terça-feira, julho 24, 2012

Padrinhos mágicos? - VERA MAGALHÃES

FOLHA DE SP - 24/07


SÃO PAULO - José Serra e Fernando Haddad vivem, no momento, situações opostas quanto à influência e ao modo de usar seus principais apoiadores na campanha.

O petista gostaria de contar com doses mais regulares e substanciais de "vitamina L", de Lula, para começar a superar a tibieza de seus 7% de intenção de votos. Mas não está claro em que medida o ex-presidente, ainda em recuperação depois do tratamento de câncer, poderá ser uma presença constante e vigorosa ao seu lado no palanque e na TV.

Dilma Rousseff, que tem menor poder de catapultar votos em São Paulo do que Lula, também ainda não definiu de que forma ajudará. Se em Belo Horizonte sua participação será grande, na eleição paulistana ela não poderá ser incisiva no apoio ao petista para não melindrar o vice-presidente, Michel Temer, e seu candidato, Gabriel Chalita (PMDB).

Serra enfrenta outro dilema. Na liderança com 30% das intenções de votos, segundo o Datafolha, a prudência mandaria não colar muito sua imagem à do prefeito Gilberto Kassab -antes afilhado que padrinho do tucano, mas que agora exerce influência na campanha e tem a máquina municipal sob seus cuidados.

Mas ainda que 72% dos entrevistados do Datafolha digam que não votariam em um candidato apoiado pelo prefeito, a intenção do QG serrista, por ora, é mostrar obras da gestão e prometer "avançar mais".

A aposta da campanha tucana é que, graças ao maior tempo de TV que os rivais, a propaganda ajudará a elevar a avaliação do prefeito. O problema é que a expectativa inicial dos serristas era que, na largada da TV, Kassab já estivesse em recuperação, com 40% de "ótimo/bom", o dobro do detectado pelo Datafolha.

Se o tucano ainda pode vir a optar por uma campanha descolada de Kassab, pois é o dono dos próprios votos, para o novato petista, cuja "lulodependência" torna a ida ao segundo turno incerta, essa possibilidade está simplesmente descartada.

Notícias da CPI - DORA KRAMER


O Estado de S. Paulo - 24/07



No balanço que fez dos primeiros três meses de trabalho da CPI que apura a rede de ilegalidades envolvendo um operador de jogatina, políticos, governantes e obras públicas, o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo, ficou no feijão com arroz.

Negou a inegável influência do embate partidário, apresentou informações irrelevantes - como a quantidade de sessões realizadas, de pessoas ouvidas e testemunhas caladas -, mas deixou de falar sobre o papel que a comissão teve na divulgação de fatos que, sem a repercussão própria do foro político, hoje seriam de conhecimento exclusivo da política e da Justiça e provavelmente não teriam gerado consequência alguma.

Não havendo CPI seriam grandes as chances de Demóstenes Torres ser ainda senador, de Carlos Cachoeira ter saído da cadeia por meio de habeas corpus e de a construtora Delta ter sido vendida a um frigorífico com participação do BNDES.

Foi só quando se começou a falar em quebra dos sigilos da Delta que a J&F, controladora do frigorífico JBS, desistiu de comprar a empreiteira e o banco oficial recuou do negócio.

A necessidade de Cachoeira continuar preso também se impôs diante das evidências sobre a capacidade dele de obstruir as investigações.

Quem ainda estaria prestando atenção ao caso se a única matéria-prima fossem os inquéritos da Polícia Federal? Quantos senadores não poderiam ter se valido do voto secreto no plenário para absolver Demóstenes se não estivesse aberta uma tribuna permanente de reverberação política?

Por essas e várias outras, entre as quais uma venda de imóvel cuja conta não fecha envolvendo um governador de Estado, não é certo reduzir a CPI a palco de testemunhas silentes e picuinhas entre PT e PSDB embora estejam presentes na composição do cenário.

Descontadas as manobras de percurso, houve consequências importantes. Desvendaram-se algumas das razões pelas quais uma empreiteira sai do zero e em dez anos torna-se a 6.ª no ranking nacional, revelou-se como partidos se movimentam no jogo de proteções e condenações, além de se contar a maneira pela qual um ex-presidente da República tenta manipular um instrumento de fiscalização do Congresso para ações de vingança.

A primeira fase não foi, portanto, improdutiva. Agora em agosto inicia-se a segunda etapa, os três meses finais em que as coisas podem se complicar, justamente porque a CPI tende a ficar em segundo plano na vista do público – o corretor de rumos mais eficiente –, dividindo as atenções com o julgamento do mensalão e as campanhas eleitorais.

O cruzamento de dados prossegue no recesso e a troca de informações entre o Congresso, a polícia e a Justiça também.

Há fios que começam a ser puxados, mas a dúvida é se as injunções partidárias permitirão que sejam desenroladas as meadas até o fim. Dois deles ainda em fase de investigação: a associação de parlamentares com Carlos Cachoeira em negócios no exterior e os detalhes de uma casa num condomínio de luxo em Angra dos Reis (RJ).

Se confirmadas as suspeitas em torno das quais se movimenta a polícia, ao menos um candidato a prefeito de capital e um governador tomarão conta da cena, levando a CPI a caminhos ainda não navegados.

Caso não sejam consistentes, o roteiro combinado antes do recesso prossegue com a previsão da divulgação de um relatório parcial poucos dias antes da eleição de outubro, cujo conteúdo desenhará à sociedade um esboço da matriz criminosa de um sistema que, aplicado à Região Centro-Oeste, dá pistas sobre métodos adotados em todo o país.

A ideia de pôr o relatório parcial em votação pouco antes da eleição é obrigar os parlamentares a comparecerem. Pela mesma razão que a CPI na condição de foro político deu repercussão a fatos que provavelmente cairiam no vazio se mantidos na posse exclusiva da polícia e da Justiça: o saudável receio da opinião do público.

Assim ocorreu com o impeachment de Fernando Collor, votado em 29 de setembro do ano eleitoral de 1992.

Sem massa na rua - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 24/07

A expectativa de petistas que integram o governo Dilma é que o PT não promova nenhum tipo de manifestação pública durante o julgamento do mensalão. Consideram que iniciativas deste tipo, em favor dos réus petistas, são de "extrema burrice" e só vão contribuir para "acirrar" os ânimos da sociedade organizada. Dizem que esses atos não mudariam muita coisa e se chocariam com o desejo dos réus, de um julgamento técnico em vez de um veredito político.

Padilha: pop star da TV do PT
O ministro Alexandre Padilha (Saúde) é o campeão de pedidos de depoimento para os candidatos petistas às prefeituras. Depois, a preferência é por Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), que está sendo apresentado como uma espécie de porta-voz do ex-presidente Lula, já que este será parcimonioso nas gravações. A presidente Dilma, sob o argumento de que não quer atritos com sua base parlamentar, tem se esquivado de gravar a maioria dos depoimentos que lhe pedem. Ela rejeitou, inclusive, proposta feita pelo PT para instalar um miniestúdio, no Palácio da Alvorada, para que ela pudesse gravar sem sair de casa.

"Vamos criar o grevômetro. Ele vai medir quantos servidores públicos estão em greve, quais categorias, quanto tempo estão parados, e quais os prejuízos na prestação de serviços à população e ao contribuinte” — Bruno Araújo, líder do PSDB na Câmara

VAPT VUPT. O ministro Aloizio Mercadante (Educação) embarca hoje com a presidente Dilma para Londres, mas, por causa da greve dos professores universitários, retorna em voo de carreira na noite de quinta-feira. Ele vai assinar convênio com o Museu de Ciências inglês com o objetivo de criar museus similares em cada uma das capitais que sediar jogos na Copa de 2014. O impasse nas negociações salariais fez com que o ministro não participasse da abertura da SBPC, em São Luís.

Comando de greve
O Sindifisco informa: no mês de junho, foram analisados menos de 30% dos processos de lançamento de tributos, em relação a 2011. Nos primeiros dez dias deste mês, caiu em 375 o número de fiscalizações realizadas pelos auditores.

Nova tática
Policiais federais e diplomatas que chegaram a entrar em greve decidiram recuar diante das negativas de reajuste. Estão negociando benefícios indiretos e condições de trabalho nos ministérios de Relações Exteriores e da Justiça.

Abrindo as portas para Chávez
A próxima reunião do Mercosul, na terça-feira (31), será realizada no gabinete presidencial no Palácio do Planalto. Falarão na cerimônia de ingresso da Venezuela no Mercosul o presidente Hugo Chávez e a presidente Dilma. No final, Dilma, Chávez, mais os presidentes José Mujica (Uruguai) e Cristina Kirchner (Argentina), criam um grupo de trabalho, com prazo até dezembro, para definir datas e prazos para adesão da Venezuela aos acordos de livre comércio e quais os produtos e áreas em que haverá exceção.

Na mira da CPI
Os integrantes da CPI estão notificando o Banco Central sobre a atuação dos bancos no fornecimento de informações do grupo do contraventor Carlos Cachoeira. As maiores queixas vão para o BDN, o Pactual, o Alfa e o BRB (Brasília).

Agilidade
A direção da CPI está elogiando a rapidez e a precisão dos dados enviados por Receita Federal, Coaf, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Itaú. O HSBC já enviou quase todas as informações e o Bradesco está pedindo mais prazo.

O PRESIDENTE do STF, ministro Ayres Britto, relatou aos pares que a presidente Dilma lhe disse que não há espaço para dar aumento à magistratura.

O PSD realiza hoje, em Brasília, a primeira reunião de sua Executiva Nacional depois que o STF decidiu que o partido terá direito a tempo de televisão nas eleições municipais e que receberá recursos do Fundo Partidário. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, presidirá o encontro.

CHAMANDO a atenção de todos os partidos o desempenho do candidato do PRB à prefeitura de São Paulo. Celso Russomanno tem 27% no Datafolha. A pergunta que fazem: para quem vai migrar esta intenção de voto.

Sem furar a fila - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 24/07


Os advogados dos réus do mensalão estudam apresentar questão de ordem contra a possibilidade de o ministro Cesar Peluzo proferir seu voto antes de se aposentar, em 3 de setembro, passando à frente de quatro ministros. Caso vote após o relator e o revisor e deixe o STF, Peluzo não ouvirá os argumentos de sete colegas. Um ministro pode rever seu voto até o final, mas o do ex-presidente da Corte seria imutável, o que cercearia o amplo contraditório, dizem os advogados.

Deixa Outra das chicanas na mira dos defensores dos réus, a de arguir de novo a tese do desmembramento do processo, ganhou fôlego depois que o ministro Marco Aurélio Mello concedeu entrevista dizendo que seria necessário discutir o tema.

Quarentena José Dirceu não irá ao seminário sobre o Molipo (Movimento de Libertação Popular), organização à qual pertenceu na época da ditadura. Embora quisesse participar, o ex-ministro foi orientado por advogados e assessores a evitar polêmicas no fim de semana anterior ao início do julgamento.

Marcação Aloizio Mercadante (Educação) está na comitiva que viaja com Dilma Rousseff hoje para Londres, mas voltará antes da abertura das Olimpíadas, após fechar acordos na área científica. Motivo: evitar desgaste das "férias" em plena greve nas universidades federais.

