quinta-feira, março 15, 2012

Saúde - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 15/03/12
Lula termina amanhã o tratamento, à base de antibióticos, contra pneumonia.

FALTOU FAIR PLAY

A seleção de Parreira ganhou o Prêmio Fair Play na Copa de 2006, na Alemanha. Mas, na volta ao Brasil, a taça foi apreendida pela Receita Federal. O Leão, veja o absurdo, exigiu pagamento de imposto sobre o troféu.

Agora, um particular o arrematou num leilão da Receita.

PAÍS DA BOCA LIVRE

Ricardo Teixeira contou para um amigo que se livrou de pelo menos um pepino.

Administrar os pedidos de ingressos para a tribuna de honra nos jogos da Copa de 2014.

É QUE...

A Fifa, que não conhece os usos e costumes das nossas autoridades e celebridades, limita o espaço para 300, 400 convidados do mundo inteiro.

ANA VAI À GUERRA

A ministra Ana de Hollanda, cujo cargo é pretendido por uma fila maior que a dos trens da Central, não se entrega.

Dia 20 agora, desembarca no Rio com seus principais auxiliares para comandar, no Palácio Gustavo Capanema, às 9 horas, uma apresentação das ações do MinC para 2012.

QUE SEJA FELIZ

Cândido Vaccarezza, o roliço petista afastado da liderança do governo, disse a amigos que engordou 13kg no cargo:

— Vou aproveitar o tempo livre para cuidar do corpo, fazer dieta, voltar às caminhadas.

MENESES NO BRASIL

Antonio Meneses, o grande violoncelista brasileiro que brilha mundo afora, inicia segunda uma turnê por cinco cidades da Suíça e da França, que se encerrará em Paris.

Depois, tocará no Brasil, em abril e julho.

MULHERES DE AREIA

O Brasil, com o tempo, parece ficar mais conservador.

A TV Globo recebeu ofício do Ministério da Justiça, dizendo que a novela Mulheres de areia, reprisada à tarde, não pode mais ser classificada para 10 anos, como agora. Na estreia, em 1993, e na primeira reprise, em 1996, a classificação era livre. 

DETALHE...

O ofício chegou no fim da atual repetição da novela. 

A IRMÃ DA MÍRIAM

A pianista Simone Leitão, irmã da coleguinha Míriam Leitão, vai se apresentar no Carnegie Hall, em Nova York, dia 20.

Acompanhada do violinista Daniel Guedes e do violoncelista Hugo Pilger, tocará Villa-Lobos, Brahms, Guerra-Peixe e Mignone, no Weill Recital.

PASSA BEM

O contraventor Luizinho Drummond foi internado no Hospital Samaritano, no Rio, segunda, com dores no peito. 

Foi liberado ontem.

ALIÁS...

Turcão, 86 anos, o bicheiro mantido em prisão domiciliar desde terça, na Operação Furacão da PF, está com Alzheimer.

CORREDOR DO FÓRUM

A 16ª Câmara Cível do Rio deu ganho de causa a uma moça que processou o ex-namorado para exigir metade do lucro de um lava-jato aberto por ele ao longo do romance.

Ela alegava ter ajudado na compra de equipamentos. 

COMLURB EM MUNIQUE 

A TV Alemã Constantin Entertainment vai produzir um “reality show” só de garis, em junho, com a participação da turma da vassoura da minha, da sua, da nossa Comlurb.

Por uma semana, garis de cá vão varrer lá, enquanto um grupo de lá vem catar lixo cá.

ALÔ, É DA GOL?

Parceira da coluna tenta há seis dias ser atendida pela Central Smiles, da Gol, para emitir uma passagem internacional.

Chegou a ficar 50 minutos ouvindo música no telefone sem resposta.

ORDEM DO DIA 

Entrou na ordem do dia da Câmara do Rio o projeto de Carlos Bolsonaro que cria o Dia do Orgulho Heterossexual.

Não é nada, não é nada... não é nada.

BOTECO DA CÂMARA

O gabinete da liderança do PDT na Câmara, que fica num lugar privilegiado, perto do Salão Verde, considerado “a praia” do Congresso, tem, desde o início da semana, um novo formato.

O atendimento agora é feito por duas secretárias bonitonas e novinhas. Na sala de reuniões, uma grande mesa deu lugar a mesinhas redondas e cadeiras que imitam as de botequins. A ideia foi do deputado Paulinho da Força Sindical.

MAS...

Dentro da Câmara não é permitido beber.

A exceção é o restaurante do último andar do Anexo IV, terceirizado, onde a turma, ic!, pode beber cerveja gelada, vinho e uísque.  

PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV


15h - Torneio de Indian Wells, tênis, Bandsports

15h - Athletic Bilbao x M. United, Liga Europa, RedeTV! e ESPN Brasil

15h - PSV x Valencia, Liga Europa, ESPN

15h - Udinese x AZ, Liga Europa, ESPN HD

16h - Pinheiros x Liga Sorocabana, NBB, Sportv

17h - Masters 1.000 de Indian Wells, tênis, Sportv 2

17h - Manchester City x Sporting, Liga Europa, RedeTV! e ESPN Brasil

17h - Besiktas x Atl. de Madri, Liga Europa, ESPN

17h - Schalke x Twente, Liga Europa, ESPN HD

19h30 - Atlético-PR x Sampaio Corrêa, Copa do Brasil, Sportv

19h45 - Juan Aurich x Santos, Taça Libertadores, Fox Sports

22h - Flamengo x Olimpia, Taça Libertadores, Fox Sports

22h30 - Treino do GP da Austrália, F-1, Sportv

23h - Masters 1.000 de Indian Wells, tênis, Sportv 2

Onde 2013 vem antes de 2012 - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 15/03/12


Há tempos não se vê tanta confusão e focos de incêndio numa base governista simultaneamente na Câmara e no Senado. O PR no Senado vira oposição, parte do PMDB cruza os braços. Ninguém confia em ninguém



A confusão na seara política está tão grande que o ano de 2013 já chegou atropelando a sucessão municipal. No Congresso, em todos os partidos, não se fala em outra coisa que não seja a eleição dos presidentes das duas Casas — Câmara e Senado. Essa conversa já começou a contaminar as votações e, por mais que os líderes petistas digam dia e noite que não vão quebrar o compromisso com o PMDB, ninguém confia em ninguém.

Ontem, por exemplo, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), o número um do partido para presidente da Casa no ano que vem, almoçou com os ruralistas e propôs retomar o texto dos deputados para o Código Florestal. O governo não quer a proposta antiga, muito criticada pelos ambientalistas.

Mas entre a emenda que Alves defendeu de viva-voz na Câmara, na votação do ano passado, e o governo, o líder do PMDB vai ficar com o discurso e os votos da bancada ruralista para presidir a Câmara. Não por acaso, com medo de perder como ocorreu da outra vez na Câmara, o Poder Executivo conversa com o PT para trabalhar no sentido de deixar o tema para depois da Rio+20 — uma jogada de risco que pode complicar a vida de Dilma na conferência.

Por falar em PT...
Alves começa com esse gesto, de forma muito sutil, a trabalhar a sua campanha no lusco-fusco entre governo e oposição, uma vez que a grande bancada ruralista se espraia nos dois campos. Deste ponto, fica mais fácil, se necessário, pular o córrego governista e ficar na margem oposicionista — desculpem-me os puristas, mas na política não existe mais esquerda ou direita.

Os petistas assistem a todos esses movimentos com um olho no gato, outro no peixe. Tudo o que eles queriam com a nomeação de Arlindo Chinaglia para líder do governo era dar um recado subliminar ao PMDB. Algo do tipo "respeitem o PT e deixem de manifestos ou coisa que o valha, porque vamos cumprir o nosso acordo com vocês (votar no candidato do PMDB a presidente da Câmara)". Ocorre que a dose foi grande e agora a desconfiança está lançada tanto na Câmara quanto no Senado.

Por falar em Senado...
A Casa pega fogo. Renan Calheiros vê escorrer via governo suas chances de presidir o Senado. Não por acaso, declara dia e noite que não é candidato à sucessão de José Sarney. A ideia de Renan é administrar o tempo. Hoje, ele tem dez votos dentro do PMDB, os do PTB capitaneados por Gim Argello (DF), e ainda dois do PSD de Gilberto Kassab. Afinal, Renan e Sarney foram cruciais na hora de o PSD conseguir espaço nas comissões da Casa.

