedido da Organização dos Estados Americanos para que suspenda imediatamente a licitação das obras de construção da usina, no Pará. Volta e meia, a OEA também ordena o fechamento da prisão de Guantánamo, e a Casa Branca está pouco se lixando pra isso. Ninguém dá ouvidos à entidade! Neste particular, aliás, Cuba segue à risca os EUA!

O que não tira da OEA o direito de exigir, por exemplo, a restituição imediata de Manuel Zelaya à presidência de Honduras ou a devolução das Ilhas Malvinas à Argentina. A Venezuela mantém um arquivo inteiro só com pedidos e condenações da organização ao presidente Hugo Chávez. De vez em quando, um alto funcionário da sede de Washington despacha um fax para o Haiti, determinando o fim da violência nas ruas de Porto Príncipe; ou para a Nicarágua, cobrando a retirada de tropas da fronteira com a Costa Rica. Já!

Justiça seja feita, a OEA leva sobre a ONU a vantagem de só andar meio desmoralizada nas Américas.

Quem não é?

De um torcedor do Santos, indignado com a expulsão de Neymar por causa da máscara do próprio rosto usada pelo jogador para comemorar um gol na Libertadores: "Se forem expulsar todos os mascarados do futebol brasileiro, só vai sobrar cabeça de bagre em campo!"

Fininho malpassado

O governador Tarso Genro ouviu dizer que fumar maconha é "muito saboroso". No Rio Grande do Sul, como se sabe, o que dá barato é churrasco.

Nada a ver

A interpretação de Lady Macbeth por Susana Vieira na série Lara com Z (todas as quintas, na TV Globo) não é nem de longe inspirada na experiência teatral de Marília Gabriela na pele da personagem. E não se fala mais nisso, ok? Tem gente querendo intrigar as louras!

Jogo de cena

A Corregedoria da Câmara dos Deputados notificou Jair Bolsonaro por acusação de racismo. Isso quer dizer o seguinte: nada, rigorosamente, nada!

Mal comparando

O pessoal que pegou conjuntivite reclama de barriga cheia! A situação é muito pior pra quem está com dengue.

Mal comparando

Dilma Rousseff desembarca nos próximos dias na China com uma certeza na bagagem: acostumados a lidar com Hillary Clinton, os anfitriões vão achá-la uma simpatia.

Racha tucano

O PSDB está de novo dividido! Metade quer dar o 1.º Prêmio FHC para José Serra. A outra metade acha que o ex-presidente vai ficar chateado com isso.

Vida que segue

Tem dias que até a gente que faz humor se sente! Quinta-feira foi um deles! Mas, porque hoje é sábado, vamos em frente!

ANCELMO GÓIS - Caixa fora da Copa


Caixa fora da Copa
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 09/04/11

Dilma vetou a aplicação de dinheiro da Caixa Econômica num fundo imobiliário que Odebrecht e Corinthians desejam constituir para a construção do estádio do clube, e da Copa, em São Paulo. A posição do governo não muda. Dinheiro da União só o do BNDES, por empréstimo. 

No mais...
O tempo passa, o tempo voa, e este novo estádio em São Paulo continua uma grande interrogação. 

Brasileirinho

O brasileirinho Igor Pereira dos Santos, 14 anos, morto pelo monstro da escola em Realengo, torcia pelo Flamengo, mas jogava futebol no Vasco. O presidente do clube, Roberto Dinamite, fará uma homenagem, hoje, no jogo contra a Cabofriense. Os jogadores entrarão
em campo com uma faixa. 

Bicho é inocente... Aliás, Sérgio Cabral, como se sabe, chamou de “animal” o assassino da escola de Realengo. Com todo o respeito, animais não têm tamanha crueldade. Só nós, humanos, somos capazes de barbaridade assim. 

Homofobia
Quarta, por volta de meianoite, a cantora Luen, a da canção “Coisa de menina”, conversava com um amigo na Rua Paul Redfern, em Ipanema, quando dois pitboys começaram a xingá- los de “sapatona” e “veado”. Luen pediu para eles pararem, mas tomou um soco. Em seguida, seu amigo também foi agredido. A cantora registrou queixa na 14a- DP, no Leblon, e fez exame de corpo de delito no IML.