Patente Procurador-geral de Justiça de São Paulo, Márcio Elias Rosa pediu ontem apoio dos comandantes da PM do país, reunidos na capital, contra a PEC 37, que limita o poder de investigação do Ministério Público. O conselho decide hoje seu posicionamento no caso.

Antes não tinha Criticado pela falta de democracia interna no PSD, Gilberto Kassab mandou ontem telegrama para dirigentes do partido convocando para hoje reunião da Executiva Nacional, a segunda em um ano.

Fim de férias Em sua volta do recesso para recuperação de saúde, Lula chamou a atenção dos petistas pelo nível de detalhamento com que quis saber como ficou o mapa eleitoral do país.

No detalhe "Estamos com a Vanessa Graziotin em Manaus?"; "Fechamos com o PC do B em Florianópolis?", inquiriu Lula, que pediu uma lista de todas as cidades importantes em que seu partido estava coligado com siglas da base de Dilma Rousseff, na cabeça de chapa ou na vice.

Dobradinha 1 José Serra instalou integrantes do governo paulista nos 17 grupos temáticos que redigem sua plataforma eleitoral. Secretários, adjuntos e chefes de gabinete da gestão Geraldo Alckmin divulgarão programas e obras executados em parceria com o Bandeirantes.

Dobradinha 2 Citada por Serra em sua pedalada pela zona leste, a produção de bicicletas de bambu na rede municipal de ensino ganhou destaque na propaganda oficial de Gilberto Kassab. O site da prefeitura exibia ontem texto que enaltecia a iniciativa da Secretaria de Educação, então sob comando do vice Alexandre Schneider.

Coelhos Tucanos que relativizam o crescimento de Celso Russomanno (PRB) lembram fenômenos similares em 96 e 2004, respectivamente com Francisco Rossi (PDT) e Paulo Maluf, então no PPB. Com discurso calibrado para o eleitorado conservador, detinham mais de 20% em julho e chegaram ao pleito com metade do índice.

Visita à Folha Luiz Fernando Veiga, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers, visitou ontem a Folha. Estava com Anaísa Silva e Mirella Gutierrez, assessoras de imprensa.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Em vez de festejar a isenção na cesta básica, o PT lamenta, pois a intenção do partido era propagandear algo que não sairia do papel."

DO LÍDER DO PSDB NA CÂMARA, BRUNO ARAÚJO (PE), sobre petistas acusarem os deputados tucanos de "clonagem" de emenda aprovada à MP do Brasil Maior.

contraponto

Sabe com quem está falando?

Após chamar apoiadores para passeio de bicicleta, anteontem, o líder do PSDB na Câmara paulistana, Floriano Pesaro, foi barrado por sete seguranças quando chegava ao Parque Villa Lobos. O chefe da equipe alertou:

-O senhor não pode entrar. Temos ordem de proibir campanha eleitoral aqui!

O tucano afirmou que a lei permite circulação com camiseta e adesivos, só veda a distribuição material.

Depois de uma hora de discussão, apelou ao secretário Bruno Covas (Meio Ambiente), que dirige o parque. Com a intervenção do aliado, sua entrada foi liberada.

Voo de galinha - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 24/07


BRASÍLIA - Há três dados do Datafolha sobre a eleição em São Paulo que merecem um olhar bem atento, inclusive porque pesquisas, a esta altura do campeonato, têm menos conclusões e mais projeções.

Primeiro dado: sem a apresentação de nomes, 61% dos entrevistados ainda não têm candidato.

Segundo: Celso Russomanno (PRB), tecnicamente empatado com o favorito José Serra (PSDB), é o mais citado entre os simpatizantes do PT.

Terceiro: Fernando Haddad (PT) está pior entre os mais pobres e os menos escolarizados -que ainda não sabem quem são os candidatos e os seus padrinhos.

Como diz Mauro Paulino, do Datafolha, à medida que souberem quem é quem na campanha, os simpatizantes petistas tenderão a migrar de Russomanno para Haddad, candidato de Lula e Dilma. É provável que os pobres e menos escolarizados preferissem Marta Suplicy, mas, se ela não ajuda, não pode atrapalhar o petista.

O momento-chave para a definição da eleição é o horário gratuito na TV e no rádio, mas não só. Contam também debates, entrevistas, reportagens e estruturas de campanha. Serra tem Alckmin, Haddad tem Lula, e ambos dispõem de partidos consolidados, marqueteiros muito experientes e um leque maior de alianças, além de cerca de sete minutos cada um na TV.

Há, porém, uma incógnita: o desempenho do candidato. Russomanno tem condições objetivas bem mais desfavoráveis e terá só dois minutos, mas a TV é seu ponto forte.

Serra tem de reduzir seu alto índice de rejeição, Haddad precisa ser conhecido e colado à imagem de Lula e Russomanno tem o desafio de traduzir para a política o seu sucesso no programa "Aqui, Agora". Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Senão, seu segundo lugar será um "voo de galinha" -acaba rápido.

A boa aposta, até pelo precedente das três últimas eleições, ainda é um segundo turno entre PSDB e PT.

O Coringa está em toda parte - ARNALDO JABOR


O Estado de S.Paulo - 24/07


Vamos ao cinema em busca de ilusões. Só que, de repente, sai da tela a realidade, como uma pavorosa 'rosa púrpura de sangue'!

"Armas na mão e balas nas cabeças" foi o slogan dessa noite terrível. Como se o assassino dissesse: "Eu não sou vocês; eu sou eles! Eu sou o Coringa".

Esse cara é louco de pedra, sem dúvida; mas, quem dá conteúdo à sua loucura? É óbvio que são as cenas de morte cruelmente sofisticadas e sádicas do cinema americano, as mesmas dos filmes-catástrofe, os 'Godzillas' que inspiraram o 11 de Setembro do Osama. Sempre me espantei com o prazer que tem o cinema americano de destruir Nova York; mesmo depois do Osama, continuam a destruir a cidade. Por que isso? Tirando as comédias românticas ridículas e os desenhos animados, só se vê morte nos filmes. E não é a violência literal que provoca esses assassinatos. Não; é justamente a tranquilidade com que a violência é exibida, a displicência com que fuzilamentos e punhaladas se transformaram em um bailado ritual quase erótico. A violência ficou fria, 'deliciosa' de ver.

E quem fornece as armas? Ora, é óbvio que é o comércio incontrolável de máquinas mortíferas, que ninguém consegue coibir. São 200 milhões de armas legalizadas na América. Assim:

"Boa tarde... eu queria uma metralhadora israelense, um Kalashnicov bacana, talvez o AK47, e aquela granadinha ali... por favor"... "Tudo bem, aqui está - quer mais munição?"

E, assim, o "cavaleiro das trevas ressurgiu", o homem morcego se vingou de seus antigos protegidos. É claro que não são as cenas pontuais de sangue que influenciam os loucos, mas a violência implícita no país, direito constitucional de pistoleiros e caubóis. Eu já morei lá, ia a uma escola como Columbine e vi de perto a cultura da porrada.

Ele quis massacrar nosso mundo de voyeurs. Ele quis mais, além de "olhar". Ele quis "ser". Quis que participássemos do filme de ação, queria partilhar conosco a loucura humana, num ato que mostra que a saúde, a razão moral, a compaixão são partes de um intrincado painel de delírios, uma pequena ilha num arquipélago de insanidades, quis mostrar que o 'humano' é definido por nossa agressividade milenar. É incrível que muita gente negue a influência do cinema nos assassinatos (sem contar o cotidiano guerreiro dos homens-bomba, dos genocídios nos países pobres e da crueldade dos ricos). No cinema, já estamos tão acostumados com o massacre colorido, que nem percebemos o absurdo. Quando o Código Hays da terrível censura careta dos anos 30 foi extinto em Hollywood, a sexualidade continuou ausente dos filmes. Só floresceu a brutalidade total, o substitutivo puritano para o sexo.

Por que ele matou espectadores e não compradores de supermercado? Por que matou os que sonhavam no escuro? Queria experimentar o inominável, o crime impensável? Queria outro tipo de cinema? Ele foi um documentarista. Foi contra a ficção - queria um "cinema-verdade". Poderia ter atirado na tela, matando o filme. Mas atirou nos passivos voyeurs da crueldade alheia. É como se dissesse: "Não se brinca com a morte, nem Batman nem ninguém nos livra da morte com catarses purificadoras, pois um dia ela chega". Um dia, o Coringa chega, pois ele está em toda parte. É só ligar a TV e olhar a Síria; Assad é um Coringa, Putin, também. Todo louco tem fome de realidade e, nisso, a morte tem uma grande serventia: ela é brutamente palpável, concreta, nega todo discurso.

Ele não se suicidou, como tantos. Não. Creio que ele, mesmo louco, queria aparecer, ser preso mesmo. No crime americano, o assassino quer ser reconhecido como sujeito. Lembro-me do garoto de In Cold Blood (A Sangue Frio), de Truman Capote, que tinha pronto um discurso para o dia em que ganhasse o Oscar; um discurso modesto, emocionado, que ele ensaiava diante do espelho.

Fiquei mesmo fascinado com as armadilhas que ele deixou no apartamento para a polícia; ele estava montando um filme em que ele era o roteirista e protagonista.

Talvez sua mensagem seja de que nada se explica, que não valemos nada, que nem no escuro, comendo pipocas, estamos a salvo.

Ele queria provar que o neocrime não é mais o contrário do Bem. Como um Mallarmé (Le Mal-Armé - perdão, lacanianos!...), ele ensinou que nosso pobre "jogo de dados não vai abolir o Acaso jamais"; um acaso sangrento pode surgir e nossa morte não é mais sagrada.

Os jornais perguntam sem parar: por quê? Mas toda semana há uma chacina nas periferias e ninguém pergunta nada. E tanto ele quanto aquele Matheus que fuzilou no cinema em São Paulo, durante o Clube da Luta, queriam silenciar os discursos do "bem" e do "mal". Queriam ir além deste velho maniqueísmo. Como disse um menino da Febem que decapitou um colega: "Desci o machado na garganta dele e, aí, já era!..." Ou seja, não houve nada; apenas uma decapitação. Para o assassino não houve nada no cinema; apenas um filme mais realista e violento. Esse neocrime é uma terceira coisa: é o mal banal. Chama-se de "mal" por falta de outro nome. É o crime do novo milênio, prefigurando a frieza dos extermínios que virão. Esses criminosos contemporâneos falam uma verdade que teimamos em ignorar em nosso humanismo fracassado: a tragédia quente está superada, está out; só nos resta a tragédia fria, como uma 'solução final' que não emociona mais. No mundo bárbaro e tecnizado há centenas de milhões de mortos-vivos pela fome. Os extermínios vão virar uma prática social, para regular o mercado de excedentes. Em vez de queimar produtos, queimarão consumidores. O fim da tragédia já aconteceu. A sobrevivência moderna precisa do crime. Contemplamos a miséria cotidiana com a mesma frieza com que o cara fez sua rosa de sangue. Esse louco sorridente queria mesmo nos chocar, nos acordar de um sono frio.

