quinta-feira, outubro 31, 2013

O som, a fúria e as cartas - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 31/10

É primavera, época de limpeza. Por favor, não jogue fora levianamente cartas e papéis manuscritos


1) Para mim, Ricardo 3º era um personagem shakespeariano, que conquistou o poder por caminhos tortos e, na véspera da batalha que lhe foi fatal, ouviu os fantasmas de suas vítimas lhe dizerem o inesquecível "Despair and die!", desespere-se e morra.

Certo, eu sabia que Ricardo 3º fora mesmo o último rei da casa de York, no fim do século 15, cem anos antes que Shakespeare escrevesse sua história. Mas sabia sem saber.

Isso, até quinta-feira passada, quando tive entre as mãos um documento assinado por ele (quando era duque de Gloucester, antes de dar um trato nos seus sobrinhos e se tornar assim rei da Inglaterra). Passei de leve um dedo sobre sua assinatura e foi como se sentisse a pegada de sua brutalidade, de sua ambição e de sua tragédia.

2) Eduard, o segundo filho de Albert Einstein e Mileva Maric, nasceu em 1910. Ele queria ser médico e psiquiatra. Aos 22 anos, Eduard entrou, pela primeira vez, no Burghölzli, a famosa clínica de Zurique onde Jung foi assistente de Bleuler. Mas Eduard não entrou como médico --entrou como paciente. No Burghölzli, aliás, ele morreu, internado, em 1965.

Numa carta a Mileva, em 1928, Einstein, referindo-se obviamente a Eduard, escreve que ele considera a psicanálise "como uma moda extremamente perigosa... Ninguém será submetido a esse tratamento com meu consentimento".

Quatro anos depois, Eduard era internado, e Einstein, convidado a escolher um contemporâneo com quem dialogar sobre a guerra, escolhia Freud. Mais quatro anos, e Einstein, num breve bilhete, declararia a Freud que ele entendera, enfim, a teoria freudiana da repressão. Naquela época, Einstein mandava a Eduard obras de Freud, declarando não ter dúvidas sobre a teoria freudiana. Será que era para agradar a Eduard, que guardava um retrato de Freud na parede de seu quarto?

Na quinta passada, com meu alemão capenga, eu procurava as palavras, na carta de 1928: "...eine überaus gefährliche Mode". A loucura de um filho é o desespero de qualquer inteligência.

3) Num dia de 1911, Georges Courteline, escritor e dramaturgo francês, recebeu um bilhete escrito por um menino que gostara muito de um texto dele e até dizia ter tentado em vão traduzir o tal texto para o alemão a fim que a babá dele, alemã, entendesse e apreciasse.

A assinatura do bilhete, que estava agora nas minhas mãos, era: "Jean-Paul Sartre, seis anos e meio".

O bilhete tinha um cheiro de livros, misturado com um perfume de ternura materna. Como Sartre diria contando sua infância, a vocação de escrever foi encontrada na paixão de ler.

4) Jean Cocteau recebe uma carta de um jovem admirador, de 19 anos, que acaba de fundar um cineclube, o qual vai estrear com a apresentação de "Sangue de um Poeta". O clube só viverá se o próprio Cocteau prestigiar a sessão com sua presença. Cocteau não foi. A carta é assinada: François Truffaut.

Penso nos convites que recuso, nos livros de estreantes que deixo de ler, nas amizades que não vingam.

5) Mas, na quinta passada, nada me emocionou tanto quanto uma breve carta do Marquês de Sade à sua mulher, que nunca deixou de amá-lo (a recíproca sendo provavelmente verdadeira). A carta é escrita do asilo de Charenton, onde Sade ficou preso como louco, de 1801 a 1814 --porque sua sogra não gostava dele e, no fundo, porque ele nunca renunciou a pensar e escrever sobre as fantasias que exaltavam seu desejo. Olhei para meus dedos, na esperança que algo dele tivesse entrado em mim, por osmose.

Em suma, passei horas com Pedro Corrêa do Lago, que me mostrou alguns dos manuscritos que ele reúne há mais de 40 anos. A coleção é extraordinária por sua extensão e variedade --e pela inteligência de Pedro (para se ter uma pequena ideia, ver os livros "Cinco Séculos a Papel e Tinta", da editora Afrontamento, ou "True to the Letter", da Thames and Hudson).

A história é mesmo, como diria um colega de Ricardo 3º, um conto sem sentido, cheio de som e fúria, mas ela é bonita ou mesmo sublime quando, por algum milagre, ela se torna concreta, como aconteceu para mim, na quinta-feira passada. Este é o poder do manuscrito: ressuscitar os corpos, pelo gesto da mão que persiste, inscrito na forma das letras.

É primavera, época tradicional de limpeza. Doe as velharias que você não usa mais, mas, por favor, não jogue fora levianamente cartas e papéis manuscritos.

Senta que o leão é manso? - MARIO SERGIO CONTI

O GLOBO - 31/10

Imaginar que fenômeno black bloc desaparecerá à força de cassetetes é considerar a polícia um remédio miraculoso, quando ela é sintoma de uma doença maior


Tarde da noite. Na floresta, todos os bichos dormem. Exceto o senhor e a senhora Coelhinho. Eles são black blocs e urdem à socapa a depredação de cenouras e outros ícones da ordem natural. Querem acabar com a velha e boa lei da selva, segundo a qual os fortes abocanham os fracos e tudo será de quem chegar primeiro. “É preciso por cobro aos maléficos intentos do senhor e da senhora Coelhinho”, ruge o leão ao atiçar os chacais contra eles.

Senta que o leão é manso? Melhor não, ele não é manso nem sábio. As jornadas de junho abriram um período no qual a violência veio para o primeiro plano. Durante duas décadas, um bem tramado sistema político, jurídico e policial — herdado da ditadura e blindado na democracia — obstou a iniciativa popular. Anestesiou os reclamos à medida que diminuía a inflação para todos, assistia quem não têm nada, aumentava o salário mínimo, ampliava o consumo e incrementava o parasitismo financeiro de uns poucos. Em junho, o Brasil róseo dessa construção foi abalado pelo povo.

Sim, o povo. Relembre-se que milhões de pessoas paralisaram centenas de cidades. Que cercaram prefeituras e câmaras municipais, palácios e assembleias estaduais, o Congresso e o Planalto. Que magotes foram presos e feridos e seis morreram. A reivindicação imediata foi obtida: o preço das passagens do ônibus e do metrô baixou. O povo impôs a sua vontade aos poderes constituídos, aos partidos, aos sindicatos, às igrejas. Por um momento, emudeceu a tagarelice cheia de certezas dos bem-pensantes. E a violência esteve presente desde o início, na forma de bombas e balas, de quebra-quebra e fogueiras.

A violência integra a política. O seu monopólio pertence ao Estado, que o exerce por meio da polícia e das forças armadas, designadas pela Constituição para manter a ordem. Em junho, a violência institucional foi contestada na mesma moeda, a tunda. A polícia barbarizou e a plebe revidou. Desde então, a participação popular encolheu e os choques cresceram. O pau come dia sim dia não.

O senhor e a senhora Coelhinho usam um modelito básico, a camiseta que cobre o rosto. Ela os protege do gás lacrimogênio e serve de máscara quando se atracam com meganhas e queimam catracas. Como não são uma organização, e sim um modo de agir, os black blocs são diversos. Há entre eles guardiões da militância, desocupados, estafetas de traficantes, pivetes sem eira nem beira, estudantes, policiais infiltrados, ultraesquerdistas, cabos eleitorais a soldo de populistas, marombeiros de academia, exibicionistas, milicianos, anarquistas que miram símbolos do capitalismo, lúmpens, provocadores, rebeldes com ou sem causa.

Achar que à noite todos os coelhos são pardos é cegueira. Imaginar que fenômeno black bloc desaparecerá à força de cassetetes é considerar a polícia um remédio miraculoso, quando ela é sintoma de uma doença maior. Foram tiras cariocas que sequestraram, torturaram e sumiram com o cadáver do pedreiro Amarildo de Souza — crime idêntico ao assassinato de Rubens Paiva na ditadura. Um PM paulista matou a queima-roupa o adolescente Douglas Rodrigues. As imagens do comandante espancado no centro de São Paulo são tão impressionantes quanto a incompetência da polícia no episódio. Se ela não consegue nem proteger o seu chefe, não há carrinho de pipoca que esteja a salvo.

Contritos, os governadores do Rio e São Paulo lamentam a violência da PM, e na frase seguinte dizem que ela deve baixar o sarrafo com entusiasmo redobrado. A incongruência não deterá a espiral da pancadaria, ao contrário. Aguardar bovinamente as eleições do ano que vem, muito menos. Há um mal-estar espraiado, uma insatisfação crônica, um sentimento de urgência, uma exasperação crescente. Apelos ao bom senso, feitos no ar-condicionado de gabinetes, não irão amainar tensões que pegam fogo na rua.