Fora de hora
O convite para a festa de aniversário da atriz Antonia Fontenele, mulher do diretor Marcos Paulo, é ilustrado com a figura de um revólver calibre 38. O texto diz: “Você está intimado a comparecer...”

Nada de fotos hoje
O carioca que for hoje ao Municipal do Rio assistir a Keith Jarrett, o grande pianista de jazz, deve seguir à risca a ordem de não tirar fotos no concerto. Quarta, em São Paulo, Jarrett encurtou sua apresentação porque tiravam fotos na plateia. 

Foi assim...
Quando terminou de tocar, Jarrett voltou ao palco, aclamado por vários pedidos de bis, e apelou: 
— Se vocês quiserem fotografar, fotografem agora, mas, por favor, não enquanto eu estiver tocando.

Segue...
Como ainda assim espocou um flash quando tocava uma música de Cole Porter, o pianista desabafou: “Sei que a maioria não está fotografando, mas não vou mais tocar.” Sem fotos, num concerto recente em Nova York, Jarrett tocou seis músicas no bis.

Boca fechada
Cristiana Oliveira, a atriz que engordou 15kg para um papel na novela “Insensato coração”, da TV Globo, fechou a boca. Ontem, num café no Cittá América, na Barra, no Rio, não aceitou nada oferecido pelo garçom. Só tomou um cafezinho. 

Tijuca olímpica
Responsável por toda a parte cultural das Olimpíadas, a inglesa Ruth Mackenzie esteve ontem no barracão da Unidos da Tijuca. Conversou com o carnavalesco Paulo Barros e o diretor de carnaval, Ricardo Fernandes, sobre a participação da escola em eventos ligados aos Jogos de 2012. Foi discutida também a presença da Tijuca no carnaval londrino de Notting Hill em 2012. 

Troca no barracão
Roberto Szaniecki, ex-Mangueira e ex-Portela, é o novo carnavalesco da Porto da Pedra. 

Viva dona Carmen!
Maria Carmen Oliveira, a dona Carmen, secretária-geral da ABL, vai ganhar uma sala com seu nome. É a primeira homenagem do tipo na Casa a alguém que não é acadêmico.

Calma, gente

Quinta, por volta de 20h30m, uma briga de mulheres causou o maior auê num vagão do metrô na Estação Central, no Rio. Três moças se juntaram para bater numa outra que teria pisado no pé de uma delas. Entre gritos de “piranha”, “vaca” e “vagabunda”, houve socos, pontapés e puxões de cabelo. Uns homens separaram a briga.