A transparência opaca - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 24/07


O Brasil exportador de armas está envolvido em monstruosidades que finge condenar



A PRESIDENTE Dilma Rousseff está sob o risco iminente de perder o direito moral de cobrar transparência, como princípio e exigência do seu governo, a quem quer que seja. O Brasil faz uso, neste momento, de uma falácia primária para opor-se, em reunião da ONU, a um acordo que estabeleça transparência nas exportações de armas.

A política externa proclamada pelo governo, e fiel ao que se entende como índole brasileira, é contrária a confrontos armados entre nações ou como solução de dissensões internas. Logo, não pode favorecer a realidade de que a busca dos altos lucros da exportação sigilosa de armas, além de ser o sustentáculo de ditaduras sanguinárias, está na raiz das matanças de populações civis, condenadas pelo Brasil -na europeia Bósnia, no Oriente Médio, nas infindáveis guerras da África, na Ásia, agora mesmo na Síria.

O argumento do governo brasileiro na reunião da ONU, destinada a tentar um Tratado sobre Comércio de Armas, foi transcrito, no essencial, pelo repórter Rubens Valente (Folha de domingo): a transparência das exportações de armas "poderia expor os recursos e a capacidade dos países [...] de sustentar um conflito prolongado".

Mas a capacidade bélica de um país depende do seu arsenal e da relação entre qualidade e quantidade de suas tropas. Um grande exportador pode ter arsenal insignificante, dando prioridade aos lucros do comércio legal ou não, e descuidar daquela relação.

Da mesma maneira, baixa ou nenhuma exportação não significa que um país não produza armas e não tenha Forças Armadas bem equipadas e preparadas. E ainda há os que têm "capacidade de sustentar um conflito prolongado" com armamento importado às claras, o que parece ser o caso, na América do Sul, da Venezuela, por exemplo.

O argumento brasileiro é falso. Porque infundado e porque adotado para esconder o fato de que o Brasil exportador de armas está envolvido em monstruosidades que finge condenar. O trabalho excelente de Rubens Valente revela que o governo de Fernando Henrique Cardoso autorizou a produção e venda de bombas de fragmentação ao Zimbábue do ditador Robert Mugabe.

Ou seja, a uma ditadura sanguinária, conduzida por ideias psicopáticas como a da necessidade de exterminar os brancos, remanescentes da antiga Rodésia. E ainda algumas das tribos locais.

As bombas de fragmentação são proibidas por acordo internacional: não têm alvo preciso, desabrocham no ar em milhares de bolas de aço que atingem a população civil em áreas imensas. Israel foi acusado de lançar tais bombas sobre a população palestina de Gaza, e, se o fez, o acusado de produzir e exportar as bombas foi o Brasil. Cujo governo posou de contrário aos ataques à população palestina.

Os mutilados por pisar inadvertidamente em mina camuflada, resto de algum conflito estúpido, compõem uma tragédia africana que tem comovido o mundo. Crianças, em geral, esses mutilados são os que escapam da mortandade feita pelas minas deixadas no chão de vários países. Em grande parte das minas recuperadas, graças sobretudo a entidades de benemerência europeias, está preservada a inscrição: "Made in Brazil".

Podemos ostentar um orgulho internacional: nós também temos nossos criminosos de guerra. Gente que não escaparia no Tribunal Penal Internacional de Haia, por fomentar a morte de populações civis inocentes, e com isso lucrar fortunas.

É a esse Brasil opaco que a falta de transparência dá proteção. Como sua continuidade permitirá que a Rússia arme Bashar al Assad, e os Estados Unidos, a Inglaterra, a França, e o Brasil também, façam o mesmo pelo mundo todo.

O Brasil é manipulador de câmbio? - ANTONIO DELFIM NETTO


Valor Econômico - 24/07


Este é um bom momento para lembrar como a introdução de um pouco mais de cuidado e realismo corrige as conclusões que se extraem automaticamente de modelos abstratos. Todos lembram a crítica feroz que sofreu o governo brasileiro quando sugeriu: 1) que existia uma espécie de "guerra cambial"; e 2) que o problema da subvalorização prolongada de algumas moedas (particularmente o yuan) deveria, sim, ser discutido na Organização Mundial de Comércio (OMC), uma vez que o FMI não tinha nenhum poder para fazer valer o seu papel de "vigilante" dos desequilíbrios fundamentais dos balanços em conta corrente. A surpreendente resposta do sistema financeiro internacional foi atacar o Brasil, por "exagerar na manipulação da sua moeda"!

A lição vem de um interessante e meticuloso trabalho do economista J.E.Gagnon, "Combating Widespread Currency Manipulation" (Peterson Institute for International Economics, Policy Brief 12-19, July 2012). O autor começa reconhecendo que, "ainda que as manipulações cambiais para aumentar o balanço comercial de um país sejam uma violação dos artigos do acordo que instituiu o Fundo Monetário Internacional (FMI), não existe, na prática como puni-lo". E continua: "O melhor fórum para produzir sanções contra as manipulações cambiais é a Organização Mundial do Comércio (OMC), em consulta com o FMI. Os países prejudicados por tais manipulações devem ser autorizados a impor tarifas alfandegárias às importações dos países manipuladores".

Uma curiosa sugestão de Gagnon é a alternativa de "taxar ou restringir a compra pelos países manipuladores de ativos financeiros dos EUA e da zona do euro", o que dificultaria e aumentaria os custos e os riscos da acumulação de reservas.

O país não mentiu, uma certa "guerra cambial" existe

O importante no trabalho é a pergunta preliminar do autor: o que é, afinal, uma manipulação cambial? Ele formula uma definição cuidadosa: "Ocorre uma manipulação cambial quando um governo compra ou vende a moeda estrangeira para colocar a taxa cambial longe do seu equilíbrio, ou impedir que ela se mova para atingir aquele equilíbrio". E como ele define a "taxa de equilíbrio"?

"É aquela que é sustentável no longo prazo, ou seja, em que o balanço em conta corrente não está gerando aumento explosivo dos ativos estrangeiros líquidos relativamente à riqueza interna e externa. A sustentabilidade geralmente implica um pequeno valor para o balanço em conta corrente. Entretanto, as economias em rápido crescimento podem manter déficits em conta corrente, na medida em que seus passivos não cresçam mais do que o seu PIB e que tal passivo seja relativamente pequeno com relação aos passivos totais do mundo".

Que características têm que ter uma economia para ser considerada uma "manipuladora de câmbio"? O autor estabelece três condições que devem ser simultaneamente satisfeitas para que isso ocorra:

1) o país deve ter reservas externas que superem seis meses do valor de suas importações de bens e serviços;

2) o país deve ter tido, na média de 2001-2011, um balanço em conta corrente, como percentagem do PIB, maior do que zero. O autor exclui a possibilidade que o país possa estar tentando apenas reduzir o seu déficit em conta corrente;

3) o país deve ter visto crescer a relação reserva/PIB nos últimos dez anos.

Os países de "baixa renda" são excluídos da análise pelo princípio que eles devem ter maior liberdade do que os outros para implementar políticas de desenvolvimento, que podem ter externalidades negativas. Examinando os restantes países-membros do FMI e da OMC, J.E.Gagnon identifica 20 que satisfazem, simultaneamente, às condições para serem classificados como "manipuladores de câmbio". Ele os divide em quatro grupos:

1) velhas economias desenvolvidas, como Japão e Suíça;

2) novos países industrializados, como Israel, Cingapura e Taiwan;

3) os países asiáticos em desenvolvimento, como China, Malásia e Tailândia;

4) países exportadores de petróleo, como Argélia, Rússia e Arábia Saudita.

Para tristeza de alguns de nossos economistas, o Brasil não é classificado como "manipulador" por lhe faltar a condição "2" acima. Não acontece o mesmo com a Argentina, com a qual temos, não sem alguma razão, exercido uma paciência chinesa.

O Brasil talvez tenha exagerado, mas não mentiu: 1) uma certa "guerra cambial" existe; 2) é preciso mesmo envolver a combinação FMI-OMC (câmbio e tarifa) para enfrentá-la e restabelecer o equilíbrio do comércio internacional; e 3) cometeu apenas pecado venial. Salvou-se do pecado capital da "manipulação" por uma análise mais profunda e cuidadosamente isenta do viés antigoverno que continua a dominar alguns de nossos analistas.

O novo voo da galinha - LUIS EDUARDO ASSIS


O Estado de S. Paulo - 24/07


Não há muito tempo, quando o País ainda tentava sair de duas décadas de estagnação, tornou-se usual comparar nossas desventuras ao voo de uma galinha. A comparação remetia à vulnerabilidade do balanço de pagamentos que demandava desvalorizações cambiais espasmódicas, que pressionavam a inflação e exigiam elevações periódicas nas taxas de juros, estancando o crescimento. Muita coisa mudou. O excesso de reservas, quem diria, passou a ser visto como um problema. A economia, no entanto, voltou a patinar. Estamos parando.

Culpar apenas a crise internacional é descabido. Seria melhor se o mundo não tivesse se transformado num lugar tão perigoso, mas as conexões que mantemos com o resto do globo são limitadas. O Brasil é uma economia ensimesmada. Somos locais. As exportações representam uma parcela pequena do PIB, o financiamento internacional é apenas complementar, os bancos brasileiros dominam o mercado, o financiamento da dívida pública é feito quase totalmente por brasileiros. Nossa estagnação reflete, predominantemente, nossas próprias fraquezas e é, na sua maior parte, explicada pela conjugação entre o esgotamento de um ciclo de endividamento acoplado ao exaurimento do padrão de crescimento industrial. A história do crédito é conhecida. Em números: nos dez anos terminados em 2011, o crédito total na economia brasileira cresceu mais de 500%. No ano passado, no entanto, a inadimplência deu um salto (35%), continuou crescendo e forçou os bancos a uma política de crédito mais seletiva. Um típico sofisma da composição, ensinado no primeiro ano dos cursos de Economia. Se cada um dos bancos corta o crédito, todos, no conjunto, tendem a ter mais inadimplência (porque a produção e a renda se contraem). Assim funciona uma economia de mercado (a alternativa seria uma planilha do Gosplan, o que ainda não se cogita). Com o tempo - nada como o tempo para passar - as famílias vão gradativamente recuperar a capacidade e o apetite para um novo ciclo de crédito. A vulnerabilidade da indústria é mais complexa, porque nem o tempo resolve.

O setor vem sendo esmagado por custos crescentes e progressiva exposição aos produtos importados. Também em números: nos dez anos terminados em 2011, o custo da energia elétrica industrial aumentou 165%, para uma inflação medida pelo IPCA de 88%. Os salários industriais, por sua vez, subiram 134%, ao passo que o recolhimento de IPI saltou quase o mesmo, 133%. O valor do dólar, no entanto, caiu 28%, o que ofereceu a indústria à concorrência predatória das importações (a importação de bens duráveis, medida em reais, subiu 764% nesse período). Nesse contexto, o único "espírito animal" que ainda resta no empresariado é o medo, muito medo. Mitigar essa defasagem exigiria ganhos de produtividade extremamente significativos, o que não está na pauta. O Insead divulgou, há dias, pesquisa internacional sobre inovação e ambiente de negócios que realizou em conjunto com a Organização Internacional de Propriedade Intelectual. O Brasil foi classificado em 58.º lugar, atrás de países como Jordânia, Croácia e Omã. No quesito "ambiente de negócios" ficamos em 127.º lugar, atrás do Burundi.