O problema é cabeludo. Pensá-lo a partir da experiência internacional não dá conta da sua novidade. Mas na França, por exemplo, quem policia os protestos são as centrais sindicais e os partidos que se reivindicam da esquerda. Eles dispõem do chamado “serviço de ordem”: militantes parrudos e bem treinados que garantem o direito de palavra da sua organização e intervêm ao menor sinal de arruaça. O serviço de ordem mais respeitado é o da Confederação Geral do Trabalho, integrado que é por mastodontes metalúrgicos e ferroviários. A polícia fica a uma quadra de comícios e passeatas. Black blocs ficam nas suas tocas ou marcham de cara limpa.

Isso poderia ser feito no Brasil? Dificilmente. Porque o PT e a Central Única dos Trabalhadores estão acoelhados. Eles abriram campo para que o senhor e a senhora Coelhinho botassem camisetas na cabeça e agora não sabem o que fazer.

Ainda os animais - CORA RÓNAI

O GLOBO - 31/10

Tenho discutido muito desde que os beagles viraram manchete. Acredito que a mudança de paradigmas só se faz com alarde e pressão social


Nunca li tanto sobre o uso de animais em testes de laboratório, contra ou a favor, quanto na última semana. Pudera não. O assunto provoca paixões violentas nos dois lados. A internet ferveu e, compreensivelmente, não houve publicação que não abordasse a questão depois da invasão do biotério Royal. Por polêmica que tenha sido, ela teve o mérito indiscutível de trazer à ordem do dia um tema da maior importância que muitas pessoas, físicas e jurídicas, não estavam interessadas em discutir. Ou, melhor dizendo, estavam interessadas em não discutir.

Ainda assim, apesar da quantidade de artigos, posts, comentários, links e argumentos, não vi um só caso em que alguém tivesse conseguido convencer um antagonista a mudar de opinião, mesmo nos raros casos em que o debate foi conduzido com inteligência e educação. A relação entre humanos e animais esbarra em sentimentos tão complexos que, ao longo dessa semana, muitas vezes tive a sensação de estar conversando com gente de outro planeta — ou, no mínimo, de outra espécie.

Um dos meus amigos mais queridos, por exemplo, médico sensível e educado, chega a lamentar que as crianças de hoje não possam mais abrir rãs vivas, como ele fazia na escola, para aprender “como funcionam”. Quando observo que isso é imoral, ele me compreende tão pouco quanto eu o compreendo quando ele me diz que, ao contrário, é educativo e necessário. É evidente que, no caso, rodamos sistemas operacionais diferentes, incapazes de se comunicar.

______

Tenho discutido muito desde que os beagles viraram manchete. Acredito que a mudança de paradigmas só se faz com alarde e pressão social. O sistema é acomodado por excelência. É preciso sacudi-lo, insistir, chamar a atenção.

______

— Eu vou usar não um argumento mas uma reflexão — propôs Luciano Barbosa na minha página do Facebook. — Imagina que um medicamento para a cura do mal de Parkinson esteja sendo feito nesse momento. E sua mãe ou seu pai sofram desse mal terrível. Aí sai na imprensa que a última etapa antes de liberar o remédio para uso público é a de testes em animais. Você pediria para que essas pesquisas não fossem feitas? Defenderia a espera para testes em outros modelos, prolongando o sofrimento dos seus parentes? Sempre que faço essa pergunta recebo ataques raivosos... Só não recebo respostas.

— A questão que você apresenta é complicada, porque parte de uma série de subjuntivos e exige outros tantos como consideração — respondi. — Além disso, ela propõe uma troca que não deixa margens a dúvidas — a vida dos meus pais ou a vida dos animais de laboratório — em cima de uma suposição: “imagina que um medicamento...” etc. etc. etc.

O que você propõe, no fundo, pode-se resumir a uma pergunta mais simples: você ama mais os seus pais ou os animais? Ora, como eu tive a sorte extraordinária de ter pais admiráveis, e tenho a felicidade de ainda ter a minha Mãezinha a meu lado, a minha resposta é óbvia; mas cuidado! Dependendo da família de cada um, você pode mesmo ouvir respostas surpreendentes.

Em suma, o que eu quero dizer é que você personaliza o argumento clássico dos pesquisadores, que em tese matam animais para salvar humanos, mas parte do mesmo vício original deste argumento, o de que o teste em animais é a única saída de que dispomos para o avanço da ciência.

O que eu questiono, e o que tantas outras pessoas — de boas ou más famílias! — também questionam, é, justamente, a necessidade desses testes: “a última etapa antes de liberar o remédio para uso público é a de testes em animais”. Mas será isso mesmo?

A maioria das defesas de uso de animais em laboratórios que tenho lido e ouvido me passa uma sensação de... comodismo, é isso. Faz-se assim porque sempre se fez assim. Faz-se assim porque, quando alguma coisa der errado (e em geral sempre dá) todos, laboratórios e pesquisadores, poderão dizer que aquela droga maravilhosa, como o Vioxx, digamos, foi exaustivamente testada em animais.

Será que já não está na hora de irmos para o próximo capítulo?

De qualquer forma, tenho uma resposta objetiva para você, que tira o elemento emocional (os meus Pais) da jogada: se eu estivesse com Parkinson, e essa decisão estivesse ao meu alcance, não deixaria testar nada em animais. Mandaria testar em mim mesma. Isso responde à sua pergunta?

______

Já um defensor do biotério passou três dias perguntando a mim e a outras pessoas se dávamos atum para os nossos gatos. A provocação implícita dessa pergunta é clara, e vai pela mesma linha dos que acham que qualquer um que se manifeste contra testes em animais e coma carne é incoerente — e, portanto, não tem direito de se manifestar. Cansei. E dei uma patada:

— Meus gatos comem atum sim. Eu como atum. Hoje mesmo abri duas latas para eles. A vida é muito mais complexa do que aquilo a que você quer reduzi-la com esse simplismo de botequim. Estamos cercados de crueldade por todos os lados, da roupa que compramos e que é feita por pessoas que trabalham em regime de semiescravidão à tecnologia que usamos; quem acredita que isso pode mudar, e eu acredito, briga onde pode, quando pode, e vai mudando um pouquinho aqui e outro ali. A alternativa 100% coerente que você quer só tem uma saída: suicídio coletivo.

Halloween! Dilma é a abóbora! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 31/10

E todo dia o Serra levanta, vai pro espelho e o espelho grita: 'Halloween de novo?!'. Sim, de novo!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! O brasileiro é cordial! Olha essa placa numa escolinha infantil: "Não vale jogar pedra nos colegas". Dever ser a escolinha dos black blocs. Maternal Black Bloc!

E o bloqueio da Fernão Dias?! São João Fora de época! Um amigo meu gostou do bloqueio porque a sogra dele tava vindo de Belo Horizonte. Bloquearam a minha sogra!

E o Alckmin Picolé de Chuchu devia ter feito uma ameaça: "Ou vocês param de incendiar ônibus ou eu chamo a Sonia Abrão". Rarará!

E atenção! Me mate um bode! Todos para o abrigo! Hoje é Halloween! Acorda, Serra! Levanta do caixão! Pega a vassoura, Dilma! Todos pra Noite do Terror! E a Dilma parece uma abóbora! Só falta acender uma vela na boca! Rarará!

Dia das Bruxas! E todo dia o Serra levanta, vai pro espelho e o espelho grita: "Halloween de novo?!". Sim, de novo! Pro espelho do Serra, todo dia é Halloween!

Mas tem um grupo que acha que Halloween é coisa de gringo! No Brasil, a gente tem que comemorar o Dia do Saci! Todo mundo pulando num pé só! Tem até cartaz: "Deixa de pagar pau pra gringo".

E pra comemorar o Dia do Saci, sabe o que o Saci falou pra Sacia? Fica de três! Rarará! Essa eu conto todo ano, mas é hilária!

E como já dizia Nelson Rodrigues: "Uma coisa dita uma vez só permanece inédita".

E atenção! Para os que desconhecem as nossas lendas: apesar do cachimbinho, o Saci não é símbolo da cracolândia. Rarará!

E sabe o que o Saci falou? Vou num pé e volto no mesmo!

E Halloween é animado. Olha a festa que teve ontem aqui em São Paulo: "Festa do Halla o Hímen! Com As Pirigóticas. Garotas com lingerie à mostra: entrada VIP. Sem calcinha: entrada VIP mais drink grátis".

