sábado, setembro 27, 2014

Petrolão para todos - GUILHERME FIUZA

CONTRA OS LADRÕES DO PT, VOTO AÉCIO 45




O GLOBO - 27/09

Se o esquema irrigou tantos companheiros nos últimos 12 anos, imagine no pré-sal. Ninguém mais vai precisar trabalhar


Dilma sobe nas pesquisas, a bolsa despenca, e lá vêm os gigolôs da bondade denunciar a trama capitalista contra o governo do povo. Mas o que dizer então da bolsa eleitoral? Quanto mais apodrece o escândalo da Petrobras, mais Dilma se recupera nas pesquisas. Será que o eleitor está querendo virar sócio do petrolão?

Só pode ser. O espetáculo da orgia na maior empresa brasileira chegou ao auge com a delação premiada do ex-diretor Paulo Roberto Costa. Em ação raríssima entre os oprimidos profissionais, o réu decidiu abrir o bico. Talvez tenha aprendido com a maldição de Valério — que demorou a soltar a língua, e de repente a quadrilha (desculpe, ministro Barroso) já estava em cana. E seu silêncio não valia mais nada. Diferentemente do operador do mensalão, o despachante do petrolão não quer mofar. E saiu entregando os comparsas.

Apontou duas outras diretorias da Petrobras como centrais da tramoia, dando os nomes dos seus titulares — indicados, que surpresa, pela cúpula do PT. Isso em plena corrida presidencial. Então a candidata petista está ferida de morte, concluiria um marciano recém-chegado à Terra. Não, senhor marciano: após o vazamento da delação, a candidata do PT subiu nas pesquisas.

Ora, não resta outra conclusão possível: o eleitor quer entrar na farra do petrolão. Está vendo quantos aliados de Dilma encheram os bolsos com o duto aberto na Petrobras, e deve estar achando que alguma hora vai sobrar um qualquer para ele. É compreensível. Se o esquema irrigou tantos companheiros nos últimos 12 anos, imagine quando a prospecção chegar ao pré-sal. Ninguém mais vai precisar trabalhar (a não ser os reacionários que não cultivarem as relações certas).

É o show da brasilidade. O operador do petrolão é colocado no cargo no segundo ano do governo Lula, indicado por um amigo do rei já lambuzado pelo mensalão. No tal cargo — a Diretoria de Abastecimento da Petrobras —, ele centraliza um esquema bilionário de corrupção, que floresce viçoso à sombra de três mandatos petistas. A exemplo do mensalão, já se sabe que o petrolão contemplava a base aliada do governo popular. E quase 40% dos brasileiros estão dizendo que votarão exatamente na candidata desse governo lambuzado de petróleo roubado.

Mas os progressistas continuam sentenciando, triunfais: o Brasil jamais será o mesmo depois das manifestações de junho de 2013. Nesse Brasil revolucionário, cheio de cidadãos incendiados de bravura cívica, a CPI da Petrobras, coitada, agoniza em praça pública. Sobrevive a cada semana, a duras penas, com mais um par de manchetes da imprensa burguesa e golpista, que insiste em sabotar o programa do PT (Petrolão para Todos). Tudo em vão. Com uma opinião pública dessas, talvez os companheiros possam até desistir do seu plano chavista de controle da imprensa: o assalto à Petrobras não faz nem cócegas no cenário eleitoral. Contando, ninguém acredita.

O marciano está tonto. Pergunta, angustiado, que fim levou o escândalo da Wikipédia. Tinham dito a ele que dois jornalistas influentes — da teimosa parcela dos que não se venderam ao governo popular — tiveram seus perfis adulterados com graves difamações, e que isso fora feito de dentro do Palácio do Planalto. Agora informam-no que o selvagem da Wikipédia, outra surpresa, é filiado ao PT. E funcionário do Ministério das Relações Institucionais de Dilma. O inocente ser de Marte pergunta, já com falta de ar, o que a presidente da República está fazendo para provar que o espião não está seguindo diretrizes da cúpula do governo.