As frenéticas medidas pontuais que o governo vem tomando não resolverão nossos problemas estruturais. Reformas amplas, por outro lado, estão além do raio de manobra política da atual gestão, que se equilibra sobre uma coalizão bizarra e fica, assim, premida por interesses difusos e contraditórios. Resta torcer para que a Europa não se desintegre, que a China passe muito bem e que o tempo se encarregue de preparar um novo ciclo de consumo baseado no crédito. Sem mudanças estruturais, porém, mais uma vez parte expressiva desta demanda vazará para o exterior na forma de aumento das importações, o que poderá tornar o crescimento cronicamente mirrado. Galinhas não voam. Galinhas ciscam para trás.

Falha geral - JOSÉ PAULO KUPFER


O Estado de S.Paulo - 24/07


Não é só a telefonia celular que passa, no momento, por turbulências econômicas e políticas. Não custa lembrar, até porque a repercussão da suspensão da venda de linhas ofuscou qualquer outra, também há, neste momento, turbulências da mesma natureza no setor de planos privados de saúde. Dias antes da suspensão da venda de linhas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), três dezenas de empresas foram proibidas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) de comercializar quase três centenas de modalidades desses planos.

Foi a mesma a motivação para os breques, nos dois segmentos: as empresas estavam vendendo mais serviços do que eram capazes de entregar, com um padrão mínimo exigido de eficiência e qualidade. No caso dos celulares, as reclamações de queda de sinal e de demora no atendimento em call centers, que se contam, há tempos, aos milhares por ano, haviam disparado. O mesmo ocorre com os planos de saúde, cujos prazos para consultas e exames vinham aumentando em proporções alarmantes - sem falar no aumento dos conflitos, muitas vezes levados aos tribunais, em relação a cobranças por procedimentos em internações.

As medidas oficiais, como não poderia deixar de ser, deflagraram um debate sobre as responsabilidades pela inconteste má prestação dos serviços. Da pura e simples ganância das empresas à incompetência e inoperância dos órgãos reguladores, passando pelos marcos regulatórios defasados ou inadequados, sobrou para todos.

Um dos riscos desse debate - que dá atualidade à velha máxima segundo a qual em casa que falta pão todos brigam e ninguém tem razão -, é propiciar o (re)surgimento de algum tipo de ideia retrógrada sobre o valor da privatização de serviços públicos. Afinal, entre os setores atingidos pelas medidas restritivas, está o setor de telefonia, ícone das privatizações brasileiras.

Mesmo sem estender a observação para outros mercados, as experiências locais já acumulam quilometragem suficiente para provar que, se a operação privada de serviços públicos não é isenta de falhas, as possíveis desvantagens da operação pública desses serviços são muito maiores. Os esforços na direção de assegurar a eficiência dos serviços, portanto, deveriam se concentrar no diagnóstico e na correção dessas falhas.

A ideia mestre das privatizações é a de que os mercados são sempre mais eficientes na alocação de recursos e, além do mais, estão protegidos de interferências políticas. Trata-se de lógica que se assenta em princípios teóricos desenvolvidos entre o fim do século 19 e início do século 20, notadamente pelos economistas das correntes neoclássicas.

É costume, no entanto, esquecer que essa formulação partia de um modelo abstrato, no qual prevalece a estrutura de um mercado de concorrência perfeita. Nesse mercado, em que não há barreiras de entrada aos que dele desejarem participar, o preço é determinado livremente pelo encontro da demanda com a oferta. Não é essa, porém, a realidade, muito menos no caso dos serviços públicos. Pela própria exigência de grandes investimentos nos serviços públicos, o regime de mercado universal é o de oligopólio.

Mercados oligopolísticos se caracterizam pelo grande número de consumidores ou usuários atendidos por pequeno número de ofertantes, que diferenciam os serviços oferecidos basicamente pela propaganda de suas qualidades, em relação ao preço cobrado.

Não se pode, aqui, falar em "eficiência", no sentido da alocação ótima de recursos, ao preço que assegura o "lucro normal", que lhe confere a concorrência perfeita. Aí estão os cartéis - expressão radical dos oligopólios - para lembrar que é possível obter o máximo de lucro com um mínimo de eficiência no atendimento dos interessados.

A invenção das agências reguladoras é um derivado óbvio dessa constatação. Em todas as partes do mundo, elas foram criadas justamente para evitar que, na prestação de serviços públicos, normalmente essenciais para as pessoas - e, por isso, quase impossíveis de descartar, fato que limita a capacidade de formação estrita de preços em mercado -, a lucratividade almejada pelas empresas pudesse ser alcançada com o mínimo de eficiência na oferta dos serviços.

Tudo considerado, cada um, nessa história, pode escolher o vilão ou o mocinho que bem entender. Mas a verdade é que, se as empresas falham em vender o que não podem entregar, falham também as agências reguladoras, que não impedem no nascedouro esse tipo de prática destrutiva.

A Espanha geme - CELSO MING


O Estado de S. Paulo - 24/07



Não dá para tirar de foco a crise do euro. Se, por alguns dias, ela se esconde por trás de uma nova emergência, logo em seguida acaba por reaparecer.

Esta segunda-feira foi desses dias em que as turbulências voltaram. Agora, com o agravamento das condições da Espanha. Sexta-feira, Valência, uma de suas 17 comunidades autônomas, avisou que pediria socorro para enfrentar suas despesas. E ao menos outras cinco comunidades enfrentam graves dificuldades para se manter em suas pernas.

A dívida pública da Espanha é grande, mas bem mais baixa do que a de outros países do euro. O que a fez quase insustentável foi seu perfil, concentrado no curto prazo.

O problema original não é sequer fiscal (excesso de despesas). É o enorme endividamento que, a rigor, é privado. A circulação do euro, em 2002, criou uma pechincha em créditos baratos. Baixou juros a níveis próximos aos da Alemanha. E bancos se puseram a financiar negócios imobiliários com recursos de bancos maiores, sobretudo os alemães.

O boom imobiliário criou empregos da noite para o dia, como cogumelos. Salários saltaram e a indústria perdeu competitividade. Quando a bolha imobiliária estourou, em 2008, os espanhóis estavam superendividados e desempregados (quase 25% da população ativa sem trabalho). Os preços dos imóveis desabaram, as hipotecas perderam qualidade e os bancos sofreram enorme erosão patrimonial.

O Estado quebrou porque teve de socorrer bancos e pagar seguro-desemprego para um quarto da população ativa numa paisagem desolada, de recessão e de forte quebra de arrecadação.

Nesta segunda-feira, os títulos de 10 anos da Espanha só encontraram interessados se pagassem rendimento (yield) de 7,5% ao ano. A esse nível, uma dívida aumenta 100% em pouco mais de 9 anos, mesmo sem aumento do rombo orçamentário, somente com a incorporação dos juros ao principal.

A administração do chefe de governo, Mariano Rajoy, bem que tenta derrubar despesas públicas, para dar sustentabilidade à dívida. Hoje, no entanto, toda a economia enfrenta problema ainda mais urgente: a deterioração das finanças dos bancos. Até muito recentemente, os títulos de dívida de países soberanos eram considerados 100% seguros. Mas a quebra da Grécia mostrou que, mesmo na área civilizada do euro, dívidas soberanas estão sujeitas a calote. Isso passou a exigir mais capital para o tamanho dos ativos carregados pelos bancos.

Na sexta-feira, autoridades do euro aprovaram empréstimo de 100 bilhões de euros, em condições especiais, para reforçar o patrimônio dos bancos espanhóis. Mas o novo socorro não chegou a tranquilizar os mercados porque, mesmo em condições melhores, a dívida da Espanha aumentou nesse tanto. E agora se vê que as comunidades autônomas (Estados) não conseguem juntar recursos para enfrentar as despesas. Se o governo central providenciar o socorro solicitado, terá de elevar ainda mais a dívida.

Enfim, fibra por fibra, a corda vai rebentando. A Espanha está longe de mostrar como equacionará suas finanças. O problema é que a Espanha não é ave isolada. É Espanha, é Grécia, é Portugal, é Irlanda... e é também Itália.

CONFIRA

Esta é a evolução do rendimento (yield) ao ano pago pelo título de dívida de 10 anos da Espanha.

Fraqueza puxa fraqueza. Em entrevista, nesta segunda-feira, ao Estado, o professor Affonso Celso Pastore disse que uma das razões para esperar crescimento de 4% em 2013 é puro efeito estatístico: o avanço do PIB deste ano será baixo (inferior a 2%). Comparando com ele, o PIB no próximo ano seria mais alto. Infelizmente, aí há mais boa vontade do que argumento. O resultado de 2011 também foi baixo (2,7%), mas o deste ano já é o que se sabe. E na Europa também se vê fraqueza depois de fraqueza.

Moinhos de vento - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 24/07


A tentativa da Espanha de contornar o peso de um resgate, com o atalho da ajuda aos bancos, fracassou. O susto do mercado, desde sexta-feira, vem desse ponto. No mesmo dia da aprovação final do empréstimo de 100 bilhões de euros para capitalizar os bancos espanhóis, Valência pediu ajuda ao governo central. Foi a primeira região autônoma a fazer isso, depois veio Múrcia e há seis na fila, inclusive a Catalunha .

Ontem, no fim do dia, a manchete do jornal "El País" dizia tudo: "Cercada pelos mercados, Espanha proíbe operações especulativas". Como a Itália, o país tenta conter o excesso de volatilidade através de medidas que reduzam as especulações que já levaram a níveis cada vez mais altos os juros cobrados da Espanha e, em seguida, da Itália. A proibição de operações de curto prazo tira um pouco a pressão, mas não esconde o fato de que as regiões administrativas que até agora pediram ou se preparam para pedir o resgate ao governo central podem somar, juntas, uma necessidade de 400 bilhões de euros .

O agravamento da situação espanhola torna a crise da Europa realmente séria, levando-a a outro patamar de complicação. As autoridades da Zona do Euro tentaram fingir que não viam o tamanho da crise da Espanha, admitindo essa forma de ajudar a capitalizar os bancos com uma engenharia financeira que não levaria ao aumento do endividamento espanhol. No início, o governo de Mariano Rajoy chegou a apresentar a ajuda como um socorro financeiro sem condicionalidades. A franqueza germânica avisou, através de várias autoridades, que não existe empréstimo sem exigência na história do dinheiro .

Foram feitas cobranças de ajuste fiscal, mas mantida a ficção de que quem estava encrencado era apenas o sistema bancário, não a Espanha como um todo. Até que as peças começaram a cair. Quando Valência anunciou que pediria socorro, teve o efeito da primeira pedra de um dominó que cai. Sabia-se que haveria uma segunda. Foi uma região pequena, Múrcia, que ontem confirmou o pedido de ajuda. O socorro seria prestado pelo Fundo de Liquidez para as Comunidades Autônomas. Ontem, a Standard & Poor's manteve a nota de Valência em BB, com perspectiva negativa. O temor do mercado é que outras regiões a seguirão. E o medo geral é que após a Espanha, seja a Itália. Por isso, os dois países agiram em conjunto para tentar conter o excesso de nervosismo .