Enquanto isso, Dilma discute a possibilidade de deslocar Edison Lobão de Minas e Energia para a Presidência da Casa. Ele é hoje o único nome em quem Dilma confia plenamente para o cargo. Afinal, o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, foi rebelde demais quando presidiu a Casa no governo Lula.

Por falar em rebeldia...
Dentro do PMDB, a rebeldia está muito sutil, mas virá. Tudo, a partir de agora, depende do líder Eduardo Braga. Ele que se vire para cuidar dos votos e dos projetos. E já chega ao cargo com uma banda da base rumo à oposição. Outro dia, tratamos aqui da pescaria de Aécio Neves na base governista. Que ele, antes de viajar para Washington, já havia preparado o terreno. Ontem, ele pescou o senador Blairo Maggi (PR-MT), que está oficialmente no bloco oposicionista. Se continuar nesse ritmo de confusão na base, Aécio nem precisará de muito esforço para pescar os políticos. Só não pode esquecer que, para virar presidente, é preciso conquistar o povo.

Simplificação ambiental - CLAUDIA ANTUNES


FOLHA DE SP - 15/03/12


O terremoto que há um ano provocou o vazamento de material radiativo na usina nuclear de Fukushima deu novo ensejo à corrente de ambientalistas oposta à energia atômica.

Há indicações de que o desastre contribuiu para frear o que a indústria do setor antes anunciava como seu "renascimento", motivado pela substituição da eletricidade gerada por combustíveis fósseis.

No entanto o anúncio da Alemanha de que desativará seus reatores ainda é um ato isolado. França, EUA e Rússia, países com o maior número de usinas, pretendem mantê-las e negociam a venda de equipamentos para a Índia e para outros clientes.

A China, dependente do carvão, investe nas fontes eólica e solar, mas planeja instalar 77 novos reatores (tem 15). Países como Vietnã e Turquia querem construir usinas, mais para dominar a tecnologia nuclear do que por necessidade energética imediata.

No Brasil, ambientalistas em geral são contrários à conclusão de Angra 3 e à construção de hidrelétricas em áreas de florestas, e têm argumentos razoáveis. Mas, tratando-se por enquanto dos únicos tipos de geração não poluente com garantia de fornecimento firme, sem eles fica mais difícil atingir o equilíbrio entre suprir a demanda por energia e combater o aquecimento global.

No próprio Japão, a eventual substituição das usinas atômicas significará mais termelétricas, pondo em risco a contribuição do país para a redução da emissão de gases do efeito estufa.

As campanhas ambientais simplificam esse debate. Atraem simpatia, mas não tocam nem a superfície do grande e talvez insolúvel impasse mundial: só será possível uma convergência sustentável dos níveis de vida se os países emergentes não imitarem os ricos e se estes, com consumo energético por habitante quatro vezes maior, abrirem mão do padrão atual.

Uma boa má notícia - JANIO DE FREITAS


Folha de S.Paulo, 15/03/12


Se consideradas as necessidades na Terra, o gasto com as conquistas espaciais é incompreensível


As sequelas da permanência humana em cápsulas espaciais, por tanto tempo consideradas inexistentes ou imperceptíveis, não são uma coisa nem outra. Estão confirmadas. E, em princípio, com efeito muito negativo para os novos saltos na exploração humana do espaço.

O acompanhamento das condições físicas de 27 astronautas americanos demonstrou à Nasa que a permanência em cápsulas espaciais por 30 dias deixou-os, ao menos, com duas ordens de consequências. Uma, são decorrências de aumento da pressão ocular; outra, são alterações crânio-encefálicas. A presunção é de que as sequelas resultem da pressão a que os astronautas ficam submetidos no espaço.

A dedução imediata, feita a comprovação, foi de que a projetada ida do homem a Marte recebeu um golpe fatal. Mas não só os americanos e a Nasa são atingidos. Além de possíveis projetos da Rússia, a China se lança em intenso programa espacial com o propósito, referido publicamente, de alcançar precedência na ida humana a Marte.

Os astronautas com sequelas retribuem com este ônus a sorte de viver a aventura fantástica. Cobrança a lamentar-se. Mas se os seus males servirem para deter ou provocar longos adiamentos de projetos espaciais ainda mais grandiosos, o que se lamenta também merece ser saudado.

O lado científico civil dos projetos espaciais nem sequer disfarça o propósito original e sempre decisivo da conquista do espaço: a capacitação para a eventualidade de guerras. A contenção de projetos espaciais quase inimagináveis não significaria a redução do ímpeto belicista das potências. Mas tenderia a evitar gastos de proporções também quase inimagináveis.

Não se tem ideia do que custaram as conquistas espaciais já realizadas. Não há dúvida, porém, de que nenhum plano, em qualquer tempo, custou proporcionalmente tanto à humanidade. Se consideradas as necessidades ainda existentes na Terra, o gasto imensurável das conquistas espaciais é incompreensível.

Uma parcela desse gasto, se aplicada à pesquisa biomédica, há muito teria eliminado a crescente razia feita pelo câncer e por tantas doenças mais. O fim da fome que mata, e maltrata antes de matar, cerca de um quarto da humanidade, não depende de mais do que uma gorjeta do gasto com as conquistas espaciais.

O homem gasta no espaço o justo bem-estar que espera na Terra.

Boca no trombone - SONIA RACY

O ESTADÃO - 15/03/12


O Procon divulga hoje a lista das dez empresas mais “reclamadas” em 2011. Entre elas, o Carrefour lidera o ranking das que menos solucionam problemas do consumidor: 91% das queixas repassadas pelo órgão estão sem desfecho.

Trombone 2
Na área da saúde, quem lidera as “queixas fundamentadas” é a Amil, principalmente no que se refere à dificuldade para marcar consultas.

Já a Unimed Paulistana é a primeira no quesito “reclamações não atendidas”, com pouco mais de 68% dos casos sem solução para o consumidor. Exemplos: demora na liberação de cirurgias e falta de cobertura em casos de urgência e emergência.

Poupança
Poucas pessoas perceberam. Nas estatais, onde realmente poderia haver reação ainda mais forte, Dilma não mexeu em um só cargo.

Reescrevendo
Do alto de seus 81 anos, Olacyr de Moraes criou site e twitter para, como ele próprio explica, colocar os pingos nos is. “Tem gente se fazendo passar por mim e gente inventando frases que eu nunca disse. Com intuito de denegrir minha imagem”, conta o empresário que voltou à ativa.

Mais precisamente, ao ramo do minério tálio, por meio de sua Itaoeste.

QG da prévia
Central para apuração dos votos nas prévias será montada, dia 25, em duas salas tucanas na Câmara: a da liderança do PSDB e a de Floriano Pesaro.

Os pré-candidatos serão informados do veredicto uma hora depois do término da votação, por volta das 16h. E o vencedor terá direito a festa com pompa e circunstância.

Cadê?
Tem gente grande na CBF sem entender por que Fábio Koff permanece calado desde a renúncia de Ricardo Teixeira.

Pelo que se apurou, o presidente do Clube dos 13 teria muito a acrescentar ao cenário…

De olho
Luis Paulo Rosenberg acha que a troca de comando na CBF “não vai ser tão tranquila quanto estão pensando”.

Para o diretor do Corinthians, o Brasil mudou. E a Confederação precisa correr atrás. “A gente, por exemplo, adora renovação”, disparou.

Casa de ferreiro
Corre entre funcionários da Cartier Brasil que, no dia 29 de fevereiro, ano bissexto, Maxime Tarneaud, dirigente da grife por aqui, teria sido assaltado na av. Faria Lima. Perdendo, justamente, seu… relógio Cartier.

Consultada, a empresa nega que o roubo tenha ocorrido.

Dose tripla
Celso Kamura vai ficar ainda mais perto de Dilma. O hairstylist abrirá salão em Brasília.

O projeto de expansão do moço conta ainda com uma nova casa no Rio e a retomada do comando de sua franquia em Campinas.

Tipo exportação
Zé Padilha insistiu, insistiu e convenceu Lula Carvalho a assumir a direção de fotografia de seu novo longa, Robocop. Repetindo a bem sucedida dobradinha de Tropa de Elite.