RUTH DE AQUINO - O massacre dos brasileirinhos


O massacre dos brasileirinhos

RUTH DE AQUINO


REVISTA ÉPOCA
Época
RUTH DE AQUINO é colunista de ÉPOCA
raquino@edglobo.com.br
Achávamos o Brasil imune a chacinas escolares “do tipo americano”. Já encaramos tantos problemas tão nossos. Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, tinha lugar cativo na música brasileira. Foi imortalizada por “Aquele abraço”, uma das composições mais cantadas de Gilberto Gil. Ironicamente, a letra, feita no exílio da ditadura em 1969, começava com “O Rio de Janeiro continua lindo”. E o estribilho, “Alô, alô, Realengo, aquele abraço”, era um recado para o quartel em que Gil ficara preso.
Agora, nosso abraço sentido e solidário vai para uma outra Realengo, aturdida, que reza, enche de flores a rua, acende velas e doa as córneas das crianças mortas para tentar tocar a vida adiante.
Todos procuram na história do atirador, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, os motivos que o tornem único. Era muito mau, muito louco, um animal, um psicopata, um esquizofrênico e se matou. Logo, isso não voltará a acontecer. Certo? Errado. O que podemos fazer para tentar evitar novos massacres de brasileirinhos?
• As escolas precisam ter psicólogos que possam antever problemas com alguns alunos. Um dos depoimentos mais lúcidos foi de Bruno Linhares, ex-colega do atirador: “As escolas estão mal preparadas. O Wellington era completamente maluco. Na sala de aula, já era perceptível o distúrbio mental dele. Muito calado. Vivia agarrado com a pasta embaixo do braço e dava uns sorrisos estranhos. Um amigo um dia bateu no ombro dele e disse: ‘A gente tem medo de que você ainda vá matar muita gente’. Foi uma profecia. Deveriam chamar os pais dele, encaminhar ao psicólogo e ver qual a situação dele.” Psicólogos podem parecer luxo num sistema de ensino tão deficitário como o nosso. Mas, diante de tantos casos de violência entre alunos ou com os professores, não dá para ter quase 1.000 estudantes numa escola municipal sem uma assistência psicológica real, que funcione.
• A família deve prestar mais atenção ao comportamento dos meninos. “Há alguns padrões entre esses atiradores”, disse o psiquiatra Luiz Alberto Py. “Em todos, existe uma violência contida e armazenada durante anos até explodir. São crimes premeditados e tipicamente masculinos. O macho é mais dotado dessa busca de matar ou morrer. Para alguns, a juventude é um momento transtornado e confuso. O misticismo exagerado é outro indício preocupante. Na dúvida, a família deve procurar um psiquiatra, porque hoje há diversos medicamentos capazes de acalmar e diminuir a confusão mental.”
Achávamos o Brasil imune a chacinas escolares. O que podemos fazer agora para evitar novos massacres?
• Escolas precisam reforçar a segurança. Não dá para qualquer um entrar em salas de aula sem identificação. Nos Estados Unidos, depois do massacre de 15 alunos na escola de Columbine, em 1999, as escolas passaram a usar detectores de metais. Há quem ache essa medida radical ou paranoica diante de tragédias tão raras. Mas temos acompanhado inúmeras histórias de alunos, até mesmo em escolas de elite, que levam armas dos pais à sala de aula para mostrar aos amigos. Uma segurança maior contribui para evitar não só crimes premeditados, mas acidentes com armas de fogo.
• Infelizmente, a sociedade contribui para a glamourização da violência. É um exagero descomunal a quantidade de filmes violentos com tiros, degolas e estupros em horário nobre na TV. Fico pasmada com o investimento familiar maciço em jogos de computador cujo objetivo é matar ou morrer. Qual será o efeito em crianças e adolescentes?
• O Brasil não deveria se intimidar com os lobbies de armas. Temos de estudar seriamente a aprovação do Estatuto do Desarmamento. A elite colecionadora de armas detesta esse assunto. Wellington tinha em sua mochila 12 speed loaders, acessório para carregar os revólveres com rapidez, que pode ser comprado por qualquer pessoa em lojas de caça e pesca por até R$ 30. O Estado do Rio tem 581 mil armas ilegais, segundo levantamento do deputado estadual Marcelo Freixo, da CPI das Armas. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou nova campanha do governo pelo desarmamento: “Temos uma cruzada pela frente”.
Podemos não conseguir evitar chacinas semelhantes. Mas cruzar os braços me parece pior.

MARCELO ROCHA E DIEGO ESCOSTEGUY - O silêncio dos inocentes


O silêncio dos inocentes
MARCELO ROCHA E DIEGO ESCOSTEGUY
REVISTA ÉPOCA
Como entender a reação do governo Dilma a respeito das revelações do relatório da PF sobre o mensalão

No último sábado, a presidente Dilma Rousseff tirou a noite para ir ao teatro em Brasília. Assistiu ao monólogo A lua vem da Ásia, estrelado pelo ator Chico Diaz e baseado no romance do escritor Walter Campos de Carvalho, de quem a presidente é fã. Diaz incorpora Astrogildo, um louco que delira sobre os crimes que imagina ter feito ou, quem sabe, tenha mesmo chegado a fazer - mas que, sem saber ao certo nem o próprio nome, permanece preso às alucinações e às incertezas de sua mente doentia, metáfora surrealista do mundo contemporâneo que, para muitos, deixou de fazer qualquer sentido. Astrogildo recusa o absurdo do real, refugiando-se no conforto desatinado de sua alma à deriva. Dilma não poderia ter escolhido peça mais adequada para o momento. Com as revelações que vieram à luz na última edição de ÉPOCA, que envolveram um de seus principais ministros e boa parte de seu partido, a presidente viu-se diante de sua primeira crise política. Aparentemente confusa sobre como proceder em face do que aconteceu, ela parecia refugiar-se em seu próprio mundo, como Astrogildo. Escolheu a inação como tática.