A conjuntura europeia está naquele exato momento em que ninguém tem razão. A Espanha viveu um boom imobiliário; empréstimos foram concedidos considerando como real uma valorização excessiva dos imóveis. Quando a bolha estourou, houve empobrecimento coletivo, quebra de empresas, encalhe de imóveis, elevação das dívidas e queda do valor dos ativos que os garantiam. Exatamente como em qualquer bolha .

Com um alto desemprego estrutural, a Espanha ficou rapidamente com uma taxa de desocupados que torna difícil uma recuperação econômica a curto prazo. De onde sairá a energia para a reativação com um quarto da população economicamente ativa desempregada ?

Na administração das crises de dívida soberana, é preciso fazer movimentos mais fortes bem no início para desestimular as apostas contra o país e permitir a recuperação da economia. Na Europa, sistematicamente, tudo foi feito sempre mais tarde do que o necessário e em volume menor do que o exigido. Isso produziu um mecanismo de alimentação da crise, que vai se tornando cada vez mais aguda .

Ontem, após a medida para conter as operações de curto prazo, a bolsa de Madri reduziu a queda. Mas não se trata de conter movimentos de bolsa. Ela é apenas o termômetro. A desconfiança em relação à Espanha aumentou no mercado de dívida soberana .

A primeira constatação inevitável é que fracassou a tentativa do país de evitar a troica. A Espanha terá que ser resgatada da mesma forma que todos os outros: com fiscais do FMI, Banco Central Europeu e da Comissão Europeia impondo regras, limites, cortes e procedimentos. E cobrando o cumprimento de metas .

Hoje, o ministro de Economia da Espanha, Luis de Guindos, que negou que seria feito um pedido de resgate para o país, vai ter uma reunião com o ministro das Finanças da Alemanha. Do que conversarão, senão de como socorrer o país?

Enquanto isso, a Grécia se afunda ainda mais com a decisão do FMI de não participar mais de socorro ao país, e o BCE se recusando a aceitar seus títulos. Ontem, o economista Nouriel Roubini, que previu o início da crise de 2008, disse que a Grécia deve sair da Zona do Euro no ano que vem .

Há poucas certezas sobre a crise europeia. Uma delas é que será demorada e vai aprisionar a maioria dos países em longo período de baixo crescimento. Por enquanto, a Alemanha está crescendo, com baixa taxa de desemprego. Ela parece até se fortalecer. Não existe uma Alemanha forte numa Europa se afundando. A confiança no país é altíssima. Atualmente, a Alemanha se financia a custo zero, porque os investidores assustados, preferem guardar seu dinheiro no Tesouro alemão, mesmo sem receber remuneração. Mas para manter o crescimento, a Alemanha precisará da recuperação dos outros países da mesma zona monetária. Até agora, o que há é apenas dúvida. E ontem, a Moody's colocou em perspectiva negativa a nota máxima dada ao país de Merkel (AAA) .

Sempre a bendita matemática - ROSELY SAYÃO


FOLHA DE SÃO PAULO - 24/07


Adultos falam com orgulho que detestam números. Aí fica difícil ensinar a criança a gostar de cálculos


Os resultados dos exames feitos por alunos da escola básica apontam, de uma maneira geral, um baixo rendimento na aprendizagem da matemática.
O número de crianças e jovens que não considera essa uma disciplina simpática é grande. E não é muito menor o número de alunos que briga constantemente com ela. Por que será?
Não podemos negar que há, no imaginário social, um grande preconceito contra a disciplina. Você já reparou, caro leitor, que muitas pessoas de todas as idades falam -com uma indisfarçável ponta de orgulho- que não gostam de matemática?
Pelo jeito, essa declaração constrói uma relação de pertencimento com um grande grupo.
Pois bem: para os mais novos, fica difícil ter empatia com a matemática se boa parte dos adultos que os rodeiam não dão evidências de que gostam de cálculos e problemas de um modo geral. Não há incentivos, portanto, só obstáculos.
Desde o início dos estudos, as crianças relacionam-se com pessoas -pais e professores- que não conseguem mostrar a elas a relação entre vida cotidiana e o pensamento lógico-matemático e as operações numéricas.
Eu mesma ouvi um professor de matemática declarar a um grupo de alunos que muito da matemática só teria utilidade mesmo dentro da própria disciplina. Ora, assim fica difícil, não é verdade?
Mas o fato é que a matemática pode ser lúdica, desafiante e intrigante. E já faz tempo que temos recursos disponíveis para provar às crianças que a disciplina considerada difícil pode ser um encanto.
Ainda no final dos anos 50, a Disney lançou um filme intitulado "Donald no Mundo da Matemática". Com mágica, o curta -que foi indicado ao Oscar- diverte crianças e, além disso, contribui para que diversos conceitos matemáticos abstratos em demasia para elas se transformem em uma linguagem acessível e divertida.
E o que dizer, então, das metáforas tão ao alcance dos mais novos? Eu, pessoalmente, adoro a árvore com a raiz quadrada. Caso você não conheça o filme, caro leitor, poderá encontrá-lo facilmente na internet.
A literatura também deu sua contribuição. Quem não conhece "O Homem que Calculava" [de Malba Tahan]? O texto, em forma de narrativa, mostra curiosidades, quebra-cabeças matemáticos e problemas que tornam a disciplina bem mais interessante para aqueles que costumam dizer que a consideram uma matéria muito difícil.
Outra obra, igualmente destinada ao público infantojuvenil, chama-se "O Diabo dos Números" [de Hans Magnus Enzensberger]. Escrito por um pensador alemão contemporâneo, o livro cai muito bem para quem desenvolveu aversão ou temor pela bendita matemática.
Com as aulas prestes a serem reiniciadas, vale a pena ajudar crianças e jovens que não tiveram um bom aprendizado na matemática no primeiro semestre do ano letivo. E isso não precisa, necessariamente, significar aulas particulares, mais estudos, mais lições etc. Mais do mesmo, definitivamente, não!
Os recursos que citei acima e muitos outros podem atuar de modo mais significativo para que o estudo da matemática possa se tornar mais atraente e desafiante.
E desafios são mesmo com os mais novos. Quem nunca observou uma criança jogando, por exemplo?
Quando uma disciplina do conhecimento se transforma em experiência, o aprendizado ocorre com mais facilidade. Quando o estudante coloca barreiras para a compreensão do conteúdo, a tarefa de aprender fica muito mais árdua.
Filmes e livros -isso sem falar dos jogos- são excelentes oportunidades para desmitificar a matemática e o seu ensino para os mais novos.

Mensaleiros no tribunal - MARCO ANTONIO VILLA


O Globo - 24/07


Depois de longa espera, finalmente o Supremo Tribunal Federal vai julgar o processo do Mensalão. A demora é só mais uma demonstração de quão ineficiente é o Judiciário. A lentidão é a maior característica do poder que devia ser célere, eficiente e, principalmente, justo. E não é por falta de recursos. Não. Basta observar as folhas de pagamento que, com muita dificuldade e depois de muita pressão do Conselho Nacional de Justiça, estão sendo divulgadas.

Os poderes Executivo e Legislativo estão maculados pela corrupção até a medula. Não há dia sem que apareça uma denúncia sobre o desvio de recursos públicos ou favorecimento de interesses privados. Os olhos do cidadão acabam, em um movimento natural, se dirigindo para o Judiciário. É um gesto de desespero e de impotência. Porém....

Não há otimismo que consiga reverter este quadro, ao menos a curto prazo. Vivemos um dos momentos mais difíceis da história republicana. Daí a enorme responsabilidade do STF no julgamento do Mensalão. Em 2005 fomos bombardeados por reportagens e entrevistas sobre o caso. O mais triste para os valores republicanos foram as sessões da CPMI dos Correios. Muitos depoimentos foram transmitidos ao vivo. Foi estarrecedor ouvir depoentes que tratavam de desvios de recursos públicos, de pagamento de campanhas eleitorais (como a presidencial de 2002) e da compra de apoio político no Congresso, com enorme tranquilidade, como se toda aquela podridão fizesse parte do jogo político em qualquer democracia. E quem agisse de forma distinta não passaria de um ingênuo. Em resumo, a ideia propagada pelos depoentes era de que política sempre foi assim.

Contudo, no decorrer dos trabalhos da CPMI, o clamor da opinião pública foi crescendo. A crise política se instalou. Alguns parlamentares do PT, envergonhados com a revelação do esquema de corrupção, saíram do partido. O presidente Lula foi à televisão e pediu, em rede nacional, desculpas pela ação dos dirigentes partidários. Disse desconhecer que, nas antessalas do Palácio do Planalto, tinha sido planejado o que ficou conhecido como Mensalão. Falou até que tinha sido traído. Não disse por quem e nem como.

O relatório final da CPMI pedindo o indiciamento dos responsáveis foi encaminhado à Procuradoria Geral da República. A aprovação foi comemorada. Em sinal de triunfo, o relator foi carregado pelos colegas. Para a oposição, o presidente Lula estava nas cordas, à beira de um nocaute. Caberia, disse, na época, um dos seus líderes, levá-lo sangrando até o ano seguinte para, então, vencê-lo facilmente nas urnas. Abrir um processo para apurar o crime de responsabilidade colocaria em risco o país. Estranha argumentação, mas serviu para justificar a inépcia oposicionista, a falta de brio republicano e uma irresponsabilidade que só a história poderá avaliar.

Em 2007 o STF aceitou a denúncia. Foi uma sessão bizarra. Advogados se sucediam na tribuna defendendo seus clientes, enquanto os ministros bocejavam, consultavam seus computadores, conversavam, riam e ironizavam seus colegas. Dois deles - Ricardo Lewandovsky e Carmen Lúcia - chegaram a trocar mensagens especulando sobre os votos dos ministros e tratando outros por apelidos. Eros Grau foi chamado de "Cupido", e Ellen Gracie, de "Professora". O ministro Cupido, ou melhor, Eros Grau, chegou ao ponto de mandar um bilhetinho para um advogado, um velho amigo, e que estava defendendo um dos indiciados. Teve advogado que falou por tempo superior ao regimental e, claro, como não podia deixar de ser, fomos quase sufocados pelo latinório vazio, a erudição postiça, tão típica dos nossos bacharéis. Em certos momentos, a sessão lembrou um animado piquenique. Pena, que em vez de um encontro de amigos, o recinto era da nossa Suprema Corte.

Apesar do clima descontraído, a denúncia foi aceita. E o processo se arrastou por um lustro. Deve ser registrado que, inicialmente, eram quarenta acusados e foram utilizados todos os mecanismos - que são legais - protelatórios. No final do ano passado, o ministro Joaquim Barbosa entregou ao presidente do STF o processo. De acordo com o regimento foi designado um ministro revisor. A escolha recaiu em Ricardo Lewandovski, o mesmo que, na noite da aceitação da denúncia, em 2007, foi visto e ouvido - principalmente ouvido - ao celular, em um restaurante de Brasília, falando nervosamente que a tendência dos ministros era "amaciar para José Dirceu", um dos acusados. Mas que, continuou o advogado de São Bernardo, a pressão da mídia teria impedido o "amaciamento" (curioso é que nessas horas a linguagem é bem popular, e o idioma de Virgílio é esquecido). O mesmo Lewandowski ficou seis meses com o processo. Foi uma das mais longas revisões da história. Argumentou que o processo era muito longo. Mas isto não impediu que realizasse diversas viagens pelo Brasil e para o exterior durante este período.