E o Halloween da Val Marchiori é HELLOween! E namorar com Saci é bom porque quando você leva um pé na bunda, quem cai é ele. Levar pé na bunda é bom quando o outro cai! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! E em Salvador um cara botou a placa num sofá: "VEDIS". Deve ser o sofá do Mussum: vedis! E numa casinha em Maceió, a placa: "Vendo-me". Ueba! Vou botar uma placa dessa na porta daqui de casa: Vendo-me! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

A encomenda do prefeito - IURI PITTA

O Estado de S.Paulo - 31/10

"Houve uma encomenda do gabinete da prefeita e nós executamos a encomenda." Quem disse isso à TV Estadão em 30 de agosto de 2012 foi o candidato Fernando Haddad, número 2 da Secretaria de Finanças da gestão Marta Suplicy, a respeito da criação das taxas que tanto desgastaram a petista. Troque-se o gênero do autor da encomenda e, hoje, a frase soaria natural na boca do atual titular da pasta, Marcos Cruz. "Houve uma decisão política da prefeita de aumentar a arrecadação e isso foi feito", reforçou o candidato de 1 ano e 2 meses atrás.

Desta vez, a decisão política é de Haddad, e o aumento do IPTU para os contribuintes pode avançar além de 2014. No primeiro ano da gestão Marta, também houve correção da Planta Genérica de Valores (PGV) e a instituição das alíquotas progressivas, "vacinadas" pela isenção concedida a imóveis mais baratos. Foi uma das medidas que reforçaram mapa político em que a periferia paulistana está mais próxima do PT, e o centro tende a ser antipetista.

Novamente, Haddad aposta nessa divisão da cidade e na alegação de que corrigir a PGV é seu "dever". De fato, houve valorização imobiliária de 2009 para cá. E, pelo placar apertado da votação, o prefeito não escancarou as portas da máquina para trocar cargos por apoio como já se fez tantas vezes. Um avanço.

Poucas horas depois, o prefeito viu o assunto do dia deixar de ser o IPTU e convocou entrevista para falar sobre a milionária sonegação cometida durante a gestão Gilberto Kassab, na pasta comandada por um aliado do ex-governador José Serra. Por ora, Haddad se viu menos cobrado pela elevação do imposto, mas ao longo da gestão vai responder mais vezes sobre a "encomenda" que, agora, é dele e de mais ninguém.

O que faz a Fifa? - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 31/10

O promotor de Justiça Flávio Bonazza investiga se o governo do Rio vai bancar as estruturas temporárias (rampas, tendas etc.) da Copa de 2014.
Na Copa das Confederações, o gasto público com estas estruturas, só no Rio, foi de R$ 33,7 milhões.
O MP entende que a conta deve ser paga pela Fifa e pelo Comitê Organizador, como aconteceu na última Copa, na África do Sul.

Suor e cerveja
Guido Mantega encontrou, por acaso, com um empresário do setor de cerveja em São Paulo e brincou:
— Espero que neste verão a única coisa que suba seja a temperatura. O empresário garantiu ao ministro que os preços da cerveja estão bem comportados.

Capitão Lamarca
Paulo Betti esteve com Dilma ontem.
Ela disse ao ator que se comoveu ao vê-lo no papel de Capitão Lamarca no cinema. Dilma contou ainda que “se emocionou ao lembrar do companheiro de luta armada”.

Blanc e Blanco
A prefeitura do Rio esclarece que não há “Mergulhão Aldir Blanc” na Barra, e sim “Mergulhão Billy Blanco”, compositor já falecido. Mas até a CET-Rio tem portarias com o nome do artista errado.
Billy Blanco Jr., filho de quem o nome sugere, acha que Eduardo Paes deveria colocar uma placa no lugar para evitar a confusão.

Lula e Dilma
De um importante político petista comparando Lula e Dilma:
— Nas reuniões, Lula ouve 80% e fala 20%. Dilma não. Fala 80% e ouve só 20%.
Outra do mesmo petista:
— Dilma sabe tudo. E Lula é sabido.

Calma, gente
A decisão do atacante Diego Costa de jogar pela Espanha agita a pequena Lagarto, cidade sergipana de cerca de cem mil habitantes onde ele nasceu.
No site “Lagartense”, o colunista Moacir Paconé elogia Diego, que “preferiu retribuir à nação que o fez como personalidade do mundo do futebol”. Mas, entre os mais de 60 comentários, tem leitor temendo que Lagarto fique conhecida como “Terra do traíra”.

Por falar em Lagarto...
Joel Silveira, o grande repórter e filho de Lagarto, certa vez, contou, orgulhoso, para o amigo Rubem Braga que Lampião, apesar de toda a sua proclamada valentia, jamais tivera coragem de entrar lá. Braga, filho também de uma cidade pequena, a capixaba Cachoeiro de Itapemirim, não perdeu a brincadeira:
— Lagarto não é lugar para entrar, mas para sair.

E ainda...
Por volta das 7h15m de ontem, um gaiato não resistiu ao ver o técnico Felipão caminhando na Praia da Barra:
— Deixa o Diego Costa em paz!
Felipão fez cara de quem não gostou, mas quem estava em volta caiu na gargalhada.

Maré ruim
A 13ª Vara Cível do Rio determinou que haja penhora dos R$ 15 milhões de patrocínio que a Caixa Econômica paga ao Vasco.
É que, há 13 anos, o ex-jogador de vôlei Giovane foi contratado para atuar pelo clube, que só pagou alguns meses de salário. Houve até um acordo judicial, segundo o advogado Claudio Daolio, mas o clube carioca não cumpriu.
Cabe recurso.

O escritório do Huck
Luciano Huck comprou oito salas — um espaço total de 250 m2 — no prédio comercial The City, na Barra.

Maurício Azêdo
O vereador Eliomar Coelho entrou com um projeto para dar à tribuna de imprensa da Câmara do Rio o nome de “Vereador Oscar Maurício Lima de Azêdo”, o ex-presidente da ABI e da própria Câmara, que faleceu semana passada.
Aliás, a missa de sétimo dia do coleguinha será hoje às 12h, na Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo, na Rua 1º de março.

No mais...
Para não perder o hábito: Halloween é o cacete!

ESQUEMA FEDERAL - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 31/10

A CGM (Controladoria-Geral do Município), que iniciou as investigações sobre esquema de fraude que pode ter causado um rombo de até R$ 500 milhões na Prefeitura de SP, acionou autoridades de Brasília para compartilhar informações. O órgão detectou que lotéricas podem ter sido usadas pelos acusados para supostamente esconder dinheiro de corrupção.

CARTILHA
Ao contrário de outros escândalos, em que bilhetes "premiados" justificaram a entrada de alta quantia de dinheiro em declarações de patrimônio, desta vez a utilidade das lotéricas não está clara. Uma das hipóteses é que elas funcionavam como bancos para descontar cheques de propinas. A CGM acionou o Coaf, órgão de inteligência financeira do governo federal, para estudar o que pode ser um novo "modus operandi" de corrupção.

FITA ISOLANTE
Era visível o esforço do prefeito Fernando Haddad, ontem, para evitar que a operação transbordasse para uma crise ainda maior com Gilberto Kassab. "Não há interface política", afirmava a interlocutores.

AUTORIZADA
Roberto Carlos ganhará uma biografia fotográfica (e devidamente autorizada) no ano que vem. O livro, que sai em abril pela editora Toriba, terá edição única e com número limitado de exemplares. Será uma coletânea de imagens selecionadas pelo artista com frases retiradas de suas canções.

QUEM NÃO CHORA...
A top Carol Trentini, que deu à luz o primeiro filho em agosto, armazena o próprio leite para quando se ausenta de casa. Ela tira um litro por dia, em média. "Meu banco está com 7,5 litros", diz. Carol mantém o estoque organizado com data e quantidade. E afirma que se sentiria ofendida se fosse alvo de comentários como o do apresentador Danilo Gentili. Ele fez piada sobre a técnica de enfermagem que produzia até dois litros de leite por dia. "Graças a Deus ela produz tudo isso e pode ajudar outras mães."

GRÁFICO
A mortalidade por Aids alcançou o menor índice da história no Estado de São Paulo. Foram 2.760 óbitos no ano passado (taxa de 6,6 por 100 mil habitantes), segundo a secretaria estadual de Saúde. Em 1995, primeiro ano da medição, houve 7.739 casos (proporção de 22,9). A pasta também afirma que a sobrevida dos pacientes está maior e com mais qualidade.

COTA
Dez bancos que criaram programas de inclusão de negros no mercado de trabalho assinam convênio com a Faculdade Zumbi dos Palmares hoje para abrir cem vagas de estágio a alunos da instituição. Bancos como Bradesco, Citibank, HSBC, Itaú Unibanco e Santander vão aderir à iniciativa.



SEM UMA, MAS COM TODAS DE UNIFORME PARA VER LAGERFELD
Enquanto os primeiros convidados chegavam à Oca, no parque Ibirapuera, para a abertura de "The Little Black Jacket", exposição de fotos com a clássica jaqueta preta da Chanel, a segunda estrela mais esperada da noite, a atriz Uma Thurman, embarcava para os Estados Unidos.