Ambos já estão em Los Angeles para a pré-produção.

Exportação 2
Portugal leva ao palco Adivinhe Quem Vem Para Rezar, de Dib Carneiro Neto. No Brasil, o texto foi encenado por Paulo Autran.

Na cidade do Porto, a peça está a cargo do grupo Seiva Trupe.

Na frente
O chef Koichi Mori, natural de Sendai– uma das províncias japonesas destruídas pelo terremoto do ano passado –, prepara, hoje, um soba no Blue Tree da Faria Lima. Em agradecimento à ajuda brasileira na reconstrução.

Deu no The New York Times, sábado. Bernardo Paz e complexo museológico em Brumadinho.

E a Casa 8 faz leilão. Hoje e sábado, nos Jardins.

Raí é a estrela da abertura da Twins for Peace – hoje, no Shopping Cidade Jardim. Trazido por Dimitri Mussard e Fabio Justus.

Lidoka, ex-integrante da banda As Frenéticas, lança autobiografia. Hoje, na Livraria da Vila da Lorena.

Dani Cutait e Rodrigo Trussardi pilotam coquetel de apresentação de novidades à venda no site OQVestir. Hoje, na loja Poliform.

Tania Bulhões inaugura novo serviço de concierge, com brunch e exposição de vestidos Sandro Barros. Hoje, nos Jardins.

Dilma estava mais ríspida do que o habitual ontem pela manhã, de acordo com quem frequenta o gabinete. Consta que por causa do noticiário. 

O governo e a guerra dos portos - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 15/03/12


Já muito prejudicada pela guerra dos portos, uma das piores formas de guerra fiscal entre Estados, a indústria brasileira ficará exposta a riscos muito maiores se o governo federal for politicamente incapaz de impor um ponto final a essa insânia. Durante anos, governos estaduais ofereceram benefícios tributários e outras facilidades para atrair investimentos de empresas nacionais e estrangeiras. Isso causava - e continua causando - distorções importantes, mas o investimento produtivo pelo menos era mantido no Brasil. A estratégia adotada mais recentemente por um grupo de governadores vai além da distorção, porque resulta não só no desvio de investimentos, mas também no solapamento da indústria nacional e na destruição de empregos. A perversão consiste em conceder incentivos fiscais à importação, favorecendo o concorrente estrangeiro e a criação de empregos fora do País - exatamente o contrário das políticas adotadas na maior parte do mundo.

Economistas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) estimaram em US$ 22,2 bilhões o valor das importações realizadas no ano passado com base naqueles benefícios. Esse valor corresponde a 11,5% do valor das importações de manufaturados em 2011. Concentrada no mercado interno, essa demanda teria resultado, segundo o estudo, numa produção direta de R$ 37,1 bilhões. Não entram nesses cálculos os efeitos sobre as demais atividades influenciadas pela produção industrial. O ganho total para a economia poderia chegar a R$ 80,4 bilhões.

A Resolução n.º 72 do Senado, de autoria do senador Romero Jucá, foi a solução encontrada na área governista para combater esse descalabro. Se aprovada, essa resolução reduzirá a 4% a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) aplicada às operações interestaduais com produtos importados. Ainda se discute se o melhor será aplicar a redução só aos produtos importados ou a todos. De toda forma, a solução consistirá, essencialmente, em eliminar ou reduzir de forma considerável a vantagem proporcionada pela importação.

Pelo sistema atual, o Tesouro estadual recolhe 12% ou 7% (de acordo com a região) quando um produto é vendido para outro Estado. No destino, o comprador será tributado com alíquota de 17% ou 18%, mas poderá descontar um crédito correspondente ao imposto pago na origem. No caso da guerra dos portos, o crédito se refere a um tributo não recolhido ou recolhido com alíquota muito baixa (3%, por exemplo), por causa do benefício fiscal. Com isso, o importador leva uma enorme vantagem e torna-se possível oferecer o bem importado com preço bem inferior ao do nacional. Um veículo importado nessas condições pelo Estado do Espírito Santo entra no mercado brasileiro com um subsídio de cerca de 10%, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

O ministro propõe uma compensação aos Estados promotores da guerra dos portos, se a distorção for eliminada. Não deixa de ser uma proposta absurda, porque o benefício fiscal às importações é uma violação da lei e uma aberração política. O ganho obtido por esses Estados impõe um dano considerável ao País.

O autor do projeto de Resolução n.º 72/2010, Romero Jucá, destituído da liderança do governo, transferiu a defesa da proposta ao novo líder, senador Eduardo Braga (PMDB-AM). Mas o senador Braga defende, em vez de uma alíquota geral de 4%, uma taxa definida "por segmento".

Começa, portanto, criando um obstáculo à aprovação de um projeto de enorme importância para a defesa da indústria e do emprego. A guerra dos portos tem sido praticada pelos governos de 10 Estados e a negociação poderá ser complicada. A disposição do novo líder do governo é um péssimo sinal. Pode ser uma abertura para concessões suficientes para reduzir amplamente a eficácia da resolução.

O governo deveria preocupar-se com isso. O ministro da Fazenda e a presidente da República têm acusado os bancos centrais do mundo rico de inundar o mundo de moeda, criar distorções cambiais e prejudicar a indústria brasileira. Fariam melhor concentrando-se no combate a uma ameaça muito mais próxima e mais fácil de combater.

PIB - a caravela, os ventos e o(a) comandante - ROBERTO MACEDO


O Estado de S. Paulo - 15/03/12


O crescimento do produto interno bruto (PIB) foi de novo frustrante, de apenas 2,7% em 2011. Por quê? Há quem aponte o aperto creditício adotado pelo governo no início do mesmo ano. Com a subida da taxa básica de juros de janeiro a julho, esse aperto compôs uma dupla voltada para desacelerar a economia, que encerrou 2010 numa velocidade que sinalizava o risco de inflação além do teto da meta do Banco Central.

Se essa fosse toda a história, teria havido um erro na dosagem voltada para trazer o PIB para um crescimento entre 4% e 5% no ano. A frustração veio da diferença entre esse objetivo e os 2,7% citados.

Em 2011, contudo, a situação da economia só piorou, mesmo no terceiro trimestre, cujo PIB caiu 0,1% relativamente ao do segundo, quando a atual crise na zona do euro se tornou mais forte. Aqui, seus efeitos vieram de dois elos que ligam o Brasil à economia internacional. O primeiro é o do comércio, pois tal crise prejudicou exportações do Brasil e parte do seu PIB. O segundo veio de notícias sobre a crise que se difundiram pela mídia, levando consumidores e empresários brasileiros a se retraírem nas suas aquisições de bens e serviços. Bancos também integraram essa cadeia de efeitos, contendo a expansão do crédito.

Focado nessa diferença entre a meta do governo e o resultado obtido, vejo a crise na zona do euro como importante na explicação do pífio crescimento do PIB em 2011. Realçando essa razão externa, há também o fato de que o crescimento da economia mundial de meados até o fim da década passada foi o principal fator a impulsionar a economia brasileira no período. E, excepcionalmente, foi uma crise lá fora que levou o PIB de 2009 a uma taxa negativa. Assim, nos mares da economia mundial, quando os ventos são bons, o Brasil navega a contento; caso contrário, seu PIB sofre.

O País não se pode conformar com isso, precisa tornar o nosso barco mais eficiente no seu desempenho e movido por força própria mais forte. Aliás, isso ocorreu com as próprias caravelas. Primeiramente, foram superadas por veleiros maiores e com mais mastros. Depois, vieram os grandes barcos motorizados. E tudo isso exigiu mais investimentos, inclusive em avanços tecnológicos.

Sem isso o Brasil seguirá crescendo abaixo de seu potencial e a ampliação deste também fica prejudicada quando os ventos externos são fracos. Na linguagem dos economistas, é indispensável expandir a taxa de investimento da economia. Ou seja, aquela proporção do seu PIB voltada para ampliar a capacidade produtiva do País, como em infraestrutura, fábricas e empreendimentos agropecuários. Cabe também investir mais em serviços, como em educação, saúde e progresso tecnológico.