Depois de muita pressão - e foi pressão mesmo -, o ministro revisor entregou seu relatório. Só que, dias antes, o presidente Ayres Brito reuniu os ministros e estabeleceu o calendário do julgamento. Registre-se que Lewandovski não compareceu à reunião, demonstrando claramente sua insatisfação. O ápice das manobras de coação da Corte foram as reuniões de Lula com ministros ou prepostos de ministros. Se o Brasil fosse um país sério, o ex-presidente - que agora nega o que tinha declarado em 2005 sobre o Mensalão - teria sido processado. Mas, diria o otimista, ao menos, teremos o julgamento público do maior escândalo de corrupção da história recente.

F1! Felipe Amassa e Bruno Acena! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 24/07

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Ereções 2012!

E sabe o que assessor falou pro Serra? "Tá Russo, Mano". Rarará! Por isso que quase caiu do skate! E a Fórmula 1? O Felipe Amassa e o Bruno Acena. Dupla de brasileiros: Felipe Amassa e Bruno Acena! E o Galvão com cara de pão na chapa? O duro não é acordar com o Galvão, o duro é dormir com o Galvão! E os RRRs acabaram com a garganta do Galvão. Já imaginou ele narrando a novela "Avenida Terror''? "Tudo culpa da RRRRRRRRita!"

E assisti ao amistoso Brasil x Grã-Bretanha. Tão amistoso que os ingleses aplaudiam as jogadas dos brasileiros. E tudo sentadinho. Brasileiro é que sabe assistir ao futebol: em pé, com o filho na cabeça e um rojão na mão!

E a "Avenida Terror?" Eu tenho um apelo a fazer pra Nina Noiva Cadáver: "Nina, bota as fotos no Facebook!". No Facebook, no Twitter. E no Orkut da Carminha! Rarará! As fotos são da Carminha Chucky transando com o Max Salsicha do Scooby-Doo! Já imaginou transar com a Carminha? "Goza! Goza ou te enterro vivo!" Rarará!

A Carminha é até boazinha. Devia ter enterrado a Nina em pé! E de cabeça pra baixo! Rarará! E a vida imita a arte. Carminha faz escola. Olha esta manchete em Cruzeiro: "Mulher recusa assistir à novela das nove com o marido e acaba agredida!". Rarará! E se o Adauto bater as orelhas, voa!

E assisti o São Paulo x Figueirense! E o São Paulo fez um gol em 50 segundos. É bambi ou coelho? E o estádio em Floripa vazio! São-paulino não viaja? Só vai pra Campos do Jordão? São-paulino viaja, sim. Vai pra Disney! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

A Galera Medonha! A Turma da Tarja Preta! Direto de Jales, no interior de São Paulo: "Ana Claúdia! Vim pra matar a cobra e mostrar o pau". De quem? Porque se for o dela, eu dispenso. Rarará!

E adorei porque ela tem acento no "u". Claúdia! E o carro com adesivo da Ana Claúdia tem também o adesivo do Palmeiras! Ou seja, se você tiver pau, cobra e for palmeirense, vote na Ana Claúdia!

E direto de Astorga, no Paraná: PA PUM PEI! Isso mesmo, o nome de guerra do candidato é Pa Pum Pei! Adorei! Pa Pum Pei! Ganhei! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Só os ricos vão ao paraíso - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE S.PAULO - 24/07


Fugir dos impostos é esporte que equivale à soma de toda a riqueza de Estados Unidos e Japão

Você certamente já ouviu falar do "impostômetro", aquele gigantesco placar que a Associação Comercial de São Paulo montou para mostrar quanto o brasileiro paga de impostos.
No começo da tarde de ontem, a conta já ia algo além de R$ 855 bilhões neste ano. Revoltante, não é? Afinal, ninguém gosta de pagar imposto, ainda mais quando o retorno em serviços é pobre.
Mas há a outra face do "impostômetro", muito mais revoltante, mas que em geral fica nas sombras em que se move a alta finança. No domingo, o "Observer" jogou um pouco de luz nos números do que se poderia chamar de "sonegacionômetro" -ou seja, o dinheiro desviado para os paraísos fiscais.
Um levantamento da Tax Justice Network mostrou que os paraísos fiscais escondem fabulosos US$ 21 trilhões, pilha que equivale à riqueza somada dos Estados Unidos e do Japão, a primeira e a terceira maiores economias do mundo.
Ontem, a Folha expôs o lado local: brasileiros depositaram de 1970 até 2010 cerca de US$ 520 bilhões (ou mais de R$ 1 trilhão) nessas contas, nas quais "se pode guardar dinheiro em razoável sigilo, sem ter de responder a muitas perguntas nem pagar imposto".
O valor equivale a pouco mais de um quinto do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro do ano passado e o arrecadado em impostos nos últimos seis meses e 23 dias.
O autor do estudo, James Henry, ex-economista-chefe da consultoria McKinsey e especialista em paraísos fiscais, calcula que metade dos ativos existentes em paraísos fiscais pertença a apenas 92 mil pessoas, ou 0,001% da população mundial.
Depois, quando aparece um movimento de protesto contra o 1% mais rico nos Estados Unidos, ainda tem gente que o classifica como radical.
Esconder dinheiro não é ação individual, relata James Henry: "Essa riqueza é protegida por um bando altamente bem pago de profissionais nas indústrias de 'private banking', jurídica, de contabilidade e da indústria de investimentos".
Ou seja, o sistema financeiro, o mesmo que frauda a taxa denominada Libor, que lava dinheiro do narcotráfico, que frauda as contas públicas da Grécia, por exemplo, está também envolvido nesse esquema de esconder fortunas.
Sou capaz de apostar que todos os donos dessas fortunas usam equipamentos públicos, para cuja consecução não contribuíram com impostos. No Brasil, certamente muitos põem filhos nas faculdades públicas, embora escondam o dinheiro para não pagar impostos que custeiam tais escolas.
O pior é que, desde a crise de 2008, os líderes do G20 -exatamente os mais importantes do mundo- pregam o fim dos paraísos fiscais, que não obstante continuam funcionando -e aumentando o volume de recursos que movimentam.
Essa distorção, para usar uma palavra suave, foi apontada como uma das causas da instabilidade financeira global. Como a instabilidade continua, como os paraísos continuam, só se pode concluir que quem manda no mundo não são governantes eleitos, mas, sim, o que os argentinos chamam apropriadamente de "pátria financiera".

A arquibancada quer saber - LUIZ GARCIA


O GLOBO - 24/07

Pelo menos em tese, um governo democrático não tem segredos, com a óbvia exceção dos assuntos relacionados com a segurança nacional. Há pouco mais de um mês, o Brasil passou da tese para a prática, com a entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação Pública. Não deixa de ser curioso que precisemos de uma lei para garantir que saiam do armário informações que já são públicas no nome.

A lei foi um sucesso. Com um mês de vida, o governo recebeu mais de dez mil pedidos de informações. Foi uma prova indiscutível de que a sociedade tem muito interesse em se informar sobre o que se passa nos corredores e salões do Estado, sem falar no que está guardado em seus cofres e suas gavetas. E ninguém discute que cidadãos bem informados costumam ser melhores eleitores do que aqueles que não dão aos seus votos a importância que eles merecem.

É estranho, portanto, que autoridades resistam à revelação de uma informação elementar. Está nesse caso a resistência de membros do Judiciário à revelação de um dado singelo: quanto ganham pelo seu trabalho. Numa decisão inteiramente dentro do espírito da lei, o Conselho Nacional de Justiça deu prazo até sexta-feira passada para que fossem divulgados nomes, salários, abonos e gratificações dos membros do Judiciário. No país inteiro, Tribunais de Justiça se rebelaram. Em alguns casos, com êxito, pelo menos por enquanto.

Um leigo pode revelar perplexidade quanto aos próximos acontecimentos. Atos e decisões do Executivo podem ser contestados legalmente. O que acontece quando a questão deve ser decidida pelos contestadores? É importante registrar que tribunais como os de São Paulo e Pernambuco anunciaram que vão cumprir a lei, que também foi defendida por dirigentes da Ordem dos Advogados. Isso enfraquece a posição da turma do segredo, mas ainda não indica que a turma do segredo perdeu a guerra.

Na opinião pública, a imagem dos guerrilheiros do Judiciário certamente não vive seus melhores momentos. O cidadão comum costuma acreditar que as boas leis valem para todos. E ele também tem o direito de encarar com desconfiança a resistência de servidores do Estado à revelação de um dado que a opinião pública considera relevante: quanto ganham pelos serviços que nos prestam. Principalmente quando são remunerados com recursos que vêm do bolso da turma da arquibancada.

Pela extinção da PM - VLADIMIR SAFATLE


FOLHA DE S.PAULO -  24/07


No final do mês de maio, o Conselho de Direitos Humanos da ONU sugeriu a pura e simples extinção da Polícia Militar no Brasil. Para vários membros do conselho (como Dinamarca, Espanha e Coreia do Sul), estava claro que a própria existência de uma polícia militar era uma aberração só explicável pela dificuldade crônica do Brasil de livrar-se das amarras institucionais produzidas pela ditadura.
No resto do mundo, uma polícia militar é, normalmente, a corporação que exerce a função de polícia no interior das Forças Armadas. Nesse sentido, seu espaço de ação costuma restringir-se às instalações militares, aos prédios públicos e aos seus membros.
Apenas em situações de guerra e exceção, a Polícia Militar pode ampliar o escopo de sua atuação para fora dos quartéis e da segurança de prédios públicos.
No Brasil, principalmente depois da ditadura militar, a Polícia Militar paulatinamente consolidou sua posição de responsável pela completa extensão do policiamento urbano. Com isso, as portas estavam abertas para impor, à política de segurança interna, uma lógica militar.
Assim, quando a sociedade acorda periodicamente e se descobre vítima de violência da polícia em ações de mediação de conflitos sociais (como em Pinheirinho, na cracolândia ou na USP) e em ações triviais de policiamento, de nada adianta pedir melhor "formação" da Polícia Militar.
Dentro da lógica militar, as ações são plenamente justificadas. O único detalhe é que a população não equivale a um inimigo externo.
Isto talvez explique por que, segundo pesquisa divulgada pelo Ipea, 62% dos entrevistados afirmaram não confiar ou confiar pouco na Polícia Militar. Da mesma forma, 51,5% dos entrevistados afirmaram que as abordagens de PMs são desrespeitosas e inadequadas.
Como se não bastasse, essa Folha mostrou no domingo que, em cinco anos, a Polícia Militar de São Paulo matou nove vezes mais do que toda a polícia norte-americana ("PM de SP mata mais que a polícia dos EUA", "Cotidiano").
Ou seja, temos uma polícia que mata de maneira assustadora, que age de maneira truculenta e, mesmo assim (ou melhor, por isso mesmo), não é capaz de dar sensação de segurança à maioria da população.
É fato que há aqueles que não querem ouvir falar de extinção da PM por acreditar que a insegurança social pode ser diminuída com manifestações teatrais de força.
São pessoas que não se sentem tocadas com o fato de nossa polícia torturar mais do que se torturava na ditadura militar. Tais pessoas continuarão a aplaudir todas as vezes em que a polícia brandir histericamente seu porrete. Até o dia em que o porrete acertar seus filhos.