A resposta faz o marciano desmaiar: nada. Dilma Rousseff não precisou fazer absolutamente nada para provar que o criminoso palaciano não seguiu ordens superiores. Apesar da folha corrida do PT na arte de montar dossiês e traficar informações sobre adversários, o Brasil deixou por isso mesmo. Como também tinha deixado a combinação de perguntas e respostas na CPI da Petrobras, com participação do mesmo Ministério das Relações Institucionais. Nem uma passeata, nem uma ruazinha fechada, nem um cartaz, nem uma queixa no Twitter. Os brasileiros abençoaram a guerra suja do PT para ficar no poder.

O Brasil está louco para virar Argentina. Assistiu chupando dedo à tentativa de golpe no IBGE, com a tentativa de interrupção da pesquisa de emprego. Agora o mesmo IBGE, de forma inédita, apresenta seus indicadores anuais e desmente os dados no dia seguinte. Como até o marciano sabe, a companheira Kirchner adestrou o IBGE de lá, que passou a fazer música para os ouvidos do governo. O PT segue firme nessa escola, com sua já famosa maquiagem contábil, que acaba de raspar o Fundo Soberano para ajudar a fechar a conta da farra.

O eleitor está certo: vamos reeleger Dilma. Assim chegará o dia em que não apenas a elite vermelha, mas todo brasileiro terá direito à propina própria. Chega de desigualdade.

Nosso homem no califado - DEMÉTRIO MAGNOLI

CONTRA A BURCA MENTAL, AÉCIO 45




FOLHA DE SP - 27/09

O Brasil tornou-se o primeiro e único país do mundo a reconhecer o Estado Islâmico


Você pensa que Dilma Rousseff foi a Nova York gravar filmes de propaganda eleitoral no palco iluminado da Assembleia Geral das Nações Unidas? Talvez fosse esta a intenção exclusiva, mas a viagem presidencial deixou um inesperado rastro de destruição. Em dois dias, o governo provou a tese de que o Brasil não pode almejar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Entre as 2.511 palavras de um discurso provinciano, obviamente revisado por João Santana, não apareceu o termo "terrorismo". Contudo a peça desviou-se do roteiro principal para, mirando a guerra em curso contra o Estado Islâmico (Isis), diagnosticar a inutilidade do "uso da força" e a natureza contraproducente da "intervenção militar". Na entrevista à imprensa internacional, a posição brasileira foi pintada com tintas mais nítidas, o que resultou numa obra quase surrealista.

Dilma condenou diretamente os bombardeios na Síria, divergindo da maioria dos países do Oriente Médio, que participam da operação ou a respaldam politicamente. O tom da condenação ficou vários decibéis acima do utilizado pela Rússia e pelo Irã, que se limitaram a registrar protocolarmente a violação de uma insubstancial "soberania síria". O próprio regime sírio, interessado no enfraquecimento militar do Isis, preferiu mesclar esse registro inevitável com uma declaração de apoio ao "combate contra o terror". É só o conforto gerado pela irrelevância diplomática e pela distância geográfica que propiciou à presidente a chance de exercer o curioso direito à irresponsabilidade.

O Brasil tem razões para introduzir temas que não se inscrevem no discurso de Washington sobre a versão 2.0 da "guerra ao terror", recordando os desvios abomináveis da versão original, de George W. Bush. Há pouco, o conservador britânico Boris Johnson, ex-prefeito de Londres, sugeriu casualmente descartar a presunção de inocência de qualquer um que viaje à Síria ou ao Iraque sem notificação prévia, transferindo ao "suspeito" o ônus de provar que não participa da rede do terror. Os ecos de Guantánamo e da autorização da tortura devem servir para guarnecer a vulnerável fortaleza das liberdades civis. Dilma, porém, não pronunciou nenhuma palavra sobre os princípios da lei nas democracias, escolhendo a estrada da delinquência diplomática.