Na China essa taxa alcança perto de 40% do PIB e com ela por muitos anos o país cresceu perto de 10% ao ano; na Índia, é próxima de 30% e o seu crescimento ficou perto de 8%. Aqui, foi de apenas 19,3% em 2011, está por aí desde 2008 e iniciou este século em 16,8%. Essas taxinhas sintetizam as razões pelas quais o País continua sem condições de navegar melhor.

A ampliação da poupança interna também teria importância crucial para o Brasil ficar menos dependente de recursos externos. Eles não chegam na medida necessária e, em qualquer caso, são remunerados com parcela do nosso PIB. Aliás, para tapar o buraco de suas contas externas o Brasil se regozija com a entrada de investimentos estrangeiros. Mas pouco se fala da remuneração adicional a que isso leva. A propósito, seria conveniente realçar no Brasil o conceito de renda nacional bruta (RNB), ou seja, a parcela do PIB do País que efetivamente cabe aos seus cidadãos. No PIB se conta o que foi produzido dentro do nosso território, o que inclui a parcela devida a investidores e credores externos. Contada essa parcela, nossa RNB em 2011 foi 1,8% menor que o PIB. Em valores, o vazamento foi de R$ 78,1 bilhões (!) e sem ampliação da poupança nacional tenderá a crescer.

Tocando o barco, como agiu o comandante Lula? Ele foi muito favorecido pelos bons ventos da economia mundial nos seus dois mandatos, mas atribuiu a si mesmo todo o mérito pelo melhor desempenho do PIB. E não reconheceu que tomou o navio em melhor estado do que quando recebido por antecessores pós-Sarney. Mesmo assim, pelo barco quase nada fez no que diretamente lhe cabia, a poupança e o investimento públicos, pois optou pelo assistencialismo e pelo afago ao corporativismo e ao patrimonialismo que giram em torno do Estado. Países ricos são os que de fato eliminaram a pobreza poupando e investindo bem mais que o Brasil.

E a comandante Dilma? A História colocou-a noutras circunstâncias, agora más, da economia mundial. E corre o risco de ser culpada pelo mau desempenho da economia, pois o personalismo marca nossa política, desprezando a análise das circunstâncias. Por sua vez, o povo, sem conhecê-las, acaba endeusando ou demonizando governantes. Seria uma injustiça, pois no dia a dia o governo Dilma Rousseff dá demonstrações - trem-bala à parte - de preocupação maior com o mau estado do navio. Mas para lhe dar efetiva força própria precisará ter a ousadia que Lula não mostrou.

Até aqui, como resposta ao fraco crescimento o governo federal vem reduzindo a taxa básica de juros, fala-se de mais apoio a segmentos industriais e, entre outras medidas, de mais empréstimos do BNDES sustentados por mais dívida pública. Estes, apesar de grande magnitude no passado recente, ainda não tiveram efeito palpável sobre a taxa de investimento.

Isso é pouco diante da enormidade do que precisa ser feito. Sem conter o muito que arrecada e sem expandir fortemente o pouco que investe, o governo continuará fragilizado em sua ação. Assim, deveria começar por olhar-se no espelho. Quer pintar-se como indutor do crescimento, mas sem rever efetivamente o que faz para contê-lo.

Desobediência incivil - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 15/03/12

Os deputados Marco Maia, presidente da Câmara, e Cândido Vaccarezza, então líder do governo, teriam dito apenas grandes bobagens quando se insurgiram contra a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o rito das medidas provisórias se não tivessem tido o respaldo do silêncio do Parlamento.

Maia disse é que "difícil" cumprir a determinação de que de agora em diante seja observado o preceito constitucional do exame prévio das MPs à luz dos critérios de urgência e relevância. Ou seja, indicou intenção de ignorar a sentença.

Vaccarezza foi além, afrontou. Chamou o artigo 62 de "letra morta" e declarou a ilegitimidade do Supremo para "se meter nesse assunto", segundo ele, de foro exclusivamente íntimo do Congresso.

Se alguma reação houve aqui e ali foi ato isolado, insuficiente para mostrar que os líderes e os partidos representados no Poder Legislativo têm noção do que significa um desafio a decisão do STF e repudiam aquelas manifestações de insurgência ao primado legal.

Desnecessário pontuar a natureza da função da Corte porque os dois deputados e seus omissos pares sabem perfeitamente bem não só que o Supremo existe para guardar o cumprimento da Constituição como também que a desrespeitaram e por isso o "assunto" não é "interna corporis".

Marco Maia alega dificuldades, diz que o "problema político" vai continuar, mesmo com as novas regras, e acusa a oposição de atrasar propositadamente a indicação dos integrantes de comissão mista para o exame das medidas provisórias.

Mesmo que seja verdade, ele como presidente da Câmara tem instrumentos regimentais para fazer cumprir a regra que, aliás, não é nova: data de quase 24 atrás quando terminou, em outubro de 1988, a Assembleia Constituinte.

Tão dóceis quando se trata de seus interesses individuais, melhor fariam suas excelências se parassem de criar dificuldades com o Judiciário a fim de proporcionar facilidades ao Executivo.

Hércules. Senador de primeiro mandato, o novo líder do governo Eduardo Braga tem tarefa árdua pela frente: conquistar o grupo de independentes do PMDB que até então integrava.

Entre eles os senadores Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon. Além de enfrentar as artimanhas do grupo preterido, representado nas figuras de José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá, Braga terá de convencer senadores não necessariamente disponíveis para serem convencidos.

De onde o Planalto pode ter aberto mão de aliados inconvenientes sem a garantia de conquistar adversários impenitentes.

Casa de abelha. Dilma andou pedindo explicações sobre as relações internas de poder no PMDB e detalhes a respeito da escolha de um novo presidente para o partido, em substituição a Valdir Raupp.

Não soou bem aos pemedebistas. Pareceu-lhes que a presidente está querendo se imiscuir no funcionamento do partido para, entre outros objetivos, influir pesadamente nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado em 2013.

Nessa perspectiva, fala-se no PMDB que depois de Romero Jucá o próximo alvo de Dilma seria o líder e candidato a presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves.

Fogo de palha. Na campanha de 2010 sempre que se perguntava à candidata Dilma Rousseff sobre seus planos na área de segurança pública ela batia na mesma tecla: aplicaria no âmbito federal o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora do Rio de Janeiro. Pois agora o projeto foi arquivado sob o argumento de que é materialmente inviável.

Reavaliações são normais. Nesse caso, porém, seria de se imaginar que na condição de gerente do governo então em curso Dilma teria escolhido as UPPs como bandeira de campanha a partir da comprovação de sua viabilidade. 

PR: foi assim - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 15/03/12


O líder do PR, Blairo Maggi (MT), apresentou ontem para a ministra Ideli Salvatti uma lista de nomes: deputados Luciano Castro (RR), Milton Monti (SP) e Wellington Fagundes (MT); o presidente do PR em São Paulo, Antonio Carlos Rodrigues; e o ex-senador César Borges. Com uma caneta, ela riscou os nomes dos deputados. Depois emendou: "Para o Antonio Rodrigues e o César Borges, a gente dá uma diretoria de estatal." E encerrou: "Vamos manter o Paulo Sérgio Passos nos Transportes."

Jucá puxou o tapete de Dilma
A presidente Dilma se sentiu traída pelo ex-líder no Senado Romero Jucá (PMDB-RR). Na semana passada, ele recebeu orientação para levar direto ao plenário, para votação, o projeto de lei que multa empresas que pagam às mulheres salários menores que os homens no exercício da mesma função. A presidente queria sancionar a lei na última terça-feira, quando recebeu o Prêmio Bertha Lutz. Mas em vez de atender à presidente, Jucá apresentou um requerimento, atendendo apelo de entidades empresariais, assinado também por outros líderes, enviando o projeto para a Comissão de Assuntos Econômicos. A presidente ficou irada com o ato de insubordinação.

"As cúpulas partidárias não podem obrigar a presidente a nomear ‘A’ ou ‘B’ para o Ministério. Ela tem que ter a liberdade de escolher os melhores para o país” — José Reguffe, deputado federal (PDT-DF)

PROFISSIONAIS. O clima ameno e de paparicos na primeira reunião da bancada do PMDB do Senado depois da queda de Romero Jucá (RR) e da escolha de Eduardo Braga (AM) surpreendeu um dos integrantes da bancada dos dissidentes, Ricardo Ferraço (ES). Ele saiu da sala comentando: "A reunião foi tão boa, e tantas as trocas de amabilidades, que eu acho que há mais coisas no céu de Brasília do que aviões de carreira."