A protagonista de "Kill Bill" encabeçava a lista de VIPs que vieram no entourage de Karl Lagerfeld, o todo-poderoso da grife, autor das fotos e curador da exposição (assinada também por Carine Roitfeld, da "Harper's Bazaar"). Mas não deu as caras.

Hospedada no hotel Fasano, bloqueado pela grife para o evento, Uma se irritou por ter sido acomodada pela Chanel em uma suíte junto com a filha, de 1 ano e meio, e a babá. "Foi um mal-entendido entre a organização e o manager' da atriz", disse um membro da equipe. Oficialmente, a estrela alegou torcicolo para se mandar.

"Ele vem?", era a questão na entrada da exposição, por volta das 20h de anteontem. Lagerfeld só apareceu às 22h30. Uma procissão o seguiu até o andar de baixo, onde ficou em um cercadinho. De lá, viu impávido o show dançante da cantora M.I.A..

Antes de se apresentar, a inglesa, que faz sucesso com um pancadão eletrônico, posou no backdrop, mural com o logotipo da marca que era parada quase obrigatória para os famosos. "Quem é essa?", perguntava a dona de casa Sílvia Bonfiglioli.

A atriz Diane Kruger (de "Bastardos Inglórios") passou rapidamente por ali com o namorado, Joshua Jackson, o Pacey de "Dawson's Creek". Uma legião de tops fez o dever de casa --todas com seus looks Chanel, fornecidos pela grife. Fizeram carão para os fotógrafos Isabeli Fontana, Caroline Ribeiro e Carol Trentini, entre outras.

A maioria das convidadas também desfilava modelitos da grife. "All of Chanel", explicava Sílvia. Ela chamava atenção por ser a própria reencarnação de Coco Chanel, em seu look inteiramente da marca: vestido branco, estola preta.

"Quero fazer uma foto lá", apontava a cliente fiel para o mural com o logo da marca. "Tem tanta gente brega lá, eu quero", insistia. "A produção é minha. Fui eu que paguei", brincava o marido, o empresário Márcio Bonfiglioli.

Já a atriz Suzana Pires passou como um relâmpago pelo backdrop. Seu vestido vermelho não era Chanel. "É Azzaro, mas é meu." Laura Neiva seguiu o "dress code". Embaixadora da grife no Brasil e única brasileira nas fotos da exposição, vestia Chanel da cabeça aos pés. "A bolsa é igual à da Cinderela [com hora para devolver]", disse, sobre a peça transparente emprestada pela marca.

Muitas tiraram um Chanel "vintage" do baú. Valeu até "homenagear" a grife com modelito de brechó de Nova York, como fez Thássia Naves, de Uberlândia, "a maior blogueira do Brasil". "Tenho 700 mil seguidores."

Karl, o dono da festa, torceu o nariz para o tal backdrop. Em protesto, os fotógrafos foram embora mais cedo sem um clique do "Kaiser".

Poucas tiveram a sorte de entrar no cercadinho VIP. A apresentadora Ticiana Villas Boas chegou lá. "Recebi hoje o croqui do meu vestido de noiva desenhado pelo Karl", contou. Em seu casamento com o empresário Joesley Batista, do grupo JBS Friboi, o noivo arremessou uma bolsa Chanel aos convidados.

Ticiana e Iara Jereissati, mulher de Carlos Jereissati, dono do shopping Iguatemi, ficaram 20 minutos de papo com as recepcionistas da área VIP até serem aceitas. Havia seis seguranças na entrada. A atriz Bárbara Paz foi barrada, mesmo na companhia de Lilian Pacce, apresentadora do "GNT Fashion", que foi levada sozinha até Lagerfeld.

Sílvia Bonfiglioli não chegou perto de Lagerfeld. E, ao final, deu uma de Uma Thurman: "Ainda bem que quebrei a monotonia do preto e branco da Chanel e coloquei meu brinco de lagartixa", mostrava ela. Karl teria gostado do acessório, ela garante. "E o meu Chanel não tem cheiro de naftalina, viu?"

Lagerfeld visitou a Chanel do JK Iguatemi, mas não apareceu em um jantar, para poucos, no Fasano, na segunda. Foi visto no restaurante japonês de Jun Sakamoto.


CURTO-CIRCUITO
O bar eStônia, dentro do restaurante Ramona, é inaugurado hoje, às 19h.

O desembargador José Renato Nalini lança hoje o livro "Magistratura e Ética: Perspectivas", às 18h30, na Livraria Cultura da Paulista.

A Oi abre hoje inscrições para o edital do Programa de Projetos Culturais Incentivado. Até 2/12.

Espelho, espelho meu - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 31/10

O candidato do PT ao governo do Rio, Lindbergh Farias, está com os nervos à flor da pele. O PMDB anda comparando o petista a Eduardo Campos. Lindbergh também se apresenta como candidato de oposição, mas ainda hoje o PT é governo. Por fim, o PMDB, como foi feito com o governador Sérgio Cabral, espalha que negocia um acordo pelo qual o petista seria nomeado ministro.

A carteirada
Durante almoço ontem no Palácio da Alvorada, o governo e a política não foram os únicos pratos saboreados pelo ex-presidente Lula e pela presidente Dilma. Conversa vai, conversa vem, e Lula pediu maior agilidade para que fosse aprovada a autorização para funcionamento da TV do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, entidade que presidiu durante a ditadura militar. Na hora, Dilma pegou o telefone e ligou para o ministro Paulo Bernardo (Comunicações). Perguntou. Ouviu a resposta. Desligou o telefone. E informou ao seu antecessor que estava tudo encaminhado e que era apenas uma questão de dias a aprovação da criação da nova emissora.


"A guerra do Iraque consumiu US$ 3 trilhões. Com esse dinheiro, seria possível levar programas de transferência de renda a 1,5 bilhão de pessoas durante dez anos"
Luiz Inácio Lula da Silva
Ex-presidente da República, na solenidade pelos dez anos do Bolsa Família

Na pressão
O Planalto tenta impedir de todas as formas a votação, pelo Senado, do passe livre. O presidente do Senado, í Renan Calheiros (PMDB), quer votar o tema em dois meses. E o presidente da CCJ, Vital do Rêgo (PMDB), na foto, marcou audiência pública para a semana que vem. O Planalto diz que o projeto é "uma loucura" e que não há de onde tirar o dinheiro.

De volta à cena
Corre solto entre os tucanos e os aliados do presidente do PSDB, senador Aécio Neves, que o candidato do partido para suceder ao governador Antonio Anastasia é o ex- deputado e ex-presidente do partido Pimenta da Veiga.

Apertando os parafusos
A presidente Dilma convocou os ministros Edison Lobão (Minas e Energia), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Miriam Belchior (Planejamento) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) para uma reunião no sábado. O objetivo, segundo tecnocratas do Planalto, é conhecer a "narrativa estratégica" dos ministérios. Traduzindo: saber o que as pastas têm para entregar nos próximos quatro meses.

A tarefa
Para os senadores petistas, o ex-presidente Lula disse que vai se dedicar, nos próximos meses, à concertação dos partidos aliados nas eleições estaduais. E comentou, sobre sua saúde, que hoje ele tem segurança para percorrer o país.

A trégua
O comando do PMDB está tentando acalmar os ânimos dos líderes do partido nos estados em que há disputa com o PT. Ele teme pelo futuro, caso se mantenha o radicalismo na virada do ano. Avalia que o ano que vem pode ser tarde demais.

"Sonho meu"
O presidenciável Aécio Neves marcou reunião, hoje, com dirigentes do PSDB de Brasília numa casa de festas infantis chamada Jump Joy. O slogan do lugar é: "Viva este sonho intensamente. Tornamos real o que passa pela sua imaginação"

NA MESA A SUCESSÃO NO RIO. A presidente Dilma e o governador Sérgio Cabral vão almoçar, na próxima semana, no Palácio da Alvorada.

Na base da ameaça - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 31/10

A cúpula do PMDB recebeu "atônita" recado de emissários do Palácio do Planalto de que, se Renan Calheiros (PMDB-AL) levar adiante o projeto de Francisco Dornelles (PP-RJ) de autonomia do Banco Central, o movimento será considerado "ruptura" com o governo. A mensagem hostil surpreendeu peemedebistas, uma vez que Michel Temer já havia conversado antes com Renan, a pedido de Dilma Rousseff, para "baixar a bola" do projeto, com o que o senador teria assentido.

Meteorologia Até ontem à tarde, no entanto, Renan ainda demonstrava a colegas no Senado disposição de colocar o projeto em votação, embora auxiliares do Planalto afirmem ter recebido recado do senador de que o texto seria engavetado.