O fator Russomanno - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE S. PAULO - 24/07

Candidato do nanico PRB à prefeitura paulistana ainda se beneficia de sucesso na TV, mas ninguém crê que consiga romper polarização PT-PSDB



O empate técnico entre José Serra (PSDB) e Celso Russomanno (PRB) foi o dado mais inesperado da última pesquisa Datafolha.

Segundo o instituto, o tucano tem 30% das intenções de voto, contra 26% de Russomanno. Os demais candidatos a prefeito de São Paulo, como Fernando Haddad (PT) e Soninha Francine (PPS), não passam de 7%. A margem de erro é de três pontos percentuais.

Desde dezembro, o pleiteante do nanico PRB avançou dez pontos nas pesquisas. Manteve, até aqui, trajetória ascendente que surpreendeu boa parcela dos analistas.

O crescimento de Russomanno vinha sendo atribuído a sua presença no quadro "Patrulha do Consumidor", que integra um programa matinal diário veiculado pela TV Record, emissora ligada ao PRB.

A exposição do ex-deputado na TV, no entanto, terminou no final de junho. De lá para cá, sua candidatura não chegou a atrofiar-se, como se previa. Ao contrário, confirmou-se a tendência, com oscilação positiva de dois pontos.

Ainda que a boa colocação se comprove fenômeno apenas inercial, fadado a esvair-se, é preciso reconhecer que há mais vetores a influenciar essa trajetória.

Um deles é a Igreja Universal, denominação neopentecostal que controla o PRB. Não é coincidência que Russomanno tenha seu melhor desempenho justamente entre os eleitores que declaram alguma religião evangélica pentecostal.

Outro vetor é o baixo conhecimento de Fernando Haddad. Quase metade dos paulistanos ainda ignora o candidato do PT. Por enquanto, Russomanno é quem mais se beneficiou desse fato, mas ele também tem mais a perder. Hoje, os petistas representam quase um terço de suas intenções de voto.

Jogam a favor de Russomanno ainda outros dois fatores: a retirada da candidatura do popular Netinho (PC do B) e a baixa avaliação do prefeito Gilberto Kassab (PSD), que afeta diretamente José Serra.

Contra o candidato do PRB, paradoxalmente, pesará em breve uma força decisiva -o tempo de TV. Com meros dois minutos de propaganda eleitoral, Russomanno terá menos de um terço da exposição de Serra e Haddad e metade da de Gabriel Chalita (PMDB).

Nas eleições presidenciais de 2002, nesta mesma época do ano, Ciro Gomes, então no PPS, tinha 28% e ameaçava a liderança de Lula (PT), com 33%. No final de agosto, após o início do horário eleitoral, Ciro, com menos tempo na TV, perdeu sete pontos e nunca mais se recuperou na disputa.

Para firmar-se como alternativa à polarização PT-PSDB, Russomanno precisa sobreviver às primeiras semanas de campanha na TV. Até lá, não passará de uma anomalia.

BANDA DE UM - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 24/07

O artista e multi-instrumentista americano Robert Aiki Aubrey Lowe, que já integrou os grupos TV On The Radio e 90 Days Men, apresentou seu projeto solo, Lichens, na sexta, no Museu da Imagem e do Som

INTERVALO COMERCIAL

O TST (Tribunal Superior do Trabalho) considerou legítima a demissão por justa causa de um funcionário que fumava maconha na hora do almoço e fora do ambiente de trabalho. A decisão afirma que o "poder disciplinar" do empregador tem base na "relação interpessoal e na confiança" e que o "mau comportamento" justifica a demissão.

VOZ E IMAGEM
O funcionário, que trabalhava numa indústria mecânica de Minas Gerais, negou que estivesse fumando maconha. Um vídeo gravado pela polícia nas cercanias da empresa foi analisado por um perito que atestou que ele consumia a droga. O trabalhador venceu a causa no Tribunal Regional, mas foi enfim derrotado pelo TST.

CORTINA
Confusão em torno da obra de Anselmo Duarte, único cineasta brasileiro a ganhar a Palma de Ouro em Cannes: o produtor Aníbal Massaini vai notificar hoje o MIS (Museu da Imagem e do Som) de SP tentando impedir a exibição de "O Pagador de Promessas", marcada para hoje. Ele tem a exclusividade da distribuição da obra, por meio da CineDistri, e diz que não foi consultado para autorizar a sessão.

CORTINA 2
O MIS diz que foi procurado por alguns dos herdeiros de Anselmo Duarte para uma homenagem ao diretor. Os familiares não foram encontrados para comentar.

CORTINA 3
A confusão é a ponta de uma briga maior em torno dos destinos da obra que envolve inclusive a restauração dos filmes do diretor. Parte dos herdeiros já foi autorizada a captar recursos para esse fim. Massaini afirma que o material está "muito bem cuidado" e que já estuda restauração que poderá ser feita até no exterior.

TRANQUILO
Paulo Maluf (PP-SP) estava no concerto de Nelson Freire com Marin Alsop em Campos do Jordão, no sábado. Um dia antes, a corte de Jersey encerrava as audiências do processo que tenta recuperar US$ 22 milhões que Maluf teria desviado quando foi prefeito de SP, de 93 a 96. Ele nega a acusação.

CRISE
Carlinhos Cachoeira foi atendido ontem por seu psiquiatra particular em Goiânia. Ele vai hoje à audiência das testemunhas de acusação de seu processo. Amanhã, presta depoimento.

OFICIAL
De acordo com interlocutores, o bicheiro alterna momentos de choro com outros de agressividade e está fortemente medicado. Um perito pode avaliar ainda nesta semana suas condições.

PRA BALANÇO
Fechado para reforma, o Nonno Ruggero do hotel Fasano, nos Jardins, em SP, pode não reabrir lá. O espaço onde ele funcionava, no primeiro andar do hotel, pode dar lugar a novos quartos.

TAPETE VERMELHO
O Festival de Gramado deste ano será aberto com filme internacional -mas diretor brasileiro: "360", de Fernando Meirelles, estrelado por Jude Law, Rachel Weisz e Anthony Hopkins.

HORA DO RECREIO

A animação "31 Minutos" teve pré-estreia no Cinemark do shopping Eldorado, no sábado. A atriz Mariana Ximenes, uma das dubladoras, estava lá junto com os atores da novela "Carrossel" Jean Paulo Campos e Larissa Manoela.

A FILHA DO BISPO DÁ DICAS DE AMOR

Filha do bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal e dono da TV Record, Cristiane Cardoso lançou no sábado "Casamento Blindado", livro que escreveu em parceria com o marido, Renato. Dezoito seguranças circulavam pelo evento para zelar pela escritora e por seus convidados, entre eles o presidente da emissora, Alexandre Raposo. O bispo está fora do país.

A obra é baseada num curso "de princípios cristãos" que os dois ministram para casais evitarem o divórcio. Eles cobram R$ 300. Fizeram o livro para "acessar mais gente", diz a autora. "Muitas pessoas estavam sendo abençoadas." A tiragem inicial é de 230 mil exemplares. O jogador de basquete Oscar Schmidt assina o prefácio.

Juntos há 21 anos, eles tiveram suas desavenças, conta Renato. "Cristiane é bem divertida, perfeccionista. E eu sou controlador, tímido. Mistura isso aí e você vai ter um monte de problemas."

No livro, uma dica é começar conversas "brandamente". "O marido pergunta, 'precisa de dinheiro?' (começou bem), e a esposa responde, 'só para as contas que você deveria ter pago na semana passada' (começou mal)." O feminismo às vezes atrapalha ao levar a mulher a resistir "ao papel tradicional do homem como provedor".
Cristiane diz que casais hoje pensam "bem diferente" do que seus pais, unidos há mais de 40 anos. "A mulher atual nem sempre tem prazer em cuidar do marido, muito menos da casa." Os dois também dão conselhos no programa "The Love School" (escola do amor), na Record.

Jurado de "Ídolos", Supla apontava sua parte preferida, a que falava da "dureza de coração" de quem resiste a mudar traços como o egoísmo.

Já a ex-panicat Juju Salimeni desfilava a tatuagem das costas com a cruz e o trecho de uma música dos Racionais MC's: "A alma guarda o que a mente tenta esquecer".

CURTO-CIRCUITO

Luciana Carnieli autografa o livro da peça "Absinto" hoje, às 20h30, no Teatro Augusta.

O festival Anima Mundi tem sessão de abertura para convidados, hoje, a partir das 20h, no Memorial da América Latina.

A dupla sertaneja César Menotti & Fabiano faz show hoje, às 20h, em prol da Campanha do Agasalho, no Villa Country. Classificação etária: 18 anos.

A antidiplomacia de Dilma - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 24/07


A diplomacia brasileira deve ser conduzida pelo presidente da República, conforme manda a Constituição. No entanto, isso não significa que essa liderança possa ser exercida de modo arbitrário, como deu a entender o comportamento de Dilma Rousseff no recente caso do Paraguai e em outros episódios de seu ano e meio de mandato.

É fato que, desde que chegou ao poder, o PT fez da partidarização sistemática da política externa sua marca. Os oito anos do governo de Lula foram ricos em exemplos da transformação da diplomacia em exercício ideológico. Houve casos dignos de figurar em manuais de relações internacionais, mas pelo seu aspecto negativo. Para lembrar apenas um deles, o Brasil apequenou-se ante a ocupação, por tropas bolivianas, de duas refinarias da Petrobrás naquele país, em maio de 2006. Como resposta ao óbvio vilipêndio do patrimônio brasileiro, Lula, em vez de defender a Petrobrás, disse que o ato boliviano era "soberano" e que a Bolívia precisava de "carinho".

Com a chegada de Dilma ao Planalto, houve a expectativa de que esse perfil danoso ao País fosse alterado. O otimismo foi alimentado, para começar, pelo discurso público da presidente na direção da defesa dos direitos humanos no Irã - cujo presidente, além de negar a ocorrência do Holocausto e dirigir um regime que persegue minorias e opositores, era aclamado por Lula como seu "companheiro". Parecia que Dilma abandonaria enfim o antiamericanismo pueril do lulopetismo ao alinhar-se aos países civilizados na condenação da violência iraniana. Agora, no entanto, acumulam-se demonstrações de que aquele gesto era na verdade o primeiro de uma série de movimentos voluntaristas de Dilma, interessada sobretudo em imprimir sua marca pessoal na diplomacia.

Quando teve a chance de mostrar sua força como estadista, na conferência do clima Rio+20, em junho, Dilma impacientou-se com seus diplomatas e preferiu festejar um documento final articulado, às pressas, para não ter peso decisório nenhum, de modo que pudesse ser aceito por todos e dar a impressão de uma grande competência diplomática.