Irado
O líder do PR, senador Blairo Maggi (MT), estupefato com a oferta de duas diretorias de estatais, respondeu de bate pronto: "O Antonio Rodrigues é vereador. Ele não está precisando de emprego. E o Cesar Borges também não".

Na contramão
O nome de Manoel Dias para o Trabalho não é bem visto no Planalto. Ele é presidente do PDT catarinense. Nas últimas três eleições, ele não apoiou o PT. Na última, apoiou o governo Esperidião Amin (PP) contra a ministra Ideli.

Atravessando o samba
Aliados de José Serra não gostaram da declaração do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, de que a chapa para a prefeitura de São Paulo será puro sangue. "Dispensamos seus conselhos sobre composição da chapa na eleição da capital. Lá nós sabemos ganhar eleições. Ele que vá pregar em outra paróquia, no Recife, por exemplo", disse o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). O ex-governador Alberto Goldman afirmou: "Isso cria um ruído desnecessário".

Reação
O vice da CEF, Geddel Vieira Lima, reagiu às tratativas do vice Michel Temer e do líder Henrique Alves para que o PMDB da Bahia apoie o DEM em Salvador: "A política na Bahia é decidida lá. O apito do Temer e do Henrique é mudo".

Na canela
Em conversa na noite de anteontem, Geddel perguntou a Temer, irritado: "Você vai dizer à presidente Dilma que quer que o PMDB apoie o líder da oposição em Salvador? Você vai gravar apoio para ele exibir na televisão na campanha?".

NADA MAIS. Emissários mandaram recado para o presidente da Fifa, Joseph Blatter, de que o encontro com a presidente Dilma será cordial e protocolar.

FILHO do governador Sérgio Cabral, Marco Antônio assume interinamente, amanhã, a presidência da Juventude do PMDB.

O COMANDANTE da Marinha, almirante Moura Neto, acertou ontem a assinatura de um convênio com o presidente da Oi, Francisco Valim, pelo qual a empresa vai reconstruir as instalações de comunicação da base científica da Antártica. 

Biodiversidade dos edifícios - FERNANDO REINACH


O ESTADÃO - 15/03/12


Cada um de nós libera, por hora, 35 milhões de bactérias. Essa é uma das descobertas de um novo ramo da biologia: a ecologia e a biodiversidade dos ambientes fechados.

A palavra biodiversidade traz à mente ecossistemas como a floresta amazônica. Milhares de plantas convivendo com milhões de insetos, fungos, peixes e mamíferos. Uns se alimentado dos outros, entrelaçados por relações de competição, predação, dependência e colaboração. Mas existem ecossistemas com grande biodiversidade no fundo dos mares, na atmosfera, na boca de um carnívoro, no interior de uma cárie, no intestino de um humano. Em cada um desses ambientes vivem centenas ou milhares de espécies de seres vivos, muitos deles microrganismos, que se relacionam de maneira semelhante aos habitantes da floresta. Recentemente, ecologistas resolveram estudar os ecossistemas presente nas construções humanas.

A biodiversidade está no concreto das lajes, na madeira dos forros, no gesso, nas luminárias, nos dutos de ar condicionado, nas privadas. Essa análise em larga escala só foi possível com a diminuição do preço do sequenciamento de DNA. Amostras de ar filtrado e material coletado com cotonetes são tratados para liberar o DNA nas amostras. A sequência dos genes desse DNA é comparada com os enormes bancos de dados que vêm se acumulando nos últimos dez anos, possibilitando identificar cada gene coletado e saber a que espécie ele pertence. Sabendo o número de cópias de cada tipo de gene também é possível saber a frequência de cada espécie de microrganismo na amostra.

Que tal um passeio em um banheiro limpo? No trinco do lado de fora da porta, 80% dos microrganismos são os mesmos que encontramos na pele do ser humano; 3% são de origem aquática; 2% habitam também a boca dos humanos e menos de 1% é típica de nosso intestino. No trinco interno, a distribuição é semelhante, mas 5% também habitam a urina humana (alguém não lavou as mãos). Na tábua da privada, 30% habitam nossa pele; 25%, nosso intestino; e 15%, o trato urinário ou vaginal.

Estudos como esses são feitos para comparar o que ocorre no ar de uma sala de aula, nos tampos da cozinha de nossas casas, no piso, nos lustres, nos lençóis. Comparações entre a biodiversidade em habitações com ar condicionado e com ventilação externa e entre quartos hospitalares e corredores estão em andamento. Sem falar no gradiente de biodiversidade encontrado no piso entre a porta de entrada e os quartos.

Esses estudos catalogam a biodiversidade desses ecossistemas e estudam como ela responde à intervenção humana (uma faxina) ou a alterações no ambiente, tanto as induzidas pelo homem (um desinfetante) ou por condições climáticas (efeito do Sol sobre uma área de bancada de cozinha). Mas aos poucos eles tentam responder questões mais complexas, como a interdependência e a competição entre as espécies e as cadeias alimentares.

Quando questionados sobre a relevância desses estudos, os ecologistas argumentam que quase 90% da população humana fica mais de 80% do tempo em ambientes fechados; que esse é o ecossistema em que a espécie humana se insere; e que sabemos muito menos sobre eles que sobre as tundras na Rússia, por exemplo.

Muitas descobertas serão feitas no estudo das estruturas peculiares criadas pelo Homo sapiens. Esses estudos vão permitir compreender melhor como e com quem dividimos os ecossistemas que chamamos de lar.

GOSTOSA


Quantas mortes movem o mundo? - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 15/03/12


Um ano de massacres na Síria expõe a escandalosa impotência da ONU, como ocorrera na Bósnia e Darfur



ROUBO DO "Monde" de ontem (embora com data de hoje) a abertura de seu texto principal sobre a Síria: "Um ano após o início do levante contra o presidente Bashar Assad (...), a comunidade internacional continua a exibir o espetáculo de sua impotência para fazer cessar os massacres".

Dolorosa verdade. Dá até vontade de perguntar para que servem as Nações Unidas se são absurdamente incapazes de prevenir mortandades, agora na Síria, como antes na Bósnia ou em Darfur.

Uma impotência que leva um dos mais lúcidos especialistas na região a perguntar: "Quantas mortes são necessárias para mudar a análise da relação custo/benefício de intervenção X não intervenção?", escreve Steven Cook, pesquisador sênior do centro Hasib J. Sabbagh para Estudos do Oriente Médio.

Parece uma pergunta cruel, mas é realista. Afinal, tudo o que se poderia dizer sobre a violência do regime já foi dito e está condensado no relatório de ontem da Anistia Internacional. Diz que os depoimentos recolhidos no contexto de violações aos direitos humanos "fazem parte de um disseminado e sistemático ataque contra a população civil, conduzido de maneira organizada e como parte de política de Estado e, dessa forma, equivalente a crimes contra a humanidade".

Que a comunidade internacional evite uma intervenção militar na Síria até dá para entender. A Rússia bloqueia essa iniciativa no Conselho de Segurança, com o que não se consegue a legitimidade necessária para dar cobertura à operação.

Sou obrigado a concordar com a observação feita por diplomatas franceses ao "Monde": "Uma intervenção sem mandato por uma boa causa serviria de justificativa para todas as intervenções sem mandato por uma má causa".

OK, até aí dá para entender, embora não necessariamente para justificar. Mas não há mais nada a inventar, salvo tentar convencer os russos a serem mais flexíveis no apoio ao ditador, por enquanto inoxidável, e, por extensão, aos crimes contra a humanidade? Ou, então, esperar que façam eventualmente efeito as sanções impostas ao regime? Até que funcionem, quantos sírios mais terão morrido?

A esta altura, parece evidente que Assad recusa qualquer solução negociada e vai escalar a repressão até destruir fisicamente a oposição, do que dão prova ataques primeiro a Homs, agora a Idlib e, em seguida, a Deraa, o berço da revolta.

Logo, fracassou claramente a mais recente iniciativa da ONU e da Liga Árabe, a de enviar Kofi Annan à Síria.