A reportagem de ÉPOCA trouxe as provas do relatório final da Polícia Federal (PF) sobre o caso do mensalão, maior esquema de tráfico de influência e compra de apoio político já descoberto no Brasil. O demolidor documento era mantido até então sob estrito sigilo. Assim que seu teor veio a público, detonou-se em Brasília seu imenso potencial. Ao sair do teatro, Dilma foi questionada por repórteres se comentaria as novidades do relatório. Ela preferiu o silêncio - e deu ordem a seus ministros para que fizessem o mesmo. Ninguém ousou contrariá-la. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, cujo tesoureiro de campanha recebeu R$ 247 mil do valerioduto, mandou avisar que não se pronunciaria até ler o relatório. Nenhuma palavra também do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que já admitiu publicamente a existência do esquema. Cardozo, note-se, é o responsável pela PF. A divulgação do relatório deixou ambos em situação difícil. Pimentel se queimou. Cardozo arcará com os prejuízos causados aos governistas com a publicação do relatório.

Seria mesmo difícil para eles dizer algo sobre o documento da PF. Trata-se de uma peça irrefutável. Ao cabo de seis anos de investigações, o delegado Luís Flávio Zampronha e sua equipe conseguiram produzir provas conclusivas sobre o que restava confirmar acerca do valerioduto petista. A pedido do ministro Joaquim Barbosa, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, a equipe de Zampronha vasculhou as dezenas de contas bancárias pelas quais transitou o dinheiro do mensalão e tomou o depoimento de uma centena de testemunhas. Conforme relatou ÉPOCA, esse trabalho permitiu à PF corroborar tanto as apurações da CPI que investigou o escândalo quanto as investigações do Ministério Público Federal - além, é claro, das revelações publicadas pela imprensa no decorrer dos últimos anos. O relatório narra como os R$ 55 milhões que bancaram o mensalão vieram mesmo dos cofres públicos.

Como? Por meio dos contratos das empresas de Marcos Valério com o governo Lula, sobretudo o mais lucrativo deles, o da agência DNA com o Banco do Brasil, que rendeu R$ 68 milhões ao publicitário durante a administração petista. Valério superfaturava os serviços; em alguns casos, nem os prestava. O dinheiro "excedente", nas palavras da PF, passeava pelas contas do publicitário antes de ser entregue, limpinho, aos beneficiários da "organização criminosa". A PF qualificou esse dinheiro como "fonte primária" do mensalão. A fonte primária, ou o dinheiro de todos os brasileiros, foi parar nos bolsos de mais gente do que se pensava - e foi precisamente essa a novidade que mais incomodou o governo. Os peritos encontraram indícios de que vários políticos se envolveram, direta ou indiretamente, no esquema. O mais graduado é o ministro Pimentel. Rastreando o dinheiro desviado pela quadrilha, a PF chegou ao nome de Rodrigo Barroso Fernandes, tesoureiro da campanha vitoriosa de Pimentel à prefeitura de Belo Horizonte em 2004. Ele sacou um cheque de R$ 247 mil. Questionado pela PF, ficou em silêncio.

Houve os que não se calaram. Um deles foi o líder do governo no Senado, Romero Jucá. "Quero aqui repudiar todas essas informações. Não há meu nome no relatório", disse Jucá na tribuna do Senado. Ele tem razão. O relatório não cita seu nome, mas cita a empresa de seu irmão, Álvaro Jucá, que recebeu R$ 650 mil do esquema de Marcos Valério. Álvaro enviou à PF uma cópia do contrato de sua empresa com o Banco do Brasil e notas fiscais. Os federais, porém, não se convenceram com suas explicações. Caberá ao procurador-geral da República pedir mais investigações se julgar adequado.

Na categoria dos que abriram a boca, contudo, brilhou, como de hábito, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As investigações da PF confirmaram que Freud Godoy, segurança pessoal do ex-presidente e amigo de sua família, recebeu R$ 98 mil do valerioduto. Godoy admitiu à polícia que os recursos bancaram serviços prestados a Lula durante sua campanha à Presidência.