Devagar Aécio Neves (PSDB-MG) deve conversar hoje com Dornelles, que é seu tio, sobre a proposta de autonomia. O presidenciável tucano avalia que mandato de seis anos para o presidente do BC é tempo demais, mas diz ainda não ter opinião fechada sobre a matéria.

Sinais Aliados do ex-presidente Lula que conversaram com ele sobre a ideia de dar autonomia ao BC dizem que, na opinião do petista, o efeito da medida seria apenas "simbólico", uma vez que, na prática, a instituição já teria independência para agir.

Torneira Nos cenários traçados por aliados de Dilma sobre o mau humor do empresariado com o governo também são levadas em conta as previsões de doações eleitorais. Um governista fala em "aridez" de recursos.

Do Leme... Ideli Salvatti recebeu ontem o líder do PR na Câmara, Anthony Garotinho, que encabeça todas as pesquisas de intenções de voto para o governo do Rio.

... ao Pontal Se dependesse de conselheiros de Dilmae, o ideal, diante do cenário incerto da sucessão fluminense, seria a presidente ter quatro palanques: Garotinho, Luiz Pezão, Lindbergh Farias e Marcelo Crivella.

Trunfo Na viagem que fará à Alemanha, Eduardo Campos espera anunciar parceria entre uma empresa brasileira e uma alemã para investimento em Pernambuco na área metal-mecânica.

Tempo... Articuladores da pré-campanha de Aécio trabalham para antecipar para novembro a formalização de sua candidatura ao Planalto. Para os tucanos, a indefinição está provocando a perda de força na negociação do senador mineiro com eventuais partidos aliados.

... perdido Aécio evita romper o acordo que firmou com José Serra (PSDB) de que a candidatura do partido só seria oficializada em março, mas seus aliados preparam um movimento público em defesa da antecipação.

Bomba... Vice-presidente do PSB, Roberto Amaral ataca, em artigo publicado no site do partido, economistas que aconselham Marina Silva, aliada de sua sigla. Para o pessebista, André Lara Resende e Eduardo Giannetti representam "o campo conservador, que trabalha sob o marco da tragédia do governo neoliberal de FHC".

... atômica Amaral afirma que a eleição de 2014 será marcada por uma disputa entre conservadores e progressistas. E diz que PSB e PT devem manter "atuação conjunta no movimento social".

Na planta Patrícia Bezerra (PSDB) e outros vereadores de oposição em São Paulo vão estimular líderes de associações de moradores a ocuparem as galerias da Câmara Municipal na próxima semana para protestar contra o aumento do IPTU e pressionar o prefeito Fernando Haddad (PT) a vetar o reajuste.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Lula não conhece limites. Ele diz que Marina e Serra são sombras sobre Eduardo e Aécio. E o eclipse total a que ele submete Dilma?"

DO DEPUTADO MARCUS PESTANA (PSDB-MG) sobre articulações do ex-presidente, que disse durante encontro com senadores que pode voltar em 2018.

contraponto


Mosca na sopa
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), falava a jornalistas sobre o projeto que dá autonomia ao Banco Central. Em defesa da proposta, Renan argumentava que a mudança blindaria o Banco Central de eventuais interesses externos e também permitiria melhor condução da política monetária.

Antes de encerrar sua explicação, uma mosca apareceu e começou a rondá-lo. Incomodado com o inseto, Renan interrompeu a fala e brincou:

--Tem uma mosca aqui. Aposto que é uma mosca do Banco Central. Está ouvindo tudo!

A onda de Renan - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 31/10

A defesa que o PT fez do voto aberto para tudo, inclusive vetos presidenciais, foi a força motriz que desengavetou num passe de mágica a proposta que estabelece a autonomia do Banco Central. Muitos senadores do PMDB se sentiram expostos por ter que apreciar os vetos abertamente e viram o dedo do governo nesse projeto. Agora, constrangidos a ficar com o voto aberto, eles escolheram a autonomia do Banco Central como o troco no Executivo. O contribuinte agradece. O tema provocou uma discussão daquelas entre peemedebistas e a ministra Ideli Salvatti, que pregava a inocência do governo nessa história. Mas não adiantou. Depois que Valter Pinheiro e Wellington Dias defenderam o fim do voto secreto para apreciação de vetos, a fatura foi debitada na conta do Planalto.

E tem mais: se passar o voto aberto para tudo, há quem diga que Renan teria ainda dificuldades em se reeleger presidente do Senado, o que vem sendo tratado nos bastidores como mais um motivo para o troco no governo. Os peemedebistas, entretanto, garantem que Renan se reelege se quiser mesmo ser reconduzido ao cargo daqui um ano e três meses. Mas, ainda assim, em política invariavelmente vale a máxima “seguro morreu de velho”.

Arena prioritária
Lula avisou ao líder do PP, deputado Dudu da Fonte (PE), que irá várias vezes a Pernambuco “fazer campanha” e ainda comentou: “Em 2012, o PT me arrumou uma encrenca lá, mas agora, acabou”. Lula não mencionou, mas, entre os amigos do ex-presidente, há quem diga que ele coloca como questão de honra vencer o PSB de Eduardo Campos em sua terra natal.

Olha o chapéu!
Um almoço ontem em Brasília entre três políticos do Distrito Federal deflagrou os ensaios para uma aliança na capital da República. Estavam lá três ex-secretários de governos locais, de Joaquim Roriz e José Roberto Arruda. Izalci, do PSDB; Jofran Frejat, do PR; e Alberto Fraga, do DEM. Combinaram até a formatação do programa. Izalci cuidará da parte de educação, Frejat, da Saúde, e Fraga, da mobilidade urbana e segurança. “Ninguém jamais disse a Pitiman que ele teria legenda para ser candidato a governador”, disse Izalci, referindo-se ao deputado Luiz Pitiman, que se movimenta para o GDF.

Depois do Outubro Rosa.../... o Novembro Azul, um alerta contra o câncer de próstata, iniciativa da deputada Rose de Freitas (PMDB-ES) e da senadora Ana Amélia (PP-RS). "Há muito tempo, os homens reclamam por falta de dados específicos. Hoje, sabemos que 90% dos que detectam essa doença nunca foram ao médico", diz Rose. O documento será apresentado hoje, com o slogan da campanha "É preciso tocar nesse assunto".

O estressado/ Quem não estava nada calma era a turma da segurança. Ao perceber a presença da coluna bem próxima de Dilma, um deles foi direto: “Por favor, fique atrás de mim e deixe ela passar. Senão, eu perco o meu emprego!”.

Fui!/ O vice-presidente Michel Temer (foto) estará na China quando a presidente Dilma Rousseff fizer a rodada de conversas com o governador do Rio, Sérgio Cabral, o líder do partido, Eunício Oliveira, e o senador Vital do Rego Filho para justar os ponteiros. Vai representar o governo em encontros empresariais e seminários. Se os “meninos” fizerem alguma bagunça na ausência dele, que se entendam direto com a “tia”.

Tensão até no clube/ Depois do empate na urna, 901 a 901, a eleição da nova diretoria do Iate Clube, o mais badalado de Brasília, frequentado por políticos, empresários e funcionários de alto escalão de todos os poderes, foi parar na 21ª Vara Cível, numa ação proposta pela oposição encabeçada por Edson Garcia. A decisão judicial é esperada para as próximas horas.

“Aplaudo o Bolsa Família de pé, mas não posso fazer o mesmo sobre os rumos da economia do Brasil”
Do líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque

Passou recibo
Pelo visto, o ex-presidente petista não se conforma com o discurso do senador Aécio Neves a empresários em Nova York. Em sua passagem por Brasília, Lula comentou, sem citar nomes: “Querem acabar com a imagem do Brasil lá fora, vão lá falar mal, ora, não é assim, estamos crescendo. Temos um espaço imenso para investir. Ninguém tem mais ferrovia para fazer, pré-sal. Tudo o que Portugal queria é ter a situação do Brasil”.

O "lifting" de Lídice
A ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Eliana Calmon está praticamente fechada com o PSB para concorrer ao Senado pela Bahia em 2014. Assim, reforça o palanque da senadora Lídice da Mata ao governo estadual.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 31/10

Emprego na construção tem o maior avanço desde abril
Após quatro meses de estabilidade, o emprego na construção civil brasileira voltou a crescer acima de um ponto percentual em setembro, segundo levantamento do Sinduscon-SP (sindicato do setor em São Paulo).

Com a abertura de 36 mil vagas, o nível de emprego do segmento avançou no país 1,03% no mês passado, na comparação com agosto.

É o melhor resultado desde abril, quando o desempenho havia sido de 1,1%.

O montante de vagas criadas também é superior ao apresentado em setembro de 2012, quando ocorreram 13,7 mil contratações.

"O crescimento em setembro foi uma surpresa positiva, mas ainda não está muito claro se ele significa uma retomada do setor", afirma Sergio Watanabe, presidente do sindicato.