O que resta a fazer? Não há resposta fácil, mas parece de elementar sentido comum a observação que fecha o editorial de capa do "Monde": descartada, por impraticável, a intervenção militar, "não se trata, no entanto, de abandonar os sírios à própria sorte. A urgência é, portanto, para os países ocidentais, estudar todos os meios possíveis, logísticos e diplomáticos, mas também no domínio da informação, de sair em auxílio à oposição síria".

A diplomacia brasileira está preparada para sair do imobilismo e pôr realmente os direitos humanos no centro da política externa do governo Dilma Rousseff?

Micróbios dominadores - CONTARDO CALLIGARIS


FOLHA DE SP - 15/03/12
Em 2010, nos "Annals of Epidemiology" (http://migre.me/8ftEa), li uma pesquisa que achei inquietante: ela confirmava uma dúvida que me assombrara por um bom tempo, a partir dos meus oito anos.
Com essa idade, aprendi que, mesmo sem estarmos doentes, somos habitados por bactérias, vírus, parasitas e fungos, que prosperam dentro de nosso organismo.
E me interroguei: esses micróbios, além de fazerem (eventualmente) com que a gente adoeça, não estariam dentro de nós como pilotos numa imensa espaçonave? Apesar de acreditarmos em nossa autonomia, quem sabe eles não estejam, de fato, no volante de nossa vida?
Justamente, os autores da pesquisa, Chris Reiber, J. Moore e outros, queriam saber se um vírus pode mandar em nós -não só alterar nosso humor, mas realmente influenciar nosso comportamento.
Eles descobriram que os infectados pelo vírus da gripe, durante o período da incubação (em que são contagiosos, mas não apresentam sintomas), tornam-se especialmente sociáveis. Em outras palavras, os infectados parecem agir no interesse do vírus, que é o de contagiar o máximo possível.
Claro, não é que os micróbios se sirvam da gente para levar a cabo um "plano" maquiavélico. Mas se entende, com Darwin, que um vírus que nos torne sociáveis durante a incubação só pode se dar bem na seleção natural, pois ele se espalhará facilmente. Ou seja, os micróbios mais eficientes seriam os que conseguem nos usar em seu interesse próprio, os que nos transformam em seus súcubos.
O que sobraria de nossa "autonomia" se todos os micróbios enquistados no nosso organismo influenciassem (silenciosamente) nossos pensamento e comportamento?

Kathleen McAuliffe, na "The Atlantic" de março http://migre.me/8fwvb), conta a história de Jaroslav Flegr, um cientista que, há 20 anos, pretende que um parasita, o Toxoplasma gondii, manipule e transforme os que ele infecta.
O hospedeiro definitivo do Toxoplasma gondii é o gato, em cujo corpo o parasita se reproduz sexualmente. Seu hospedeiro intermediário típico é o rato, que se infecta ao ingerir o Toxoplasma (direta ou indiretamente) nas fezes do gato e, logo, ao ser comido por um felino, leva o parasita de volta para seu hospedeiro definitivo.
Agora, o Toxoplasma pode infectar qualquer mamífero, enquistando-se no tecido muscular e no cérebro. Nos humanos, ele é presente em 55% dos franceses (comedores de carne crua -claro, de boi infectado) e em 10 a 20% dos norte-americanos. Em tese, pouco importa, pois o Toxoplasma só seria perigoso na gravidez, quando produz malformações fetais. Mas será que esse é seu único efeito?
Há mais de uma década, descobriu-se que o Toxoplasma altera o comportamento dos ratos infectados, tornando-os atrevidos e fãs do cheiro da urina de gato (de que normalmente eles fugiriam). Ou seja, o Toxoplasma transforma o rato numa presa mais fácil para o gato, no estômago do qual o parasita quer acabar sua viagem.
Outra surpresa. Nos ratos (e só neles), o parasita pode ser transmitido por via sexual; ora, verifica-se que os ratos machos infectados são inexplicavelmente mais desejáveis aos olhos das fêmeas.
Um parasita capaz de influenciar o cérebro do rato, seu hospedeiro intermediário preferido, não teria efeito algum quando se instala no nosso cérebro?
Para começar, o Toxoplasma parece produzir em nós alguns efeitos parecidos com os que ele produz nos ratos: por exemplo, muitos humanos infectados passam a achar agradável o cheiro da urina de gato. Nada dramático: a gente é raramente comido por gatos (mas resta a pergunta: se você adora gatos, é porque gosta mesmo ou porque carrega o Toxoplasma gondii no seu cérebro?).
Há mais: a presença do Toxoplasma gondii no cérebro alavanca a produção de dopamina, um neurotransmissor cujo excesso é um dos fatores no conjunto de causas possíveis da esquizofrenia (http://migre.me/8fxYX).
Enfim, o fato é que estamos começando a descobrir que os micróbios aparentemente inócuos que vivem no nosso corpo podem influenciar nosso comportamento.
Não acredito que sejamos os títeres de germes, parasitas, fungos e vírus, mas, certamente, o ambiente que nos constitui e determina não é só o das interações com nossos semelhantes. É também o de interações misteriosas com seres que sequer enxergamos. Inquietante, hein?.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 15/03/12
Setor de saúde mede efeito de alta do envelhecimento

O setor de saúde suplementar avança em estudos sobre o impacto do aumento da concentração de idosos na população brasileira sobre seus negócios.

Novos levantamentos de diversas entidades começam a medir com maior precisão a alta do custo, que deve trazer reflexos significativos.

O Iess (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar) começou a calcular o custo financeiro da nova composição populacional sobre empresas e setor público. O cálculo, que será finalizado e entregue ao setor no segundo semestre, vai ponderar a incidência de doenças crônicas.

Segundo Luiz Carneiro, do Iess, a mudança de perfil etário até 2050 pode elevar a despesa média por pessoa em mais de 54%. "O preço cobrado para quem tem mais de 59 anos não pode ser superior a seis vezes o cobrado do mais jovem. A regra não é viável a longo prazo. Mas é preciso respeitar o estatuto do idoso."

Um estudo da FenaSaúde (federação nacional), que considera só a porcentagem maior de população idosa sem mensurar a incidência de crônicas, conclui que os gastos com saúde subiriam 43% per capita se a população atual tivesse perfil semelhante ao de 2040.

"Hábitos preventivos e saudáveis podem reduzir o ritmo do crescimento dessas despesas. Outra saída seriam modelos de poupança", diz José Cechin, da FenaSaúde.

As operadoras de autogestão, geridas por funcionários de empresas, têm 22,3% de idosos entre os beneficiários, segundo a Unidas, entidade do setor. A ANS diz que "reconhece a importância do tema e que o assunto faz parte de um dos eixos da Agenda Regulatória da Agência".

PREVISÕES POSSÍVEIS

A consultoria Tendências vai ampliar a atuação na área de análise setorial e inteligência de mercado a partir deste mês. A expansão ocorre em um momento de maior previsibilidade macroeconômica e do crescimento da classe média.

"Empresas querem conhecer melhor seus mercados. Com foco mais no médio prazo, querem se antecipar às mudanças", diz o sócio-fundador Gustavo Loyola.

"Há dez anos, não se podia medir com lupa a evolução dos negócios. Havia incerteza econômica. Era difícil até projetar PIB, câmbio", diz Adriano Pitoli, sócio responsável pela área.

A demanda vem de vários setores, mas exemplos do varejo são mais lembrados. A nova área representará de 10% a 15% do faturamento da consultoria em 2012.

Patagônia terá preço de 2011 para atrair turista, diz setor

Depois de um ano de prejuízos causados pela erupção do vulcão Puyehue, que impossibilitou o pouso de aviões na Patagônia por cerca de sete meses, cidades turísticas argentinas esperam retomar o fluxo de visitantes até 2014.

"Neste ano ainda será um pouco abaixo de 2010, porque as pessoas estão inseguras com o que aconteceu no ano passado", diz Angel Bosch, ministro de Turismo da província de Rio Negro.

Em 2011, a região deixou de faturar US$ 600 milhões, sendo que US$ 400 milhões seriam recebidos apenas na cidade de Bariloche.

Para que os hotéis de Rio Negro não demitissem funcionários, o governo federal liberou US$ 25 milhões para o pagamento de salários.