Depois de dar uma palestra nos Estados Unidos, paga pela Microsoft, Lula respondeu secamente aos questionamentos dos repórteres. Primeiro, disse que, "por não ser advogado", não leu o relatório. Nenhuma palavra sobre Freud. Ele prosseguiu: "Não tem relatório final do mensalão. Tem uma peça que dizem que foi o relatório produzido pela Polícia Federal. Mas não se sabe se o ministro Joaquim vai receber, se aquilo vai entrar nos autos do processo". Nenhuma palavra sobre Freud. E Lula arrematou: "Se entrar (o relatório final na ação penal do mensalão), todos os advogados de defesa vão pedir prazo para julgar. Então, vai ser julgado em 2050". Fim de peroração - e nenhuma palavra sobre Freud. Astrogildo, o louco que de tudo duvida e nada sabe, ficaria confuso com tanto silêncio. Ele poderia du-vidar do mensalão - mas, se não pode mais esperar pelo Ministério Público ou pela PF, talvez sua última esperança seja esperar por Godot.

CRISTIANE SEGATTO - A dor de Realengo


A dor de Realengo

CRISTIANE SEGATTO

REVISTA ÉPOCA


O Facebook ajuda ou atrapalha na superação do trauma?
  Reprodução
CRISTIANE SEGATTO 
Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 15 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo. Para falar com ela, o e-mail de contato écristianes@edglobo.com.br
Nenhum outro assunto nos mobiliza tanto nesses dias tristes quanto a tragédia de Realengo. Nos perguntamos por que um ex-aluno entrou armado numa escola municipal, matou 12 adolescentes, feriu outros 12 e se matou. Nos solidarizamos com a dor das famílias e nos perguntamos como o horror poderia ter sido evitado. Nesse momento de grande comoção, não posso fugir do assunto.
Não vou, porém, cair na tentação de tentar traçar o perfil psicológico do assassino Wellington Menezes de Oliveira, um rapaz aparentemente atormentado de 23 anos. Quem sou eu para tentar entrar na mente de quem quer que seja? Quem são os psiquiatras e outros "especialistas" que se apressam a apresentar na TV diagnósticos baseados em informações pífias e desencontradas?
Relatos de vizinhos e parentes não bastam para revelar os sentimentos mais íntimos de Wellington. A mente é um domínio sinuoso, feito de luz e sombra. É cheia de cantinhos inacessíveis até mesmo aos psicólogos e psiquiatras que acompanham um paciente por um longo período. Esses cantinhos, muitas vezes, estão fora do alcance da própria pessoa. São como uma teia de aranha que cresce atrás de um armário antigo. A vassoura não a alcança, mas ela está lá, avançando. Só se torna visível quando já é grande o suficiente para incomodar.
Não pretendo fazer a defesa de Wellington, mas chamá-lo de facínora e colocar uma pedra sobre esse caso não evitará que a história se repita. É preciso refletir sobre o que é possível fazer para identificar o sofrimento mental precocemente e tratá-lo antes que o sangue de outras vítimas seja derramado. A atenção à saúde mental no Brasil é tão ruim que, sinto dizer, veremos esse filme muitas outras vezes.
O que é possível fazer, agora, para reduzir o impacto da crueldade de Realengo? Como ajudar as famílias que perderam seus filhos e as crianças que sobreviveram a superar esse trauma? Como explicar uma história dessas a qualquer outra criança que, um dia depois de exposta às imagens de horror, terá que pegar sua mochila e entrar numa escola em qualquer lugar do Brasil?
Acho que o mais produtivo e útil, nesse momento, é entender o que ajuda e o que atrapalha a superar o chamado stress pós-traumático. Ele é decorrente de um trauma emocional de grandes magnitudes, como guerras, catástrofes naturais, massacres etc. Quem sofre disso revive o trauma por meio de sonhos e pensamentos; evita situações que o façam reviver o episódio; sente medo; apresenta sensações físicas de desconforto e ansiedade. O tratamento costuma ser feito por psicólogos, por meio de técnicas de apoio e encorajamento. Muitas vezes o tratamento requer medicações e acompanhamento de psiquiatras.