Na entrevista, Dilma jogou num saco abrangente coisas tão distintas quanto a invasão do Iraque, em 2003, a operação aérea na Líbia, em 2011, a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza, em julho, e os bombardeios contra o Isis, para repudiar "o morticínio e a agressão dos dois lados", referindo-se à coalizão liderada pelos EUA (um lado) e ao Isis (outro lado). No jargão diplomático, "dois lados" é a senha para o conflito entre Estados ou, no mínimo, entre forças combatentes legítimas. Por essa via, incidentalmente, e salvo algum desmentido futuro, o Brasil tornou-se o primeiro e único país do mundo a reconhecer o Estado Islâmico. Diante disso, o que é aquele célebre 7 a 1?

"Dois lados." Nessa linha, nossa presidente ofereceu sua alternativa à operação de guerra: "o diálogo, o acordo e a intermediação da ONU". Como, simultaneamente, pela voz de seu secretário-geral, a ONU solidarizava-se com os bombardeios, Dilma colocou o Brasil em rota de colisão com as Nações Unidas.

A ideia de "diálogo" com o Isis, formulada quando os terroristas decepavam mais uma cabeça, talvez agrade ao antiamericanismo primitivo que hipnotiza as correntes mais anacrônicas da esquerda brasileira, mas não protegerá os curdos, as minorias religiosas e as mulheres ao alcance da fúria jihadista. Entretanto o governo brasileiro obrigou-se moralmente a levá-la adiante --e, parece-me, temos em Marco Aurélio Garcia a figura ideal para cumprir a missão de plenipotenciário de paz em Mossul (Iraque) ou Raqqa (Síria), as sedes do califado.

Professores, de heróis a coitadinhos - JOÃO BATISTA ARAÚJO E OLIVEIRA

CONTRA A VAGABUNDAGEM SINDICAL, VOTO AÉCIO 45




O GLOBO 27/09

A educação só não é boa porque o governo não lhes paga mais, não dá recursos para a área. Pelo menos é o que dizem as pesquisas eleitorais



Pesquisas podem ser muito úteis para estimular essa esquecida arte do debate que, quando bem intencionado, leva a avanços na sociedade. Recente enquete elaborada para um dos candidatos à Presidência da República revela informações inestimáveis sobre a percepção dos brasileiros a respeito de questões que os preocupam.

O cidadão-eleitor tem muitas prioridades no seu cotidiano. Dentre as várias premências que o afligem, destacam-se preocupações com (in)segurança, (i)mobilidade urbana, acesso à saúde, medo de desemprego e inflação. Justiça nem entra na lista — é artigo de luxo. O interessante é que educação não está no topo dessas prioridades. Nem o fato de haver mais de um milhão de vagas disponíveis para empregos qualificados sugere que há algo profundamente errado com a educação brasileira. Será que a árvore está impedindo de se ver a floresta?

Há outras curiosidades, ao aprofundarmos a leitura da mencionada pesquisa. A percepção da população sobre os profissionais de diferentes áreas é uma delas. Vejamos o caso da saúde: a população consultada está revoltada com o mau atendimento dos médicos — e não apenas com a falta de atendimento ou a fila de espera para marcar consultas.

Talvez porque tenham salários acima da média, médicos são percebidos como pessoas rudes, pouco atenciosas e que atendem mal. No caso da segurança, os policiais encarnam o papel de violentos e são considerados pouco confiáveis.

E como ficam os professores? Que imagem se tem deles? Aqui afloram percepções curiosas. Os professores são considerados vítimas, uns coitadinhos. A educação só não é boa porque o governo não lhes paga mais, não dá recursos para a área. Pelo menos é o que dizem as pesquisas eleitorais. Engraçado o nosso povo. Seria natural esperar sentimento comum em relação a servidores públicos, que nunca foram reconhecidos por sua amabilidade e atenção com o público. Mas não é o que ocorre.

Antes, professores eram heróis, dedicados, magistério era vocação. Aos poucos, foram se tornando vítimas. Como? O primeiro passo foi dado pelos próprios sindicatos dos professores. Enquanto na área de saúde o termo “profissional da saúde” é sinônimo de valorização da profissão, na educação as corporações e sindicatos usam outra lógica e reconhecem seu pessoal como “trabalhadores”. De heróis passaram a vítimas, pois no discurso da sociedade de classes a palavra “trabalhador” no geral é usada no contexto de “explorado” pelo patrão. Daí foi um pulo para serem considerados os coitadinhos.