Nas férias de verão, a cidade de Villa la Angostura (província de Neuquén) já teve picos de ocupação de 83%. "Mas os resultados foram 20% piores que a média histórica", diz Marcelo Garcia Leyenda, secretário local.

Com o objetivo de atrair visitantes para a próxima temporada, os preços serão os mesmos de 2010 e 2011.

"Temos boa expectativa, mas as pessoas ainda nos perguntam o que fazer caso o vulcão entre em erupção", diz o vice-presidente da Associação Brasileira de Agência de Viagens, Edmar Bull.

TROCA DE BANCO

Atendimento e preço são os principais fatores que levam clientes a trocar de banco, de acordo com levantamento do BCG (The Boston Consulting Group).

Esses dois itens são até mais importantes que localização da agência bancária ou facilidades para se conseguir uma hipoteca.

O atendimento ruim foi apontado por 35% dos entrevistados como fator que os levaram a deixar um banco. Preços "irracionais", por 32%.

A pesquisa mostra também que 50% dos ouvidos escolhem seu banco com base nas recomendações de amigos, familiares ou fóruns da internet.

Uma parcela menor dos entrevistados (33%) toma sua decisão influenciada pela oferta de determinado produto.

O estudo da consultoria afirma que, em um momento no qual a credibilidade dos bancos foi abalada por causa da crise, as instituições precisam dialogar pessoalmente com os clientes sobre suas necessidades financeiras.

Assim, comunicação através de mídias para as massas deveriam ser evitadas.

O levantamento foi feito no Canadá com 536 pessoas.

Rio+20

bola de neve de COMPROMISSO

O Itamaraty pensa em lançar para a Rio+20 uma plataforma empresarial de registros de compromissos voluntários.

"Um site no âmbito da ONU em que a empresa registra, por exemplo, que se compromete a deixar de usar certo componente químico até 2015", diz o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, secretário-executivo da Comissão Nacional da Rio +20.

"Pode gerar uma bola de neve de bons compromissos." A cada três anos haveria uma avaliação se a medida está sendo cumprida.

"Se um fabricante de refrigerantes se compromete a até 2016 só usar garrafas de plástico vegetal, não tenho dúvida de que a principal concorrente vai ter de fazer algo."

Mineração... As escolas de negócios Fundação Dom Cabral e Kellogg Businness, dos EUA, reunirão 60 CEOs e executivos de grandes mineradoras em Belo Horizonte.

...em foco O encontro será entre os dias 17 e 19 de abril e terá a presença de representantes da Vale, BP Castrol, Anglo Gold Ashanti, entre outros.

Banho quente A Rinnai Brasil, fabricante de aquecedores, investirá cerca de R$ 6 milhões neste ano para construir um novo prédio em sua fábrica, na cidade de Mogi das Cruzes (SP), e modernizar parte dos maquinários.

Alto-mar A partir da próxima temporada, em dezembro deste ano, a Costa Cruzeiros passará a utilizar o porto de Imbituba (SC) como nova escala para embarque e desembarque de passageiros. A empresa usará cinco navios no país. 

US$ 6 tri adiam o pior - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 15/03/12


Houve um grande alívio esta semana no mercado financeiro e isso porque, acreditem, foi oficializado o "calote voluntário" da dívida grega, que vinha sendo negociado há mais de dois anos. Lá fora, tudo bem por enquanto, mas as tensões cambiais aumentaram.

Os detentores de títulos gregos, principalmente bancos, perderam 107 bilhões - 95% do total da dívida -, mas preferiram perder a não receber nada e ainda provocar uma nova crise financeira, talvez maior do que a de 2008. Vão comprar agora novos títulos com juros mais baixos e prazos mais longos. Mesmo assim, isso só foi possível porque o Banco Central Europeu está oferecendo desde dezembro, empréstimos, que já chegam a 1 trilhão.

Os bancos e os investidores estão capitalizados, e podem não só comprar os novos títulos gregos, mas também financiar novamente a atividade econômica na Europa atenuando a recessão anunciada no primeiro semestre do ano.

Nos Estados Unidos,15 dos 19 principais bancos passaram esta semana por severíssimo teste de estresse, o Fed reafirma que intensificará a vigilância e há sinais cada vez mais consistentes de crescimento, o desemprego recua há seis meses e agora até o consumo aumentou. O Fed vai manter juros negativos. Só o mercado imobiliário ainda não reage.

Um preço caro. Tudo isso teve um custo alto, com os bancos centrais dos países mais atingidos pela crise financeira emitindo cerca de US$ 6 trilhões desde 2008 em grande parte aplicado a juros reais negativos até menos nos EUA e na Europa. Paul Krugman lembrou que há investidores até pagando para comprar títulos do Tesouro americano.

Brasil em duas frentes. A equipe econômica está abrindo duas frentes para combater essa onda de liquidez que desvaloriza o dólar, valoriza o real, ajuda a conter a inflação, que não sobe, mas prejudica seriamente a indústria brasileira.

A primeira, é impor restrições ao capital financeiro que entra, mesmo sabendo que isso tem efeito limitado. Outra é desonerar a indústria e reduzir o juro interno que estimulariam a produção e tornariam menos rentáveis as aplicações financeiras atraídas pela relativamente elevada taxa de juros interna. Nos dois casos, há riscos e benefícios. Leva empresas a adiarem investimentos diretos em produção, no Brasil, que hoje cobre em grande parte o déficit em transações correntes. A Sobeet, que acompanha dia a dia esse mercado, fez um alerta, os investimentos diretos no Brasil vêm caindo nos últimos meses. Para a entidade, não se sabe ainda se por conta das últimas restrições cambiais.

Para o economista e professor da PUC-Rio, André Cabus Klotlze, a insistência do governo no tema cambial pode já ter, sim, efeitos nocivos. Na visão dele, houve uma prévia desse movimento na semana passada, quando o real caiu da primeira para a quinta posição no quesito valorização. "Se eu não sei qual a regra de IED amanhã, por que investir no Brasil e não na Austrália, no México, no Canadá ou mesmo na África do Sul?", diz o economista, acrescentando que esse cenário pode prejudicar os interesses do País em atrair capitais para infraestrutura.

É preciso clareza. O que todos recomendam é mais clareza sobre quais as medidas que ainda estariam no "arsenal"do governo sobre o tratamento do capital externo. Enquanto isso, vão ficar esperando.

O BRASIL DE SPIKE LEE - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 15/03/12


O cineasta Spike Lee está preparando um documentário sobre o Brasil. Ele deve se chamar "Go Brazil Go!" e pretende mostrar o país neste momento de ascensão internacional.

CHANTILI
Lee deve vir ao país até o fim de abril. Pretende se encontrar com personalidades como Lula, Dilma Rousseff, Jorge Ben Jor, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Pelé e Chico Buarque.

LINHA OCUPADA
O cineasta, que já dirigiu um clipe de Michael Jackson, "They Don't Care About Us", na favela Dona Marta, no Rio, e no Pelourinho, em 1996, pretendia vir ao Brasil no Carnaval. Foi informado de que dificilmente as pessoas teriam agenda disponível nesta época do ano.

EM PÉ...
Mais de 30 parlamentares do PT se reuniram na casa do deputado Vander Loubet (PT-MS) para um desagravo a Cândido Vaccarezza, que foi destituído da liderança do governo na Câmara por Dilma Rousseff. "Estavam todos com a faca nos dentes e pintados para a guerra", diz um petista. A ideia é boicotar o novo líder, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

...DE GUERRA
E Vaccarezza tomou café da manhã ontem com o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). O alagoano, que também está possesso com a presidente Dilma Rousseff, lidera reação às decisões recentes dela de "demitir" antigos líderes do governo.

LULA DE VOLTA
O Instituto Lula prepara evento que deve marcar a primeira reaparição pública do ex-presidente em grandes plateias. Será um seminário sobre regionalização de políticas públicas no hotel Jaraguá, no dia 30 de março.

ME CHAMA
E Marta Suplicy aguarda pedido do próprio Lula para começar a trabalhar na campanha de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Com Dilma, ela deve conversar na viagem que farão juntas a Nova York, em abril.

PONTO A PONTO
O novo presidente da CBF, José Maria Marin, pretende visitar todos os estádios da Copa nos próximos meses. E viajar para todos os Estados do país.