Uma forma de contribuir, nesse momento, é relatar experiências de quem já passou por situações semelhantes. Muita dessa experiência está concentrada nos Estados Unidos, onde ocorreram vários ataques a escolas e universidades nos últimos anos
Procurei a psicóloga Amanda M. Vicary, da Universidade de Illinois. Ela resolveu pesquisar se as mensagens instantâneas enviadas pela internet e as redes sociais (em especial, o Facebook) contribuíram ou não para aplacar o sofrimento de alunos depois dos ataques ocorridos no campus de Virginia Tech e da Northern Illinois University, em 2007.
No primeiro ataque, um rapaz matou 25 estudantes e cinco funcionários e se suicidou. Um vídeo deixado por ele comprovou a premeditação do crime. Alguns meses depois, algo semelhante aconteceu no Dia dos Namorados, na Northern Illinois University. Um ex-aluno matou cinco estudantes e deixou 18 feridos.
Minutos depois dos dois ataques, os alunos encontraram um meio rápido e acessível para expressar a dor e a confusão: o Facebook. No dia do primeiro ataque, um estudante criou um grupo chamado "Um tributo aos mortos de Virginia Tech". Até o final da noite, mais de 100 mil pessoas haviam se juntado a ele. O mesmo aconteceu na outra universidade.
A imprensa, em especial o New York Times e o Washington Post, especulou que esse comportamento traria mais prejuízos do que benefícios. A tese era a de que o processo de superação seria prejudicado porque os envolvidos estavam fixados no assunto. Não conseguiam pensar ou falar sobre outra coisa.
Amanda decidiu investigar. Selecionou perfis mantidos no Facebook por 1,8 mil alunos das duas instituições e enviou a eles formulários da pesquisa acadêmica que realizava. Desse total, 124 estudantes da Virginia Tech e mais 160 da outra universidade aceitaram participar. Amanda descobriu que 71% dos participantes tinham importantes sinais de depressão duas semanas depois dos ataques. Sintomas de stress pós-traumático foram observados em 64%.
Os voluntários tinham, em média, 21 anos. Na rede social, participavam ativamente dos grupos criados para lembrar a tragédia. Um terço conhecia pessoalmente uma das vítimas. Mais de 80% conhecia alguém que era amigo de uma das vítimas.
Oito semanas depois dos ataques, Amanda testou a condição mental dos mesmos voluntários. O índice de deprimidos havia caído de 71% para 30%. O grupo com sinais de stress pós-traumático havia sido reduzido de 64% para 22%.
Ao contrário do que a imprensa dizia, o Facebook fez bem? Não exatamente. Ao analisar o tempo de uso da rede social, o tipo de mensagem postada e outros parâmetros, a psicóloga não encontrou nenhuma relação entre o Facebook e a recuperação dos alunos. "O Facebook não ajudou nem atrapalhou", disse Amanda a ÉPOCA. "Muitos estudantes disseram se sentir melhor depois de falar sobre o assunto na rede, mas os sintomas deles não melhoraram. Entre os que apresentaram recuperação, não foi possível associá-la ao uso da rede", afirmou.
Há algumas possíveis explicações para a discrepância entre a sensação de alívio relatada pelos alunos e a real condição psíquica deles:
1) É possível que os alunos tenham se sentido bem logo depois de usar a internet, mas esse efeito não tenha durado mais do que poucos minutos.
2) Talvez os alunos tenham observado uma pequena melhoria depois de algumas atividades on-line, mas essa melhoria não tenha sido forte o suficiente para influenciar na redução dos sintomas.
3) Quando uma pessoa espera que uma medida ou um tratamento seja benéfico, essa expectativa é capaz de produzir sensações de melhoria. É o conhecido "efeito placebo".
Pessoalmente, acho que falar é sempre melhor do que guardar. O ideal é poder falar sobre a dor, a insegurança, a culpa, a fantasia com quem é capaz de ouvir sem fazer julgamentos. Se essa pessoa não está ao alcance da mão, talvez compartilhar pensamentos pelas redes sociais traga algum alívio. Ainda que essa sensação seja enganosa e passageira. Hoje é um daqueles dias em que até o Facebook parece acanhado diante da dor de Realengo.
O que você acha? As redes sociais ajudam ou atrapalham na superação de traumas? O que é preciso fazer para reduzir a dor das famílias de Realengo e do Brasil?