Professores não são coitadinhos nem vítimas. A esmagadora maioria é gente trabalhadora e dedicada. Os professores se orgulham da profissão que escolheram, embora nem sempre estejam preparados de forma adequada para um exercício profissional de alto nível. Reduzir professores à condição de coitadinhos não ajuda a promover a educação. O que temos de fazer é resgatar o debate educacional das garras do corporativismo. A campanha eleitoral é um bom momento para isso.

Qualquer reforma educacional profunda — e o Brasil ainda não começou a sua — só começa quando um país estabelece políticas capazes de atrair e manter pessoas altamente qualificadas no magistério. É preciso que o eleitor preste atenção nas propostas dos três candidatos mais bem posicionados, identificando quem promove o discurso do coitadinho e quem se mobiliza para oferecer uma nova carreira à nova geração de professores. Isso é o que garantirá o início de uma profunda reforma na educação brasileira.

A grande tolerância - da inflação ao terrorismo ROLF KUNTZ

VOTE AÉCIO 45



O ESTADO DE S.PAULO - 27/09



Tolerância é a grande marca da candidata Dilma Rousseff: tolerância à inflação, ao desarranjo das contas públicas, à estagnação da economia brasileira, aos desaforos dos parceiros bolivarianos e pro-bolivarianos e, é claro, ao terrorismo internacional. Depois do humilhante desempenho de sua chefe em Nova York, o chanceler Luiz Alberto Figueiredo tentou limpar o vexame. Não houve sugestão, segundo ele, de diálogo com o Estado Islâmico. De acordo com o ministro, a presidente propôs diálogo "no âmbito da comunidade internacional" para solução dos problemas da Síria e do Iraque. O esforço do diplomata foi inútil. Não havia como desmentir o óbvio. Depois de lamentar "enormemente" os bombardeios, a presidente recomendou a busca do entendimento entre os "dois lados". Talvez por falha de comunicação, ou por diferença de fuso horário, um dos "lados" estava ocupado em cortar a cabeça de mais um refém. O decapitado foi um francês, porque o destinatário principal da mensagem, nesse caso, era a França. O presidente François Hollande talvez devesse ter dialogado. Mas dialogar, nesse caso, significaria obedecer.

As demais tolerâncias da presidente Dilma Rousseff, a começar pela tolerância aos próprios erros, também foram expostas em sua passagem pelos Estados Unidos. Apresentando-se como chefe de Estado e de governo, mas agindo principalmente como candidata, ela aproveitou seu discurso na ONU e o contato com a imprensa para alardear os feitos da administração petista e condenar qualquer ensaio de seriedade no combate à inflação e a outros problemas, nunca plenamente reconhecidos, da economia brasileira.

Nova York foi apenas um palanque especial para a campanha. Lá, como no Brasil, a candidata continuou falando sobre a inflação como se a variação dos preços nunca tivesse ficado acima da meta, isto é, acima de 4,5%, e a gestão das contas públicas fosse a mais prudente e austera. Na mesma semana foi anunciado o uso de R$ 3,5 bilhões do Fundo Soberano para fechar as contas de 2014. A ideia foi logo defendida pela candidata, mas criticada até por funcionários da equipe econômica. O uso desse dinheiro, argumentam esses críticos, envolverá a venda - com a consequente desvalorização - de grande volume de ações do Banco do Brasil. Mas essa discussão só ocorre porque faltou no governo o debate, muito mais importante, sobre como cuidar direito das contas públicas.

A arrecadação de agosto, embora anabolizada com R$ 7,13 bilhões do Refis - o programa de refinanciamento de dívidas tributárias - foi insuficiente para mudar o panorama fiscal. A arrecadação de janeiro a agosto, R$ 771,79 bilhões, foi apenas 0,64% maior que a de igual período de 2013, descontada a inflação. Há alguns meses o pessoal da Receita ainda projetava um crescimento real de 3% neste ano. Agora se estima 1% e esse resultado ainda vai depender de mais anabolizantes, como novos pagamentos do Refis, dividendos, bônus de concessões e até o dinheiro do Fundo Soberano.