Depois, quando chamada a apagar o incêndio causado pela destituição do então presidente Fernando Lugo no Paraguai, também em junho, jogou mais gasolina no fogo, ao aceitar a tese de que houve um golpe e que, portanto, o Paraguai tinha de ser duramente punido.

Mais tarde, patrocinou pessoalmente a lamentável manobra para incluir a Venezuela no Mercosul, aproveitando a oportunidade do "gancho" a que foi submetido o Paraguai, que resistia ao ingresso do país de Hugo Chávez no já desacreditado bloco sul-americano.

Na essência, o excessivo personalismo de Dilma na política externa não difere da contaminação político-ideológica observada nos oito anos de Lula. Em ambos os casos, as decisões foram tomadas não exatamente segundo o interesse nacional, conforme manda a Constituição, mas de acordo com projetos de afirmação e manutenção de poder. No governo de Lula, esse desvio se deu na aproximação imprudente com autocratas como Chávez, comprometendo a independência do Brasil na definição de seus interesses externos. Em nome da exigência de buscar a "formação de uma comunidade latino-americana de nações", conforme determinação constitucional, Lula colocou o País a serviço do delirante projeto bolivariano.

Com Dilma, a ideologia lulopetista segue em primeiro plano nas relações internacionais, mas a "gerentona", como ela gosta de ser vista, acrescentou um componente ainda mais explosivo, que são suas idiossincrasias. A presidente não se entende com seu chanceler, Antonio Patriota. Ela quer uma "diplomacia de resultados" e nutre franca hostilidade a fazer concessões e aos rapapés das mesas de negociação, o que contraria um dos princípios basilares da diplomacia. Nessa toada, com mais dois anos e meio na cadeira de presidente, ainda há tempo de sobra para que Dilma dê novos trancos pessoais na diplomacia nacional, que sempre se pautou pelo comedimento, comprometendo ainda mais a influência do Brasil no concerto internacional.

Réquiem para o Mercosul! - RUBENS BARBOSA


O Globo - 24/07


Wolfgang Amadeus Mozart morreu cedo com pouco mais idade do que o Mercosul, que completou 21 anos. Teve uma vida bastante agitada, alternando momentos de sucesso e de dificuldades. Nos últimos anos, com a saúde crescentemente debilitada, recebeu a visita de um misterioso personagem que encomendou a criação de uma peça fúnebre, um réquiem, mediante o oferecimento de uma boa recompensa. Mozart, sem recursos, acedeu e começou a compor, mas morreu e deixou uma obra inacabada.

A chegada do visitante ao Mercosul, da maneira ilegal como está sendo feita, encerra antecipadamente uma obra que poderia ser tão grandiosa, como a de Mozart. O quarteto - Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai - poderia ter-se beneficiado de um processo de integração que, passando da atual união aduaneira, levaria ao mercado comum.

A agonia do Mercosul começou com sua politização. Passou a predominar a retórica e as decisões politico/ideológicas sobre a realidade econômica. Esqueceu-se que o Mercosul não é uma união de governos, mas de Estados.

O ingresso da Venezuela, aprovado - contra o aconselhamento do Itamaraty - com o mesmo rito sumário, Dies Irae, que afastou Fernando Lugo da presidência do Paraguai, e determinou a suspensão do país, representou uma agressão institucional. A adesão, decidida por razões políticas, sem cumprir as condições negociadas pelo Protocolo de 2006, nem ter sido feito corretamente o depósito dos instrumentos de ratificação, pode representar um custo altíssimo para os membros fundadores.

A decisão abre a porta para o ingresso da Bolívia, do Equador e do Surinãme nas mesmas circunstancias, isto é, sem apreciação técnica.

Depois de politizar o Mercosul, pretende-se transformá-lo em um mecanismo de desenvolvimento econômico, com ênfase no social e no político, panaceia que resolveria todos os problemas dos países-membros. Como se fora possível modificar uma realidade de dificuldades e de assimetrias inevitáveis em qualquer exercício de integração, soprando uma "Flauta Mágica", tocada de forma dissonante por apressados ideólogos.

Debilitado pelo descumprimento das normas e regras previstas no Tratado de Assunção de 1991, bem como pelas recorrentes restrições à liberalização e à abertura dos mercados, o subgrupo regional como inicialmente previsto chegou a seu fim, de maneira inglória. "Cosi Fan Tutti", todos fazem isso, repetem os formuladores das decisões no bloco, referindo-se ás barreiras protecionistas,.

Sem acabar com o Mercosul, pois nenhum governo está preparado para assumir o ônus dessa decisão, o Brasil deveria libertar-se das amarras da negociação conjunta para os produtos que poderiam ser liberalizados com terceiros países que se dispuserem a negociá-los separadamente. Parafraseando Groucho Max, quem vai negociar com o Mercosul que aceita a Venezuela de Chávez como sócio?

Para o Brasil, a entrada da Venezuela poderia ser positiva do ângulo estratégico (o Mercosul se estenderá da Patagônia ao Caribe) e comercial (se for cumprido o negociado no Protocolo de Adesão, com a abertura do mercado venezuelano para produtos brasileiros pela liberalização do comércio e pela aplicação da tarifa externa comum). Sob o aspecto político, contudo, poderá colocar a política externa brasileira em situação delicada pela mudança do eixo Brasília-Buenos Aires e por eventuais problemas internos na Venezuela, sem mencionar os possíveis vetos de Caracas às negociações comerciais de nosso interesse.

O último movimento do Réquiem, Libera Me, que não foi escrito por Mozart, ajusta-se plenamente ao quadro agonizante do Mercosul.

Dentre as alternativas compostas para o final do Réquiem estão "Os manuscritos do Rio", de autoria de Neukomm, encontrados em 1819. Esse finale completa, de forma perfeita, o divertissement mercosulino.

Libera Me ! Réquiem para o Mercosul !

É triste ver o Mercosul virar tema de anedota.

Perigo na roça - XICO GRAZIANO


O ESTADÃO - 24/07


Novidade rural: o governo federal pretende criar uma agência para disseminar o conhecimento entre os agricultores. Democratizar o uso da tecnologia faz bem à agropecuária. Mas corre o risco de manipulação ideológica.

Anunciada durante o lançamento do último Plano de Safra, o formato do novo órgão, todavia, por ninguém foi esclarecido. Mendes Ribeiro, ministro da Agricultura e Abastecimento, apenas adiantou que "a Embrapa faz as pesquisas e essa nova agência vai levar a assistência técnica ao produtor, trabalhando de forma articulada". Boa ideia, a conferir.

A Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) compõe um capítulo querido, e saudoso, na história da agricultura. O pioneirismo coube a São Paulo, que desde 1926 introduziu o fomento rural nas suas atividades públicas. Logo depois, a Escola Superior de Agricultura e Veterinária (Esav) de Viçosa (MG), atual universidade federal, organizou a primeira Semana do Fazendeiro (1929). Na década de 1940, o Ministério da Agricultura instalou País afora cerca de 200 "postos de mecanização" para demonstrar o avanço tecnológico na lide da terra.

Começaram, depois, a surgir as Associações de Crédito e Assistência Técnica Rural (Acars), formando, nos Estados, um movimento organizado de apoio aos agricultores. Em São Paulo, o trabalho de Assistência Técnica e Extensão Rural tomou rumo próprio. As antigas Casas da Lavoura surgiram, espalhadas nos municípios, e desde 1967 passaram a ser aglutinadas na Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), que as rebatizou de Casas da Agricultura. Nelas se encontrava o suprassumo das novas práticas agrícolas.

Quando nasceu a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em 1974, o governo federal quis assumir a liderança no processo de transferência de tecnologia, criando também a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater). O intuito era, com apoio das unidades estaduais - Ematers - tirar da prateleira os resultados da pesquisa agropecuária, pondo-os à disposição da massa dos agricultores.

Com a assistência técnica propriamente dita seguiam também recomendações de natureza socioeconômica - a extensão rural -, voltadas para a promoção humana. Época de ouro da sociologia e da economia rural. Os extensionistas complementavam a visão produtivista, preocupando-se com os processos de mudança social, a educação, a higiene, a alimentação, a cultura. Qualidade de vida rural.

Bons tempos. Nada suplantava o desejo profissional dos formandos das Ciências Agrárias de se dedicarem à assistência técnica oficial. Passar num concurso público da Cati, ou das principais Ematers, era um sonho a ser realizado, para ajudar o progresso tecnológico a vencer o atraso no campo. Os mais engajados politicamente achavam isso revolucionário.

Análise e correção do solo, adubação química, rações balanceadas, sementes melhoradas, irrigação, mecanização, era extenso o cabedal das principais ferramentas da modernização agrícola. A ordem era elevar a produtividade, integrar a produção, fortalecer o comércio, levantar a renda no campo. Anos dourados da revolução verde.

Paradoxalmente, porém, tudo mudou. Quanto mais se modernizava a agropecuária, mais minguava o sistema nacional de Ater. A Embrapa brilhava, a Embrater empalidecia. Sem prioridades, esta acabou extinta em 1990 (governo Fernando Collor). Nos Estados, as Ematers sobreviveram capengando. Em São Paulo, a Cati se enfraqueceu. Profissionais da área perderam prestígio. Glórias no passado, futuro incerto.

Ninguém explicou, ao certo, que razões levaram a essa triste decadência da Ater no Brasil. Três fatores ajudam a entendê-la. Primeiro, o forte crescimento das empresas de insumos modernos, atrapalhando a trajetória antes exclusiva dos agentes públicos na assistência ao campo. Segundo, o cooperativismo, pois ao reforçar o atendimento aos associados os liberou do apoio governamental. Terceiro, ao expandir-se o ensino superior, muitos profissionais passaram a atuar concorrentemente nos escritórios particulares de planejamento rural.

Parece, ademais, ter ocorrido certo descompasso entre a teoria e a realidade agrária. Enquanto aquela, acadêmica, permanecia tradicional, refletindo um tempo em que o engenheiro agrônomo precisava dar uma espécie de colherinha de Biotônico Fontoura na boca do caipira, a modernização capitalista trazia estímulos de mercado, obrigando o produtor rural a se modificar na marra. E, muitas vezes, a se mudar para a cidade, empurrado pelo êxodo rural.

Surgiram de uns tempos para cá, na onda da valorização da agricultura familiar, novas formulações para a Ater. Recente legislação configurou-a junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, pois o drama da (má) qualidade produtiva nos assentamentos da reforma agrária passou a exigir especial atenção do governo. Acontece que, além das notórias deficiências da infraestrutura, é necessário vencer a inaptidão dos beneficiários, normalmente constituídos por desempregados urbanos. Não é fácil converter invasores de terras em prósperos agricultores.

Qual a tarefa da nova Ater? Qualificar os assentados da reforma agrária e apoiar os agricultores familiares. Muito bem. Mas aí mora o perigo. Alguns agentes políticos que articulam a volta do sistema de assistência técnica visualizam a construção de uma "via campesina" para a agricultura, um caminho temerário que mistura ideologia esquerdista com romantismo bucólico.

Isso significa, na prática, abrir as portas para que certas entidades, utilizando verbas facilmente desviáveis, elevem a dominação política sobre os miseráveis do campo. Seria trágico. Emancipação, e não subordinação, carece promover no campo.