"Vamos aguardar os números dos próximos meses para avaliar se realmente é um indicativo de reversão", diz.

No acumulado dos primeiros nove meses deste ano, o indicador aponta alta de 5,16%, com a contratação de 174,1 mil trabalhadores.

No mesmo período de 2012, haviam sido contratadas 247,9 mil pessoas.

A construção civil brasileira deve fechar 2013 com um crescimento real de 2%, abaixo dos 3% de aumento do ano passado e muito longe do avanço de quase 15% que foi registrado em 2010.

"O setor vem em um processo de desaceleração, bem perto da estabilidade."

Reino competitivo
Oito em cada dez executivos do centro financeiro de Londres afirmam preferir que a Inglaterra permaneça na União Europeia.

Levantamento da Ipsos mostra também que 84% deles acreditam que a participação no bloco é melhor para a competitividade do país como centro financeiro.

Para 74%, as empresas são beneficiadas pelo fato de a Inglaterra ser membro do grupo.

Entre as principais vantagens da União Europeia para os negócios estão o fácil acesso ao mercado consumidor dos países que fazem parte do bloco (49%) e o quadro regulatório único para serviços financeiros (46%).

A facilidade de comércio entre os países também foi citada por 44% dos entrevistados. Apenas 5% afirmam que a melhor opção para o país seria deixar o mercado único.

Outros 11% disseram que a Inglaterra deve permanecer apenas se mais barreiras forem removidas.

Prêmio Folha Top of Mind
Cinco marcas ganham na categoria principal
Pela primeira vez desde 1991, cinco empresas dividiram o palco do HSBC Brasil, anteontem à noite, em São Paulo, para receber o prêmio mais importante do Folha Top of Mind.

Omo (6%), Coca-Cola (5%), Nestlé (3%), Nike (3%) e Samsung (3%) ficaram tecnicamente empatadas na categoria Top do Top.

Para chegar ao resultado, o Datafolha pergunta: "Qual a primeira marca que lhe vem à cabeça quando se fala em produtos ou serviços?". Foram entrevistadas 5.145 pessoas em 160 municípios de todas as regiões do Brasil.

A cerimônia foi acompanhada por 1.200 convidados.

"A festa ganha representatividade a cada ano. Hoje o evento mobiliza todas as pessoas de decisão do mercado: presidentes de entidades, equipes de marketing dos anunciantes e agências", afirma Antonio Carlos de Moura, diretor-executivo comercial do Grupo Folha.

SEIS VEZES
Vencedora em seis das 54 categorias, a Samsung foi a marca que subiu mais vezes ao palco. Mais lembrada na categoria estreante Top Tecnologia, a empresa sul-coreana foi premiada também em Top Performance, smartphone, notebook, aparelho de TV e Top do Top.

"Não estamos comunicando apenas inovação, mas novas possibilidades para os consumidores", afirma André Felippa, vice-presidente de marketing da Samsung para a América Latina.

Além do Top Tecnologia, três categorias estrearam na premiação: talheres (que foi vencida pela Tramontina), pratos congelados (Sadia) e carne (Friboi).

COMPARTILHADO
Paula Lopes, gerente de marketing de Omo --vencedora nas categorias Top do Top, Top Higiene e sabão em pó--, diz que não se incomoda em dividir o prêmio principal. "Independentemente de compartilhá-lo ou não com outras marcas, Omo se mantém lá."

Para Henry Rabello, vice-presidente de marketing da Nike do Brasil, "o prêmio é o reconhecimento dos consumidores de que estamos no caminho certo".

De acordo com Lilian Miranda, vice-presidente de marketing e comunicação da Nestlé, a marca criou uma "relação de afeto e confiança com os consumidores".

As agências Y&R e DM9DDB são as que têm mais clientes premiados.

SEGURO GARANTIDO
A Seguralta, rede de corretoras que atua com seguros, previdência privada e consórcio, planeja abrir mais 200 unidades até o fim de 2014. Hoje, são 550 franquias.

"O crescimento maior ocorrerá no Nordeste e no Norte", diz o sócio Reinaldo Barboza Zanon. O grupo deve faturar R$ 200 milhões neste ano --33% de alta ante 2012.

A delicada autonomia do BC - OCTÁVIO COSTA

BRASIL ECONÔMICO - 31/10


Insatisfeito como açodamento do PT nas articulações para as eleições do ano que vem, o PMDB resolveu dar o troco na pauta de votações do Congresso. Abandonando o cuidado de consultar antes o Palácio do Planalto, o presidente do Senado, Renan Calheiros decidiu puxar para a frente da fila o projeto de lei que estabelece autonomia para o Banco Central, com mandato fixo de seis anos para toda a diretoria a partir de 2016.

O governo foi pego de surpresa e mandou avisar que não quer regras mais rígidas para a instituição encarregada de zelar pela estabilidade da moeda. “É um assunto delicado, precisa ser muito bem examinado”, advertiu o vice-presidente da República, Michel Temer, mostrando o desagrado do Executivo.

A pressa tem origem na pirraça do PMDB, mas já é tempo de decidir se interessa ou não ao país a maior autonomia do Banco Central. Essa discussão se arrasta há anos, desde a Constituinte. No enfoque realista dos costumes brasileiros, parece totalmente inviável a convivência de um presidente da República e de um ministro da Fazenda com um presidente do BC herdado de outro governo. Imagine-se, então, a hipótese de o responsável pela política monetária ter sido indicado por uma legenda adversária, derrotada nas eleições.

Nenhuma chance de permanecer no cargo, por mais eficiente que seja o gestor. Para o bom andamento da política econômica, considera-se essencial o clima de harmonia entre o BC e a Fazenda. Mesmo a diferença de opiniões, como a que existia no governo Lula entre Henrique Meirelles e Guido Mantega, não é recomendável. Assim manda a tradição. Alguns economistas, porém, defendem que o BC tenha total independência.

Dizem que a gestão da moeda e dos juros é um tema eminentemente técnico que não deve ser submetido a injunções políticas. Lembram, por exemplo, o mal estar do início do governo Dilma Rousseff, quando o mercado financeiro concluiu que Alexandre Tombini e sua diretoria estariam agindo sob pressão da presidente. A queda dos juros seria conflitante com os indícios de retomada da inflação.

Mas a diretoria do BC preferia contrariar a teoria do que bater de frente com as promessas de redução dos juros. Em meio à desconfiança, a presidente Dilma viu-se forçada a atestar de público a autonomia do Banco Central, cujo presidente tem status de ministro. O objetivo do projeto de lei é garantira independência operacional do BC, para que não haja a possibilidade de se dobrar às orientações do governo.

Como hoje, os diretores do órgão serão escolhidos pelo presidente da República e aprovados pelo Congresso. Mas deixarão de ser passíveis de demissão a qualquer momento. Esse é o modelo adotado nos Estados Unidos, na Inglaterra e também na Argentina. Ao fim do mandato, podem ser reconduzidos ou não. Nos EUA, as reconduções são rotineiras. Indicado por Ronald Reaganem1987, Alan Greenspan atravessou o governo Bill Clinton e ficou no cargo até 2006.

Acredita-seque a simples aprovação do projeto de lei, pela segurança que transmitirá ao mercado, provocará redução dos juros no mercado futuro, como ocorreu na experiência inglesa.Importante será indicar técnicos de notório saber e com expertise reconhecida. “Com o mandato fixo, o grau de dificuldade estará na escolha dos nomes”, afirma o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do BC.

SOBE E DESCE

sobe
A gasolina comum vendida em todo o território nacional terá o teor de enxofre reduzido a partir de 1º de janeiro de 2014, segundo a Agência Nacional do Petróleo e Gás (ANP), comandada por Magda Chambriard.

desce
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) anunciou que deve restringir o uso de redes sociais por empresas que têm ações negociadas em Bolsa. Leonardo Gomes Pereira é o presidente da CVM

Cidadão Eike - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 31/10

Rosebud (botão de rosa) é a chave que explica a criação e o esfacelamento do império do Cidadão Kane - na vida real, presume-se tenha sido o magnata norte-americano William Hearst, falecido em 1951.

Diploma de idiota pode ser a expressão que ajude a explicar a meteórica construção e o desmonte do império do cidadão Eike Batista.

O Cidadão Kane é o filme genial lançado em 1941, dirigido e estrelado por Orson Welles, marco da história do cinema mundial. Rosebud, só no incêndio final fica claro, é a marca do trenó com que o menino Charles Kane brincava no momento crucial em que se separou irremediavelmente de sua mãe, trauma nunca resolvido que tentou superar com a fantástica acumulação de riquezas e de poder.