O fiasco da arrecadação é explicável em boa parte pelo baixo nível de atividade econômica. Ao divulgar os valores acumulados em oito meses, o pessoal da Receita chamou a atenção, em seu relatório, para alguns dos "principais fatores". De janeiro a agosto a produção industrial foi 2,7% menor que a de um ano antes. As vendas de bens e serviços, no varejo, 0,09% inferiores. O valor das importações, em dólares, 1,2% mais baixo que o dos mesmos oito meses de 2013.

Sem poder negar esses e outros números muito ruins, a presidente Dilma Rousseff e seus ministros atribuem a paradeira econômica do Brasil à situação internacional. Em outras palavras, os problemas vêm de fora, porque o governo cuida muito bem da economia nacional. Mas também essa conversa é desmentida seguidamente pelos fatos. A economia americana cresceu no segundo trimestre em ritmo equivalente a 4,6% ao ano. Além disso, o produto interno bruto (PIB) do período de abril a junho foi 2,9% maior que do mesmo trimestre do ano anterior. As economias peruana, colombiana e chilena continuam com desempenho muito melhor que o da brasileira, apesar de alguma desaceleração - e todas com inflação muito menor. Nem é preciso citar os casos da China e de outras potências da Ásia.

Nem o governo federal projeta para este ano um crescimento econômico acima de 0,9%. Esse número foi divulgado há poucos dias pelo Ministério do Planejamento, juntamente com a revisão de receitas e despesas orçamentárias do quarto bimestre. No mercado, a projeção do aumento do PIB já havia caído para 0,3%.

A inflação, depois de hibernar por alguns meses, saiu novamente da toca. Na sexta-feira o IBGE divulgou sua nova pesquisa do Índice de Preços ao Produtor (IPP). O aumento, em agosto, foi de 0,48%. Foi a primeira alta desde fevereiro. A elevação acumulada em 12 meses é pequena, 2,5%, mas a aceleração é clara e já havia sido indicada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em sua coleta dos preços por atacado. A reação dos preços ao consumidor também é evidente. Nas quatro últimas coletas, o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), também da FGV, passou por 0,12% em 31 de agosto e 0,21%, 0,39% e 0,43% nas pesquisas seguintes. Os números são atualizados semanalmente, mas sempre com base num período equivalente a um mês. O IPCA-15, prévia do índice oficial produzido pelo IBGE, bateu em 0,39% no período encerrado no meio de setembro. Em 12 meses a alta acumulada chegou a 6,62%.

A candidata continua recusando, no entanto, qualquer ação séria para conter a alta de preços. Ações sérias poderiam incluir uma administração melhor das contas públicas, com menor gastança e menor distribuição de benefícios fiscais e subsídios. Em caso de necessidade, o Banco Central poderia elevar os juros básicos, mantidos em 11%. A presidente rotula essas políticas como recessivas. É uma fala surrealista, num cenário de estagnação com inflação. Mas há quem pareça acreditar.

Todos atrás do voto útil - MERVAL PEREIRA

PRESIDENTE AÉCIO 45

O GLOBO - 27/09
A candidata Marina Silva entra na reta final da corrida presidencial no pior dos mundos, vai sofrer o assédio tanto da presidente Dilma quanto do candidato do PSDB, Aécio Neves, ambos querendo tirar nacos do seu eleitorado para ou ganhar no 1º turno, no caso de Dilma, ou para ir ao 2e turno, caso de Aécio Neves.

Ambos precisam de 5 ou 6 pontos para atingir seus objetivos. Se Dilma, hoje com 40% das intenções de voto, chegar a 45%, pode vencer já no 1^ turno, segundo o diretor do Datafolha Mauro Paulino. Se o tucano Aécio tirar 5 pontos de Marina, chegará à frente dela no primeiro turno, ganhando o direito de disputar com Dilma no segundo turno.

A diferença entre Marina e Aécio, que era de 13 pontos na pesquisa Datafolha anterior, caiu para 9 pontos agora. Já Dilma dobrou sua vantagem sobre Marina no 1º turno, e abriu uma diferença a seu favor pela 1^ vez no 25 turno, mesmo que continue em empate técnico com sua adversária, pois ambas podem ter 50% das intenções de voto no limite da margem de erro do instituto.