SINAL
As empresas de telefonia, tradicionalmente entre as mais reclamadas no Procon-SP, cederam o topo do ranking geral, na lista de 2011, a bancos, serviços de comércio eletrônico e fabricantes de eletrodomésticos.

SOBE E DESCE
Na lista que congrega apenas os serviços essenciais (telefonia, eletricidade e TV por assinatura), a liderança ficou com a TIM. A empresa teve 937 reclamações, um aumento de 62% em relação a 2010. A Telefônica teve 835 (queda estimada em 75%) e a Oi, 806 (aumento de 17%).

BASE DE DADOS
A TIM não comenta o resultado até a divulgação do ranking, hoje. Na Telefônica, os números foram vistos como positivos (a empesa já chegou a liderar o ranking) e por ter mais clientes que a TIM. A Oi diz que, em 2011, teve queda de 15,7% nas reclamações de todo o país.

TROCA DE SAIA
A cantora Fafá de Belém e a atriz Maria Ribeiro gravaram testes como integrantes do programa "Saia Justa", do GNT.

A atração busca uma pessoa para substituir Camila Morgado, que fará "Avenida Brasil", a nova novela das nove da Globo.

BALA DE PRATA
O cantor sertanejo Sorocaba vai vender um carneiro da raça Dorper hoje em leilão da VPJ Pecuária, o Bala de Prata -o nome do animal homenageia canção homônima do músico. Seu valor pode chegar a R$ 50 mil.

EMOÇÃO NO PALCO
Reynaldo Gianecchini voltou aos palcos anteontem, após tratamento contra o câncer. Ele estrela a peça "Cruel", dirigida por Elias Andreato. A mãe do ator, Heloisa, e as irmãs Claudia e Roberta estavam na plateia do Teatro Faap.

HISTÓRIA NO PAPEL
O empresário Wilson Quintella foi ao lançamento do livro "A Vida Quer É Coragem - A Trajetória de Dilma Rousseff", de Ricardo Amaral, anteontem, na livraria Saraiva do shopping Higienópolis.

CURTO-CIRCUITO

O livro "Lidoka - Uma Vida Frenética" será lançado hoje, às 19h, na Livraria da Vila dos Jardins.

Rodolfo Konder autografa hoje o livro "Os Sobreviventes", na sede da ABI-SP.

O ministro Carlos Ayres Britto dá hoje, às 19h30, aula magna no Instituto Brasiliense de Direito Público, na capital federal.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY 

A terceira invenção dos latinos - DEMÉTRIO MAGNOLI


O Estado de S.Paulo - 15/03/12


Yo Decido, a já célebre capa da Time de 5 de março, não causou polêmica por diagnosticar que "os latinos escolherão o próximo presidente" americano. Nem por estampar 20 fotos cuidadosamente selecionadas de rostos de "latinos" cujas diferenças realçam sutis semelhanças fenotípicas. O escândalo derivou de um equívoco editorial: a presença, entre as imagens, do rosto de Michael Schennum, um descendente de chineses, irlandeses e noruegueses. Refletindo os preconceitos da sociedade americana, a Time não seria capaz de identificar e separar as diversas comunidades classificadas pelo censo fora das categorias de "brancos" e "afro-americanos".

Eugênio Bucci argumentou, nesta página (A imagem invisível, 8/3), que a polêmica deixou intacto um erro mais significativo. A Time tentou "fotografar o que não tem face própria", para "fabricar um fenótipo" de uma "demografia difusa". Afinal, como pretender sumarizar por meio de um estereótipo facial o oceano demográfico dos "latinos", formado por "pessoas tão americanas quanto Kim Basinger, Muhammad Ali ou Louis Armstrong"?

A crítica de Bucci sinaliza um problema jornalístico, que ele abordou, e um tema político crucial, ainda intocado. Por que a Time se consagrou a delinear a face dos "latinos" no mármore dos "tipos raciais" humanos? A resposta encontra-se na concepção multicultural da nação americana, ao mesmo tempo tão antiga e tão nova.

Melting pot significa, ao pé da letra, "caldeira de fusão": o recipiente no qual se derretem e fundem os metais. O mito de origem de uma nação nova, formada pela mistura de colonos de diversas extrações, surgiu com a Revolução Americana, mas seus limites se evidenciaram um século depois, na hora do influxo de imigrantes católicos da Irlanda e da Itália e, especialmente, de chineses. Então, o sentido de melting pot conheceu uma inflexão que suprimiu a ideia de fusão. No lugar da caldeira siderúrgica, delineou-se a noção de uma cumbuca de salada de frutas onde componentes diversos coexistem sem se misturar. A imagem de uma nação branca e protestante circundada por "nações expatriadas" - os "afro-americanos", os "asiáticos", os "latinos" - adaptou o mito de origem ao dogma racial, conferindo um alicerce à segregação oficial e às políticas de restrição da imigração.

Sob a ótica do mito retraduzido, as cepas humanas reunidas nos EUA não são meros artefatos do impulso de classificação de historiadores, sociólogos ou recenseadores, mas entidades tão objetivas quanto os lagos, as montanhas e os cânions. E se existem na esfera da natureza, devem ter traços físicos singulares, mais ou menos sutis, porém sempre sujeitos à captura fotográfica. A primeira invenção dos "latinos" se inscreve no mito de origem da nação americana. No fundo, do ponto de vista da concepção tradicional sobre a nação americana, a Time não errou.

A concepção tradicional foi resgatada de um declínio que parecia inexorável pela emergência do multiculturalismo contemporâneo. Desde a década de 1970 acadêmicos organizados ao redor da Fundação Ford revestiram a antiga imagem da cumbuca de salada de frutas com um celofane brilhante, que inverte sinais valorativos para preservar a arquitetura mental do conjunto. Os "latinos", tanto quanto os "afro-americanos" e os "nativo-americanos", não só existem no mundo das coisas objetivas, mas devem adquirir consciência de seus interesses de "minoria" e perfilar atrás das ONGs que desfraldam suas bandeiras. A segunda invenção dos "latinos" é uma obra do ativismo multiculturalista. Do ponto de vista deles, a Time não errou - exceto, claro, pela introdução da foto do "chinês".

A questão de saber se os "latinos" existem não tem resposta no campo estrito das ciências sociais, pois remete à política. Até hoje, os "latinos" rejeitaram o apelo multiculturalista a adotar o rótulo que lhes colaram na testa. Eles viraram as costas às ONGs "hispânicas" ou "mexicano-americanas" financiadas pela Fundação Ford. Na Califórnia recusaram em massa o programa do ensino bilíngue que, sob o pretexto de conservar uma "ancestralidade" ou uma "cultura", os circundava pelas muralhas do gueto. Nas eleições tendiam a se dividir entre os dois grandes partidos, reproduzindo o comportamento geral da sociedade americana. Os "latinos" escolherão o próximo presidente, como proclama a Time? Se o fizerem de fato, o que é uma hipótese razoável, algo novo estará acontecendo nos EUA.

Os "negros", ou "afro-americanos", existem como grupo singular na cena política americana desde a generalização das leis de segregação racial, no início do século 20. No passado eles votavam no Partido Republicano por oposição aos democratas sulistas, bastiões do racismo estatal. Há quase meio século, sob o influxo da Lei dos Direitos Civis, de Lyndon Johnson, passaram a votar no Partido Democrata. Os "latinos", ao contrário, não exibem um comportamento eleitoral de grupo. A atração pelos democratas, decorrente de posições mais flexíveis no tema da imigração, tende a ser parcialmente compensada pelo impacto do discurso republicano sobre os valores familiares, uma melodia de inspiração religiosa que aproxima os católicos do eleitorado cristão conservador. Entretanto, há fortes indícios de que o equilíbrio começa a romper-se.

O cientista político Samuel Huntington publicou em 2004 um livro que descreve a imigração latina como uma ameaça à coesão cultural dos EUA. O movimento radical do Tea Party alçou o conceito nativista à categoria de estandarte político, inclinando o Partido Republicano na direção de um nacionalismo agressivamente xenófobo. A terceira invenção dos "latinos", que se ergue sobre os ombros das duas anteriores, ainda está em curso. Paradoxalmente, uma medida de seu sucesso seria o triunfo eleitoral de Barack Obama - e a comprovação do "acerto" da capa polêmica da Time.