Eike nunca escondeu de ninguém que um dos momentos decisivos de sua vida aconteceu quando comunicou à família a aquisição de concessões de minas de ouro no Pará. Foi quando o pai, Eliezer Batista, um dos grandes presidentes da Companhia Vale do Rio Doce e ministro de Minas e Energia no período João Goulart, deu um tapa retumbante na mesa da sala de jantar, riscou uma moldura imaginária no ar contra a parede de fundo, e perguntou diante da esposa, de Eike e dos outros seis filhos: "Você quer tirar diploma de idiota?".

A partir daí, as coisas na vida de Eike parecem ter-se passado de forma a provar para o pai, para si mesmo, para o País e para o mundo, que não era e jamais seria um idiota, o que de fato nunca foi. "Meus projetos são à prova de idiota", declarou ele em 2012, relata a comentarista do jornal O Globo Míriam Leitão.

Ontem, a petroleira do grupo, a OGX, entrou com pedido de recuperação judicial. Aconteça o que acontecer, a história do império fará inevitavelmente parte dos estudos de caso nos cursos superiores de Administração de Empresas. E haverá lições a tirar de uma impressionante roda-viva que girou em torno de projetos mirabolantes, avaliações apressadas, seduções sistemáticas de mercados, banqueiros e políticos, de capitalizações gigantescas de empresas e negócios construídos, em grande parte de vento, quase sempre com recursos dos outros.

Mais ainda há a cobrar do governo PT, que se lançou a exibir feitos e grandes acordos com representantes da chamada burguesia nacional. Foi o governo que catapultou Eike Batista a candidato a campeão da atividade econômica e grande exemplo a seguir pelo empresariado brasileiro. Depois o alimentou com recursos subsidiados do BNDES e empurrou a Petrobrás para o seu colo, supostamente para parcerias com a OGX, que seriam irrevogáveis e desastrosas fossem elas levadas a cabo.

Como a sociedade e o País mergulharam de cabeça nesse jogo é outra narrativa potencialmente rica em ensinamentos, embora episódios parecidos com esse sejam permanentemente revisitados, desde as gigantescas pirâmides financeiras feitas com bulbos de tulipa ocorridas na Holanda do século 17.

Mas a grande história pode ser outra. Parece ter a ver com buracos negros interiores que precisam ser preenchidos com massas cósmicas que em seguida desaparecem misteriosamente. Ou reaparecem no outro lado do universo.

O ser humano e a sociedade não são, por acaso, feitos desse material?

O X roeu a roupa do rei do Rio - PAULA CESARINO COSTA

FOLHA DE SP - 31/10

RIO DE JANEIRO - Eike Batista chegou a ser o brasileiro mais rico, mas era pouco para quem queria ser o homem mais rico do mundo. Mineiro de Governador Valadares, criado na Europa, planejou mudar o Rio e espalhar o X de sua marca pelo Estado.

A eterna promessa de despoluição da lagoa Rodrigo de Freitas começou a virar realidade com sua colaboração financeira. O projeto que reelegeu Sérgio Cabral e transformou a segurança pública do Estado, o das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), recebeu cerca de R$ 100 milhões da OGX desde seu início.

Colaborou com vários projetos de sucesso, mas enfileirou uma série de outros que podem ser enquadrados como fiascos ou até crimes contra o patrimônio público. Ajudou a bancar a campanha que deu ao Rio o direito de sediar a Olimpíada de 2016, quando emprestou o jatinho que levou governador e prefeito para a Dinamarca, onde foi anunciada a cidade vencedora. Construiu a biografia misturando o público e o privado, seja dando um colar com seu nome à então mulher Luma de Oliveira, seja oferecendo doações de campanha e viagens gratuitas a aliados políticos.

Não fez nada à toa nem sem autoridades influentes que o bajulavam. Ganhou isenções fiscais, financiamentos e facilidades dos diferentes níveis de governo.

O processo de recuperação judicial de sua petroleira, a OGX, é o maior de uma empresa latino-americana até hoje. Eike deixou escombros. Caminhar pela rua que ladeia o hotel Glória, um dos mais charmosos da cidade, é desolador. Inaugurado em 1922, está deformado pela reforma que prometia torná-lo um hotel maravilhoso. Tomou R$ 190 milhões do BNDES de uma linha criada para hotéis para a Copa de 2014.

À Folha, em 2009, disse: "Adoro o conceito americano de você devolver para a sociedade". Chegou a hora.

O rei do Rio ruiu. E o rato que roeu a roupa do rei do Rio chama-se... X.

Isolar o risco - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 31/10

Eike Batista vergou por seus próprios erros, mas há muito a aprender com o sinistro, como disse aqui ontem. Com a entrada da OGX em recuperação judicial, há grandes riscos para a OSX. As duas irmãs siamesas brigavam ontem em torno do tamanho das dívidas da OGX junto à OSX, mas o fato é que o estaleiro foi criado para fornecer à petrolífera e não recebeu pelos seus serviços.

O evento revela uma falha geral. Ontem, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) disse que limitaria o uso da mídia social pelas empresas de capital aberto. O argumento é que Eike era muito ativo nessas redes. Não é o uso do twitter o problema. O realmente irregular, e deveria ter tido atenção da CVM, foram suas declarações sobre a potencialidade dos campos petrolíferos que meses depois foram declarados improdutivos.

Eike fez projeções públicas que não se confirmaram. Houve furo de menos para afirmações demais sobre as potencialidades dos blocos prospectados. Era ali que ele deveria ter sido punido.

O mercado errou redondamente e não se pode dizer que entrou na euforia por engano. Ingenuidade não é o forte do mercado. Aquele clima de euforia foi muito bem aproveitado na especulação que levou à valorização excessiva. Quem vendeu na alta ganhou muito dinheiro.

Faltou ao governo conhecimento de como funciona o mundo dos negócios. Empresas que crescem com base em excessiva alavancagem e tendo uma expectativa de receita incerta e demorada são candidatas a terem problemas, mas o governo o apontou como exemplo.

Felizmente algumas empresas foram isoladas do desastre através da venda de ativos para grupos estrangeiros.

Assim, entraram novos acionistas nas era-presas de energia, mineração e logística.

Elas não estão blindadas, mas não estão tão perto do contágio quanto a OSX.

Os bancos públicos devem vir à público — principalmente o BNDES, que é financiado com endividamento do Tesouro — e informar o grau de sua exposição, o tamanho dos empréstimos, o percentual de suas participações e por quanto essas ações foram compradas e quanto valem hoje.

! A lição que fica é que não é criando um símbolo, um campeão nacional, um acumulador de riqueza que se incentiva o avanço do capitalismo brasileiro. Quem não tinha aprendido isso nos desastres dos I anos 1970 tem no momento atual uma segunda i chance de aprendizado. Mas há pessoas que, mesmo diante dos fatos, permanecem agarradas às suas ideologias. Tudo bem se isso não tem custo para | o Tesouro, mas quando tem, é diferente.

O maior erro foi do empresário, ao montar sua pirâmide de empresas. O excesso de otimismo é mais nocivo que o pessimismo. O pessimismo faz com que a empresa perca chances; o otimismo sem base de sustentação fomenta bolhas, nas quais o grande perdedor é o pequeno investidor. O realismo é a melhor forma de se crescer na economia.

É uma história triste para o Brasil. Eike continua com sua fortuna. Tem participações nas empresas que estão hoje com novos controladores e tem patrimônio pessoal nada desprezível. O país tem mais a perder. Porque isso pode ser somado a outras más notícias e levar investidores a quererem distância do Brasil ou financiadores a cobrarem mais nas captações de outras empresas brasileiras.

Por isso é importante isolar o evento e mostrar que foi um estilo de fazer negócios que naufragou, e não é o aumento do risco de fazer negócios no Brasil. No entanto, a queda de Eike traz danos à imagem do país. A melhor resposta é focar, ainda que tarde, na agenda de aumentar a eficiência e competitividade da economia para superar o desgaste que o evento nos traz. 

Falta um sinal claro da presidente Dilma - RIBAMAR OLIVEIRA

VALOR ECONÔMICO - 31/10


Muitos senadores, vários do PT, estão em dúvida se o governo ainda quer a reforma do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS). A razão para a dúvida é simples. Nas últimas semanas, houve um avanço considerável nas negociações dos secretários estaduais de Fazenda e 24 dos 27 Estados (contando com o Distrito Federal) chegaram a um entendimento sobre as mudanças técnicas que devem ser feitas, incluindo as regras para a convalidação de todos os benefícios fiscais concedidos até agora e como eles ficarão no futuro. Falta um acordo apenas com o governo federal.

Na semana passada, o secretário-executivo interino do Ministério da Fazenda, Dyogo de Oliveira, na qualidade de presidente em exercício do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), encaminhou aos Estados uma contraproposta de reforma do ICMS, conhecida como Proposta de Convênio 93/13, que acolheu todas as mudanças no ICMS previstas no acordo fechado pelos 24 Estados, incluindo as regras de convalidação dos incentivos fiscais. Divergiu, basicamente, sobre a composição do Fundo de Desenvolvimento Regional (FDR), que será criado para que os Estados tenham um instrumento que torne viáveis os investimentos nas regiões menos desenvolvidas, após o fim da chamada "guerra fiscal".