Embora seja muito difícil abrir mais 5 pontos em tão pouco tempo, tanto Dilma quanto Aécio apresentam uma tendência de alta nas últimas pesquisas, enquanto Marina está em franco declínio nas últimas semanas, numa demonstração de que os ataques que tem recebido dos dois candidatos adversários, principalmente os do PT, têm conseguido desidratar sua votação.

O que resta a Marina até o dia 5 de outubro é lutar para ir para o 2º turno, quando poderá reorganizar sua campanha. Pelo simples fato de ela acrescentar quase cinco vezes mais tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão já terá um ganho de exposição que pode ajudar a refazer sua imagem, desconstruída pelos ataques que vem recebendo.

Segundo o Datafolha, a principal alteração no quadro se deu no Nordeste: em uma semana, a presidente ganhou seis pontos na região, e a candidata do PSB perdeu nove. A presidente Dilma mostra mais uma vez que o Nordeste é a grande seara de votos petistas. Ela chegou a ter uma média de 70% dos votos na eleição de 2010 na região, e hoje está com cerca de 50%, mas subindo.

Quem conseguia conter essa arrancada da petista era justamente Marina, que começa a perder votos que podem ser decisivos num 2° turno. A propaganda eleitoral pelo rádio e televisão aparentemente não alavancou a candidatura de Dilma, que na semana anterior ao início do horário eleitoral tinha 36% dos votos e hoje chegou aos 40%.

Aécio continua na mesma situação em que entrou, tinha 20% e hoje tem 18%. Já Marina foi a única que cresceu, de 21% para 27%. O que importa é que na reta final sua trajetória é de queda, o que fará com que se intensifique o bombardeio contra a fragilidade que vem demonstrando nas últimas semanas.

Tanto a presidente Dilma quanto o candidato tucano trabalharão o voto útil nesses últimos dias, com vantagem para a presidente, que tanto está em alta acentuada quanto tem uma militância petista muito ativa, e agora animada pela perspectiva de vitória no Io turno.

O candidato tucano tem um perigo à frente.

Marina pode ter a seu favor o voto útil dos eleitores tucanos que, convencidos de que somente ela pode vencer a presidente no 25 turno, optem por apoiá-la imediatamente. Essa decisão, embora não altere o resultado da eleição, pois a votação em Aécio teria o mesmo efeito no computo geral contra Dilma, pode dar a Marina uma votação mais robusta no 15 turno, criando um clima psicológico favorável a ela em seguida.

Segundo estudos com base nas últimas pesquisas do Ibope e do Datafolha desde agosto - sem incluir esta última - a proporção de votos de Aécio no 15 turno "herdados" por Marina no 25 turno caiu aproximadamente 20 pontos neste período, de cerca de 70% para 50%. Ocorre que esses 20% não haviam ido para Dilma, mas para a soma de brancos, nulos e indecisos, que subiu os mesmos 20 pontos, de 10% para 30%, enquanto a "herança" de Dilma oscila em torno do patamar de 20% neste período.

Marina nesse caso poderia vencer recuperando parte dos 20 pontos que perdeu com os ataques virais, enquanto o desafio de Dilma parece mais difícil, conquistar votos que nunca foram dela. Nesta última pesquisa, no entanto, Dilma ganhou os mesmos 3 pontos perdidos por Marina, o que pode sinalizar que eleitores petistas estariam retornando ao ponto de partida, desistindo de Marina. 

Ideologização de política externa isola país e afeta economia - EDITORIAL O GLOBO

AÉCIO 45 PRESIDENTE



O GLOBO - 27/09

PROBLEMAS DO BRASL/Diplomacia e comércio exterior


Não se tem notícia de uma fase como esta dos 12 anos de hegemonia do PT, em que o Itamaraty tenha estado tão distante das formulações da diplomacia do país. Desde 2003, tornou-se impossível qualquer desalinhamento entre ideologia dos inquilinos do Planalto e a política externa, mesmo para defender interesses nacionais estratégicos. O Itamaraty passou a ser guiado pelas visões terceiro-mundistas e antiamericanistas do partido. Não se trata de uma mudança de eixo neutra e isolada, porque estas visões fazem parte de um todo, articulam-se com outras políticas, como o protecionismo, que reativou a tendência ao fechamento da economia, uma das razões da perda de competitividade da indústria.

O comércio exterior, em boa medida, passou a refletir as opções ideológicas de Brasília. Atreladas ao Mercosul, no qual a visão autárquica do governo brasileiro foi temperada pelo chavismo venezuelano e anabolizada pelo populismo argentino, as exportações brasileiras, principalmente de manufaturados, tiveram perigosamente ampliada a dependência ao bloco de comércio sul-americano. Em 2013, o peso do Mercosul, como destino das exportações, era maior que o do mercado americano: 12% contra 10%.

Enquanto se sedimentava esta dependência, cresciam as exportações de matérias-primas para a China, de minério de ferro e soja. O resultado foi a mudança de patamar das vendas brasileiras anuais de algo como US$ 100 bilhões para mais de US$ 200 bilhões. E o mercado chinês passou a disputar com a União Europeia qual o principal destino das vendas do Brasil, praticamente empatados em 19% do total das exportações cada um. Não é ruim o crescimento das exportações de matérias-primas. O problemático tem sido, por condicionamento ideológico, o Brasil se manter ligado a um Mercosul em crise, sem explorar as alternativas de acordos bilaterais que existem. O subproduto deste engessamento é a perda relativa de importância do mercado importador americano, ainda o maior do mundo, alternativa para as exportações de bens manufaturados e semimanufaturados barradas no Mercosul (menos aproximadamente quatro pontos percentuais de 2008 ao ano passado).

Passado o bom tempo para a economia mundial, as exportações brasileiras padecem com a diminuição de ritmo do crescimento chinês — de 10% para 7,5% ao ano. Reduz-se a pressão da China nos mercados, caem — ou sobem menos — as cotações de soja e minério, ajudando a gerar déficits na balança comercial do país, algo há muito tempo não visto. Importações não previstas de petróleo agravaram o quadro. E o cenário piora porque as exportações aumentaram a dependência para com as matérias-primas (de 28,9% do total em 2003 para 46,7% dez anos depois). A radiografia do comércio exterior chama a atenção do próximo presidente para reformas que precisará fazer na economia e a necessidade de gerenciar problemas técnicos sem partidarismos.

OS PONTOS-CHAVE

1 País passou a depender bastante do Mercosul, mas o bloco entrou em crise, devido à Argentina

2 Como a China ganhou grande importância para o Brasil, o desaquecimento chinês preocupa

3 A queda de preços internacionais de matérias-primas contribui para déficits comerciais brasileiros

4 Crise à parte, descaso de fundo ideológico com os EUA se reflete no comércio externo

5 Brasil voltou a ser essencialmente um grande exportador de matérias-primas Este é o primeiro editorial de uma série sobre problemas que terão de ser enfrentados pelo próximo presidente da República

AMANHÃ: A questão tributária

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“As pessoas estão cansadas do PT”
Paulo Skaf (PMDB), candidato ao governo de São Paulo



PETROLÃO PODE TER FINANCIADO O PT EM 2010

A presidente Dilma foi informada ainda nos Estados Unidos que uma das mais graves conclusões da investigação na Operação Lava Jato dá conta de que sua campanha, em 2010, pode ter sido financiada com dinheiro do esquema de corrupção do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o megadoleiro Alberto Youssef. A informação caiu como uma bomba na cúpula do PT, embora não a tenha surpreendido.

NOMES E VALORES

Em sua delação premiada, Paulo Roberto Costa detalhou quantias e personagens cujas campanhas foram financiadas pelo Petrolão.

INGRESSO PAGO

A participação do ex-diretor na campanha do PT de 2010 explicaria suas relações com Lula, que o chama de “Paulinho”, e com Dilma.

ASSIM, Ó

Há fotos que atestam a proximidade do ex-diretor de Dilma, incluindo a que ele aparece autografando seu casaco laranja da Petrobras.