O Ministério da Fazenda reafirmou sua proposta de que o FDR seja composto por 25% de recursos orçamentários e 75% de financiamentos às empresas interessadas em investir nas regiões menos desenvolvidas. A proposta que tinha sido aprovada pelos 24 Estados, na semana anterior, previa que o fundo teria 50% de verbas do Orçamento e 50% de financiamentos. O texto sugerido pelo Ministério da Fazenda não foi aprovado pelos secretários estaduais e, por isso, foi retirado da pauta do Confaz. Há, portanto, um impasse entre os Estados e o governo federal em torno do FDR. A questão agora é de natureza política e não técnica. Por isso, ela não pode ser resolvida no âmbito do Confaz.


Quando esteve na sessão do plenário do Senado que discutiu o pacto federativo, na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu a reforma do ICMS com o argumento principal de que se chegou a um ponto (na "guerra fiscal") em que há mais perdas do que ganhos. O ministro disse que a reforma passa por quatro etapas: a redução da alíquota interestadual do ICMS para 4%, 7% e 10% em até oito anos, a criação do Fundo de Compensação aos Estados pela perda de receita com a redução das alíquotas, a criação do FDR e o acordo de convalidação dos incentivos concedidos sem a anuência do Confaz.

Em discurso na mesma sessão, o senador Walter Pinheiro (PT-BA) pediu ao ministro que o governo envie ao Congresso um instrumento legal (um projeto de lei ou uma medida provisória) que crie os dois fundos, pois somente assim será possível aprovar a resolução do Senado que reduz as alíquotas do ICMS e convalida os incentivos fiscais. Pinheiro foi o relator da MP 599, que criava o FDR e o Fundo de Compensação, mas ela terminou não sendo votada por falta de acordo entre os Estados sobre a redução das alíquotas do ICMS. Mantega não deu resposta a Pinheiro.

Na ausência de uma iniciativa do governo nessa matéria, o Senado está tentando votar um projeto que cria os dois fundos, de autoria do senador Paulo Bauer (PSDB-SC), relatado pelo senador Armando Monteiro (PTB-PE). Esse projeto estabelece que o FDR será constituído, inicialmente, por 25% de recursos orçamentários. Ao longo dos anos, o percentual subiria para 40%.

Há, no entanto, questionamento jurídico sobre a proposta. O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) entende que o projeto de Bauer tem um vício de origem, pois a Constituição reserva ao presidente da República a iniciativa de projetos que tratem da organização administrativa. Alguns secretários estaduais de Fazenda e técnicos do Ministério da Fazenda têm o mesmo entendimento de Ferraço. Para contornar esse questionamento, o relator Armando Monteiro obteve um parecer da consultoria do Senado, que garante não existir na Constituição qualquer referência específica à iniciativa exclusiva do presidente da República para a criação de fundos.

O parecer de Monteiro iria ser votado ontem na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), com grande chance de ser aprovado. A pedido da presidente Dilma Rousseff, no entanto, a reunião da CAE foi cancelada. Essa iniciativa da presidente criou uma grande interrogação sobre o futuro da reforma do ICMS. Os senadores estão sendo pressionados pelos seus governadores e pelos empresários para que resolvam logo a questão e acabem com a insegurança jurídica decorrente da ameaça de edição, pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), de uma súmula vinculante que eliminará todos os incentivos fiscais concedidos sem aprovação prévia do Confaz. Essa insegurança jurídica está travando os investimentos.

Os problemas gerados pela não aprovação da reforma estão se acumulando. Em agosto e setembro, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, indeferiu dois pedidos de suspensão de liminares concedidas pelo Tribunal de Justiça de Goiás, que autorizou o repasse integral das cotas do ICMS devidas aos municípios goianos de Córrego do Ouro e Joviânia, sem as deduções originadas de benefícios fiscais concedidos pelo governo daquele Estado. Outros municípios poderão tomar o mesmo caminho.

Uma das versões que circulam no Senado atribui ao governador do Ceará, Cid Gomes (Pros), a paralisia de Dilma no caso da reforma do ICMS. O Ceará foi um dos três Estados que não aceitaram o acordo subscrito, no âmbito do Confaz, pelos secretários estaduais de Fazenda de 24 Estados. Os outros foram Santa Catarina e Goiás. De acordo com essa versão, a presidente está se sentindo constrangida a bancar uma reforma contra Cid, que saiu do PSB para não apoiar a candidatura do governador pernambucano Eduardo Campos à Presidência da República.

Vive-se, hoje, uma situação inusitada: há entendimento de 24 Estados sobre as questões técnicas da reforma do ICMS, mas falta acordo político entre a presidente da República e os governadores.

Libra, Petrobrás e o futuro - ADRIANO PIRES

O Estado de S.Paulo - 31/10

O leilão de Libra confirmou expectativas e apresentou surpresas. Como era previsto, apenas um consórcio compareceu e, com a falta de concorrência, o vencedor ofereceu o excedente de óleo mínimo proposto pela União, de 41,65%. Ou seja, na prática, não houve leilão e o mais prejudicado foi o leiloeiro, no caso o governo, que poderia ter maiores benefícios, caso fosse pago ágio. Ao cobrar um elevado bônus de assinatura, R$ 15 bilhões, e só 41,65% de excedente de óleo, o governo sinalizou a preferência pelo curto prazo, por causa da necessidade de cumprir a meta de superávit primário, e não criou incentivos para o pagamento de ágio, o que penalizou as futuras gerações de brasileiros. A surpresa positiva foi a Shell e a Total no consórcio, com 20% de participação cada uma. A entrada das duas empresas privadas dá consistência ao consórcio, traz experiência e tecnologia, além de maior preocupação com a eficiência na produção do barril de Libra.

Dois pontos explicam a ausência de concorrência: o alto grau de intervencionismo e o tratamento privilegiado dado à Petrobrás. A política intervencionista surgiu em 2010, quando o governo resolveu alterar o marco regulatório e criou o modelo da partilha tupiniquim. A partilha tupiniquim se caracteriza pela criação de uma estatal e pela volta de parte do monopólio da Petrobrás. Ao dar tratamento diferenciado à estatal e, ao mesmo tempo, permitir sua participação no leilão, o governo criou duas situações que impedem a formação de outros consórcios. A Petrobrás fica com receio de que alguém ofereça à União um excedente de óleo muito elevado, e isso seria mortal por causa da atual situação financeira da empresa, obrigando-a a participar de um consórcio. Por outro lado, ninguém quer desagradar à Petrobrás e ao governo concorrendo contra a estatal, principalmente com uma presidente da República que trata a Petrobrás e o setor de petróleo com ufanismo e demagogia, pondo os interesses políticos na frente da racionalidade econômica.

Para o bem da Petrobrás e da sociedade brasileira, é essencial mudar as regras do atual modelo, que impedem a concorrência, prejudicam a Petrobrás e não permitem um maior pagamento do excedente de óleo para a União.

Nos próximos anos a Petrobrás, mesmo que se altere o atual modelo da partilha, terá grandes desafios para enfrentar com os gigantescos investimentos do pré-sal. Basta citar três grandes projetos: Lula, a cessão onerosa e, agora, Libra. Isso obrigará o governo a estabelecer uma nova política para os preços da gasolina, caso contrário, os projetos sofrerão atrasos, a produção de petróleo crescerá em ritmo lento e, o pior, a Petrobrás poderá perder grau de investimento.

Também concorre para o estabelecimento de uma nova política de preços a necessidade de reduzir a importação de combustíveis. Como o consumo tende a crescer muito nos próximos anos, a elevação das importações causará estragos nas contas brasileiras e levará ao paradoxo de transformar o País num exportador de petróleo e um grande importador de gasolina. Por último, o modelo adotado pelo governo Lula - que privilegiou o transporte individual, por meio de gasolina barata e a redução de impostos para a aquisição de automóveis - se esgotou e foi um dos motivadores das grandes manifestações de rua. Além disso, esta nova política levaria a um novo ciclo de crescimento do etanol, o que é muito bom.

O governo precisa estar atento à revolução energética que ocorre no mundo, que mexe com a geopolítica mundial e poderá prejudicar o pré-sal brasileiro. A revolução energética liderada pelos EUA tem feito com que a oferta de petróleo e de gás natural venha aumentando expressivamente, o que poderá levar a preços mais baixos do barril de petróleo. Dependendo do nível do preço do barril, o pré-sal brasileiro poderá ter seu valor reduzido. Assim, a criação de um modelo equivocado por razões ideológicas fará com que corramos o risco de não conseguirmos transformar uma vantagem que a natureza nos deu numa vantagem econômica.