SEGURANÇA

Paulo Roberto Costa deve ganhar liberdade neste final de semana, usando tornozeleira eletrônica. Deveria usar seguranças também.

DELAÇÃO PREMIADA DE LOBISTA GERA PÂNICO NO PSB

Apontado como líder da quadrilha que teria pagado propina a políticos e também fraudado licitações no Detran do Rio Grande do Norte, o empresário George Olímpio negociou delação premiada com o Ministério Público Estadual. O lobista foi preso em 2011 na Operação Sinal Fechado, que revelou suposto envolvimento da ex-governadora Wilma de Faria (PSB), candidata ao Senado, e do filho Lauro Maia.

LARGOU A DEFESA

O advogado Eduardo Dantas Nobre confirmou haver renunciado à defesa de George Olímpio, esta semana, após ser avisado da delação.

O ESQUEMA

George Olímpio é acusado de obter a sanção de uma lei estadual que trata de inspeção veicular, por meio de pagamento de propinas.

DENUNCIADOS

Além de Lauro Maia, estão entre os 27 denunciados o ex-governador Iberê Paiva e o ex-senador João Faustino, já falecidos.

ALERTA

O juiz federal Odilon de Oliveira, herói do combate ao tráfico de drogas e a crimes financeiros, alertou que estimula a lavagem de dinheiro o projeto do senador Delcídio Amaral (PT-MS) isentando de punição quem “repatriar” dinheiro não declarado (a maioria, sujo) do exterior.

PANCADARIA RESOLVE

Na primeira pesquisa Datafolha para presidente já com Marina Silva, em 18 de agosto, a candidata do PSB tinha 11% de rejeição. Na última pesquisa, dia 19, sua rejeição havia dobrado: 22%.

OUTRA ELEIÇÃO

Dirigentes do PT estão insones. No 2º turno, candidatos terão tempos iguais na TV e rádio: blocos de 20 minutos, duas vezes ao dia. Marina não terá mais 2 minutos, como hoje, para enfrentar os 12 de Dilma.

HAJA PACIÊNCIA

Diplomata saiu irritada do aeroporto de Guarulhos (SP), após longo tempo esperando que o funcionário da Polícia Federal conseguisse reconhecer seu país de origem, no passaporte diplomático.

LONGE DAS ELEIÇÕES

O senador Cristóvam Buarque (PDT-DF) participa de júri que vai escolher, no Bahrein, a candidato ao Prêmio Nobel de contribuição à humanidade. O prêmio é de US$ 1 milhão e uma Placa em Ouro.

DUPLAS PARALELAS

Filho mais velho de Eduardo Campos, João, 20, faz campanha com o candidato a vice Raul Henry (PMDB), enquanto Paulo Câmara (PSB) percorre o estado com o candidato ao Senado Fernando Bezerra.

MISSÃO IMPOSSÍVEL

Aliados do presidente interino do PSB, Roberto Amaral (SP), defendem acordo para fazer de Beto Albuquerque (RS), primeiro vice-presidente do partido nas convenções marcadas para segunda-feira.

GOTA D’ÁGUA

Na Bahia, aumentaram as apostas na desfiliação do senador Walter Pinheiro do PT. Ele se diz vítima de fogo amigo, após ser citado entre os beneficiados pelo mensalão do governo Jaques Wagner.

MALUFADA

Depois de dizerem no TSE que “na casa do Senhor não existe satanás”, o ficha-suja Maluf começou a se comparar a Jesus Cristo.


PODER SEM PUDOR

REUNIÃO ESPÍRITA

Era clara a missão do economista Marlan Rocha, determinada pelo líder Leonel Brizola: percorrer o interior do País, começando pelas barrancas do Rio São Francisco, para organizar o PDT, que acabara de fundar. Ao chegar em Barreiras, na Bahia profunda, Marlan procurou um getulista histórico, Aluízio Mármore, e pediu que ele organizasse uma reunião com os velhos dirigentes trabalhistas das redondezas.

Aluízio Mármore, o sábio, apenas sorriu e convidou:

- Amanhã cedo, pego você no hotel e vamos ao cemitério. Estão todos lá.